Ministério da Cultura, Sesc e Magazine Luiza apresentam
Sesc Santo André
15 de março a 13 de agosto de 2024
Exposição realizada originalmente pela Cité des sciences et de l’Industrie em colaboração com o Museu Nacional de História Natural de Paris
Enlevos da Ciência
A ciência está presente em cada passo da história humana. Derivada do latim scientia, abarca um conjunto de conhecimentos específicos que busca compreender fatos e leis naturais do mundo e da vida, para elucidar, ao menos em parte, como o universo funciona. Para consolidar determinados saberes, cientistas fazem incansáveis medições, verificações, análises, ensaios, testes e comparações. Conectada aos desdobramentos históricos, a ciência, por meio de seus avanços, sedimentou conhecimentos, bem como o desenvolvimento tecnológico em diversificados campos, impactando o cotidiano e possibilitando a cura para algumas enfermidades, bem como o aumento da expectativa de vida.
A fim de aproximar o universo científico dos variados públicos, favorecendo o acesso às dimensões da ciência, é realizada a exposição Darwin, o original, uma profícua parceria entre Sesc e Universcience – instituição vinculada ao Ministério da Cultura da França, com o apoio da Embaixada da França e o patrocínio do Magazine Luiza. Após temporadas no Sesc Interlagos e Sesc Campinas, a mostra chega agora a Santo André e propõe, com formato interativo, uma imersão na trajetória do cientista, naturalista, biólogo e geólogo inglês, contemplando sua biografia e o contexto em que se desenvolveram suas experiências e pesquisas, articulando acontecimentos históricos do século XIX com abordagens contemporâneas sobre o tema da evolução.
A experiência da pandemia – durante a qual foi possível perceber que a proliferação de desinformações coloca em xeque a eficácia de políticas públicas ligadas à ciência e à saúde – nos lembra da relevância da difusão científica. Isso ganha destaque quando se consideram as contribuições de Darwin, que se tornaram um símbolo do pensamento racional face a obscurantismos de todo tipo.
Para o Sesc, o entrelaçamento entre ciência e cultura e suas mútuas influências sublinha a necessidade de expandir as reflexões sobre processos educativos permanentes. Para que isso ocorra, é fundamental que o conhecimento científico, a tecnologia e a sociedade sejam articuladas como facetas de um mesmo prisma: o da ação humana responsável no mundo.
Luiz Deoclecio Massaro Galina Diretor do Sesc São Paulo
Universcience
Primeira instituição pública francesa dedicada à divulgação da cultura científica, técnica e industrial, a Universcience engloba a Cité des sciences et de l’industrie e o Palais de la découverte. Sua missão é tornar a ciência acessível a todos. Especializada na transmissão do conhecimento vivo e na investigação de questões contemporâneas, a Universcience propõe ao público a abordagem da ciência pela descoberta, o questionamento e a experimentação, através de:
• exposições temporárias ou permanentes, criadas em estreita colaboração com a comunidade educacional, científica e industrial;
• espaços dedicados às crianças;
• espaços dotados de recursos para a experimentação, com o uso de ferramentas digitais inovadoras (Fab Lab & Living Lab), conferências e edições;
• engenharia cultural.
Com o objetivo de promover a cultura científica e técnica, a Universcience compartilha sua capacidade de mobilização e formação na Franç a e no exterior. Seus principais valores est ão fundamentados na abertura para o mundo e seus desafios e na universalidade — dirige-se a todos e aborda a ciência em suas diversas dimensões e na valorização da inovação. Essa tríade determina as ações da Universcience, na linguagem universal que combina a mediação humana, a criação digital e a potência artística.
Magazine Luiza
Fundado em 1957, o Magazine Luiza é uma das maiores redes varejistas do Brasil, com suas mais de mil lojas e 12 centros de distribuição estrategicamente localizados em 17 estados, nas cinco regiões brasileiras.
Está em destaque na missão do Magazine Luiza o compromisso inarredável com o desenvolvimento do nosso país. E isso inclui os investimentos sociais já consolidados e, mais recentemente, a democratização da cultura. A empresa entende que a importantíssima vivência simbólica da arte, da criatividade, da linguagem constrói o ser humano em sua identidade mais profunda. Por meio da Lei de Incentivo à Cultura, o Magazine Luiza contribui para a abertura de horizontes, a ampliação das experiências culturais e o acesso da população às manifestações artísticas, com ênfase na produção brasileira e nos temas universais.
A cultura fortalece a identidade individual e coletiva, estrutura camadas fundamentais da sociedade e — por que não lembrar? — movimenta uma enorme cadeia de produção. Que seja cada vez maior e melhor nossa presença no setor.
Darwin, o original
Há figuras-chave na história das ciências que são, ao mesmo tempo, famosas e pouco conhecidas. É o caso de Charles Darwin (1809-1882), o pai da teoria da evolução. O Sesc apresenta a exposição Darwin, o original , uma extensa mostra produzida pela Cité des sciences et de l’Industrie, braço do Ministério da Cultura da França, criada em colaboração com o Muséum National d’Histoire Naturelle. Interativa, lúdica, informativa, a exposição ainda apresenta o contexto das descobertas do cientista, o mundo em que ele viveu e a maneira como suas ideias permanecem vivas – e cientificamente válidas – na contemporaneidade.
No campo da biologia, o trabalho de Darwin foi um ponto de inflexão semelhante ao que Copérnico representou ao mostrar que a Terra não é o centro do Universo, mas gira em torno do Sol. Charles Darwin produziu uma teoria geral que permite explicar a
diversidade e evolução dos seres vivos. Graças a Darwin, entendemos que o homem não está mais no centro e, muito menos, no topo do mundo dos seres vivos.
Darwin, o original é uma viagem ao pensamento singular e ousado desse personagem icônico, autor do fundamental livro A origem das espécies .
Retrato de Charles Darwin J. Cameron. Dominio público via Wikimedia Commons
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O visitante mergulha num variado universo de efeitos gráficos, conhecendo virtualmente o tempo e os lugares que o cientista cruzou, acompanhando o itinerário intelectual e o lento amadurecimento das suas ideias, seu pensamento e seus métodos.
Na mostra, além do Darwin naturalista (termo da época que abarcava o que hoje chamamos de biólogos, geólogos, geógrafos, entre outros), cientista aclamado, surge o perfil do pai, humanista, antiescravagista e pioneiro da etologia animal e humana; para ele, a empatia e a colaboração também são resultado da evolução.
A Evolução das Espécies
Charles Darwin desenvolveu uma teoria que, por si só, explica a evolução das formas vivas e sua diversidade. Essa “teoria da descendência com modificação através da variação e da seleção natural” é metodicamente discutida no livro científico mais famoso da história: A origem das espécies. As ciências da vida encontram aqui uma estrutura teórica geral e racional que explica o presente e o passado, à luz de muitas experiências e pistas que a história da vida sobre a Terra nos deixou.
A comunidade científica atualmente trabalha seguindo o programa que foi traçado por Darwin. No entanto, em seu tempo, muitas de suas ideias foram mal compreendidas, distorcidas e deturpadas, e isso ainda acontece hoje em dia. É importante, por isso, voltar à fonte de sua originalidade, especialmente quando se trata do seu olhar particular sobre os seres humanos, suas sociedades e suas origens naturais. Depois de Darwin, o ser humano não está mais no centro do mundo, nem no topo da pirâmide dos seres vivos. Há uma continuidade que enlaça todos os seres que participam da mesma história genealógica, evidenciada por seus traços compartilhados, que foram herdados de ancestrais comuns.
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Há quem reduza a teoria da seleção natural à ideia de “lei dos mais fortes” e procure usá-la como modelo para a economia e as sociedades humanas. Nada é mais contrário ao rigor científico e ao humanismo expresso por Darwin em seus escritos e suas ações. A exposição Darwin, o original oferece uma tradução do pensamento de Darwin desde as intuições do naturalista principiante até suas publicações mais importantes, incluindo obras menos conhecidas sobre o comportamento humano e dos animais, sobre botânica ou minhocas.
Darwin e seu tempo
Charles Darwin, assim como sua obra, é produto de uma história familiar, cultural (científica, religiosa, filosófica, literária) e social. Mesmo que suas ideias tenham transtornado alguns de seus contemporâneos, elas são fruto da época de Darwin, de sua formação e de suas interações com o mundo intelectual e cultural.
Em 1815, depois de ter derrotado Napoleão, a Grã-Bretanha acelera a dominação colonial e a expansão do seu império ao redor do planeta – alcançando um território de 26 milhões de quilômetros quadrados, com 400 milhões de pessoas. Os britânicos, com suas esquadras marítimas, assumiam o
1805
Vitória decisiva da Marinha Real Britânica contra a frota francoespanhola em Trafalgar
1809
Nascimento de Charles Darwin na Inglaterra
1809
Publicação de Filosofia
Zoológica de Lamark
1815
Os Britânicos derrotam Napoleão
1831
Início da expedição à bordo do HMS Beagle
1832
Darwin passa pelo Brasil
1833
Slavery Abolition Act (Ato de Abolição da Escravatura no Império Britânico)
1835
Darwin explora o arquipélogo de Galápagos
1836
Fim da expedição do HMS Beagle
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papel de “policiais” do mundo – na definição muito própria de Pax Britannica – e exerciam a supremacia sobre o comércio mundial, controlando as economias de muitos países da Ásia e das Américas, como China e Argentina. O barco a vapor e o telégrafo, na segunda metade do século XIX, são tecnologias essenciais nesse momento para que a Grã-Bretanha defendesse e controlasse seu império. A coroação da Rainha Vitória se deu em 1837, e foi a partir desse período que houve um desenvolvimento sem precedentes da indústria dos meios de transporte e comunicação; com isso, as ideias se disseminavam cada vez mais rapidamente. As ciências físicas, naturais e humanas avançavam, mas ainda permaneciam inseparáveis da religião.
Charles Darwin veio de uma rica família burguesa, da qual adotou os valores e o estilo de vida. Ele é a imagem de um cavalheiro do século XIX. Porém, na juventude, Darwin não foi um estudante aplicado. Era apaixonado por ciências naturais, mas estava destinado a se tornar um pastor religioso. Foi uma oportunidade que mudou seu destino: depois de uma curta e proveitosa viagem para estudar Geologia no País de Gales, ele aceitou o convite para ser o acompanhante do capitão Robert FitzRoy a bordo do navio HMS Beagle.
1837
Início do reinado da Rainha Victória
1839
Casamento de Darwin com sua prima Emma Wedgwood
1859
Publicação de A origem das espécies
1866
Publicação do trabalho de George Mendel sobre a genética
1871
Publicação do livro A descendência do homem
1881
Morte de Charles Darwin na Inglaterra
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A volta ao mundo em 1.741 Dias
Recomendado pelo reverendo John Stevens Henslow, professor de botânica e grande conhecedor de besouros, Charles Darwin, então com 22 anos, embarcou no navio HMS Beagle em 27 de dezembro de 1831. O pai de Darwin inicialmente rejeitou a ideia: “Dois anos num barco? Uma perda de tempo!”
Plimude
Açores
Cabo Verde
Bahia
Lima
Valparaíso
Rio de Janeiro
Montevideo
Tenerife
Galápagos Sydney Hobart King George Sound
Ilhas
Malvinas
Viagem do Beagle ao redor do mundo, 1831–1836. ©Sémhur via Wikimedia Commons
O HMS Beagle
Ilhas Cocos
Ilhas Maurício
O Beagle zarpou com a missão de aprofundar o conhecimento das terras e mares litorâneos da América do Sul e das condições de navegação – mais especificamente, fazer levantamentos cartográficos e meteorológicos, identificar marcos visíveis do oceano, medir a profundidade de passagens e canais, realizar o inventário de ancoradouros. O objetivo principal, portanto, era o desenho de mapas e a redação de diários úteis às frotas militares e comerciais britânicas.
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Cidade do Cabo
Prevista inicialmente para durar dois anos, a viagem acabou durando quase cinco anos e transformando-se numa volta ao mundo. Darwin só voltou à Inglaterra em 2 de outubro de 1836.
Depois de atravessar o oceano Atlântico, o Beagle contornou a costa da América do Sul, seguiu para oeste pelo Pacífico, via Taiti e Austrália. Antes de retornar à Inglaterra, bordejou a África e ainda deu uma segunda parada no Nordeste do Brasil.
“A jornada do Beagle foi, de longe, o evento mais importante da minha vida e determinou toda a minha carreira […] Sempre senti que devo a essa viagem o primeiro treinamento ou educação real da minha mente. Fui levado a me concentrar em vários ramos da história natural e minhas habilidades de observação, assim, melhoraram, embora já fossem devidamente desenvolvidas.” (Charles Darwin, Autobiografia)
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Corte Longitudinal do HMS Beagle como era em 1832. Desenho original de F.G. King. Dominio público via Wikimedia Commons.
Uma longa jornada
Essa viagem, uma das expedições científicas mais famosas da história, não foi fácil: sucessivos adiamentos de partida, quarentenas por causa da cólera, proibições de atracar em diversos portos, o enfrentamento de rebeldes argentinos, demissões, um terremoto… E, enquanto o HMS Beagle explorava as costas e cumpria sua missão, Darwin realizou incursões em terra firme. Quando o Beagle atingia portos onde a correspondência podia ser enviada e recebida, o naturalista aproveitava para mandar anotações, diários e coleções para a Inglaterra.
Darwin teve a chance de fazer seu aprendizado como naturalista, alimentando cadernos de observações e coletando espécimes no mar e em terra. Foi também um tempo de troca de correspondência sobre muitos assuntos, com vários interlocutores como sua família, seus amigos e outros cientistas. Durante toda a viagem, Darwin também leu copiosamente. As obras práticas e teóricas que ele levou consigo no Beagle enriqueceram seu conhecimento, o ajudaram a construir sua reputação e formaram a base de seu trabalho posterior.
O Beagle encalhado. Desenho de Conrad Martens (1834) e gravado por Thomas Landseer (1838). Dominio público via Wikimedia Commons.
“É fascinante contemplar a margem de um rio, confusamente recoberta por diversas plantas de variados tipos, os pássaros cantando nos arbustos, os mais diferentes insetos voando de um lado para o outro, vermes deslocando-se pelo solo barrento, e refletir, por um instante, que essas formas, construídas de maneira tão elaborada, tão diferentes entre si e dependentes umas das outras por vias tão complexas, foram produzidas sem exceção por leis que atuam ao nosso redor.” Charles Darwin, A origem das espécies – trad. Pedro Paulo Pimenta, editora Ubu
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Tentilhões de Galápagos
Em 1835, o Beagle aportou nas Ilhas Galápagos, no Equador. Charles Darwin ficou impressionado com a semelhança de muitas aves entre si e com as do continente americano. Ele recolheu tentilhões que, depois da sua volta para a Inglaterra, seriam analisados pelo ornitólogo John Gould, que identificaria 13 espécies diferentes. Isso reforçou a intuição de Darwin, que já tinha considerado que essas 13 espécies poderiam ter se desenvolvido a partir de uma única.
Esses pássaros eram de porte aproximado, mas as diferenças mais importantes estavam no tamanho e forma dos bicos. Tais variações poderiam ser explicadas pelas práticas alimentares específicas de cada espécie. Seus comportamentos, assim como seus cantos, também diferiam. Foi só após o retorno de Darwin, com numerosas trocas científicas, que ele perceberia a importância dessas múltiplas espécies de aves para a compreensão dos fenômenos de especiação e evolução por seleção natural.
Mudança de escala
A evolução só pode ser considerada em nível populacional: os indivíduos transmitem a seus descendentes características (traços, atributos) que, ao longo do tempo, são mais ou menos compartilhadas.
A transmissão de uma determinada característica por um indivíduo a seus descendentes não é, por si só, uma indicação de evolução. Somente se essa característica for preservada
Mapa da Ilha de Galápagos publicado em 1841. Dominio público via Wikimedia Commons.
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ou, ao contrário, se ela desaparecer, após gerações e gerações, é que podemos falar em evolução. A vida evolui há 3,5/3,8 bilhões de anos.
Na maioria das categorias de seres vivos, os indícios de evolução, ou de transição de uma forma para outra, só podem observados após dezenas ou até centenas de milhares de anos.
Um trabalho fecundo e revolucionário
A revolução darwiniana
“Tenho plena convicção de que as espécies não são imutáveis, mas, ao contrário, aquelas que pertencem ao que se chama de mesmo gênero são descendentes lineares de outra espécie, via de regra, extinta, e que as reconhecidas variedades de uma espécie descendem dessa mesma espécie. Estou convencido ainda de que a seleção natural é o principal, embora não o único, meio de modificação.” (Charles Darwin, A origem das espécies – trad. Pedro Paulo Pimenta, editora Ubu)
No século XVIII, a teologia natural era o pensamento dominante na Inglaterra. No entanto, Charles Darwin não foi o primeiro “transformista” e as ideias do francês JeanBaptiste de Lamarck já eram divulgadas e discutidas em seu tempo. Mas Darwin foi o primeiro pensador a apresentar um mecanismo convincente – o da seleção natural.
Página de rosto da edição de 1859 da Origem das espécies de Charles Darwin. Dominio público via Wikimedia Commons.
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A origem de A origem
Em 1837, pouco depois de seu retorno da expedição a bordo do HMS Beagle, Darwin escreveu em um caderno o programa da teoria que ele levaria mais de vinte anos para publicar. Ele coletou e consolidou pacientemente os dados que iriam apoiá-lo, realizou uma infinidade de experimentos e demonstrou sua teoria com cada um dos fatos que recolheu.
Foi em 1858, quando Alfred Russel Wallace lhe enviou seu próprio trabalho, que chegava às mesmas conclusões, que Darwin, incentivado por seus amigos, finalmente decidiu formalizar e tornar pública sua teoria. Primeiro, na forma de um artigo conjunto com Wallace; depois, em sua obra-prima, A origem das espécies por meio da seleção natural. O primeiro esboço extensivo da teoria datava de 1842 e só seria conhecido muito mais tarde.
A árvore da vida tal como publicada em A origem das espéceis por meio da seleção natural, 1859. Dominio público via Wikimedia Commons
Esboço feito por Charles Darwin em 1837 do seu primeiro diagrama de uma árvore evolutiva. Dominio público via Wikimedia Commons
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A origem das espécies por meio de seleção natural ou a preservação das raças favorecidas na luta pela vida
Publicado em Londres em 24 de novembro de 1859, esgotado no primeiro dia de vendas, esse foi o principal livro de Charles Darwin, com seis edições impressas durante sua vida, incorporando cerca de 7.500 modificações, entre alterações, adições e exclusões, feitas pelo próprio autor. Não se trata de uma história natural, mas de um “longo argumento”, em que Darwin desenvolve sua “teoria da descendência com modificação”. Ele o apresenta à luz de numerosos fatos coletados em seus anos de viagem, em suas leituras e em numerosos intercâmbios com seus pares. Num segundo momento, ele chega a responder, antecipadamente, às objeções que lhe poderiam ser feitas.
Variação no estado doméstico e natural
Darwin encontrou as primeiras pistas de um mecanismo de seleção natural no trabalho de criadores de animais, agricultores e jardineiros. O ser humano só pode agir sobre as variações naturalmente fornecidas; ele então seleciona, graças a uma observação cuidadosa, indivíduos que possuem uma característica diferente, que lhe pareça interessante. Darwin chamou essa diferença de “variante”. Ao duplicar esse processo por várias gerações, obtém-se variedades que possuem essa variante de forma acentuada, e que a transmitem aos seus descendentes. O homem desempenha, portanto, para o estado doméstico, o mesmo papel que o meio ambiente desempenha no estado selvagem: uma seleção.
Luta pela existência
A exposição Darwin, o original mergulha no cerne do pensamento e do raciocínio de Darwin, explicando as pressões que as espécies sofrem, que as impedem de crescer exponencialmente. O naturalista
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demonstrou que cada espécie constitui um limite para as outras e que o meio ambiente também é uma restrição. O que ele conclui disso é que, uma vez que “são produzidos mais indivíduos do que o número que poderia sobreviver, existe sempre uma luta pela existência”.
Como Darwin, a exposição usa o exemplo do elefante, o animal que se reproduz mais lentamente. Ele calculou que um único casal teria 19 milhões de descendentes depois de 750 anos. Na natureza, é claro, isso não acontece. Em cada geração, nem todos os indivíduos sobrevivem. Somente os indivíduos com as características mais adaptadas para encontrar e fazer o melhor uso dos recursos presentes em seu ambiente poderão sobreviver e se reproduzir.
Sobre a imperfeição do registro geológico
O estudo de seres vivos extintos é feito graças aos restos fósseis, que fornecem informações muito fragmentadas. A teoria de Darwin pressupõe que a evolução é um fenômeno lento e gradual, que passa por muitas formas intermediárias. No entanto, os fósseis encontrados parecem testemunhar o súbito aparecimento de novas formas, na ausência de formas intermediárias.
Para Darwin, isso não contradiz a sua base teórica. A ausência de formas intermediárias resultaria da dificuldade da ocorrência das condições necessárias e suficientes para a fossilização de um ser vivo, o que impediria que todas as suas formas intermediárias fossem encontradas. Além disso, as formas encontradas nas camadas do solo dificilmente poderiam estar diretamente ligadas a um ancestral comum que teria sido fossilizado.
A exposição destaca o exemplo da Archæopteryx lithographica, que passou a fazer parte das coleções do National History Museum de Londres em 1861, dois anos após a publicação de A origem das espécies. Ao contrário do que o biólogo Richard Owen pensava, não se trata de um fóssil de pássaro, mas de uma forma intermediária,
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que apresenta uma combinação de características advindas de grupos de dinossauros e de pássaros. Esse fóssil curioso iria desempenhar um papel central nos debates acalorados em torno da teoria da evolução.
A origem do homem e a seleção sexual “Assim que fui convencido, em 1837 ou 1838, de que as espécies poderiam sofrer mutações, não pude deixar de pensar que o homem estava necessariamente sujeito às mesmas leis. Por isso, acumulei notas sobre o assunto para minha própria satisfação, por muito tempo sem a intenção de publicá-las.”
(Charles Darwin, Autobiografia)
Em 1871, mais de 11 anos após a primeira edição de A origem das espécies, Darwin finalmente abordou a questão da origem humana, no livro A origem do homem e a seleção sexual. Ele afirma, na nova publicação, que homens e animais têm uma origem comum; que é pela seleção natural e a partir de instintos sociais que se constituem o senso moral, as culturas e as civilizações. Traços dessas características, que acreditamos serem exclusivas da espécie humana, são encontrados por Darwin em vários animais.
A segunda parte do livro é dedicada à seleção sexual. Esse mecanismo complementa e, às vezes, se opõe à seleção natural. O naturalista explica como as características
© Collection Bibliothèque des Sciences et de l’Industrie/Universcience
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sexuais secundárias, presentes em alguns machos, beneficiariam os indivíduos na sedução das fêmeas e lhes proporcionariam mais chances de ter descendentes.
Com a seleção sexual, Charles Darwin completou sua teoria. Ele tentava responder à seguinte pergunta: como explicar que certos traços aparecem apenas em um sexo ou apenas na idade adulta?
Os traços que favorecem um grande número de descendentes podem de fato ser aqueles que permitem uma melhor sobrevivência, pelo menos até a idade reprodutiva, mas também podem ser de outra ordem: eles favorecem o acesso à reprodução.
A expressão das emoções no homem e nos animais
Em A expressão das emoções no homem e nos animais, publicado em 1872, Darwin seguiu com seu inventário da continuidade entre o homem e os animais. Ele mostra como traços e instintos comuns desempenham um papel na expressão de comportamentos, de reações e de emoções. Ele estabelece os fundamentos de uma psicologia animal e de uma ciência comparativa do comportamento instintivo em humanos e animais, no âmbito de sua teoria geral da evolução. O livro é magnificamente ilustrado com gravuras e fotografias.
Ilustração
do livro
A expressão das emoções no homem e nos animais
© Michel Lamoureux/
Collection BSI/EPPDCSI
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A recepção das ideias de Darwin
Os herdeiros do pensamento de Charles Darwin
“Ao tomar posse do arco sagrado da permanência absoluta, ao tratar as formas que antes eram consideradas arquétipos de fixidez e perfeição como decorrentes de uma origem e condenadas a desaparecer, A origem das espécies introduziu um modo de pensamento que acabaria por transformar a lógica do conhecimento […]” (John Dewey, The Influence of Darwin on Philosophy and Other Essays [A Influência da Filosofia de Darwin e outros Ensaios], 1910)
Caricatura de Darwin publicada em 22.03.1871 na The Hornet Magazine sob o título de Venerável Orangotango.
Dominio público via Wikimedia Commons
A origem das espécies foi o trabalho científico que mais rapidamente encontrou eco nos círculos acadêmicos e além. Darwin se tornava o naturalista mais famoso do mundo.
Em muito pouco tempo, seus livros foram traduzidos para muitas línguas; jornais e revistas mencionaram suas publicações, às vezes ilustrando suas ideias com caricaturas. De maneira mais ampla, suas ideias repercutiram nas Artes e nas Letras. Foi como se a sociedade da segunda metade do século XIX estivesse esperando, mas temendo, a confirmação trazida por Darwin: a vida evolui desde sua origem; novas formas sucedem às antigas; compartilhamos com animais e plantas muito mais do que o que pensávamos.
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Um pensamento traído
Muitas foram as apropriações abusivas das teorias de Darwin, em contradição com o que havia sido proposto pelo autor, tanto durante sua vida como posteriormente. Em um breve filme, a exposição evoca alguns desses usos da teoria, incluindo aqueles feitos pelo primo de Darwin, Francis Galton, ou por Herbert Spencer. Em seguida, o filme desconstrói a ligação entre Darwin e a eugenia, ou entre Darwin e o darwinismo social, colocando esses conceitos no contexto da época e relembrando aquilo que Darwin realmente disse.
As ciências da evolução hoje
“Um campo de pesquisa extenso e quase inexplorado se abre sobre as causas e as leis de variação, a correlação de crescimento, os efeitos de uso e desuso, a influência direta de condições externas e assim por diante.”
(Charles Darwin, A origem das espécies – trad. Pedro Paulo Pimenta, editora Ubu)
Qual é a atualidade das ciências evolutivas no início do século XXI? Darwin lançou as bases de um programa de pesquisa que ainda se mantém vivo. Ele ignorava, no entanto, todos os mecanismos da hereditariedade e da genética. Mas o fundamento de sua teoria permanece sólido e estável.
Depois de mais de um século e meio de grandes descobertas na biologia, sua teoria foi confirmada, enriquecida, reformulada e, às vezes, contestada. Isso se deve à natureza da ciência e a seus métodos, mas também – e sobretudo – ao grande alcance da teoria. As ideias apresentadas por Darwin no final do século XIX ainda hoje encontram novas áreas de aplicação.
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A noção de acaso
O acaso opera em todas as escalas da vida. É a força motriz e a garantia da variação dentro das populações de seres vivos, bem como nos genes. Quanto mais diversificada for a população, maior é o número de indivíduos propensos a sobreviver a novas pressões. Todos os seres vivos (animais, bactérias, células, plantas, humanos…) são submetidos ao acaso durante a evolução. Eles poderiam muito bem ter sido diferentes, experimentado coisas diferentes, ou simplesmente poderiam não existir. A história da vida é o resultado do entrelaçamento de um número muito grande de cadeias causais independentes.
O conceito de espécie
Uma espécie é uma convenção da linguagem adotada por biólogos para nomear um grupo de seres vivos, do passado e do presente. Eles pertencem a uma sequência de gerações que são semelhantes e têm uma descendência fértil. As diferentes espécies são separadas por uma barreira reprodutiva.
Darwin na intimidade
Depois de seu retorno da viagem no HSM Beagle, Darwin seguiu os conselhos de seu pai e se casou com a prima, Emma Wedgwood. Decidiram, já no início da vida em comum, fugir da agitação de Londres e se estabeleceram na Down House, uma casa na zona rural da Inglaterra, ao sul da capital, onde Darwin viveria até sua morte.
“Poucas pessoas viveram mais isoladas do que nós. Além de visitas curtas a amigos e algumas estadias na praia ou em outros lugares, não nos movemos.”
(Charles Darwin, Autobiografia)
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Emma Darwin em 1840, pouco depois do seu casamento com Charles. Aquarela de George Richmond. Dominio público via Wikimedia Commons.
Darwin com seu filho mais velho William Erasmus Darwin em 1842. Dominio público via Wikimedia Commons
Vindo de uma família rica, sua fortuna pessoal permitiu que ele se dedicasse às pesquisas e à família. A viagem de cinco anos e o trabalho de campo foram seguidos por experiências em sua estufa e seu jardim. A partir de então, a aventura foi intelectual: Darwin escreveu, publicou e manteve uma importante correspondência com seus pares e contemporâneos. Mais tarde, o naturalista apresentou sinais de ter contraído uma doença durante a viagem, pois estava frequentemente sofrendo e reclamava que não podia trabalhar tanto quanto gostaria. Sua perseverança, no entanto, permitiu que ele escrevesse A origem das espécies em apenas 13 meses e coletasse, para suas obras, uma quantidade de informações provavelmente sem paralelos em seu tempo.
Darwin teve dez filhos. Desde o nascimento do primogênito, ele estudou o desenvolvimento das crianças com métodos naturalistas e realizou pequenos experimentos. Suas anotações mostram que ele se manteve sempre muito próximo das crianças. Ele perdeu dois filhos ainda pequenos, e sua filha Anne aos 10 anos, morte da qual nunca se recuperou.
Charles Darwin veio de uma família tradicionalmente contrária à escravidão. Seu avô, Josiah Wedgwood (1730-1795), concebeu e produziu um medalhão abolicionista, representando um escravo acorrentado, com as palavras: “Eu não sou um homem e um
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irmão?”. O desgosto de Darwin aumentou durante a viagem do Beagle, quando ele testemunhou os sofrimentos aos quais os escravizados eram submetidos.
Charles Darwin morreu em 19 de abril de 1882, aos 73 anos. Além de um considerável trabalho científico, deixou suas muitas anotações, sua extensa correspondência e uma autobiografia. Ele está enterrado na Abadia de Westminster, em Londres, ao lado de muitas outras personalidades inglesas, como Isaac Newton.
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Funeral de Charles Darwin na Abadia de Westminster em Londres, 1882. Dominio público via Wikimedia Commons.
Depois que o visitante aprendeu sobre a vida de Charles Darwin e a teoria da seleção natural, a última sala propõe um olhar para o seu próprio território, para o Brasil, através de Darwin. O foco se volta, mais especificamente, para o sudeste brasileiro, onde Darwin passou mais tempo quando veio para cá.
Em sua viagem pelo mundo a bordo do Beagle, Darwin descobriu uma diversidade natural muito mais exuberante do que a que ele conhecia na Inglaterra. E um dos seus principais trabalhos foi observar e comparar as espécies de animais e de plantas que ele via ao seu redor com os fósseis encontrados de espécies extintas: havia semelhanças e diferenças do passado em relação ao presente, e isso foi uma das chaves para a elaboração da teoria da seleção natural. Darwin olhava para o tempo profundo, da geologia, para aos poucos compreender como se deram as transformações das espécies. No módulo “Brasil”, o visitante é convidado a fazer algo parecido: olhar para os múltiplos tempos que se acumulam sob o presente; e, a partir disso, olhar à sua volta.
Se, por um lado, o recorte no espaço é restrito, por outro, o escopo temporal do módulo é imenso. O percurso pela sala começa com outras eras geológicas: fósseis nativos, de centenas de milhões de anos atrás; passando por exemplares da extinta megafauna do pleistoceno (animais de grande porte, que viviam no Brasil há alguns milhares de anos); por indícios de ocupação humana anterior à chegada dos colonizadores europeus, até desembocar no século 19. Aí, o visitante irá ver um pouco do Brasil que Darwin conheceu: um país que impressionava os viajantes pela natureza diversa, embora o desmatamento já estivesse consumindo a paisagem havia gerações; país onde Darwin pôde aprofundar sua formação como
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viagem no tempo pelo Brasil
Uma
Viajantes no interior da Mata Atlântica, Rio de Janeiro (atribuído). Johann Moritz Rugendas, 1828. Grafite e nanquim sobre papel. Pinacoteca do Estado de São Paulo. Coleção Brasiliana
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jovem naturalista, embora dissesse, ao ir embora, que desejava nunca mais ter de voltar a uma terra onde havia escravidão.
Essas diferentes realidades se sobrepõem no tempo. As amostras de terra, dispostas verticalmente no centro da sala, simbolizam uma temporalidade cumulativa, e não horizontal, consecutiva, como numa linha do tempo convencional. Uma das grandes contribuições de Darwin para a história da ciência foi olhar para os seres vivos distribuídos no tempo, e não só no espaço. Com a imagem de uma grande árvore, Darwin mostra que as espécies se transformam por um acúmulo de pequenas modificações que ramificam, passando de geração em geração, de um indivíduo para outro. O lugar onde você se encontra agora contém, sob seus pés, camadas e camadas de histórias guardadas.
Olhe, escute: por todo o percurso da sala, haverá o acompanhamento sonoro dos improvisos de clarineta e meia-clarineta a partir de cantos de aves brasileiras, do músico Luca Raele. São os sons que um músico pôde imaginar e criar ao escutar esses cantos. Terminado o percurso pela exposição, convidamos o visitante a continuar olhando em volta, para perceber darwinianamente a diversidade de espécies, e os tantos tempos, sons e histórias que existem, assim como aquelas que não existem mais.
Leda Cartum e Sofia Nestrovski
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Caderno de atividades
Se, como eu acredito, minha teoria for verdadeira e se for aceita mesmo que por um único juiz qualificado, será um passo considerável para a ciência.
(Darwin, 1844 em carta para Emma Darwin)
Este material é um convite à reflexão e ampliaç ão dos conteúdos a partir da visita à exposição “Darwin, o original’’.
Considerado o principal pensador sobre evolução da história, Darwin revolucionou as ideias sobre como as espécies surgem e evoluem. Foi em um século de mudanças profundas na pesquisa e tecnologia, que Darwin e outros naturalistas, por meio de longas expedições, propuseram a mais importante das teorias das ciências biológicas.
Diferente de outras ideias sobre evoluç ã o, a teoria proposta por Darwin apoia-se em evidências e explicações plausíveis sobre como o ambiente e as mudanças que nele ocorrem ao longo do tempo, influenciam na origem e diversidade das espécies. Conhecer e refletir sobre suas ideias, bem como de outros atores que influenciaram na construç ão da teoria da evoluç ão, pode nos ajudar a compreender a enorme diversidade da vida na Terra e como os impactos ambientais podem modificar a biodiversidade.
Por meio dos textos, vídeos, imagens e dispositivos interativos, a exposiç ão nos permite conhecer a figura humana que construiu hipóteses de acordo com os pressupostos de sua época, e que veio a se confirmar um dos maiores pensadores de todos os tempos. Mas será que um pesquisador trabalha sozinho? Quem mais contribuiu para a teoria da evoluç ã o e como outros conhecimentos vieram confirmá-la? Neste material buscamos ampliar a reflexão sobre os diferentes atores que contribuíram com ideias e busca de evidências relacionadas à evolução.
Maria Paula Correia, Rodrigo Fernandes e Isabel Gomes
As teorias evolucionistas
As teorias evolucionistas modificaram profundamente as ciências biológicas e a forma como o ser humano se vê no mundo. Charles Darwin foi fundamental para que esta revolução ocorresse. Porém, os cientistas não trabalham isoladamente e fazem parte de um contexto cultural e social. As ideias de Darwin também foram fruto de um tempo e de sua formação.
Charles Darwin
Alfred Russel Wallace foi um naturalista, geógrafo, antropólogo e biólogo britânico. Anônimo (1878 ed. of Natural Selection by A.R. Wallace). Domínio público
“Considerando a severa luta pela existência [...] algumas espécies aumentarão e outras diminuirão; [...] uma diminuiç ão avançada deve conduzir para a extinção . [...] estas mudanças em alguns casos ocorrerão através da variaç ão e seleção natural e, assim, novas variedades ou novas espécies devem ser formadas.” ( Wallace, 1890 p. 115–116)
J.G de Lint (1867-1936). Atlas van de geschiedenis der geneeskunde, Amsterdam: Van Looy, 1925. Domínio público
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Observe a seguir a linha do tempo que descreve eventos ocorridos no período de 1831 a 1862 envolvendo os naturalistas ingleses
Alfred Russel Wallace e Charles Darwin .
1827 – foi fundado o Imperial Observatório do Rio de Janeiro para pesquisa em astronomia, geodé sia e estudos geográficos do território brasileiro.
1832 – Darwin chega ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo, primeira localidade do Brasil por ele visitada. Após alguns dias o HMS Beagle aporta em Salvador.
1831 – Darwin parte em expedição a bordo do HMS Beagle .
1831 – O inglês Michael Faraday inventa um método de Induç ão Eletromagnética, essencial para o desenvolvimento do motor elétrico.
1836 – Darwin retorna à Inglaterra após expediç ão a bordo do HMS Beagle .
1838 – o alemão Moritz Hermann Von Jacobi desenvolve um motor elétrico, utilizando-o em um bote.
1938 – É fundado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).
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1827
1831
1832 1836
1838
1848 – Wallace parte da Inglaterra para expedição à Amazônia.
1840 – foi publicado o 1º dos 15 volumes de “Flora Brasiliensis” por Carl F. P. von Martius, August W. Eichler e Ignatz Urban, com a descrição taxonômica de inúmeras espécies.
1852 – Wallace retorna à Inglaterra após expedição à Amazônia. Na volta à Europa ocorre acidente com o navio no qual se perdem diversas espécies coletadas e anotações.
1855 – Wallace escreve o primeiro artigo sobre sua teoria evolutiva.
1840 1848
1850 1852
1855 1854
1850 – Darwin começa a escrever uma versão ampla de sua teoria evolutiva.
1850 – A Lei Eusébio de Queiroz determinou a extinção do tráfico de africanos escravizados no Brasil; entretanto, a abolição da escravidão veio a ser declarada apenas em 1888.
1854 – Wallace parte da Inglaterra em expediç ã o ao Arquipélago Malaio.
1854 – Foi desenvolvida a lâmpada incandescente pelo alemão Heinrich Göbel e tamb ém o telefone, invenção do italiano Antonio Meucci.
1854 – a primeira estrada de ferro do Brasil foi inaugurada pelo Barão de Mauá.
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1858 (fev) – Wallace envia a Darwin artigo com alguns de seus estudos sobre evolução.
1858 (jun) – Darwin escreve assombrado a seu amigo, o geólogo escocês Charles Lyell, afirmando que o artigo de Wallace parece um excelente resumo do seu próprio trabalho.
1865 – Gregor Mendel apresenta suas ideias sobre hereditariedade, pouco difundidas na época. “Redescobertas” no início do s é culo XX, s ão essenciais para explicar os mecanismos pelos quais a seleção natural opera.
1858 (jul/ago) – Relato dos trabalhos de Wallace e Darwin foram lidos na Linnean Society de Londres . Logo após, os dois trabalhos foram publicados na revista da mesma Sociedade.
1858 1859 1862 1865 1866
1859 – Publicaç ã o de “A Origem das Espécies” por Darwin (23 anos após a expedição a bordo do Beagle).
1862 – Wallace retorna à Inglaterra da expedição ao Arquipélago Malaio.
1866 – foi fundado no Brasil o Museu Paraense Emílio Goeldi.
D é cadas posteriores – publicação de outras obras de Darwin e Wallace com ideias mais claras e abrangentes sobre o princípio da seleção natural .
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Eu nunca vi uma coincidência mais marcante. Se Wallace tivesse o meu esboço escrito em 1842 não poderia ter feito um resumo melhor! Darwin em carta a Lyell, Jun 1958
Vamos refletir? É possível que a teoria da evoluç ão tenha sido formulada por apenas um cientista?
Podemos observar que determinados nomes se sobressaem, dando a impressão de que grandes descobertas partem de uma única “mente brilhante”. Mas, a prática científica não é obra da genialidade de um único pesquisador.
A Ciência é uma prática colaborativa: o caso do vírus da Hepatite C
A colaboração entre cientistas leva a resultados importantes. Exemplos disto podem ser encontrados dentre os ganhadores dos Prêmios Nobel, que comumente são compartilhados. O Prêmio Nobel de Medicina de 2020 foi recebido por três cientistas, os biólogos Michael Houghton e Charles M. Rice e o médico Harvey J. Alter, pela descoberta do vírus da Hepatite C . Os pesquisadores s ã o provenientes de dois países (Estados Unidos da América e Reino Unido), de três Universidades e contribuíram de maneiras distintas para a descoberta.
1. Alter e colaboradores foram pioneiros, constatando nas pesquisas de transmiss ão do vírus por meio de transfusões de sangue uma forma nova e diferente de hepatite viral crônica. A doença ficou conhecida como hepatite “não A, não B”.
2. Houghton e seus colegas realizaram o trabalho de isolar as sequências genéticas de partes do vírus causador desta nova hepatite, identificando-o como um Flavivirus . Porém, faltava uma parte essencial do quebra-cabeça: o vírus, sozinho, poderia causar a hepatite?
Além do Beagle, outras expedições que marcaram nossa história
A viagem realizada por Wallace, em 1848, à Amazônia foi fundamental para o desenvolvimento de sua teoria da evolução. Ao longo de quatros anos Wallace percorreu o Norte do Brasil, investigando a diversidade de animais e plantas e sua relação com o ambiente.
Além de coletar e classificar espécimes, Wallace apresentava vocação para a produção de desenhos e mapas com bastante precisão, tornando-se um dos primeiros a produzir um mapa do Rio Negro e seus afluentes:
The Nobel Committee for Physiology or Medicine. Ilustração de Mattias Karlén
3. Foi esta a pergunta que Rice e sua equipe responderam positivamente, fazendo a ligaç ão categórica entre o vírus descrito por Houghton e a doença revelada por Alter. A descoberta do vírus da Hepatite C possibilitou o desenvolvimento de exames diagnósticos e medicamentos que salvam milhões de vidas.
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Anticorp os
Hepatite
Vírus da Hepatite C
Mapa do Rio Negro realizado por Wallace, entre 1851 e 1852.
George Beccaloni, The Wallace Memorial Fund
A Cartografia é a disciplina que lida com a arte, ciência e tecnologia de se fazer e usar mapas. Ele é uma imagem produzida a partir do trabalho criativo para representar uma realidade geográfica , determinando características de uma área a critério do cartógrafo. Com o desenvolvimento científico, habilidades manuais e artísticas foram substituídas pelas atuais tecnologias de alta precisão de imagens via satélite, transmissão de dados e geolocalização.
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Pense no trajeto que você percorreu de sua casa até a exposição. De que maneira você pode mensurar esses dois pontos? Como representar esse trajeto para que outras pessoas pudessem utilizar para percorrer o mesmo caminho?
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“Um Novo Mundo” – a exploração de uma terra incógnita e os saberes em convivência
Ao visitar a exposiç ão e ler este material você conhecerá pesquisadores que, por meio de suas investigações, colaboraram para o desenvolvimento da ciência, no entanto, você já parou para refletir que os povos indígenas também concebiam a sua própria maneira as formas de vidas e existências na natureza?
As concepções indígenas de “natureza” são bastante variadas, pois cada povo possui formas distintas de conceber o ambiente e de se relacionar com ele. No entanto, a ideia do ser humano como parte integrante da natureza e, em constante relação, parece algo comum para muitas das concepções indígenas.
Essa inter-relação aparece nas palavras de Davi Kopenawa, líder e xamã Yanomami:
“O que vocês chamam “natureza” é, na nossa língua, urihi, a terra-floresta, e sua imagem utupê vista pelos xamã s: urihinari a. É porque existe essa imagem que as árvores s ã o vivas. O que chamamos de urihinari a é o espírito da floresta, das suas árvores: huu tihiripê , das suas folhas: yaa hamaripê, e dos seus cipós: t´ot’ oxiripê. Esses espíritos são muito numerosos e brincam no seu chão (...). Para nós, a “natureza” é Urihi, a terra-floresta, é tamb ém os espíritos xapirepê que nos foram dados por Omama [o criador]. A floresta nã o existe sem raz ã o. Os xapirepê vivem nela e Omama quis que protegêssemos suas moradas.”
Pintura de Denilson Baniwa. Aquela gente que se transforma em catitu. Acrílica sobre tela. 2018. Galeria Pivô
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No Brasil, o s é culo XIX foi marcado por expedições científicas que exploraram o território em busca de descobertas que contribuíssem para o desenvolvimento da ciência da nação. Entre os naturalistas, havia o artista viajante , que fazia a produç ão de imagens para os relatos de viagem, traduzindo o “Novo Mundo” para os europeus. Essas representações não devem ser analisadas apenas impressões individuais sobre as viagens, mas parte de pesquisa histórica, sociológica e científica .
Missão Artística Francesa
Essa viagem foi chefiada por Joachim Lebreton, intelectual francês que recebeu de D. João VI a missão de criar a Academia de Ciências, Artes e Ofícios , que se tornou a Academia Imperial de Belas Artes . Em março de 1816, o navio Calpe aportou no Rio de Janeiro com outros artistas, intelectuais, engenheiros e naturalistas, com destaque para Jean Baptiste Debret.
Debret desempenhou inúmeras atividades, as mais importantes em sua carreira foram de pintor, desenhista e professor da Academia Imperial de Belas Artes. Seus registros s ã o marcados pela representação da paisagem nacional e pelo olhar atento à sociedade, detalhando aspectos da cultura no século XIX.
De volta à França, em 1831, publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil , um dos principais registros da natureza, povos nativos e das relações sociais da época.
Joachim Lebreton (1760 – 1819)
Adélaïde Labille-Guiard. Domínio público
Jean Baptiste Debret (1768 – 1848)
Autoretrato. Domínio público
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Expedição Langsdorff
Viagem exploratória científica ao interior do Brasil chefiada pelo médico e naturalista Georg Heinrich von Langsdorff, radicado no país desde 1813. Ele contratou o artista alemão Johann Moritz Rugendas para acompanhá-lo na expedição, juntamente com outros pesquisadores e cientistas. Percorreram o interior de Minas Gerais entre os anos de 1824 e 1825, no entanto, as personalidades conflitantes de Langsdorff e Rugendas fez com que o artista fosse desligado da expediç ão, cedendo lugar aos franceses Hercule Florence e Aimé -Adrien Taunay. Entre 1825 e 1829 percorreram cerca de 17 mil km, do Tietê, em S ão Paulo, Cuiabá, até Belém do Pará.
Foi desenvolvido um extenso registro da fauna, flora e dos povos nativos , entre os anos de 1825 a 1829, com manuscritos, desenhos, aquarelas, mapas, esp é cies minerais, herbários, animais empalhados, registros de línguas indígenas e
Georg Heinrich Freiherr von Langsdorff (1774 – 1852)
Hércules Florence. Domínio público
Johann Moritz Rugendas (1802 – 1858)
Hércules Florence. Domínio público
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Jean Baptiste Debret. Castigo de escravo. 1834/1835 – 1839. Wikimedia Commons
Jean Baptiste Debret. Família de um chefe Camacan se preparando para um banquete. 1835. Wikimedia Commons
correspondências. Tamb ém fazem parte deste acervo os diários de Langsdorff, que revelam detalhes sobre os costumes e a língua de povos indígenas como os Apiacá, Mundurucu e Guaná.
Saiba mais
Hercule Florence, Ilustraç ão sem título. 1827.
Wikimedia Commons
Johann Moritz Rugendas, Índios em uma fazenda em Minas Gerais. 1824.
Wikimedia Commons
Leia o código QR e conheça o percurso da expedição e navegue pelos pontos para obter diferentes informações sobre a expedição Langsdorff.
Quer conhecer mais sobre outras expedições do s é culo XIX? Visite a exposiç ão digital “Spix e Martius: uma viagem pelo brasil, 1817 – 1820”, acesso pelo código QR.
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O que é esse bicho?
Você já ouviu falar de bestiário? Criados na Idade Média, os bestiários s ão coleções de textos e imagens de seres dos mais diversos tipos, existentes na natureza e fantasiosos. Mais relacionados a elementos simbólicos do que científicos, com mensagens morais e a diversidade de objetos que encantava os viajantes, os bestiários povoavam a imaginação daqueles que os liam. A partir dos relatos a seguir, você conseguiria identificar qual é o animal descrito? Será que ele existe ou é imaginário?
1ª Dica – “[...] é do tamanho de um grande macaco africano e seu ventre se arrasta pelo chão. Tem a cabeça e a face quase iguais à de uma criança [...] Tem apenas três unhas nos p é s de quatro dedos, e elas têm a forma de grandes espinhas de carpa, com as quais escala as árvores. [...] Sua cauda mede três dedos de comprimento e quase não tem pelos.” (Trechos de “As singularidades da França Antártica’’, André Thevet, frade franciscano francês, 1557)
2ª Dica – “[...] é do tamanho de um grande c ão d’água e sua face é como a de um macaco, se aproximando da do homem. Seu ventre pende como o de uma porca prenha, o pelo é cinza esfumaçado, como a lã da ovelha negra, a cauda é curta, as pernas peludas como de um urso e as garras muito longas. [...] nunca um homem, nem na mata, nem em casa viu esse animal comer, de tal maneira que alguns estimam que viva do vento.” (Trechos de “História de uma viagem feita na terra do Brasil”, Jean de L éry, missionário francês, 1578)
3ª Dica – “[...] não há fome, calma, frio, água, fogo, nem outro nenhum perigo que veja diante, que o faça mover uma hora mais que outra; [...] As fêmeas parem uma só criança, e trá-la desde que a pare ao pescoço dependurada pelas mãos, até que é criada e pode andar por si;” ( Trechos de “Tratado descriptivo do Brasil”, Gabriel Soares de Sousa, explorador português, 1587)
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Xilogravura de Marcello Grassmann
Wikimedia Commons
Xilogravura de Marcello Grassmann, parte de Bestiario: trechos do Tratado descritivo do Brasil em 1587, de Gabriel Soares de Sousa.
Wikimedia Commons
A partir dos relatos dos viajantes acima, desenhe este animal! Atente-se aos detalhes das descrições e mostre seu desenho aos seus colegas.
Será que eles conseguem identificar que bicho é esse?
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Crie seu relato!
Escolha um animal de sua preferência, mas não revele qual foi sua escolha. Agora liste as principais características e descrições deste bicho. Apresente aos seus colegas e peça para que eles criem imagens a partir do seu relato. Deixe para contar qual é o animal só no final!
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Visões mais amplas: intercâmbios com as Geociências
Durante a expediç ão a bordo do Beagle, Darwin recebeu de seu amigo e geólogo Charles Lyell, o livro “Princípios da Geologia”, que propunha ideias transformadoras para a Geologia daquela época. Influenciado por elas, Darwin passou a conceber um mundo biológico em evolução lenta e constante.
O intercâmbio de informações entre Darwin e Lyell foi intenso e duradouro. Os amigos e cientistas trocaram aproximadamente 200 cartas ao longo de 37 anos, entre 1837 e 1874.
Wallace é considerado fundador da Biogeografia. Durante a sua expedição ao Arquipélago Malaio (localizado entre o Sudeste Asiático e a Austrália), ele percebeu grandes diferenças entre a fauna da porção ocidental e oriental do local. De um lado, animais tipicamente asiáticos e do outro animais mais semelhantes aos australianos.
Porque em locais com condições ambientais semelhantes, nem sempre encontramos um conjunto de esp é cies tamb é m semelhantes?
A divisão do Arquipélago Malaio, baseada na distribuição da fauna, foi nomeada como “Linha de Wallace”. O naturalista investigou as causas para este arranjo peculiar das espécies, concluindo ser ocasionado por fatores geológicos e geográficos, padrões migratórios, competição entre espécies, dentre outros. As espécies de um lado da linha não se comunicam com as do outro lado e, assim, a evolução segue o seu curso por caminhos diversos.
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Observe o mapa a seguir e as fotos de alguns exemplares da fauna do Arquip é lago Malaio. A qual localizaç ão Biogeográfica cada um pertence? Oriental ou Ocidental?
Disponha os números correspondentes a cada animal no mapa , de acordo com o que você acredita ser o mais correto.
Linha de Wallace
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Mapa do Arquipélago Malaio. Adaptado de Gunnar Ries. Domínio público
Ocidental Ocidental
Frugívoro
(7) Tarsius (8) Morcego
(3) Cacatua (5) Ailurops
Lado Oriental:
(4) Rinoceronte (6)Leopardo
(1) Orangotango (2) Elefante
Lado Ocidental:
cada uma destas cies:éesp
Agora, conheça onde habita
1 – Orangotango
Thomas Fuhrmann
Oriental
Linha de Wallace
3 – Cacatua
JJ Harisson
5 – Ailurops
Sakurai Midori
2 – Elefante
Kusuma Wijaya
4 – Rinoceronte
Aditya Pal
6 – Leopardo
Spencer Wright
Oriental
7 – Tarsius
Sakurai Midori
8 – Morcego Frugívoro
Klaus Rudloff
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Mulheres expedicionárias e cientistas mulheres
A expediç ão do navio Beagle teve um papel crucial na obra de Darwin. O trabalho de campo era parte importante da vida de um naturalista. É importante lembrar que esse era um espaço basicamente ocupado por cientistas homens. Era raro que mulheres fossem naturalistas. No entanto, algumas mulheres traçaram percursos notáveis. Vamos conhecer uma dessas histórias?
Maria Sibylla Merian (1647-1717) foi uma naturalista e pintora alemã , com interesse particular por entomologia e botânica. Os seus primeiros quadros foram pintados quando tinha apenas treze anos de idade.
Em 1699, viajou com sua filha, em expedição ao Suriname, e lá ficou por mais de dois anos. Como resultado, publicou Metamorphosis Insectorum Surinamensium, onde retratou, de forma in é dita, a reproduç ão e o desenvolvimento de insetos e plantas, coletados durante a expedição.
Retrato de Maria Sibylla Merian
Jacob Marrel. Domínio público
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A observaç ão é uma característica comum aos naturalistas, cientistas e outros pesquisadores. Observe com atenç ão os desenhos de Maria Sibylla Merian e encontre os detalhes a seguir:
Gravura de Metamorphosis insectorum Surinamensium, placa XLIII. “Aranhas, formigas e beija-flor num galho de goiaba”, 1705
Wikimedia Commons
Tulipa, lagartas e uma mariposa.
Aquarela. S/D
Wikimedia Commons
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Assim como eram raras as mulheres que participavam ou lideravam uma expedição no tempo em que Darwin viveu, poucas delas conseguiam acessar a educação em ciências. Dificilmente elas integravam os meios acadêmicos mais importantes no século XIX. Contudo, realizavam trabalho importante em diversas áreas. Vamos conhecer duas pesquisadoras dessa época e que se corresponderam com Darwin?
Antoinette L. Brown Blackwell (1825–1921) nasceu em Nova York e estudou Teologia na universidade, porém, por ser mulher, não pôde se graduar formalmente. Foi a primeira mulher ordenada ministra de uma igreja reconhecida nos EUA e sua formação incluiu os campos da filosofia, ciências sociais e naturais. Blackwell publicou diversos artigos de cunho feminista e oito livros um dos quais, “Estudos em Ciências Gerais” enviou a Darwin em 1869.
Schlesinger Library, RIAS, Harvard University. Domínio público
Lydia E. Becker (1827–1890) foi uma líder do movimento sufragista, que reivindicava o direito das mulheres de votar. Ela era uma renomada naturalista, especializada em botânica, além de astrônoma. Fundou o grupo de caráter educacional “Sociedade Literária das Senhoras de Manchester”, com o qual Darwin contribuiu enviando artigos seus para estudo. Os dois cientistas colaboraram também com trocas de informações a respeito de espécimes botânicos pesquisados por Becker. Em 1864, publicou o livro especializado no tema, “Botânica para Iniciantes”.
Warwick Brookes, 1890. Domínio público
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As cientistas do século XIX trabalhavam em ambientes predominantemente masculinos e conviviam com preconceitos de vários tipos. É interessante refletir: alguns destes preconceitos ainda prevalecem em nossa sociedade? É comum vermos ambientes de trabalho dominados por apenas um ou outro gênero?
Será que o tempo está passando mais rápido?
A realidade dos cientistas do s é culo XIX era bem diferente da nossa em vários aspectos. Imagine um mundo em que tudo ocorria de forma mais vagarosa, quando a principal forma de comunicação interpessoal a distância eram as cartas. A famosa expediç ão de Darwin teve duração total de cerca de 5 anos.
Com o advento da Internet, nos encontramos agora na “Era da Informação”. E para alguns de nós, há a sensação de que o tempo passa cada vez mais rapidamente.
Vamos conhecer alguns meios de transporte e comunicação do séc XIX e compará-los com alguns mais recentes?
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O avião é uma invenç ão do início do século XX.
Em 1819, o primeiro navio a vapor (Savannah) cruzou o Atlântico, partindo dos EUA e chegando à Inglaterra 24 dias depois. Velocidade de cruzeiro = 20 nós = 44,5 km/h
A bordo do Beagle, Darwin partiu da Inglaterra em dezembro de 1831 e só chegou à primeira parada, no Brasil, em fevereiro de 1832.
Em 2021, uma viagem de avião de Londres a São Paulo, sem escalas, dura cerca de 11 horas. Velocidade de cruzeiro de um aviã o a jato = cerca de 900 km/h.
Na Década de 1930, os telé grafos elé tricos modernizaram as comunicações enviando em alguns minutos mensagens curtas a quilômetros de distância.
Telégrafo séc XIX
Juan Miguel Darco
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(1) 14 bis – Jule Beau. Domínio público. (2) Savannah – Pintura de Hunter Wood. Domínio público. (3) Beagle – Robert Taylor Pritchett. Domínio público (4) Avião – Jean-Philippe Boulet. Creative commmons
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Pony Express, 1860
Richard Frajola, Domínio público
Em 1845, eram necessários cerca de seis meses para uma carta chegar da costa leste dos Estados Unidos à Califórnia. A inovadora empresa “Pony Express”, em 1860, passou a fazer o mesmo serviço em cerca de 10 dias, utilizando-se de cavalos . Em 2021, é possível enviar uma encomenda da Califórnia à Nova Iorque em aproximadamente 15 horas , por via aérea.
Em 1969, uma Internet ainda rudimentar surge nos EUA como tecnologia de comunicação entre laboratórios universitários. Nos anos 80, começa a ser aprimorada, para posteriormente se popularizar, modificando radicalmente a forma como o ser humano se comunica. Hoje a nossa capacidade de armazenar, compartilhar e acessar dados é sem precedentes.
A junção de memória e processamento no mesmo chip imita a forma como o cérebro humano funciona.
EPFL/LANES via engenhariacompatilhada.com.br
Reflita: Quais os impactos que uma maior velocidade na troca de informações pode trazer à produção científica? E à nossa vida cotidiana?
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A ciência é uma prática essencialmente colaborativa e Darwin se correspondia frequentemente com seus colegas pesquisadores. Ao longo de sua vida, ele escreveu mais de 1800 cartas. E você, já escreveu alguma carta à mão? Se pudesse escrever à Darwin o que lhe diria? Use o espaço abaixo e aproveite esta oportunidade!
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Devagar e sempre ou em saltos?
Você sabia que a evolução não ocorre sempre na mesma velocidade? Ela pode levar mais ou menos tempo, dependendo de cada espécie, de fatores ambientais, reprodutivos, entre outras condições.
Frequentemente, só percebemos os efeitos da evolução após muitas e muitas gerações. Porém, o tempo decorrido entre cada geração varia de espécie para espécie. Veja a seguir alguns exemplos.
BACTÉRIAS
(Escherichia coli )
Tempo de reprodução:
20 MINUTOS
Rocky Mountain Laboratories, NIAID, NIH. Domínio pùblico
CHIMPANZÉ
Expectativa de vida na natureza
35 ANOS
Herusutimbul. Creative commmons
EPHEMEROPTERA (fase adulta)
Expectativa de vida na natureza
1 a 2 MESES
Frederico F. Salleso. Creative commons
TUBARÃO DA GROENLÂNDIA
Expectativa de vida na natureza
4 SÉCULOS
NOAA Okeanos Explorer Program, Domínio público
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Note que as bactérias podem acumular mudanças ao longo das gerações de forma muito mais rápida do que os tubarões da Groenlândia.
O tempo é um fator fundamental para o pensamento Darwinista, uma vez que sua teoria parte do princípio de que a evolução é um fenômeno lento e gradual. A seleç ão natural atua no tempo, em uma escala diferente do nosso cotidiano e bem maior do que o de uma árvore genealógica familiar. Posteriormente, Darwin admite que a evolução também pode se dar “em saltos”, ou seja, a partir de mudanças mais abruptas.
A importância da biodiversidade para a construção da teoria da evolução
“O dia transcorreu deliciosamente. Delícia, no entanto, é termo insuficiente para dar conta das emoções sentidas por um naturalista que, pela primeira vez, se viu a sós com a natureza no seio de uma floresta brasileira. A elegância da relva, a novidade das plantas parasitas, a beleza das flores, o verde vivo das ramagens, e acima de tudo,a exuberância da vegetação em geral me encheram de admiração [...] Tão intenso é o zumbido dos insetos que pode perfeitamente ser ouvido de um navio ancorado a centenas de metros da praia. (...)”Darwin, 1839, “A viagem do Beagle”, Tradução nossa.
Vale da Serra do Mar Jean-Baptiste Debret entre 1834 e 1839.
Acervo da Biblioteca
Brasiliana
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A grande quantidade de espécies encontrada por Darwin quando o navio Beagle chegou aos trópicos o causou deslumbramento. Mais do que isto, a observação da biodiversidade foi essencial para que Darwin questionasse a origem das esp écies. Em outras palavras: como teria surgido tamanha variedade de seres vivos? Quantos deles est ão retratados na pintura de Debret?
Efeito Darwin
A teoria da evoluç ão, apesar de sua importância, não foi o único legado de Darwin para a humanidade. Como cientista ele atuou em diversas áreas. No âmbito das Geociências, por exemplo, foi pioneiro ao elaborar um mapa geológico da Patagônia. Em relação à biodiversidade e suas aplicações, Darwin foi visionário para a sua época. Ele sugeriu que plantas de espécies e de idades diferentes, quando cultivadas juntas, crescem com mais força do que quando plantadas individualmente. Em termos mais atuais, os ecossistemas com maior biodiversidade tendem a ser mais resilientes.
Recentemente, as ideias de Darwin foram retomadas por cientistas de vários países para aplicaç ão no reflorestamento. As florestas capturam gases do efeito estufa e são muito importantes para minimizar os efeitos das mudanças climáticas globais. As contribuições de Darwin para a ciência seguem reverberando até os dias de hoje.
Os discos da direita de cada imagem (A e B) comprovam que o crescimento das árvores é mais rápido quando plantadas em florestas com maior diversidade.
Rob MacKenzie e Christine Foyer. Creative commons
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SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO
Administração Regional no Estado de São Paulo
Presidente do Conselho Regional
Abram Szajman
Diretor do Departamento Regional
Luiz Deoclecio Massaro Galina
Superintendentes
Técnico-social
Rosana Paulo da Cunha
Comunicação Social
Aurea Leszczynski Vieira Gonçalves
Administração
Jackson Andrade de Matos
Assessoria Técnica e de Planejamento
Marta Raquel Colabone
Artes Visuais e Tecnologia Juliana Braga de Mattos Estudos e Desenvolvimento João Paulo
Guadanucci Educação para Sustentabilidade e Cidadania Denise de Souza Baena Segura Artes
Gráficas Rogério lanelli Difusão e Promoção Ligia
Moreira Moreli Assessoria Jurídica Carla Bertucci
Barbieri Assessoria de Relações Internacionais
Heloisa Pisani Sesc Santo André Cristiane Ferrari
Equipe Sesc
Alcione Muzel, Cristiane Isidio, Fábio Vasconcelos, Fabíola Tavares Milan, Guilherme Luiz de Carvalho, Jefferson Alves Leite dos Santos, Juliana Okuda
Campaneli, Karina Camargo Leal, Kevin Marques, Laís Silveira de Jesus, Leonardo Nicoletti, Melina Izar Marson, Milena Prinholato, Nádia Almansa, Pablo Perez Sanches, Sandro Piscitelli Vidigal, Silvan Oliveira, Silvia Hirao, Silvio Basílio, Simone Gomes
Gonzalez, Suellen de Sousa Barbosa e Tina Cassie
DARWIN, O ORIGINAL
Curadoria Éric Lapie, Astrid Aron e Christelle
Guiraud Estagiária Astrid Fontaine Curadoria
Científica Guillaume Lecointre Comitê
Científico e Cultural Jean-Pierre Gasc, Béatrice Grandordy, Daniel Goujet, Georges GuilleEscuret, Thierry Hoquet, Emmanuelle Javaux, Francesca Merlin, Sarah Samadi, Laurence Talairach-Vielmas, Patrick Tort
Projetistas Réza Azard, Hervé Bouttet, Daniel Mészáros Assistente Clara BombledMarcandella Cenografia Thomas Bouchet, Simon Genillier Design Gráfico WA75, Laurent Mészáros, Yorel Cayla Iluminação Abraxas
Concept, Philippe Collet Infográficos Emmanuel
Perotti Recursos Sonoros Sacha Gattino, JeanJacques Birgé Desenho e animação de pombos
Renaud Chabrier Som Ambiente Frédéric Salles
Direção dos filmes Pascal Goblot e Philippe
Dorison Telas de espera Emmanuel Perotti Filme
Uma encosta de vegetação emaranhada Direção
Paule Sardou Som Frédéric Salles
Curadoria Módulo Brasil Leda Cartum, Sofia
Nestrovski Consultoria Científica Flávia Natércia da Silva Medeiros Projeto Expográfico Prima
Arquitetura – Francisco Guedes Design Gráfico
Cassia Buitoni Cenografia E Ilustrações
Geninho, Ian Galvão, Ieda Romero Trilha Sonora Luca Raele – gravado no estúdio ybmusic
Produção Ponto de Produção Ltda.
Coordenação Geral de Produção Patricia
Galvão Produção Executiva Sueli Nabeshima, Maurício Belfante Adaptação Expográfica
Prima Arquitetura – Francisco Guedes Design
Gráfico Cássia Buitoni, Silvia Amstalden
Montagem Expográfica Metro Cenografia, Jair
Nicodemo Iluminação Wagner Freire – Stage –Armazém da Luz Montagem Multimídia Images
Projetores Montagem Eletricidade Augusto
Vicente Costa Pintura Artística Geninho, Ian Galvão, Ieda Romera Impressão Digital Water
Vision Comunicação Visual Tradução Liana do Amaral Edição e Revisão de Textos Verbo
Virtual – Luciana Medeiros Gravação de Vozes
Alma 11 11 Áudio Music Vozes Brasileiras
Veridiana Toledo, Leda Cartum, Sofia Nestrovski
Transporte Internacional Fink Mobility Seguro
Essor Seguros S.A. – Corretora Howden
insurance Brasil Assessoria Jurídica Henrique
Galvão, Patrícia Galvão Ação Educativa Percebe
Agradecimentos
Museu da Cidade (Campinas), Museu de História Natural de Campinas, Instituto Moreira Salles, Pinacoteca de São Paulo, Museu de Geociências da Universidade de São Paulo, Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, Adriana Barão, Eduardo Neves, Felipe Brocanelli, Fernanda Pitta, Fred Ferreira, Isabel Pagano, Luccas Longo, Marcos Cartum, Miriam Della Posta de Azevedo, Nat ália Almeida, João Bandeira, Paula Nishida, Joaquim de Oliveira Pinto Neto – Quindó, Valéria Piccoli
Agradecimentos Universcience
Evelyne Heyer (Museu Nacional de História Natural, Museu do Homem), Frédéric Thomas (Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento, Mivegec Montpellier), John van Wyhe (The Complete Work of Charles Darwin Online, http://darwin-online.org.uk), The Victorian Web (victorianweb.org), Christophe Gottini (Museu Nacional de História Natural), Kim Nguyen-BaCharvet (Institut de la vision), Eric Quéinnec (Universidade Paris 6) Jean-Guy Michard
(MNHN), Christine Argot (MNHN), Guillaume Billet(MNHN), Jean Gayon (Instituto de História e de Filosofia das Ciências e Tecnologias), Serge Regnault (Museu de História Natural de Nantes), Gabriel Carlier (MNHN), Christophe Gottini (MNHN), Olivier Brosseau, Mathias Girel (ENS Ulm), Yacine Gouaref, Cédric Grimoult, Dominique Guillo (GEMASS e CRESC), Philippe Huneman (Instituto de História e de Filosofia das Ciências e Tecnologias), Guy Lengagne, Laurent Loison (DHVS), Régis Meyran, Jullien Peccoud, (CORTECS)
Fontes das citações no módulo Brasil: Alexander von Humboldt, Voyage aux régions équinoxiales du nouveau continent, fait en 1799, 1800, 1801, 1802, 1803, et 1804. Paris, Librairie Grecque Latine Allemande, 1816. Trad. da curadoria.
Alfred Russel Wallace, Viagens pelo Rio Negro e o Amazonas. Trad. desconhecida. Edições do Senado Federal, vol. 17. Brasília: 2004. Charles Darwin, A origem das espécies. Trad. Pedro Paulo Pimenta. Editora Ubu, São Paulo: 2018.
Charles Darwin, A viagem do Beagle. Trad. da curadoria.
Paul Harro-Harring, relato pessoal em The African Colonizer. Trad. disponível em “Paul Harro-Harring”, www.ims.com.br
Exposição organizada e concebida pela Universcience, em colaboração com o Museu Nacional de História Natural da França. Realizada originalmente na Cité des sciences e de l’industrie, em Paris, no período de 15 de dezembro de 2015 a 31 de julho de 2016.
Realização no Brasil: Sesc São Paulo. Apoio: Embaixada da França no Brasil.
Darwin, o original
15 de março a 13 de agosto de 2024
Terça a sexta, 10h30 às 21h
Sábados, domingos e feriados, 10h30 às 18h
Grátis Agendamentos
Terças, 15h30 às 16h30 | 19h30 às 20h30
Quartas, 9h30 às 10h30 | 15h30 às 16h30 | 19h30 às 20h30
Quintas, 9h30 às 10h30 | 15h30 às 16h30 | 19h30 às 20h30
Sextas, 9h30 às 10h30 | 15h30 às 16h30
Visita mediada à exposição para público espontâneo da unidade.
Sábados e domingos, 14h às 15h | 16h às 17h
Agendamentos: https://form.jotform.com/sescsaopaulo/darwin-o-originalsesc-santo-andre | E-mail: agendamento.santoandre@sescsp.org.br
idealizaç ão
em colaboraç ão com
apoio
patrocínio
realizaç ão
Sesc Santo André
Rua Tamarutaca, 302
Tel.: 11 4469-1200
/sescsantoandre
sescsp.org.br