CASA HOOPER

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A Casa Hooper foi projetada e construída entre 1958 e 1959, pelos arquitetos Marcel Breuer e Herbert Beckhard. Breuer, de origem húngara, pertenceu à primeira geração de alunos da Bauhaus destacando-se no design de mobiliário e na arquitetura, sendo um impulsionador da reconciliação da arte e da indústria. Foi encomendada por Filantropa Edith Hooper, uma admiradora do trabalho de Breuer, e pelo seu marido. Está localizada em Bare Hills no Condado de Baltimore, Maryland nos Estados Unidos da América. Num local tranquilo e rodeado de floresta, perto do Lago Roland. A família Hooper pretendia uma casa para relaxar e aproveitar a natureza em família. Esta habitação foi então, construída como um retiro idílico no meio da natureza, no entanto ainda estava relativamente próxima da cidade. O nosso trabalho inicialmente abordará as características principais da obra, de seguida a exploração daquela que nos suscitou mais interesse e por fim, uma reflexão desta pesquisa. A casa tem aproximadamente 650 m2, sendo 20% dessa área o pátio. Possui dois pisos, um subterrâneo e um principal. No piso -1, localiza-se um quarto e uma casa de banho, para uso de empregados, seis estábulos e ainda um espaço de estacionamento coberto para os carros. No piso superior, o principal, há seis quartos, incluindo uma suite, quatro casas de banho, duas salas de estar, uma cozinha, uma sala de jantar e ainda alguns compartimentos para arrumos. Todas estas divisões são distribuídas de forma coerente em torno de um pátio. A sala de estar principal, que se une à sala de jantar, destaca-se pelo ambiente, que é dado pela parede de pedra e pelas grandes janelas. Estas deixam passar a luz e conectam as salas com a natureza, desta forma, estas duas divisões tornam-se um dos principais elos de conexão entre o espaço exterior e interior. Em contraste, no lado oposto da casa observamos um contexto mais privado, com aberturas pontuais.

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Esta casa carateriza-se de várias formas: é uma habitação baixa, que oferece uma grande conexão entre o interior e exterior envolvente, graças à seleção cuidadosa de materiais, como a pedra de várias formas, espessuras, texturas, cores e a utilização de grandes painéis de vidro criando um complexo jogo de diferentes planos. A utilização destes materiais faz com que a habitação passe quase despercebida no meio da natureza envolvente. “(...) contraste fascinante entre as grandes áreas de vidro e as paredes com deliberadas texturas de pedras não trabalhadas". (Cobbers, 2009, p.68).

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O pátio central é o elemento que mais se destaca, sendo o centro da casa. É ao seu redor que as divisões se distribuem. À direita, está a porção mais pública, onde se localiza a cozinha, a sala de estar, a sala de jantar e uma casa de banho. No lado esquerdo, na porção mais privada, encontram-se seis quartos, outra sala de estar, três casas de banho e ainda algumas pequenas divisões de arrumação. O pátio também funciona como um jardim interior amplo que traz a natureza para o interior da casa e que cria uma conexão com o meio envolvente.

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Outra particularidade desta obra de Breuer é a grandiosa parede de pedra com 40m de comprimento, localizada na parte ocidental da casa, com uma abertura retangular, que abre a vista para a natureza e para o lago. Este corte perfeito, enquadra a natureza exterior com casa, dando aos seus habitantes a sensação de estar a olhar através de um quadro. Este corte para além de estético, permite que os raios de sol penetrem no interior da casa e ofereçam luminosidade. Estas características, que fazem a casa integrar-se na natureza, permitem que, no verão quente e húmido, a família possa aproveitar o ambiente natural da melhor forma, e que no inverno rigoroso, com muita precipitação, possa desfrutar do mesmo através do conforto de sua casa, protegidos pelas grandes vidraças.

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Nesta habitação, a intervenção dos arquitetos, não se debruçou somente na projeção estrutural da casa. Estes dedicaram-se também à criação dos elementos que preenchem e dão personalidade ao interior da habitação, concebendo mobiliário. A isto podemos denominar “arquitetura total”.

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O Pátio

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Perante a pesquisa que realizamos sobre as características da obra, a que nos despertou maior interesse, foi o pátio. Destacando-se pela importância que tem sobre a casa. Desta forma, debruçamo-nos na exploração do conceito com mais pormenor. O pátio tem 91,98 m2, dispõe de uma forma quadrangular e encontra-se no centro da casa. É encerrado pela grandiosa parede de pedra recortada e as generosas janelas. Este espaço exterior tem uma função distribuidora, dividindo a habitação em duas partes, uma parte mais privada e outra pública. Pode dizer-se que é uma casa binuclear, estando dividida também em divisões para os adultos e outras para as crianças. "Queremos viver com as crianças, mas também queremos libertar-nos delas de vez em quando, e elas de nós" referiu Breuer em 1955, demonstrando um grande conhecimento do poder do equilíbrio familiar e em como este pode ser influenciado pela arquitetura. Para além desta função distribuidora, o pátio tem a função de permanência, isto é, o usufruto do lado estético do pátio, que possui um espelho de água e é preenchido pela natureza. Outra das funções é a ventilação e a fonte de luz natural para a habitação, uma vez que as paredes viradas para o pátio são preenchidas por janelas, os raios de sol penetram para o interior da casa. Posteriormente, recorremos à exploração da palavra “pátio”, de onde surgiu e de que forma evoluiu ao longo dos tempos. Iniciamos a nossa pesquisa pela desconstrução do significado de pátio através de vários dicionários e autores.

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“Pátio – Espaço aberto frente a um edifício ou compreendido no interior do edifício. Parte de terreno descoberto que, situado no centro de um complexo arquitectónico, serve para iluminar e arejar os recintos internos. (...).” Em Wikipédia, A enciclopédia livre. Consultado em 11 de fevereiro de 2021 .

“(...) uma área aberta encerrada por paredes ou edifícios, tal como um espaço deixado a descoberto para admissão de luz e ar(...)”. CURL, J. (1937) A Dictionary of Architecture, Oxford: Oxford University Press, 1999,

“(...)concretização do espaço existencial do Homem” SCHULZ, Chr. Existencia, Espacio y Arquitectura, Ed. Blume, Barcelona, 1975

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Depois desta breve caracterização do conceito de pátio, pudemos verificar que todas estas definições remetem o significado de pátio para uma ideia de espaço limitado. Estes limites podem ser entendidos de várias formas, tais como, o limite do céu e da terra, ou limites horizontais e verticais, de várias categorias, proporcionados por muros e paredes. Assim sendo, podemos dizer que o pátio é um espaço exterior que apresenta uma relação intrínseca com o Homem e o meio envolvente, e que abre no interior da casa, um espaço exterior para usufruto privado. Seguidamente, debruçamo-nos na origem desta palavra que remonta à época em que o Homem vivia nas cavernas. Simboliza a feminilidade na casa, o símbolo espacial de intimidade e de proteção. Como Johannes Spalt refere em (Pátios, 5000 Años de Evolución Desde la Antiguedad Hasta Nuestros Dias), o pátio é um espaço de paz que está sujeito a condições climatéricas e físicas, como o passar dos dias e das estações. É o abrigo do Homem, protege-o do espaço exterior onde da mesma forma, jaz o desconhecido. Mais tarde, nas culturas gregas e egípcias há necessidade de abrir um espaço por onde fosse possível a extração de fumo, mas rapidamente passou a albergar várias funções, aumentando a sua importância. Foi neste momento que a evolução do vazio que se abriu ao exterior se tornou o centro da vida doméstica, por permitir o contacto com o mundo exterior e principalmente a entrada de luz na casa, surgindo o conceito de pátio. O pátio volta a surgir de forma mais acentuada a partir do inicio do século XX, não sendo um dos elementos principais da arquitetura moderna, visto que esta desenvolvia espaços mais abertos e fluidos. Mia Couto, (julho de 2005) referiu “a casa não é onde o homem se fecha. É onde o Homem se abre para dentro (...)”, na era moderna este pensamento, tornou-se lógico, onde era permitido ao Homem abrir-se para o exterior dentro da sua própria casa.

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Desta forma, segundo Filipa Vaz Morgado (Novembro de 2013), “O pátio, como delimitação e apropriação primária de um recinto, é uma forma fundamental da Arquitetura que ao longo da história comprovou ser exemplar na sua função como espaço exterior. Os atos de expor, abrir e descobrir-se, fazem-se presentes no espaço do pátio, que desta forma sugere a ideia de relacionamento, de interação com a natureza, com o clima e com tudo o que o envolve. O pátio é um lugar limitado, que se desvenda quando alguém lhe acede, e existindo, como o lugar de alguém, intimamente associado à ideia de casa e de espaço doméstico.”

Em forma de conclusão, consideramos que esta habitação representa de forma clara a exploração da relação entre os espaços exteriores e os interiores, conjugando as vivências privadas com as vistas para o cenário envolvente, num complexo jogo de diferentes planos. Os materiais utilizados também facilitaram esta conexão de espaços, desde a pedra multicolorida não trabalhada, aos planos de vidro e ao pequeno espelho de água. Uma das características da casa que nos chamou logo à atenção, foi a forma como está encastrada no terreno, tendo um piso subterrâneo, completamente invisível na fachada principal. No entanto, foi o pátio o elemento que exploramos de forma mais pormenorizada, numa tentativa de interpretar as inspirações e origens desta ideia. O estudo desta obra de Marcel Breuer e de Herbert Beckhard, a Casa Hooper, levou-nos a adquirir conhecimento sobre conceitos arquitetónicos, construção de espaço e as suas funções. Inspirou-nos e proporcionou-nos vocabulário arquitetónico extremamente útil para o nosso futuro.

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Webgrafia https://www.dwell.com/article/marcel-breuer-hooper-house-ii-2f1c195b http://www.lppm.com.br/sites/default/files/quadros_de_analise_rl/hooperhouse_qd.pdf https://www.modernplumhome.com/blogs/houses-we-love/breurs-hooper-housebaltimoremaryland https://www.midcenturyhome.com/marcel-brauer-midcentury-hooper-home/ https://breuer.syr.edu/xtf/view?docId=mets/44874.mets.xml;query=hooper;brand=breuer Dissertação_Mutações e Permanências_Ana Cardoso_ESAD ...comum.rcaap.pt › bitstre https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/6681/1/P%C3%81TIO%20E%20CASAP%C3%8 1TIO%20FILIPA%20MORGADO.pdf http://issole.blogspot.com/2010/08/casa-hooper-ii-marcel-breuer.html

Bibliografia Couto, M. (Julho de 2005). A casa de dentro . Obtido de https://carlosnogueira.com/pt/textos/textos-sobre-carlos-nogueira/42-a-casadedentro.htmltps://carlosnogueira.com/pt/textos/textos-sobre-carlos-nogueira/42-a-casadedentro.html Morgado, F. V. (novembro de 2013). PÁTIO E CASA-PÁTIO: A DIMENSÃO DOMÉSTICA DO ESPAÇO EXTERIOR DA CASA. Projecto para obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura. Lisboa . Breuer, M. (s.d.). de de ce BLOG. Obtido de MARCEL BREUER – THE DON DRAPER OF THE BAUHAUS: https://www.dedeceblog.com/2012/10/09/marcel-breuer/ CURL, J. (1937) A Dictionary of Architecture, Oxford: Oxford University Press, 1999, NORBERG-SCHULZ, Chr. Existencia, Espacio y Arquitectura, Ed. Blume, Barcelona, 1975

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