T E A T R O .
G R Á T I S .
RETIRADA DE INGRESSOS COM UMA HORA DE ANTECEDÊNCIA
Revisitar Orson Welles não é uma tarefa fácil, pelo simples fato de que Orson Welles eram muitos. Suas passagens pelo rádio, pelo teatro, pela televisão e pelo cinema, mais que um processo de evolução linear, indicam uma visão de arte que não reconhecia limites entre os meios, mas passagens pelas quais os faziam contaminarem-se mutuamente, levando ao limite as especificidades de cada um. A mostra que o Sesc Piracicaba traz ao público no ano do centenário do diretor carrega as características dessa multiplicidade, oferecendo o panorama de uma obra assustadoramente atual e pertinente ao modo contemporâneo de produzir e consumir cultura. A trajetória artística de Welles foi ao mesmo tempo fortemente personalista e com grande capacidade de se reinventar a cada passo. Após diversas viagens pelo mundo e experiências no teatro amador e universitário, Welles experimentaria entre 1937 e 1939 sua consolidação como figura artística, construída simultaneamente entre o teatro e o rádio. Em 1937, ele fundou a companhia Mercury Theatre, onde teve reconhecido seu talento como ator e diretor. Entre montagens contemporâneas e clássicas, a companhia durou até 1939, quando a montagem inacabada Os 5 reis decretaria a falência da Mercury. Essa derradeira peça foi adaptada para o cinema em 1965 na obra Falstaff – O toque da meia-noite. Paralelamente, Welles dirigia o The Mercury Theatre on the Air na rádio CBS, programa de versões radiofônicas de peças teatrais com a trupe da Mercury. Nesse programa foi veiculada a famosa dramatização de A Guerra dos Mundos que causou pânico no país. A polêmica alçou Welles de vez à celebridade e lhe valeu a passagem para Hollywood. Cidadão Kane, de 1941, seu primeiro filme e provavelmente maior obra-prima, forma, junto com Soberba de 1942, o díptico de sua estreia no cinema. São filmes marcados por grandes atuações, a temática familiar forte e o nascimento do estilo único do diretor. Inauguram a linhagem de grandes obras da qual farão parte sua trilogia shakesperiana, que além de Falstaff é também representada nesse programa por Macbeth – Reinado de Sangue (1948). São filmes em que a verve teatral de Welles é fundamental, onde ele experimenta na linguagem do cinema elementos cênicos e dramatúrgicos característicos dos palcos. Porém, antes ele enfrentaria os clichês hollywoodianos. O Estranho, de 1946, mas principalmente A Dama de Xangai, de 1947, marcam as primeiras incursões do diretor no thriller. Ele retoma essa temática na segunda metade da década seguinte. Em 1955 Welles encarna o milionário amnésico Mr. Arkadin, e três anos depois virá talvez sua maior realização no gênero, A Marca da Maldade. A década de 1960 é representada por O Processo (1962), um dos pontos altos de Welles na montagem, mas também uma exceção no seu trabalho. Joseph K., personagem principal do filme e do romance de Franz Kafka, de quem o filme é uma adaptação,
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é em tudo diferente do herói wellesiano: franzino, humilde, subjugado e submisso, o que resultou em um filme único. Outro ponto fora da curva é F for Fake – Verdades e Mentiras, de 1973. Obra de difícil classificação, é rodada em forma de reportagem e lida com os limites do cinema para retratar a verdade. Leva ao extremo a reflexão do diretor sobre a montagem, constituindo um impactante ensaio metalinguístico. Welles também deixou muitos trabalhos inacabados, cujo maior exemplo é Don Quixote. Projeto de 1955, foi retomado diversas vezes, com diferentes atores e locações, e passava por mais uma montagem em 1985, ano de morte do diretor. Esse filme foi lançado em 1992 por Jesús Franco, assistente de Welles em Falstaff, reunindo material bruto e trechos de programas para TV. Além de mostras como essa, o ano de 2015 traz também o lançamento de outra obra inacabada, The Other Side of the Wind, produzida na primeira metade da década de 1970 e prevista para o final do ano. Tal interesse por recuperar o autor não surpreende. A múltipla trajetória artística de Orson Welles o deixariam bastante a vontade no turbulento cenário cultural contemporâneo, em que rápidas transformações atravessam todas as linguagens. As palavras de André Bazin sobre os personagens em Cidadão Kane são válidas para toda sua obra: os filmes de Welles, ainda hoje, nos falam todos “ao mesmo tempo como instrumentos de uma partitura, com frases inacabadas como na vida”. Dessa coragem em ser sempre diferente de si surge sua urgente atualidade, dado um panorama em que à instabilidade responde-se muito frequentemente com repetição, conservadorismo e medo.
Samuel Leal é mestre em antropologia pela UFRJ no Rio de Janeiro e doutorando em cinema pela UFF em Niterói.
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C I DA DÃO KANE DIA
(Citizen Kane) USA, 1941, 119’, p&b Dir: Orson Welles Elenco: Orson Welles, Joseph Cotten, Dorothy Comingore
02.
TER.
20H.
Charles Foster Kane, um menino pobre que acaba se tornando um dos homens mais ricos do mundo, construindo um império do jornalismo e da publicidade mundial. Baseado na vida do magnata das comunicações William Randolph Hearst. Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro é também considerado um dos filmes mais importantes da história.
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SOBERBA DIA
03.
QUA.
20H.
(The magnificent Ambersons) USA, 1942, 88’, p&b Dir: Orson Welles Elenco: Joseph Cotten, Dolores Costello, Agnes Moorehead
Paixões interrompidas, auge e a queda da família Amberson que se revela relutante em acompanhar as transformações que a rodeiam em Indianápolis no final do século XIX. Recebeu 4 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Atriz Coadjuvante , Direção de Arte e Fotografia.
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O E ST R A N H O DIA
(The stranger) USA, 1946, 96’, p&b Dir: Orson Welles Elenco: Edward G. Robinson, Loretta Young, Orson Welles
04.
QUI.
14H.
O detetive Wilson tem a missão de prender o oficial nazista Charles Rankin, que se mantém escondido numa pequena cidade no interior de Connecticut. Seu maior obstáculo é convencer a mulher dele sobre a verdadeira identidade do marido. Indicado ao Oscar de melhor roteiro original e indicado ao Leão de Ouro do Festival de Veneza.
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FA L STA F F O TO Q U E DA M E I A NOITE DIA
05.
S E X TA . 2 0 H .
(Campanadas a medianoche) FRA, ESP, CHE, 1965, 121’, p&b Dir: Orson Welles Elenco: Orson Welles, Jeanne Moreau, Marina Vlady
O cavaleiro bêbado e obeso Falstaff é um grande amigo do príncipe Hal, herdeiro do trono da Inglaterra. Juntos os dois se divertem, correm riscos, bebem, aprontam e desenvolvem uma intensa amizade. Quando Hal assume o trono, Falstaff vislumbra mudanças. E elas acontecem. Vencedor do Grande Prêmio Técnico do Festival de Cannes de 1966 e teve Orson Welles indicado ao Bafta de melhor ator estrangeiro em 1968.
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A DA M A D E XANGAI DIA
(The lady from Shanghai) USA, 1947, 89’, p&b Dir: Orson Welles Elenco: Rita Hayworth, Orson Welles, Everett Sloane
09.
TER.
20H.
Elsa Bannister é salva de um grupo de ladrões pelo jovem Michael O’Hara. Como agradecimento, ela o convida para trabalhar no iate de seu milionário marido. Michael aceita o emprego, mas não pelo dinheiro, e sim para ficar mais próximo de Elsa e, assim, tentar fugir com ela - pois agora ele está completamente apaixonado pela moça.
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MR. ARKADIN DIA
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20H.
(Mr. Arkadin) FRA, ESP, CHE, 1955, 99’, p&b Dir: Orson Welles Elenco: Orson Welles, Michael Redgrave, Patricia Medina
Reclamando de amnésia, o milionário Arkadin contrata o detetive Guy Von Straten para investigar seu passado. Quando a procura de Straten por todo mundo revela a sórdida origem da fortuna de Arkadin, testemunhas começam a morrer.
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A M A R C A DA M A L DA D E DIA
(Touch of Evil) USA, 1958, 89’, p&b Dir: Orson Welles Elenco: Janet Leigh, Charlton Heston, Orson Welles
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TER.
20H.
Ao investigar um assassinato, Ramon Miguel Vargas, um chefe de polícia mexicano em lua-de-mel com sua bela esposa em uma pequena cidade da fronteira dos EUA com o México, entra em choque com Hank Quinlan, um corrupto detetive americano que utiliza qualquer meio para deter o poder. Ganhou o Prêmio de Melhor Filme da Feira Internacional de Bruxelas, 1958.
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M AC B E T H REINADO DE SANGUE DIA
19.
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20H.
(Macbeth) USA, 1948, 107’, p&b Dir: Orson Welles Elenco: Orson Welles, Jeanette Nolan, Dan O’Herlihy
Baseado na obra literária de William Shakespeare, somos apresentados a Macbeth, um homem simples designado por feiticeiras a se tornar rei. Conquistando as batalhas com muita violência e sangue, sua mente vai ficando cada vez mais conturbada, o que viria a ser sua ruína.
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DON Q U I XOT E DIA
(Don Quijote de Orson Welles) ESP, USA, ITA, 1992, 116’, p&b Dir: Orson Welles, Jesús Franco Elenco: Francisco Reiguera, Akim Tamiroff, Orson Welles
23.
TER.
20H.
Don Quixote e Sancho Pança viajam pela Espanha de 1960, mostrando seu povo e sua cultura, destacando as corridas de touros, as procissões religiosas e as tradições populares como as Festas dos Mouros e dos Cristãos.
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F FO R FA K E V E R DA D E S E MENTIRAS DIA
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QUI.
20H.
(Vérités et mensonges) DEU, FRA, IRN, 1973, 86’, colorido Dir: Orson Welles, Jesús Franco Elenco: Orson Welles, Oja Kodar, Joseph Cotten
F for Fake é um filme sobre a fraude e a mentira nos seus vários ângulos. Centra-se na vida do famoso falsificador de arte Elmyr de Hory. Welles surge em vários locais, inclusive num restaurante e até numa suposta sala de edição, criando um filme dentro do filme, além de desvendar as verdades e mentiras existentes nos diversos tipos de arte.
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O PROCESSO DIA
(Le Procès) FRA, ITA, DEU, 1962, 119’, p&b Dir: Orson Welles Elenco: Anthony Perkins, Jeanne Moreau, Romy Schneider
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20H.
Joseph K. acorda com a polícia no seu quarto. Dizem-lhe que tem de ir a um julgamento, mas não é informado do que foi acusado. Para averiguar o motivo da sua acusação e protestar pela sua inocência, tenta descobrir o que há por detrás do sistema judicial, mas parece não existir escapatória para ele neste pesadelo kafkiano. Venceu a categoria Melhor Filme do Critics Award 1964.