CENTRO DE PESQUISA TEATRAL DO SESC APRESENTA
DE JORGE ANDRADE COM
LAURA CARDOSO, LUIS MELO E GRUPO DE TEATRO MACUNAíMA
CENÁRIOS E FIGURINOS
J. C. SERRONI
(iDSESC SERViÇO SOCIAL DO COMÉRCIO ADMINISTRAÇÃO
REGIONAL
NO ESTADO DE SÃO PAULO
DIREÇÃO
ANTUNES FILHO
o
conceito de modernidade
aplicado à
atuação da empresa significa hoje, mais do que nunca, o reconhecimento
de que a atividade eco-
nômica se reveste de uma função social intransferível e capaz de manter viva a própria possibilidade da livre iniciativa: o fortalecimento
do tecido
social de modo a permitir e sustentar o desenvolvimento. A primeira função social do empresano
é
manter sua empresa produtiva e saudável, para que possa gerar empregos e recolher impostos a serem utilizados em benefício das coletividades. Concomitantemente a esse primeiro requisito, um segundo grupo de problemas se impõe e deve preocupar o empresário, na medida de suas possibilidades e competências: fortalecer o meio ambiente de seus negócios, através de ações que aumentem a saúde, o nível de instrução, o acesso à cultura, a coesão social e a cidadania. Muitos empresários
exercem essa função
social através do SESC e de sua atuação
CULTURA, EMPRESA E
desenvolvimento
sócio-cultural
res. É uma maneira altamente
no
dos trabalhadocompetente
de
contribuir para a elevação do nível educacional da população de modo continuado, num país em que parte da população não tem acesso à escola, parte
MODERNIDADE
tem-no por muito pouco tempo e parte se submete por mais tempo a um ensino de baixa qualidade. Essa educação de caráter social e comunitário se realiza através de todas as atividades
físicas e
esportivas, das atividades artísticas em todos os campos, das atividades intelectuais e daquelas que desenvolvem o associativismo. Neste contexto, o CPT - Centro de Pesquisa Teatral do SESC - tem um papel de destaque, porque se constitui num órgão de pesquisa e de produção
de novas peças e de oferta de bons
espetáculos a preços acessíveis. No cumprimento desse duplo papel, o CPT já realizou vários espetáculos, todos de grande sucesso, seja pela inovação, seja pela presença
de público, seja pela
repercussão junto à imprensa e até pelo sucesso internacional. E apresenta agora Vereda da Salvação, um trabalho capaz de educar nosso senso crítico no sentido de rejeitar todo tipo de dominação e fanatismo que são criados pela ignorância e pela vida em condições miseráveis. ABRAM SZAJMAN Presidente do Conselho Regional do SESC
PARAÍSO ZONA NORTE
NOVA VELHA ESTÓRIA
TRONO DE SANGUE
A POLíTICA CULTURAL DO SESC E O CPT
NELSON 2 RODRIGUES
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Desde que realizou suas primeiras incursões neste campo, o SESC de São Paulo optou por uma política cultural muito definida e consistente com relação ao teatro. Constituem-se marcos importantes dessa política, dentre outros a decisão de construir espaços de apresentações em todos os centros de atividades, a valorização dos grupos experimentais de teatro e o incentivo à formação de platéias. O Centro de Pesquisa Teatral do SESC, o CPT, representa o ponto alto desse conjunto de ações articuladas e complementares. Com um trabalho continuado ao longo dos últimos dez anos, esse núcleo de pesquisa e produção cênica constitui uma decisiva e corajosa interferência institucional no campo da cultura, onde habitualmente todos os investimentos são altos e todos os resultados sempre parecem acanhados. A nosso ver, o CPT é uma exceção que confirma a regra. Ele pode ser caracterizado como um centro de produção cultural em teatro. Coordenado pelo diretor Antunes Filho, cujo método de trabalho é conhecido tanto pelo seu rigor técnico quanto pelos pressupostos humanísticos, o CPT é um centro que pesquisa novos textos, novas linguagens, novas montagens, inquirindo, desvelando, reinventando, ajudando sem dúvida a definir o rumo e as tendências da dramaturgia brasileira. Ao mesmo tempo, volta-se ao desenvolvimento de profissionais para a área - atores, diretores e assistentes, mantendo um núcleo de formação que desenvolve projetos e oficinas em caráter permanente, ocupando-se ainda da capa citação de outros profissionais do teatro a partir do trabalho realizado pelos núcleos de cenografia e iluminação, ajudando a formar quadros para um mercado tão fragilizado e desprovido de recursos humanos especializados. Além dessas funções relevantes, o Centro de Pesquisa Teatral do SESC cumpre uma outra, a de produzir e difundir um teatro de bom nível, na perspectiva de democratizar o acesso do grande público a espetáculos de qualidade. Esse ciclo que vai da pesquisa à formação de atores e profissionais, e que depois se completa com a produção do espetáculo e a sua encenação, traduz uma política cultural muito clara e objetiva - a de fazer avançar o teatro brasileiro em bases mais sólidas, tanto do ponto de vista de sua infraestrutura técnica e das referências culturais com que organiza seu percurso, quanto da sua destinação social. A partir dessa perspectiva de criar com qualidade e democratizar o acesso a um campo da cultura ainda elitizado, o CPT já realizou onze montagens, sendo que algumas têm se destacado
pela inovação na linguagem, outras pelo resgate de autores nacionais, outras ainda pelo sucesso de público e de crítica. Em 1984, por exemplo, o CPT realizou o primeiro teatro de repertório do Brasil, com as peças Macunaíma, Nelson 2 Rodrtgues e Romeu e .Julieta, apresentadas durante todo o ano, uma peça a cada semana. Em 1986, A Hora e vez de Augusto Matraga, depois de temporada no Brasil, permaneceu quatro meses em excursão pela Europa. Xica da Silva, em 1988, reiterou a preocupação do CPT em discutir a realidade brasileira. Paraíso Zona Norte, em 1989 traz de novo ao público o universo rodrígueano, despertando grande interesse também nas platéias da Inglaterra e Alemanha. A Nova Velha Estória, em 1991, surge como um momento de grande ousadia e inventividade, promovendo a desestruturação radical da linguagem. Em 1992, Trono de Sangue volta a um clássico em busca de uma reflexão sobre os problemas fundamentais da alma humana. Com outros diretores foram montados, Os Velhos Marinheiros, Os Anjos e Rosa de Cabriúna. Agora o CPT apresenta Vereda da Salvação, com direção de Antunes Filho, baseada em acontecimentos que tiveram lugar no sertão mineiro, onde os fanáticos de uma seita religiosa milenarista promovem a matança de crianças. Fiel a seus pressupostos de fundação, o CPT desvenda universais da alma humana em aspectos da realidade brasileira, denunciando a intolerância como capacidade intrínseca do ser humano, seja ela de origem religiosa, étnica, ética, econõmica e social. Longe do pactualismo, ou do folclorismo, caracterizado pela reprodução pura e simples da realidade concreta, a montagem se utiliza dos fatos para questionar atitudes mentais presentes em todas as culturas, alertando para capacidades humanas que só concretamente podem se transformar em escolhas de Bem ou Mal. Com sua nova montagem, o CPT acentua seu trabalho de formação de atores e outros profissionais da área sem usar caráter acadêmico, promove debates sobre importantes aspectos da realidade, põe a público novos textos dramáticos e uma nova cenografia, irradia tendências, mostrando que a política cultural do SESC neste campo é inovadora e correta, porque abre novas perspectivas para uma área da cultura em que a qualidade, quando existe, está quase sempre à disposição de poucos.
DANILO SANTOS DE MIRANDA Diretor do SESC no Estado de São Paulo
A obra de Jorge
Andrade refaz, no teatro, um
caminho percorrido em parte pelo romance brasileiro de nosso tempo, na medida em que se volta para a decadência
dos valores patriarcais,
que
assinala a formação do Brasil atual. Decadência tornada patente com a crise desfechada na revolução de 1930, e que Jorge Andrade analisa em obras como A Moratória, expondo a perplexidade que se instalou na consciência das classes dominantes, quando elas viram a derrocada de um estado-decoisas que lhes parecia eterno.( ...) Vereda da Salvação representa
uma variação
de ângulo dentro do universo ficcional do autor. Agora, o mundo agrário é visto através dos dominados, não dos dominadores.
Não se trata de
decadência, nem de contraste entre um tempo de
VEREDA
glória e um tempo de provação: mas de um mundo sem tempo, onde o passado foi apenas estádio anterior da mesma miséria. Com isto, Jorge Andra-
DA SALVAÇÃO
de completa (ainda como o José Lins do Rêgo de Moleque Ricardo) o panorama do mundo em que se formou, e no qual, através do esforço da arte, foi
ANTONIO ÚNDIDO
ganhando sentimento cada vez mais imperioso de uma realidade integral.
Do livro "Marta, a Árvore e o Relógio" Ed. Perspectiva (Fragmentos)
Vereda da Salvação é uma peça opressiva e angustiosa.
Os seus dados elementares
(e até o
nome de alguns personagens) provêm de uma das muitas tragédias de fanatismo, em que o camponês brasileiro, esmagado pela fome e a falta de horizonte,
explode periodicamente.
acontecimentos
ocorridos
No caso, os
há alguns
anos em
Malacacheta, no Nordeste de Minas Gerais. Todavia, Jorge Andrade elaborou, a partir da sugestão básica dos fatos, uma obra que deles se afasta essencialmente
como enredo e como signi-
ficado, o que foi possível graças ao forte cunho simbólico impresso ao material. A intriga é simples e densa. A peça flui do crepúsculo de um dia ao amanhecer do dia seguinte, num pequeno grupo de agregados, adeptos de uma seita em que traços adventistas se misturam a resquícios de catolicismo. Os figurantes
estão
nervosos, pois a ação começa na véspera de uma
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reunião anual com líderes vindos de fora, em que
"Vereda da Salvação é uma peça
todos devem purificar-se a fim de receber a graça de Deus. Para isto, é preciso confessar publica-
opressiva e angustiosa. Os seus
mente as culpas, perdoar e ser perdoado.
dados elementares
Desde logo se evidenciam dois pólos de com-
provêm de
uma das muitas tragédias
portamento, encarnados nas figuras principais da
de
fanatismo, em que o camponês
pequena comunidade: Joaquim, moço frágil, alheio ao esforço do trabalho seguido, intimidado ante as
brasileiro, esmagado pela fome
mulheres, com um nítido pendor místico; Manoel, homem de meia idade, três vezes viúvo, procriador
e a falta de horizonte, explode
destemido, empenhado na luta pela vida. De certo
periodicamente".
modo, é o pólo do ideal em face ao pólo do real, que aparecem
separados,
irredutíveis,
nesse mundo
estático, sem perspectivas de solução. A marcha da peça reflete esta tensão polar, e o dramaturgo, com rara habilidade, faz o leitor, ou espectador, oscilar também entre ambos. Ora parece que a verdade fala pelo bom senso e a sólida humanida-
de ser o delírio dum punhado
de de Manoel, pela sensualidade vital de Artuliana,
torna a sublimação de um longo sofrimento
de fanáticos e se no
pelo realismo de Ana. Ora, parece exprimir-se
mundo. Fechados pelo latifúndio, esmagados pela
melhor pela obsessão progressiva de Joaquim, que
miséria, privados dos elementos mínimos de reali-
vai contaminando
zação pessoal, desamparados
que a alternativa
o grupo. Há um momento em racional
de qualquer instru-
(digamos assim) se
mento que lhes permita afirmar-se no universo da
impõe, e nós hesitamos em ficar ao lado de Manoel,
propriedade e da espoliação - só resta aos agrega-
que foi subjugado, mas não vencido pelo fanatis-
dos a saída para o transcendente.
mo desaçaimado.
santifica, ninguém é mais santo do que eles. Dolor,
Todavia, nesse mundo oprimido a verdade não é tão clara, e a sua ambígua
dramaticidade
é
escorraçada
Se o sofrimento
de fazenda em fazenda, envelheci da
no labor sem fruto, mártir da maternidade, é bem
mostrada pela posição de Dolor, mãe de Joaquim,
uma Senhora
que percebe claramente as razões do bom senso,
renuncia ao amor, que pune para a redenção, que
isto é, de Manoel; que vê, horrorizada, a marcha da
é duro com os tíbios, e que aos poucos vai se
subversão mística; e que, no entanto, movida pelo
revestindo de uma bondade inevitável, carrega os
amor materno, pelo medo de destruir o filho com
pecados do mundo. É o padrão de toda a humani-
a verdade real dos fatos, penetra resolutamente,
dade privada e esmagada, é "o Cristo das roças",
por um ato de vontade,
na esfera da utopia
sonhando com um paraíso onde a terra é de todos
messiânica.
decisivo em que os
e o milho grana sem suor.
agregados
No momento vão trocando
a sua identidade
por
das Sete Dores. Seu filho, que
Nessa atmosfera de transe coletivo - que Jorge
outra, bíblica - e um se torna Jeremias, outro
Andrade
cria
com
os
mais
belos
Gabriel, outro Marta -, ela aceita a ficção: seu filho
expressionais,
é o Cristo, tornado para redimir os sofredores; ela
libertação - se anuncia a intervenção
é Maria, concebida sem pecado.
que vem restabelecer
A essa altura, que literariamente
é uma culmi-
nância, a ficção adquire significado diverso. Deixa
suscitando
recursos
um mundo ansioso de da polícia,
a ordem exterior, dos pa-
trões e das leis. É o momento de escolher entre a dureza do real e a liberdade fantástica do sonho.
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Então o velho líder do bom senso, que se ajusta
ticos de Joaquim para voar aos céus, percebemos
cumprindo as obrigações, contendo os poderosos,
um mito da liberdade, um símbolo de energia em
(a "possança",
busca de expansão, traduzido na forma acessível
que parece manifestar um estado
natural e eterno); então, o velho e sódido Manoel recusa a voz da razão e acredita na encarnação mística de Cristo em Joaquim. Ele "vê", bruscamente, que a única Vereda da Salvação é a que este aponta: fugir do mundo fechado e opressivo, negá-Io resolutammente
pela crença que transfi-
à mentalidade elementar daquela pobre gente. Ver ou expor uma situação ou um problema, no indivíduo ou no grupo, é apenas uma componente do processo literário; não a causa da sua eficácia. Vereda da Salvação nos atinge de maneira pode-
gura e dá realidade à ilusão. Com isso, resolve-se
rosa porque
no plano do transe coletivo a oposição dos dois
material humano em formas adequadas de expres-
pólos, e a energia inconformada de Artuliana nos
são, que asseguram o seu rendimento dramático e
parece não apenas irritante, mas quase vil. Estão
produzem o sentimento da realidade. O drama se
todos prontos para voar aos céus; os proprietários
desenvolve e se torna cruciante graças à firmeza
chegam com os soldados e o massacre começa,
da psicologia, à técnica das cenas, às gradações
enquanto o pano cai...
contrastes que dão sentido aos fatos expostos. É
Vereda da Salvação é importante para a nossa dramaturgia, entre outras coisas, pela capacidade que o seu autor demonstrou
de criar um grande
símbolo para um grande problema social. Partindo do tipo de reação corrente em nossa sociedade rural, - o messianismo,
- ele a interpretou
em
Jorge Andrade
soube transpor
o
e
preciso ressaltar, a este propósito, o estilo vibrante e simples, nutrido pelo profundo senso metafórico da fala rústica, sem qualquer distorção de caipirismo literário. Graças a esta capacidade artística e àquela intuição dos valores simbólicos, a mensa-
correlação estreita com o esmagamento econõmi-
gem social se desprende
co e a espoliação, dando-lhe vida por uma podero-
inscrevendo a peça entre as mais altas produções
sa caracterização dramática. Sob os esforços paté-
da nossa literatura contemporânea.
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sem esquematização,
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Para
chegar à forma definitiva de Vereda da
Salvação,
encenada
pelo Teatro
Brasileiro
de
Comédia em 1964, Jorge Andrade percorreu longo e penoso itinerário artístico, em que se atingiram aos poucos seguros efeitos teatrais e o significado mais autêntico dos problemas trazidos ao palco. (...) Esclareça-se desde logo: Vereda
recria, .ao
nível de um grupo de colonos, no Interior de Minas Gerais, o drama do Calvário. Blasfêmia? Pretensão desmedida? Pode-se afirmar que nenhuma hipóteses se aplica ao texto. A sugestão tratamento
das desse
partiu dos próprios episódios ocorri-
dos em Catulé, na fazenda São João da Mata, pertencente ao município de Malacacheta. Meeiros que eram membros da Igreja Adventista da Promessa, exaltados pelo ardor religioso da Semana
UM DRAMA
Santa, mataram
DO CALVÁRIO
deiro, liquidou com as armas aquele desvario e o
quatro
crianças, que estariam
possuídas pelo demônio, e reviveram à sua maneira a Paixão bíblica. A polícia, chamada pelo fazentema, depois da exploração
sensacionalista
de
alguns jornais, se prestou a exegeses psico-socio-
SÁBATO MAGALDI
lógicas de grande interesse.( ...)
Do livro "Marta, a Árvore e o Relógio" Ed. Perspectiva (Fragmentos)
ra à última versão, o autor mostra o seu amadure-
Na passagem da realidade ao teatro e da primeicimento, que pode ser surpreendido
nas sucessi-
vas mudanças e na nitidez sempre maior do alvo. Ao crítico é prazeroso verificar como, por exigência dramática, a narração dos fatos se modela à economia dos diálogos e, para total eficácia, a estrutura
se altera, com o objetivo de envolver
num crescendo o espectador.( ...) A peça foi escrita, sem dúvida, para desagradar, para bulir com os nervos do espectador. O primeiro movimento deste é de contração, no ímpeto de negar aquela realidade. Não só episódios verdadeiros sustentam a ação, mas também logo se impõem a coerência e a verossimilhança
artísticas,
e a
entrega se torna quase compulsória. Do horror à história retratada passa-se a uma profunda simpatia pelos protagonistas,
e o esquema, assim, se
aparenta ao da tragédia clássica.
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Já na primeira versão de Vereda se encontram os ingredientes
essenciais. Jorge Andrade tem a
cautela e o faro de ficcionista para temperar as intenções maiores com uma dosagem objetiva de instintos
e de fenõmenos
puramente
naturais.
Sustenta a trama um conflito de caracteres próximo do prosaico, uma inter-relação de personalidades que se basta no território humano. O substrato do grupo do Catulé não se diferencia das motivações psicológicas responsáveis
pelos atritos nor-
mais em todas as coletividades - o desejo de poder, a luta pela liderança, o ressentimento
do fraco
contra o forte, os problemas de sexo extravasando em atitudes
públicas, a procura
de um sentido
para a vida. Manoel fora o chefe, escudado na autoridade
pessoal, na confiança de que gozava
diante do proprietário da fazenda, no porte viril e nos demais atributos
que distinguem
ordinaria-
mente o homem. Entretanto, todo esse mérito não era suficiente para modificar o status dos meeiros, sem valimento em face das circunstâncias
adver-
sas. Quando as soluções terrenas não se mostram exeqüíveis, ganham corpo as fugas sobrenaturais e o grupo do Catulé se dispõe a abdicar dos valores palpáveis, em troca da prometida felicidade eterna. A melancólica contrabalançada verdadeira
permanência
no efêmero
é
pela crença na salvação da alma,
vingança
contra
os sofrimentos
do
corpo. E, para que a verdade salvadora seja mais acessível, tanto maiores devem parecer as privações. Num aglomerado
que já desesperou
das
melhorias materiais, o chefe cede lugar ao líder religioso, e Manoel se eclipsa em face de.Joaquim, Uma disputa
em termos
primeiro, para humilhar
correntes
exaltaria
o
o segundo. Mas os pa-
drões rotineiros se subvertem, na ordem religiosa, e nela a fraqueza de Joaquim se transforma
em
signo de preferência
para a divindade. Joaquim
furta-se ao domínio
de Manoel pelo pretenso
contato com o paraíso, e sublima a impotência, a incapacidade para o trabalho e a fixação materna (certamente explicáveis por um desvio alimentado na miséria ancestral), pela certeza de que Deus o
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libertará
das amarras
terrenas.
Nesse primário
de trabalho no campo e pela premência de um
universo maniqueísta, a terra inimiga surge como
novo estatuto da terra. Se Joaquim e os outros
sinônima de demônio, enquanto o céu simboliza a
agregados se politizassem, ficariam talvez risíveis,
bem-aventurança divina. Por isso o pecado medra
quando o clamor reivindicatório nâo padece dúvi-
por toda parte e a luta precípua do homem se
da, na expiação do grupo.
concentra em extirpá-lo. A inconsciência do meca-
também, por subversiva, equivaleria a esconder
Condenar
a peça,
nismo social (condicionada também pela ignorân-
uma realidade, que foi fartamente veiculada nos
cia) determina esse deblaterar inglório, em que o
jornais. O equilíbrio social do Brasil, qualquer que
simulacro de salvaçâo redunda apenas em sacrifí-
seja a forma de desejá-Io e lutar por ele, deve
cio da corporeidade.( ...)
enfrentar situações como a de Catulé e da obra de
O clima paroxístico da açâo exigia um diálogo preciso, incisivo, semelhante do expressionismo.
à corda distendida
Jorge Andrade equilibrou a
espontânea
telegrafia
inteligente
transcriçâo
da linguagem do vocabulário
com uma popular,
Jorge Andrade. Restaria discutir se essa visão do drama do Calvário não resulta,
obrigatoriamente,
menor
que a narrativa bíblica. Um Cristo das roças não pode ambicionar a grandeza do Cristo verdadeiro,
que ressoa, em meio ao cotidiano prosaico do
e assim o texto sofreria, na origem, uma diminui-
público civilizado, como poderoso fluxo de poesia.
ção. Os tratamentos modernos não conservam, em
A sinceridade literária trouxe a Vereda uma
geral, a força mítica dos temas antigos em que se
carreira de dissabores, sob o prisma político. A
basearam. Do ponto de vista da criaçâo artística,
esquerda dogmática
seria preferível descobrir
reprovou na peça a entrega
os novos mitos que
apaixonada ao processo do fanatismo messíãnico,
informam a nossa civilização, como se procedeu
sem o corretivo didático de um "afastamento" ou
com Hamlet, Fausto, Don Quixote ou Don Juan.
de uma "mensagem"
Vereda, porém, não se cingiu à história do Gólgota,
explícita. Era como se o
texto, para ser bom, precisasse recorrer às fórmu-
reduzindo-se a recriaçâo empalidecida de um tema
las brechtianas. A direita julgou petulância tratar
que já se marcou de plenitude.
da miséria, num período da vida nacional em que
episódios, no grotesco subjacente ao sublime do
haviam sido derrotadas as agitações em torno da
vôo inútil encontra uma das tônicas da literatura
reforma agrária. Equívoco, de uma e outra parte.
contemporânea.
Na irrisão dos
E se transforma numa das obras
Jorge Andrade trouxe ao palco fatos verídicos, e
mais perfeitas que verberam a angústia do homem
eles, por si, clamam pela mudança das condições
no mundo de hoje.
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MALACACHETA SOMOS
Nós
GILBERTO DIMENSTEIN
o
Brasil se converteu numa imensa Malacacheta, cenário de Vereda da Salvação, produzindo focos diários de fanatismo - tornou-se tão rotineiro que nem parece mais fanatismo, convivendo quase pacificamente nas conversas, páginas de jornal e telas de televisão. Perdeu-se a razão. E, agora, não mais por pretextos religiosos como as personagens da peça arrancados da realidade. Mas com a mesma raiz: a miséria. Orgulhosos de uma suposta alma pacífica e cordial, os brasileiros começaram a descobrir apenas recentemente os assassinatos impunes de meninos e meninas, vítimas de grupos de extermínio, policiais ou quadrilhas de traficantes. É um genocídio social, crescendo todos os dias. Um assassinato de criança a cada seis horas. A matança é diária, mas a indignação episódica é passageira. Chacinas são esquecidas por outras chacinas. Instalou-se em amplas cama-
das da população a sensação de que eliminar delinqüentes ou supostos delinqüentes não é matar, mas purificar - a exemplo dos crentes de Malacacheta que, pelo menos, tinham um sonho de purificação. Um sonho enlouquecido, mas um sonho. Engana-se quem vê o grupo de extermínio como uma entidade estranha. Errado: eles têm base e apoio em comunidades como se prestassem relevantes serviços. E, aqui, aparece apenas a saliência da imensa loucura brasileira, simbolizada em Malacacheta: a miséria acumulada à sensação permanente de frustração vai encurtando e tirando os horizontes e, portanto, esperanças. A violência vira uma linguagem e não mais uma anomalia. Até pouquíssimo tempo, o crime era marginalizado na imprensa, reservado aos jornais desprezados pelas elites ou nas páginas subalternas da imprensa dita respeitável. Ganhou, porém, as manchetes através dos arrastões, dos comandos vermelhos, dos seqüestros. As casas viraram fortalezas, tranca das com cadeados eletrônicos. Endinheirados cercam-se de exércitos particulares como os nobres da Idade Média. As almas estão virando fortalezas. O desconhecido virou um inimigo até prova em contrário. O ódio é apenas uma reação natural - o ódio por sentir medo. Um ódio que se torna ainda maior quando não se percebe a miséria que está por trás da delinqüência ou de um simples menino de rua, movido também ao ódio. O pavor de andar nas ruas rotinizou-se como as guerras prolongadas viram rotina e os corpos perdem qualquer resquício de sacralidade. É como se a hóstia virasse apenas um biscoito desfaz-se a ancestral idéia de ligação entre o homem e Deus tão cultivada em todos os povos e em todos os tempos. Viramos os personagens de Vereda da Salvação perdidos numa comunidade que perdeu a razão - perdeu a razão porque perdeu a esperança terrena. Um país com tantas terras, tantos recursos naturais mas tanta pobreza: é como se fôssemos vítimas de uma maldição política, a incapacidade de sairmos de uma deterioração que se avoluma. Uma sociedade que, ao perder a razão, consegue enxergar fanaticamente na violência não a concepção da morte. Mas da vida.
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16
17
DIREÇÃO ANTUNES FILHO CENOGRAFIA E FIGURINOS
J.C.
o
filho
o inapto
pobre, para
e os trabalhos Com a faca,
e descorçoado,
e Fin it o,
as cavalhadas brutais.
o formão,
(Jorge Andrade)
SERRONI
o couro ...
ELENCO JOAQUIM Luis Meio MANOEL Valter C. Portelta GERALDO Helio Cícero ONOFRE Gustavo Bayer PEDRO José D 'Angelo lQ HOMEM Geraldo Mário 2 HOMEM Laudo Olavo Dalri Q
3 HOMEM Wilson Rocha Q
4 HOMEM Nelson Alexandre Q
5 HOMEM Roberto Audio Q
6 HOMEM Rogério F. da Costa Q
DOLOR Laura Cardoso DURVALINA Raquel Anastasia ARTULIANA Angela Banhoe ANA
Sandra Correa GERMANA Sueli Penha DALUZ Vanusa Ferlin CONCEIÇÃO Rosane Bonaparte lQ MULHER Renata Jesion 2Q MULHER Ldeara SeugliniJ JOVINA Joice Aparecida EVA Andréa Rodrigues
Trinta
anos depois, Antunes Filho retoma
Vereda da Salvação, de Jorge Andrade. Por quê? Diz ele que, no primeiro momento, a idéia era homenagear o autor quando se comemoram os dez anos de seu falecimento. Um espetácúlo desenvolvimento
"in' memoriam".
dos ensaios,
Mas, no
na lida com o
excelente material dramático, outro objetivo foi ganhando corpo: o de recuperar Jorge Andrade para o teatro brasileiro como no início dos anos 80 recuperou, e de maneira formidável, Nélson Rodrigues.
'1
"Jorge Andrade está compartimentado num preconceito", diz Antunes, "seja porque era quatrocentão,
seja porque
foi para a televisão e
acreditou na televisão ... Mas eu gostaria que as pessoas percebessem que o Jorge Andrade é um
A REALIDADE TRANSFIGURADA EM ARTE
dos maiores autores deste país. E a Vereda da Salvação, do ponto de vista dramatúrgico, é perfeita, absolutamente perfeita". São verdadeiros tanto intenção inicial quanto propósito final. Mas, lembrando a montagem de Vereda realizada por Antunes Filho no Teatro Brasileiro de Comédia, em 1964, que ficou como um marco na história
do nosso' teatro moderno,
esses argumentos parecem insuficientes. Está re-
SEBASTIÃO MILARÉ
tomando não um texto qualquer, rnas uma obra que foi decisiva na sua fase de afirmação enquanto encenador, e que não deu um espetáculo plenamente resolvido. Para o perfeccionista Antunes,: a Vereda deve ter permanecido como um desafio que só em parte venceu. Conversávamos entre um e outro ensaio de Vereda quando pedi a Antunes que estabelecesse as diferenças de concepção entre aquela Vereda e a que realiza hoje. E ele falou de rupturas: "Naquele momento a ruptura era com um tipo de teatro que eu achava chato. Eu procurava uma forma brasileira de fazer teatro, e aquilo foi uma loucura. Foi a descoberta do próprio chão do palco como uma coisa útil e como apoio de uma nova expressão. Depois o Arena usou muito o chão, no Arena Conta Zumbi ... Mas eu comecei
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esse troço. Então, havia uma proposta de ruptura. E hoje há outra proposta de ruptura: com o teatro alienante e formalístico que está aí. Hoje em dia, fazer teatro da realidade brasileira é uma alienação. O meu espetáculo, teatro
brasileiro,
na atual alienação do
pela oposição que faz, é um
espetáculo alienado". Se não especificou diferenças de concepção, colocou na conversa a outra volta do parafuso. Em 64, o seu espetáculo lados. A "direita" "esquerda" dispensar
recebeu tiros de todos os
o acusava
o repudiou
de comunista;
a
por não ser engaiado a
as palavras de ordem do momento.
Naquela época, o espetáculo devia ser "político" de todo jeito, senão era alienado. Agora, lamenta Antunes, dá-se o inverso. E exemplifica com a polêmica recente em que foi envolvido por jornais cariocas: "O Gerald Thomas fala aquilo ... que estou recuperando
uma temática dos anos 60, fazendo
um teatro social, que isso é careta. Por aí, quando recorrem a aspectos do Brasil, é o regional-folclórico-decorativo que se vê. É uma situação desagradável porque, hoje em dia, falar da nossa gente e falar das nossas coisas é absolutamente
caretão.
Mas eu pergunto: aonde posse me alimentar como artista? Não digo ser engaiado, babaca, não é isso. Sou contra
quem é engaiado
mensagenzinhas
dogmático, com
no final. Não é isso. Mas, Cristo,
eu não posso me alienar da minha região, não posso me alienar do meu povo, porque é onde está a minha seiva". A sua posição não se alterou, na essência, daquela época para cá. O que propôs como ruptura pertencia ao nível estético, é verdade, mas a questão social, para Antunes, nunca foi desvinculada da questão estética. Ou, como ele exprime:
ANTUNES FILHO
"Não posso ter uma estética isolada da minha realidade - é uma conseqüência
ética". O meio é
que terá mudado - se então exigia engajarnento, agora celebra a alienação.
21
"A Vereda da Salvação é a peça mais atual do Brasil", prossegue Antunes. "Com todo esse
da em chaves sociológicas. Busca uma complementação
no ãmbito metafísico, quer chegar ao
jorro de esquecimentos, de desmandos dos políti-
inefável dos personagens
cos e tecnocratas que faz vir à tona a podridão do
tações estatísticas. "Nos ensaios está aparecendo
e não às suas represen-
Brasil, vejo a erupção de tudo aquilo que estava
esse lado humano", afirma. "Um lado meio fanfar-
acumulado ... eu andava e sentia que por baixo
rão, meio criança. Ao mesmo tempo que você vê o
havia muita coisa. Agora não, está tudo abrindo e
assassino, tem vontade de dar a mão, de abraçar
isso me deixa alegre.
essa pobre gente." Pergunto-lhe
Então, apesar de tudo, estou fazendo a peça
se, em vista disso, pode-se
com muito otimismo. Em 64 fui muito pessimista.
falar de uma nova compreensão
Agora vejo a tragédia desse povo esquecido. O
brasileiro.
do messianismo
.
a falta de
"Sim, responde ele. Antigamente, em 64, era
base cultural desse povo esquecido; denuncia a
tudo muito radical. E a gente ficava meio intole-
fanatismo narrado
na peça denuncia
falta de assistência dos governos. Por isso, apesar
rante, unilateral. Agora não. Acho que tenho mais
de tudo, estou com muito humor nesse espetáculo.
sabedoria para ver essa pobre gente. É um movi-
Procuro humanizar o Joaquim, desta vez. Ele era
mento messiânico ... mas eles foram conduzidos a
muito unilateral.
isso. Não tinham saída. O messianismo releva até
Estou equilibrando
Meio faz um trabalho
estupendo,
agora (e o
um Joaquim
extraordinário, com uma humanidade admirável).
uma forma de imaginação de quem está na pior, massacrado. É uma forma de criação."
Aqueles lavradores ... apesar dos assassinatos, você
Esse novo entendimento
se reflete em cada
tem que estar do lado deles, tem que estar do lado
aspecto do espetáculo. Evitando falar da forma,
É um gesto
Antunes sintetisa a questão abordando a concep-
dos injustiçados, dos esquecidos.
muito mais amoroso por essa gente o que procuro mostrar.
Isso é flagrante
no espetáculo.
ção cenográfíca
Tem
desenvolvida com J.C. Serroni:
"Lá existiam três planos,
humor. É uma tragédia, mas uma tragédia brasilei-
casas... eu arranquei
ra não pode ser como a européia.
aqueles
A tragédia
praticáveis
os planos das
os planos das casas, tirei que fechavam,
deixei uma
brasileira é meio grotesca, o Nélson Rodrigues já
floresta de paus. Com isso abri a peça. E é legal,
nos chamava a atenção para o grotesco da nossa
como estética, abrir o espaço."
tragédia."
Retomando a Vereda da Salvação depois de
Aqui se entrevê
a parte do desafio não
trinta anos, Antunes faz uma reflexão sobre si
vencido em 64. Embora o espetáculo tenha sido
mesmo, sobre os processos criativos que desenvol-
reconhecidamente
veu nesse tempo e que o tornaram um dos maiores
inovador,
havia um choque
desagradável entre a interpretação
dos atores e a
cenografia puxada para o naturalismo. Essa falta
encenadores contemporâneos,
de solução na forma traía precariedades da leitura
possibilidade
e do entendimento
caminhos
das questões levantadas (não
assim reconhecido
em todo o mundo. E, ao fazer isso, dá-nos a também de refletir sobre nossos
históricos,
sobre
nossa
fé e nossas
se pode esquecer que, para Antunes, o social e o
esperanças
estético se confundem e se determinam). Aquela
destruídas -neste final de milênio. Repudia o título
montagem serviu-lhe para a afirmação enquanto
de erigajado: "Não sou engajado, sou um espírito
artista, mas não o satisfez enquanto criador.
integrado". E, com sua consciência social, leva ao
De lá para cá amadureceu
como artista e
como homem. Embora se sirva da sociologia para a aproximação, não quer os personagens da Vere-
22
coletivas tão abaladas - porém não
espaço cênico nossa realidade transfigurada arte.
em
23
No
meio rural brasileiro,
meio de aperfeiçoamento ção extra-terrena outros
aspectos
a religião como
individual e de reden-
é secundária,
em relação aos
que apresenta.
Entre estes, é
relevante o de promover a coesão e a reestruturação
social. A essa função, juntam-se outras. A
religião proporciona
aos caboclos um meio de
reunião, precioso para quem vive distanciado de seus vizinhos - reunião que renova e reforça a coesão grupal, permitindo que se exerça o controle social. É ela também um instrumento eficaz para
A RELIGIÃO
vencer dificuldades e sofrimentos da vida terrena,
NO MEIO RURAL
desorganização
BRASILEIRO:
sões, nove nas, romarias a santuários, promessas
ABORDAGEM SOCIOLÓGICA
das moléstias humanas às pragas agrícolas, da social aos cataclismas cósmicos.
E, por fim, consistindo principalmente em procis-
propiciatórias aos santos, apresenta um caráter de festa, já salientado também por outros estudos efetuados no meio rural brasileiro. É sabido que a falta de padres, comum no Brasil
MARIA ISAURA PEREIRA DE QUEIROZ
desde os tempos mais recuados da colonização,
ESTUDOS DE SOCIOLOGIA E HISTÓRIA
contribuiu
lntrodução- p.1 a 11
para torná-Io de certo modo independente
S.Paulo, Editora Anhembi Ltda., 1957.
para a formação deste catolicismo e
Igreja e de seus representantes
da
legais.
A escassez de sacerdotes determinou acomodações. Sua presença tornou-se dispensável para a realização
de cerimõnias
religiosas; basta que
exista no lugar alguém versado no ritual, que conheça as orações e o desenvolvimento do culto, que murmure um arremedo do latim para que, assumindo o papel de "sacristão", não deixe perecer o cerimonial.
Daí também
o sucesso
dos
"penitentes", "beatos", "santos", líderes religiosos leigos que se acredita serem os verdadeiros repre-
24
25
sentantes
de Deus, que os inspira diretamente,
enquanto
o padre é antes um "funcionário"
Igreja: a prova está em que os primeiros
da são
desinteressados no seu mister, enquanto os segundos precisam ser pagos.; Tais santos
homens
curam as pessoas, protegem as plantações e, pela obediência a seus ensinamentos e sermões, os fiéis são compelidos a uma vida mais de acordo com os preceitos da moral cabocla; eles operam assim verdadeiras revivescências ético-religiosas no meio rústico. Num "bairro rural", isto é, num grupo de vizinhança que congrega os caboclos no sertão, as relações sociais se formam a partir de suas necessidades especiais e das técnicas rudimentares
de
que dispõem para dominar o meio físico; para poderem viver com um mínimo de satisfação, são obrigados a recorrer
ao auxílio dos vizinhos e
estas relações de vizinhança tomam o modelo do "compadrio", isto é, a religião as sanciona positivamente, justificando-as e reforçando-as, compelindo os "compadres" a obrigações recíprocas. A religião assume, pois, o papel importante de reavivar e reforçar estes laços sociais. No entanto, se não há no local nem padres nem mesmo "sacristãos" que assegurem o desempenho
regular do
cerimonial rústico, a religião tende a se desorganizar e a perder o vigor. Quando um acontecimento qualquer sobrevém que atinge as relações sociais, encontra um campo propício para desorganizáIas, uma vez que um dos freios poderosos que as mantinha - a religião - não atua mais. É então que vemos muitas vezes "penitentes", "santos",
operando
"beatos"
um renascimento
ou
religioso
local, se tornarem núcleos de reorganização social; "padrinhos" da população desamparada, restabelecem o significado do compadrio. Assim, um dos caracteres
fundamentais
religião rústica, independentemente
da
da rubrica da
crença, é sua utilização como justificativa e reforço das relações sociais profanas.
26
J
o
R
E
ANDRADE 27
"Nasci no dia 21 de maio
de 1922, na cidade
de Barretos, interior de São Paulo." "Meu pai era um homem muito bom. Mas era um fazendeiro, um fazendeiro comjunqueiração: só enxergava até o limite de suas terras, como todos os outros. Quando eu lhe dizia que gostaria de estudar na Faculdade de Filosofia, isso não era do interesse dele. Eu falava em estudar Sociologia e ele respondia que isso era profissão de mulher, não era coisa para homem. E eu sentia que queria estudar
porque tinha vontade
de dizer alguma
coisa." "Com 14, 15 anos, sempre que vinha a São Paulo, eu ia ao teatro. Lembro ter visto a Cacilda Becker, a Bibi Ferreira, ainda menina estreando com o pai num
CONFISSÕES DE
teatro
em frente
Paissandu." "Meu pai acabou decidindo que eu seria fiscal de café. Não ia mais estudar
JORGE ANDRADE
isto, não ia mais
estudar aquilo, ia ser fiscal na fazenda de meu pai. Como era um garoto muito sensível, estranho, sobretudo
Fragmentos do depoimento concedido a Kátia de Almeida Braga, Ademar Guerra, Décio de Almeida Prado e Gianni Ratto, publicado na Revista do INACEN.
ao Largo
suspeito por causa das coisas de que
gostava, devia ter um trabalho duro para aprender. Saía de casa às seis da manhã, passava o dia todo fora, voltava sete, oito da noite para casa. Ficava fiscalizando o trabalho. Sentado embaixo dos cafeeiros,
comecei
a observar
as pessoas
trabalhando, a ouvir a vida delas, a descobrir como eram. E elas começaram a gostar de mim. Não por eu ser um igual, mas porque levava aqueles papos com elas, freqüentava
os bailes da colônia. Era
convidado para batizar os filhos dos colonos, para ser padrinho de casamento. Gostava de viver no meio daquele povo. E comecei a defendê-Ios na sede da fazenda. Mas defender como, se eu não tinha estudado,
não tinha pontos de referência
para a defesa? Agravou-se o conflito com o meu pai e ele partiu para o princípio de que eu jamais seria um fazendeiro." "Devolvi com a mesma dureza as coisas duras que ouvia, pois sentia que estava sendo morto. Se estava sendo morto, passei a querer matar e, na hora em que um mata o outro, você tem que partir.
28
Parti. Já estava com 26, 27 anos, estava há nove como fiscaL Decidi pegar um navio em Santos e ir embora, sem mesmo saber para onde. Passei em São Paulo para ir a Santos, à noite fui ao TBC. Estava levando O Anjo de Pedra. Assisti ao espetáculo e senti um negócio diferente, esquisito. Mesmo sendo tímido, desci aos camarins e fui falar com Cacilda Becker. Ela disse que estava muito cansada, mas que eu a poderia procurar em casa, no dia seguinte." "Dia seguinte, antes de entrar, tomei um vermute no boteco que existia embaixo. Subi, ela me recebeu. Comecei a falar, ela ouviu pacientemente durante mais de uma hora, olhando na minha cara, avaliando as minhas contradições." "Quando terminei, ela disse que eu deveria entrar
para a Escola de Arte Dramática,
que
funcionava em cima do TBC. Mas não para ser ator, como eu estava insinuando. Na opinião dela, eu não era um ator,talvez
um dramaturgo. Saí de
lá e fui inscrever-me para o exame de seleção. Meu exame foi a coisa mais desastrosa
que a bancá
examinadora já vira." "Depois do meu teste, eles chegaram à conclusão de que eu era louco, devia ser reprovado. Além de representar
uma cena do Henrique IV, que eu
mesmo escolhi, tinha
que escrever uma cena.
Escrevi sobre uma pessoa desesperada, li para a banca, os examinadores disseram ao Alfredo Mesquita que eu devia ter um parafuso a menos. Mas ele discordou
e acabou convencendo
a banca.
Entrei para a escola." "Comecei a escrever logo no primeiro mês. Além dos exercícios, escrevi O Telescópio. Entreguei o texto ao Décio de Almeida Prado e ele levou para o Luciano Salce." "O Salce leu o texto e disse ao Décio que eu possuía estofo de escritor, era de teatro." "A peça recebeu o Prêmio Fábio Prado de Teatro, o mais representativo "Quem me ensinou
da época."
realmente
teatro
foi a
Escola de Arte Dramática - Décio, Paulo Mendonça, Sábato Magaldi."
"Eu ainda estava no terceiro ano da escola quando escrevi A Moratória, que estreou profissionalmente
quando
saí. Segundo
os críticos, A
Moratória tem uma técnica quase perfeita e eu ainda estava na escola." "Acho fundamental
representar,
conhecer
o
teatro por dentro. Por isso digo que sou produto autêntico da Escola, pois fui obrigado a representar coisas até de que não gostava, mas representava. E eu era um canastrão de marca maior, só fui aprovado porque, nos quatro anos de curso, mostrei valor como dramaturgo. "E tem também outra pessoa que me marcou profundamente, que me marca até hoje, o Antônio Cãndido. Ele entrou na minha vida exatamente quando O Telescópio
ganhou
o Prêmio Fábio
Prado. Colocou-se à minha disposição, para me ajudar no que eu precisasse. E eu passei a atormentá-Io e ao Décio. Não foi mole. Eu escrevia e dava para eles lerem, ou lia para eles. Submetia-os à tortura de ouvir a leitura de uma peça, discutia com eles e depois voltava a trabalhar
sobre os textos e
promovia novas e exaustivas leituras. Assim, antes do contato com diretores, essas pessoas foram o embasamento da minha formação." "Eu nunca dei importância
ao incidental, à
moda. Procurei valores em pessoas que realmente têm esses valores profundos." "Dou importância
muito grande à crítica, à
reação dos outros e à minha própria, de modo que eu assisto, leio e percebo que alguma coisa não está pronta. E eu não tenho coragem, eu não sou homem de deixar uma peça por terminar. Não tem essa de já foi levada, não significa mais nada. Pode não significar nada para os outros, mas para mim
significa muito: eu amo aquilo, então volto a trabalhar. " "A linguagem dos personagens da Vereda, que parece coisa pesquisada, trabalhada, não era. Saiu assim porque eu passei oito, nove anos, no meio deles, debaixo do pé de café. Então, conversando com eles, eu via a equação terrível na qual viviam - aquilo que tinham o direito de ter e aquilo que tinham; a diferença era um negócio assim que me tocava fundo, e acabou me expulsando da fazenda, quando saí para pegar um navio qualquer. Então, aquela linguagem,
o modo como aquela gente
fechada da mata fala, e o caipira, e o homem do campo, não caipira, com o seu jeito poético, é minha, me pertence, é da minha própria história. Os personagens
da Vereda não são fazendei-
ros, não são aristocratas,
não são nada. Mas é o
outro lado deste mundo. E também uma realidade, do homem da minha terra. E como o que me interessa é o homem, a realidade, a Vereda nasceu deste desejo de mostrar o homem, tanto aquele Joaquim que na Moratória é dono da fazenda, como aquele Joaquim que é espoliado na mesma fazenda. Por isso têm o mesmo nome, são as duas faces de uma situação em que ambos vivem." Minha dramaturgia
é isto: vai e volta, vai e
volta, tudo enraizando-se naquela Pietá Fazendeira, que é a quebra de um mundo. Como digo no meu romance: a minha infância ficou pendurada quelas mangueiras.
na-
Naquelas mangueiras, de re-
pente, eu fiquei com 70 anos, e meu avô com 7. Houve uma inversão e aí é que eu comecei a procurar alguma coisa, alguma coisa perdida que eu não sabia o que era. Até que, escrevendo, encontrei, não é?
31
SOBREJORGEANDRADE "Além do seu caráter inatacável, Jorge Andrade era um profissional corretíssimo que se dedicava a escrever para televisão com a mesma vocação e cuidado que usava para o teatro. É claro que a televisão não merecia esse seu empenho, basta observar o episódio do seu afastamento no meio da novela Sabor de Mel, que contribuiu em muito para esse problema de saúde que acabou com ele. O choque foi tão grande que ele decidiu abandonar de vez a televisão para se dedicar apenas ao teatro. Sua idéia, nos últimos tempos, era instalar-se numa casa que tinha
em Barretos
escrevendo."
e ficar só
(Consuelo de Castro)
"Jorge Andrade foi o último dramaturgo de um período que se fecha. Acho que perdemos um grande autor teatral,
com uma cultura
ampla,
criador de peças muito bonitas e bem escritas. É pena que nos últimos anos não tenha merecido a consideração que merecia."
(Lélia Abramo)
"A dramaturgia de Jorge Andrade teve, para as décadas de 50, um papel similar ao de Vestido de Noiva na década de 40. Ela antecedeu em forma e concepção o papel que depois seria exercido pelo Teatro de Arena. Dizer-se, como muitos fizeram, que ele era um autor conservador, voltado para a aristocracia, o amargurou
demais, porque não é
verdade, é mera leviandade, que só se explica por disputa no plano ideológico. Afinal, ele era um autor essencialmente
progressista."
"Foi difícil para Jorge Andrade conviver com as limitações econõmicas do teatro brasileiro, que
(Fernanda Montenegro)
exigiam textos para poucos atores. Ele tinha tama-
"A morte de Jorge Andrade revela o lado triste
nho rigor que não queria nem levar em conta os
do Brasil, talvez o único do mundo que dá valor ao
problemas de produção. Quando eu era ainda líder
artista depois de morto. Lembro-me quando come-
estudantil, fui assistir à sua peça A Moratória, que
cei a adaptar Gabriela e, por volta do 102 capítulo,
acabou me motivando para escrever Eles Não
um crítico disse que minha adaptação
Usam 8Iack-Tie. Em 58, depois da montagem
era um
atentado à cultura popular. Jorge foi o único a me
dessa minha peça, Jorge, com quem sempre man-
dar apoio. Ele era um autor de verdade, não desses
tive contato, veio me dizer que ela acabara se
que andam por aí fazendo novelas."
transformando
(Walter George Durst)
32
na força impulsora para ele conti-
nuar escrevendo."
(GianFrancesco Guarnieri)
Veio das sombras, Da memória de todos os tempos. Do menino
nascendo,
veio.
Veio das novenas, das lajes, dos terços E de sinos tangendo em monjolos e moinhos. Do menino crescendo, veio. Veio do orgulho, das árvores, das raizes E de relógios sem ponteiros e máquinas Do menino caminhando,
Singer.
veio.
Veio de estrelas já extintas e tão distantes E de chuvas tão inúteis e de terras sem sementes. Do menino falando, veio. Veio do suor nas enxadas e das lágrimas nas peneiras E da injustiça feita homem-Deus-colono. Do menino observando, Veio de perfumes,
veio.
leques, retratos
E de mulheres com camafeu e de cortinas de filé. Do menino sonhando, Veio de balaústres, demandas,
veio.
heranças, lustres
E do sangue feito canga ou coroa de espinhos. Do menino amando,
veio.
Veio de rastelos cantando canções estrangeiras E de todos os sangues que não correm em mim. Do menino sofrendo,
veio.
Veio de tábuas largas, melindrosas, E do menino
telha-vã
ouvindo os uissi darte e os uissi damore
Entre latidos de cães, pés na enxurrada Do menino humilhado, Veio de livros roubados Veio dos momentos
e mangas no chão. veio.
e de pedras
procuradas.
vividos e sonhados.
Veio das sombras, Da memória de todos os tempos. Do menino libertado, veio!
Revista do INACEN . JORGE ANDRADE Do livro "Marta, a Árvore e o Relógio" - Editora Perspectiva·
p. 19 e 229
33
AGRADECIMENTOS Helena de Almeida Prado/Sábato MagaldijGilberto Dimenstein/ Antonio Candido/Maria Isaura Pereira de QueirozjDorian D'Santana/Tíão Rocha/Edu Viola/Paulo Guilherme Monteiro Lobato Ribeiro/Aloisyo de Andrade VieirajRicardo GrbeljVera Lucia Vieira Lima Canix/frina Krispin/prof. Roque Enrique Severino, Profa. Alice Hayshibara . Sociedade Brasileira de Tai-Chi-Chuan/Sebastião MilaréjRoberto Muylaert -TV Cultura/paulo Henrique de Carvalhn/Mariangela Alves de Lima/ Akihiro Otani e RussioJo Takahashi -Fundação Japão/paula Simas/Luciano Andrade/Carlos Fenerich/ Ag. Estado/ Banco de Dados da Folha de S.Paulo/Maureen Bisilliat/Nair Benedicto.
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18 - Paquito 21 - Paquito 23 - Nair Benedicto (N. Imagens) 25 - Nair Benedicto (N. Imagens)
Carlos Fenerich Nair Benedicto (N. Imagens) página 26 - Nair Benedicto (N. Imagens) páginas 27 e 29 - Álbum de Família (cedida por Helena de Almeida Prado) páginas 30 e 31 - Nair Benedicto (N. Imagens) página 32 - Álbum de Família
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36
CONSELHO REGIONAL DO SESC DE SÃO PAULO
Presidente Abram Szajman EFETIVOS
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