A arquitetura poLĂ?tica
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O QUE HÁ DE LINA... Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc São Paulo
Como pode um profissional que lida com o espaço prender-se a unicidades ou monotonias? Nesse sentido, é comum vermos arquitetos que voejam por variados campos, ambulando em mergulhos dos traços dos desenhos aos desejos das ciências sociais, das belas-artes à edificação de indústrias, das certezas dos números às subjetividades das diversidades culturais. Isso porque, quando nos atemos ao espaço, deparamo-nos com uma infinidade de possibilidades que transitam pelos mais variados e inusitados encontros. Quando pensamos em espaço, sabemos que se trata, em sua expressão mais vigorosa, de território, e que tal conceito se espalha pelas mais diferentes matérias e compreensões do mundo. Invariavelmente, nós o habitamos, por ele passamos e dele nos esquecemos, mas sempre marcados por sua presença. Tanto que até invisível ele se torna, se o arquiteto assim o deseja, no maravilhoso engodo de não nos pertencer ao mesmo tempo em que nos envolve. Por mais concretos que sejam os materiais dos quais o espaço [físico] se apossa para poder existir, é na intenção da criação de um cosmo, com toda a mitologia que ele possa desenvolver, que o trabalho ganha sentido e vida. Se um local a ser reestruturado, saber de sua história para mantê-la viva no futuro; se um lugar de encontro, pensar nas pessoas e suas necessidades; se um recinto sagrado, saber despertar os sentidos no almejo à evolução do espírito.
7 de outubro a 14 de dezembro de 2014 terça a sexta, 10h às 21h sábados, domingos e feriados, 10h às 19h
Com Lina Bo Bardi, que completaria 100 anos em 2014, não poderia ser diferente. As exposições A Arquitetura Política de Lina Bo Bardi e Lina Gráfica demonstram a versatilidade desta que foi uma das mais importantes arquitetas em solo paulistano, mantendo a memória da cidade e também dela fazendo um laboratório de experimentações arrojadas. Para o Sesc, este é mais um motivo de deixar que a imagem de Lina se mantenha viva com a mesma intensidade com que se lançava ao devir e o mesmo respeito incondicional com que tratava o passado, num ensinamento que carregamos com seus atos.
a ARQUITETURA POLÍTICA de LINA BO BARDI andré vainer e marcelo ferraz curadores
Para comemorar o centenário de nascimento de Lina Bo Bardi – arquiteta e pensadora da cultura que deixou marcas fortes e profundas na sociedade brasileira da segunda metade do século passado –, apresentamos uma exposição que enfoca basicamente suas três grandes obras de forte inserção sociocultural: o Solar do Unhão, na Bahia; o MASP e o Sesc Pompeia, em São Paulo. São três projetos para equipamentos culturais que têm a convivência humana como sua força geradora. Esse desejo se evidencia em todos os aspectos de sua arquitetura construída, e na programação e no uso que se fizeram, e ainda se fazem, desses espaços. São verdadeiros oásis de conforto e civilidade em nossas sofridas metrópoles. Espaços que enaltecem a cidade como o lugar da celebração, do respeito e da possibilidade de ser livre e, “estranhamente, espaços para experimentar a solidão no meio da coletividade, algo difícil de ser alcançado nas sociedades ocidentais, com barulhos e acontecimentos terríveis”, como dizia Lina.
Podemos afirmar que estes três projetos estão conectados por um fio que nunca se rompeu completamente, apesar dos duros golpes de descontinuidade administrativa e pressões políticas que sofreram ao longo de décadas. Pelo contrário, todo o sonho de realização de um mundo livre, socialista e criativo estampado na experiência baiana do Unhão, nos anos 1960, foi revisto e retomado no projeto do MASP, na medida do possível e, com grande força e sucesso, no Sesc Pompeia. E, como dizia Lina, dentro de uma “leitura semiótica da realidade”, uma associação de pragmatismo com sonho e utopia que sempre acreditou na possibilidade de construção de espaços de convivência com economia de recursos e grande abrangência, associando simplicidade com sofisticação, rigor com poesia. Estes são aspectos comuns às três obras escolhidas para a mostra. Aspectos que explicitam a opção de Lina de fazer da arquitetura uma arma de atuação política em sua luta para mudar o mundo. Sua obra continua a jogar luz e apontar caminhos possíveis no campo da arquitetura e da cultura latu sensu, num tempo de falência de modelos já desgastados ou ineficientes de atuação e intervenção em nossas cidades. 3
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1. Foto aérea MASP | foto Nelson Kon 2. Solar do Unhão, acervo Museu de Arte Moderna da Bahia | foto Luciano Oliveira 3. Sesc Pompeia | foto Leonardo Finotti
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4. Desenho de execução da escada, acervo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, c. 1960 5. Vista do conjunto antes do restauro, acervo Museu de Arte Moderna da Bahia, c. 1950 6. Vista do conjunto após restauro, acervo Museu de Arte Moderna da Bahia, 1963 7. Escada interna Solar do Unhão, acervo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi | foto Armin Guthmann
Unhão tempos de esperança, sonho e utopia na construção de um país que se afirma como nação original, que aposta em seu potencial humano criativo, que quer falar uma “língua” própria; tempos de Brasília e da Bossa Nova; do Cinema Novo e das reformas de base; do futebol de Pelé e Garrincha.
Masp tempos de dúvidas, lutas e desilusões; de “terra em transe”; do endurecimento da ditadura e dos gritos de resistência do movimento estudantil, da guerrilha e do tropicalismo; início dos tempos de trevas.
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11 8. Estudo para instalação do Circo Piolin, acervo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi 9. Exposição de Rubens Gerchman, montagem Lina Bo Bardi, 1974, acervo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi 10. Vista aérea, c. 1970, acervo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi | foto Luiz Hossaka 11. Estudo para o vão livre, acervo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi
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13 12. Estudo para área de convivência, 1977, acervo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi 13. Estudo para lanchonete do bloco esportivo, 1984, acervo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi 14. Parede externa do Conjunto Esportivo Sesc Pompeia | foto Leonardo Finotti
Sesc Pompeia tempos de pragmatismo, desconfiança e cautela; de abertura política “lenta e gradual”; de ambiente artístico intelectual esfacelado; tempos de juntar os cacos e recomeçar a construção do futuro possível, dentro de novas bases.
LINA GRÁFICA João Bandeira e Ana Avelar curadores
Lina Bo Bardi costuma ser lembrada como a arquiteta que concebeu o complexo de instalações do Sesc Pompeia, o edifício do MASP ou a residência chamada Casa de Vidro, em São Paulo – alguns de seus projetos arquitetônicos bastante conhecidos, entre muitos outros realizados ou que não chegaram a ser construídos. Os desígnios de Lina, no entanto, manifestaram-se como desenho não somente na arquitetura, mas também numa área que poderíamos, em sentido amplo, chamar de gráfica – na qual, aliás, ela se colocou desde os inícios de sua atividade profissional. Lina Gráfica apresenta justamente uma variada produção nesse campo, cobrindo cerca de cinquenta anos, pela primeira vez assim reunida. A exposição inclui desenhos de sua juventude – período em que pôde progressivamente refinar seu talento, aprendendo com o pai, Enrico Bo, e cursando o Liceu Artístico de Roma –, bem como o seu trabalho de ilustradora em diversas revistas italianas, como Bellezza, Grazia, Lo Stile e Domus, e, posteriormente, na revista Habitat, que marca o início de sua atuação no Brasil, ao lado de Pietro Maria Bardi. Ou, mais à frente, as ilustrações realizadas para a página dominical que editou no jornal Diário de Notícias, de Salvador, além de desenhos de observação, como o que registra um animado almoço no Pompeia e aquele no qual ela retrata um set de filmagem.
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Largo Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1946 | aquarela, nanquim sobre papel | 24 x 22 cm Lina Bo Bardi e Giò Ponti | capa da revista Lo Stile | Milão, n. 3, mar. 1941 | 33 x 24,5 cm Habitat - revista das artes no Brasil | São Paulo, n. 1, out./dez. 1950 | 33 x 24,5 cm Gheto Robivecchio, 1929 | nanquim, aquarela, grafite sobre papel | 31 x 25,7 cm
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Sob a óptica do gráfico, isto é, daquilo que é descoberto, apropriado, representado ou planejado no desenho, mesmo se abarcando outras técnicas e frequentemente para ser reproduzido, a exposição traz também uma série de exemplos do trabalho de Lina como programadora visual: de publicações (entre elas a citada Habitat, referência para a história do desenho gráfico no país), de cartazes para filmes, peças de teatro e outros eventos, do material impresso que realizou quando dirigiu o Museu de Arte Moderna da Bahia (utilizando elementos da gráfica popular do Nordeste), de ícones para a sinalização de espaços determinados do MASP e do Sesc Pompeia, ou, ainda, das logomarcas que criou para estas instituições. Nos desenhos de ilustração, Lina exibe sua habilidade particular no manejo fluente da linha, detalhando ambientes, pessoas, animais e o que mais estiver em cena. Muitas vezes o desenho critica com humor um comportamento individual (um figurino afetado, por exemplo) ou uma questão pública (a conservação do patrimônio arquitetônico), mas geralmente dirigindo um olhar ao mesmo tempo simpático e mordaz para o que está sendo destacado, próximo do espírito do cartoon. Seja na figura de uma senhora empetecada, de um poodle com modos aristocráticos ou de uma casa colonial que, já morta, sobe ao céu.
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um olhar que tem ligações com o apreço declarado de Lina pelas tradições populares – as imagens, os objetos, as habitações, as festas e os modos de vida – e que ela soube combinar de maneira produtiva com sua formação na arquitetura e no design moderno de linhagem racionalista. essa conjunção parece animar suas concepções de política cultural e todas as frentes de seu trabalho. Não à toa, ela colecionava imagens impressas de referência (sem diferenciação entre os ditos bom e mau gosto: decalques, rótulos, embalagens, símbolos, estampas, selos raros, cartões de fontes tipográficas, recortes de jornais e revistas de todo tipo), ferramentas para um pensamento gráfico que se aproxima do princípio da colagem, no qual nem sempre a distinção de autoria é o mais decisivo. Por esse caminho, desenvolveram-se suas experiências de colaboração, no desenho propriamente dito ou no campo editorial, com enrico Bo, Carlo Pagani, giò Ponti, Bruno Zevi e P. M. Bardi, entre outros. Mas todos os que com ela compartilharam ideias, desenhos, projetos na certa concordariam que, ainda assim, Lina seguiu sempre sua própria linha.
5. cartaz da exposição Bahia no Ibirapuera, 1959 | Parque do Ibirapuera, São Paulo | 96 x 66 cm 6. estudo para logotipo do Sesc Pompeia, s.d. | técnica mista sobre papel | 67 x 44,8 cm 7. Lina Bo Bardi e Victor Nosek | cartaz da exposição Mil brinquedos para a criança brasileira, 1982 | Sesc Pompeia, São Paulo | 96 x 66 cm
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8. Domingo, almoço na Pompeia, 1984 | esferográfica sobre papel | 21,6 x 15,5 cm 9. Cane Aristocratico, Il Conte Cane [Cão Aristocrático, O Conde Cão], s.d. | nanquim sobre papel | 14 x 11 cm 10. ilustração para página “Crônicas de arte, de história, de costume, de cultura da vida”, s.d. | Diário de Notícias, Salvador | técnica mista | 24,6 x 24,8 cm 11. sem título, 1931 | técnica mista | 13 x 9,8 cm 12. ilustração para página “Crônicas de arte, de história, de costume, de cultura da vida”, s.d. | Diário de Notícias, Salvador | nanquim sobre papel | 25,5 x 20 cm. Legendas baseadas em informações concedidas pelo Instituto Lina Bo e P.M. Bardi. 10
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SErvIÇO SOCIAL DO COMérCIO
A ArQUItEtUrA POLÍtICA DE LINA BO BArDI
Administração Regional no Estado de São Paulo Curadoria André Vainer e Marcelo Ferraz Assistente Thais Marcussi edição de textos Presidente do Conselho regional
João Grinspum Ferraz Pesquisa Marly Rodrigues (coordenação), Cinthia da Silva
Abram Szajman
Cunha, Eduardo Polidori Villa Nova de Oliveira, Edna Hiroe Miguita Kamide, Julia Ruiz
Diretor do Departamento regional Danilo Santos de Miranda SuPerINTeNDÊNCIAS Técnico Social Joel Naimayer Padula Comunicação Social Ivan Giannini Administração Luiz Deoclécio M. Galina Técnico e de Planejamento Sérgio Battistelli gerÊNCIAS
Di Giovanni e Olivia Malfatti Buscariolli Vídeos: Direção Marcelo Machado Concepção André Vainer e Marcelo Ferraz Produção executiva Giovana Amano e Ariene Ferreira Produção de gravações Ariene Ferreira e Thaís Canjani Direção de Fotografia Carlos Ebert Som direto Rafael Veríssimo e Gus Pereira Assistente de fotografia Thiago Meira Assistente de produção Pedro Vainer e Ramilla Souza eletricista Cícero Barbosa Montagem Fernando Honesko Assistente de Montagem Pedro Vainer Pesquisa documental Jorge Grinspum Assistente de pesquisa Mariana Quartucci Finalização Yuri Amaral edição de som e mixagem Gus Pereira
Artes Visuais e Tecnologia Juliana Braga de Mattos Adjunta Nilva Luz Assistente Juliana Okuda Campaneli Artes gráficas Hélcio Magalhães Adjunta
LINA GrÁfICA
Karina Musumeci Assistentes Rogério Ianelli e Denis Tchepelentyky Desenvolvimento de Produtos Evelim Moraes Adjunta Andressa de Gois edições Sesc São Paulo
Curadoria João Bandeira e Ana Avelar Assistência de curadoria Ana Carolina Roman
Marcos Lepiscopo Adjunta Isabel Macedo estudos e Desenvolvimento
Assistência de diagramação das vitrines Marcus Vinicius Santos Produção de
Marta Colabone Adjunto Iã Paulo Ribeiro Sesc Pompeia Elisa Maria Americano
Fac-símiles Gerson Tung Vídeos: Direção Carlos Nader Concepção e entrevistas
Saintive Adjunto Sérgio Pinto
João Bandeira e Ana Avelar Montagem Rodrigo Kassab Fotografia Fernando Laszlo e Marcos Vilas Boas Fotografia adicional Gabriela Bernd Som direto Daniel Zimmerman
equipe Sesc Pompeia
Produção Kátia Nascimento Assistência de produção Jackeline Oliveira
Programação Thiago Freire (coordenação), Alcimar Frazão (produção), Cibele Camachi (educativo) Comunicação Roberta Della Noce (coordenação),
equipe das exposições
Lara Pessoa Silva (supervisão gráfica), Carlos Rocha (supervisão web), Igor Cruz
Projeto expositivo André Vainer e Marcelo Ferraz Assistente Thais Marcussi Produção
e Amauri Martins (assessoria de imprensa) Infraestrutura Marcelo Coscarella
Escamilla Soluções Culturais Projeto gráfico e identidade visual Carla Castilho,
(coordenação), Rafael Sena (produção) Alimentação Ana Carolina Rovai
Lia Assumpção e Victor Nosek, Lívia Silva (assistente) Assistente editorial Lilia Góes
Atendimento Cláudia Regina de Souza Administrativo Nelson Soares da Fonseca
revisão de textos Regina Stocklen Projeto educativo André Vilela e Marisa Szpigel
Serviços Ricardo Herculano
Assessoria de imprensa Arteplural Comunicação Montagem fina Estúdio Guaiamum Iluminação Wagner Freire Montagem Cenotécnica Eprom
Estas exposições ocorrem no âmbito das comemorações do Centenário de nascimento da arquiteta. O Instituto Lina Bo e P. M. Bardi agradece à Petrobras pelo patrocínio no ano do Centenário de Lina Bo Bardi.
Sesc Pompeia R. Clélia, 93 | São Paulo | 05042-000 tel: 11 38717700 | sescsp.org.br/pompeia facebook.com/sescpompeia prefira o transporte público sescsp.org.br/transportepublico Barra Funda 2000 m CPTM Água Branca 800 m | Barra Funda 2000 m Terminal Lapa 2100 m
apoio
realização