Lieb Beach House

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FACULDADE DE ARQUITETURA DA UNIVERSIDADE DO PORTO 1º ANO TEORIA GERAL DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO 52 CASAS

TURMA A MARTA LOSADA SIRLENE BIAI TOMÁS FREITAS

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FEVEREIRO 2021


UMA “PEQUENA CAIXA BANAL” No final dos anos 60, Nathaniel e Judith Lieb encomendaram ao casal de arquitetos americanos Robert Venturi e Denise Scott Brown uma casa de férias. A casa, que ficaria conhecida como Lieb Beach House, foi construída em Barnegat Light em 1969, junto ao mar, no estado de Nova Jérsia, nos Estados Unidos. Esta obra surgiu nos primórdios do Pós-Modernismo, encarnando os princípios deste movimento ao mesmo tempo que recorria a elementos modernistas. O movimento Pós-moderno surgiu nos anos 70, em reação ao Modernismo, movimento que tinha como principais representantes arquitetos tais como Mies Van der Rohe, Le Corbusier, Oscar Niemeyer ou Frank Lloyd Wright. O Pós-modernismo é um estilo arquitetónico que se caracteriza pelo recurso a uma variedade de cores, de materiais e de formas, bem como a elementos da arquitetura clássica usados de forma irreverente, em clara divergência com os dogmas associados ao Modernismo. Os arquitetos Robert Venturi e Denise Scott Brown contribuíram particularmente para a emergência deste movimento, nomeadamente com as suas obras Complexity and Contradiction in Architecture, livro lançado em 1966, e Learning from Las Vegas, lançado em 1972, que lançariam as bases deste movimento. Assim, construída em 1969, a Lieb Beach House foi das primeiras obras com características pós-modernistas.

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Na pequena vila de Barnegat Light, as casas de férias eram numerosas e de aparência convencional. A Lieb Beach House, com a forma de uma “pequena caixa banal”, nas palavras do próprio Robert Venturi, materializa a valorização do ordinário, agregando formas e elementos arquitetónicos banais numa unidade extraordinária que chocava com a convencionalidade das casas da envolvente, pois tanto no seu exterior como no interior apresenta características incomuns, muito distintas das de uma casa tradicional. Quando observada de longe, a Lieb House aparenta ter um formato paralelepípedico, tendo, todavia, uma planta trapezoidal, em virtude do muro oblíquo que conforma a fachada nascente. A envolvente caracteriza-se por uma frente marítima e por uma paisagem edificada típica de uma pequena vila conhecida como destino de férias, com verões quentes e húmidos e invernos amenos, onde impera um ambiente familiar. A própria localização da Lieb House pretende tirar partido da frente marítima, tendo sido, por conseguinte, construída praticamente sobre a areia, em estreita relação com a praia.

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Para aproveitar esta proximidade com o mar, a casa apresenta uma planta com disposição invertida, ou seja, no primeiro piso estão as áreas sociais, com a cozinha e a sala em “open space”, assim como o terraço, permitindo desfrutar da paisagem deslumbrante sobre a praia e sobre o mar. Por sua vez, os quartos estão no piso térreo, que tem ainda uma área de serviço cujo intuito era o de tirar as areias da praia, bem como duas casas de banho. Esta disposição invertida faz referência à Villa Savoye, obra icónica de Le Corbusier, construída em 1928. As fachadas da casa denotam o início da transição da arquitetura de Robert Venturi e de Denise Scott Brown do movimento moderno para o pós-moderno, ao cruzar elementos de ambos os estilos. Se a fachada da entrada e a fachada nascente apresentam extensas janelas de formato retangular, aludindo de novo à Villa Savoye, a janela mais impactante é a de formato semicircular, colocada na fachada voltada a poente, que se estende pelos dois pisos e ilumina as escadas no interior da habitação. Esta janela constitui-se como o principal elemento dissonante na composição, ao quebrar as formas retilíneas que dominam as fachadas.

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Para além desta abertura de forma semicircular, a Lieb Beach House tem variados elementos que representam o movimento pós-moderno, sendo o ícone desta obra o número 9 gigante que ornamenta a fachada da entrada, elemento inspirado na Pop Art, e que traduz, mais uma vez, o conceito da valorização do ordinário incorporando formas banais. Aliás, esta forma peculiar e que assume o número da habitação como elemento gráfico e decorativo levou a que a Lieb House fosse apelidada de “primeira pop house” ou ainda de “estrutura de pop art”, valendo ao arquiteto Robert Venturi a designação de “Andy Warhol da arquitetura”. As técnicas construtivas empregadas nesta obra são típicas do movimento moderno, pois permitem alcançar uma fachada livre, independente do sistema estrutural. Assim, foi possível praticar aberturas diversas nas fachadas, privilegiando a estética do edifício sem comprometer a integridade do mesmo. O sistema construtivo inspira-se na construção em massa desenvolvida nos Estados Unidos naquela época, utilizando madeira e recorrendo a uma estrutura de vigas e pilares, com um reforço escasso ao nível do chão e das aberturas, sendo depois aplicado um revestimento de superfície. A porta que dá para o interior da Lieb Beach House está construída numa espécie de antecâmara que escava a fachada, conformando um espaço coberto e ortogonal, e é precedida por uma escadaria que se estende ao longo de toda a fachada da entrada e que se prolonga no interior, ligando os dois pisos da casa. O exterior da casa projetada por Venturi e Scott Brown está pintado de duas cores diferentes, sendo o piso térreo pintado de cinzento e o primeiro andar de branco. Esta mudança de cor a meia altura 7


contribui para a articulação de elementos tão díspares como as janelas de formas diversas e o número 9 que adorna a fachada da entrada, formando uma unidade coerente e equilibrada. No interior, reencontra-se a ortogonalidade, traduzida em divisões retangulares, com exceção da casa de banho de serviço e da casa de banho do quarto principal, que são separadas por uma parede oblíqua que dá origem a dois espaços de forma trapezoidal. Esta ortogonalidade é apenas quebrada pela janela semicircular colocada junto às escadas, que juntamente com a grande janela retangular colocada na fachada contrária e com as pequenas janelas quadrangulares de tamanhos diferentes, deixam a luz penetrar no interior da casa e materializam uma relação próxima entre exterior e interior. A perceção de que a paisagem invade o interior da casa é ainda mais evidente no primeiro andar, em virtude da presença do terraço, separado do interior por portas de correr envidraçadas, para além das várias janelas que iluminam aquele andar, destacando-se a janela retangular sobre a porta de entrada e parte da janela semicircular. Contudo, esta casa viria a sofrer, no futuro, grandes mudanças no que toca a múltiplos aspetos.

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Em 2009, a Lieb Beach House invadiu os jornais com a notícia de que iria mudar de lugar. Após ser vendido o terreno onde a casa se inseria, foi decidido que a iriam demolir para dar lugar a uma nova construção, porém, Deborah Sarnoff and Robert Gotkin - grandes apreciadores dos arquitetos Venturi e Scott Brown - decidiram que o destino desta obra não merecia ser este. Residindo já numa casa desenhada por Venturi e Scott Brown, este casal considerou que a Lieb House merecia uma segunda vida. Assim, compraram-na por apenas 1 dólar, despendendo de outros 100 mil a movê-la até Glen Cove, em Nova Iorque, onde ficaria ao lado de sua casa com o propósito de se tornar numa casa de hóspedes. No entanto, apesar desta deslocação de mais de 200 quilómetros, a casa permaneceu perto do mar, continuando a usufruir da vista marítima, sem perder a sua intenção inicial. Esta grande viagem contou com a crucial ajuda de

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Jim Venturi - filho de Venturi e Scott Brown – que considera esta casa, assim como todas as obras dos seus pais, como uma irmã para si, atribuindo-lhe assim um grande valor sentimental que levou a que fizesse de tudo ao seu alcance para a salvar, ao mesmo tempo que documentava este acontecimento histórico na sua curta-metragem “Saving Lieb House”. Deste modo, a casa abandonou o solo onde sempre viveu e embarcou numa viagem que a levaria a percorrer as ruas e o mar, acabando por regressar a terra, porém, desta vez, em Long Island, onde se iniciaria o resto da sua vida. A casa foi restaurada, mantendo sempre a sua personalidade e autenticidade. O exterior foi também pintado com as cores originais, recuperando assim as icónicas fachadas metade brancas e metade cinzentas, da mesma forma que a pintura amarela reapareceu por trás do célebre número 9.

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Apesar de toda a história desta casa, o que mais valoriza esta obra e leva vários a aclamá-la como uma “estrutura icónica na arquitetura americana” é o modo como os arquitetos conseguiram tornar as formas mais básicas em algo realmente extraordinário, como se esta casa se tratasse de um cubo que foi transformado aos poucos, desenhando e recortando faces, ultrapassando a barreira do convencional. Deste modo, as evidentes formas geométricas que estão presentes na casa contrastam fortemente com a paisagem natural marítima que tanto pretende valorizar, fazendo assim uma oposição perfeitamente equilibrada. Ao apreciar esta casa de diferentes ângulos é possível apreender-se constantemente formas novas e distintas, pelo que, a cada passo, há algo nesta obra que consegue sempre surpreender. Cada fachada apresenta uma história diferente com uma peça marcante e que, no fim, comunicam harmoniosamente. Assim, por mais pequena que seja em tamanho, a Lieb Beach House tem uma grande e notória história, conseguindo ser sempre um grande tema de conversa desde a sua construção em 1969 com as suas controvérsias e caráter distinto.

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CORTE 1

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CORTE 2

1 – Quarto 2 - Suíte

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PLANTA PISO TÉRREO 13

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CORTE 1

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CORTE 2

3 – Cozinha 4 – Sala de Estar 5 - Terraço

PLANTA PRIMEIRO PISO 14

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ALÇADO POENTE 15

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ALÇADO NASCENTE 16

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ALÇADO NORTE 17

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ALÇADO SUL 18

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CORTE 1 19

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CORTE 2 20

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AXONOMETRIA 21


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BIBLIOGRAFIA Venturi, Scott Brown and Associates, Inc, House in Barnegat Light, Long Beach Island, NJ -- and Glen Cove, NY (Lieb House), disponível em http://venturiscottbrown.org/pdfs/HouseinBarnegatLightNJandGlenCoveNY01.pdf [consultado a 7 de fevereiro de 2021] Royal Institute of British Architects, Postmodernism in Architecture, disponível em https://www.architecture.com/explore-architecture/postmodernism [consultado a 7 de fevereiro de 2021] Deborah Fausch, Can Architecture be Ordinary?, disponível em https://www.mascontext.com/tag/liebhouse/ [consultado a 13 de fevereiro de 2021] Emily Tantillo, Revit Lieb House, disponível em https://www.behance.net/gallery/3327621/Revit-LiebHouse?tracking_source=search_projects_recommended%7Clieb%20house [consultado a 13 de fevereiro de 2021] Royal Institute of British Architects, Modernism in Architecture, disponível em https://www.architecture.com/explore-architecture/modernism [consultado a 20 de fevereiro de 2021]

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS Fotografias 1, 2, 5 e 6: Venturi, Scott Brown and Associates, Inc Fotografias 3,4,9 e 10: Stephen Hill Fotografia 7: ReThink Studios, em Saving Lieb House

Fotografia 8: Leslie Williamson

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