Maria Esther Stockler Outubro / 2015
Vanguarda, Dança e Vídeo
A presente Mostra resgata a produção artística em dança e vídeo de Maria Esther Stockler, parceira de José Agrippino de Paula, protagonistas da vanguarda artística da década de 60, precursora do Tropicalismo e do cinema marginal da Boca do Lixo paulistana. Companheira de um dos intelectuais mais efervescentes da época, Maria Esther Stockler por anos teve sua obra à sombra da força criativa de José Agrippino de Paula. Estudos recentes, no entanto, sugerem ser ela uma das pioneiras da videodança no país e uma das principais dançarinas de sua época com influências que vão de Martha Graham, à dança indiana e africana. Por meio da exibição de filmes, debate e bate-papos, a Mostra pretende estudar a interlocução da arte de Maria Esther Stockler com outras formas de expressão, de modo a permitir o desenvolvimento de novos pensamentos em dança, bem como estimular novo olhar sobre sua produção artística e a contemporaneidade de sua obra no atual contexto da dança no Brasil.
Maria Esther Stockler Nascida em 1939 em São Paulo, quando criança teve suas primeiras aulas com a professora russa Alexandra Shirlovska que lecionava em Copacabana. Estudou ioga com um professor hindu e fez o curso de Psicologia da Faculdade de Ciências e Letras Sedes Sapientiae, que tinha vínculo com a PUC-SP. Fez pós-graduação em Psicologia na New School Social Research, nos Estados Unidos. Estudou dança com Maria Duschenes e a técnica de Martha Graham com Vera Kumpera. Participou da Summer School do Connecticut College, onde vários coreógrafos consagrados norte americanos se encontravam e no final do curso intensivo e realizavam o American Dance Festival. Também teve aulas com Allan Wayne e com a professora Irmgard Bartenieff que desenvolveu as experiências de Rudolf Laban. Em 1964 fundou, junto com Maria Duschenes, o Grupo Móbile participando no ano seguinte das montagens de: Crucificação – Iluminação, espetáculo que continha música de canto gregoriano dos monges trapistas; Improvisação sobre um tema de raga da noite, com música clássica hindu; Antecipação-Luta-Rito, com música do Japão Imperial, em que atuou como coreógrafa e bailarina. Quando conheceu José Agrippino de Paula iniciaram uma grande parceria amorosa e artística que ajudou a fomentar o movimento tropicalista. Em 1967 fez a preparação coreográfica da premiada peça O rei da vela, do diretor Zé Celso, do Teatro Oficina. No ano de 1968, Maria Esther e José Agrippino fundaram o Grupo Sonda de Teatro e Dança, que contava com a participação de atores, dançarinos, artistas plásticos, cineastas, músicos e escritores para a criação de um espetáculo cuja concepção foi dividida com outros artistas como Yolanda Amadei, Carlos Eugênio de Moura, Jô Soares, Sarah Feres, Juarez Magno, Efízio Putzolu, Marcelo Nietzchem, Adam Cadmon e Roberto de Souza. A cada um dos artistas cabia a participação na concepção, criação e execução de uma cena. O primeiro espetáculo produzido pelo Grupo recebeu o nome de Tarzan III Mundo – O mustang hibernado e foi selecionado para participar do I Festival de Dança de São Paulo, realizado em 1968, no Teatro Anchieta, a convite de Miroel Silveira, então diretor do Sesc. O espetáculo falava do homem hibernado que acordava em pleno século XXI com personagens do universo do anos 60 das histórias em quadrinhos, ficção científica e televisão. No ano seguinte, o casal concebeu o show musical do grupo Os Mutantes, que levou o nome de O Planeta dos Mutantes. Era um espetáculo que mesclava diversos assuntos do cotidiano com um experimentalismo cênico que envolvia música ao vivo, textos, ações teatrais, dança e muitos outros efeitos que levou a alcunha de rock theater. Teve Agrippino fazendo a composição, iluminação e figurinos e Maria Esther com a direção e coreografias. Entre os anos 1968-69 Zé Agrippino dirigiu o longa-metragem Hitler III Mundo, que teve Maria Esther no elenco e foi inserido dentro do movimento do Cinema Marginal.
Ainda em 1969 o Grupo Sonda recebeu novo convite para participar do II Festival Paulista de Dança, dessa vez realizado no Teatro São Pedro, com o espetáculo O Rito do Amor Selvagem, baseado na peça As Nações Unidas, escrita por Agrippino. Com esse espetáculo o Grupo Sonda assumiu uma linguagem de ruptura, utilizando diferentes linguagens como o show, dança, teatro, circo, happening, cinema, rituais arcaicos e primitivos. Era um espetáculo mais maduro e profissional. A crítica, em sua maioria, apontou O Rito como sendo um espetáculo belo e inovador. Com o avanço da censura e da ditadura militar após o AI-5, o casal foi passar uma temporada na África para se aproximar da cultura, dos cultos e rituais do candomblé. Nesse período fizeram vários filmes e registros dos costumes locais com uma câmera super-8: Candomblé no Dahomey (Fetichismo no Sul do Dahomey) – 1972; Candomblé no Togo (Mãe de Santo Djatassi) – 1972; Maria Esther: Danças na África – 1972. Depois da temporada na África, Maria Esther e Agrippino viajaram para Londres e Peru e, no retorno ao Brasil, foram morar em Arembepe, na Bahia. Nesta época, Agrippino e Maria Esther, realizam em super-8 Céu sobre água, um filme-poema, gravado entre 1972 e 1978, que reúne cenas de Maria Esther Stockler grávida e nua, e também imagens de sua filha Manhã, sob o céu e águas da Bahia. Maria Esther Stockler falece em Paraty no ano de 2006 e, no ano seguinte, José Agrippino de Paula falece em Embu das Artes. Em suas trajetórias, estes artistas deixaram composições inovadoras que entrelaçavam as fronteiras das linguagens artísticas e, com elas, perpetuaram registros dessa artista da dança, que ficou à margem da história das artes da cena no Brasil, mas foi uma forte presença que apontava uma pesquisa em dança libertária e autêntica.
Acervo pessoal da família Stockler
E assim, com essa Mostra temos a possibilidade de ver e discutir essa obra transgressora e expressiva.
Dorothy Lenner Atriz, bailarina, professora, diretora e pesquisadora. Nascida na Romênia, Bucareste. No ano de 1969, integrou o elenco do Grupo Sonda no espetáculo Rito do Amor Selvagem, dirigido por Maria Esther e José Agrippino de Paula. Trabalhou também com importantes artistas da dança no Brasil como Takao Kusuno, Denilton Gomes, Renné Gumiel e Ismael Ivo.
Djalma Corrêa Percussionista e compositor mineiro conviveu com Maria Esther e José Agrippino na Bahia na década de 1970. Em meados de 1980 trabalhou com Maria Esther e atuou com ela nas filmagens de O Cinema falado de Caetano Veloso. Trabalhou com importantes artistas da música como Koellreuter, Smetak, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Luiz Fernando Resende Ator e diretor teatral. Em 1968, foi ator e assistente de direção do filme Hitler III Mundo. Integrou o elenco do Grupo Sonda nas peças Tarzan Terceiro Mundo e Rito do Amor Selvagem. Atualmente dirige o Grupo Calango de Teatro na cidade de São Paulo.
Julia Giannetti Artista e pesquisadora da dança. Mestra em Artes da Cena pela UNICAMP com a pesquisa A dança marginal de Maria Esther Stockler: um dançar imagético finalizada em agosto de 2015.
Tutti Madazzio Mestra em Artes, USP e dançarina. Realizou pesquisa sobre a obra cênica de Maria Esther Sotckler e José Agrippino de Paula. Atualmente é coordenadora artística no Programa Vocacional da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Katya Gualter Doutora em Artes da Cena pela UNICAMP e Mestre em Tecnologia Educacional pela UFRJ. Chefe do Departamento de Arte Corporal da UFRJ, Coordenadora Adjunta e Professora das Graduações em Dança da UFRJ é também fundadora e diretora do Grupo PECDAN (PEsquisa em Cinema e DANça)/UFRJ.
Exibição dos filmes Maria Esther: Danças na África – 1972 Direção: José Agrippino de Paula e Maria Esther Stockler África, 40’, cor, super-8 Candomblé no Dahomey – 1972 (Fetichismo no Sul do Dahomey) Direção: José Agrippino de Paula e Maria Esther Stockler África, 23’, cor, super-8 Candomblé no Togo – 1972 (Mãe de Santo Djatassi) Direção: José Agrippino de Paula e Maria Esther Stockler África, 20’, cor, super-8
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Terça. 20h. Teatro. Retirada de ingressos com 1 hora de antecedência.
/10 Bate-papo ilustrado com amigos de Maria Esther sobre sua biografia e seu processo criativo com a presença de: Dorothy Lenner, Djalma Corrêa, Luiz Fernando Resende e mediação de Julia Giannetti. Quarta. 20h. Teatro.
Imagens: Divulgação
Exibição do filme Hitler III Mundo – 1968 Direção: José Agrippino de Paula São Paulo, 70’, P&B, 16 mm Elenco: Jô Soares, José Ramalho, Maria Esther Stockler Paranoia, culpa, desejo frustrado, miséria e tecnologia no país subdesenvolvido. Narrativa fragmentária, enquadramentos distorcidos, gritos e ruídos. O nazismo toma conta da cidade de São Paulo: prisão, tortura de revolucionários, um samurai perdido no caos, amantes trancafiados, o ditador e sua corja de bárbaros conservadores. Debate após a exibição com Luiz Fernando Resende.
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Terça. 20h. Teatro. Retirada de ingressos com 1 hora de antecedência.
/10 Exibição do filme Céu sobre Água – 1972/1978 Direção e fotografia: José Agrippino de Paula Dança e coreografia: Maria Esther Stockler Montagem: José Agrippino de Paula Música: Ravi Shankar Arembepe, 27’, cor, super-8 Bate-papo ilustrado com Julia Giannetti, Tutti Madazzio e Katya Gualter, estudiosos de dança/teatro, sobre o caráter inovador e de vanguarda da obra de Maria Esther, bem como sua contextualização no atual cenário da videodança. Quarta. 20h. Teatro.
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