Albuns de Lembranças, Caixas de Memórias Aprendemos desde cedo que todas as civilizações nasceram e prosperaram às margens de rios. Hoje, com a comodidade da água encanada, quase não percebemos o quão importante é a fixação dos agrupamentos humanos próximos às fontes seguras de água, seja para o consumo, seja para a agricultura, seja para utilizar a sua força para mover moinhos e engenhos. A história de Piracicaba não foge a essa regra. O Rio de Piracicaba e, num enfoque mais amplo, a Rua do Porto, além de eternizados no cancioneiro caipira/popular, estarão também para sempre vivos nas fotografias guardadas pelas famílias que habitam a região há tempos. Estas fotografias têm seu valor justamente no amadorismo ingênuo com o qual foram captadas, que deixa transparecer informações e discursos que dificilmente estariam presentes em registros profissionais, onde a técnica e os ensaios exaustivos podem ser utilizados tanto para mostrar e registrar quanto para esconder, omitir e apagar. Ademais, é preciso considerar que com a fotografia temos a impressão de que é possível congelar o tempo e eternizar o instante. Assim, as imagens apresentadas nesta exposição se configuram como importantes guardiãs e portadoras da memória local, da Rua do Porto, das suas festas e manifestações religiosas, das pessoas e famílias, dos costumes, das casas, do Rio. Tudo conservado graças – também – à fotografia. Ao mostrarmos nossas fotografias aos outros, contamos, contextualizamos, narramos, descrevemos o instantâneo para sempre congelado e eternizado no papel fotográfico, aquela imagem que nos traz lembranças (cheiros, sons, sensações) e faz
Foto: Acervo Pessoal
brotar em nós sentimentos há muito esquecidos. Para um pesquisador atento, é um prato cheio e saboroso de história oral. Assim, Rio de Piracicaba, Rua do Porto, Moradores, Fotografia e Memória se fundem e se misturam neste projeto que aborda as memórias e as transformações dessa importante região da cidade, falando, através de fotografias e dos relatos por elas suscitados, do Rio, das manifestações religiosas e do cotidiano dos moradores. E cuidar da memória é fundamental para projetarmos o futuro e entendermos o presente, contribuindo com a transmissão dos saberes e, consequentemente, para a construção da cidadania. Sesc Piracicaba
Foto: Ivan Feitosa
Memórias em instantâneos Rua do Porto. Rua de todos os portos. Rua de outras cidades. Rua de várias memórias. Memória movente, como as águas do rio, que vão e vêm, se renovando a cada instante. Memória do interior. Fragmentos de memórias depositadas em caixas de sapatos, no interior de uma gaveta, no álbum, dependuradas na parede da sala ou em porta-retratos, as imagens fotográficas tornamse uma espécie de “registro virtual da memória familiar”. Um registro, uma conservação que possibilita a continuidade de um passado, as lembranças, os laços afetivos da vida familiar, os ritos religiosos, momentos marcantes da vida pessoal, a ancestralidade: “meus avós, meus tios”, “a casa em que nasci”, “o bairro que vi se desenvolver”, são sentimentos de pertença familiar e social resgatados no simples ato de rememorar arquivos fotográficos, tecendo assim sua história, articulando o passado e o presente, ascendentes e descendentes.
Na fotografia temos um elemento desencadeador e cooperador para a organização das narrativas e história local, ajudando no estabelecimento de um ponto de vista a ser descrito pelos moradores. Suas imagens caracterizam-se, muitas vezes, como instantâneos que representam um cotidiano local, em que o elemento técnico não é privilegiado e o repertório cultural do fotógrafo não busca analisar o seu contexto, pelo fato de configurarem-se mais como uma parte constitutiva dessa realidade. A exposição Memórias e imagens da Rua do Porto, sobre uma comunidade ribeirinha localizada na cidade de Piracicaba, interior do Estado de São Paulo, é o resultado da minha pesquisa de mestrado, realizada nos anos de 2002 e 2003. As fotografias guardadas nas caixas de sapatos e álbuns de família conduziram os moradores a narrar fragmentos da memória daquela região, bem como da família interiorana. São registros fotográficos, conservados pelos moradores desde o início do século XX, que vêm sendo utilizado como um mecanismo de preservação da memória local e regional, documentando principalmente o rio, as casas, os moradores, a Festa do Divino Espírito Santo, além do engenho, enchentes, promessas e procissões para Pirapora do Bom Jesus, retratando não somente a cultura local, mas a cultura do interior do estado de São Paulo. A exposição se divide em três eixos: A memória religiosa; A memória do rio; e A memória cotidiana, tecendo, a partir das fotos, dos objetos e dos relatos de alguns moradores da Rua do Porto, fragmentos desta memória local. Caroline Paschoal Sotilo Curadora
Foto: Ivan Feitosa
Programação Durante o período da Exposição o Sesc Piracicaba realizará uma série de atividades complementares: oficinas de fotografia, exibição de filmes, shows, contação de histórias e etc. Acompanhe nossos cadernos de programação, ou o site sescsp.org.br/piracicaba AGOSTO Exposição Cortejo da Rua do Porto até o Sesc, com o grupo de Samba de Lenço de Piracicaba Mestre Antonio Carlos Ferraz, que mantém viva essa manifestação de origem africana. Concentração no Largo dos Pescadores às 19h. Abertura: 8, quinta, 19h30. Shows O Som e o Tom da Cultura Regional Rapadura Xique Chico - dia 4 Moacir Siqueira e a Caravana da Vitória - dia 11 Os Pamonheiros - dia 18 Victor Batista Trio - dia 25 Domingos, 16h. Comedoria. Contação de histórias Cantando Causos 24 , sábado, 15h. SETEMBRO A NOVEMBRO Audiotur Ficcional da Rua do Porto, de 10 de setembro a 01 de novembro.
Foto: Acervo Pessoal
o Hist贸rico e Fotos: Institut
Geogr谩fico
essoal cervo P Fotos: A
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