DEPOIMENTO
ZEZÉ MOTTA
A dona
da voz
CANTORA E ATRIZ, ZEZÉ MOTTA DESAFIOU PRECONCEITOS, RECEBEU PRÊMIOS E HOJE CELEBRA MAIS DE 50 ANOS DEDICADOS À ARTE Neste mês, a Rainha Negra – alcunha que recebeu pelo pioneirismo na luta antirracista no país – completa 77 anos, esbanjando a mesma vitalidade e bom humor que a acompanharam ao longo de mais de meio século de carreira. Batizada Maria José Motta de Oliveira, Zezé nasceu em Campos dos Goytacazes (Rio de Janeiro) em 1948 e começou a carreira de atriz em 1967 estrelando a peça Roda viva, de Chico Buarque, sob direção de José Celso Martinez. Dez anos depois, ficaria para sempre reconhecida pela personagemtítulo em Xica da Silva (1976), premiado longa-metragem de Cacá Diegues. Poucos sabem, mas desde a década de 1970 a artista já se dedicava à música, linguagem na qual também mostra seu talento e versatilidade com o show Coração Vagabundo – Zezé canta Caetano. Realizado pela primeira vez em 1990, o espetáculo ganhou nova roupagem e foi apresentado em maio passado no Sesc Pompeia, com participação da cantora Daúde. No palco, a artista volta a interpretar um de seus cantores e compositores do coração. O mesmo que, aliás, tomou-a de inspiração para compor a canção “Tigresa”, do álbum Bicho, de 1977. “Eu tenho uma coisa pelo Caetano e, apesar de sermos amigos, eu ainda tenho essa coisa de idolatria com ele. E quando eu soube que ele poderia ter feito ‘Tigresa’ para mim, eu não acreditei. Eu morro de vergonha, mas é real”, conta ela. Além da verve musical, Zezé Motta se mantém ativa em programas na televisão, séries em plataformas de streaming sob demanda ou escrevendo colunas em revistas. Neste Depoimento, a atriz e cantora fala à Revista E, do seu camarim, sobre longevidade, racismo e sonhos.
70
SOBRENOME VERSATILIDADE
MUSA DO MUSO
As pessoas me perguntam muito como é que eu dou conta de tantos projetos. Não tem muito mistério, mas claro que tem um segredo: disciplina e uma boa equipe. Esse show, em que eu interpreto canções de Caetano Veloso, veio de uma ideia que surgiu há muito tempo. Acho que há três anos, eu tinha feito só um show e fiquei apaixonada pelo projeto, mas, por algum motivo, ele não aconteceu. Aí, depois, programamos e chegou a pandemia. Agora que as coisas estão se acalmando, estou retomando esse sonho antigo.
Eu tenho uma coisa pelo Caetano e, apesar de sermos amigos, eu ainda tenho essa coisa de idolatria com ele. E quando eu soube que ele poderia ter feito “Tigresa” para mim, eu não acreditei. Eu morro de vergonha, mas é real. Até que três anos atrás, ele deu uma entrevista para O Globo confirmando que a “Tigresa” sou eu. Mas eu me lembro que assim que ele fez, ele dizia que era Sônia Braga, Dedé… Até se confirmar.