GUIA DE LUGARES E CAMADAS HISTÓRICAS DE SAO PAULO
GUIA DE LUGARES E CAMADAS HISTÓRICAS DE SAO PAULO Este guia foi elaborado para a Jornada do Patrimônio 2018, com a temática “São Paulo - uma cidade, muitas mãos”.
Sumário
Memórias em uso 4 Patrimônio presente 5 Uma cidade feita de camadas 6
São Paulo Indígena 8 São Paulo Colonial 18 São Paulo das Fábricas, da Vilas Operárias e Ferrovias 32 São Paulo e seus Migrantes e Imigrantes 50 São Paulo da Diversidade Sexual 68 São Paulo da Diversidade Religiosa 78
Lugares para pesquisar 93
Memórias em uso Numa cidade como São Paulo, onde vivem as memórias? A pergunta parece ter duas faces: a redundância — afinal, os espaços revelam (ao menos em parte) as memórias que lhe são próprias — e um duro realismo, já que é notória a capacidade da capital paulista de apagar os vestígios de outros tempos. Buscar tais vestígios — sejam eles materiais ou imateriais — pelas ruas e pelos bairros paulistanos é, portanto, uma forma de resistência. Como tal, constitui uma prática que demanda envolvimento e mobiliza desejos, pois se relaciona com as próprias histórias de vida dos indivíduos e coletividades. Na medida em que muitas memórias coletivas da metrópole — não raro, aquelas ligadas aos extratos mais vulneráveis — estão escondidas sob camadas de esquecimento, é fundamental que organismos públicos e privados, assim como setores da sociedade civil, colaborem para minimizar essa invisibilidade. É segundo essa perspectiva que o Sesc tem participado, desde 2015, da Jornada do Patrimônio, iniciativa do Departamento do Patrimônio Histórico da cidade de São Paulo.
Trata-se de uma aproximação condizente com a política institucional de valorização da memória, que se efetiva por meio da ação do Sesc Memórias, assim como da manutenção de outros tipos de acervos e do cuidado com seus bens edificados. Nesse ano, o tema da Jornada é “Uma cidade, muitas mãos”, convidando as pessoas a descobrirem as tramas identitárias que compuseram, ao longo do tempo, o mosaico chamado São Paulo. O presente material reúne textos que abordam lugares plenos de lembranças, sugerindo leituras, aproximações, roteiros. Esta iniciativa expressa o empenho do Sesc em estimular práticas conscientes de turismo, salientando seu potencial educativo e seu comprometimento com as complexas realidades locais. Quando isso ocorre, a atividade turística torna-se uma maneira de democratizar os debates em torno da ideia de patrimônio e, consequentemente, alimentar as conexões entre as manifestações desse patrimônio e a sociedade. DANILO SANTOS DE MIRANDA DIRETOR DO SESC SÃO PAULO
Patrimônio presente A cidade de São Paulo tem em torno de três mil bens reconhecidos como patrimônio cultural. De edifícios monumentais a pequenas casas, passando por praças, pontes, coleções de arte e manifestações imateriais, a lista é tão diversificada quanto os diferentes grupos sociais que construíram — e constroem — nossa cidade. Como então pensar sua preservação? Entre instrumentos legais, mecanismos de incentivo e apoio técnico, há um elemento que permanece como essencial ao sucesso da preservação de nosso patrimônio: a participação da sociedade. Seja através dos proprietários dos bens tombados, seja por meio das pessoas que passam diariamente em frente a um deles, a contribuição da sociedade nesse processo é essencial. Porém, para cuidar é preciso conhecer. Por isso, divulgar os bens reconhecidos como patrimônio cultural da cidade é tão importante para a sua preservação. Dessa forma, a Jornada do Patrimônio, realizada pela Secretaria Municipal de
Cultura através de seu Departamento do Patrimônio Histórico, busca envolver a população, apresentando o patrimônio da cidade, desde aquele monumental até o que faz parte da rotina de cada um. Em sua quarta edição, a Jornada desse ano vai jogar luz sobre os diversos grupos que construíram o patrimônio cultural da cidade de São Paulo e, assim, formaram a identidade paulistana. Mais do que uma ação de divulgação, a Jornada do Patrimônio também é um momento de congregação. Através da participação de proprietários, pesquisadores, associações locais, instituições — como o Sesc —, se estabelece um diálogo entre a população e seu patrimônio. Permitindo a construção, juntos, de uma cidade que tenha cada vez mais seu patrimônio presente e ativo em seu cotidiano. MARIANA DE SOUZA ROLIM DIRETORA DO DEPARTAMENTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA
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Uma cidade feita de camadas Este título expressa a visão que norteou a feitura do guia que você tem em mãos. Algumas das camadas são visíveis, podem até ser tocadas. Outras, parecem descascadas, como se ainda revelassem um pouco do que subjaz — algo que não se revela por completo. Ainda há as camadas invisíveis, as que são possíveis apenas de perceber quando se pergunta a um morador antigo ou a um pesquisador: mas o que tinha aqui? Ao longo de seis capítulos, este guia busca apresentar bens representativos das dinâmicas e identidades presentes na história da cidade de São Paulo. Tentamos dar espaço a lugares pouco conhecidos ou mesmo desconhecidos da maior parte das pessoas. Por meio de uma linguagem acessível, procuramos dar informações para quem deseja visitá-los e criar seus próprios caminhos. A intenção é a de mobilizar narrativas que possam contribuir para a identificação e o reconhecimento desses bens da cidade por aqueles que a habitam ou a visitam, assim como pelos órgãos e entidades que promovem o turismo. São lugares para se conhecer e reconhecer a cidade de São Paulo. Pretendemos, aqui, um olhar para o patrimônio além do reconhecimento oficial e além de sua materialidade, considerando elementos imateriais e naturais que fazem parte do ambiente urbano a partir de um
dinâmica, e recebendo novos grupos a cada dia, ela acaba por se tornar espelho de seus habitantes — e só tem a ganhar com a ocupação e a vivência dos seus espaços. Conhecê-los e entendê-los como patrimônio, interagindo com eles, é permitir que se criem narrativas e novos olhares. Por essa razão, este guia não se esgota em suas páginas. A atenção para outros lugares de memória e patrimônio que não estão aqui contemplados pode e deve ser exercitada, levando em conta que diversas mãos escreveram, escrevem e escreverão as narrativas da cidade de São Paulo, em um movimento paradoxal, que usa a memória como um poderoso instrumento de confirmação e consolidação de identidades.
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ponto de vista contra-hegemônico, que utiliza uma noção ampliada do patrimônio cultural. Esse olhar considera a presença de sítios arqueológicos, os vestígios de aldeamentos e aldeias indígenas, a presença do elemento colonizador no território, o período da escravidão das populações indígenas e africanas, o período pós-escravidão, a presença do negro na construção da cidade, a industrialização e a importação da mão de obra, os imigrantes dos séculos 19, 20 e 21, a diversidade cultural atual e a cultura LGBT. Os lugares são apresentados de acordo com as dinâmicas às quais eles remetem, por meio de um olhar atualizado. Em cada texto introdutório há uma frase reveladora sobre cada camada, incluindo uma breve explicação sobre o período a que se referem, levando em conta sua representatividade e a espacialidade, buscando fortalecer a ideia de patrimônio vinculada ao que significa para cada grupo identitário. Para a identificação e fundamentação dos locais levantados foram consultados grupos culturais, pesquisadores dedicados à temática, arquivos, bases de dados, documentos e publicações oficiais. Fala-se tanto em memória justamente porque ela está ameaçada, especialmente em uma cidade como São Paulo, marcada por rápidas transformações. Sendo tão
Créditos das imagens (por página) Nascimento/Acervo São Paulo Antiga 49 Fotógrafo desconhecido/Acervo São Paulo Antiga 52 e 53 Fotógrafo desconhecido/Museu da Imigração/Arquivo Público do Estado de São Paulo 54 Cris Faga/Folhapress 57 Fotógrafo desconhecido/Museu da Imigração/Arquivo Público do Estado de São Paulo 58 Fotógrafo desconhecido/Acervo ICIB/Casa do Povo 60 Renato Luiz Ferreira/Folhapress 61 Fotógrafo desconhecido/Museu da Imigração/Arquivo Público do Estado de São Paulo 62 Fotógrafo desconhecido/Museu da Imigração/Arquivo Público do Estado de São Paulo 62 Fotógrafo desconhecido/Museu da Imigração/Arquivo Público do Estado de São Paulo 64 Nelson Antoine/Fotoarena/ Folhapress 65 ©Márcia Minilo/Olhar imagem 66 ©Juca Martins/Olhar imagem 67 Douglas Nascimento/Acervo São Paulo Antiga 70 e 71 Bruno Santos/Folhapress 72 Fátima Tassinari 74 Ovidio Vieira/ Folhapress 76 ©Juca Martins/Olhar imagem 77 Matheus Sakita 80 e 81 João Paulo Leite Guadanucci 82 e 83 Leonardo Wen/ Folhapress 84 Allison de Carvalho/ Catedralonline 85 Daniel Marenco/ Folhapress 86 ©Márcia Minilo/Olhar imagem 87 Militão Augusto de Azevedo 88 ©Juca Martins/Olhar imagem 89 ©Marcia Minillo/ Olhar imagem 90 Alf Ribeiro/Folhapress 91 ©Catherine Krulik/Olhar imagem
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10 e 11 Vincenzo Pasto Rei/Acervo Instituto Moreira Salles 12 Benedito Junqueira Duarte/Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 14 Tiago Queiroz/ Estadão Conteúdo 15 Cláudia Alcóver (KK Alcóver)/Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 16 André Bueno 20 e 21 Militão Augusto de Azevedo/Estadão Conteúdo 22 Hélvio Romero/Estadão Conteúdo 24 Sebastião de Assis Ferreira/ Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 25 Benedito Junqueira Duarte/ Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 26 Júlio Katinsky/Casas Bandeiristas 27, 28 e 29 Danilo Morcelli 30 Edson Pacheco Aquino/Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 31 Danilo Morcelli 34 e 35 Fotógrafo desconhecido/Acervo São Paulo Antiga 36 Danilo Morcelli 38 Fotógrafo desconhecido/Acervo CONDEPHAAT/ Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo 39 Fotógrafo desconhecido/Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 40 e 41 Aurélio Becherini/Acervo Fotográfico do Museu da Cidade de São Paulo 42 WikimediaCommons 43 Fotógrafo desconhecido/Acervo São Paulo Antiga 44 e 45 Guilherme Gaensly/Acervo Fundação Biblioteca Nacional — Brasil 47 Roberto Faustino/Folhapress 47 André Labate Rosso 48 Douglas
Sesc — Serviço Social do Comércio
Administração Regional no Estado de São Paulo
Presidente do Conselho Regional
Abram Szajman
Diretor do Departamento Regional Danilo Santos de Miranda
Prefeitura de São Paulo PREFEITO Bruno Covas
Secretaria Municipal de Cultura SECRETÁRIO Hugo Possolo SECRETÁRIA-
ADJUNTA Regina Silvia Pacheco CHEFE DE GABINETE Carlota Mingolla
Superintendentes
Departamento do Patrimônio Histórico
COMUNICAÇÃO SOCIAL Ivan Giannini
TÉCNICA Juliana Prata e Luca Fuser
ADMINISTRAÇÃO Luiz Deoclécio Massaro
NÚCLEO DE VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO
Galina ASSESSORIA TÉCNICA E DE PLANEJAMENTO Sérgio José Battistelli
COORDENADOR Patricia Freire de Almeida
TÉCNICO-SOCIAL Joel Naimayer Padula
Gerentes
ESTUDOS E DESENVOLVIMENTO Marta Colabone ARTES GRÁFICAS Hélcio Magalhães NÚCLEO DE TURISMO SOCIAL Flávia R. Costa
Sesc na Jornada do Patrimônio 2018 PESQUISA Ana Laura Souza e Danilo Morcelli
CONSULTORIA TÉCNICA Paula Nishida Barbosa,
Vanessa Fernandes Corrêa e Walter Pires REDAÇÃO Gabriela Aguerre IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO Elisa von Randow, Julia Masagão e Matheus Sakita EQUIPE SESC Cristina Fongaro Peres, João Paulo Leite Guadanucci, Lourdes Teixeira Benedan, Rogério Ianelli, Silvia Eri Hirao e Thais Helena Franco
DIRETORA Raquel Schenkman ASSESSORIA
DESIGN E VÍDEO Diego Arvate CONTEÚDO Walter Pires, Murilo Perdigão
Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo PRESIDENTE Cyro Laurenza
Coordenação de Programação
Gabriela Fontana EQUIPE DE PROGRAMAÇÃO E PROJETOS ESPECIAIS André Mendes, Beatriz Cyrineo, Danilo Cabral, Fernando Dourado, Katia Bocchi, Lucas Borges, Sylvia Monasterios, Tainah Fagundes, Vander Lins
Se71
SESC na jornada do patrimônio 2018: guia de lugares
e camadas históricas de São Paulo / Sesc — Serviço Social do Comércio — Administração Regional no Estado de São Paulo; Departamento do Patrimônio Histórico da cidade de São Paulo. — São Paulo: Sesc São Paulo, 2018. — 100 p. il.: fotografias. IV Jornada do Patrimônio na Cidade de São Paulo ISBN 978-85-7995-222-7 1. Sesc - Serviço Social do Comércio — Administração Regional no Estado de São Paulo. 2. São Paulo (cidade). 3. IV Jornada do Patrimônio na Cidade de São Paulo. I. Título. II. Serviço Social do Comércio. III. Departamento do Patrimônio Histórico da cidade de São Paulo. IV. Jornada do Patrimônio na Cidade de São Paulo. CDD 703
REALIZAÇÃO
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