A GRANDE CIDADE: MICROCONTOS 16 de agosto a 30 de outubro de 2016
A GRANDE CIDADE: MICROCONTOS A cidade de São Paulo, vista por alguns de seus habitantes, que participaram da oficina literária A grande cidade: microcontos, promovida pelo Sesc Vila Mariana, e conduzida pelo escritor João Anzanello Carrascoza, é o tema central dessa intervenção. Em verdade, uma micro-intervenção, que pretende partilhar com os frequentadores da Sala de Leitura o resultado dos exercícios narrativos – os microcontos – produzidos durante tal oficina. O público ganha a oportunidade de conhecer dezenas de nano-histórias sobre o cotidiano da metrópole paulista, que formam uma bela mostra da cidade real e da cidade sonhada, sob a curadoria de Carrascoza. Seleção e organização: João Anzanello Carrascoza
Noite O apagão clareou a luz da lua. AMÁLIA URSI
Caixa d’água da Vila Mariana Relicário gigante! Que preciosidade guarda? A água! AMÁLIA URSI
Corte no cinza Borboleta amarela a voar e os prédios nem tão a sós assim. CARLOS NUNNES
Noite na Augusta Bota esfolada pelo asfalto. Nos olhos a lรกgrima negra da desilusรฃo. CARLOS NUNNES
Sé Crianças não mais crianças, mas ainda crianças. No Marco Zero, início do fim? CÉLIA REGINA DO NASCIMENTO CAMARGO
Viver em São Paulo No corre-corre da manhã nublada, olhares se voltam para o recémnascido: o arco-íris que cruza o céu. CÉLIA REGINA DO NASCIMENTO CAMARGO
O travesti desenterra o short branco dos fundilhos, aciona a porta do carro branco de luxo e retoca a maquiagem no retrovisor. É bom estacionar perto do trabalho. DANIELA ATALLA DA SILVA RAMOS
Pegou a carona e logo se arrependeu. Ele era PM de dia e nรฃo parava o carro para ela descer. Queria contar dos velรณrios dos amigos. DANIELA ATALLA DA SILVA RAMOS
Juventude no Carandiru Os gritos dos livros e os baques de skates aquietam o choro de mais de 100 mortos. DIOGO MARINS LOCCI
Frustração de um espírito De manhã, virar só vento. DIOGO MARINS LOCCI
Centro da cidade, andar distraído, passos mecânicos. Esbarrões, desencontros. Apenas celulares conversam. ESPERANÇA MARIA
Avenida São João As luzes se acendem, entre tiros e gritos a boemia começa a nascer. ESPERANÇA MARIA
Tocar em São Paulo era seu sonho. Algumas moedas rolam no chão. ETHEL NAOMI
Cena Urbana Sol esturrica cĂŠrebros. Menino entrega convite da pitonisa. ETHEL NAOMI
Placas de pare e aquela vontade de seguir adiante. EUGÊNIA GABRIELA SOUZA E SILVA
Passei por Pinheiros, mas só vi sombras de prédios. EUGÊNIA GABRIELA SOUZA E SILVA
À noite me misturo com a cidade: durmo como pedra. EUGÊNIA GABRIELA SOUZA E SILVA
Vista De andaime em andaime, o horizonte se perde num รกtimo. GIULIANA TEIXEIRA DE ALMEIDA
Atropelamento Do asfalto os fios lembravam as cordas da viola que ficou no Cariri. GIULIANA TEIXEIRA DE ALMEIDA
No tear dos fios iluminados dos carros na 23 zumbem Harleys, Suzukis e Silvas. GLENN SMITH
Respirei ar puro, vomitei, e saĂ fazendo cooper. GLENN SMITH
Triste, olhou para o céu quando o último prego lhe foi cravado. Atrapalhou um pouco o trânsito. GUSTAVO CARVALHO
Tomava chรก em casa quando o outro do espelho foi trabalhar. GUSTAVO CARVALHO
Surpresa Os miúdos pedaços de parabrisa sussurram palavras não ditas pelo meu rosto. GUSTAVO CARVALHO
No meio dos degraus, nos olhamos. Mas nada pudemos dizer, eles continuaram rolando. ISABEL COSSALTER
Farol verde, demorei a perceber. NinguĂŠm buzinou, estranhei. O despertador tocou. ISABEL COSSALTER
Sob a rua se esconde a canoa do bandeirante desconhecido. JOÃO HÉLIO DE MORAES
Estátua No Obelisco, quem passa rápido demais nem vê o homem do carro amarelo mirando o infinito. JOÃO HÉLIO DE MORAES
Noite em Sรฃo Paulo Apago a luz do abajur. Na cabeรงa, o caleidoscรณpico dia ainda gira... MARIA FERNANDA DIAS DE AGUIAR
Uma criatura da cidade – Boa noite, Seu Luís! Na manhã seguinte, a esquina vazia. – Boa noite, Seu Luís! Manhã seguinte, nada... Ibira, caminhando à tarde: – Oi, Seu Luís! Então era ali, sentado num banco, que ele morava de dia. MARIA FERNANDA DIAS DE AGUIAR
Avenida Paulista Durmo com o barulho das freadas e acordo com o ruĂdo das britadeiras. MARILENA DEGELO
Vida Noturna Mulher procura marido que sumiu na noite. Ela o encontra na calçada do Trianon, à espera de um parceiro eventual. MARILENA DEGELO
Passarada Amanheceu. Ouรงo o som de maritacas no parapeito da varanda. MARILENA DEGELO
O ônibus engole ruas. O metrô engole túneis. O passageiro engole tempo. MERCIA DE SOUZA
Madrugada Um velório quase vazio, duas ou três pessoas, uma vela acesa e um caixão fechado. MERCIA DE SOUZA
Inferno Enlouquecido pelo barulho, pediu ao otorrino que desligasse seus ouvidos. PAULO MAYR
Tipo Urbano Velho, magro, mulato perambula entre os carros pedindo esmola em Pinheiros. Corre o boato que ĂŠ aposentado, mora no bairro, e sua filha tem um Corsa. PAULO MAYR
Itororó, Tamanduateí, Pirajussara, Tietê. Já tomei todas. RAPHAEL GUEDES SBORJA
Foi lรก por 2008, com as bichas do Arouche, que ouvi aquilo pela primeira vez: minhocรฃo. RAPHAEL GUEDES SBORJA
Utopia Era seguro, prรณspero e feliz. Era mais um lanรงamento imobiliรกrio. RICARDO HANKON
Love Story Entre o pó que entra pelo nariz e o pó que se resume a existência, não encontrava afeto. RICARDO HANKON
Avenida João Dias Tarde da noite, volta do trabalho. Sinal vermelho, a voz de sempre na janela: – Compra pra ajudar? Sinal verde corre para a calçada. Volta a brincar. ROSALY STEFANI
Busca Perdeu a fé no ser humano? Recupere-a. Largo Ana Rosa, Supermercado Pão de Açúcar. Procure por Seu João, da faxina. ROSALY STEFANI
M-1020 calor que vem de dentro e chega de fora. pés que se tocam. mãos que se embaraçam, um toque na base do pescoço. – senhora? um passinho à frente, por favor. SAMIA CHRISTINA SCHILLER
Manhãzinha janela se abre para a 23 de maio e já vem a impressão de estar atrasada. SAMIA CHRISTINA SCHILLER
São Paulo tem 3 andares: do metrô, dos carros e dos aviões. SOFIA MENEGATI
Deita, senta, anda. Sempre com cabelos esvoaçados. Não tem teto, mas mora no Paraíso. SOFIA MENEGATI
Veja quantas estrelas abrilhantam esta noite! – grita o promotor da casa noturna da Augusta. SOFIA MENEGATI
Viver em São Paulo: esgueirar-se na imensidão. THAIS GIAMMARCO
Corredor? Sem teto? Na Avenida Brasil tem um toda manhĂŁ. THAIS GIAMMARCO
Em meio à cinza cor do progresso, hortas comunitárias são solo fértil para cultivar amor. WAGNER MIRANDA DA SILVA
16 de agosto a 30 de outubro de 2016 Terça a sexta, 9h às 21h30 Sábados, domingos e feriados, 9h às 18h30 Sala de Leitura, 5º andar - Torre A
Sesc Vila Mariana Rua Pelotas, 141, CEP 04012-000 TEL.: +55 11 5080 3000 /sescvilamariana
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