Sesc Casa Verde 27 de outubro de 2023 a 18 de fevereiro de 2024
Em celebração ao início das atividades do Sesc Casa Verde, a partir de 27 de outubro de 2023.
Adalton Lopes
Acervo Museu do Pontal [Imagem da capa]
4 6
Lugar de festa
52
Tadeu Kaçula
Festas, Sambas e Outros Carnavais
Rosário dos Pretos Ana Luzia da Silva Morais e Pedrina de Lourdes Santos
Angela Mascelani e Lucas Van de Beuque
10
13
Abram alas para os nossos baluartes e para os nossos ancestrais
53
Renata de Castro Menezes
Lavagem de Nosso Senhor do Bonfim
João Cândido
Angela Mascelani
57
Nhozim
Capitão Pereira Angela Mascelani
Bumba meu boi Carolina Martins
Cazumba
Cavalo Marinho Adriana Schneider
Angela Mascelani
18
Catolicismo festivo popular
Tadeu Kaçula
Tadeu Kaçula
17
São Jorge e a Casa Verde
Danilo Santos de Miranda
58
Zé Caboclo e Manuel Eudócio
61
Maracatu
Museu do Pontal
Flora Moana Van de Beuque
22
Walter Firmo “Minha carne é de carnaval, meu coração é igual...”
Manuel Carlos de França, Maurício Soares e Clarisse Q Kubrusly
Janaina Damasceno
28
Maria de Beni Museu do Pontal
31
62
Museu do Pontal
64
Festa do divino
O passinho
Nhô Caboclo
Emilio Domingos
Angela Mascelani
35
Rodas de samba
65
37
Sabrina Veloso
66
Luiz Gonzaga Jonas Lana
Antônio de Oliveira
Carnaval do Rio e negritude Vinicius Natal
Calango Martha Abreu
39
Bate-bolas
Zé do Carmo Angela Mascelani
Jongo Jussara Adriano de Souza
Vinicius Natal
36
Capoeira, pernadas e a tiririca na cultura paulistana Tadeu Kaçula
Letícia Oliveira e Martha Abreu
32
Sil da Capela
71
Adalton Lopes Angela Mascelani
75
A Casa verde e o carnaval paulistano Tadeu Kaçula
Angela Mascelani
40
Reisado e Chapéus de Reisado
76
Museu do Pontal
Viny Rodrigues
Folia de Reis Marluce Magno
43 44
Roger Cipó. Olhar de dentro: Casa Verde e a memória de uma pequena África em imagens
77
Homenageados da Casa Verde
Monara Barreto
86
Ancestrais da Casa Verde
Tamba
95
Bloco da Latinha
Ratão Diniz
Museu do Pontal
Angela Mascelani
Festa de Iemanjá Tadeu Kaçula
96
Pra pisar nesse chão devagarinho Paola Ribeiro
Lugar de festa
Danilo Santos de Miranda Diretor do Sesc São Paulo
4
A canção de Dona Ivone Lara ensina ‘pisar nesse chão devagarinho’, pois, ao chegar em um novo lugar, deve-se pedir licença, compreendendo as dinâmicas já estabelecidas no ambiente. Ao adentrar na Casa Verde, área historicamente constituída a partir da expansão do município de São Paulo, faz-se necessário considerar os elementos singulares que identificam esse lugar. Em meio às contradições do progresso da cidade, a ‘rainha da zona suburbana’ – como define o samba-enredo de Benedito Lobo e Geraldo Filme – acolheu e reuniu tanto populações negras vindas das zonas rurais do estado, como também egressas do centro, impactadas por processos de especulação imobiliária e gentrificação. Os encontros oriundos das confluências de diferentes costumes estabeleceram práticas culturais particulares, dentre as quais se destaca o samba. Das vivências comunitárias baseadas em tecnologias de sobrevivência e solidariedade resultaram festividades que dinamizam o território continuamente, demonstrando o quanto festejar é uma forma de luta. Por meio de uma coletividade anônima na qual despontam
sujeitos e grupos notórios, constata-se uma intensa criação e circulação cultural no distrito e arredores. Com a exposição Festas, Sambas e Outros Carnavais, o Sesc celebra sua presença na Casa Verde, intensificando na região sua missão de contribuir para a qualidade de vida dos trabalhadores do setor de comércio de bens, serviços e turismo, seus dependentes e da sociedade em geral. A parceria com o Museu do Pontal permite trazer aos públicos um amplo repertório de manifestações artísticas do país nas quais a festa se estabelece como experiência ancestral que atualiza constantemente as tradições populares. O diálogo com agentes culturais do bairro reitera o reconhecimento do legado e valor das produções locais. Para estreitar e potencializar ações conjuntas, depois de se aproximar ‘devagarinho’, tem-se com a sambista carioca Geovana a lição da importância de ‘pisar nesse chão com força’.
Zé do Carmo
Acervo Museu do Pontal [págs. 5 a 6]
Festas, Sambas e Outros Carnavais
Angela Mascelani e Lucas Van de Beuque Curadores e idealizadores
Casa Verde, tradicional bairro paulista, é famoso por ser a sede de várias escolas de samba, cuja existência festiva aprofunda o sentido de identidade e de pertencimento, favorecendo as relações sociais e a emergência de várias práticas artísticas e culturais. Inspirada por essa territorialidade fecunda que cria afetos e promove autonomia, a exposição Festas, Sambas e Outros Carnavais oferece ao público uma experiência na qual o protagonismo das camadas populares emerge na sua dimensão de resistência. A exposição reúne vídeos, filmes e mais de 222 obras, de 78 artistas do acervo de esculturas do Museu do Pontal, e um expressivo conjunto de obras do pintor João Cândido, que celebram as festas brasileiras, com destaque para aquelas nas quais a presença afro-diaspórica é vigorosa. Expressão do poder das construções coletivas, as festas populares são resultado de colaborações, negociações, encontros, conflitos e subversões, nem sempre visíveis a quem as observa a distância.
Decorrem de tradições e aprendizagens culturais que podem vir de muito longe... Maracatus, folias, reisados, guerreiros, jongo, calangos, bumba-boi e suas variantes parecem se repetir ano após ano, mas nunca são iguais. Permanecem e se modificam, reinventadas a partir das transformações que se operam na sociedade, abrindo novas dimensões da realidade. As obras aqui reunidas indicam estratégias bem-sucedidas dos artistas e das populações negras, indígenas e das camadas populares, no sentido de manter vivas suas tradições, recusando o silenciamento impostopelas práticas coloniais, pelo machismo e racismo estruturais, pelos preconceitos de classe social, conseguindo transmitir e resguardar dimensões culturais e artísticas que fazem a força da cultura brasileira. Esta mostra destaca, ainda, a importância do campo das artes e das culturas populares como centro dinâmico da memória coletiva. E contribui para marcar a luta, por vezes silenciosa, mas sempre
ativa, travada pelas populações negras e afrodescendentes, pelas comunidades periféricas, no sentido de não se deixar calar. Indo além: questionando os sistemas excludentes, alargando territórios sensíveis, com práticas artísticas individualizadas ou coletivas, ressaltando saberes, conhecimentos e estéticas próprias. Reforçando essa perspectiva, incluímos o trabalho de dois fotógrafos de diferentes gerações: Walter Firmo e Ratão Diniz, cujas produções são comprometidas com a causa racial e periférica. Para marcar a chegada de um novo equipamento do Sesc no bairro da Casa Verde, apresentamos as histórias de vida dos seus moradores, fotografados por Roger Cipó. Para construir conosco esta homenagem, convidamos o curador Tadeu Kaçula. Entre as muitas chaves de leitura possíveis, podemos entender a produção dos artistas presentes nesta mostra como expressão política, por se afirmar no contexto de tantas desigualdades, inspirando novos futuros, mais democráticos e inclusivos.
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Zé Caboclo
Acervo Museu do Pontal
Abram alas para os nossos baluartes e para os nossos ancestrais Tadeu Kaçula Curador convidado
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A curadoria da Exposição Festas, Sambas e Outros Carnavais pede licença aos mestres, às mestras, aos baluartes e às ancestralidades do território da Casa Verde para pisar nesse terreiro de memória imaterial do samba e da cultura preta, a Pequena África da cidade de São Paulo.
e os nossos mais velhos, nossas mais novas e nossos mais novos e as bênçãos de Seu Carlão do Peruche, Dona Guga, Seu Manezinho, Dona Magali dos Santos, Seu Otacílio, Dona Odete Carvalho, Iya Wanda D’Oxum, Ideval Anselmo, Sophia Martins e Dona Lucia Cesar.
Casa Verde é um dos bairros mais importantes e tradicionais da capital paulista, tem uma rica e importante história de contribuições para o processo de formação geográfica e cultural da zona norte de São Paulo. No início do século XX, foi um dos principais destinos para a população preta que havia sido desalojada dos territórios pretos, como os bairros da Liberdade, Bela Vista e Barra Funda, em função do processo de gentrificação que elitizou o desenvolvimento urbano, político e econômico da região central da cidade. As famílias pretas foram as mais prejudicadas e chegaram em altíssima quantidade aos bairros da Casa Verde, Vila Nova Cachoeirinha, Limão, Freguesia do Ó e Vila Brasilândia.
Não poderíamos deixar de reverenciar as nossas ancestralidades e agradecer aos que já se foram para o Orum, mas que deixaram um legado histórico fundamental para estabelecer a identidade sociocultural desse território. Pedimos axé para Seu Dionísio Barbosa, Dona Lucinda, Zeca da Casa Verde, Hélio Bagunça, Adhemar Ferreira da Silva, Evaristo de Carvalho, Mestre Dadinho, Dona Neide André, José Jambo (Seu Checlé), Seu Juarez da Cruz e a tantas outras pessoas que são referência para a cultura preta da cidade de São Paulo e que foram responsáveis por criar a identidade cultural para o território da Casa Verde. “A zona norte tem raízes, samba, candomblé e gente africana.”
A pesquisa curatorial seguiu os passos das personalidades contemporâneas desse território para trazer suas histórias ao público por meio das mais diversas linguagens e expressões culturais e artísticas resultantes das heranças cosmológicas dos povos das diásporas africanas.
(trecho da música “Nata do samba” de autoria de Airton Santa Maria e Mário Luiz)
Pedimos licença para as nossas mais velhas
Dona Guga Fotografia de Roger Cipó , 2023 [Biografia na pág. 84]
Dionísio Barbosa Acervo USP Imagens/Saulo Marino [Biografia na pág. 88]
João Cândido
João Cândido da Silva nasceu em 1933, em uma família de 18 irmãos gerados por Dona Maria, uma humilde bordadeira, de Sorocaba, interior de São Paulo, que acumulava as funções de dona de casa e artista plástica. Casada com um trabalhador braçal da estrada de ferro Sorocabana, Dona Maria migrou para o estado de Minas Gerais, onde teve os primeiros filhos, entre eles João Cândido. Diante das dificuldades e privações que atingiam a família, Maria e seus filhos decidiram partir para a cidade de São Paulo em busca de uma vida melhor. Desde cedo, João Cândido demonstrava interesse pelas artes. Enquanto sua mãe trabalhava em pinturas e esculturas, o jovem desenhava com carvão nas paredes da casa. Logo Dona Maria passou a disponibilizar para ele alguns materiais de pintura, como restos de tintas e pincéis velhos. A partir daí, João Cândido iniciou suas primeiras experiências com as tintas a óleo e acrílicas, aplicando-as sobre os mais variados suportes. Seus temas preferidos são as festas e manifestações populares de matriz africana. Embora a pintura seja sua mais recorrente forma de expressão,
o artista também é escultor, trabalha com madeira, papel, arame recozido, entre outros materiais. Em 4 de janeiro de 1956, João Cândido, popularmente conhecido como Cachimbo, ao lado de Carlos Alberto Caetano, o Carlão do Peruche, e Reinaldo, o Nego, fundou a Escola de Samba Sociedade Esportiva Recreativa Beneficente Unidos do Parque Peruche. Além de cuidar da sua administração, João fabricava os instrumentos de percussão e ainda atuava como ritmista da bateria na qual tocava contra-surdo. Conhecido e admirado pelo mundo do samba, João Cândido criou e produziu em 1976 o carro abre-alas para o Grêmio Recreativo Escola de Samba Vai-Vai. João Cândido da Silva é irmão biológico do escultor Vicente, do Embu, e da pintora primitivista Maria Auxiliadora (1935 - 1974), a mais conhecida integrante da família Silva Tadeu Kaçula, sambista e sociólogo
João Cândido Fotografia de Roger Cipó , 2023
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João Cândido
Almoço dos Moçambiqueiros, 2023 Óleo sobre tela
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João Cândido Congaço, 2023 Óleo sobre tela
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Nhozim
Nhozim é o apelido pelo qual ficou conhecido Antônio Bruno Pinto Nogueira, que nasceu em 17 de maio de 1904, filho de Sebastião José Nogueira e Marcolina Pinto Nogueira. Criado no distrito de Bacuripanã, em Cururupu, Maranhão, aos 12 anos foi acometido de doença dolorosa e incapacitante, que lhe deformou progressivamente pernas, braços e mãos. Recluso devido à presença de feridas em seu corpo, passou a esculpir dezenas de objetos em madeira, material que, mais tarde, será substituído pelo buriti. Sempre buscando sua autonomia, inventou e produziu um carrinho de madeira com o qual se locomovia após o agravamento de sua doença. Aos 32 anos, após a morte dos pais, transferiu-se para a capital São Luís, onde começou a desenvolver uma rica produção relacionada com o auto do Bumba Boi. Habilidoso, fez ao longo da vida múltiplos objetos: de pipas e papagaio até as miniaturas sofisticadas que o consagraram. A roda de Bumba-boi de sua autoria
é uma dessas obras especiais, motivo de encantamento por todos que a veem. O nível de detalhe com que cada figura é trabalhada, a riqueza e a minuciosidade das indumentárias e a espetacular combinação de cores capturam o olhar. Nhozim apresentou os personagens estruturados sob a forma de um móbile que, movimentado pelo vento, sugere a brincadeira propriamente dita. Assim, os movimentos não são padronizados, o que aparenta a autonomia que cada personagem tem, de fato, na brincadeira. Além de grande artista, e devido às limitações impostas por uma doença grave, Nhozim é visto como um exemplo de indivíduo que encontrou na arte um caminho de autossuficiência e realização Angela Mascelani, antropóloga
Nhozim
(Antônio Bruno Pinto Nogueira) Acervo Museu do Pontal
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Bumba meu boi
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Com sua força musical e visual, o Bumba meu boi está presente em várias partes do Brasil. No Maranhão é considerado a principal expressão da identidade cultural do estado. Mesmo que existam modificações e adaptações, conforme cada grupo de boi se apropria da narrativa, a brincadeira, envolvida em muitas trangressões, acontece em torno da representação da morte e ressurreição de um boi pertencente a um senhor. Mãe Catirina, esposa de Pai Francisco, um casal negro, está grávida e deseja comer a língua deste boi. Pai Francisco, para atender sua vontade, rouba o novilho e o mata. Ao ser descoberto, Chico é capturado por indígenas e, com a ajuda de um pajé, o novilho é ressuscitado e todos comemoram com muitos tambores, danças e toadas. Os grupos de boi encontramse o ano inteiro, em forte movimento associativo, mas as maiores apresentações públicas comemoram São João, São Pedro e São Marçal. Eles também apresentam relações com as entidades espirituais denominadas “encantados” ou “caboclos” das religiões de matriz africana/ afroindígena. Historicamente ligado à população negra, os bois também trazem referências à ancestralidade indígena nos versos, na indumentária na configuração estética dos cordões e nos personagens, como índios, índias, caboclos de pena, tapuias e diretor dos índios Carolina Martins, historiadora
Cazumba O cazumba é um personagem encontrado principalmente nos grupos que estão sediados na região da Baixada Maranhense ou se localizam em São Luís, MA, e foram formados por pessoas que migraram da região. A ação ritual do cazumba se dá principalmente no interior da roda do bumba meu boi onde dançam de forma circular. Contudo, faz parte de sua atuação, romper essas e outras regras e fazer suas traquinagens. Pode-se dizer que é um personagem ambíguo: ao mesmo tempo em que é cômico, também é assustador e comete pequenas transgressões. A máscara que utiliza é muito importante para o pleno exercício de suas funções rituais. Existem muitos tipos de máscaras. As menores, que cobrem apenas o rosto e, são usualmente chamadas de caretas, as maiores, que recebem os nomes de torre ou igreja, e costumam ser compostas por uma máscara menor que cobre o rosto e por uma estrutura que sobe acima da cabeça. É possível afirmar que a máscara tem agência, quer dizer, ela tem uma atuação social e é produzida para causar efeitos nas pessoas. Suas formas, materiais e cores provocam sentimentos diversos, como atração e medo. Entretanto, seu sentido ritual só se faz pleno em conjunto com o resto da indumentária e com as ações da pessoa que atua como personagem Flora Moana Van de Beuque, antropóloga
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Abel Teixeira
Acervo Museu do Pontal
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Maria Delma de Melo Acervo Museu do Pontal
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Autor não identificado Acervo Museu do Pontal
Walter Firmo “ Minha carne é de carnaval, meu coração é igual...”
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A carne e o coração de Walter Firmo são do Carnaval, da Cavalhada, da Festa de Iemanjá, do Bumba Meu Boi, da Festa de São Benedito, do Maracatu Rural, do Frevo, do Samba, da Festa do Divino,das Procissões, da Festa de Nossa Senhora do Rosário e de tudo aquilo em que a vida é pulsante. As cores marcantes de seu trabalho são um reflexo de como ele traduz a recusa da população negra ao confinamento de uma vida precária e refletem, também, um pacto contracolonial, que reconhece a luz tropical como aquela que melhor expressa o que fizemos de nós mesmos neste continente. Não é à toa o seu apreço pelas festas populares. Elas são a celebração de que estamos vivos, de que o nosso combinado, como diz Conceição Evaristo, deu certo. Antes de ser celebração da diversidade ou da cultura brasileira, as festas se constituem enquanto celebração da (nossa) própria vida. Nascido no Rio de Janeiro, em 1937,
filho de um pai negro de origem afroamazônica e uma mãe branca de origem portuguesa – José e Maria – ele fugiu de casa para perseguir seu sonho e se tornou fotógrafo profissional ainda adolescente. Hoje, aos 86 anos de idade e mais de 70 anos de fotografia, Firmo construiu um dos mais belos acervos da experiência da vida negra no mundo e merece ser reconhecido como um griô que deixa como herança um legado visual único que vai nutrir nossa memória para sempre (ou enquanto este mundo existir) Janaina Damasceno, pesquisadora, UERJ, UFF
Walter Firmo
Bumba meu boi, São Luis, MA 1990 e 2007 [ao lado] Bumba meu boi, São Luis, MA 2007 e 1990 [págs. 24 a 27]
Maria de Beni
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Nasceu Maria Fleury em 1919, na zona rural de Pirenópolis, Goiás, filha de Luiz Perilo Lobo Fleury e de Benedita d’Abadia Siqueira (Beni), de quem herdou o nome pelo qual ficou conhecida: Maria de Beni. Desde muito nova, trabalhou duro nas atividades agrícolas. Após o casamento e já com dois filhos, mudou-se para a área urbana, em busca de tratamento de saúde para um deles. Lá desenvolveu novas habilidades tendo em vista sustentar a família. Fez flores de papel para ornamentar coroas em enterros, costurou roupas para os cavaleiros que participavam das cavalhadas e restaurou santos para as igrejas. Inquieta e muito ativa, formouse professora. Autodidata, principiou sua trajetória artística experimentando várias técnicas, antes de optar pela cerâmica: fez pinturas na casca de mandioca; talha em restos de madeira e esculpiu em cedro
algumas imagens de santos, como São Francisco e Nossa Senhora de Santana. Contudo, foram as miniaturas das cavalhadas, que ocorrem durante a festa católica do Divino Espírito Santo, na sua cidade natal, que a consagraram e a tornaram referência como artista. Inicialmente, fazia cavalinhos utilizando mistura de barro e concreto. Logo começou a paramentá-los com as roupas dos mouros e cristãos, que duelam e se enfrentam nos torneios da festa. Em 1954, suas obras foram escolhidas pela UNESCO para integrar exposições na Europa. Sua cavalhada sempre foi uma festa para os olhos: os cavaleiros e os animais, vestidos ricamente, reproduzem a encenação anual dessa disputa. Faleceu em 1984 Museu do Pontal
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Maria de Beni
(Maria Fleury) Acervo Museu do Pontal
Festa do Divino
O Divino é uma das festividades mais conhecidas do mundo cristão, desde muito tempo. Envolvido em folias, levantamento de mastros, muita música, comidas, promessas e coroação de imperadores, ali se comemora a descida do Espírito Santo, representado em forma de pomba, sobre os Apóstolos, permitindo-lhes pregar em várias línguas e inaugurando para os festeiros um outro tempo espiritual. De norte a sul do Brasil, o Divino, com suas vibrantes bandeiras vermelhas, é festejado por comunidades de diferentes tradições e perfis sociorraciais. Sua presença é expressiva em comunidades negras, como em Paranã, no Tocantins, e em São Luís de Paraitinga, São Paulo; em casas de candomblé e tambor de mina, em São Luís, no Maranhão, e em territórios quilombolas, como a Vila Bela da Santíssima Trindade, no Mato Grosso. Na associação entre a fé e o festar, por onde se comemora o Divino, os festeiros experienciam afetos e emoções, reivindicam seu protagonismo e reatualizam suas memórias, devoções religiosas e patrimônios. Em algumas regiões do Brasil, como Pirenópolis, em Goiás, ganharam protagonismo as Cavalhadas que, inicialmente, eram parte menor dessa festa. Trata-se de um jogo bastante antigo que tem como objetivo mostrar a perícia dos
cavaleiros nas corridas de argolas e em outras modalidades de disputas. A festa que ocorre nessa localidade inclui, necessariamente, um torneio entre mouros e cristãos, que faz referência às batalhas medievais travadas sob o comando do rei católico francês Carlos Magno e dramatiza as difíceis relações entre os europeus e os que eram considerados “os outros” - mouros, bárbaros, indígenas ou descendentes de africanos nas terras americanas. Com o uso de indumentárias especiais, os cavaleiros disputam uma série de provas por meio de jogos, danças e competições. Ainda que o desfecho seja previamente conhecido por todos – os cristãos sempre vencem –, as competições são levadas a sério, e cada grupo se empenha para obter os melhores resultados. A presença dos cavaleiros mascarados cria um tempo extraordinário na cidade do qual fazem parte moradores e muitos visitantes Letícia Oliveira, historiadora | Martha Abreu, historiadora, professora UERJ
Lunildes de Oliveira Abreu Acervo Museu do Pontal
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Nhô Caboclo
Nhô Caboclo ou Manoel Fontoura, falecido em 1976, nasceu em data incerta na aldeia de Águas Belas, interior de Pernambuco. Filho de mãe indígena, da etnia Fulni-ô, e de pai provavelmente negro, viveu e realizou expressiva parte de sua obra em Olinda - Pernambuco.
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Sua memória do passado começou em Garanhuns, onde sabe que se criou trabalhando desde cedo numa fazenda. Emigrante da zona rural, ele costumava contar que nunca gostou de trabalhar na diária, na lavoura, mas que sempre inventou peças fortes como, por exemplo, um objeto para prevenir o mau olhado, para ser usado no alto das casas. Trabalhou basicamente com madeira e sucata, alcançando resultados surpreendentes e desenvolvendo um estilo original. Em suas composições, privilegiou o movimento, em obras em que os diversos elementos perseguem o equilíbrio. Explorou a temática marítima, com navios de guerreiros, barcos com movimentação eólica, nos quais engrenagens se articulam, gerando vento. O artista assim os definiu: “equilibristas, toré, balsa e engenhoca”. Suas composições são caracterizadas pelo uso intenso de amarrações, das cores vermelha e preta, de penas de aves, além de alumínio, tecidos, arames e cordões. Chegou às obras articuladas por não se
satisfazer mais com as peças tidas por ele como “mortas”, por não se movimentarem. Seu desejo de entender e interferir no mundo o levou a criar figuras em permanente estado de alerta. Personagem liminar, morou por muito tempo embaixo de pontes do rio Capibaribe, em Recife, Pernambuco. Para ele, viver era uma luta diária. Depois de ficar conhecido, alterava seus estados de alma – às vezes muito fechado em si; às vezes demonstrando grande alegria pela interação social. Irreverente, conversador, nunca aceitou opiniões sobre suas composições, mesmo quando passava por grandes dificuldades financeiras. Foi homenageado por autoridades, pela imprensa e pelos frequentadores da Galeria Nega Fulô, seu abrigo nos últimos anos. Nhô Caboclo olhava a vida como uma guerra sem fim. “E o derradeiro a ficar vivo sou eu mesmo”, dizia Angela Mascelani, antropóloga
Adriano José Jordão de Souza Acervo Museu do Pontal
Nhô Caboclo
(Manoel Fontoura) Acervo Museu do Pontal
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Rodas de samba
Antes mesmo de o samba ser classificado como ritmo estruturado e vivenciado pelas camadas negras e pobres brasileiras, as rodas teriam surgido como locais de encontro e afirmação de escravizados e libertos no Brasil. Elas serviam, sobretudo, como proteção às perseguições policiais, à violência e à negação de outras formas de vida cultural. O formato em roda remete ao legado das culturas negro-africanas que, em diáspora, chegaram ao país e criaram esse ritual no qual o público atua como parte fundamental, pois é ele quem sustenta os encontros e a festa com batidas da palma da mão, canto e dança. As rodas de samba agregam muitos sambistas que iniciam as músicas e podem tocar por um longo tempo regados a encontros, animação e festa. Hoje há uma infinidade de rodas de samba que expressam o direito de existência do samba e das camadas negras das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, afirmando fortemente suas visões de mundo, formas de sociabilidade e alegria Vinicius Natal, sambista, historiador e antropólogo
Walter Firmo
Dona Ivone Lara, 1968, Ramos, Rio de Janeiro. Clementina de Jesus da Silva, 1977 circa, Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro. Cartola e Dona Zica, 1974, Mangueira, Rio de Janeiro. Mestre Marçal, década 1980.
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Zé do Carmo
Em 1934, José do Carmo Souza, conhecido como Zé do Carmo, nasceu em Goiana, cidade da Zona da Mata do estado de Pernambuco, filho de Joana Izabel de Assunção, lavadeira e artesã, e de Manuel de Souza Santos, padeiro. Católicos e com forte vocação artística, ambos complementavam a renda criando figuras de barro e de pano, como o Mané Gostoso, e máscaras de papel machê para o Carnaval. A família vivia nos fundos da Igreja da Misericórdia de Goiana, e ali ele teve os primeiros contatos com a arte santeira. 36
Devido à pobreza, desde muito criança Zé do Carmo passou a trabalhar para ajudar no orçamento doméstico. Modelava em barro bonequinhos variados, garças e galinhas, que vendia na feira local. Precocemente reconhecido, recebeu do prefeito da cidade, aos nove anos de idade, um forno para a queima de seus trabalhos. Concluiu o curso ginasial em Recife e voltou para Goiana com a família, passando a trabalhar como sacristão na Igreja do Rosário dos Homens Pretos. Embora apaixonado pela religião católica, um dia questionou a mãe sobre se haveria um outro céu que eles não conheciam. Um céu apenas para os negros, pois todos os santos, anjos e até o próprio Cristo que conhecia eram brancos. Chocada com a ousadia do filho, a mãe lhe pediu para nunca mais tocar no assunto. Sem se intimidar, Zé do Carmo começou a produzir santos, anjos e demais personagens celestiais com feições
negras e cabelos afro. Mas, para não afrontar a mãe, essas obras passaram a ser conhecidas apenas após sua morte, em 1972. Determinado, Zé do Carmo aprofundou e criou o mundo tal qual deveria ser: com gente e com santos de feições brasileiras e tocando instrumentos, como viola, zabumba e sanfona. Chamou essa nova fase criativa de “transfiguração humana”. Em 1980, foi convidado por Dom Hélder Câmara a criar uma obra para ser oferecida ao Papa, durante sua visita ao Brasil. Fez um Anjo Cangaceiro, e a peça não foi aceita. Embora triste, o artista não se deixou abater e seguiu produzindo e ensinando a novas gerações de artistas. Nesse período, se reinventou como pintor, usando tintas e cores da terra. Foi consagrado Patrimônio Vivo de Pernambuco e faleceu em 2019, aos 85 anos. Zé do Carmo foi um artista que se manteve ao longo da vida em constante aprendizado. Marcou sua presença nos mundos da arte e reivindicou lugar de fala. Negro, sempre se entendeu como artista popular por pertencer às camadas dos mais pobres economicamente. Entendia que o brasileiro comum, “com cara de gente”, precisava ser conhecido. E lutou por isso Angela Mascelani, antropóloga
Calango Pouco conhecidos hoje, o Calango e o Desafio Calangueado foram fundamentais para a formação do partidoalto no mundo do samba, como salientou Nei Lopes. Migrantes fluminenses, mineiros e paulistas dos vales de café, descendentes da última geração de africanos e escravizados do Sudeste, ao chegarem nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, em sucessivos momentos após a abolição, trouxeram consigo muitas recordações e patrimônios construídos no cativeiro, como o Jongo, a Folia de Reis e os Calangos. Em comum, os improvisos e desafios em versos, um traço inegável das culturas negras na diáspora. Com essa bagagem, os calangueiros foram personagens centrais na fundação das novas e modernas associações dançantes, blocos de Carnaval e escolas de samba. Os calangos, com sanfonas de oito baixos, pandeiros, cavaquinhos, pares dançarinos, muitos versos, desafios e histórias rimadas, ainda fazem vibrar muitos bailes rurais e de pequenas cidades do Sudeste Martha Abreu, historiadora, professora UERJ
Luiz Gonzaga Luiz Gonzaga nasceu em 1912 no semiárido pernambucano e lá aprendeu a tocar sanfona com o pai. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1939, levando habilidades musicais extraordinárias que usou para compor, cantar e gravar canções inspiradas no patrimônio sonoro e cultural de sua terra. Formatou e difundiu gêneros musicais dançantes, como o xote e o baião, que passaram a ditar o ritmo das festas juninas do país. Ouvir Luiz Gonzaga nos transporta para o sertão nordestino, dos forrós à luz de candeeiro, da seca aflitiva e da fé na chuva, de cangaceiros valentes e mulheres fortes. Em sua obra, reinventou uma tradição regional, conferindo ainda mais diversidade à música popular do Brasil Jonas Lana, pesquisador em música, professor IFRJ
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Antônio de Oliveira
Acervo Museu do Pontal
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Antônio de Oliveira
Antônio de Oliveira nasceu em 1912, em Belmiro Braga, Minas Gerais. Aos seis anos, começou a esculpir carrinhos de bois para brincar. Na adolescência, trabalhava consertando móveis durante o dia e esculpindo bonecos à noite. Foi, nesse sentido, uma típica criança das famílias pobres do interior, que precisavam trabalhar produtivamente desde cedo. Foi lavrador, ajudante de pedreiro, garagista, auxiliar em oficina mecânica. Como comerciante, criou um bar e restaurante, onde exibia filmes, promovia festas e shows dos sucessos regionais. Consciente da fugacidade da vida e inconformado com a rapidez com que tudo parecia mudar, quis que sua obra fixasse a terra natal, episódios da infância e juventude, as festas e brincadeiras, as religiões que conheceu e os costumes. Esculpia incansavelmente, desejando que suas criações conseguissem narrar o vivido, em toda a sua complexidade, o que o levou a ser visto como um memorialista. Ao mesmo tempo, convivendo com as aceleradas mudanças tecnológicas do século XX, encarnou o homem maravilhado pelas conquistas da engenhosidade humana e pela velocidade.
Inspirado por essa dinâmica, fez uma grande obra mecanizada, com centenas de personagens que se moviam, e a exibiu por alguns anos num anexo ao bondinho do Pão de Açúcar, cartão-postal do Rio de Janeiro. Entregou-se com paixão à recriação de cenas reais ou imaginárias que compunham o que chamava de “meu mundo encantado”. A partir das reflexões sobre seu processo de criação, deixou observações escritas e gravadas, que registram também a dimensão pedagógica de seu fazer, as quais deram origem a um livro publicado pela Funarte, em 1983. Consciente do valor artístico de sua obra, Antônio de Oliveira lutou por seu reconhecimento. Como artista das camadas populares, enfrentou preconceitos e graves dificuldades econômicas. Morreu em 1996, em sua terra natal, sem conseguir realizar o sonho de ver sua produção reunida em um museu próprio Angela Mascelani, antropóloga
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Reisado e chapéus de Reisado
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Integrado ao ciclo natalino, o Reisado refere-se aos Ranchos que festejam o nascimento do Menino Jesus e à visita que lhe fizeram os três Reis Magos. Os Ranchos são formados por homens e mulheres que saem às ruas representando os pastores que foram a Belém. Cantando, eles vão pedindo agasalhos pelas casas por onde passam. Em Portugal, o Reisado teria sido um cortejo de pedintes que cantavam versos religiosos ou humorísticos, assim como autos sacros, cujo enredo eram passagens da vida de Cristo. Essa festa apresenta uma variante no estado de Alagoas, que recebe o nome de Guerreiros e que se destaca pela suntuosidade da indumentária dos participantes, que usam chapéus decorados por espelhos e elementos brilhantes, além de fitas multicoloridas. Há quem atribua aos espelhos o poder mágico de fazer retornar os maus desejos a quem os enviou. Os chapéus aqui apresentados provêm dessa festa alagoana, que é o resultado de adaptações feitas na junção do reisado, da chegança e dos pastoris. O nome “guerreiros” tem várias conotações, mas está relacionado à encenação da luta entre tribos rivais na defesa de seus territórios Museu do Pontal
Folia de Reis Representar a jornada dos Magos do Oriente para conhecer e presentear o Menino Jesus está no centro da expressão do catolicismo popular, conhecida por Folia de Reis (há localidades que utilizam as expressões Companhia de Reis, Terno de Reis, Reisado e Ranchos). Os Grupos de Folia, em geral famílias, parentes e vizinhos, realizam uma longa e emocionante jornada (ou giro) de treze dias (entre 25 de dezembro e 6 de janeiro) visitando casas onde os foliões cumprem uma missão assumida em geral por promessa. Os devotos os recebem em casa, oferecendo alimentos e reverenciando os Santos Reis na espera de colher bênçãos para si e seus familiares. O costume de celebrar os Magos do Oriente chegou ao Brasil pelo colonizador, tornando-se prática regular em várias regiões do país, se bem que nunca foi oficializada e controlada pela Igreja Católica. No Sudeste do Brasil, as folias, com liberdade e criatividade, expressam a força da religiosidade popular, principalmente de matriz africana, como efeito da extensa presença da população negra nas festividades dos reis. Improvisos, desafios de palhaços em versos, acompanhamento musical, com violão, sanfona e pandeiros, e histórias que valorizam o rei negro também tornam a Folia de Reis um patrimônio afro-brasileiro Marluce Magno, mestre em memória social
Antônio de Oliveira
Acervo Museu do Pontal
Ratão Diniz
Viajando pelo Brasil desde 2007 de forma independente, o fotógrafo Ratão Diniz, nascido na Favela da Maré em 1984 e formado pela Escola de Fotografia Popular, mostra o seu posicionamento e o domínio por essa linguagem como um instrumento de luta. A fotografia popular é uma ferramenta poderosa para redefinir a narrativa visual e romper com estereótipos, permitindo que os personagens sejam protagonistas. As fotografias de Ratão refletem nas histórias contadas pela sua mãe, Dona Nevinha, que por anos relatou momentos de sua vida de quando morava em Goianinha, Rio Grande do Norte. Para o fotógrafo, aquilo sempre vinha como um imaginário figurativo de personagens fantasiosos. Todo esse enredo corrobora com imagens, como dos Bate-Bolas, Caretas de Potengi, Burrinha de Lança, Ticumbi de São Benedito e Festa de São Jorge. Ratão apresenta um olhar de pertencimento por meio de cores vibrantes em sua estética fotográfica Monara Barreto, pesquisadora
Ratão Diniz Reisado Caretas de Potengi do mestre Antônio Luiz, Ceará, 2017
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Tamba
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Tamba é o apelido pelo qual ficou conhecido o artista baiano Cândido Santos Xavier, nascido em Cachoeira, na Bahia. Ele e Armando começaram a modelar incentivados pelo irmão mais velho de ambos, Cecílio, que veio a falecer jovem. Em pesquisa recente, feita dentro da tradição oral, lemos que eram filhos de um pai de santo negro conhecido como Chiquinho de Babá, que trabalhava modelando louças de barro para os cultos de candomblé. O que faz sentido com sua produção repleta de exus e de figuras mítico-religiosas ligadas aos universos das culturas afro-diaspóricas. Além disso, viveram, na década de 1970, numa região da cidade na qual tiveram origem vários candomblés baianos. Suas criações trazem Iemanjás e barcos com oferendas, que indicam tratar-se de presentes. Em exposição realizada na década de 1960, onde hoje funciona o Solar do Unhão, em Salvador, as obras desses irmãos artistas já apareciam com destaque. O que nos informa sobre sua circulação e a maneira exitosa como foram recebidas. Além dos personagens flagrados em meio às suas funções religiosas, nos grupos de candomblé, chamam a atenção em sua obra os exus alegres e coloridos, com a predominância das cores preto, vermelho, branco e azul. Bem como os pássaros, galinhas de angola e outras aves comuns na região. As obras são precariamente queimadas e, por esta razão, tornaramse muito raras, podendo ser encontrada apenas em algumas coleções importantes Angela Mascelani, antropóloga
Festa de Iemanjá As festas religiosas ligadas às tradições da cultura afro-brasileira fazem reverência às divindades sagradas dos candomblés e vêm ganhando uma expressão significativa em algumas regiões do país. Uma das festividades religiosas mais importantes e famosas do candomblé é a Festa de Iemanjá. Ela acontece todo ano, no dia 2 de fevereiro, e enche as ruas de Salvador com os batuques dedicados à entidade conhecida como Rainha dos Mares. Louvada como Mãe dos Orixás, Iemanjá é uma figura central para as religiões afro-brasileiras e aparece também no cristianismo, já que os católicos a associam com Nossa Senhora dos Navegantes Tadeu Kaçula, sambista e sociólogo
Tamba
(Cândido Santos Xavier) Acervo Museu do Pontal
Walter Firmo Festa de Iemanjá, 1982, Praia de Itapuã, Salvador, BA. [págs. 46 e 47]
Ratão Diniz Festa de São Jorge em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, 2010 [págs. 48 e 49] Silvani Cardoso do Ticumbi de São Benedito em Conceição da Barra, Espírito Santo, 2014 [págs. 50 e 51]
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Rosário dos Pretos São Jorge e a Casa Verde São Jorge é o santo patrono de vários países, entre os quais está o Brasil, Portugal, a Geórgia, a Bulgária e a Catalunha, na Espanha.
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Em terras brasileiras, o sincretismo utilizouse dos santos católicos para reverenciar as divindades das religiões de matrizes africanas. Assim, invocavam os orixás por meio de suas imagens: Oxóssi na forma de São Sebastião, Iansã como Santa Bárbara, Oxalá como Jesus Cristo, Ossain como São Benedito, Ogum como São Jorge e assim por diante. No Rio de Janeiro, o Dia de São Jorge, 23 de abril, é feriado estadual e um dia de festas, celebrado com rodas de samba e feijoadas que, na tradição do sincretismo, é a comida destinada a São Jorge. Em São Paulo, algumas pessoas celebram o Dia de São Jorge com festas, cortejos e muita fé ao santo guerreiro. Em sua homenagem, a tradicional escola de samba Morro da Casa Verde realiza anualmente uma festa que reúne dezenas de famílias, devotos e membros da comunidade que, durante todo o ano, participam da preparação e do cortejo. Após rodas de samba, apresentação da bateria da escola e distribuição da tradicional feijoada, a festa culmina no cortejo festivo que se concentra na Rua Ernani Salomão Rosas Ribeiro, no Parque Peruche, distrito da Casa Verde Tadeu Kaçula, sambista e sociólogo
Modo de vida ancestral constituído pelos pretos africanos na diáspora. Baseado na cosmologia bakongo, o rosário foi organizado no Brasil pelos africanos do Congo em negociação com outros povos africanos. Em um templo cíclico que liga o mundo físico ao extrafísico, o presente ao passado, o rosário procura orientar cada membro da comunidade na busca pelo autoconhecimento. Nesse exercício, o auxílio horizontalizado vem de Nzambi, da natureza divinizada e dos antepassados, em um processo de autocura, autocuidado e autocontrole dentro da comunidade. Foi neste contexto que se deu a organização da festa da ancestralidade, o Reinado, que se caracteriza por ser um momento festivo de exercício espiritual que realiza o cortejo dos Minkisi. Devido às crueldades da escravidão e às permanências dessa estrutura na contemporaneidade, o rosário festivo marca o culto às divindades africanas Kaiaia, Ndandalunda, Mutakalambo e Matamba e foi associado, dentro das irmandades negras, ao culto à Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, à Nossa Senhora das Mercês, a São Benedito e à Santa Efigênia, desconsiderando uma futura ideia de sincretismo, ou seja, os Minkisi não se confundem com os santos católicos, um não é o outro. Dentro dessa compreensão, os Reis Congos e Perpétuos seriam a representação de lideranças africanas e guardiões das coroas dos Minkisi Ana Luzia da Silva Morais, mestre em história e rainha Konga | Pedrina de Lourdes Santos, doutora em Comunicação por notório saber, UFMG e Capitã da Guarda de Massambique, Oliveira, MG
Catolicismo festivo popular Sob a rubrica “catolicismo festivo popular” ou “festas de santo” ou ainda “religiosidades populares”, encontram-se referidas uma série de manifestações em que o sagrado e o lúdico se combinam, muitas vezes, de maneira singular. Sem negar a condição de religião oficial de Estado e, portanto, sua associação à repressão violenta a outras vivências espirituais, o Catolicismo Colonial se estabeleceu sob o regime de padroado, que garantia aos monarcas ibéricos uma autonomia relativa em relação ao papado e à Roma. Isso permitiu que ele permanecesse festivo e que se tornasse capilar, poroso e laico, a ponto de se configurar como um espaço-tempo de expressões devocionais híbridas, em que o Ocidente Moderno foi perpassado por cosmologias dos povos originários da América e pelos da Diáspora Africana. Assumindo múltiplas formas sensoriais e sinestésicas, envolvendo coletividades, as devoções em festa tomam corpos, mobilizam emoções, provocam arrebatamentos e mantêm o mundo a girar. Elas atribuem ritmo à vida social, pontuando o calendário com rituais. Nos esforços empreendidos para se dar continuidade aos preceitos, transmite-se, entre gerações, o saber-fazer tanto da festa como da religião. Assim, o catolicismo festivo popular – ou outro nome que possamos lhe dar – materializa, com criatividade e cuidado, os compromissos, a fé, a esperança, a autoentrega. Pessoas e santos, ao colocarem-se em relação, conectam vidas e estabilizam sentidos diante do imponderável Renata de Castro Menezes, antropóloga, Museu Nacional, UFRJ
Lavagem de Nosso Senhor do Bonfim A Lavagem de Bonfim é uma das festas religiosas mais importantes de Salvador, na Bahia, e pode ser vista como uma celebração de resistência das populações afro-diaspóricas. Ela acontece na segunda semana do mês de janeiro, em data móvel. A cerimônia tem início com um exuberante cortejo de baianas do candomblé ricamente paramentadas, que caminham com vasos de água nas mãos, da Igreja Nossa Senhora da Conceição da Praia até o Alto do Bonfim. Lá, é feita a lavagem das escadarias da igreja com flores brancas e água de cheiro. Durante certo tempo, por determinação da Arquidiocese de Salvador, as portas da igreja permaneciam fechadas no decorrer do ritual, realizado com toques e cantos de caráter afroreligioso. Resultado de lutas bem-sucedidas, empreendidas pelas comunidades negras, hoje a festa apresenta perfil ecumênico e tem seu cerimonial integrado, fazendo uma dupla homenagem: ao Nosso Senhor do Bonfim, entidade do panteão católico, e a Oxalá, divindade afro-brasileira. Embora a ideia de “limpeza” possa ser encontrada na maior parte das religiões, atribui-se o início desse rito a um costume católico, trazido de Portugal, no qual era comum o pagamento de promessas com a limpeza da frente das igrejas. No Brasil, foi incorporado e reatualizado pelas comunidades negras, tornando-se sincrético. Atualmente, devotos e turistas vêm de todo o país e de outros lugares do mundo para assistir a essa manifestação Angela Mascelani, antropóloga
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Ratão Diniz Burrinha de Lança em Pitimbu, Paraíba, 2014
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Capitão Pereira
(Antônio Pereira) Acervo Museu do Pontal
Cavalo Marinho Folguedo espetacular, com danças, ritmos e músicas específicos e característicos, que utiliza máscaras em sua representação. Em Pernambuco, a região que concentra o maior número é a Zona da Mata. Seus participantes são chamados de brincadores, figureiros ou folgazões. Possui ampla variedade de personagens fixos também conhecidos como figuras. Estas se apresentam em passagens (enredos curtos), estruturadas em desafios dialógicos com falas ligeiras, que se atualizam através do improviso no momento da apresentação, incluindo repertório variado de loas, versos rimados. As figuras centrais são a dupla cômica Mateus e Birico, que estão presentes em quase todas as passagens. Também o capitão ou o dono do brinquedo comanda a brincadeira, auxiliando na relação com os personagens que chegam para se apresentar na roda. As cenas são entremeadas de temas musicais ou situações cênicas próprias de cada personagem. A música é executada ao vivo e o conjunto musical é conhecido pelo nome de banco. O repertório musical é composto por cocos, baianos, toadas e sambas. O espaço cênico da representação e a movimentação dos atores na dança tomam como referência a posição do banco na arena. A comicidade é um dos aspectos centrais da brincadeira e o aprendizado é transmitido oralmente, por meio da observação e participação. Nos contextos tradicionais, as apresentações duram a noite toda. Quando os contratos acontecem nos sítios ou acompanham o calendário das festas oficiais e religiosas dos municípios. Há muitas correspondências e influências entre o cavalo-marinho e o mamulengo, compartilhando ambos de um mesmo universo de técnicas, saberes e elementos
Adriana Schneider, artista e pesquisadora
Capitão Pereira Em 1901, nasceu em Timbaúba, no interior de Pernambuco, o mestre do Bumba Meu Boi que ficou conhecido como Capitão Pereira. Aos 15 anos, começou a se dedicar à criação de figurinos e bichos do Bumba Meu Boi, no Recife (PE). Aprendeu sozinho, desmanchando e remontando bonecos feitos por um antigo animador de bumba chamado Inácio. Após cinco anos repetindo as mesmas “figuras”, passou a produzir novas formas, originais. Como método, iniciava sempre pela criação da estrutura tridimensional. Com a forma determinada, revestia a armação de pano e a pintava com traços de estilo rigoroso e sintético. Perfeccionista, inventava protótipos que eram submetidos à aprovação dos brincantes antes do período das festas. Motivado pela força do Bumba Meu Boi na região, criou muitos personagens diferentes, consagrando o Boi Misterioso, o Cavalo-Marinho, o Morto Carregando o Vivo, a Ema, o Pigmeu e Babau. Atingiu um estilo inconfundível no desenho e na pintura dos personagens, e suas principais marcas são a ênfase na estrutura, a economia dos traços e o uso de cores contrastantes. Antônio Nóbrega, o artista performático e brincante das festas populares, atribuiu sua iniciação a ele, mencionado como diretor do Boi Misterioso de Afogados. Já o conheceu octogenário e o teve como mestre das artesdo teatro popular brasileiro. Morreu pobre, em 2 de maio de 1981, numa casa simples, localizada num local denominado Mustardinha, no bairro de Afogados, Recife, onde vivia Angela Mascelani, antropóloga
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Manuel Eudócio e Zé Caboclo
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Manuel Eudócio Rodrigues (1931-2016) nasceu no Alto do Moura, em Caruaru, Pernambuco, onde viveu até sua morte. Junto com José Antônio da Silva, o Zé Caboclo (1921-1973), são considerados uns dos primeiros ceramistas da localidade a ganharem projeção. Ambos inovaram técnicas e formas, adotando o uso do arame na estrutura das esculturas e a feitura dos olhos em alto relevo, em vez de fazê-los furadinhos. Começaram a modelar o barro da mesma maneira que as demais crianças criadas em ambientes oleiros no Brasil: observando parentes próximos e fazendo animaizinhos para brincar e presépios na época do Natal. Inicialmente Manuel Eudócio produzia esculturas em barro natural, mas, influenciado pelo interesse do público, passou a pintar parcialmente suas peças com tintas fortes e coloridas. Criativo e apaixonado pela “arte de boneco”, inventou um grande repertório de figuras, destacando-se os belíssimos “bois” e as representações de muitos tipos de festas: Bumba-meu-boi, Maracatus, Folias, procissões e festas de santo.
Zé Caboclo, seu amigo e cunhado, também deixou uma produção diversificada e de alta qualidade. São de sua autoria as alegres moringas antropomorfas de grandes dimensões, as esculturas da Virgem Maria e as impactantes figuras do Bumba Meu Boi e do Maracatu. Suas modelagens destacam-se pelo equilíbrio das proporções, formas e cores que concorrem para que suas criações tenham forte plasticidade. É autor de obras comoventes, sendo que sua escultura “Bom dia” inspirou o livro “A Caverna”, de autoria do escritor português José Saramago, prêmio Nobel de literatura, que a conheceu em visita ao Museu Casa do Pontal, no Rio de Janeiro, em 2000 Museu do Pontal
Manuel Eudócio
Acervo Museu do Pontal
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Maracatu
Maracatu é um termo de origem tupi. Junção de maracá, instrumento ameríndio, com katu, que em português significa bonito, próspero. Em Pernambuco, dois festejos tradicionais carnavalescos são denominados maracatus: o maracatu de baque solto, mais conhecido como maracatu rural, com presença marcante na cultura da zona da Mata Norte desse estado, e o maracatu nação ou de baque virado, presente principalmente na cidade do Recife. As nações de maracatu de baque virado realizam seus desfiles nas ruas com uma grandiosa corte real que apresenta diversas figuras: Rainha, Rei, Princesa, Dama do Paço, Baiana Rica, Catirina, Lanceiro, entre outras. Dançam acompanhados por um intenso conjunto musical percussivo. Cantam toadas e loas e se dizem nações devido à alegada descendência africana. O baque virado é atravessado por práticas realizadas dentro dos cultos afros e indígenas (Nagô e Jurema). Os maracatus de baque solto são parte de uma tradição de poesia improvisada bastante rica no Nordeste. O poeta mestre
de improviso se apresenta nos ensaios e no Carnaval junto do terno percussivo e da orquestra de sopros. O cortejo real é acompanhado pelas figuras do Matheus e da Catirina e é rodeado por dois cordões de Caboclos de Lança, personagem central na festa. O Caboclo usa gola bordada com paetês e lantejoulas, chapéu, chocalho de metal e corre segurando sua lança com a qual protege o brinquedo durante o percurso migratório que ocorre nos três dias de Carnaval entre diversas cidades do estado Manuel Carlos de França, poeta e mestre do Maracatu Estrela Dourada, Buenos Aires, PE | Maurício Soares, artista e sacerdote juremeiro e Baiana Rica do Maracatu Estrela Brilhante do Recife, PE | Clarisse Q Kubrusly, antropóloga
Walter Firmo
Maracatu Rural, circa 2005, Nazaré da Mata, PE. Maracatu Rural, década de 1980, Nazaré da Mata, PE.
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Sil da Capela
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Nascida em 14 de agosto de 1979, em Cajueiro, município próximo a Capela, no estado de Alagoas, Maria Luciene da Silva Siqueira, cujo apelido é Sil, começou a vida como cortadora de cana, tendo “perdido sua infância no trabalho pesado da lavoura”, conforme suas próprias palavras. Na fase adulta, em busca de melhores condições para a sua filha, que sofria com sintomas diversos relacionados à epilepsia e ao autismo, ela realizou oficinas de técnicas artesanais, ofertadas para mães de crianças com condições especiais. Em uma das aulas, conheceu o artista João das Alagoas, criador de uma escola voltada para o desenvolvimento de talentos na cerâmica. Ali, experimentou as artes do barro, aprendeu técnicas e o processo de feitura, vindo a se profissionalizar em pouco tempo. Sil imprimiu um estilo próprio em suas esculturas, destacando-se com a criação de cenas do cotidiano local. Além da trajetória de vida e da qualidade técnica, a artista chama atenção pela produção de obras monumentais, característica rara entre os ceramistas que se dedicam à arte popular brasileira. Hoje, Sil é considerada uma talentosa artista que se destaca no cenário das artes de seu estado natal Museu do Pontal
Sil da Capela
Acervo Museu do Pontal
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O passinho Capoeira, pernadas e a tiririca na cultura paulistana Os Candomblés, as Capoeiras e os Sambas são importantes espaços de preservação das práticas culturais de origem africana e obedecem a uma ordem cosmológica de transmissão dos saberes desenvolvidos pelos ancestrais africanos, por meio da oralidade, das corporalidades e das práticas cotidianas. Essas rodas sagradas mantêm um modelo de organização social diferente do brancocêntrico ocidental, imposto pelo processo de colonização no Brasil. 64
A capoeira traz uma dimensão cosmológica cujos referenciais nos dão ampla possibilidade de analisarmos os aspectos epistemológicos presentes nas heranças deixadas pelas ancestralidades africanas e que marcaram, de forma plena e permanente, a cultura brasileira, tornandose uma das principais referências nacionais. Em São Paulo, a capoeira ganhou elementos do samba e ficou conhecida com Tiririca. O extinto Largo da Banana, no bairro da Barra Funda, hoje Memorial da América Latina, é considerado o marco zero do samba paulistano por ter sido o ponto de encontro mais importante dos sambistas que ali viviam e onde, entre um descarregar de cargas de bananas vindas do interior e outro, acontecia o jogo de pernada nas rodas de Tiririca (capoeira paulista) Tadeu Kaçula, sambista e sociólogo
O Passinho é um estilo de dança surgido nos bailes funk das favelas cariocas, no início do século XXI, aproximadamente em 2004, segundo os dançarinos. O estilo tem como uma de suas principais características a assimilação de diversas outras danças que são incorporadas ao ritmo do funk e vive uma constante transformação, sendo hoje muito diferente do que era em sua origem. Ele mistura diferentes elementos de referências, como break, capoeira, kuduro, contorcionismo, mímica, frevo e performance, todos combinados à batida do funk carioca, gênero eletrônico de pista, criado nas periferias e comunidadesda cidade do Rio de Janeiro nos anos 1980. A internet também foi fundamental para a cultura do Passinho. No começo, o YouTube servia tanto como um lugar de disseminação como de pesquisa de novos passos. Já a rede social Orkut abrigava a maior comunidade virtual dedicada ao estilo, a página “Passinho Foda”, importante na divulgação dos bailes, nos debates e desafios para duelos de dança. Hoje, dançado primordialmente por adolescentes e crianças, circula fortemente na internet e, rapidamente, seus movimentos são recriados em outros contextos locais. Além disso, várias companhias dedicadas ao estilo foram criadas, e dançarinos de Passinho se apresentaram em grandes eventos, como as Olimpíadas Emilio Domingos, cineasta
Jongo O Jongo/Caxambu é uma dança de matriz africana. Assim como outras manifestações culturais, foi ressignificado no Brasil nas senzalas e nos quintais como forma de comunicação e celebração, mantendo viva a memória e afetividade do povo preto forçado ao trabalho escravo. Ao som do toque do tambor, da palma da mão e na dança em roda, os jongueiros e jongueiras comunicavam-se entre si por meio dos pontos de Jongo, versos muitas vezes feitos no improviso a fim de passar um recado, organizar uma fuga e até mesmo estimular pequenas brincadeiras entre os que o praticavam. Atualmente, o Jongo cumpre um papel social de luta nas comunidades de tradição e contribui para manter viva a cultura e a ancestralidade de mestres e mestras jongueiras que já não estão mais presentes, mas que deixaram seu legado por meio da oralidade, potente ferramenta educativa de propagação dos nossos saberes Jussara Adriano de Souza, jongueira de tradição do Quilombo Santa Rita do Bracuí, Angra dos Reis, RJ
Bate-bolas O Carnaval nos subúrbios do Rio de Janeiro mostra uma potência cultural, de grande complexidade e diferentes sociabilidades. Nas regiões de Anchieta, Marechal Hermes, Madureira, Campo Grande e outras, aparecem formas de brincar nas quais existe um personagem que se destaca: o Bate-Bolas. De maneira geral, ele se apresenta mascarado, com roupas bufantes e coloridas e circula em turmas sonoras pelas ruas da cidade. Porém, é mais do que isso. Sua preparação acontece o ano inteiro e, atualmente, fazem parte as turmas de mulheres. Elas constroem suas práticas culturais com base em suas vivências, que estão relacionadas a sobreviver em um contexto social que muitas vezes lhes nega oportunidades. A partir daí, reinventam suas próprias maneiras de fazer e acontecer. Quando as mulheres se unem para a brincadeira e se enaltecem entre si, automaticamente estão quebrando relações de poder e criando uma irmandade, uma solidariedade política entre elas, gerando resistência Sabrina Veloso, produtora cultural e brincante da turma Bilhetes de Anchieta, RJ
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Carnaval do Rio e negritude
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Se o Carnaval, originalmente, foi uma comemoração ligada ao calendário católico e, desde o século XX, assumiu um caráter oficial no Rio de Janeiro e em todo o país, ele nunca deixou de ser um espaço de conflitos e muitos debates. Por meio de diversas associações carnavalescas, diferentes grupos sociais se valeram do Carnaval como estratégia de ação para criticar a realidade, projetar memórias, identidades e concepções de mundo. Mas foram os descendentes de africanos, a partir da diáspora forçada às Américas, que transformaram o evento numa das mais potentes formas de expressão cultural e política. Desde os séculos XIX e XX, criaram no Rio de Janeiro formas associativas desafiadoras para brincar o Carnaval, como os Cucumbis, Ranchos, Blocos e as Escolas de Samba, e utilizaram a festa como um espaço de resistência, luta por cidadania, afirmação de suas existências, valores, ritmos e reelaboração da memória da escravidão. As escolas de samba especialmente, fundadas a partir da década de 1920, tornaram-se uma das maiores e mais modernas instituições culturais de afirmação da negritude e valorização dos patrimônios negros no Sudeste do Brasil Vinicius Natal, sambista e antropólogo
Walter Firmo
Carnaval, Mangueira, década de 1990, Rio de Janeiro, RJ
Adalton Fernandes Lopes Acervo Museu do Pontal [págs. 68, 69, 70, 72 e 73]
Adalton Fernandes Lopes e o carnaval no sambódromo carioca
O Carnaval no Sambódromo foi escolhido como uma das obras síntese desta exposição porque traz para o primeiro plano o diálogo com o bairro da Casa Verde e suas escolas de samba. Foi feita por Adalton Fernandes Lopes (19382006), um artista que registrou a presença negra e das camadas populares na vida carioca, tendo se notabilizado pela nitidez com que historiou a vida de todo dia, no Rio de Janeiro e seus subúrbios. Nessa obra, uma instalação com centenas de bonecos feitos em barro, substituiu os ricos turistas que costumam ocupar os camarotes por personagens populares – brancos, mestiços e negros pobres. Com seu gesto certeiro, destituiu as hierarquias vigentes na sociedade brasileira, retirando as elites dos camarotes e ocupando- os, subvertidos, pelos mais simples, pelos que fazem o carnaval acontecer, pelos que o fizeram chegar aos nossos dias com força e potência. Adalton foi um artista com grande capacidade de leitura da vida social, da discriminação sofrida pelos moradores das periferias e comunidades - ele próprio vivendo com sua família em uma, no Maruí, em Niterói. Encontrou na arte uma forma de contar como viviam seus iguais. Registrou as festas que aconteciam nos
morros, como a Folia de Reis e as Rodas de Samba, mas também desceu para as praças suburbanas e flagrou adultos e suas brincadeiras nas ruas: jogo do bicho, sinuca, briga de galo, bocha, jogo de cartas, dominó etc. Suas esculturas e modelagens traçam um arco temático abrangente: da arte erótica à Vida de Cristo, passando pelo circo, pelo calango e pelas profissões ambulantes. Segundo o artista, sua chegada ao mundo das artes se deu por inspiração de notícias que ouviu pelo rádio sobre Mestre Vitalino, informando que aquele homem, pobre do interior do nordeste, que fazia figurinhas de cerâmica, fora recebido pelo Presidente da República. Isso o levou a compreender que os “bonecos de barro” que fazia, até então, para si, e que muitos vizinhos achavam uma bobagem, poderia interessar a outras pessoas. Foi um estímulo para prosseguir e se aprofundar. Esse acontecimento nos auxilia a entender a dimensão sociológica presente na definição e no estabelecimento do que tem sido chamado de Arte Popular Brasileira. Adalton, que já criava seus bonecos, assim como muitos outros que vêm a desenvolver um trabalho autoral, inspira- se na figura de Mestre
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Vitalino para dar plena vazão à sua imaginação criadora. Ou seja, um determinado tipo de produção, que provavelmente já existia em muitas partes do país, encontra acolhimento no mundo cultural a partir do momento em que passa a ser valorizado como bem simbólico, como “trabalho” que demarca um ethos e remete a valores identitários reconhecidos como brasileiros. Sua história, como a de muitos artistas presentes nesta exposição, nos lembra das populações silenciadas, dos que não tiveram direito a sua própria voz, dos que não são sujeitos da atenção do Estado, dos que foram relegados a diversas formas de abandono. Dos que tiveram sua infância roubada, dos que trabalharam desde muitos novos, dos que se reinventaram no mundo e que não tiveram sua arte plenamente reconhecida como tal. 72
Por outro lado, também chama nossa atenção para o papel decisivo dos artistas nas mudanças que se operam na vida social, porque sua ação, em si, é resistência. Que se somam às mudanças que vêm ocorrendo no país e no mundo, tais como a valorização da diversidade cultural, a ampliação do debate sobre a alteridade, os movimentos de resistência de povos locais ao colonialismo, a combatividade pela representatividade racial, alargando as fronteiras do que pode ser considerado como arte, e possibilitando a emergência de novas realidades culturais e artísticas Angela Mascelani Antropóloga
João Cândido
Família unida, 2022 Óleo sobre tela
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A Casa Verde e o carnaval paulistano
Quando o assunto é samba e Carnaval, a Casa Verde se destaca. A forte presença da população preta e sua intensa atividade no processo de ressignificação sociocultural do território da Casa Verde foi fundamental para a criação de espaços de sociabilidade dessa comunidade. As agremiações carnavalescas ganharam protagonismo e se tornaram os principais espaços de aquilombamento orientados pelas tecnologias cosmológicas de sobrevivência. Pesquisas anteriores nos levaram às origens do Carnaval nessa região, bem como a entender a contribuição dessas escolas de samba para o desenvolvimento do evento em São Paulo. A partir do Grupo Carnavalesco da Barra Funda, criado em 1914 por Dionísio Barbosa, que também foi morador do bairro, surgiram outras importantes organizações, como os cordões Campos Elíseos, Fio de Ouro e Coração de Bronze. Com a oficialização do Carnaval paulistano, em 1968, alguns deles, como o Vai-Vai e o Camisa Verde e Branco, viraram escolas de samba. As primeiras movimentações carnavalescas no território da Casa Verde ocorreram por volta de 1939, quando um grupo de
sambistas se mobilizou para a criação da agremiação Bico Doce. Em 1949, após sua dissolução, houve a tentativa de criar a Escola de Samba Ritmos do Morro, no Parque Peruche, que, em 1956, se transformou na Unidos do Peruche. Entre seus fundadores estavam Reinaldo André (o Nego), João Cândido (o Cachimbo) e Carlos Alberto Caetano (Seu Carlão do Peruche). Alguns anos depois, outras agremiações foram fundadas na região, como a Morro da Casa Verde, por Zezinho do Banjo em 1963, a Mocidade Alegre, em 1967, por Juarez da Cruz e Carlos Bichara, e a Escola de Samba Império de Casa Verde, em 1994, por Daílson “Caçapa”, Carlos Alberto de Souza (o Carlinhos) e Francisco Plumari Junior (o Chico Ronda). A Casa Verde tem relação direta com a formação e o desenvolvimento do Carnaval de São Paulo, seja pela presença de algumas das principais escolas de samba ou mesmo por abrigar o Sambódromo de São Paulo, localizado no Parque Anhembi, subdistrito do bairro Tadeu Kaçula, sambista e sociólogo
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Roger Cipó Olhar de dentro: Casa Verde e a memória de uma pequena África em imagens
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Uma das estratégias mais importantes de combate ao racismo é o resgate e a manutenção das memórias da população negra. Tratando-se de São Paulo, essas ações ganham ainda mais relevância, já que a história oficializada em relação ao processo de modernização e desenvolvimento da cidade destaca a presença dos imigrantes europeus e minimiza a presença da população negra. A Casa Verde é um desses vários bairros que tiveram, durante muitas décadas, sua história e presença negra invisibilizada ou, no mínimo, diluída. Neste sentido, as memórias da Casa Verde se transformam em poesia visual pelas lentes do fotógrafo Roger Cipó, oriundo de Diadema, cuja sensibilidade e conhecimento sobre a cultura afro-brasileira possibilita traduzir a força e a singeleza dessas histórias em fotografias. Ele traz um olhar contrahegemônico em relação à produção de imagens de pessoas negras, historicamente marcadas pelo exotismo e pela violência. A partir de uma mundividência própria, Cipó produz cenas que remetem à vida.
O sorriso, presente na maioria dos retratos, se apresenta como uma resistência ao processo de enrijecimento dos corpos negros como objetos-mercadorias e os reposiciona como sujeitos e sujeitas que eternizam possibilidades de vida. Cipó nos convida a adentrar a intimidade de seus retratados, tendo como cenários o bairro, a praça, a rua, a escola de samba, o quintal de casa, referenciais importantes para pensar sobre a valorização das epistemologias negras passadas de geração em geração pelas famílias. Cada personagem apresentado nesta série representa o conhecimento e a memória das pessoas negras em São Paulo Viny Rodrigues, professor e Antropólogo
Nelson Amaro dos Santos, Dona Odette Carvalho e Mãe Wanda de Oxum [pág. 77] Seu Otacílio Ribeiro, Dona Lúcia Cesar, Ideval Anselmo, Seu Carlão e Dona Magali dos Santos [págs. 78 e 79] Fotografias de Roger Cipó , 2023
Homenageados da Casa Verde Seu Manezinho 1934 Ageu Emanoel Gonzales, o Manezinho Mestre-Sala, é uma referência para o Carnaval de São Paulo. Chegou ao bairro da Casa Verde em 1947 aos 13 anos de idade. Filho de pais cariocas da cidade de Petrópolis, via os desfiles das escolas no Rio de Janeiro, mas não tinha nenhuma ligação direta com o Carnaval. Chegando à Casa Verde, foi morar na então Rua “E”, no 13, hoje Rua Santa Eudóxia, no Parque Peruche, que, segundo relatos de antigos moradores, era um lugar habitado em sua maioria por negros. Como Seu Dionísio morava em frente à casa de Manezinho, ele via as movimentações que aconteciam por ali e passou a se interessar pelo samba. Manezinho foi o primeiro mestre-sala do Carnaval paulistano desfilando na Unidos do Peruche e Camisa Verde e Branco, foi fundador da Escola de Samba Império da Casa Verde e, atualmente, integra o panteão dos baluartes da Embaixada do Samba Paulistano.
Seu Manezinho e Sophia Martins Fotografias de Roger Cipó , 2023
Sophia Martins 1999 Sophia Martins é uma jovem mulher trans de 24 anos, nascida e criada no território da Casa Verde. Ela começou a participar do Carnaval desfilando na ala das crianças coordenada pela Tia Vânia, na escola Unidos do Peruche. Seu primeiro contato com a Bateria Rolo Compressor foi tocando caixa e, algum tempo depois, chocalho. Em 2018, após a sua saída da Unidos do Peruche, Sophia recebeu alguns convites para participar da direção de bateria das Escolas de Samba Dragões da Real e Mocidade Unida da Mooca. É uma pessoa que ama o samba e sempre diz que não tem lugar melhor para estar. O Carnaval faz parte da sua trajetória de vida, e os muitos momentos e histórias que experienciou foram únicos e sempre farão parte da sua história.
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Dona Lúcia Cesar 1954
Seu Otacílio Ribeiro 1950
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Nascido no Parque Peruche em setembro de 1950, onde reside desde sempre, Otacílio faz parte da Escola de Samba Unidos do Peruche desde garoto. Lá desfilou em diferentes alas, foi diretor de esportes, diretor jurídico, presidente do conselho fiscal, presidente da escola e atualmente é vice-presidente da velha guarda. Otacílio é uma das lideranças mais ativas do território da Casa Verde e desempenha diversas funções no campo cultural e esportivo. É presidente da associação das velhas guardas de SP, presidente da associação dos clubes mantenedores do complexo esportivo do Campo de Marte, historiador do futebol de várzea, fundador e coordenador do maior festival de futebol feminino do mundo, realizado no complexo esportivo Cruz da Esperança, no bairro da Casa Verde. Está na presidência da associação do bairro do Parque Peruche.
Lúcia de Campos Cesar, a Dona Lúcia, é uma das lideranças mais representativas do Parque Peruche, no bairro da Casa Verde. Muito atuante nas frentes sociais e culturais do território, foi uma importante articuladora no movimento social de moradia e, como sambista, participou diretamente do processo de organização e fundação da Escola de Samba Império de Casa Verde. Antes de integrar a Império, participou de escolas, como a Camisa Verde e Branco e Unidos do Peruche. É diretora do bloco carnavalesco Raízes de Casa Verde, atua na coordenação do bloco carnavalesco Nove de Julho, também no bairro da Casa Verde, e foi passista do Grupo Novos Crioulos. Dona Lúcia está ativa na Império de Casa Verde ocupando a função de diretora cultural desde 1994. Já tendo passado por diferentes funções, de coordenadora de eventos a coordenadora de passistas, secretária, departamento social, atualmente é uma das componentes da velha guarda da escola.
Ideval Anselmo 1940 Nascido na cidade de Catanduva, interior do estado de São Paulo, Ideval Anselmo iniciou sua trajetória no mundo do samba em 1969, quando desfilou pela Camisa Verde e Branco com o enredo “Biografia do Samba - O Samba Através dos Tempos”. Em 1972, teve a oportunidade de compor seu primeiro samba-enredo, também na Camisa Verde e Branco, emplacando a letra de “Literatura de Cordel”. Desde então, suas composições ganharam os desfiles do Grupo Especial e encantaram as passarelas da cidade paulistana. Ao lado de parceiros, como Zelão, Miro, Jordão, Carlinhos, Soró e outros, criou alguns dos clássicos que marcaram a história do Carnaval e do samba de São Paulo, como “Narainã”, “A Lua” e “Cabaré”. Foi um dos sambistas escolhidos para participar do Projeto Memória do Samba Paulista. Consagrado, em novembro de 2005, o maior campeão de sambas-enredo de São Paulo, foi convidado a integrar a galeria de Embaixadores do Samba Paulistano.
Seu Carlão 1930 Carlos Alberto Caetano, Seu Carlão do Peruche, foi um dos ritmistas da Escola de Samba Lavapés, fundada em 1937 por Madrinha Eunice, Zé da Caixa e Chico Pinga. Em 1949, foi convidado por sambistas que tentavam organizar uma escola de samba no bairro da Casa Verde, onde já havia um grupo chamado “Bico Doce”. Antes deste grupo, havia a Escola de Samba Ritmos do Morro, fundada em 1939 por sambistas da região da Casa Verde e que tinha como um dos principais pontos de reunião o Sítio do Caqui. Seu Carlão foi um dos fundadores da Escola de Samba Unidos do Peruche e um dos cinco Cardeais do Samba de São Paulo ao lado de Seu Nenê da Vila Matilde, Pé Rachado, Madrinha Eunice e Inocêncio Tobias. Seu Carlão é o nosso baluarte mais importante sendo o Embaixador Mestre da Embaixada do Samba Paulistano.
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Dona Magali dos Santos 1948
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Dona Magali é a matriarca da família Tobias. Foi presidenta da Escola de Samba Camisa Verde e Branco que, desde sua fundação, em 1953, pelo Cardeal do Samba, Seu Inocêncio Tobias, sempre foi uma escola familiar. Com a morte de Seu Inocêncio, o filho Carlos Alberto Tobias assumiu o comando. Sua mãe Dona Sinhá e Magali passaram a ajudá-lo na direção da escola. Anos depois, morreu Dona Sinhá, considerada uma das matriarcas do samba paulistano. Em 1990, Carlos Alberto Tobias fez sua passagem para o Orum, e Dona Magali dos Santos assumiu a presidência logo conquistando o primeiro campeonato em seu ano inaugural à frente da escola. Foi uma das primeiras mulheres a ocupar a presidência de uma escola de samba. Fez história, se impôs, abrindo o caminho para as mulheres na condução do samba paulistano. Em 1993, voltou a ser campeã. Anos mais tarde, se afastou da diretoria, mas não do Carnaval. Foi consagrada Embaixadora do Samba e, mais tarde, Cidadã Samba do Carnaval paulistano.
Dona Guga 1945 Laurinete Nazaré da Silva Campos, Dona Guga, é carinhosamente considerada a eterna presidenta da Escola de Samba Morro da Casa Verde. Guga é filha de Seu Zezinho do Banjo, fundador da Escola Morro da Casa Verde e integrante da Escola de Samba Camisa Verde e Branco, na qual também fez história. Ela construiu uma trajetória de muita luta, dedicação e afeto pelo samba e pela comunidade Morro da Casa Verde. Sempre diz ser muito grata e orgulhosa por herdar toda a história e o legado cultural construído por seu pai e por todas as pessoas que ajudaram na formação da escola. Dona Guga é considerada uma das importantes matriarcas do Carnaval paulistano, pois faz parte de uma geração em que poucas mulheres protagonizaram à frente de uma escola de samba.
Mãe Wanda de Oxum Odette Carvalho 1939 A professora Odette Carvalho é uma das matriarcas mais ativas do território da Casa Verde e referência do samba e do Carnaval da cidade de São Paulo. Pedagoga de 84 anos, é uma das lideranças que movimentam a cultura e a educação no Parque Peruche, além de ser uma das responsáveis pela fundação da Escola de Samba Império de Casa Verde. Foi coordenadora de alas das baianas de algumas escolas, como a Unidos do Peruche e Império de Casa Verde. Sua trajetória no Carnaval começou como jurada nos desfiles na Avenida São João. Como uma das fundadoras da Império de Casa Verde, atuou em todos os setores da escola e foi de vice-presidente a coordenadora da ala das baianas e das crianças, o que deu à Dona Odette o título de Cidadã Samba do Carnaval 2022. É a idealizadora do Instituto Evaristo de Carvalho, lançado em 2015, que defende a escola de samba como uma importante fonte de cultura e base para o desenvolvimento social da cidade e do território da Casa Verde.
1947 Iya Wanda D’Oxum, Iyalorixá do Ilè Iya Mi Osun Muiwá, é fundadora, presidente e intérprete do Afoxé Ilê Omo Dada, também conhecido como Filhos da Coroa de Dada, com sede no bairro da Casa Verde. Desde sua fundação, nos anos 80, o Afoxé Ilê Omo Dada é responsável por abrir os desfiles oficiais das escolas de samba do Carnaval de São Paulo. Iya Wanda foi iniciada no candomblé em 1964 e, em 2002, com o falecimento de sua mãe carnal, foi sentada como Iyalorixá doterreiro Ilê Iya Mi Osun Miuá, no Parque Peruche, berço de tradições afro-brasileiras em São Paulo. Ela é designer de roupas de candomblé e africanas e criou a primeira marca especializada nesse tipo de peças, a Fetiche Afro Designer, instalada na Galeria do Rock nos anos 90. Iya Wanda ainda comanda o Omo Dada, o afoxé mais antigo do Carnaval de São Paulo.
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Ancestrais da Casa Verde Dona Lucinda Dionísio Barbosa 1891-1977
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Fundador do primeiro grupo carnavalesco da comunidade preta de São Paulo. Em 1914, ao lado do seu irmão Luiz Barbosa, Dionísio fundou o Grupo Barra Funda, no bairro que leva o nome do cordão carnavalesco e onde ele viveu durante algumas décadas. Uns anos depois da fundação do grupo, Dionísio se mudou com sua família para o bairro da Casa Verde onde boa parte das famílias pretas foram alocadas após o processo de modernização do centro expandido da cidade de São Paulo. Dionísio Barbosa é considerado o pioneiro do samba e do Carnaval de São Paulo.
Dona Lucinda
Acervo Flávia Companhoni Medina
Zeca da Casa Verde Acervo pessoal
Seu Juarez da Cruz
Acervo Instituto Samba Autêntico
Hélio Bagunça Acervo pessoal
Adhemar Ferreira Agência O Globo
Dona Neide André Acervo pessoal
[págs. 86 e 87]
1938-2020 Tradição e resistência são os pilares que sustentam décadas de trabalho realizado por Dona Lucinda. A Irmandade de São Benedito da Casa Verde, uma das mais longínquas de São Paulo, que realiza diversas ações sociais e culturais na Rua Galileia, entre elas a festa de São Benedito no Parque Peruche, subdistrito do bairro da Casa Verde. Durante todo o dia, Dona Lucinda recepcionava, com alegria afetuosa, todos os que por ali passavam, fosse para rezar para o santo ou ajudar de alguma maneira e até mesmo para participar das atividades que aquilombavam o público e a comunidade da região. A irmandade de São Benedito ainda mantém as tradições sociais e religiosas a fim de difundi-las para as gerações futuras. A festa sempre acontece no segundo domingo do ano e reúne cerca de mil pessoas.
Zeca da Casa Verde 1927-1994 José Francisco da Silva, o Zeca da Casa Verde, como era respeitosamente chamado por todos, era um sambista completo! Ele nasceu na cidade de Mococa, interior de Minas Gerais, e mudou-se cedo com os pais para a cidade de São Paulo. Sua família, liderada por seu pai Zeca Maquininha, era afeiçoada às festas de São Benedito e fazia parte de um terno de congo, ou grupo de congada, na cidade natal. O então garoto Zequinha, que trabalhava na colheita de café, aprendeu as maravilhas do cotidiano cultural passadas de geração para geração. Já adulto, participou da ala de compositores da Escola de Samba Morro da Casa Verde. Alguns anos depois, foi para a Escola de Samba Rosas de Ouro onde colecionou diversos títulos como um dos mais importantes compositores da escola e do Carnaval paulistano.
Seu Juarez da Cruz 1931-2009 Em 1950, um grupo de homens fantasiados de mulher saía pelas ruas da região central de São Paulo. Juarez Cruz, seus irmãos Salvador Cruz e Carlos Cruz, e mais dois amigos, criadores do grupo carnavalesco, originalmente da cidade de Campos dos Goytacazes - Rio de Janeiro, viviam no bairro do Bom Retiro, mudandose posteriormente para o território da Casa Verde. Em 1958, batizaram o grupo de “Bloco das Primeiras Mariposas Recuperadas do Bom Retiro”. Seus integrantes saíam fantasiados de palhaços pela Avenida São João e, uma vez, ao passarem em frente a um palanque reservado à imprensa, o locutor da Rádio América, Evaristo de Carvalho, disse, referindo-se ao grupo: “É um bloco muito alegre, um bloco de sujos, como existem muitos no Rio de Janeiro...”. A partir dali, surgia a Escola de Samba Mocidade Alegre que ficou sediada por décadas na Avenida Casa Verde.
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Hélio Bagunça 1937-2007
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Hélio Romão de Paula, o Hélio Bagunça, é um dos principais baluartes do samba paulistano. A irreverência e o sorriso espontâneo eram as suas marcas registradas. Sua desenvoltura com o samba no pé, aliada à “malandragem”, foi fundamental para conquistar respeito nas principais rodas de Tiririca (pernada ou capoeira paulista) existentes na cidade entre 1960 e 1970. Hélio Bagunça foi diretor da Escola de Samba Camisa Verde e Branco, idealizador da primeira comissão de frente coreografada do Carnaval de São Paulo, fundador da Escola de Samba Tom Maior e idealizador da Embaixada do Samba Paulistano.
Adhemar Ferreira da Silva 1927-2001 Morador do bairro da Casa Verde e uma das principais referências esportivas do país, Adhemar foi um homem além do seu tempo. Dedicado aos estudos e ao esporte, foi o primeiro bicampeão olímpico do nosso país, primeiro atleta sul-americano bicampeão olímpico em eventos individuais, cinco vezes recordista mundial do salto triplo e primeiro atleta a quebrar a barreira dos 16 metros no salto triplo. Conquistou medalha de ouro nas Olimpíadas de Helsinque, em 1952. Foi também tricampeão nos Jogos PanAmericanos em Buenos Aires, em 1951, e Cidade do México, em 1955, superando pela segunda vez o recorde mundial em Chicago, em 1959.
Evaristo Carvalho Dona Neide André 1943-2014 Dona Neide André nos deixa uma imensa saudade. Integrou durante duas décadas a ala das baianas da Escola de Samba Unidos do Peruche, até que em face de divergências políticas com a direção, um grupo de componentes saiu para fundar a Escola de Samba Império de Casa Verde. A partir daí, foi convidada a integrar a ala das baianas na recém-fundada escola e seguiu desfilando pela Império. Fez parte do Grupo das Tias Baianas Paulistas, idealizado pelo saudoso Valtinho das Baianas, que se apresentava em shows e eventos culturais. Foi uma das matriarcas do carnaval paulistano e, por toda dedicação e contribuição, foi convidada a integrar a Academia dos Baluartes do Samba Paulista.
1932-2014 O sambista, jornalista e radialista Evaristo Carvalho foi um importante articulador do Carnaval paulistano. Morador antigo do bairro da Casa Verde e ligado à Escola de Samba Camisa Verde e Branco, ele também foi um vigoroso militante do movimento social negro. Participou ativamente do Radioteatro dos Negros, programa transmitido pela antiga Rádio São Paulo, na década de 50, e foi um dos fundadores e diretores do Congresso Nacional Afro-Brasileiro, na década de 90. Comandou, durante 35 anos, o programa radiofônico “Rede Nacional do Samba”, dando espaço a nomes consagrados do samba, mas também aos novos talentos. Apresentou o programa “O Samba se Aprende na Escola”, na TV Cultura, nos anos 70. Foi um dos fundadores da Federação das Escolas de Samba e Cordões Carnavalescos de São Paulo, tendo atuação decisiva na criação da União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP).
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Mestre Dadinho 1943-2021
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Morador do território da Casa Verde, Eduardo Joaquim, o mestre Dadinho, tem sua história escrita na Escola de Samba Camisa Verde e Branco. Conheceu o Carnaval de São Paulo por influência de seus pais que o levavam para assistir aos desfiles. Integrando-se a esta escola, principiou a tocar surdo. Ao longo dos anos, passou por vários instrumentos, finalizando como ritmista, tocando tamborim. Ele dizia que, naquela época, um ritmista da escola não saía em outras baterias, cada qual respeitava as tradições e relações culturais de sua agremiação. Passou a atuar na Velha Guarda da Camisa Verde e Branco na década de 1980, tornandose uma das principais referências entre os integrantes da Academia dos Baluartes do Samba Paulista. Em 2014, assumiu a vicepresidência da escola e deixou um legado cultural significativo para a comunidade da Barra Funda.
Evaristo Carvalho Acervo pessoal
Mestre Dadinho Acervo Fabio Takeshi Ishio
Seu Chiclé
Acervo pessoal
Seu Chiclé 1931-2007 José Jambo Filho, o Seu Chiclé, é considerado um dos mais importantes sambistas paulistanos. Ex-presidente da Escola de Samba Vai-Vai, na metade dos anos 60 introduziu o repinique na bateria, instrumento que tocava com grande maestria. Morador da Casa Verde e dono de uma charmosa e tradicional floricultura no bairro, era figura presente na vida cotidiana do nosso território. Na Vai-Vai da Bela Vista, foi sucessor de Sebastião do Amaral, o Pé Rachado, na diretoria da escola, sendo o segundo presidente da Vai-Vai desde que a agremiação deixou de ser cordão para se tornar escola de samba, em 1971. Seu Chiclé permaneceu no cargo por 20 anos e, durante sua gestão, a escola foi campeã por seis vezes, sendo três delas consecutivas (1986/87/88).
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Bloco da Latinha
Madre de Deus, Bahia Grupo carnavalesco, formado por homens, que sai na Comunidade de Madre de Deus, região do Recôncavo do estado da Bahia, com fantasias altamente criativas, feitas de latas de bebidas. Teve início entre os pescadores, de maneira improvisada, aparecendo primeiro como um bloco de catadores que recolhiam as latas deixadas na rua e, ao final do Carnaval, doavam o produto da coleta ao Hospital do Câncer de Salvador. A característica do bloco é que as fantasias são feitas de latinhas de bebidas já consumidas, que seriam descartadas, o que torna a produção dos trajes sustentável. O bloco causa grande impacto visual, e cada vestimenta chega a utilizar cerca de 1.000 unidades, cuja feitura implica num processo fortemente colaborativo. O bloco sai nos dias de Carnaval em Madre de Deus e em outras regiões de Salvador Museu do Pontal
Cenas do filme Bloco da Latinha de Louyse Gerardo
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AÇÃO E D UCATIVA
Pra pisar nesse chão devagarinho
Paola Ribeiro Coordenadora do Educativo
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Muitos aprendizados vêm através do escutar a voz de alguém, do jeito de fazer do corpo desse alguém encontrando nossa voz e nosso corpo, que continua o legado do aprender e do ensinar. Aprende-se de muitas formas, o ensino nem sempre vem embebido de uma metodologia formal. Como aprendemos aprender? Escutei de Dona Guga, a matriarca da Escola de Samba Morro da Casa Verde, que ela aprendeu com seu pai a amar seu pavilhão. Americano narrou o amor pelo samba herdado de seu pai, o grande sambista Hélio Bagunça. Mãe Wanda D’Oxum aprendeu o amor pela religião e pela sua casa com sua mãe. “Pisar no chão devagarinho” na Casa Verde, era isso, visitar os mais velhos e buscar o conhecimento que os/as ancestrais deixaram com os/as mais próximos/as. Sinto que parte das coisas que aprendemos e que se tornam indeléveis vem dessas escutas, dos encontros e atravessamentos. Muito se fala sobre metodologia de aprendizagem, mas me parece que a mais eficiente delas segue sendo o encontro.
Visitas mediadas, oficinas, contação de histórias, são algumas das muitas estratégias de encontro propostas em espaços de educação não formal de ensino, arte e/ou cultura. Tais metodologias se desdobram da pedagogia, mas também das práticas artísticas, de mestres/as, e mais velhos/as que não passaram, muitas vezes, por escolas formais e que aprenderam com seus/suas ancestrais a narrar, como se mover e em que momento deveriam falar ou silenciar. Em Festas, Sambas e Outros Carnavais buscamos formar um corpo educativo diverso em referências de ensino buscando valorizar o encontro em suas mais variadas formas para que exista uma permeabilidade à escuta do público e reconhecendo eles, o público, como fonte de aprendizado. O desafio de cotidianamente articular ensinamentos, saberes e encontros me faz pensar nesse educativo como uma carta aberta ao desejo de acontecimentos, da escuta e presença, e também como promessa de ação no lançamento de sementes de curiosidades e recolhimento de outras sementes, numa via de mão tripla entre a exposição, o educativo e o público.
Zequinha
(José de Souza) Acervo Museu do Pontal
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Sesc – Serviço Social do Comércio ADMINISTRAÇÃO REGIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL
Abram Szajman DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL
Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDENTES TÉCNICO-SOCIAL
Rosana Paulo da Cunha COMUNICAÇÃO SOCIAL
Aurea Leszczynski Vieira Gonçalves ADMINISTRAÇÃO
Jackson Andrade de Matos ASSESSORIA TÉCNICA E DE PLANEJAMENTO
Marta Raquel Colabone CONSULTORIA TÉCNICA
Luiz Deoclécio Massaro Galina GERENTES ARTES VISUAIS E TECNOLOGIA Juliana Braga de Mattos AÇÃO CULTURAL Érika Mourão Trindade Dutra
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EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE E CIDADANIA Denise Baena ESTUDOS E PROGRAMAS SOCIAIS Flávia Carvalho ESTUDOS E DESENVOLVIMENTO João Paulo Guadanucci ARTES GRÁFICAS Rogerio Ianelli DIFUSÃO E PROMOÇÃO Ligia Moreira Morelli CENTRO DE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL Wagner Palazzi Perez SESC DIGITAL Fernando Tuacek SESC CASA VERDE Mário Fernandes
Festas, Sambas e Outros Carnavais CURADORIA E IDEALIZAÇÃO
Angela Mascelani e Lucas Van de Beuque _ Museu do Pontal CURADOR CONVIDADO Tadeu Kaçula EQUIPE SESC Ana Paula Santos Barros Bassi, Adriano Alves Pinto, Aline Moreira, André Coelho Queiroz, André Dias, Bruna Hitos, Bruno Cavicchioli, Carolina Barmell, Carlos Alexandre Biiser Lopes, Cesar Albornoz, Christi Lafalce, Daniela Pereira Souza da Silva, Érica de Lima Sciarini, Fabiana Della Coletta, Fabiano Maranhão, Fábio Caruzo de Souza, Fábio Galbes Ramhold, Fábio Vasconcelos, Fabíola Tavares Milan, Fernando Viana, Juliana Okuda Campaneli, Jusileia Rocha De Oliveira, José Osvaldo Ferreira Martins, Karina Camargo Leal, Kelly Teixeira, Lígia Zamaro, Mayara Ramirez Silva, Marcus Vinicius Rocha, Mariana Lins, Marina Borges Barroso, Michel Enrique dos Santos, Natália Freitas, Raphael Chaves Mariani, Regina Gambini, Renata Figueiró, Renato De Barros Alves, Rodger dos Santos, Rodrigo Pedro Gomes da Silva, Rodrigo Souza, Rogerio Keiichi Uehara, Silvia Hirao, Silvio Basílio, Silvio Goncalves Silva Filho, Suellen Barbosa, Tommy Ferrari Della Pietra, Valéria Boa Sorte, Vinicius Lidio, Tamy de Souza Ferigatto, Tina Cassie DIREÇÃO DE ARTE Angela Mascelani, Roberta Barros
e Lucas Van de Beuque PROJETO EXPOGRÁFICO E DESIGN GRÁFICO Roberta Barros PROJETO ARQUITETÔNICO Bao Estudio - Tatiana Durigan e
Raphael Secchin, Camila Papin (Montagem), Nicolie Duarte (Assistente) PROJETO DE LUMINOTÉCNICO E PROJETO MULTIMIDIA Boca do Trombone - Felipe Messina e Julio Lobato ENGENHEIRO RESPONSÁVEL Jarreta Projetos - Murilo Jarreta PRODUÇÃO Automatica - Luiza Mello, Mariana Mello, Diogo Fernandes (Produção local) CENOGRAFIA Eprom - Jaime Martins Secall, José Carlos Martins Secall, Antonio Balbi (Arquiteto executivo), Givanildo Ferreira Ramos (Encarregado executivo) COORDENAÇÃO DE CONTEÚDO
Fabiana Comparato MUSEOLOGIA Marcella Bacha, Sergio dos Santos, Vanessa Freire, Mariana Gomes e Alan Pinheiro FOTOGRAFIAS Lucas Van de Beuque e Cafi FOTOGRAFIAS DAS OBRAS DE JOÃO CÂNDIDO Ricardo Ferreira/Sesc São Paulo EQUIPE ROGER CIPÓ Luana Lima (Produção de moda) e Richard Jefferson (Assistente de produção e de direção) DESIGN DO CADERNO EDUCATIVO João Rosa VÍDEOS E FILMES Museu do Pontal ACERVO Museu do Pontal EQUIPE MUSEU DO PONTAL Rubia Mazzini (Comunicação) , Sabrina Veloso (Produção), Rafael Soares (Administrativo), Cecilia Einsfield (Educativo), Tatiana Richard (Institucional)
ACERVOS CONVIDADOS Coleção Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro – CRAB, Acervo do artista João Cândido, Coleção Edmar Pinto Costa, Coleção Analu Cunha, Coleção Sabrina Veloso, Acervo Instituto Moreira Salles/ Walter Firmo, Acervo do artista Ratão Diniz, Acervo USP Imagens/Saulo Marino, Acervo Sônia Santos da Silva, Acervo Ricardo Oliveira de Paula, Acervo Flavia Companhoni Medina, Acervo Agência O Globo, Acervo Odette Carvalho, Acervo Fábio Takeshi Ishio, Acervo Valquiria de Louders André, Acervo Isabel Cristina Jambo, Acervo Instituto Samba Autêntico e Acervo Conteúdo Globo TRATAMENTO E IMPRESSÃO DE IMAGENS Lupa Studio TEXTOS Adriana Schneider, Ana Luzia da Silva Morais, Angela Mascelani, Carolina Martins, Clarisse Q Kubrusly, Danilo Santos de Miranda, Emilio Domingos, Flora Moana Van de Beuque, Janaina Damasceno, Jonas Lana, Juliana Manhães, Jussara Adriano de Souza, Leticia Oliveira, Lucas Van de Beuque, Manuel Carlos de França, Marluce Magno, Martha Abreu, Maurício Soares, Monara Barreto, Pedrina de Lourdes Santos, Renata de Castro Menezes, Sabrina Veloso, Tadeu Kaçula, Vinicius Natal e Viny Rodrigues REVISÃO DE TEXTOS Marcia Esmi COORDENAÇÃO EDITORIAL Roberta Gomes AÇÃO EDUCATIVA COORDENAÇÃO EDUCATIVO Paola Ribeiro PRODUÇÃO
Dione Silva EQUIPE Cleyton Mendes, Erika Oliveira Francelino, Helena Araújo, Inaiara Gonçalves de Paula, Leonardo Birche, Maira Nunes, Mariana Lopes Pio Papa e Vinicius Nonato CONSULTORIA DE ACESSIBILIDADE Moa Simplício
ARTISTAS Abel Teixeira, Adalton Fernandes Lopes,
Adriano Jordão de Souza, Amaro Rodrigues, Anastácia Oliveira, Antônio de Oliveira, Armando Santos Xavier, Batata da Latinha, Benedito da Silva, Capitão Pereira (Antônio Pereira), Celestino (José Celestino da Silva), Ciça (Cícera Fonseca da Silva), Ciça do Barro Cru, Clóvis Matias de Moura, Cristiano Salustiano Soares, Delma (Maria Delma de Melo), Ednaldo, Elias F. Santos, Ernestina, Euzimar Meireles, Genésio de Melo, Heleno Manuel, João Alves, João Câncio, João Candido, Joel, José Antônio Barros, José de Jesus Figueiredo, José R., Juan Pablo dos Santos Araújo, Laurindo, Leonildo, Louco (Boaventura da Silva Filho), Leandro Guimarães de Oliveira, Luíz Antônio, Lunildes de Oliveira, M.C.M., Manoel M J S, Manuel Eudócio, Manuel Vitalino, Maria Cândido Monteiro, Maria Cristina de Andrade, Maria de Beni, Maria de Lourdes Cândido, Marliete Rodrigues, Mestre Vitalino (Vitalino Pereira dos Santos), Nino (João Cosmo Félix), Nhô Caboclo (Manoel Fontoura), Nhozim (Antônio Bruno Pinto Nogueira), Noemisa Batista dos Santos, OG Sales, Padeiro Oliveira (Sebastião de Oliveira), Porfírio Faustino, Raimundo Ferreira Lima, Raimundo Nonato, Ratão Diniz, Roger Cipó, Severino Vitalino, Sil da Capela (Maria Luciene da Silva Silqueira), Socorro Rodrigues, Tamba (Cândido Santos Xavier), Vicente Paulo da Silva, Victor Guerreiro, Walter Firmo, Zé Caboclo, Zé do Carmo, Zé Rodrigues, Zequinha (Jose de Souza) e Zezé de Juazeiro
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F426 Festas, sambas e outros carnavais / Serviço Social do Comércio; Curadores e idealizadores: Angela Mascelani e Lucas Van de Beuque; Curador convidado: Tadeu Kaçula. – São Paulo: Sesc São Paulo, 2023. – 100 p. il.: fotografias. Em celebração ao início das atividades do Sesc Casa Verde, de 27 de out. 2023 a 18 fev. 2024. ISBN: 978-65-89239-42-0 1. Sesc Casa Verde. 2. Inauguração. 3. Manifestações artísticas. 4. Exposição. 5. Catálogo. I. Título. II. Serviço Social do Comércio. III. Museu do Pontal. IV. Mascelani, Angela. Mascelani. V. Beuque, Lucas Van de.