Papéis femininos em expansão
Ainda que o teatro grego da antiguidade tenha produzido personagens femininas monumentais, capazes de incitar profundas reflexões, ontem e hoje, estruturalmente, em consonância com outras esferas sociais daquele período, as práticas envolvidas nas artes cênicas eram restritas aos homens.
No ocidente, foi somente entre os séculos XVI e XVII, com a commedia dell’arte, que as mulheres passam a ocupar os palcos. Naquele contexto surge a figura da atriz-estrela, baseada no sistema de protagonismo da diva o qual, ainda que permitisse visibilidade às atrizes, oferecia um campo de atuação limitado ao elegê-las como o objeto de desejo em torno do qual a narrativa se desdobra. Tal figura constituiu um paradigma ao longo dos séculos seguintes, permanecendo como referência para a profissionalização das mulheres nas artes cênicas no último século.
Em Capô e no Tríptico A Morte da Estrela, tais padrões são contestados a partir de uma série de pesquisas. Na primeira peça, escrita pela diretora Georgette Fadel em colaboração com o elenco, três mulheres sobreviventes buscam o sentido da vida após uma guerra que destruiu o planeta em uma jornada que visa reconstruções. Na segunda produção, da Barca de Dionísos, as criadoras exploram, cenicamente, mudanças na forma de interpretação das atrizes no século XXI, problematizando modelos hegemônicos no que diz respeito ao gênero na contemporaneidade — sobretudo num sentido metalinguístico.
Ao propor questionamentos e reflexões sobre as linguagens artísticas e sua relação com as experiências coletivas que vivemos, o Sesc reitera seu compromisso enquanto instituição engajada com a educação e, consequentemente, com a melhoria da qualidade de vida de seus públicos e da sociedade como um todo. Tal compromisso tem como uma de suas bases o fomento e a divulgação das artes, campo essencial para a criação de novos e mais amplos imaginários, capazes de incluir a pluralidade que caracteriza tanto o real quanto o sonhado.
Danilo Santos de Miranda Diretor do Sesc São PauloÉ tão pouco o que esse Capô quer dizer.
É só um mergulho. Uma luz sobre o fluido que nos cerca e une.
É só uma apologia à circulação igualitária do sangue, aos corações sadios, pulsantes e pensantes.
É também e somente mais uma vontade expressa de comunicação sobre os caminhos para algo melhor do que o que temos vivido e os dilaceramentos necessários.
E por último Capô é somente mais uma partícula da atmosfera do hoje, que como uma folha ao vento nos conduzirá ao futuro.
Georgette Fadel
DIREÇÃO:
Georgette Fadel COM Laura Fajngold Sarah Lessa Luciana FroesA elaboração da peça-site Capô como um desdobramento possível da sala de ensaio, abre também a possibilidade de uma dramaturgia expandida, que expõe sua processualidade, bem como suas potências e fragilidades. Durante o processo criativo muita coisa a nível de dramaturgia é elaborada e abandonada. Criar uma “dramaturgia off” aponta para todas as escolhas feitas e não feitas, para todas as peças que existem dentro de uma única peça, para o trabalho artesanal de escrever coletivamente.
Como se lê uma dramaturgia off?
A quem interessa?
Os primeiros três textos são esboços de estruturas dramatúrgicas, uma espécie de mapa para estar nos ensaios, uma maneira encontrada para dialogar com os materiais: desde textos teóricos a improvisações. Depois segue-se uma sequência não cronológica (mas com as respectivas datas de criação) dos textos escritos, e reconfigurados ao longo do processo. Optou-se por não expor cada uma das versões da escrita, mas suas transformações ao longo dos ensaios.
Surgiu a dúvida se era necessário atrelar autoria a cada trecho. Mas em certa medida a criação é interdependente. Seria possível fragmentar e indicar um trecho escrito por Georgette e depois reelaborado por Lara, ou vice e versa, mas como dizer o autor de um texto escrito a partir de uma movimentação, de uma postura, de um corpo criado pelas atrizes ou pelos outros artistas da equipe?
O processo de dramaturgismo requer um olhar atento e cuidadoso com a criação de cada um. Para a dramaturgia off não existe uma ordem pré-estabelecida de leitura dos materiais. Imagino todos eles boiando, as palavras borradas no contato com a água. As potências de criação que ainda podem surgir desses fragmentos. Boa leitura!
Lara Duarte DramaturgistaA proximidade entre artistas e público é a marca do projeto Teatro Mínimo, que parte de montagens de pequeno porte com foco em dramaturgia e interpretação.
FICHA TÉCNICA
DIREÇÃO: Georgette Fadel
ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO: Gabriel Franco e Zi Arrais
ELENCO: Laura Fajngold, Luciana Froes e Sarah Lessa DRAMATURGIA: Georgette Fadel, com colaboração das atrizes DRAMATURGISMO: Lara Duarte ASSISTÊNCIA DE PESQUISA DRAMATÚRGICA: Belise Mofeoli
DIREÇÃO DE ARTE: Laura Vinci ASSISTENTE DE DIREÇÃO DE ARTE: Flora Belotti e Bia Coelho FIGURINOS: Joana Porto e Rogério Pinto ADERECISTA: Roberto Pádua COSTUREIRA: Satele André PRODUÇÃO: Katia Manfredi
ESTAGIÁRIA DE PRODUÇÃO: laura ferreira DIREÇÃO DE MOVIMENTO: Kenia Dias e Ana Paula Lopes DIREÇÃO VOCAL INTERPRETATIVA: Lucia Gayotto ILUMINAÇÃO E OPERAÇÃO DE LUZ: Iaiá Zanatta DIREÇÃO MUSICAL: Luiz Gayotto
TRILHA SONORA ORIGINAL: Luiz Gayotto e Ivan Garro DESENHO DE SOM, SONOPLASTIA E OPERAÇÃO DE SOM: Ivan Garro PRODUÇÃO MUSICAL: Ivan Garro (Estúdio Olaria) e Rovilson Pascoal (Estúdio Parede-Meia)
MÚSICOS: Luiz Gayotto, Ivan Garro, Rovilson Pascoal e Yonan Daniel
DIREÇÃO DE CENA: Elisete Jeremias ASSISTENTE DE DIREÇÃO DE CENA: Yaminah Olubunmi DESIGNER E MÍDIAS SOCIAIS: Gabriel Franco FOTOGRAFIA: Julia zakia ASSESSORIA DE IMPRENSA: Nossa Senhora da Pauta