abril | 2019
MORTE E DEPENDÊNCIA NA TERRA do pau BRASIL
Ocupação Museu do Ipiranga Com início em 2017, é fruto da parceria entre a Universidade de São Paulo e o Sesc. Seu principal foco é chamar a atenção da sociedade civil para o Museu do Ipiranga, espaço fechado desde 2013 e com previsão de reabertura em 2022, ano que marca o bicentenário da Independência. “Que museu queremos em 2022?” é a pergunta curatorial que perpassa as ações desenvolvidas nessa Ocupação, baseada no reconhecimento da falta de representatividade de grupos sociais nas narrativas históricas oficiais. Procura-se, por meio de ações artísticas, discutir o poder de pinturas e esculturas que tornaram o Museu do Ipiranga um importante espaço de pensamento acerca da formação do Brasil e que foram replicadas no universo escolar como narrativa hegemônica. Objetiva-se valorizar a diversidade cultural por meio da presença de grupos e discursos, observando-se as narrativas em questão, para a ampliação das leituras para além da hegemônica. E assim, a partir de outras perspectivas, convidar o público a refletir sobre a história do Brasil. De 6 a 28.4.19 | Sábados e domingos, às 15h.
As apresentações dos dias 20, 21 e 27 e 28.4 contarão com acessibilidade física.
Foto: CYC | Gerben Van Heijningen CC BY-NC 2.0
Dia 28.4 | Participação do grupo Xondaro e Coral da Terra Indígena Tenondé Porã.
Cia.Livre e a Cia. Oito Nova dança, realizam em abril de 2019 o processo aberto Morte e Dependência na terra do pau Brasil, especialmente criado para a Ocupação Museu do Ipiranga, onde põe à público os ensaios de seu novo trabalho: Os Um e os Outros, uma livre recriação da peça Os Horácios e Os Curiácios, peça de aprendizagem de Bertolt Brecht, adaptada para documentar a luta dos povos ameríndios hoje. Fazemos isso porque acreditamos profundamente que eles estão na vanguarda de uma luta que nos envolve a todos: a de uma relação respeitosa com as muitas formas de vida humanas e extra-humanas que habitam o planeta. Segundo mensagem enviada pelo povo Yudjá, que vive na Terra Indígena do Xingu, os Karaí (brancos ou não índigenas) estão muito confusos e não estão respeitando o direito à vida dos povos originários e também da Floresta, dos Animais, das Plantas, da Terra e da Água. Se nós continuarmos a entender todas as formas de vida do planeta como “recursos naturais” para serem consumidos, consumiremos a nós mesmos, até não haver mais condições de vida na Terra. Essa consciência da grave crise ambiental no Antropoceno, cantada em verso, prosa e números assustadores pela comunidade científica de todo o “mundo civilizado” tem sido muitas vezes negada. A constituição cidadã de 1988 prevê o direito à terra, crença, língua, cultura, saúde e educação diferenciadas aos 307 povos indígenas do Brasil. Esperamos que ela seja respeitada para que nunca mais seja retomado o “Cyclo de Caça ao Índio” (quadro de Henrique Bernadelli, à direita do imperador Dom Pedro I, no Museu do Ipiranga) para manter o “Cyclo dos Criadores do Gado” (quadro de João Batista da Costa, à esquerda de Dom Pedro I) e o “Cyclo do Ouro” (quadro de Rodolfo Amoedo). Lutamos contra o eterno ciclo vicioso da “Terra do Pau-Brasil” (desde a Colônia até agora) depredação das incontáveis vidas deste imenso país tropical.
Cibele Forjaz
Cia.Livre e Cia. Oito Nova Dança | Os Um e os Outros O encontro entre as companhias começou antes sequer de nos conhecermos pessoalmente; lá atrás, no caminho trilhado pelas nossas pesquisas desde o início, em uma aproximação com a antropologia brasileira e, mais especificamente, a tentativa de devorar o conceito de “perspectivismo ameríndio”, proposto por Eduardo Viveiros de Castro e Tânia Stolze Lima, traduzindo-o para a linguagem do teatro
e da dança. Desde então a antropologia passou a ser nossa parceira e a antropofagia tornou-se, ao mesmo tempo, nosso tema e modus operandi. Em 2006, a Cia.Livre realiza o projeto de estudo público Mitos de Morte e Renascimento [Povos Ameríndios]. Esse projeto resulta nos espetáculos Vem Vai – O Caminho dos Mortos, Raptada pelo Raio e Cia Livre canta Kaná Kawã. Paralelamente a Cia. Oito Nova Dança vem desde 2010 pesquisando, através da dança contemporânea e da música, princípios e matrizes de movimento referentes a este mesmo universo e encontra nesta trajetória um corpo em constante transformação, numa presença à espreita de outros mundos, outras possibilidades no aqui-agora. Este corpo tem como referência princípios fundamentais da vida individual e coletiva dos seres. Desde 2015 a pesquisa afunilou-se no universo Guarani M’bya, habitantes da cidade de São Paulo, e as aproximações possíveis a este universo, ao mesmo tempo tão próximo e tão desconhecido. O estudo de campo em aldeias Guarani gerou a Intervenção urbana Esquiva e o espetáculo Juruá. Ambos norteados e fundamentados no movimento de esquivar-se, presente no Xondaro, que é uma manifestação característica desta cultura que se refere não só a uma dança, mas ao treinamento do guerreiro e a um modo de ser Guarani. Em 2017, a Cia.Livre estuda a atuação épica dialética de Bertolt Brecht e arrisca uma aproximação com o “perspectivismo ameríndio”, em busca de um épico brasileiro. Como estudo de caso, realizou a leitura encenada do texto Os Horácios e os Curiácios, junto com a Cia. Oito Nova Dança. Encontramos na peça de Brecht, um paralelo entre a “esquiva” do guerreiro Guarani e a estratégia de “fuga” do escudeiro Horácio. Essa pista nos moveu neste encontro para uma nova criação: Os Um e os Outros, que busca refletir e atualizar a peça de Brecht no contexto do Brasil de 2019, com suas ambiguidades, contradições, perigos e, talvez, potências. Agora, este novo trabalho faz uma abertura de processo - que chamamos de Dependência e Morte na terra do pau Brasil, como um laboratório de pesquisa junto com o público. Buscamos unir o estudo realizado sobre o Teatro Épico de Bertolt Brecht, particularmente as técnicas narrativas, com a pesquisa continuada dos conteúdos e formas das cosmologias ameríndias, realizada pelas
duas companhias. Percorrendo a estrutura do texto brechtiano, entramos em contato com as estratégias de resistência dos povos ameríndios: tanto em uma camada documental, através de depoimentos e registros realizados em uma viagem de nove meses à região do Xingu em 2018, como também pela transposição dessas estratégias para os corpos dos intérpretes que, na fricção entre ambos – Brecht e práticas ameríndias – expandem as possibilidades de conexão da obra com as inúmeras situações de conflito existentes no mundo hoje. Cia.Livre e Cia. Oito Nova Dança
Rio Ipiranga, 1924
Ficha Técnica Livre recriação de “Os Horácios e Curiácios”, de Bertolt Brecht. Dramaturgismo coro de criadores da Cia.Livre e da Cia. Oito Nova Dança. Coro de Criadores (É Nóis) Cibele Forjaz, Fernanda Haucke, Fredy Allan, Gisele Calazans, Lu Favoreto, Lucia Romano, Marcos Damigo e Roberto Alencar. Músico em cena Adriano Salhab. Coro convidado Jackson Santos, Vanessa Medeiros e Raoni Garcia. Composições originais e direção musical Guilherme Calzavara. Canção da Resistência e Xinguanos Adriano Salhab. Vídeo-cenografia Cla Mor. Cenotecnia Douglas Vendramini e Marcus Garcia. Assistência de Direção Jackson Santos e Flavia Coelho. Direção de produção Iza Marie Miceli e Bia Fonseca | Nós 2 Produtoras Associadas. Preparação e direção vocal Lucia Gayotto. Preparação corporal e direção de movimento Lu Favoreto. Direção Geral, Luz e Encenação Cibele Forjaz.
Sesc Ipiranga Rua Bom Pastor, 822 Tel.: +55 11 3340.2000 /sescipiranga sescsp.org.br/ipiranga