SHAREMAG 04
Nov/Dez 2009
Hugo Lima
SHAREMAG 04
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o futuro da sharemag José Carlos Marques
Nov/Dez 2009 --- 08
Direção: José Carlos Marques Edição: José Carlos Marques Design e Paginação: José Carlos Marques Imagem de Capa: Lichtfaktor Colaboradores: José Carlos Marques, Ellen D.B., Rui Herbon, Bruno Neiva, Inês Guedes, Manhã Manhã, André Campos, Mariana da Silva Marques e Ricardo Campos
o movimento inverso Ellen D. B.
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fotografia Lichtfaktor José Carlos Nero
Contacto: jcgmarques@gmail.com
Hugo Lima
Publicação Electrónica em www.Iissuu.com/sharemag
Margarida Ribeiro
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in concert Rui Herbon
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ilustração Catalina Chirila Benedita Feijó
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design gráfico Cláudio Reis
WWW.SHAREMAG.NET
Raquel Graça
o futuro da sharemag Por José Carlos Marques
Esta edição da ShareMag surge com o design remodelado. Depois de seis meses de crescimento, e do aumento considerável no número de visitantes, sentimo-nos na obrigação de melhorar a nossa apresentação e prepararnos para uma remodelação que permita um melhor acolhimento dos intervenientes, no sentido de cativarmos cada vez mais autores e pensarmos numa estratégia que nos faça crescer junto do público que pretendemos alcançar. A ShareMag foi gerada com base no blog ShareMagazine, e tinha como principal objectivo perpetuar os autores e os projectos que por lá eram apresentados. Tentando contrariar o lado efémero de um conteúdo em constante revogação, partiu de uma premissa onde os artistas guardam total responsabilidade pelo material divulgado, e deu lugar a uma plataforma digital permanente, que soube ganhar o respeito dos seus intervenientes. Num universo que agora se move impetuosamente, esse respeito aliou-se a um constante progresso do número de leitores e, para não perdermos a possibilidade de continuar um trabalho que, para ser bom, deve sempre pensar numa melhor solução, alcançamos a fase em que queremos evoluir, ponderando agora a próxima direcção.
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Por ser uma revista, o passo mais lógico seria dar inicio à sua impressão em papel. O desenho desta quarta edição tentou aproximar-se muito desse formato, pelo que ficamos mais perto dessa concretização. Mas não podemos negligenciar de todo a nossa edificação, e tendo em conta o valor e a potencialidade das ferramentas electrónicas que temos à disposição, seria ingénua a ideia de avançarmos para um projecto que tivesse apenas uma vertente analógica. A ideia contraria, de continuarmos a optar pela plataforma digital, com algumas alterações ao nível das ferramentas utilizadas, poderá ser mais viável em termos de custos. Nos dias que correm, não é muito difícil encontrar soluções baratas, ou até gratuitas, para a nossa expansão, mas essa opção deixaria de fora alguma hipótese de comercialização e a possível implementação de um culto à volta da ShareMag, que poderia levar a um aumento do seu prestigio, logo, a um desenvolvimento da plataforma que pode elevar o estatuto dos nossos colaboradores. Neste momento de reflexão, talvez seja impossível desviarmo-nos de qualquer um desses caminhos, e é necessário que a decisão tomada tenha em conta todas as possíveis combinações, de forma a encontrarmos uma solução híbrida
samples
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bruno neiva
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projecto
que nos permita seguir em frente, e procure criar o melhor termo para esta questão. Tendo em conta o mesmo objectivo de sempre, aquilo que a ShareMag pretende é afirmar-se como uma base de divulgação de projectos pertencentes a autores contemporâneos. Com particular incidência na utilização da Fotografia, a revista quer continuar a abordar todos os géneros artísticos, e continuará aberta a todo o material que nos seja apresentado. O futuro continua por escrever, mas queremos que todos se lembrem de nós quando se dispuserem a procurar novos autores. Por tudo isso, e mais alguma razão continuaremos também nós à procura daquela que possa parecer a melhor solução.
josé luís peixoto entrevista valter hugo mãe
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manhã manhã entrevistam Your Twenties
La.Ga Bag Antiframe Irmãos Esferovite
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Metro Quadrado Serapilheira
apresentação Pente 10 MUUDA
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inês guedes recomenda Cinema
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recomendação Fotografia D.G. + Directório Fotografia
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manhã manhã recomendam Música
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rafael bordalo pinheiro Ricardo Campos
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andré campos recomenda Literatura
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josé carlos marques recomenda Internet
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heaney e a metáfora da escavação Mariana da Silva Marques
o movimento inverso - nan goldin Por Ellen D.B. (Porto Alegre - Brasil)
Em geral, o trabalho de um fotógrafo deixa transparecer certos aspectos e experiências de sua vida - mas o fato de conhecermos ou não algo a mais sobre sua biografia provavelmente não irá alterar a forma como percebemos seu trabalho. Não é esse o caso de Nan Goldin: ela expõe sua vida diante da câmera, nos mostra suas angústias, expectativas e frustrações, nos conta histórias de rejeição e vício e nos mostra toda a fragilidade e agressividade humana; não há como observar seu trabalho e permanecer indiferente à sua história de vida. Ao longo de três décadas (do final dos anos ’60 até meados dos ’90), Goldin capturou as reações humanas frente a uma época marcada por novas descobertas tecnológicas, exageros de todos os tipos e pela idolatria do eu. Certos críticos atribuem à Nan Goldin a glamourização do uso da heroína (o chamado look heroin-chic do final dos anos ’80), e também a identificam como precursora do estilo de vida grunge. FAMÍLIA Nan Goldin nasceu em Washington DC, mas mudou-se para Maryland com a família pouco tempo depois. Era a mais nova dos quatro filhos de uma tradicional família judia de classe média. Aos 11 anos, seu relacionamento com a irmã mais velha era muito próximo: Nan sabia das dificuldades que Barbara enfrentava enquanto tentava adequar sua sexualidade aos parâmetros comumente aceitos pela sociedade. Aos 18 anos, Barbara cometeu suicídio atirando-se na frente de um trem. Poucos dias depois, enquanto ainda sofria com a morte da irmã, Nan foi seduzida por um homem mais velho e começou a descobrir sua própria sexualidade. Anos mais tarde, ela diria que esses dois acontecimentos definiram o rumo de sua vida e de seu trabalho. Temendo seguir literalmente os passos da irmã, Goldin fugiu de casa aos 14 anos. Passou por diversos lares adotivos e chegou a dividir flats com outros adolescentes solitários. Eles viriam a se tornar sua nova família, e duas dessas pessoas desempenhariam papéis especiais em sua vida: David Armstrong e Suzanne Fletcher. Nan teve seu primeiro contato com a fotografia aos 15 anos, quando um professor lhe presenteou com uma câmera fotográfica. Imediatamente ela começou a registrar os acontecimentos de sua vida e de sua nova família; a lembrança da morte de Barbara ainda estava viva em sua memória e ela queria preservar para sempre todos os momentos junto àqueles que amava. As fotografias dessa época mostram Goldin e seus amigos usando maquiagem pesada, por vezes fantasiados como estrelas do cinema. SNAPSHOTS? Muitas das fotografias de Nan Goldin são de fato snapshots, mas a maioria apenas parece ser snapshot. Ao observarmos suas imagens, sentimos como se realmente estivéssemos diante de um álbum de família: fotos com cantos ofuscados, super-expostas, mal enquadradas, blocos de cores salientes. Tais características 08
ligariam seu nome ao movimento conhecido como Snapshot aesthetic, que pretendia retratar a vida da forma mais crua possível, “como ela realmente era”. Em 1974, Goldin mudou-se para Boston para estudar fotografia na School of the Museum of Fine Arts. Ela classificou as fotos desse período como “as piores que tirou em toda a vida”, mas admitiu que esses anos foram importantes para definir o estilo pelo qual ficaria conhecida. Nan chegou a fazer uso de câmeras SLR no começo da carreira, passando depois a trabalhar com rangefinders. Seus trabalhos mais recentes foram feitos com uma Leica M6. THE BALLAD OF SEXUAL DEPENDENCY Em 1986, Goldin publicou seu primeiro livro, The Ballad of Sexual Dependency, uma versão impressa das fotos que já vinham sendo exibidas em formato slideshow ao longo dos últimos anos. The Ballad contém cenas de um período que vai de 1973 até meados dos anos ’80, e foi definido por ela mesma como “o diário que todos puderam ler”. As imagens retratam homens e mulheres em diferentes tipos de r e l a c i o n a m e n t o s, o n d e t r a n s p a r e c e a agressividade, a vulnerabilidade e o abuso a que todos estão sujeitos. Em T he Ballad, Nan mostrou viciados, homossexuais, drag queens, prostitutas, vítimas de espancamento (incluindo fotos de hematomas resultantes de agressões sofridos por ela própria), todos personagens do submundo das grandes metrópoles. Ela não adentrou nesse ambiente apenas para registra-lo - tão-só registrou o ambiente do qual ela já fazia parte havia muito tempo. Após o fim do relacionamento com Brian (que aparece ao seu lado na capa de The Ballad), Goldin perdeu o controle sobre seu vício em drogas pesadas, e chegou mesmo a se internar voluntariamente em uma clínica de reabilitação. Para alguns, o trabalho de Nan Goldin é exageradamente focado em sua própria vida mas essa é justamente a visão que ela quis nos transmitir. Nan viu muitos de seus amigos próximos morrerem devido a AIDS e ao abuso de drogas pesadas e álcool, e retratou tudo isso através de sua câmera. Seus trabalhos mais recentes também mostram landscapes que pretendem “retratar o vazio da alma através de espaços vazios”.
FOTOGRAFIA LICHTFAKTOR
lightwriting
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The members of Lichtfaktor use light to give expression to their creativity. They take advantage of a variety of light sources to produce photos and videos in cities by night. The Cologne artists’ collective, consisting of VJ $ehvermögen (photographer and VJ), VJ beat.surfers (Programmer und VJ) and JIAR (communications designer and graffiti artist), experiments with the possibilities yielded by bulb (long-term) exposure and painting. Their aim is
to explore all aspects of “lightwriting” and to develop it further. The Lichtfaktor crew intentionally uses the entire space in which a particular work is produced and integrates it into their photos and animated films in such a way that it’s not just a backdrop but a part of the work itself. For them “lightwriting” is an evolution and a chance to animate graffiti characters in urban landscapes.
www.lichtfaktor.eu
If you see their clips they always have to do with street art/graffiti but you also find elements of early abstract films (Oskar Fischinger…) and VJing. There is always a dialog and it is interesting for both sides because graffiti artists mostly don’t think in animations, time and movement… and for VJ’s it is interesting to produce footage in a graffiti manner and it is also the style and way of life that graffiti clearly stands for.
$ehvermögen (Marcel Panne) was born 21.05.73 in Monte Carlo. He was one of the first VJ’s in Cologne where he lives and works as a freelancer. He is the resident VJ of Basswerk a German DnB Label. His visuals can been seen in theater projects and concerts…but he also did allot of commercial events like the official euro event and events for Tetrapak, Porsche, O2, Epson, AXE, otto... beat.surfers (Jens Heinen) was born 27.01.75 in Gütersloh Germany. He
did the first panorama Vj’ing in Germany and develop his own VJ Software (Aurora), and did allot of commercial events like the official FC Bayern Munich championship celebration, the premier of the Audi A4 in Austria, Photokina Party “Immotion“… JIAR (David Lüpschen) was born 26.10.79 in Cologne. He did many legal Graffiti pieces, T-shirts and Logo designs... Lichtfaktor 11
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FOTOGRAFIA JOSÉ CARLOS NERO
erosões
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O olhar viu-se surpreendido pela imponência do local, incapaz de passar ao lado de uma beleza natural tão impressionante, foi descobrindo a cada passo, novas formas de sentir e reagir ao que ia absorvendo. A paisagem contava histórias da passagem do tempo, da força implacável da Natureza, mostrava também, a luta de pequenos seres que despontam e se agarram à vida no meio de um solo cru e erodido. De repente, o olhar transporta-nos para uma outra dimensão
indefinida, um género de equação inacabada, cabendo ao observador completá-la com as suas próprias emoções. José Carlos Nero
www.jcnero.com
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FOTOGRAFIA HUGO LIMA
uma viagem de sentidos
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Em Junho de 2007 viajei à Índia. Um breve olhar aéreo sobre Mumbai e uma estadia de apenas uma semana no estado de Goa, deram origem ao que se tornou numa paixão e um casamento com aquele país. Consciente de que a Índia, pura e dura de costumes e cultura mais entranhados, ficaria mais a norte do país, alimentei e ambicionei o desejo de voltar para conhecer e fotografar o país, fascinado por pesquisas e histórias em
torno da sua cultura e das suas gentes. A 31 de Dezembro de 2008 parto para a minha primeira grande viagem. Imensamente ansioso, ainda que inconsciente de que durante um mês viajaria sozinho por um país que me era estranho, tinha como única certeza o voo de regresso em Nova Deli, no dia 27 de Janeiro. Foi em busca de um tema ou assunto para retratar que dei conta do quão imenso e distinto é aquele país. De quilómetro em quilómetro, o
www.hugolima.com
que deveria ter sido uma viagem de um mês, para regressar com um trabalho concluído, tornou-se numa mera viagem de pesquisa, que não só não preencheu a necessidade que eu sentia de conhecer a Índia, como intensificou ainda mais a vontade de a percorrer. Da praia em Goa ao caos urbano de Mumbai, da pequena cidade de Pushkar, albergue de Brahma (o Deus que criou o Mundo), até Jaipur (capital dos tecidos, joias e pedras preciosas)
foram dias intensamente preenchidos de uma riqueza incrívelmente bela. Percorri costumes, gentes, crenças, cores e sabores... Esta série é uma mostra, que será extendida e renovada, através das viagens que se seguirem e do aprofundar do meu trabalho. É o resultado e o resumo de várias viagens à Índia, caminhos inimaginávelmente percorridos, paragens no tempo e no espaço… um despertar de sentidos. O retrato de uma Índia quase ingénua, uma
representação de quotidianos de olhares tímidos e sorrisos acanhados. Mais que magníficas paisagens, ou exuberantes obras arquitectónicas, foram as pessoas, a sua grandeza e a sua riqueza interior que me prenderam. "Uma vida não chega para conhecer a Índia". Agora compreendo porquê. Hugo Lima 23
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FOTOGRAFIA MARGARIDA RIBEIRO
caxinas, i love you
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Caxinas é um lugar de Vila do Conde com uma história de vida muito particular. É uma zona piscatória por tradição. Tem um dialecto próprio que se está a perder. Tem muita cor, apesar de muita gente se vestir de preto, pois não existe família caxineira que não tenha perdido alguém no mar. Caxinas está a passar por uma grande mudança de costumes, as novas gerações já não querem ir para o mar.
Este trabalho faz parte de um processo que há pouco começou e que está longe de terminar. Tem como finalidade documentar este lugar tão particular onde existe um enorme contraste do luto, com o colorido das casas e das pessoas. Margarida Ribeiro
www.margaridaribeiro.wordpress.com
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in concert Por Rui Herbon
… e por isso, ver o director da orquestra, depois da ruptura dos pensamentos cristalinos, é uma urgência que não pode eludir. Esquece a música de Wozzeck. Ou, melhor dito, une as passagens a uma sensação desequilibrada de intenso amor, desde já, pelo director. A primeira cena, na qual o soldado Wozzeck faz a barba ao seu capitão e enfrenta a crítica por ter um filho fora do casamento, ressoa no interior de Madalena como o princípio do deslocamento da moral. Que importa o casamento? Que importa um filho? O que importa é o amar em si, o acto, e não as regras. O acto luxurioso. Luxurioso pelo luxo que significa, não porque seja um pecado. E mais, pecado é uma palavra que não existe no vocabulário de Madalena. (Madalena lembra-se que tem o nome da prostituta mais célebre do mundo). De imediato pensa que poderia fazer amor com o director. Alguém que lida com essas histórias, colocadas em formato musical, deve saber como reconstruir a harmonia perdida. Se a música ascende de forma contínua, a excitação também ascende. O desejo é irrefreável. Madalena deseja uma cama. Conformar-se-ia com o pequeno divã do camarim do director. Entre um acto musical e outro, poderiam executar o seu instantâneo acto pessoal. Nesse momento, Madalena dá-se conta de que se enganou na ópera. Seria melhor que o director estivesse a dirigir Lulu: esse sim é um mundo sórdido. Então, se fosse Lulu e não Wozzeck, a primeira cena teria já apresentado o tom erótico e a relação com a morte, ainda que, na realidade, ambas as óperas se desenvolvam nesse mesmo tom, aparte do musical. Procurava autores desenfreados, já que a sua música também se fracturava. Madalena pergunta-se: O que se passa com os desenfreados? Por que é que no centro da pergunta está a prostituição? O que significa a pornografia? Por que é que os homens temem tanto as mulheres? Por que não pode a sexualidade ser normal? Por quê os véus? E estas perguntas, ocorridas na sala de concertos, são as que ocupam Madalena há muito tempo. Entretanto, imagina como será o acto sexual com o director da orquestra. Porque não duvida que, uma vez acabado o concerto, terá lugar a sua cópula particular. O motivo pelo qual gosta de ir aos concertos é porque lhe dão a oportunidade de pensar sem ser interrompida, durante várias horas. É verdade que também gosta da música, mas, com frequência, perde-se nos seus próprios pensamentos, e só encontra o caminho quando uma melodia conhecida ou uma nota discordante a devolvem à realidade sonora. A música tinha ficado em fundo e, de repente, retoma o seu lugar de primazia, apagando os pensamentos e deixando que seja o ouvido o órgão receptor por excelência. O órgão da sensualidade. O que tudo imagina. Assistir a um concerto é, pois, uma mistura de estar e não estar. De ouvir e não ouvir. De medir o tempo de modo diferente. De uma maneira 34
musical, evidentemente. Notas. Que notas? Dó, ré, mi, fá, sol, lá si. Madalena estranha as atitudes dos seres humanos. Como é capaz um homem de se encerrar, voluntariamente, durante horas, numa sala de concertos, e permanecer em silêncio absoluto, desfrutando a música? Um homem que também é capaz de se unir à podridão, de viver no excrementício absoluto, de se salpicar com a urina do tédio, de ranger os dentes entre as gotas da saliva que fede, de triturar o crânio do seu semelhante, de beber sangue, de esfarrapar nervos, de esmiuçar camadas e camadas de pura merda. Um homem que não é senão uma série de sacos de entulho, espalhados por aqui e por ali. E a poesia?, interroga-se de novo Madalena, que gosta de passar de um extremo ao outro. Ah, a poesia. É melhor não falar dela: engano total e ficção total. A torre da desilusão. É isso o que é. Mas a alguma coisa deverá agarrar-se. Sim, a um último cartucho. Madalena, entre o som das vozes discordantes, onde os aprendizes de Schönberg nadam na atonalidade, rompem as estruturas e varrem as verdades eternas, recorda que a sua estrutura também foi fracturada. Ingressou no grémio dos filhos abandonados: acaba de entrar na categoria de órfã. Órfã maior de idade, mas finalmente órfã, porque não há idade para a orfandade, ainda que se propenda a pensar que a orfandade só é lamentável nas crianças. Mas não. É pior nos adultos, porque resta pouco tempo para a ultrapassar. Os dicionários equivocam-se com frequência, sobretudo no que se refere a estados de alma. Madalena sabe que tem que rever a sua história antes de morrer, para poder compreender. Deuse conta, com todo o seu erotismo às costas, que é um compêndio da morte. De novo, a música desperta-a: Deixa, deixa os pensamentos e submerge-te em mim, escuta com atenção a cantora, as crispações do violino, o monótono violoncelo, o agoniante timbale. Ouve, ouve, e deixa de pensar. O que achas que sou eu, a música? Um passatempo? Pois bem, sim, passa, passa tempo, e que breve é a tua vida, e ainda a encurtas mais. Pois bem, escutar-te-ei, música, recrimina-se Madalena. Antes de tudo quero ouvir-te, música. O resto não importa. Compreenderei cada excerto musical. Cada acto sexual. Esquece. Esquece. Nada mais que música. E por quê ouvir Alban Berg, se é mais fácil ouvir Mozart ou Bach? Precisamente por isso, porque há que levar a ruptura até ao fundo. Se este é o século desfeito e contrafeito, rompamos tudo, pluraliza Madalena. A música avança. O director une o seu corpo ao ritmo, ao som, ao timbre, à voz, ao tom, à modulação. O director é um movimento que não pára. Não pode parar. O que aconteceria se o director parasse subitamente? Ao princípio, a orquestra não daria conta. Um certo automatismo guiá-la-ia para diante. Mas, então, o primeiro violino, ao levantar a vista até ao
José Carlos Marques
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director e à sua batuta, vê-lo-ia estático, e ficaria também ele estático. O que se passou?, perguntariam todos. Os tons, os sons, iriam deslizando até a uma desafinada interrupção. Os cantores desolados. O público observaria, aterrado, o cenário. Isso não pode acontecer. Será o fim? A morte do director e da orquestra? A morte do público, instantânea e em massa? Que fazer? Que fazer se uma orquestra deixasse de tocar? Pois bem, nada. Ante o silêncio, nada. Talvez recordar uma frase de Ludwig Wittgenstein. Lapidar. Madalena não quer imaginar tal cena, apesar de já a ter imaginado, em outras ocasiões. Mas o que realmente quer é que não suceda. Quer dizer, imagina para esconjurar. Se imagina, não sucederá. Não? A verdade é que a música se interrompeu, mas por outra razão. O costumeiro intervalo. Madalena reage e apronta-se. Deve correr para o camarim do director, querido, querido director, e amá-lo nesse mesmo momento. Os dois juntos. Coincidentes. Madalena precipita-se entre os joelhos dos espectadores, que se começam a endireitar, para chegar ao corredor antes dos outros. Corre, corre, trepa as escadas. Porque lhe ocorreu sentar-se naquele lugar, se a saída de emergência fica tão longe? Ganha uns segundos, enquanto os aplausos anónimos se prolongam e o director agradece, uma e outra vez. Sim, chegará a tempo para que o seu aplauso seja em pessoa, e carregue um nome. O seu breve e bíblico nome. Um amor acavalado como verso que continua de uma linha para outra, como nota que suspende o compasso, como cavaleiro desenfreado. Como o que carece da lei da interrupção: precipitada catarata eterna, interna e exter na. Ritmo apenas pela música preservado. Pêndulo imparável. Sem surpresa. Em plena corrida. Até à sua conclusão.
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ILUSTRAÇÃO CATALINA CHIRILA
quois-est a nous?
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Cătălina Chirilă nasceu na Roménia no ano 1984, sob o signo de escorpião em Oradea, perto da fronteira com a Hungria. Actualmente vive entre Vila do Conde e Cluj-Napoca, na Transilvânia. Em 2007 conclui no seu país o Curso Superior de Artes Gráficas, e em 2009 o mestrado na Universidade de Artes plásticas e Design de Cluj-Napoca. É um dos membros fundadores da associação cultural Nuvem Voadora.
A Cătălina gosta de ilustrar a melancolia numa explosão de cor e calor. Com os seus desenhos descobre realidades paralelas, fantasias e sonhos. O trabalho ”Qui-est a nous?” começou a partir de um conjunto de imagens de pessoas com narizes de palhaço. Dois personagens fazem a história: o palhaço Rei e a Gata. O rei é a parte de nós que está envelhecida e a gata, uma entidade mística que faz a passagem para o mundo do sonho. O palhaço é velho e é a
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nossa alma, que às vezes sente que vai morrer. A gata é uma energia positiva que vai para todo o lado e que quer ensinar o palhaço-rei a sonhar. O palhaço-rei deixa-se levar pela gata mística e apesar de passar por momentos de muito medo, acaba por renascer, sendo essa de alguma forma a moral da história: acreditar que é possível renascer. Cătălina Chirilă 37
ILUSTRAÇÃO BENEDITA FEIJÓ
reacção
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Quando há um cliente ou uma encomeda, normalmente pedem-me que o estilo não se perca, apenas que esteja ligado ao produto. Os trabalhos que crio a nível pessoal, porém, aqueles que não são encomendados, saem espontâneamente e nunca seguem uma tendência. Muitos são aproveitados, outros são deitados fora. Quero sempre que o trabalho mais recente seja uma evolução do anterior, e que se note essa transformação.
Estas ilustrações mostram a forma como vejo o mundo neste momento. O planeta está parado. As pessoas não tem reacção, e a que possam ter parece pouca. Não chega! Há que reagir e inovar. Podemos culpar a crise ou o estado da nação. Podemos olhar para esta como uma fase de reflexão, mas sinto-me farta do medo, do controle e da retracção. É a hora da reacção. Benedita Feijó
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DESIGN GRÁFICO CLÁUDIO REIS
ênfase visual
“L’ inattendu, l’irrégularité, la surprise et l’étonnement sont une partie essentielle et une caractéristique de la beauté.” (Charles Baudelaire) Movimento-me no espaço entre várias disciplinas, todas tendo em comum a ênfase visual. Por consequência, a contaminação é um dado inerente ao desenvolvimento de cada projecto, sendo que o processo de trabalho nada
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tem de revolucionário. Tudo parte de um conceito, ao qual procuro encontrar o melhor veículo de expressão. Um primeiro esquisso ou gesto, progressivamente evoluindo do analógico para o digital, as mais das vezes não seguindo uma lógica necessariamente linear... Certos temas de trabalho são recorrentes: percepção, ilusão, metáfora, definição, matéria, recorte, colagem, negativo... A breve selecção de trabalho aqui representada é composta apenas
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por cartazes e ilustrações, alguns realizados para uma temporada de ciclos de cinema, outros concebidos no âmbito de concursos internacionais, concertos, projectos pessoais. Cada projecto encarado como um exercício único, uma oportunidade de erro, um degrau a subir. Venham mais cinco. Cláudio Reis 41
DESIGN GRÁFICO RAQUEL GRAÇA
faz-de-conta
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Não vamos dizer coisas bonitas, vamos dizer verdades. Ela não queria ser Designer quando fosse grande, nem devia saber muito bem o que isso significava, hoje se calhar também não sabe, mas gosta de pensar que sim. O que ela sempre quis foi fazer muitas coisas, e nunca fazer a mesma durante muito tempo. Cansa-se com facilidade, e acha que a preguiça é um direito e não um defeito. Faz coisas porque
lhe apetece, e faz melhor quando está com o coração partido. Quando não lhe apetece e tem que ser, faz na mesma, mas a isso chama só trabalho, e trabalho sem apetecer é chato. Acalmem-se os que pensam que está aqui uma preguiçosa que não gosta do que faz. As coisas que vieram parar a estas páginas não são as que estão na gaveta: "trabalho sem apetecer é chato". Tudo aquilo que aqui se mostra foi feito com muita vontade, e se isso não se notar a coisa
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torna-se mais grave. O Design nunca foi uma certeza, também não foi um acidente, foi uma escolha. Desde então têm uma relação de amor/ódio, mas nunca outro lhe deu o que ele lhe dá. O design é inteligente, sabe ter sentido de humor, tem boa aparência, e deixa-a brincar ao faz-de-conta. Faz-de-conta que sabe escrever coisas bonitas, faz-de-conta que sabe desenhar, faz-de-conta que sabe fotografar, faz-de-conta
que sabe comunicar (isso ela até acha que sabe), e é assim que vão sendo felizes juntos, ela, ele, e tudo o que ela pode fazer com ele. Depois da Licenciatura em Design na Universidade de Aveiro, está agora a fazer as malas, vai viver para Barcelona, e prepara-se para deixar de ser a recém-licenciada que não faz nada da vida e começar a trabalhar a sério. Não faz grandes planos para o futuro, mas sabe que entre ela e o Design a coisa resulta ou em
divórcio, ou numa longa relação com muitos filhos e um cão... Se isto acontecer quer ter um amante, porque viver só com Design deve ser muito triste. Raquel Graça
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samples Por bruno neiva
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sample #09 as únicas duas mãos que possui encerram um estreito, como se de um outro calendário
sample #10 dar tempo ao tem po. Um dia, ainda irás ser o ladrão da loco motiva, le tal
sample #11 no s umar ento q uarto, piel a de f luidos
sample #12 o despojamento dos tendões na sala de nada abastada. Sebenta no colo, colher de xarope e a lembrança da musa fiada
http://umaestruturaassimsempudor.blogspot.com/
sample #13 houve uma altura, de segunda à sexta, em que os pilotos subiam e desciam dos andaimes. Havia dentes a assistir, que rangiam, assim, sem mais, nos ébrios corredores dos pelouros. E havia sementes de tâmara
sample #14 adop tado o pa p el de v oyeur, o animismo d a retina - O trânsito de espectros poroso s
sample #15 aind Anão Havi Anas Cido Ejác Urti Aatr Iped Abor Rado Café
sample #16 u m homem, f eito ar-condi cio nado, ao s om d e uma can ção Top o-de-tab ela
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projecto la.ga bag
Quando Daniela e Jorge começaram a divulgar o seu projecto em Portugal, nunca pensaram encontrar tantos obstáculos. “Muitas vezes acusaram-nos de não ser os verdadeiros autores da mala”, conta Jorge recordando o episódio em que a proprietária de uma loja insistiu que a LA.GA bag era um projecto estrangeiro. “Um dos problemas em Portugal é a falta de reconhecimento dos designers e produtos nacionais” denuncia Daniela. A LA.GA venceu 46
este panorama negativo. Um dos motivos de sucesso está no material- o tyvek- concebido pela DuPont num laboratorio em Nova Iorque. “Sem dúvida que a LA.GA sem o tyvek não teria a mesma performance: são 40 gr que suportam 55 kg!” A inovação também passa por uma forte consciência social. Um dos motivos que deu o Prémio Nacional do Design a Daniela e Jorge foi o processso de produção da mala- “Não
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misturamos muitos materiais, só tyvek, linha e tinta”. A LA.GA bag marca pela diferença mas Jorge e Daniela fazem questão que esta originalidade não imponha preços elevados: “Não queremos que a mala seja uma obra de arte. Ela é uma peça de design, é suposto ter uma função!” A mala, na sua versão original branca, começa a ser comercializada em Itália. As portas em Portugal abrem-se depois da LA.GA ser premiada em vários concursos. A
partir daí, a mala tem sido alvo de todas as atenções no mundo do design de moda. “Quase que fomos obrigados a criar uma colecção que desenvolve outros padrões para além da branca” diz Jorge. Nasce assim a colecção “To love is not an option”. Os padrões tiveram o contributo de vários artistas convidados. Fizeram-se edições limitadas de 300 unidades mas também peças únicas. O percurso da LA.GA já é longo. Passou por
Atenas, Londres, Japão e em Novembro estará presente na Trienal de Design em Milão. A KrvKurva vai ser representada pela peça original branca da LA.GA e mais duas “to love is not an option”. Mais uma vez, a LA.GA viaja pelo mundo da moda, mostrando que o design português tem uma palavra a dizer. Bernardo Aguiar, Diana Matias e Vera Moura 47
Paulo Menezes
projecto antiframe
AntiFrame – Independent Curating Project afirma-se, no panorama artístico internacional, como uma iniciativa ambiciosa e criteriosa de divulgação curatorial de projectos artísticos. Através de uma plataforma de artistas, tentamos, a nível mundial, encontrar um espaço, um momento, um sentido para que o seu trabalho se dê a conhecer. AntiFrame inspira-se na recusa do estético pelo estético, demonstrando, assim, o seu papel incisivo numa 48
sociedade onde, por vezes, a Arte parece não ter um papel activo. Para tal, apostamos em criar uma simbiose entre artistas, curadores, coleccionadores, promotores e instituições dentro dos circuitos artísticos nacional e internacional. Colaboramos com museus, galerias, bienais, diferentes espaços culturais, a fim de impulsionar a obra que AntiFrame considera ser pertinente. Através das três linhas de trabalho que compõem o projecto
www.antiframe.wordpress.com
(Curadoria, Educação Artística e Design), AntiFrame procura ser, não só um pólo difusor do que mais original se faz em termos artísticos, como também se preocupa com a aproximação do público em geral ao entendimento da Arte Contemporânea, desenvolvendo, deste modo, vários programas de integração na realidade artística. AntiFrame – Independent Curating Project (que em português significa antimoldura, logo,
antiornamento) é uma iniciativa portuguesa, formada por portugueses, mas cuja aceitação e reconhecimento têm acontecido mais em território internacional do que nacional. Na verdade, temos tentado inverter esta situação, mas sem muito êxito. Isto faz com que ainda não tenhamos fixado este projecto fisicamente em Portugal. Contudo, podem sempre entrar em contacto connosco via e-mail (info@antiframe.org), através do blogue
www.antiframe.wordpress.com ou através do sítio na internet que por aí se avizinha, em www.antiframe.org. Quem somos? A Curadoria e Educação Artística estão a cargo de Cláudia Camacho. O Design é da responsabilidade de Daniel Camacho. Antiframe 49
Margarida Ribeiro
projecto irmãos esferovite
Os irmãos esferovite são uma família de palhaços onde a música, o humor, e o circo se cruzam. A interacção com o público é uma das suas maiores armas de diversão. Um quarteto de palhaços que surpreende as audiências com números de malabarismo, equilibrismo, acrobacia e um reportório musical composto por músicas originais e versões que passam pelo o universo da banda desenhada e do circo. Os irmãos esferovite são formados pelo bando 50
de palhaços Curica, Palhetas, Pirulito e Champignon, respectivamente André Lima (guitarra), André Teixeira (saxofone), Luís Almeida (precursão) e Pedro Correia (pratinhos, buzinas e... ). Este projecto está sediado na Nuvem Voadora associação cultural de Vila do Conde. Os ir mãos esferovite têm participado recentemente em vários eventos e festivais em Portugal e Espanha: Festival Sai Prá Rua
Catalina Chirila
www.myspace.com/irmaosesferovite
(Valença), Festival Internacional de Teatro É-Aqui-In-Ócio! (Povoa de Varzim), Festival “E Se Esta Rua Fosse Minha” (Porto), VI Festival Internacional Dixieland (Cantanhede) e Festival de Bandas de Calle HAIZETARA 09 (Bizkaia), entre outros. Irmãos Esferovite
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Margarida Ribeiro
projecto metro quadrado serapilheira
É um projecto caseiro sem grandes turbulências, quanto a modelos ou sugestões de trabalho, e muito saudável economicamente. O metro da boa está a 85 cêntimos, no Zé da Venda, e a mais fraca a 65 cêntimos. Já pintei com essa e foi na boa, só come mais pincéis de trolha. Quanto à tinta procuro respigar o que puder, de preferência plástica. Amanhã pinto mais duas horinhas e acabo o Fernando Pessoa. 52
“Já pensaste no seguinte? Era fixe o Bob Dylan!” E assim procuro devagarinho homenagear os grandes criadores, na posse meditativa, no gesto e na cor… Marco Castiço
Margarida Ribeiro
www.metroquadradoserapilheira.blogspot.com
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inês guedes recomenda
CINEMA
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The Virgin Suicides Realizado por Sofia Coppola, que se estreou na sua primeira longa-metragem, este filme conta a história da família Lisbon nos anos 70. O suicídio de uma das cinco filhas leva à exacerbação da religiosidade dos pais e à consequente restrição da liberdade das mesmas. A partir daqui, desenrolam-se uma série de acontecimentos pautados pelo mistério e obsessão. Este filme impressionante é talvez a mistura mais bem conseguida do belo e do trágico, do comovente e perturbador, com Coppola a revelar-se uma das cineastas mais promissoras dos últimos tempos.
Control Parecem sempre escassas as palavras para descrever este biopic intenso que Anton Corbjin faz sobre Ian Curtis, um músico enigmático que dispensa apresentações. O filme permite-nos entrar na vida de Ian (protagonizado pelo talentoso Sam Riley), conhecer o seu feitio, os seus medos, o seu meio e motivações, assim como perceber a estrutura conturbada de onde emergem as músicas colossais e viciantes de Joy Division. Por estas razões, é uma obra-prima obrigatória.
The Tracey Fragments Assiste-se aqui a uma tentativa de filme que, embora seja interessante, acaba por se fragmentar. Com efeito, Bruce McDonald tentou realizar algo que fosse diferente, mas acabou por cair num excesso de irreverência que nem sempre funciona. Este conjunto de planos cortados e inacabados descrevem a procura desenfreada de Tracey pelo seu irmão Sonny que insiste em acreditar que é um cão. Destaca-se, apesar de tudo, a prestação quase sempre genial de Ellen Page e um argumento que até consegue prender. Recomenda-se, então, pela originalidade de um experimentalismo (em demasia) e porque o cinema é uma expressão de arte em que arriscar é condição para progredir.
Data de Lançamento: 1999
Data de Lançamento: 2007
Data de Lançamento: 2007
Sofia Coppola
Anton Cornjin
Bruce McDonald
www.sinkingbelle1.blogspot.com
V for Vendetta Abram alas para um espírito puramente revolucionário. Preparem-se para o dia 5 de Novembro e para nunca mais o esquecerem. Realizado por James McTeigue e protagonizado por Natalie Portman e Hugo Weaving nos principais papéis, este filme transporta-nos para uma vingança esclarecida, merecida e monumental. Demonstrando a evolução e sucessiva queda de um regime totalitário e futurista em Inglaterra, esta também é a história cativante da aproximação de duas pessoas com passados tragicamente semelhantes. Mais do que um grande filme, V for Vendetta é algo jamais olvidável.
REALIZADOR - Federico Fellini Federico Fellini nasceu em 1920 em Rimini (que mais tarde lhe prestou homenagem ao dar o seu nome ao aeroporto da cidade), mas o seu espírito inquieto levou-o a partir para Roma com apenas 18 anos, onde conseguiu sobreviver como caricaturista até ao emprego fixo nos quadros de uma revista humorística. Entrou no curso de Direito, para agradar aos seus pais, contudo não existem provas de que tenha alguma vez frequentado as aulas. É nos anos 40 que entra definitivamente no meio do cinema italiano, sendo nessa altura que conhece Giullieta Masina, mulher que seria amor da sua vida e que imortalizaria no belíssimo La Strada (1954), como a prostituta Cabiria em Le Notte Di Cabiria (1957) e no onírico Giullieta Degli Spiriti (1965). Toda a sua carreira se define com a tangente entre a realidade e o sonho, bem patente nos seus melhores filmes como 8½ (1963), onde cria a obra definitiva sobre o artista e a sua relação com a arte. Outras grandes obras do italiano são I Vitelloni (1953), La Dolce Vita (1960) e Amarcord (1973), deambulando pelo mundo dos sonhos, bem vincado no termo “Fellinesque” (Felinesco, adjectivo). Fellini e Masina tiveram um filho, que faleceu com apenas um mês, algo que marcou o realizador para sempre. O amor entre os dois era grandioso e no dia seguinte ao 50º aniversário de casamento, Fellini deu o seu último suspiro.
Data de Lançamento: 2005 James McTeigue
http://en.wikipedia.org/wiki/Federico_Fellini
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manhã manhã recomendam
MÚSICA
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The Fantastics Ao ouvir estes meninos depresa colocamo-nos nos anos reis do FUNK/JAZZ, é um voltar aos sons do passado com lavagem refrescante do presente. Simplesmente brilhante!
Beat The Donkey Beats de pura loucura, convidam a uma noite de dança com meias pela canela. De preferência ilucidativas ao arco–íris.
Girls Para começar podemos que dizer que a maior parte das canções da banda é sobre…raparigas sim! Sintonizem este tipo de rádio antiga com uma boa “lust for life”.
Funk Jazz Soul
Improviso Rock
Indie Rock
http://www.myspace.com/ thefantasticsfunk
http://www.myspace.com/ beatthedonkey
http://www.myspace.com/girls
www.myspace.com/asduasmanhas
Taken By Trees Esta senhorita, cheia de charme, faz música subtil. Atrevo a dizer que todos já a ouvimos através da bem badalada “Young Folks”. Excelente para um bom acordar.
DISCO - Psychic Chasms No inicio estávamos apenas espantados com o tema “Should have taken acid with you”, daí ter surgido na nossa lista 10 bambus de primeira da edição anterior, com o andamento obtido deste magnifico tema veio o resto da teia de aranha do primeiro álbum lançado por Neon Indian. Podemos classificar como sendo um som de pézinho de videojogo.
Indie Pop Étnica
Indie Pop
http://www.myspace.com/ takenbytreesmusic
http://www.myspace.com/neonindian
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andré campos recomenda
LITERATURA
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Harry Potter Uma colecção interessantíssima que me deixou sempre ansioso pela saída do livro seguinte! O meu preferido foi sem dúvida o 7º pela acção constante e alguns acontecimentos surpreendentes. Uma historia que narra o crescimento dificil de um rapaz, com uma família que o maltratava, e das batalhas e escolhas que este teve de travar.
A Trilogia da Herança Uma fantasia épica que conta a história de Eragon, um rapaz comum de uma aldeia medieval, que se transformou num cavaleiro do Dragão com ajuda de Saphira, Brom, Ajihad e outros. Também mostra retratos fantásticos das batalhas que travou.
O Planeta Branco Um livro que me deixou com uma visão diferente do Espaço. Conta a história de 3 astronautas que partiram numa enorme viagem pelo Universo, à procura de água, e de como encontraram o Planeta Branco e a Terra dos Mortos, voltando à Terra sãos e salvos... sem se lembraram de nada.
Editorial Presença
Gailivro
Oficina do Livro
J.K. Rowling
Christopher Paolini
Miguel Sousa Tavares
Banda Desenhada da Disney Uma colecção que leio desde tenra idade e nunca deixarei de ler! Enorme e fabulosa, com uma boa qualidade de desenho, e histórias divertidas que me fazem rir desde pequeno.
AUTOR - J.K. Rowling Uma fantástica escritora britânica que provavelmente criou a minha colecção favorita de sempre! Tem uma imaginação brilhante, que começou por colocar em guardanapos de papel no nosso país.
Edimpresa Disney
http://www.jkrowling.com
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josé carlos marques recomenda
INTERNET
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Arte Photographica Criado por Sérgio B. Gomes, um licenciado da Escola Superior de Jornalismo do Porto que escreve regularmente para o jornal Público, o Arte Photographica é talvez o blogue português mais completo e mais objectivo sobre Fotografia na actualidade. Conta com a cumplicidade de Maria do Carmo Serén, e ao longo do tempo vem desenvolvendo vários segmentos, a par das notícias, dos quais se podem destacar por exemplo o Entre Aspas ou Uma Fotografia, Um Nome.
Blographo Desenvolvido pelos fotógrafos do Público, o Blographo é o resultado de uma iniciativa pioneira no fotojornalismo português e nasceu para combater o constrangimento da falta de espaço com que os mesmos se debatem nas páginas do jornal diário. Centra-se na publicação de algumas das melhores imagens que são feitas nos dias de hoje, tendo já servido de palco a retratos de períodos importantes do nosso país, como as eleições Autárquicas e Legislativas, mas também de algumas viagens que os repórteres vão fazendo um pouco por todo o mundo.
Borras de Café Este blog nasceu da combinação de esforço entre Joana Beleza e Ricardo Fortunato, e vai divulgando apontamentos que passam pelo quotidiano dos dois autores, mas também pelo gosto e pelas descobertas individuais de cada um. Sendo ao mesmo tempo intimista e generalista, na sua forma, conseguiu desenvolver uma relação muito próxima com os seus visitantes. De destacar, os vídeos apresentados pelo Ricardo.
Sérgio B. Gomes
Colectivo de Fotógrafos do Público
Joana Beleza/Ricardo Fortunato
http://blogs.publico.pt/ artephotographica
http://blogs.publico.pt/blographo
http://borrasdecafe.wordpress.com
www.josecarlosmarques.com
Casa de Osso Criado pelo escritor valter hugo mãe, o Casa de Osso conta neste momento com o contributo do ilustrador que dá pelo nome de Mr. Esgar. Os dois conseguiram reunir esforços para criarem um espaço que, ao mesmo tempo, desafia a imaginação e apela à contemplação, não sendo raras as vezes em que despertam também a discussão. Sendo um blog pessoal, este espaço serve também de montra à personalidade dos dois autores, que muitas vezes nos deixam na dúvida entre o que é realidade e aquilo que pode ser ficção.
FERRAMENTA - Indexhibit Tendo por base as palavras Index e Exhibit, o Indexhibit começou a ser desenvolvido no ano de 2001 por Daniel Eatock. Distribuído na Internet como uma ferramente Open Source, permite aos seus utilizadores o desenvolvimento bastante simples de websites que quebram com o aspecto tradicional (associado à impressão em papel) e oferecem o acesso a uma rápida actualização. Com um aspecto inicial bastante simples e intuitivo, esta plataforma permite também a utilização HTML em qualquer um dos seus componentes, abrindo assim o acesso a um sem número de aplicações e utilizações que se adaptam às necessidades de qualquer utilizador. É muitas vezes referido como a mais simples ferramenta disponível para criar um Portfólio Digital, sem recorrermos às comunidades online.
valter hugo mãe/Mr. Esgar http://www.casadeosso.blogspot.com
http://www.indexhibit.org
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heaney e a metáfora da escavação Por Mariana da Silva Marques
Resumo Ao longo da primeira parte da sua obra, Seamus Heaney enfatizou um contacto de teor referencial e metafórico com o solo da sua realidade local – a Irlanda do Norte. Nos volumes Death of a Naturalist (1966), Door into the Dark (1969), Wintering Out (1972) e North (1975), o poeta utiliza a metáfora da “escavação” de forma diversa, sendo possível, no entanto, reconhecer alguns traços comuns presentes nos mesmos. A comparação entre o acto de escrita e a actividade agrícola, a revisitação da “memória pessoal” associada à infância do poeta; e por último, a revisitação da “memória colectiva” associada a um passado pastoril tipicamente irlandês, são alguns desses traços. O interesse pelos estudos arqueológicos também evidencia uma das possíveis manifestações do “escavar” que, ora constitui uma escavação “física” do solo irlandês, ora constitui um “escavar” do passado, associado à contemporaneidade do poeta como, aliás, contemplaremos mais tarde. Os poemas de Death of a Naturalist expressam na sua maioria as memórias de infância do autor. Neste sentido, em termos de crítica literária, os poemas são melhor compreendidos sob a luz de uma análise de teor biografista. No poema “Digging”, que abre o volume, o poeta discorre sobre o trabalho agrícola do avô e do pai, chegando à conclusão que não possui “spade to follow men like them.” O poeta elege a caneta como arma de “escavação”, sendo a caneta ainda mais forte do que a “espada” (como diz no provérbio), adoptando, por isso mesmo o poema como uma espécie de “manifesto”. Aí, alerta para as possibilidades da linguagem, exaltando a sua capacidade de transformação do mundo. A metáfora da “caneta-espada” prenuncia as obras posteriores a Death of a Naturalist, ou seja, preconiza um uso da matéria poética enquanto revisitação cultural e histórica da Irlanda: “the poet’s digging is at best an ornamental cousin of the sustaining work of the plowman echoes an anxiety audible in Heaney’s work from “Digging” onward.” (Wes Davis 100). A consciência meta-poética do autor, manifesta no emprego de uma meta-linguagem, alerta-nos para a dicotomia Inocência/Experiência, que constitui o tema central da obra. O poeta toma consciência do seu papel no real: “Between my finger and my thumb/The squat pen rests. /I’ll dig with it.”A memória constitui o instrumento primordial do poeta que, deliberadamente, dela faz emergir as imagens da infância. O poema “Digging” faz do poeta o herdeiro de uma tradição rural ligada ao trabalho agrícola e à humildade pastoril. Death of a Naturalist revela que a soberania da poesia está na capacidade de constituir por si mesma um acto de autoexplicação, a par da tentativa de restituir à realidade irlandesa aquilo que se perdeu, ou seja, a capacidade de devolver a identidade de um país que viu a sua cultura reprimida pelo poder inglês. Neste sentido, “Digging” convertese numa espécie de poema de iniciação de uma demanda que se constitui enquanto verbalização 62
de uma imagem arquetípica do imaginário irlandês, pelo evidenciar do trabalho agrícola. Em termos linguísticos, a observação da rudeza do trabalho agrícola exterioriza-se na crueza sintáctica dos versos, nos quais a quase ausência de verbos é notória. O próprio vocabulário expressa a aspereza do trabalho agrícola: “the spade sinks into gravelly ground” e as “dug potatoes have a cool hardness.” Em Door into the Dark, o primeiro verso de “The Forge” é elucidativo do título do volume: “All I know is a door into the dark”. O vocábulo dark ecoa em todo o livro de forma intencional e programática. O dark, ora refere-se à darkness of the self, ora refere-se ao próprio acto de criação artística e, em última instância, à concretude do próprio solo irlandês e a história que transporta. Este último aspecto é focado no poema “Bogland”, onde o solo irlandês aparece descrito através do nomear de características que lhe são ausentes – lugares comuns que, à partida, sugeririam mais atenta contemplação: We have no prairies To slice a big sun at eveningEverywhere the eye concedes to Encroaching horizon, Is wooed into cyclops’s eye Of a tarn. (Seamus Heaney 41) Acrescenta ainda: “Our unfenced country/ Is a bog that keeps crusting/ Between the sights of the sun.” “Bogland”celebra o solo irlandês, solo que é apresentado sob uma perspectiva junguiana. O arquétipo da mãe, aqui associado à terra, implica a experiência mística da autoctonia, ou seja, a consciência de que se foi gerado pela terra, e que a mesma possui uma fecundidade inesgotável. Assim, dá-se lugar a uma experiência cósmica universalizante que ultrapassa a solidariedade familiar e ancestral: “The bogholes might be Atlantic seepage. /The wet centre is bottomless.” Tal como em Death of a Naturalist, a metáfora da escavação surge, mas com uma diferente exteriorização: “Our pioneers keep striking/ Inwards and downwards/Every layer they strip/ Seems camped on before”. O movimento downwards reforça a ideia de “descer” a uma memória ancestral, permitindo uma melhor compreensão do Presente: “Bogland" had been an attempt to present the bog as the mythical space or memory of the Irish landscape, "a landscape that remembered everything that happened in and to it.” (Anthony Purdy 95). A utilização da simbologia da terra em “Bogland” surge enquanto forma embrionária daquilo que serão os bog poems. Ao elemento terra, junta-se o elemento água (característica dos bogs), o que confere um teor místico ao volume, contrário à referencialidade presente em Death of a Naturalist. Aqui, o solo simboliza a morte, pois exuma a vítima – They’ve taken the skeleton Of the Great Irish Elk Out of the peat, set it up
José Carlos Marques
An astounding crate full of air. (SH 41) – mas também gera vida, pois tem a capacidade de preservar os corpos, “devolvendolhes” as identidades, possibilitando o “regresso” e, ao mesmo tempo, uma “consciência racial” renovada: “Heaney had begun to develop the notion of the bog as `an answering Irish myth'; as a defining symbol of what he terms the `national consciousness' of the Irish Catholics; and as a repository of Irish cultural history.”(Andrew Foley 62, 63). “Bogland” é último poema de Door into the Dark, e assim, abre caminho para o próximo volume, Wintering Out, volume que mantém a carga simbólica ligada à terra, a par de uma referencialidade presente que se evidencia através do nomear de lugares. Através do uso da memória, trabalhada de forma a produzir ecos simbólicos no presente, o poeta recorre de novo às memórias de infância, mas evocando-as na sua complexidade histórica, política e linguística. Em “Finter”, o primeiro verso do terceiro dístico elucida-nos: “Cold beads of history and home”. Em Wintering Out, o poeta entranha-se na conflituosa realidade irlandesa, mas consciente que a sua preocupação assenta no labor poético. Como resultado, os poemas do volume oscilam intrinsecamente entre o literal e o simbólico, a realidade e a alegoria, a política e a filologia: “As poetry critic Blake Morrison notes, Heaney was attempting to devise a form "more suited to archaeology" in order to "draw on previously repressed psychic and mythic material" (45), and the critic Elmer Andrews recognizes in these poems a "move away from the childlike world [of his first two books] into the harsh adult world."( Jonathan Bolton 210) As figuras evocadas nos poemas foram vítimas de isolamento, repressão, traição e, por último, de ritos sacrificiais. São apresentadas como exemplo de sofrimento, e ao mesmo tempo de força, compondo um paralelismo com as vítimas do presente. Assim, Heaney estabelece um paralelismo entre a Idade do Ferro e o Presente, entre a Jutelândia (actual Dinamarca) e a Irlanda do Norte, através do processo de “escavação”, o que possibilita a confrontação com os problemas da sua realidade presente – a violência sectária. “The Tollund Man” corresponde a uma figura encontrada num dos bogs, e mantém-se conservada pelas características orgânicas que compõem o solo. “The Tollund Man” encerra a representação destas figuras, figuras estas que constituem a base de narrativas de carácter hagiográfico e, ao mesmo tempo, o mote para a criação dos bog poems no livro que sucede Wintering Out – North – como veremos mais tarde. No poema que sucede “The Tollund Man”, “Nerthus”, é estabelecida uma relação de analogia temática com o anterior. Nerthus é a deusa da fertilidade a quem eram oferecidos os rituais sacrificiais. Os sacrificados eram mortos no Inverno e colocados nos bogs, para que a deusa assegurasse a fertilidade das colheitas na Primavera seguinte. Por esta razão, o poeta alude a “Tollund Man” 63
c o m o : “ B r i d e g ro o m t o t h e g o d d e s s ” , descrevendo o processo de sepulto e a preservação do corpo numa linguagem de teor sexual: She tightened her torc on him And opened her fen, Those dark juices working Him to a saint’s kept body. (SH 64) São pois, as características do solo que permitem a preservação do corpo. A junção entre uma Jutelândia remota e a Irlanda estabelece uma relação entre as vítimas sacrificiais e os mártires que se inserem no Republicanismo Irlandês, que têm como ícone Kathleen ni Houlihan. Assim, “The Tollund Man” figura um corpo milagrosamente intacto, passível de ser adorado, sendo comparado a um santo da hagiografia católica. Nele é assegurada a possibilidade de fazer “germinar” as vítimas da violência sectária, da mesma forma que detém a capacidade de fazer “germinar” as futuras colheitas: “In the process of meticulously describing the photographs of the Tollund man, Heaney skilfully interweaves concepts of Iron Age religion with those of Catholicism, and details of the Tollund man's death with those of Irish sectarian atrocities.” (AF 64). De facto, Heaney “could risk blasphemy” ao intentar neste paralelismo que subverte os tradicionais ícones do Cristianismo. A imagem arquetípica da Terra-Mãe verifica-se na expressão “the cauldron bog”. Aqui, o poder de fazer “germinar”, ou seja, criar, coabita com a exumação da vítima e, ao mesmo tempo, assume um carácter de teor místico, ou seja, a terra detém um poder transformativo do corpo e do espírito. É através do mythic method que o poeta reorganiza a sua realidade, conferindo unidade a elementos anteriormente tidos em conta de modo fragmentário. Há um desígnio de reintegração, ou seja, a unificação de uma Irlanda dividida: Consecrate the cauldron bog Our holy ground and pray Him to make germinate The scattered, ambushed Flesh of labourers. (SH 65) Heaney justapõe o passado à atrocidade específica do presente: Tell-tale skin and teeth Flecking the sleepers Of four young brothers, trailed For miles along the lines. (SH 65) Na terceira sequência, o poeta regressa ao presente, incorrendo numa viagem física, tal como havia anunciado no inicio do poema: “Some day I will go to Aarhus”. Aqui, o poeta intenta no mesmo percurso que se verifica em “The Tollund Man”, procurando partilhar a sua 64
“sad freedom”, enquanto a caminho da execução. Neste sentido, a viagem torna-se num ritual de cariz litúrgico, sendo ao mesmo tempo inserido no discurso uma metalinguagem que privilegia os nomes dos lugares: “Saying the names/Tollund, Grauballe, Nebelgard.” Assim, “The Tollund Man” e o poeta partilham a mesma identidade e o mesmo Norte, prevalecendo a ideia de unidade numa realidade cíclica. No final do poema, regista-se um sentimento de pertença do sujeito poético, que vai assim ao encontro do intento inicial: “Some day I will go to Aarhus” – o topos da viagem, análogo à realização de um futuro nacional de unificação - que se cumpre, apesar da sensação de estranhamento (similar a uma familiaridade que coabita com a estranheza do contacto com uma língua estrangeira): Out there in Jutland In the old man-killing parishes I will feel lost, Unhappy and at home. (SH 65) Apesar deste estranhamento opaco, verificam-se no poema sinais de esperança e de confiança no futuro. Na associação da Irlanda moderna com os rituais de fertilidade da Jutelândia, há no poema a sugestão da possibilidade de transformação e renovação, que, a par do poema “Nerthus”, poema já aqui mencionado, recorre a um imaginário intrauterino associado claramente ao ideário da sexualidade e do crescimento natural. “The Tollund Man” nasce de um artefacto arqueológico que, em si, detém o poder de materializar o passado: In a word, with their peculiar capacity to c o m p re s s t i m e, b og b o d i e s a re exemplary mnemotopes and speak of a life anchored in an everyday that was then but is also now. To an extraordinary degree, bog bodies allow us to see time. (AP 94) Depois da publicação de Wintering Out, a exigência de um novo volume que confrontasse de uma forma mais assertiva a questão irlandesa torna-se inevitável. North assume essa mesma preocupação, e, através do recurso de Heaney ao uso do mito, tenta problematizar as atrocidades cometidas no período dos Troubles. O uso do mito torna mais legítima a tentativa de explicação dos controversos acontecimentos vividos no Ulster britânico, em detrimento do recurso a uma mera opinião individual. Recorrendo novamente à metáfora da escavação, o poeta “enters (into) the megalithic doorway”, na tentativa de encontrar elementos atávicos de uma comunidade – aqui, de todo um North que partilha origens e tradições. Encontramos uma continuidade da renascença de mitos gaélicos yeatsiana. No entanto, as estratégias poéticas de Heaney diferem das de Yeats. Enquanto a concepção de Yeats é heróica, trágica e mítico-simbólica, Heaney emprega o
símbolo enquanto mediação directa para o real, através de constantes referências a ritos e costumes tribais, tornando politicamente ainda mais controversa a questão da violência no Ulster. De facto, alguns dos bog poems são dotados, tanto de referencialidade, como de técnicas mitopoéticas, pelo recurso às potencialidades mítico-antropológicas dos corpos encontrados nos bogs: If the first two poems in the bog s e q u e n c e e s t a bl i s h v i t a l c u l t u r a l connections and hint at possible political violence, the next poems bring the focus directly to bear on contemporary Ulster itself. In particular, with the deepening of the crisis and growing pessimism about its resolution in the 1970s, Heaney begins to explore a range of difficult emotions and controversial positions arising from the conflict situation. (AF 67) No poema “Punishment”, Heaney aparece como um “artful voyeur” perante o corpo exposto de “ The Winderby girl”. A mesma havia sido afogada num bog como castigo por adultério. Aqui, Heaney estabelece um paralelismo entre a “Winderby Girl”, e as mulheres, que, durante os Troubles, foram acusadas pela comunidade católica por confraternizarem com soldados ingleses. Um tom negro e desconcertante marca o poema, enquanto o poeta reproduz, de forma detalhada, a aparência delicada da rapariga. Aqui, a linguagem adquire um tom de carácter sexual: I can feel the tug of the halter at the nape of her neck, the wind on her naked front. It blows her nipples to amber beads, it shakes the frail rigging of her ribs. (SH 117) Na terceira e quarta estrofe, o sujeito poético contempla o corpo da vítima descoberto no bog, onde a passagem do tempo se evidencia, apesar das capacidades de preservação do solo: Under which at first she was a barked sapling that is dug up oak-bone, brain-firkin (SH 117) Na quinta estrofe, é-nos revelado que a vítima conserva consigo o “blindfold” e o “noose”, sendo o último, ironicamente comparado com um anel, comummente visto como um símbolo de amor. Desde o verso “Little adulteress” até ao final do poema, o sujeito poético vai definindo a sua posição, revelando um sentimento de empatia para com a vítima. Simultaneamente, evidencia um acto de auto definição, que ora se relaciona com a persistência de sentimentos
José Carlos Marques
atávicos, ora constitui a resposta de Heaney, enquanto católico residente na Irlanda do Norte, aos Troubles. Assim, a “hunting face” da “Winderby Girl” torna-se a “hunting face” das “betraying sisters” contemporâneas de Heaney, que foram “cauled in tar” pelos seus irmãos católicos. Apesar de esta ser a ideia-chave do poema, a sua complexidade é adensada nas duas últimas estrofes. A voz poética assume assim uma posição: ”I who have stood dumb” – se por um lado há um julgamento implícito perante o barbarismo do castigo, por outro, a voz poética assume o seu silêncio: “I almost love you/ but would have cast, I know, / the stones of silence”. Deste modo, todas as soluções de âmbito pseudohumanista e/ou de índole racionalista são postas em causa. Este tipo de ritual constitui a base de q u a l q u e r r e l i g i ã o, i n c l u s i v a m e n t e d o Cristianismo. Aqui, Heaney não procura desculpabilizar ou justificar a violência, mas sim, fazer entender que a mesma faz parte da história natural das civilizações, justapondo assim, a Idade do Ferro (suscitada pela contemplação do corpo no bog) e o seu Presente. No entanto, nem mesmo uma postura de “connivance” ou “understanding” constitui uma desculpa para o seu silêncio, silêncio que se constitui enquanto metonímia do silêncio da comunidade católica durante o período dos Troubles. Através da metáfora da escavação, Heaney faz do processo poético o receptáculo de uma memória racial individual e/ou colectiva, de uma etimologia tribal, de um sentido de lugar – um solo onde as vítimas da Grande Fome e da violência sectária emergem.
Obras Citadas Bolton, Jonathan. “Customary Rhythms: Seamus Heaney and the Rite of Poetry.” Papers on Language and Literature: A Journal for Scholars and Critics of Language and Literature 37:2 (2001): 205-222. Davis, Wes. “From Mossbawn to Meliboeus: Seamus Heaney’s Ambivalent Pastoralism.” Southwest Review 92:1 (2007): 100-15. Heaney, Seamus. Opened Ground Poems 1966-1996. London: Faber and Faber, 1998. Foley, Andrew. “Befitting emblems of adversity: The bog poems of Seamus Heaney.” English Studies in Africa 41:1 (1998): 61-75. Purdy, Anthony. “The bog body as mnemotope: nationalist archaeologists in Heaney and Tournier.” Style 36:2 (2002): 93-110.
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josé peixoto entrevista
João Rios
VALTER HUGO MÃE algumas coisas em que acreditamos. Acho que a tradução vem daí. SM.: Com livros traduzidos em várias línguas, algumas completamente estranhas à sua pessoa, nunca duvidou do tradutor? v.h.m.: Recebi uns poemas traduzidos em Checo. Acredito porque dizem que é meu, mas não dá para perceber nada. Tenho de ter confiança no responsável pela tradução, que fez as coisas como devia fazer, ou pelo menos fez de boa fé. Quero crer que as pessoas que na República Checa, lerem aquilo que escrevi, estejam a ler de facto aquilo que eu queria dizer e a receber a mensagem que eu acho que deviam receber. SM.: Agora também escreve para crianças, isso levou o autor à escrita convencional, com maiúsculas? v.h.m.: O universo das crianças não se compadece com maneirismos de artista adulto. As coisas têm que ser adaptadas aquilo que elas podem compreender. Até o meu nome está escrito com maiúsculas. Gosto daquelas estórias e quero acreditar que qualquer pessoa que as vai ler, achará as estórias fantásticas. SM.: Há quem afirme que escrever para crianças ao contrário do que seria de supor, não é nada fácil...
A Cobrição dos Dias valter hugo mãe nasceu em Saurimo, Angola, em 1971. Cresceu e vive em Vila do Conde. Licenciado em Direito, pós-graduado em L i t e r at u r a Po r t u g u e s a M o d e r n a e Contemporânea. Poeta e romancista, tem mais de uma dezena de livros de poesia editados e três romances. Venceu os Prémios Almeida Garrett, 1999, com o livro de poesia, egon schielle auto-retrato de dupla encarnação e prémio José Saramago, 2007, com o livro, o remorso de baltazar serapião, QuidNovi. Reuniu a sua poesia com o título: folclore intimo, Cosmorama, 2008. Lançou em Abril dois livros para crianças: A Verdadeira História dos Pássaros e História do Homem Calado, QuidNovi, 2009. É director da nova revista, poesia traduzida, Zdrada. ShareMag: A revista Zdrada, editada pela Cosmorama, vai dedicar-se exclusivamente à poesia traduzida? 66
valter hugo mãe: Publicará apenas poetas estrangeiros e tentará abrir de alguma forma uma janela para o que é sobretudo a poesia contemporânea, nos outros países. Poderei dedicar números à poesia polaca, checa, ou africana desde que não seja de expressão portuguesa. Posso fazer um número dedicado a um só poeta, ou a uma geração, ou convidar um tradutor e juntar na revista várias traduções de vários poetas, sejam eles de onde forem. São muitas as possibilidades. SM.: A tradução parte sempre da vontade do escritor dar a conhecer uma obra? v.h.m.: A grande maioria dos escritores, traduzem porque a maior parte das vezes não ganham o suficiente com os direitos de autor. Uma minoria traduz por um certo fascínio pela obra de alguém e por uma vontade de divulgação. Acho que em todos esses escritores existe um embrião de editor. A tradução serve também para propor ao público a leitura de
v.h.m.: Os miúdos não gostam das passagens de maior marasmo. Tem que haver uma capacidade de produzir um encantamento muito mais contínuo. Sempre quis escrever para crianças, mas durante muito tempo, nunca senti a minha escrita próxima delas. Como queria muito, de tanto insistir, consegui desbloquear alguma coisa e estes livros apareceram. Estou absolutamente encantado com a experiência, a minha intenção é publicar vários livros por ano. SM.: Quando escrevemos estórias para crianças, estamos de certa forma a recuar a uma memória que todos temos e vivemos? v.h.m.: Não é tanto regredir-mos à idade da criança, porque nessa idade eu não sabia escrever quase nada de jeito. O importante é escrever alguma coisa que comunique com elas, que seja entendido e nesse aspecto importa que estejam doseadas as palavras mais difíceis. Acredito que uma ou outra palavra mais difícil faça sentido porque importa que os miúdos aprendam um novo vocabulário e possam ir ao dicionário, ou possam perguntar à mãe ou ao pai o quê que isto quer dizer e vão angariando maior vocabulário. Agora isso tem que ser muito bem doseado, o tamanho das frases também
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tem que ser bem pensado, convém que sejam relativamente curtas. SM.: A Colecção Abrir os Olhos, histórias de Valter Hugo Mãe, arrancou logo com dois livros. A literatura infantil pode absorver por ano vários livros do mesmo autor? v.h.m.: Não se pode editar vários romances durante um ano porque o mercado não absorve, mas os livros infantis é completamente diferente. A maior parte das vezes os livros para miúdos são comprados pelas ideias, pelo título, pela proposta da estória e não exactamente pelo autor. Para a maior parte dos miúdos, sobretudo para a idade que estou a escrever, 9, 10 ou 11 anos, os autores não lhes dizem muito, dizem mais os heróis das narrativas, as personagens. Sei que enquanto autor não vou estar no centro das atenções dos miúdos, não vão dar propriamente por mim. Espero é que gostem dos livros e que os consigam absorver. SM.: Poesia, teatro, romance, estórias para crianças, houve algum momento em que a mesma personagem se distribuiu por estes caminhos da literatura? v.h.m.: Já tive intenção inclusive de criar uma personagem que entrasse em todos os meus livros, um nome, uma pessoa que fosse constantemente reciclada e ressuscitada em todos os textos, em todas as estórias. Como não o fiz desde o primeiro livro, já não vou a tempo. Agora a única personagem que pode aparecer por todo lado sou eu, enquanto consciência omnipresente. Em todos os meus livros há qualquer coisa que vem de mim, que não necessita de ser um autobiografismo directo, mas que só existe por causa da minha consciência particular e peculiar e esse é no fundo o fio condutor, ou uniformizador de tudo o que eu vou fazendo. SM.: Algum dia lhe passou pela cabeça passar do gosto pela escrita ao escritor reconhecido? v.h.m.: Sempre quis ser escritor, um escritor a sério. Escrever era o meu percurso e por isso vejo as coisas de uma forma mais ou menos natural. Encarei sempre aquilo que escrevo com muita seriedade. Nunca facilitei nos meus livros e se neste momento estão a alcançar uma certa popularidade, tem a ver com um percurso natural de quem ao fim de 14 ou 15 anos de publicação fez as coisas porque acredita nelas. SM.: Com o sucesso dos livros as viagens são mais frequentes, como lida com isso? v.h.m.: É desgastante e afecta-me na escrita porque ainda não consigo escrever em viagem.
Sobretudo quando são estadias breves. Se estiver pelo menos uma semana, consigo organizar-me para pelo menos ao fim de dois ou três dias começar a escrever. Não é só uma questão de tempo, mas de disponibilidade mental para subitamente me alhear do meu quotidiano e dedicar-me à escrita. Reconheço que é agradável de alguma forma também poder conhecer lugares, conhecer pessoas e mostrar o meu trabalho.
projecto musical e a timidez que subsiste já não me impede de arriscar. Espero não fazer má figura e que o projecto musical não seja um descalabro, acredito que não. É uma experiência nova que vem de uma paixão antiga. Quem acompanhou os meus banhos sabe perfeitamente que sempre cantei, na banheira.
SM.: Isso quer dizer que o que escreve não tem tempo de amadurecer nas gavetas? v.h.m.: Tenho muita coisa guardada, mas guardo exactamente em períodos em que as pessoas se esquecem de mim um bocado e me deixam ficar quieto. Nessa altura aproveito sempre, enquanto pensam que posso estar a fazer praia, estou a escrever. A experiência dizme que é normalmente em Julho e Agosto, que escrevo melhor. São meses que ninguém organiza nada, porque acham que todas as pessoas estão de férias. Nessa altura tranco-me, escrevo e consigo armazenar comida para o resto do ano. SM.: Os livros anteriores estão sempre na cabeça do autor ou quando escreve afasta-se deles? v.h.m.: Quando se começa alguma coisa nova convém fazê-lo como se estivesse-mos a escrever pela primeira vez. Por isso utilizando a virgindade que nos resta. Porque acho que é essa virgindade, essa maravilha que pode permitir uma espontaneidade ao livro que às vezes os primeiros livros tem e que depois se não for cultivado, ou se não for procurada, se não tivermos cuidado, os nosso livros passam a ser apenas tecnicamente bem feitos, mas deixam de ter sangue. SM.: Depois dos livros, aparece a escrever as letras do álbum a solo de Paulo Praça, agora dá a voz ao projecto Governo, uma faceta de cantor que poucos conheciam... v.h.m.: Quando era miúdo queria ser cantor não queria ser escritor. Mesmo quando comecei a encarar a escrita com mais seriedade, se a minha timidez me tivesse per mitido experimentar a musica e pôr-me a cantar em algum lado, provavelmente o meu percurso teria sido diferente. Eventualmente escreveria livros, mas não tinha feito da literatura o cerne da minha vida. Faria mais depressa da música o eixo fundamental do meu percurso. Agora como estou velho e como também já perdi as vergonhas, não só uma mas as vergonhas quase todas, geralmente faço o que se proporciona fazer e de repente proporcionou-se entrar num 67
manhã manhã entrevistam
YOUR TWENTIES
www.myspace.com/yourtwenties
pot of sensation: vacations, girls, picnics… that kind of music that can put a smile in our face when we wake up. What kind of sensations your twenties want to transmit? Y.T.: Well, you're very close there! I always want YTs to have a generosity, humor and warmth of spirit. That's not to say all our music will be happy and sunny - in fact some of the album will be quite bittersweet I think. But vacations, girls and sunshine is a good start! M.M.: How it was to work with the legendary Stephen Street (Smiths, Blur) as producer of your last single «Billionaires»? Y.T.: It was incredible. He's such a gentleman and a professional. We almost didn't notice the recording happening - it was so calm and relaxed and all of a sudden we had a massive sounding track! M.M.: In your last tour your twenties have a tour only cover CD. Tell us more about. Do you have plans to new work (album)? Y.T.: We made an exclusive CD of songs by artists we admire - Blur, Elastica and Buddy Holly - and recorded it in our rehearsal room, which is a blue room. So all the songs had a blue theme. At the moment we're 2 and a half-tracks into making our debut album. It's written and almost completely demoed. It's going to he a good listen I hope! M.M.: How do you describe your concerts? Manhã Manhã: The band has born in 2007. Why adopt Your twenties to the name of the band? Your Twenties: Because I want the music to reflect the excitement and confusion of life when you're aged between 20-29 M.M.: How does it work your composition process? There is a standard way? Y.T.: Usually a song will start with single melody line, lyric idea or guitar riff, which will somehow contain the logic of the rest of the track. So it's like a tree growing from an acorn. The all band will have arrangement ideas and we'll work till we're happy. M.M.: Is it difficult for the band to live exclusively from music? Y.T.: Impossible at the moment! Music is something that costs us money, it 68
Y.T.: Metronomy are a great group of people, and old friends. So I miss hanging out, but in fact Joseph is producing the Your Twenties album so I see him a lot! M.M.: Actually we see recent bands coming up and quickly going down (ending), it’s difficult to keep a band for a while. What do you think of this?
Y.T.: The concerts are fun and quite energetic. And frequently full of our mistakes. But again, I think we're quite generous to the audience. We want people to have a good time. M.M.: Do you listen a lot of music? what do you have in repeat mode actually? Y.T.: At the moment I'm listening to The XX, Gold Panda and a lot of Jazz - Dexter Gordon mainly. M.M.: The world has lost the king of pop. Do you cry a lot? :)
Y.T.: I think bands should really concentrate on making a great album before they do loads of interviews and live shows. That's why we're not playing so much until we're ready. It's like the tortoise and the hare story. Slowly but surely we continue! M.M.: When we hear your music it takes us to
Y.T.: All day and all night, of course M.M.: Your twenties have some kind of affectivity with pandas? Y.T.: Yes. Our driver from our first tour has now gone on to be the famous Gold Panda. So pandas love us and we love pandas back
doesn't make us money. M.M.: Gabriel you left Metronomy recently. Is there any nostalgic feeling from them?
apresentação
PENTE 10
A galeria Pente 10 abriu em Abril de 2008, com o i n t u i t o d e d i v u l g a r a Fo t o g r a fi a Contemporânea quer em Portugal, como no estrangeiro. Sendo uma apaixonada de longa data pela Fotografia, decidi apostar na abertura de um espaço que reflectisse os meus interesses e o meu gosto nesta área, tendo-me concentrado até agora na apresentação de artistas que trabalham de uma maneira intimista, ao mesmo tempo que reflectem mundos e preocupações ligados ao imaginário colectivo. Situada na Travessa da Fábrica dos Pentes, a galeria tenta reunir as melhores condições possiveis para a experiência de ver Fotografia, contando para isso com um espaço que foi desenhado pelo arquitecto Francisco Aires Mateus. O trabalho da Pente 10 divide-se pela Representação de Artistas e a Organização de Exposições. Neste momento estamos a preparar a nossa participação na Paris Photo 2009, aquela que é considerada a feira de Fotografia com mais importância a nível mundial. 70
Dirigida a todos os amantes desta forma de expressão, a Pente 10 pretende alcançar não só as instituições, como também os coleccionadores privados, que cada vez existem em maior número um pouco por todo o mundo. Catarina Ferrer
Pente 10 Travessa da Fábrica dos Pentes, loja 10 (ao Jardim das Amoreiras) 1250-106 Lisboa 91 885 15 79
Rita Barros
www.pente10.com
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apresentação
Cesário Alves
MUUDA
Mudar 1 - levar de um lugar para outro; deslocar 2 - dispor de outro modo 3 - modificar, alterar, transformar 4 - dar outra direcção a; desviar 5 - substituir uma coisa por outra 6 - renovar Não inventámos nada: o nosso projecto está publicado em todos os dicionários. Bastou-nos acrescentar mais um “U”, para gerar alguma confusão, para resultar melhor graficamente, para conseguirmos estar on-line, e começamos a tratá-lo por “tu”: MUUDA! MUUDA é uma palavra de ordem, um grito contra o instituído, o globalizado, o óbvio, o mais-do-mesmo, o sempre-para-os-mesmos. Passados quase quatro anos acreditamos que a motivação que nos fez avançar e criar o MUUDA é aquela que nos dá energia para continuar. Queremos trabalhar com jovens designers, expor trabalhos de artistas desconhecidos, 72
organizar workshops de novas artes, saberes e sabores, lançar livros que não serão bestsellers, organizar festas que ficarão na memória. E não vamos mudar. Joana Carravilla
MUUDA Rua do Rosário, nº 294 4050-522 Porto 22 201 18 33 96 135 04 38
Joana Carravilla
Ces谩rio Alves
Ant贸nio Alte da Veiga
www.muuda.com
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recomendação
directório fotografia + fotografia dg
O Directório Fotografia teve início a 1 de Outubro de 2009 com o objectivo de fazer história. Unindo todos os sites fotográficos de língua portuguesa num só local, providencia um serviço de extrema utilidade pública, facultando não só a categorização de diversos campos da Fotografia de grande interesse, como também um tráfego orientado para os sites inscritos, autoridade, pagerank, backlinks e uma série de outras vantagens inerentes à utilização gratuita do serviço. Dedicado exclusivamente à Fotografia, este espaço tem o intuito de se tornar uma referência de mercado ao nível de directórios automatizados na web, providenciando sempre uma oportunidade a todos os fotógrafos de obterem a visibilidade e o sucesso que tanto desejam. Se porventura, tem um site de língua portuguesa, não perca a oportunidade de adicioná-lo a este directório. Tendo isto em mente, o grande objectivo do Directório Fotografia será seguramente listar, organizar e orientar os sites sobre Fotografia num único espaço de forma gratuita. Pretendese também que o volume de tráfego orientado para a plataforma procure sites interessantes, convergindo em tráfego orientado de grande 74
qualidade para quem estiver presente no directório. O Fotografia DG é mais antigo. Nasceu a 16 de Abril de 2009 e desde o início que pretende afirmar-se como uma referência do mercado, unindo muitas notícias e dicas sobre Fotografia. O site tornou-se um serviço muito útil tanto para fotóg rafos in ic ian tes c om o para profissionais. Tem como objectivo principal transmitir as mais recentes novidades da Fotografia Digital e partilhar muitas dicas fotográficas. Dentro de todos os espaços a secção de colunistas é a que mais se destaca pela importância dos conselhos e técnicas que os fotógrafos experientes transmitem. Diogo Guerreiro
www.directorio-fotografia.com www.fotografia-dg.com
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rafael bordalo pinheiro Por Ricardo Campos
SHAREMAG 04 Nov/Dez 2009 FAÇA PARTE DA SHAREMAG: A ShareMag está aberta a vários géneros de colaboração, Envie a sua proposta de conteúdo, acompanhada por imagens em jpg, texto de apresentação e dados pessoais para jcgmarques@gmail.com.
AGRADECIMENTOS: JOSÉ CARLOS MARQUES, ELLENE D.B., LICHTFAKTOR, JOSÉ CARLOS NERO, HUGO LIMA, MARGARIDA RIBEIRO, RUI HERBON, CATALINA CHIRILA, BENEDITA FEIJÓ, CLÁUDIO REIS, RAQUEL GRAÇA, BRUNO NEIVA, LA.GA BAG, ANTIFRAME, IRMÃOS ESFEROVITE, METRO QUADRADO SERAPILHEIRA, INÊS GUEDES, MANHÃ MANHÃ, ANDRÉ CAMPOS, MARIANA DA SILVA MARQUES, JOSÉ LUÍS PEIXOTO, VALTER HUGO MÃE, YOUR TWENTIES, PENTE 10, MUUDA, FOTOGRAFIA.DG, DIRECTÓRIO FOTOGRAFIA, RICARDO CAMPOS, CONCURSO INTERNACIONAL DE COMPOSIÇÃO DA PÓVOA DE VARZIM, JOÃO MARQUES, PIXMANIA, LIONEL LOPES, 8 E MEIO, MR. ESGAR, MARCEL PANNE, DAVID LUPSCHEN, JENS HEINEN, DANIELA, JORGE, BERNARDO AGUIAR, DIANA MATIAS, VERA MOURA, CLÁUDIA CAMACHO, DANIEL CAMACHO, PEDRO CORREIA, ANDRÉ LIMA, ANDRÉ TEIXEIRA, LUÍS ALMEIDA, SÓNIA BARROS, MARCO CASTIÇO, ANDRÉ MAIA, GIL, CATARINA FERRER, JOANA CARRAVILLA, ANA RITA CAMEIRA, GILDA MENDES, DIOGO GUERREIRO, OLIVIA DA SILVA, DINORA RODRIGUES, ARQUIMEDES CANADAS e DANIELA BARBOSA.
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