Palestras 2013 - A combinação álcool, drogas e o trânsito

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A COMBINAÇÃO ÁLCOOL, DROGAS E O TRÂNSITO


A COMBINAÇÃO ÁLCOOL, DROGAS E O TRÂNSITO

Brasília, 2012


SEST - Serviço Social do Transporte SENAT - Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte

Revisão Técnica:

Vilma Leyton Doutora em Toxicologia pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Atualmente é professora doutora da disciplina de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da USP e Diretora do Departamento de Álcool e Drogas da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego - ABRAMET.

Qualquer parte dessa obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.

A Combinação Álcool, drogas e o trânsito. Brasília: Sest Senat, 2012.

20p. : il. – (Ciclo de palestras)

1. Segurança no trânsito. 2. Bebida alcoólica. 3. Entorpecente. I. Serviço Social do Transporte. II. Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte. III. Título. CDU 351.81:613.81

SEDE: SAUS Quadra 1 - Bloco “J” - Ed. Confederação Nacional do Transporte 12º andar, Brasília - DF 70.070-944 Fone: (61) 3315.7000 / Site: www.sestsenat.org.br


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APRESENTAÇÃO

O que antes era restrito às grandes capitais brasileiras, hoje é realidade na maioria das cidades: os transtornos no trânsito. Milhares de carros, caminhões, ônibus, motos, bicicletas e pedestres disputando o mesmo espaço. Pressa, impaciência e nervosismo são algumas das justificativas para frequentes discussões que ocorrem no dia a dia. Quando acrescentamos, a esse verdadeiro caos, motoristas alcoolizados e sob o efeito de outras drogas torna-se uma tragédia anunciada. Mortes, mutilações e invalidez são consequências dessa verdadeira guerra urbana que presenciamos diariamente. Como resultado, temos o sofrimento de famílias inteiras vivendo a realidade da perda. Esta cartilha provoca a discussão sobre álcool, outras drogas e trânsito. Uma mistura que nunca dá certo. Não adianta ignorar o fato, ele existe e precisa ser discutido com honestidade e seriedade.


O TRÂNSITO IDEAL Não vivemos em um conto de fadas, somos seres humanos que acertamos e erramos o tempo todo. Cada qual escolhe como levar sua vida, uns são mais responsáveis e cuidadosos, outros gostam de viver mais livremente, sem se preocupar com as consequências de suas ações. Quando esses dois perfis se encontram em um mesmo ambiente, no caso o trânsito, alguns problemas podem surgir. Todavia espera-se que o indivíduo com perfil “menos cuidadoso” perceba os riscos e mude sua atitude. A esse comportamento dá-se o nome de:

Respeito 4

Logo, para imaginarmos um trânsito ideal bastaria termos o respeito como base. Com esse pequeno e importante cuidado, usado de forma coletiva, certamente teríamos outra realidade em nossas vias.


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DIRIGIR SOB O EFEITO DE ÁLCOOL E DROGAS

De acordo com diversos estudos realizados, dirigir sob o efeito de álcool ou de qualquer outra droga, independente da quantidade, diminui os reflexos do condutor, favorecendo distrações e atitudes irresponsáveis. Conheça os efeitos causados no organismo do motorista ao utilizarem as substâncias a seguir:

SUBSTÂNCIA

mACONHA

COCAÍNA (Pó, crack, merla, oxi)

EfEITOS mAIS COmUNS Compromete a coordenação motora, a vigilância e o estado de alerta, ou seja, a capacidade de dirigir. Esses efeitos são mais intensos nas primeiras duas horas, mas podem durar por mais de cinco horas. É uma das drogas mais perigosas, pois na fase da euforia o motorista arrisca mais e consequentemente provoca mais acidentes. Há perda de atenção, concentração, sensibilidade à luz, em virtude das pupilas dilatadas. É comum também estágios de paranóia e alucinações.


SUBSTÂNCIA

EFEITOS MAIS COMUNS

Aumentam perigosamente a autoconfiança do Anfetaminas condutor, levando o envolvimento em situações de risco. Mas o perigo maior é quando passa o efeito, (Rebites) levando à fadiga imediata, sendo comum o motorista dormir na direção sem sequer dar conta.

Crack (Ver Cocaína)

Estimula a alta velocidade e uma direção mais agressiva. Altera o tempo de reação e a perda de sensibilidade na tomada de decisão.

ALUCINÓGENOS

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(LSD, cogumelos, chá Comprometem a capacidade de dirigir, pois produzem de lírio, mescalina, alucinações, sonolências e reações psicóticas. psilocibina, entre outros)

Álcool

A intensidade das reações depende da quantidade de álcool ingerida e comprometerá a capacidade de percepção, os reflexos, a visão periférica e a habilidade de controlar o automóvel.

Depois de conhecer todos esses efeitos, tem como não chamar de irresponsabilidade o ato de dirigir sob o efeito dessas substâncias?


Importante

Os problemas relacionados ao uso de drogas na direção são tão alarmantes que as Nações Unidas aprovaram em 2010 uma resolução que declara 2011 – 2020 A Década de Ações para a Segurança nas Estradas. VOCÊ ESTÁ PREPARADO PARA ASSUMIR A CULPA? Culpa é o sentimento de autorreprovação, quando nossa consciência nos cobra por nossas falhas. Esse processo dura o tempo proporcional ao dano causado. Então dá para se ter uma ideia de quanto tempo irá durar a culpa por matar uma pequena criança, estando o motorista em estado de embriaguez ou sob efeito de qualquer outra droga. No sentido jurídico a culpa é quando o indivíduo provoca o ato, mas sem a intenção de fazê-lo. E mesmo sem a intenção, há punições para esse fato, pois ele agiu com imprudência, imperícia ou negligência e sabendo de um resultado previsível. Você sabe a diferença entre crime culposo e crime doloso? Basicamente está na intenção da pessoa que provoca o crime. No crime culposo não há a intenção de provocá-lo, já no doloso, o agente age com intenção de cometer o crime.

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No caso de um acidente sob as circunstâncias da irresponsabilidade, o sentimento de culpa e a culpa jurídica estarão presentes. Certamente as consequências futuras comprometerão o futuro desse indivíduo e de seus familiares. Pare um pouco agora e tente se imaginar carregando essa culpa. Será que você está preparado?

TODA A SOCIEDADE PAGA Além dos condutores, passageiros e pedestres, o Estado também sofre com os acidentes de trânsito. Sob o aspecto financeiro, observe alguns custos envolvidos: Perda de produção econômica das pessoas envolvidas, pela suspensão temporária ou permanente de suas atividades produtivas.

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Custo médico-hospitalar para tratamento e reabilitação.


Custos de reparação ou reposição dos veículos e dos demais bens públicos envolvidos, incluindo sinalização de trânsito. Custo previdenciário, com pagamento de pensões e benefícios. Custo de processos judiciais. Custo do resgate das vítimas, incluindo ambulâncias, policiais e agentes de trânsito. Sem falar em valores, somente com esse rol de contas envolvidas é possível perceber as consequências financeiras e sociais de um acidente de trânsito para toda a sociedade. E quando a causa do acidente é o uso de álcool ou outras drogas é inevitável o sentimento de revolta com a atitude da pessoa que provocou o acidente.

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Importante

Segundo o IPEA: “Além da dor e sofrimento produzidos pelo acidente com vítima, ele apresenta um custo 11 vezes superior a um acidente sem vítima, podendo chegar a 44 vezes, em caso de morte”.


CONDUTOR PROFISSIONAL: CUIDADO REDOBRADO O condutor profissional é o que encontra as situações mais duras em seu dia a dia: prazos apertados, estradas em más condições, trânsito intenso, longas jornadas de trabalho e baixa remuneração.

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Dentro desse contexto, álcool e outras drogas são usados para extravasar as tensões vividas. Alguns condutores tentam justificar o uso do “rebite” (que são medicamentos usados para perder peso e que inibem o sono) como sendo a única forma para cumprir o curto prazo exigido para a entrega das cargas. Independente da motivação, essa opção os levaram a tornarem-se os “vilões das estradas”, título esse repudiado pela classe, mas comprovado pelas estatísticas, que mostram o grande envolvimento de condutores profissionais em acidentes de trânsito. Motoristas de caminhões, ônibus e motociclistas profissionais deveriam ser exemplos de segurança, pois são os mais bem preparados para enfrentar as situações adversas. Porém, muitos deixam a imprudência imperar, com atitudes questionáveis como a de dirigir sob o efeito de álcool e outras drogas. Obviamente que esses condutores não são os únicos responsáveis pelos acidentes. Carros e motos particulares também são responsáveis por um grande número de ocorrências. Vale apenas ressaltar que os profissionais da área de transporte devem dar o exemplo para uma condução segura, pois como o próprio nome já diz, são profissionais especializados na área. Estradas e vias são seus meios de sobrevivência, onde deveriam ganhar e não perder a vida.


A ImPORTÂNCIA DAS CAmPANHAS EDUCATIVAS O caminho para um trânsito seguro passa pela educação. Somente agindo coletivamente em prol da segurança conseguiremos diminuir as mortes no trânsito. As campanhas devem ser permanentes, lembrando que, ao conduzir um veículo, somos responsáveis pela segurança de diversas vidas. A base das campanhas de trânsito é sempre o respeito à vida. Os motoristas, ciclistas e pedestres são alertados para o cuidado ao transitarem. Espera-se, com a multiplicação das campanhas, a mudança de atitude, consequentemente, um trânsito mais humano e seguro.

Campanha de educação no trânsito DENATRAN (2012).

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Diversas instituições promovem campanhas educativas. O SEST SENAT, consciente da importância de um trabalho contínuo de educação para um trânsito melhor, investe nas mais diversas atividades para propor uma mudança de comportamento nas vias e estradas brasileiras. Com a participação e o apoio dos trabalhadores em transporte, tornou-se referência nas mais diferentes campanhas sobre segurança. São mais de 19 anos atuando diretamente com o trabalhador em transporte, por meio de suas Unidades espalhadas em todo Brasil.

PARA QUEM NÃO SE EDUCA, A LEI

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A mudança de comportamento se dá pela aprendizagem. O processo de aprendizagem se dá de forma individual. A educação para um trânsito seguro deve começar na infância e continuar durante toda a vida. Motoristas conscientes respeitam as leis de trânsito e contribuem para a segurança de todos. O respeito a si mesmo e ao próximo deve ser sua maior motivação, afinal a paz no trânsito começa dentro de nós. Sempre tivemos leis para inibir o uso de álcool na direção, porém não foram suficientes. Foi preciso adotar leis mais severas, como a Lei 11.705/2008, popularmente conhecida por “Lei Seca”. Certamente outras surgirão no sentido de frear a violência no trânsito das cidades e das rodovias. E como prova disso, recentemente foi promulgada a Lei 12.619/2012, que regulamenta a profissão do motorista profissional. Leia com atenção um dos artigos:


Art. 235-B. São deveres do motorista profissional: (...) VII. submeter-se a teste e a programa de controle de uso de droga e de bebida alcoólica, instituído pelo empregador, com ampla ciência do empregado. Parágrafo único. A inobservância do disposto no inciso VI e a recusa do empregado em submeter-se ao teste e ao programa de controle de uso de droga e de bebida alcoólica previstos no inciso VII serão consideradas infração disciplinar, passível de penalização nos termos da lei. Como pode ser observado, o motorista profissional independente de ser submetido ao teste do etilômetro (popularmente conhecido por bafômetro) pela autoridade pública, deverá ser avaliado pelo empregador. Para o teste de outras drogas, o condutor será submetido ao exame toxicológico, normalmente realizado em laboratório através do exame de urina.

Importante

Ações como essas são importantes para a segurança de todos, incluindo a do próprio motorista profissional, afinal segurança nas estradas é responsabilidade de todos.

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E QUANDO JÁ HOUVER DEPENDÊNCIA? A Organização Mundial da Saúde – OMS reconhece a dependência química de álcool e drogas como doença. Esse reconhecimento é importante para retirar o julgamento moral, tão comum, que enxergava essas pessoas como fracas e sem força de vontade para sair do vício. Trata-se de uma doença, porém uma doença que tem cura. E o primeiro passo é a aceitação como dependente químico. Neste caso a pessoa necessitará de apoio e tratamento adequado. O quanto mais cedo isso ocorrer, melhor será. O Ministério da Saúde, por meio do Sistema Único de Saúde - SUS oferece diversos serviços voltados para esse público. Veja alguns deles:

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Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) - atendimento a pacientes com transtornos mentais ou dependentes de álcool e drogas. Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs) – grupo de profissionais de saúde de várias especialidades que auxiliam as equipes de Saúde da Família no atendimento aos dependentes de álcool e drogas. Consultórios de Rua – equipes móveis multiprofissionais (assistentes sociais, auxiliares de enfermagem, profissionais de saúde mental) que atuam onde usuários de drogas se reúnem. Casas de Acolhimento Transitório (CATs) – são os espaços transitórios que acolhem o dependente durante o processo de estabilização clínica, com atividades pedagógicas.


Com os lemas: “Uma boa conversa pode ser um bom começo” e “Ligue pra gente, a gente liga pra você” o atendimento telefônico do Viva Voz 0800-5100015 presta os seguintes serviços: Orientações e informações sobre o uso de drogas; Apoio para familiares e usuários de drogas que desejam conversar sobre suas experiências; Indicação de locais de tratamento. Não é necessário se identificar e o atendimento ocorre de segunda a sexta-feira, inclusive feriados, das 8h às 24h. A ligação é gratuita para todo o Brasil. O serviço Viva Voz é uma parceria entre a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) e Associação Mario Tannhauser de Ensino, Pesquisa e Assistência.

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PARA FINALIZAR

Quantas mortes mais serão necessárias para que as pessoas se conscientizem da necessidade de termos um trânsito mais seguro? Não podemos nos limitar a dizer que foi um acidente. Evitar acidentes é dever de todos que compartilham as ruas e rodovias: motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. Prudência e bom-senso são quesitos fundamentais para a segurança e a convivência pacífica. O respeito à vida não deve ser apenas um slogan de campanha, repetido sem compreensão. A responsabilidade pela segurança nas estradas deve ser compartilhada com todos: governo, condutor e pedestre. Dirigir sob o efeito de álcool ou de outras drogas é mais que uma irresponsabilidade, é um ato desumano e covarde. Pessoas inocentes perdem a vida em acidentes que poderiam ser evitados. Diariamente, motoristas profissionais são expostos a diversos tipos de imprudência nas nossas estradas. Precisamos dar um basta a tantas mortes. A sua participação fará toda a diferença nessa luta pela paz no trânsito. Seja um agente divulgador das campanhas, alerte os seus colegas sobre os perigos da combinação álcool, outras drogas e direção. Faça a sua parte!


Importante

Essa discussão não pode ser esquecida daqui um tempo. As discussões para um trânsito seguro devem ser permanentes e contar com a participação de todos. Pense, reflita e aja com responsabilidade!

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REFERÊNCIAS

ABRAMET - Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, disponível http://www.abramet.org.br/site/Home.aspx

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BRASIL. Exercício da Profissão de Motorista. Lei nº 12.619, de 30 de abril de 2012, disponível em www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20112014/2012/Lei/L12619.htm DENATRAN, Impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras – Relatório Executivo – Brasília : IPEA/DENATRAN/ANTP, 2006. IPEA, Impactos Sociais e Econômicos dos Acidentes de Trânsito nas Aglomerações Urbanas, Disponível em: http://www.ipea.gov.br GOVERNO FEDERAL, Portal Brasil, disponível em http://www.brasil. gov.br/enfrentandoocrack/cuidado/onde-encontrar-ajuda/sistemaunico-de-saude-sus OBID - Observatório Brasileiro de Informações sobre drogas. http:// www.obid.senad.gov.br



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Fale com o Sest Senat 0800 728 2891 www.sestsenat.org.br


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