Caderno do Festival - Ney Latorraca - nº10

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NEY LATORRACA

Cadernos do Festival

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ney latorraca

Cadernos do Festival 10 VITĂ“RIA 2010



apresentação Dois mil e 10 será mais um ano inesquecível na história do Vitória Cine-Vídeo. Mais uma vez nos reunimos para uma festa que já está incorporada ao calendário de eventos nacionais da nossa capital. Uma festa que acontece sempre em grande estilo e com muita alegria. Essa característica determinou a nossa escolha. Não há outra pessoa que incorpore melhor esse espírito que não seja o maravilhoso ator Ney Latorraca. Ele sempre viveu assim: em grande estilo e alegremente. Nem mesmo os momentos difíceis – e foram muitos – conseguiram mudar isso em Ney. Todos aqueles que o cercam, aqueles que trabalham e convivem com ele, falam sempre da mesma coisa: o seu talento e a sua alegria. Sentimentos que ele distribui a todo mundo, o tempo inteiro. E não há lugar melhor para homenagear Ney, que o ambiente de cinema. Ele já disse: “Cinema é glamour puro! É quando o ator se sente um Gulliver, um gigante representando para aquelas pessoas pequenininhas lá embaixo. Digamos que é a consagração maior do ego. É o ego amplificado em som dolby.” Alegria e paixão pelo cinema também é a síntese do Vitória Cine-Vídeo. E aqui vamos roubar parte do que disso um grande amigo de Ney, o diretor Luiz Carlos Lacer



da. Ele soube expressar com precisão a essência do nosso homenageado ao definir: “Filho de gente de teatro, Ney é uma ribalta em pessoa. Exerce a sua alegria contagiante no palco e na vida, numa permanente atuação onde busca a sua felicidade e a dos seus amigos ou companheiros de trabalho. Uma equipe que conta com ele no elenco é a garantia de um trabalho feliz.” Nós diríamos que o festival que conta com Ney é um festival esplendoroso e feliz. Ney adora os refletores, é vaidoso, espirituoso, mordaz, irônico, inquieto, vivo. Não aceita padrões e pré-definições. Quer errar sempre, recomeçar a todo instante. E é novamente com as palavras de Luiz Carlos que voltamos ao Vitória Cine-Vídeo e ao nosso prêmio: “Homenageá-lo é prestar um tributo a um de nossos maiores atores vivos, do teatro, do cinema e da televisão, mas é também reverenciar aquilo que de melhor herdamos como povo – que é a nossa alegria de viver.” Beatriz Lindenberg Lúcia Caus Orlando da Rosa Faria



o homem e o ator Contornei a Lagoa Rodrigo de Freitas quase toda, antes de chegar ao endereço certo. O chauffeur não entendeu porque, saindo do Corte do Cantagalo, eu preferia dar aquela volta imensa. A chuva fina e insistente não deixava, mas eu teria escolhido ir andando para olhar tudo, respirar aquele ar, antes de subir para ver e ouvir o homem que mereceu a paixão de Maysa Matarazzo, uma das mais belas, sedutoras e devastadoras mulheres brasileiras. Maysa, a estrela que brilhou do Blue Angel Night Club de Nova Iorque, ao Olympia de Paris; em Marrocos, Madri, Lisboa, todas as capitais da América Latina, e pelo Brasil inteiro. O chauffeur argumentou, mas eu insisti. O final de tarde cinza e molhado evocava o clima exato para uma cantora de fossa fixar seus olhos verdes no vazio e dizer, entre espirais de fumaça, o perfume de dry martinis e o respirar tenso de toda a platéia do Number One: “Meu mundo caiu, e me fez ficar assim, você conseguiu, e agora diz que tem pena de mim...”. Não sei se me explico bem, mas quando o carro parou já estava me recuperando da divagação com um pensamento oportuno que me dizia que a neta do Barão de Monjardim – cinco vezes presidente da Província do Espírito Santo – poderia simplesmente ter vivido uma arrebatadora, mas ensolarada paixão. Não exatamente no clima do Number One ou do Urso


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Branco, mas levada pelo ritmo incansável do belo e alto rapaz moreno que, também como ela, a cada novo trabalho arrebatava uma legião de admiradores. Algo mais para dia de sol, festa de luz ou Let the sunshine in, que para Dindi. O romance entre o ator Ney Latorraca e a cantora Maysa não vingou, mas o breve flerte terminou em poema – quase letra de música – escrito por ela. No hall do sóbrio edifício em que o ator mora – e é vizinho de gente como a jogadora de vôlei Larissa, Paulo Goulart e Nicette Bruno – fui recebida pelo porteiro e escolhi uma das poltronas iluminadas à meia luz para me sentar, enquanto esperava. Ainda pensava em uma Maysa apaixonada, com um cigarro e um copo na mão, encostada ao piano, cantando Ne me quitte pás, e Ney, inquieto, elétrico, fazendo graça, flanando pelas festas no Rio. Aos 45 anos, momento que pouco tempo depois ele próprio avaliou como o auge da sua sensualidade, balançou não apenas a melancólica diva da fossa. Nessa época, de maneira especial, o assédio das mulheres era grande. Irresistível, ele despertou no público feminino certo desejo de posse, somado a instinto maternal, com seu ar de “um cara meio carente, que a mulher precisa levar pra casa e tomar conta.” De cabeça baixa, mal percebi quando, acompanhado do produtor, ele passou em direção ao elevador. Ainda faltavam 15 minutos para as 5 da tarde, hora marcada para a entrevista. Subi pontualmente e fui recebida por um Ney Latorraca impecável, recém-saído do banho. O jovial e afável senhor de barba esculpida que, usando uma impecável camisa branca e jeans casual caminha pela espaçosa, requintada e acolhedora sala, senta-se à mesa para falar de sua carreira, seguro, simpático e atencioso. Quando Ney Latorraca começa a falar, aos poucos a calma e chuvosa tarde de início de novembro muda, ganha vivacidade. Estou, enfim, diante do grande ator cuja imagem mais forte em minha mente sempre fora a do sedutor e 11


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rebelde personagem de Estúpido Cupido, de casaco de couro, andando de lambreta e dançando ao som de Cely Campello: Mederiquis. Quem está à minha frente não é só o grande nome do cinema, da televisão e do teatro brasileiro. Ney, de vez em quando, pontua o que fala com uma pergunta: “Estranho, não?” Indaga isso inesperadamente, de um jeito cativante, que desarma o interlocutor e que revela a pessoa comum por trás do ator famoso. Tive a impressão de entender Maysa. Mas o que o caracteriza é mesmo a alegria irreverente que o leva às vezes a ser mordaz, e sempre a divertir as pessoas. A impressão é que a seriedade o incomoda. Repentinamente não se contém e pergunta: “Tá gostando de falar comigo? Eu sou uma graça, né?” Bom anfitrião e cavalheiro, ele oferece um café, dirige-se à máquina para prepará-lo. Fala que aquela camisa branca, bem cortada e elegante, escolhera especialmente para conceder a entrevista. Comenta sobre a caminhada que fez, e faz diariamente, fala da vista de sua varanda, promete que vai mostrá-la. Pouco tempo de conversa, sentados ao redor da mesa quase encostada à janela que dá para uma montanha de pedra coberta de árvores, e ele caminha até o aparelho de som para mostrar uma macia, aveludada gravação de Singin in the rain que, perfeccionista e minucioso, fez com a própria voz, dentro de uma piscina. Um recurso a mais para chegar ao ponto certo da cena que seria gravada duas semanas depois. Uma cena para um episódio do especial S.O.S. Emergência, que entra no ar sempre depois do Fantástico. Ele demonstra a paixão com que se dedica ao que faz mostrando a gravação e explicando o trabalho que o absorve, no momento. Próximo ao aparelho de som, sobre outra mesa, vejo alguns livros. Um deles, especialmente, me chama a atenção: é sobre Francis Bacon. Conversamos alguns minutos sobre o pintor inglês, nascido na Irlanda (Bacon não gostava de ser chamado de pintor irlandês) sua obra, a sua presença no cinema, no te13


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atro. Por ali também um pequeno vaso de orquídeas, presente do elenco da nova montagem de Hair, é uma demonstração de carinho e de reconhecimento: Ney estava na primeira montagem do musical. Pouco antes de encerrarmos nossa conversa trocamos lembranças: enquanto eu lhe estendo o pequeno catálogo de recente exposição coletiva, que casualmente estava na bolsa, e mostro a obra de um ilustrador e pintor brasileiro influenciado por Bacon, ele vai buscar e me entrega o folder da peça DesFigura. Com texto de Pierre Charras, adaptada e dirigida no Brasil por Regina Miranda, a peça é baseada na trajetória de Bacon e chegou ao palco ano passado, produzida por Ney. No elenco o ator Édi Botelho e o bailarino Charles Fernandes. Uma pausa para olhar maravilhada a estonteante vista que se abre de sua varanda: a Lagoa Rodrigo de Freitas, à noite, é deslumbrante. Não poderia ser menos que isso o lugar escolhido por Ney Latorraca, um colecionador de sucessos. Perfeccionista Sucessos e mais sucessos ao longo de 46 anos de carreira. Isso oficialmente, porque Ney fez vários ensaios até começar profissionalmente, em 1969. E ele não media ações e palavras para chegar onde queria. Insolente? Impetuoso? Pretensioso? Audacioso e seguro refletem melhor o perfil de Antônio Ney Latorraca. Aos 66 anos, ele pode dizer que protagonizou muitos momentos dignos de serem representados no cinema. Isso desde criança. Dois desses momentos são antológicos: desconhecido fora de Santos, procurou a atriz Maria Della Costa e o diretor Flávio Rangel, à frente da peça Depois da Queda. Pretendia substituir o ator principal, Paulo Autran. Não foi aceito. Jurou voltar em grande estilo, não sem antes deixar a sua marca no espelho do camarim da diva: um dia eu vou ser o seu galã. Cumpriu a promessa cerca de quatro anos depois. Em Bodas de Sangue, em 1973, contracenaria com Della Costa. 15


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Outro momento foi aquele, em 1976, que marcou a sua chegada definitiva ao Rio de Janeiro, quando se apresentou à TV Globo, onde está há 36 anos: “Meu nome é Antônio Ney Latorraca, sou paulista, tenho 32 anos e quero ser o maior ator do mundo.” Estou certa de que ele é um dos maiores nomes da dramaturgia nacional. Falo com segurança, mas com certo receio. Ney foge do que pode ser uma classificação. A exigência que tem consigo próprio explica o sucesso e o lugar a que chegou, mas é difícil de ser mensurada. É um acentuado rigor que impede que ele aceite ser apresentado como um dos grandes atores do país. Em relação a isto é inflexível: “O que eu nunca quero é ser colocado... É dizer que estou entre os grandes atores do país. Quando se diz... ele é o primeiro da sua geração... ele ocupa o lugar tal... Acho assim, meio concurso de miss. Não estou enquadrado em nenhum deles. Eu sou um ator que tenho o prazer de ser contemporâneo de Antônio Fagundes, José Wilker, Marco Nanini, Edwin Luisi, Ewerton de Castro, Tony Ramos...” E completa: “Coisas como: em comédia eu sou imbatível... Ou: estou na vanguarda... Aí fica péssimo. Não sou busto. Aqueles que você compra, de gesso, coloca em cima do piano. Eu estou em movimento. Quero errar muito, para me manter vivo... Se achar que eu estou arrasando... Posso brincar. Mas eu tenho que ter os pés no chão... A gente sabe do que está fazendo... Então, quando a gente recebe uma homenagem é para uma geração inteira, tem uma turma inteira. Minha vida não é um monólogo, tem que ter um contra-regra, um maquiador...” A vida de ator que brilha no cinema, no teatro, na televisão, ele preparou obstinada e pacientemente. Queria ser ator e se via como ator, desde muito cedo. Chegou a fazer álbuns sobre a sua carreira, ainda criança. Fabricava os seus sonhos a partir da vida de outros atores. Pensava: “Vou escrever um livro sobre isso. A capa assim... Só fotos bem grandes... A capa são eles. Dercy, a história da Dercy... Me lembro que tinha uma época, não sei se eu tenho 17


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isso guardado, não sei onde foi parar... Uma época em que... Sabe fichário de colégio? Fichário de História? Eu peguei notícias da Cinelândia, a revista de cinema, que diziam ‘Frank Sinatra, aplaudidíssimo na estréia do seu show, foi visto na piscina’. Eu tirava Frank Sinatra, pegava meu nome e colava lá. O fichário inteirinho, em cima dessas notícias... Durante o ginásio inteiro eu fiz assim. Eu ia mudando tudo. Só que nunca ninguém teve acesso. Era uma coisa só pra mim. As pessoas se acabando lá e eu ali assim, quietinho... Eu no Festival de Cannes...” E ele chegou, claro, inclusive aos festivais. A muitos deles, como me diz: “Já desfilei nos festivais nacionais e internacionais. Uma de minhas lembranças mais fortes foi a apresentação do filme Anchieta José do Brasil, direção do Paulo César Saraceni, no Festival de Veneza, com direito ao hino brasileiro e a nossa bandeira tremulando. O filme estava concorrendo ao prêmio principal.” Nesses 46 anos de carreira foram 19 filmes, 23 novelas (42 trabalhos em TV), 23 peças, 6 minisséries, um programa musical e um humorístico na TV. Nesse tempo todo, paixão, dedicação metódica, alegria constante fizeram da atuação de Ney uma seqüência de sucessos em personagens tão díspares quanto Mederiquis e Arandir. O primeiro, o charmoso playboy Antônio Ney Medeiros, líder do conjunto Personélitis Bóis que, na novela em preto e branco, Estúpido Cupido, circulava de lambreta na fictícia Albuquerque dos anos 60. E o segundo, o atormentado protagonista de O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, personificado por Latorraca no cinema. O jovem, puro, que atende o último desejo de um moribundo: beija-lhe os lábios e desencadeia reações virulentas. É tocante a atuação de Latorraca no filme extraído da peça que é um libelo rodrigueano contra a falsidade, a hipocrisia da sociedade. Ele já foi padre, gigolô, mulherengo, pai de família, bêbado, neurótico... Se é possível listar peças, filmes, novelas, somar os personagens já não é tão fácil. Só em Um Sonho a Mais, em 1985, ele viveu 19


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seis: quem não se lembra de Volpone, Anabela Freire, do metaleiro motorista, André, do médico Nilo Peixe, do milionário Augusto Melo Sampaio? E do moribundo? E o público delirou: soberbo! A revista Amiga publicou o carinhoso agradecimento de Ney. Em Irma Vap, foram mais três. Ney computa sucessos. Muitos. Com o Seu Quequé, da mini-série Rabo de Saia, marco divisor em sua carreira, ele conseguiu o que poucos conseguem: parava tudo quando Rabo de Saia entrava no ar. Parava o país. Seu Quequé passou a ser apelido e adjetivo. Vivendo Ezequias Vanderlei Lins, o mascate que mantinha três famílias em diferentes cidades do Nordeste dos anos 20, eletrizou os telespectadores. Impagável, contracenou com Dina Sfat, Lucinha Lins, Tássia Camargo, enrolou as três e era invejado. O público se dividia, mas era para escolher com quem ele deveria ficar, ainda que muita gente condenasse a trigamia. Sucessos incontroláveis como o de Barbosa, o velhinho composto com uma peruca de cabelos brancos encaracolados, barriga postiça, lábio inferior protuberante (só recentemente ele confessou a inspiração: o seu amigo Carlos Alberto Ricelli), personagem mulherengo, apaixonado por crianças e bichos, que na novela Fogo no Rabo, quadro da TV Pirata, beijava a todos. Barbosa morria no final da novela, mas por exigência do público ressuscitou. Na virada do ano (1988), ele abria uma cortina e rompia o logotipo da TV Globo para desejar Feliz 1989. Não ficou nisso: no TV Pirata mesmo, ele virou garoto-propaganda de uma linha de lingerie sexy, inspirada em Luíza Brunet e lançou o refrigerante Diet Barbosa. E o maior de todos os sucessos, aquele que o fez “um seqüestrável”: O Mistério de Irma Vap. Resultado de uma insistente busca pela qualidade, Irma Vap teve uma repercussão tão grande que o fez – assim como a Marco Nanini, com quem contracenava – quase um refém do público que queria vê-lo e voltar a vê-lo. Não uma, mas várias vezes. O que levou a peça ao posto de maior sucesso em toda a história do 21


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teatro brasileiro. Quase 12 anos em cena, mais de 2 milhões e 500 mil espectadores: chegou ao Guiness, o livro dos recordes. Ney não se nega a falar do método, da maneira como se prepara: “Para representar, me cerco de todas as armas possíveis, como filmes e livros. Faço uma pesquisa violenta, acho que é o melhor momento para um ator: a criação do personagem. Me considero um fotógrafo da vida, do cotidiano. Esse contato direto com o povo fortalece meu trabalho. Sou curioso e observador. Leio tudo sobre, por exemplo, a peça que estou fazendo.” A preparação para um papel vai ainda além. A carga de informações e experiências já vividas interfere e contribui para o desempenho do ator. Ney foi vendedor de jóias, gerente de loja, bancário. Ele se multiplicava para trabalhar de dia e à noite enfrentar as rígidas aulas da Escola de Teatro da USP - para onde foi por sugestão de Cacilda Becker - aprendendo a dançar, a cantar clássicos, interpretar Shakespeare, Ionesco, e às vezes apanhar “com uma varinha de marmelo”. E não era parte de uma cena. Era punição mesmo. Os alunos eram exigidos ao extremo. Pensei nisso e lembrei alguns papéis ao ouvir o que ele acabava de revelar: “Na minha vida, vivo cercado de livros, principalmente os clássicos e biografias. Amo Shakespeare, Cervantes e minha última paixão é Tchekov. Não que eu o tenha descoberto agora, mas, reler autores importantes te traz novas descobertas. Um dos motivos porque gosto tanto de viajar é para me alimentar da cultura dos outros países. Gosto de visitar os museus, as galerias de arte, as grandes exposições como as bienais de Artes Plásticas, saber dos lançamentos artísticos de todos os gêneros. Reciclagem é um termo batido, mas é o que faço. Quando volto de uma viagem pra Nova York ou Paris, me sinto melhor como gente e como ator. Volto mais sábio. Mas ainda acho que, o mais forte de tudo, é o olhar sobre a vida, o ser humano. Isso sim é o grande barato.” A busca por fazer o melhor e conquistar um lugar 23


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entre os melhores leva-o, também, a trabalhar com os melhores. Ney rememora, por exemplo, grandes nomes que o dirigiram – Antunes Filho, Marília Pêra, Gerald Thomas, Walter Avancini – e revela que sempre escolheu o trabalho que quer fazer e com quem quer trabalhar. O que não o dispensa de sacrifícios ou, quando nada, de grande desconforto. Já andou muito de ônibus e kombi sem banco. Hoje compensa não dispensando ocasiões especiais em que viaja de primeira classe e passeia de limusine com chauffeur. Não dispensa também o sabor de ser reconhecido na rua, de dar autógrafos, embora nem sempre seja fácil. Mas nenhuma dificuldade que altere o jeito expansivo, alegre, e autêntico. Ney sempre diz o que pensa, faz o que deseja. Já posou seminu para uma revista; já foi casado, já esteve sozinho; já se declarou um pequeno escândalo; já perdeu pessoas queridas; já engordou e emagreceu; já amargou pequenos e relativos fracassos. Sempre mantendo a fina ironia e o quase onipresente bom-humor. Exuberante A vida em família foi marcada pela mãe exigente, extremamente franca, pelo gênio forte do pai, também muito franco, pelas dificuldades financeiras, e sobretudo pela alegria de viver de Ney. Alfredo Simonim Latorraca, o pai, e a mãe, Nena, eram do showbusiness: um crooner e uma corista. Cassino? Latorraca? Nos anos 30 ou 40 a boate-cassino do nosso Clube Vitória, no Parque Moscoso, era capitaneada por um Latorraca. Não sabia o seu prenome. Uma exaustiva procura me leva ao seu sócio-capixaba, e ao nome de alguns habitués do lugar. Mais algum esforço, chego ao discotecário da boate e ao colunista social da época. E é este quem me revela: Latorraca era um homem elegante, que fazia muito sucesso com as mulheres. Mais um ponto em comum com o pai de Ney (e com Ney). Seriam a mesma pessoa? Teria que esperar mais uma tarde inteira até que velhos recortes de jornal jogassem 25


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por terra uma bela teoria de um Ney Latorraca pelo menos gestado no Espírito Santo: o nosso Latorraca se chamava Hector. Quem sabe pelo menos parente? Por telefone, Ney confirma: é um tio. Sua mãe foi a primeira a fazer a Nega do Cabelo Duro com Grande Otelo, no Cassino da Urca. O pai, trabalhando na boate Oásis, foi quem primeiro apresentou a cantora Maysa em São Paulo. Não poderia imaginar o futuro do filho, fazendo novelas, cinema, teatro. Menos ainda imaginar que esta mesma Maysa um dia iria se deixar arrebatar por Ney, impressionada pelo seu desempenho, e dedicar-lhe os versos que ele, lamenta, não tem mais: “Infelizmente, não tenho cópia da poesia que ela escreveu. Falava da minha primeira aparição na TV Globo, minha primeira cena, na novela Escalada. Eu dirigindo um carro de época, numa externa muito bonita, em preto e branco”. De certo modo, Ney saiu aos pais. Enquanto conversávamos, ele lembrou da certeza que sempre teve de que seria ator, mesmo que a família preferisse ter um filho médico, engenheiro, um filho que seguisse uma profissão menos incerta. “A gente sempre foi cigano... Na Ronald de Carvalho, em Copacabana, no Lido, eu tinha 10 anos. Era 54. Eu vivendo em Copacabana era uma coisa... chic. Eu levei a minha mãe até a porta do Roxy, do outro lado, e disse assim: Tá vendo aquela vitrine ali? Um dia você vai ver meu nome ali. E viu. Um dia ela foi lá e viu. Ela se emocionou, e o papi (padrasto de Ney) também. Porque eles viam uma pessoa muito determinada. Eu sou uma pessoa muito determinada. Claro, sou exuberante, vaidoso, mas sou determinado.” Ele lembra também, com carinho, da avó materna, destemida, determinada: “Minha avó, Maria Escudero, quando veio da Espanha para o Brasil com quatro filhos, mamãe no meio, ela vai parar em Ilhéus e acaba se amigando com um homem – ele era negro – que era o único lá, na época, que falava latim. E que dizia: A única coisa em que não sou perfeito é que fui professor de Filinto Müller”. Se hospedava 27


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no Copacabana Palace. Lá em Campo Grande, Mato Grosso, a Santa Casa tem o nome dele... José Pereira Teixeira Filho. Minha avó, Maria Escudero, passou a assinar Maria Teixeira.” Ney sempre fala com nostalgia e com emoção desse tempo. Ele recorda e destaca a grande lição que recebeu da mãe, para ele “uma mulher batalhadora, que jamais conheceu a palavra medo”: fazer apenas aquilo de que goste. Sem concessões. Ney, que seria mineiro, nasceu em Santos, numa visita dos pais aos seus avós paternos. O ano era 1944. O mês, julho. O dia, 27. Leão, primeiro decanato. Viveu uma infância regrada. Com o fim dos cassinos, seus pais enfrentaram grandes dificuldades financeiras. Moraram por um bom tempo em pensões para casais sem filhos. Ney dormia numa cama de armar (já era um rapaz quando teve a sua “primeira cama de verdade”). A situação fez com que aprendesse a ser comedido dentro de casa. Compensava na escola, onde, ele conta, foi “um demônio”. Se sua infância foi marcada pelas restrições econômicas, ele nunca fez disso um cavalo de batalha. Foi à luta. Também não se esforçou para apagá-la de sua biografia. Pesquisar sobre ele mostra que não evita falar dos momentos difíceis. Narra isso de maneira natural: “A minha infância foi pobre, miserável, depois que meus pais perderam o emprego no Cassino da Urca. Roubei para comer e tudo, mas, no fundo sempre mantivemos o glamour e o humor. Sempre vivi de forma intensa e debochada desde então. Só mudei com a morte de minha mãe.” Figura central em sua vida, a mãe, ao morrer, provocou uma mudança cujo primeiro reflexo após a dor foi deixá-lo menos engraçado: “Quando perdi minha mãe entendi que nada tinha muita importância. Fiquei mais consciente e, principalmente, entendi que eu não era aquilo tudo que achava.” Dona Nena era sua melhor amiga, sua crítica mais severa. Era ela também quem organizava a vida prática, cotidiana e profissional de Ney, e quem orientava os investimentos financeiros. Ela partiria poucos 29


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meses depois do companheiro, o homem do Globo da Morte do circo que o adolescente Ney conhecera em Campo Grande. O temerário Boanerges, que arriscava a vida numa moto girando em dois sentidos dentro de um globo e que, apresentado por Ney à mãe, terminou por ser, durante 35 anos, o seu papi, era um porto seguro para ambos. A mudança foi grande. Mesmo hoje, mais de 15 anos passados, uma pausa respeitosa e emocionada que ele disfarça, enquanto fala comigo, revela a dimensão do seu amor por Dona Nena. Ele próprio ter filhos? Ser pai não é coisa planejada, mas quando pergunto sobre isso, ele diz: “Não é uma coisa em que eu fico pensando, mas pode acontecer. Se for um processo natural, por que não?” Incansável Como uma Penn Taylor perseguindo Vladimir Polansky, retomo o arsenal de informações que reuni durante quase dois meses e volto a constatar: Ele põe a vida e os sentimentos no palco. “É um caso de amor com aquele espaço, aquele chão de madeira. Mesmo.” O início foi uma participação em rádio-novela, na Rádio Record, ainda menino: tinha 6 anos. Os pais sempre em trânsito e ele junto, claro: Santos – São Paulo – Rio – Santos de novo, Instituto Canadá. No Rio, Colégio São Fernando, ele marca presença com um número de frevo, dançando com sombrinha e tudo. Mas é no Instituto Canadá que a vida artística começa a ganhar contornos profissionais: junto com um grupo de colegas ele monta o Conjunto Eldorado. Foram dois anos de apresentações, Ney como cantor e líder. Enquanto isso, no embate com os números mais uma vez vencia a Matemática: foram duas reprovações, só no Canadá. No mesmo colégio ele estréia na montagem da peça Pluft, o Fantasminha, dirigido por Serafim Gonzáles. Foi um sucesso. A imprensa registrou. Ele ganhou destaque. Na televisão o primeiro papel não foi bem um papel, foi uma ponta na novela A moça que 31


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veio de longe, na TV Excelsior: era ele quem dava a mão à atriz Rosa Maria para que ela subisse ao cavalo. Era uma estréia, mas não em grande estilo: ele aparecia de costas. Profissionalmente começou na peça O Balcão, em 1969, ano movimentado, em que também estrearia no cinema, em Audácia, a Fúria dos Trópicos, de Carlos Reichembar e Antônio Lima. Em 69, ainda, estréia de fato na TV, na novela Super Plá, da TV Tupi, infanto-juvenil. É também o ano em que foi premiado como melhor ator infantil com O Cavalinho Azul. Ele, que apregoava não gostar de fazer teatro infantil. A partir daí, como que para confirmar a sua auto-definição – uma pessoa elétrica – ele não parou mais de acumular dois, três papéis ao mesmo tempo. Elétrico, inquieto, incansável, mutante. O que não esperar de um ator filho de um cantor e uma corista, enteado de um destemido homem de circo, que teve Grande Otelo como padrinho de batismo? De qualquer forma, o destempero do pai ele não herdou. A tranqüilidade da mãe, também não. Mas a capacidade de improvisar de Grande Otelo, esta, sem dúvida incorporou. E faz a sua defesa: “Sempre acho que posso e devo colaborar com o personagem.” Isto não quer dizer prezar pouco o que faz. Representar, para Ney, é fundamental. Depois, o ator evolui na medida em que o homem amadurece e hoje ele já não tenta mais ultrapassar o personagem. Cerca de 20 anos atrás, 1989, 25 anos de carreira, constataria: “Vi então que tinha que me aprofundar mais dentro de mim mesmo e conhecer mais a fundo as outras pessoas para criar melhor os meus personagens.” “Comecei a usar a TV como já usava o teatro. Em Irma Vap faço três papéis. Como Quequé, fiz um só que tinha três personalidades. E já com o Volpone, da novela Um sonho a mais, eu me desdobrei em cinco. (...) Pela própria rapidez do veículo, a TV tem a tendência de classificar as pessoas pelo físico, dando-lhes o rótulo de mau, de delegado, de galã etc. Desde que entrei na Globo, há 16 anos, sempre lutei e consegui espaço para me diversificar.” 33


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Como ao longo de toda a sua carreira, o final dos anos 80 foi de trabalho intenso e múltiplo: fazendo TV Pirata, Irma Vap, participando dos filmes A Bela Palomera, Festa, A Mulher do atirador de facas (curta-metragem) e dirigindo o show Passando batom, de Jane de Castro (na boate Casanova, na Lapa, Rio de Janeiro). A auto-exigência não é TOC, ele me diz. É profissionalismo que o leva a preparar tudo o que vai usar no dia seguinte: roupa e calçados cuidadosamente separados que ele vistoria na noite antes de sair, cedo, para as gravações. Tem medo de esquecer o texto, acorda de manhã e lê o que precisa gravar. Ainda de noite, levanta para lê-lo de novo. E o resultado é o sucesso. Um ator e uma pessoa em constante renovação, exigente consigo próprio e na escolha dos seus papéis, ele lembra as últimas palavras da mãe: “Ney, você é um ator que pode se dar ao luxo de fazer o que quiser.” Mais um conselho materno que ele seguiu e, de fato, hoje só entra em cena, no palco, no teatro, na televisão, fazendo aquilo que quer. Mesmo assim, não se cansa de dizer que se comporta como um eterno amador, para quem todo dia é um dia de surpresa. Um eterno amador que gosta de fazer comédia, como nos anos 90, em que buscava, com o seu trabalho, chegar às crianças, para ele um público exigente que conseguiu tocar, por exemplo, como o vampiro Vlad, terror dos terrores na novela Vamp. Ele abrandaria o medo e ganharia a criançada ao dizer “totooso...”, ao cravar os dentes no pescoço de Cláudia Ohana. Fazer rir ou fazer chorar, qualquer que seja o momento e o lugar de representação este será marcado pelo talento. Ney Latorraca já disse: “Fazer chorar com uma gargalhada e rir de uma tragédia. O trabalho do artista é despertar emoção, qualquer uma”. “Sou um ator que não tem pudor para representar”. Inquestionável No cinema, no teatro, na televisão, ele já experi35


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mentou momentos de glória absoluta, de casa cheia, de crítica favorável, mas também sucessos relativos, nenhum sucesso e crítica implacável. Na carreira de Ney é mais fácil apontar sucessos relativos, que são bem poucos, que os grandes sucessos, constantes, e, por isso, difíceis de contabilizar. E, curiosamente, o sucesso às vezes atrapalha. E muito. Em Irma Vap contribuiu para que fosse parar no hospital, com uma úlcera duodenal que exigiu uma cirurgia. Foi difícil aceitar o mega-sucesso dessa peça. E ele tem uma explicação para isso: “É que aqui no Brasil a gente está tão acostumado ao fracasso, a pedir desculpas porque tem casas vazias e porque as carreiras dificilmente dão certo (...) que quando você, de repente, se vê fazendo uma peça que lota todos os dias; fazendo um programa de televisão que está entre os primeiros do Ibope, sem querer, acho que o inconsciente começa a falar: Não, não; está sendo demais”. “É coisa de ator brasileiro, subdesenvolvido, que não está acostumado com o sucesso; a gente se sente culpado porque está com a casa boa, porque pode melhorar um pouco o padrão de vida e se cuidar, ir a um bom dentista, presentear uma pessoa, ler bons livros, viajar...” Se para alguns não é problema, para ele é: “Tem pessoas que sabem lidar com isso. Eu não soube.” Mas soube avaliar que na carreira de um ator, um sucesso como o de Irma Vap acontece de 20 em 20 anos. Não reconhecimento e público pequeno marcaram Don Juan, em que atuou ao lado de Fernanda Torres, dirigido por Gerald Thomas; Casa do Terror e a recente novela Negócio da China. Se um trabalho explode e outro não ultrapassa a linha mediana, não é por deliberação do ator, mas algumas atitudes suas foram decisivas. Em 1984, ele estava com 40 anos e fez um balanço, como confessaria cinco anos depois: “Ou viro coadjuvante de luxo, ou me transformo num primeiro ator. E tenho

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coragem de dizer que gostaria de estar no time dos primeiros atores. Para conseguir isso precisava de um bom texto e de um bom personagem. Aí veio o Ernesto Gattai, de Anarquistas Graças a Deus, com o aval da própria filha, Zélia Gattai e de seu marido, Jorge Amado; do público e também pelo fato de estar ao lado de uma das maiores atrizes da televisão brasileira que é a Débora Duarte. Em seguida, gravei o Quequé. Foi tudo junto. Sem falar que tinha acabado de fazer Rei Lear, de Shakespeare, no teatro.” Fez sucesso também com A Festa, que ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Gramado. Dirigido por Ugo Giorgetti, arrebatou sete Kikitos. Fez ainda o curta que ganhou três prêmios em Gramado: A Mulher do Atirador de Facas, dirigido por Carla Camurati. No cinema ele destaca A Fábula da Bela Palomera, adaptado do romance Amor nos tempos do cólera, de Gabriel Garcia Márquez, uma produção espanhola, direção de Rui Guerra, prêmio de público e da imprensa no Festival de Nova Iorque. Mas há muitos, muitos outros sucessos. Com tudo isso, ele se vê como uma pessoa comum, muito querida: “Sou tratado como um príncipe por todos: camareiros, jornalistas, cineastas e caixas de banco. Nem meus sentimentos, nem meu trabalho são terceirizados. Vou ao banco, à feira, vejo se tem flores na casa, troco lâmpada. Sou dono de minhas emoções e tenho as rédeas da minha vida.” Político Aqueles que são da geração de Ney Latorraca, ou pouco mais velhos, acompanharam, de 1964 a 1985, os reflexos do regime de exceção que o país viveu. Quem é de cinema, teatro ou TV, volta e meia estave às voltas com a censura. Ele e muitos amigos, colegas de trabalho, sofreram com isso. Sua posição é inequívoca: “Eu sou contra qualquer tipo de censura. Eu acredito no talento.” Busco saber se viveu a experiência de ter trabalhos censurados e ele me diz: “Comecei minha car39


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reira em pleno golpe militar (em 1964). Éramos censurados o tempo todo. Representávamos, às vezes, com militares no palco. Éramos obrigados a fazer uma pré-estréia para a censura, que muitas vezes impedia a temporada ou exigia que fizéssemos cortes absurdos no espetáculo. Em 1965, fazendo Reportagem de Um Tempo Mau, de Plínio Marcos, fomos presos e a peça proibida. Mas não desistíamos e estávamos sempre lutando nas ruas, nas passeatas. A minha classe sempre foi bucha de canhão.” Acontecesse o que acontecesse, ele não desistia mesmo. Estava sempre em exposição, dizendo o que pensava. Final dos anos 80, 14 teatros fechados no Rio, outros 10 em São Paulo, momento de eleições, ele ainda não tinha candidato. Esperava a posição, daqueles que estavam concorrendo às eleições, em relação à sua classe, a dos artistas. Esperava e pontuava. Dizia, então: “Quero saber o que o Ministério da Cultura vai fazer pelo teatro; se vai reabrir esses 14 teatros fechados no Rio, mais os 10 em São Paulo; se vai diversificar os núcleos ou se vai ficar somente esse pólo Rio-São Paulo.” E reclamava: “O cinema brasileiro está muito abandonado; o diretor de cinema trabalha de cinco em cinco anos. Isso não pode acontecer. Então tem que ser um presidente que esteja preocupado com a cultura do país, porque acho que o pulmão de um país é a cultura.” Arrebatador Não poderia ser outra a vida de Ney. E essa vida corrida ele parece ter aprendido ainda na infância. Os pais estavam sempre em movimento, ora num lugar, ora em outro. Tomasa Josephina Palhares Escudero, Nena, fugiu de casa, aos 14 anos, foi girl em shows de cassino e só parou quando viu que, deixando o filho aos cuidados de outra pessoa, este não estava sendo bem cuidado. Muito do que ele diz revela porque a sua vida gira nessa velocidade: “Eu sou muito elétrico. Tudo que eu faço é uma entrega muito grande, não sei me 41


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colocar numa redoma. Quero estar a par de tudo, sabendo o que acontece aqui e lá. É o meu jeito de ser, não vou mudar nunca. Não é justo eu tornar solitário um trabalho que é feito por uma equipe inteira.” Parece que um vórtice arrasta você junto com ele, quando se começa a ler sobre sua vida. De repente, compreendo sua velocidade arrebatadora: “Tive uma fase em que adorava, e queria mesmo, ser consumido. Entrei numa e minha vida virou um grande desfile de escola de samba, com várias alas. Tinha a ala do cara que fazia fotonovelas, que era eu; tinha a ala do pôster sexy, que era eu; depois era a ala do cara que estava em todas as festas, que também era eu; a ala do cara que fazia o ator sério; a ala dos bailes de debutantes; a ala da escola de samba de uma artista brasileira. Aí vi que aquilo estava me atrapalhando; estava esquecendo meu lado de ator para assumir um lado meio mundano. Então parei e voltei às minhas raízes. Mas foi bom, não me arrependo.” O caso de amor de Ney é com o palco, mas experiências fugazes e intensas têm marcado a sua vida fora dos holofotes. Na sua autobiografia – Muito além do script, 224 páginas – ele revela passagens rodrigueanas: experiências homossexuais na juventude; transas com a empregada, que era dividida com amigos; o ‘show’, numa boate, quando despiu em público a atriz Inês Galvão, com quem se casaria mais tarde e que ele aponta como a grande mulher da sua vida. Ela é o destaque entre aquelas que ele próprio já apontou como seus três grandes amores: Maria do Carmo Feitosa, Inês Galvão e Christiane Torloni. Ele é mais que um cavalheiro, ao falar das suas mulheres: “Olha, sou uma pessoa muito feliz, não posso reclamar. Seria injusto. Todas as mulheres que passaram na minha vida, eu continuo amando. Elas fazem parte da minha história. Continuo gostando, sinto saudades. É claro que muda um pouco, mas não tem aquela coisa fria de não querer ver mais, nem por fotografia.” Quando lançou Muito além do script, Ney tornou 43


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públicos os fantasmas, muitos segredos, as vaidades e alguns símbolos de status, compensações que o dinheiro traz: roupões, toalhas felpudas, viajar na primeira classe dos aviões, não dividir pratos em restaurantes. Cinema, teatro, novela, série, e música. Ele faz tudo isso. E bem. Em Saudade não tem idade, na Ópera do Malandro, em alguns números do Fantástico ressurge o cantor que começou com o conjunto Eldorado. “Eu canto, mas não tenho pretensões musicais.” Está registrado no LP do filme Ópera do Malandro, Ney cantando uma composição de Chico Buarque de Holanda, ao lado de Elba Ramalho, Zizi Possi, Gal Costa e Ney Matogrosso. Depois gravaria a trilha sonora de Bela Palomera, de Egberto Gismonti e Rui Guerra. Estudou canto no Rio, com Vera Canto e Mello, e em São Paulo também. É tenor. Ele revela: “E canto sempre como crooner, bem discreto.” Mas há coisas que ele não faz. Pergunto e descubro que dirigir é uma delas. Ele me responde: “Eu não tenho prazer em dirigir, tenho uma relação difícil com carro. Eu tinha motorista pra não precisar me preocupar com isso. Tenho carro na garagem, mas hoje prefiro pegar um táxi. É muito mais prático.” Mas nem por isso ele despreza o carro: “Eu amo viajar e gosto das duas coisas: viajar de carro ou avião pelo meu país e também conhecer o mundo.” Vaidoso Ele gosta de aparecer, já mandou imprimir cinco mil fotos que distribui com autógrafos, quando é assediado pelo público. Ser capa de revista? Claro. Afinal, todo artista um dia foi ou será capa de revista. Ney já foi capa e miolo de páginas e páginas de jornais e revistas. Já teve sua vida revelada em dois livros: Ney Latorraca - uma Celebração, e a autobiografia Muito além do script, escrita em parceria com a jornalista Lúcia Rito e lançada quando fez 55 anos, 35 de carreira e 25 de Rede Globo. Mas posar nu é para poucos: ele posou assim 45


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para a revista Sétimo Céu, em 1975, e revelaria 20 anos depois: “Adorei fazer. Foi um barulho enorme. O título dizia ‘O que Vera Fischer tem que eu não tenho?’, uma frase minha na entrevista. Era uma idiotice, eu ali, aquela lombriga nua, dizendo isso. Mas era a minha cara; ainda é. Sou um pequeno escândalo. Um vulcãozinho.” Essas notícias todas repercutem o seu sucesso e a maneira ansiosa e incansável como é acolhido pelos fãs. Ney sabe o que é o sentimento de um fã. Afinal, ele também tem ídolos e me diz quais: “Meus ídolos são brasileiros, como Sérgio Cardoso, Paulo Autran, Raul Cortez e Jardel Filho. Mas não fui influenciado por eles, apenas uma grande admiração.” Admiração pressupõe diferentes reações do fã: uma distância respeitosa, o assédio mais comedido, quando o fã apenas pede uma foto, um autógrafo. Ou até o avançar de sinal. Mas mesmo quando representou vestido de mulher, Ney foi respeitado. “Eu imponho: ator é ator e fã é o fã. Que gosto, amo, mas nunca entrando numa coisa mais agressiva.” Já recebeu muitas cartas, respondeu a todas elas, mandou fotos. E respondeu pessoalmente. Às crianças, revelou, dá uma atenção maior. Além de fazer questão de escrever respondendo, já chegou a fazer desenho. Mas os tempos mudaram. Se antes o contato era através de cartas hoje a internet está na frente. No entanto, o ritual permanece, sem que ele recorra a secretárias: “Hoje recebo muita mensagem por e-mail, cartas são raras. Respondo tudo e, se me pedem, envio foto também.” Chic Torcedor do Santos Futebol Clube, não vou querer, no entanto, que ele escale o time. Se você quer vê-lo sorrir feliz, sugiro que lembre 1972 e cante: “Que grilo é esse, vou embarcar nessa onda, é a Império Serrano que canta, dando uma de Carmem Miranda.” Sua escola de samba é a agremiação da Serrinha, em Madureira, ponto de resistência do jongo. Mais segredos? Ele adora óculos escuros (já usou 47


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muito os espelhados), tem um relógio Rolex, mas não só esse. No guarda-roupa algumas peças de Gregório Faganello, um ou outro terno Oggi, cuecas Jóquei e Zorba, algumas delas vermelhas. Já comprou muito na Bloomingdale’s e na Tiffany’s. Ney já lavou os cabelos com xampu Drogaderm, escovou os dentes com Close-up verde, e tomou banho com sabonetes Phebo, Nívea e Mônica. Desodorante, só Leite de Rosas. Colírio? Lacrima, “ideal para quem chora muito, dentro e fora de cena”. Fumou Galaxie, mas parou em 23 de abril de 2003, dia de São Jorge, como me revelou. Houve um tempo em que não dispensava a cavaquinha frita do Antiquarius (no Leblon), a banana frita do Albamar (na Praça 15), a carne da Churrascaria Plataforma (no Leblon). Praticamente foi garoto-propaganda da Frostfree da Brastemp. Declarou – o Jornal do Brasil publicou – que aquela geladeira “tem vida própria, fala, responde ao que você pergunta, te consola.” Antes do Pajero teve um Fusca e um Quantum. Sua televisão tem lugar para O Gordo e o Magro, mas especialmente para O Sol por Testemunha e Corpos Ardentes. No som, entre outros, Plácido Domingo. Gosta de se hospedar no Plaza de Nova Iorque e no Copacabana Palace, no Rio. E já confessou que é tarado por bico de peito (“os bebês têm razão”), pé e chocolates Kopenhagen derretendo no céu da boca. Mimado Um homem de personalidade forte. Sangue espanhol; quase obsessivo, ele quer viver tudo intensamente; mergulhar fundo; não medir conseqüências no que fala; ignorar a sociedade quando lhe dá na telha; exigir quando deseja; ser dócil e generoso quando sua sensibilidade determina; e ser leal aos amigos. Eles são muitos, na classe artística: Aracy Balabanian, Glória Menezes e Tarcísio Meira, Carla Camurati, Luiz Carlos Lacerda, Maitê Proença, Fernanda 49


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Montenegro, Renata Sorrah, Walmor Chagas... entre outros. Ney alegra a todos e é mimado por todos. É fácil saber disso. Afinal, se antes ele recortava de todas as revistas notícias dos seus ídolos, hoje é a sua vida, cada passo fora de casa, que está não só nas revistas como nos jornais, na internet, nos noticiários de TV. Assim se fica sabendo da caminhada pela orla da Lagoa, de calção preto, camiseta, óculos escuros e boné; do final de semana em casa de Glória Menezes e Tarcísio Meira; do anel de ouro que ganhou de Fernanda Montenegro; do anel de brilhantes, presente de Tônia Carrero. Da personalidade forte de Ney Latorraca talvez quem fale melhor seja o grande amigo e crítico de cinema Rubens Ewald Filho, no livro-homenagem, Uma celebração: “Ney odeia injustiças e é capaz de ir ao presidente da República, ao papa, na tentativa de corrigi-las. Ainda mais se a vítima for seu amigo. Pelos amigos ele até mente, acentuando qualidades que infelizmente não temos.” Ewald, cuja amizade Ney conquistou no início dos anos 60, em Santos, retribui a lealdade sendo o amigo presente, com quem o ator se reúne quase ritualisticamente para um balanço de vida, a cada início de década. Ele confirma a vaidade de Ney: “Digamos que vaidoso, sim, mas sincero também, porque é difícil achar algum ator que comente – com tanto humor – seus insucessos. Estrela, com certeza.” Quando Ewald fala em estrela me ocorre a participação do ator no programa Primeira Pessoa, do Multishow, final dos anos 90, Sábato Magaldi à frente, quando fez um pequeno balanço de sua vida e carreira. Implacável, ferino, mordaz, superior. Entre o que disse, destaco o gosto inequívoco e narcísico que o leva a ser abusado (“Adoro prêmios, mas prefiro os cheques”), sedutor (“Sou sedutor, gosto de seduzir 24 horas por dia.”) e a fazer graça (“E se não vejo ninguém a quem seduzir, fico me olhando no espelho”). De alguma forma, nesse sangue espanhol tem uma dose muito boa de Grouxo Marx.

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Generoso “O dinheiro dá ao ator (brasileiro) um pouco de tranquilidade. Você fica mais poderoso dentro da sua profissão porque você pode escolher e fazer apenas o que gosta, vivendo com dignidade.” Entre as muitas coisas que o dinheiro permite fazer estão pequenas loucuras, o que para Ney significa viagens repentinas. “A única loucura é decidir que vou viajar pra Paris, por exemplo, e embarcar no mesmo dia, em menos de 24 horas, e de primeira classe. É ótimo”. Ao fazer a peça O Mistério de Irma Vap foi que conseguiu seu momento de grande retorno financeiro. Não ficou rico, mas, “dentro da realidade dos atores brasileiros”, ele diria que se considera bem de vida. “Não sou, assim, um seqüestrável, mas não tenho preocupações financeiras. Atendia aos pedidos da minha mãe e atendo às minhas vontades. Meus bens estão todos deixados para o Grupo de Apoio e Prevenção à Aids (Gapa) de Santos, que cuida das crianças aidéticas, e para o Leprosário de Campo Grande (cidade onde sua mãe nasceu). Acredito na importância desse tipo de atitude, porque o preconceito ainda é muito grande.” Irma começou devagar, com pouco dinheiro. À frente Marília Pêra (que um dia Ney, bombasticamente, apontou como símbolo sexual), ele e Marco Nanini. O começo foi regrado: uma parceria formada entre os três mais o então marido de Marilia Pêra, Ricardo Pessoa, e Beth Leporace. Foram eles que compraram os direitos da peça que iria ultrapassar o sucesso de Hair, Lágrimas Amargas de Van Petra, Piaf, May Fair Lady e Doce Deleite. Teatro lotado todos os dias, temporadas populares pelo país, garantiram prestígio, ótimas críticas e dinheiro. Talvez para concretizar um outro sonho. Um teatro para Ney. Ele falou dessa vontade por muito tempo: ter um teatro ou um espaço seu. Estaria ainda em seus planos? “Na frente, terá um nome qualquer, tipo Espaço Cultural da Barra, ou dos Jardins, em São Paulo. Esse é o meu sonho. Ter um 53


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lugar onde a gente possa se reunir para fazer leitura de texto, lançar (...), e penso em transar uma sala de esgrima, de maquiagem, de interpretação e leitura, um bar para as pessoas se reunirem para um bate-papo, e um teatro. Mas também será aberto a exposição de artistas plásticos, a shows de música. Não quero uma coisa só pra mim. A gente tem que colocar outras pessoas trabalhando e dar chance para aqueles que não podem, e seriam bolsistas. (...) Vou acabar tendo isso.” Morando hoje num apartamento, Ney parece gostar muito de imóveis. No final dos anos 80, numa longa entrevista, revelou que tinha dois apartamentos no Rio, outro em São Paulo e duas casas em Campo Grande, terra de sua mãe. Estava, ainda, construindo outra em Miguel Pereira: uma casa préfabricada, por sugestão de Bruna Lombardi. Investimentos sugeridos por Dona Nena, que recebia dele um salário para administrar tudo o que tinha e fazia. Hoje são oito imóveis – todo o seu patrimônio – que ele já doou em testamento. Ele diz que os atores são pessoas generosas. A doação começa com a interpretação dos personagens. Mas sobre riqueza, posse, bens materiais, Ney é definitivo: “As melhores coisas da vida, as mais ricas, são as mais simples. Você pode parar e ver a chuva; ver uma criança sorrindo; ver a gargalhada que você provoca no público; uma pessoa te pedir autógrafo; ver que sua vida está indo bem e que você é querido; respeitado pela imprensa – uma imprensa de nível; comer pipoca; ir à matinê; namorar de mão dada.” Sandra Medeiros - Editora da Revista ÍMÃ

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o pensamento As opiniões de Ney Latorraca foram expressas diretamente, durante entrevista exclusiva, mas também ao longo de sua carreira, a jornais e revistas de circulação nacional. As opiniões a seguir também foram extraídas do livro-homenagem intitulado Ney Latorraca - Uma Celebração, lançada na Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial de São Paulo, organizada pela jornalista Tânia Carvalho. Sobre a perfeição como ator “O dia em que eu achar que estou pronto, vou parar. Tenho uma insegurança que é um combustível.” Sobre a idade “Não sou mais o gato que fez Hair. Todo dia tem uma novidade. Uma dorzinha aqui, outra ali.” Sobre o pai “Meu pai, Alfredo Simonim Latorraca, tinha um gênio terrível, não fazia média com ninguém, achava tudo muito chato, um horror, e era de uma sinceridade quase ferina.”

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Sobre a dedicação da mãe “Minha mãe fez vários abortos antes de decidir ter um filho. Quando nasci, não havia ninguém para tomar conta de mim. Um dia minha mãe me deixou com uma tia e me encontrou pretinho. Decidiu parar tudo e se dedicar à casa.” Sobre a mãe, em outra ocasião “Como mãe, era uma canastrona. Como amiga, uma estrela. Extremamente querida. Quando pedi para ver as cartas de pêsames, elas vieram de caminhão.” Sobre a infância “Como não tinha condições de comprar gibis, minha mãe me deu um só, que devia ler para o resto da vida. Meu sapato Tanque Colegial durava cinco anos. Meus brinquedos eram poucos e os tenho até hoje.” Sobre a infância, ainda “Não tinha esta história de tênis Nike, video-game e ter ataque por tudo. Aliás, não havia reclamação. Uma vez fiz um muxoxo porque havia picadinho de novo na mesa e minha mãe me avisou - e cumpriu - que eu ia comer picadinho por um ano para não reclamar. Meu pai era mais rígido.” Sobre a Escola de Arte Dramática “Foi na EAD que descobri o verdadeiro sentido de ser ator! Nada do que eu faço desde então é gratuito, tudo tem a ver com meus anos de escola. Por isso ela está sempre presente na minha vida.” Sobre o musical Jesus Cristo Superstar “Fiz o teste para Jesus, mas quem ganhou foi o Eduardo Conde. E era ele que devia fazer mesmo, tinha 59


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mais figura e mais voz. Fiquei sendo o Pilatos. Em sua crítica, Sábato Magaldi colocou o seguinte título: Pilatos Superstar.” Sobre o seu primeiro encontro com o diretor de teatro Antunes Filho “Ele me tratou de uma maneira inacreditável. Avisou que se eu não quisesse havia gente muito melhor do que eu para o papel, o Zanoni Ferrite, o Antônio Fagundes, que na hora iriam aceitar. E ainda: ‘Para você vou pagar menos. Estou te chamando porque você é mais barato, é pegar ou largar’. Eu peguei. E ele continuou me tratando de uma maneira... como eu gosto de ser tratado... ali... firme... porque sou muito rebelde e adoro um chicote.” Sobre Sandra Bréa “Sandra era uma estrela! O lugar dela nunca foi ocupado! Está para nascer alguém para descer uma escada como ela, com aquela canela fina, pernas maravilhosas, aquela bunda de crioula, linda, sabendo dançar, cantar, e ‘segurar’ uma roupa.” Sobre Cinema “Cinema é glamour puro! É quando o ator se sente um Gulliver, um gigante representando para aquelas pessoas pequenininhas lá embaixo. Digamos que é a consagração maior do ego. É o ego amplificado em som dolby. Desde pequenino sonhei com o estrelato no cinema, tapete vermelho, bandeira do Brasil hasteada, vários Oscars.” Sobre Cinema, ainda “Aos 12 anos eu já dizia para a minha mãe: ‘Um dia você ainda vai ver o meu nome aqui, na fachada do 61


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Cinema Roxy’, que era um dos maiores cinemas do Rio de Janeiro. Ela achava que eu era maluco, mas se não cheguei a Hollywood, estava nos letreiros do Roxy pouco tempo depois, porque quando a gente quer realmente uma coisa, consegue. E eu queria o cinema, com todas as suas dificuldades, as intermináveis esperas, poucos recusos e seu enorme fascínio.” Sobre Gerald Thomas “Ele é uma pessoa deliciosa de se conviver. Simpático, bem-humorado, inteligente, engraçado.” Sobre Marco Nanini “Nanini é um ator maravilhoso, tímido, sério, humilde em relação aos seus personagens - diferente de mim, que sempre acho que posso e devo colaborar com o personagem.” Sobre Marília Pera “Marília é uma diretora esplêndida, rigorosa, rígida, que em poucos dias colocou a peça (O Mistério de Irma Vap) de pé.” Sobre Marília Pera, ainda “Qualquer coisa que ela tenha feito, que bateu mal, fica apagada perante a grandiosidade de seus atos como mulher e profissional.” Sobre Juca de Oliveira “O Juca é daquela turma que come, dorme e respira teatro. Tipo Paulo José, só que mais espaçoso. Se ele te convidar para nadar, desista. Ele vai ficar falando sobre teatro dentro d’água.”

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Sobre os adereços usados em A Mandrágora “Como vestia uma malha o tempo todo e era muito magro, achei que precisava realçar alguma coisa. Então enrolava umas duas meias - muita gente faz isso, mas só eu confesso - e as pessoas diziam: ‘Nossa, como ele é forte!’, já que não ficava bem dizer outro adjetivo. Usava logo duas meias bem grandes, pretas, de jogador de futebol, um ‘kit Pitanga’, digamos assim. Coisas do teatro.” Sobre personagens marcantes “Barbosa virou mania nacional. Até hoje sou obrigado a responder na rua porque matei Barbosa. (...) A Louise Cardoso brincava que havia estudado tanto para andar na rua e as pessoas dizerem: ‘Olha a mulher do Barbosa’.” Sobre Maitê Proença “É uma pessoa que sempre me surpreende pelo caráter. Além da beleza e do talento, ela é uma pessoa solidária, que representa bem a generosidade da classe artística brasileira.” Sobre a sexualidade “Tenho em mim todas as sexualidades. Não gosto das pessoas que ficam por aí especulando sobre que apito toca fulano. Ninguém sabe que apito eu toco. Só com as mulheres que amei, poderia fazer um livro.” Sobre o uso de celulares pela platéia “Já aconteceu de me atrapalharem a concentração. Mas as pessoas não fazem por maldade. De qualquer forma, o público pode nos distrair.”

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Sobre a estréia de um espetáculo “Comparo este momento antes da estréia a uma operação sem anestesia. E morro de medo de esquecer o texto. Acordo de manhã e leio. De noite, levanto para lê-lo. Sou completamente neurótico e doente.” Sobre a estréia na TV “Eu era o rapaz que dava a mão para a atriz Rosa Maria, para que ela subisse no cavalo. Corri para a pensão onde morava para mostrar a todos que estava na televisão. As pessoas riram porque se eu não apontasse na tela quem eu era ninguém descobriria. Eu estava de costas para a câmera.” Sobre a peça O Mistério de Irma Vap “Aquilo era uma ola. Quase um show de rock. Foram 11 anos de estrada e 2 milhões e meio de espectadores. É o maior sucesso de uma peça em toda a história do Brasil e a montagem com dois atores com maior permanência no palco em todo o mundo.” Sobre o período no hospital, operado de uma úlcera duodenal (em 1989) “Fiquei dois meses de cama, usando uma bata azul que parecia uma mini-saia. Mas com essa roupa eu andava pelos corredores do hospital, levando o Barbosa a todos os quartos, animando outros doentes. Foi bom poder levar alegria para tanta gente, como acontece também através da televisão.” Sobre seu comportamento (em 2000) “Assusto as pessoas. Elas me param e me perguntam se estou bem, porque costumo sair de cuecas, de camisa de mangas compridas e de sandálias havaianas, velhas, gostosas.” 67


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Sobre ele próprio, ainda “Estou enxuto, bem, sou um belíssimo partido e não está descartada a possibilidade de ter filhos.” Sobre Muito além do script, sua autobiografia “Não foi fácil (...), mas foi bom para botar para fora esses fantasmas.” Sobre homossexualismo, em sua autobiografia “É claro que numa época de minha vida tive experiências homossexuais, como quase todos os garotos, com um primo, um amigo, mas ficou nessa experimentação, não se desenvolveu.” Sobre Glória Menezes e Tarcísio Meira “Quando eu dormia na casa deles, não gostava de ficar no quarto de hóspedes (...). Então, eles colocavam um colchonete no quarto deles e eu dormia ao lado da cama.” Sobre Sônia Braga “Sônia tem humor, é gostosa em todos os sentidos. Soninha, em minha vida, sempre se comportou como La Braga.” Sobre Vera Fischer “Vera é muito forte e eu, no auge da minha magreza, não conseguia derrubá-la. Até inventaram um artifício. Eu dava um remedinho pra ela, o personagem ficava meio grogue, e aí dava pra gravar a cena do estupro.” Sobre Fernanda Montenegro, quando ia fazer Zazá “Eu é que estou perturbado por trabalhar com a Fer69


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nanda. Ela não é só atriz e amiga: é a grande professora. Vou trazer flores e enchê-la de jóias.” Sobre Walter Avancini “Sinto muita falta do Avancini, que foi o diretor que me colocou no meu lugar, no espaço que eu merecia, com Avenida Paulista, Anarquistas, Rabo de Saia, Sertão Veredas e Memórias de um Gigolô, todas sob a direção dele. Gostaria muito de trabalhar com Daniel Filho, que é um diretor com o qual não tive oportunidade de atuar, ainda.” Sobre vaidade (em 1994) “Há dias em que visto minha melhor roupa só para passear na Oscar Freire. Adoro ser visto e admirado. Às vezes saio de casa só para isso.” Sobre Edilson Botelho (em 1997), com quem contracenou em O julgamento de Oscar Wilde, Quartett e O Martelo “Para que eu possa brilhar tenho que ter pessoas que brilhem junto comigo.” Sobre música “Gosto da Mart’nália, da Maria Gadú. Tem uma banda que eu adoro. Descobri no filme Maria Antonieta, de Sofia Coppola. É o Air. Adoro ouvir enquanto faço a barba.”

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sobre ele Carla Camurati, atriz, diretora de cinema, presidente da Fundação Teatro Municipal “O Ney é dessas pessoas que Deus trouxe ao mundo para alegrar a vida. Conviver com ele é uma delícia, sempre. Um ator daqueles!... Inteligente, agudo, que trabalha de forma inspirada.” Aracy Balabanian, atriz “Ney é o amigo mais fiel que eu conheço; e com certeza um dos mais divertidos.” Maitê Proença, atriz e escritora “Ney é generosidade. A dele grita e acolhe em todas as horas, sobretudo naquelas em que ninguém mais se lembra de dar conforto. Quando se está encolhidinho por dentro, lá vem ele, despejando admiração com suas observações enaltecedoras. Às vezes eu ligo pro Ney pra falar das coisas dele e quando vejo, Ney já virou os holofotes pra mim. E olha que ele gosta de aparecer! Gosta e aparece para todo o Brasil que se deslumbra com seu inspirado talento, e para toda a legião de amigos que o aplaude com vigor. Grande ator! Mas se fosse escritor, com a mente imaginativa que tem - pensa e diz coisas inesperadas e deliciosas - ele desbancaria nós todos que nos atrevemos nas artes escritas. Meu amigo do coração!” Renata Sorrah, atriz “O Ney para mim é como se fosse uma pedra preciosa. Tanto como ator quanto como pessoa. Eu tive o privilégio e a

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sorte de trabalhar com Ney numa peça do Fassbinder, Afinal uma mulher de negócios, mas eu já era sua fã. Do trabalho dele, da postura dele diante da vida e profissionalmente. Nós fizemos esse trabalho – a gente lançou o Fassbinder no Brasil – e ele fazia quatro papéis brilhantemente. Depois dessa peça ficamos amigos. Então nós dividimos, no palco e na vida, uma cumplicidade. Desde que eu me lembre, desde Hair e em toda a carreira dele, todas as escolhas são de um homem de teatro. O Ney é um raro homem de teatro que faz cinema, faz TV. E tudo que ele faz, com o talento que Deus lhe deu, é primoroso. É uma pessoa de que eu gosto imensamente. Admiro e tenho o maior orgulho de ter trabalhado com ele. Desejo pra ele tudo de bom. E que ele nunca pare de encantar a gente com seu o talento.” Édi Botelho, ator e diretor “Falar de Ney Latorraca é falar de inteligência, rapidez de raciocínio e principalmente senso de humor. Somos todos seduzidos pela sua maneira única de observar as coisas. É um comediante, no verdadeiro sentido da palavra. Aquele ator que vai do drama à comédia, do musical ao teatro de costumes, com domínio total do ofício de representar. Um ator sem barreiras que faz da arte de representar seu parque de diversões. Generoso e disciplinado, trata a profissão como deve ser... com amor e respeito. Sou um privilegiado por já ter dirigido Ney Latorraca e feliz por tê-lo como um grande amigo.” Luiz Carlos Lacerda (Bigode), diretor de cinema “O nome de Ney Latorraca evoca imediatamente o que há de melhor na tradição de humor da cultura brasileira. Não o humor que desperta o riso fácil e gratuito hoje em dia presente na maioria dos palcos e na programação audiovisual do país, mas na riqueza do humor que nos constitui historicamente; da nossa formação ibérica, que sobrevive no teatro de revista; desemboca na Semana de Arte Moderna de 22, e se perpetua através do Tropicalismo e de um novo humor bisneto do Barão de Itararé (Aparício Torelly). Esse divisor de águas que significou o Modernismo foi todo construído sob esse senso de humor que é parte da nossa identidade cultural. O riso é uma das mais importantes manifestações da inteligência humana e está cientificamente provado que é também responsável pela saúde e permanência das civilizações.

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Nos regimes totalitários, ele tem um importantíssimo papel político e libertário. As ditaduras não toleram o seu exercício, mas tem sido nesses períodos sombrios onde ele, subversivamente, se dissemina, faz a catarse do povo, da dramaturgia e dos artistas no seu ofício de ser arautos do futuro. Ney Latorraca é sinônimo do que melhor se produziu e se produz nessa esfera de criação artística. Apesar de sua formação acadêmica na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo; apesar de incansável intérprete dos clássicos e dos autores modernos; como um Rigoleto da Contemporaneidade, ele tem contribuído, inteligentemente, para que distintas gerações de público se divirtam. Filho de gente de teatro, Ney é uma ribalta em pessoa. Exerce a sua alegria contagiante no palco e na vida, numa permanente atuação onde busca a sua felicidade pessoal e a dos seus amigos ou companheiros de trabalho. Uma equipe que conta com ele no elenco é a garantia de um trabalho feliz. Há cerca de 20 anos nos conhecemos e incorporamonos, um na vida do outro, como amigos inseparáveis e de todas as horas. Seja nos filmes que realizamos juntos, ele como ator ou produtor, eu como diretor; seja no cotidiano de nossas lutas e de nossas esperanças. Quem se aproxima desse furacão de criatividade e afeto não quer nunca mais ficar curado – Ney é quase um vício. A sua delícia de ser nos torna, aos que o cercamos, platéia de privilegiados desse espetáculo ininterrupto que ele é. Homenageá-lo é prestar um tributo a um de nossos maiores atores vivos, do teatro, do cinema e da televisão, mas é também reverenciar aquilo que de melhor herdamos como povo – que é a nossa alegria de viver.” Tânia Carvalho, jornalista, autora de Ney Latorraca, uma celebração “Ney Latorraca é único. Quem tem o privilégio de ser seu amigo sabe disso. Seu público, fiel, também. Dono de um senso de humor inacreditável, é capaz de contar qualquer história com uma graça jamais imaginada: do velório de um parente querido a um de seus fracassos. Foram poucos, mas existiram. E ensinaram-lhe muito.”

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Ney Latorraca, ele próprio “Uma pessoa vaidosa, regateira como eu, precisa levar umas chapuletadas de vez em quando.” Marco Nanini, ator (em 1994, ao jornal O Globo) “(...) Conhecemos um ao outro pelo silêncio. Tivemos, é claro, alguns momentos de conflitos. De mal-estar, de trombas e de saco-cheio. Mas entre nós nunca deixou de existir respeito, generosidade e compreensão. É por isso que a nossa amizade existe. Ney tem um arsenal artístico muito grande. É uma reserva de talento que ele nunca teve a necessidade de usar, mas um dia usará. Ele nos engana com seu jeito falador, mas o seu lado reservado - que ele esconde para os outros - deve ter momentos grandiosos. Talvez a fonte do artista que ele é.” Rubens Ewald Filho, crítico de cinema “Quando o conheci fiquei assustado com aquela vitalidade, aquele despudoramento, aquele talento tão óbvio e evidente. E que não pedia desculpas. Ao contrário, se assumia. Dizia que ia ser o maior ator do Brasil. E pronto (...) Qualquer pessoa que tenha tido a sorte de trabalhar ou conviver com Ney sabe disso: ele é uma das pessoas mais engraçadas e divertidas que conheço. Tem expressões próprias, caretas, gestos, que são tão comunicativos que em pouco tempo todo o grupo o está imitando, sem se dar conta. Viramos todos pequenos Neys.” Maria Padilha, atriz “Eu sempre fui fã do Ney. Antes de eu virar atriz profissional, eu já era fã dele nas novelas. Eu o achava um ator incrível e um homem lindo. Um galã de cinema francês ou italiano. Ele tinha um diferencial. Todo mundo se apaixonou por ele nos anos 70. Depois eu o conheci como profissional e como pessoa. E ele é uma das pessoas que eu mais amo nessa vida. Comecei a trabalhar com Ney em 1980, e ele me surpreende sempre. Continua me fascinando a cada dia, a cada trabalho. Eu o definiria como um homem moderno. Ele é o verdadeiro homem moderno. E sempre conjugando o binômio amor e humor.”

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peças Reportagem de um Tempo Mau Autor: Plínio Marcos Direção: Plínio Marcos Data: 1964 A Crônica Autor: Carlos Alberto Sofredini Direção: Carlos Alberto Sofredini Data: 1965 O Cristo Nu Autor: Carlos Alberto Sofredini Direção: Carlos Alberto Sofredini Data: 1965 A Falecida Autor: Nelson Rodrigues Direção: Celso Nunes - supervisão A. Filho Data: 1966 O Balcão Autor: Jean Genet Direção: Victor Garcia Data: 1969

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Hair Autor: Gerome Ragni Gal MacDermott e J Rado Direção: Ademar Guerra Data: 1970 Quanto mais Louco Melhor Autor: Joe Orton Direção: Walmor Chagas Data: 1972 Jesus Cristo Superstar Autor: Andrew Lloyd Weber e Tim Rice Direção: Altair Lima Data: 1972 Jogo do Crime Autor: Antony Schaffer Direção: Antunes Filho Data: 1973 Bodas de Sangue Autor: Garcia Lorca Direção: Antunes Filho Data: 1973 O Que Você Vai Ser Quando Crescer Autor: Criação Coletiva Direção: Silnei Siqueira Data: 1974 Orquestra de Senhoritas Autor: Jean Louis Direção: Luiz Sérgio Person Data: 1974 A Mandrágora Autor: Maquiavel Direção: Paulo José Data: 1975

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Lola Moreno Autor: Bráulio Pedroso Direção: Antônio Pedro Data: 1976 Afinal, uma Mulher de Negócios Autor: Fassbinder Direção: Walter Scholiers - Sérgio Brito Data: 1979 Othello Autor: Shakespeare Direção: Coletiva Data: 1980 O Rei Lear Autor: Shakespeare Direção: Celso Nunes Data: 1983 O Mistério de Irma Vap Autor: Charles Ludlan Direção: Marília Pera Data: 1986/97 O Médico e o Monstro Autor: George Ostermann Direção: Marco Nanini Data: 1994 Don Juan Autor: Otávio Frias Filho Direção: Gerald Thomas Data: 1995 Quartett Autor: Heiner Müller Direção: Gerald Thomas Data: 1996

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O Martelo Autor: Renato Modeso Direção: Aderbal Freire Filho Data: 1999 3 x Teatro Autor:Tchekov, Pirandello, Cocteau Direção: Édi Botelho Data: 2000

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filmes Audácia - A Fúria dos Desejos Direção: Carlos Reichembar e A. Lima Data: 1969 A Noite do Desejo Direção: Fauzi Mansur Data: 1973 Sedução Direção: Fauzi Mansur Data: 1974 Deixa, Amorzinho... Deixa Direção: Saul Lachermaster Data: 1976 Anchieta, José do Brasil Direção: Paulo César Saraceni Data: 1976 Uma Estranha História de Amor Direção: John Doo Data: 1979 Das Tripas Coração Direção: Ana Carolina Data: 1979

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O Beijo no Asfalto Direção: Bruno Barreto Data: 1981 O Grande Desbum Direção: Braz Chediak e Antônio Pedro Data: 1982 A Mulher do Atirador de Facas Direção: Nilson Villas-Boas Data: 1984 Ópera do Malandro Direção: Rui Guerra e Chico Buarque Data: 1985 Ele, o Boto Direção: Walter Lima Júnior Data: 1986 A Fábula da Bela Palomera Direção: Rui Guerra Data: 1987 Dente por Dente Direção: Alice de Andrade Data: 1994 Brevíssimas Histórias da Gente de Santos Direção: André Klotzel Data: 1995 Carlota Joaquina - Princesa do Brazil Direção: Carla Camurati Data: 1995 Festa Direção: Ugo Giorgetti Data: 1998

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For All - O Trampolim da Vitória Direção: Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz Data: 1998 Minha Vida em Suas Mãos Direção: José Antônio Garcia Data: 2001 Viva Sapato! Direção: Luiz Carlos Lacerda Data: 2002 O Diabo a Quatro Direção: Alice de Andrade Data: 2004 Irma Vap - O Retorno Direção: Carla Camurati Data: 2006 Vida Vertiginosa Direção: Luiz Carlos Lacerda Data: 2009 Topografia de um Desnudo Direção: Tereza Aguiar Data: 2009 O Gerente Direção: Paulo Cesar Saraceni Data: 2009

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televisão TUPI Alô Doçura - seriado TV Tupi – 1953 Beto Rockfeller - novela TV Tupi – 1968 Super Plá - novela TV Tupi - 1969 Dom Camilo e Seus Cabeludos - série TV Tupi- 1972

RECORD O Tempo Não Apaga - novela TV Record – 1972 Vidas Marcadas - novela TV Record - 1972 Eu e a Moto - novela TV Record - 1973

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Venha Ver o Sol na Estrada - novela TV Record - 1974

SBT Brasileiros e Brasileiras - novela TV SBT - 1990 Éramos Seis - novela TV SBT - 1994

GLOBO Escalada - novela TV Globo – 1974 O Grito - novela TV Globo – 1975 Estúpido Cúpido - novela TV Globo – 1976 Sem Lenço, Sem Documento - novela TV Globo - 1977 Saudade Não Tem Idade - musical TV Globo - 1978 Malu Mulher - série TV Globo - 1979 Coração Alado - novela TV Globo – 1976 Vida de Sto Antoninho Rocha Marmo - caso verdade TV Globo – 1982

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Anarquistas, Graças a Deus - série TV Globo - 1983 Eu Prometo - novela TV Globo - 1983 Rabo de Saia - série TV Globo - 1984 Partido Alto - novela TV Globo - 1984 Um Sonho a Mais - novela TV Globo - 1984 Avenida Paulista - série TV Globo - 1985 Memórias de um Gigolô - série TV Globo - 1986 Grande Sertão - Veredas - série TV Globo – 1986 TV Pirata - humorístico TV Globo- 1987 Vamp - novela TV Globo - 1991 Casa do Terror - série TV Globo - 1995 Zazá - novela TV Globo - 1997 Você Decide - programa interativo TV Globo - 1999 O Cravo e a Rosa - novela TV Globo - 2000 99


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Brava Gente - O Automóvel - série TV Globo - 2001 O Beijo do Vampiro - novela TV Globo - 2002 A Casa das Sete Mulheres - minissérie TV Globo - 2003 Da Cor do Pecado - novela TV Globo - 2004 Bang Bang - novela TV Globo - 2005 O Sistema - série TV Globo - 2007 Faça Sua História - série TV Globo - 2007 Casos e Acasos - série TV Globo – 2008 Negócio da China - novela TV Globo - 2008 S.O.S. Emergência - série TV Globo - 2010

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prêmios Prêmio Contigo Prêmio: Melhor Vilão Novela: Zazá Personagem: Silas Vadan Data: 1997 Associação Paulista de Críticos - APCA Prêmio: Melhor ator de TV Série: Rabo de Saia Personagem: Quequé Data: 1984 Troféu Imprensa - APC-SP Prêmio: Melhor Ator de TV Séries: Rabo de Saia - Anarquistas Graças a Deus Personagem: Quequé e Ernesto Gattai Data: 1984 Festival de Guarujá Prêmio: Melhor ator em Sedução Filme: Sedução Personagem: Tomazino Data: 1974

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Coruja de Ouro - Prêmio Air France Prêmio: Melhor Ator Filme: Sedução Personagem: Tomazino Data: 1975 CineCeará - Festival de Cinema em Fortaleza Prêmio: Melhor Ator Filme (Curta): Brevíssimas Histórias dessa Gente de Santos Direção: André Klotzel Data: 2000 Curta Santos - Festival de Cinema Curta-Metragem de Santos / SP Ator Homenageado Data: 2003 Paulínia Festival de Cinema Ator Homenageado Troféu Menina de Ouro Data: 2006 13º Brazilien Film Festival of Miami Ator Homenageado Troféu Crystal Lens Award Data: 2007

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CAPA: Como Mederiquis, na novela Estúpido Cupido Folha de rosto: Como Hamlet, na Escola de Arte Dramática Página 4: Foto de divulgação - Arquivo Rede Gazeta Página 6: No filme A Noite do Desejo Página 8: No filme Anchieta José do Brasil Página 10: Em foto para divulgação Página 12: Na novela Estúpido Cupido Página 14: Na peça Bodas de Sangue, contracenando com Maria Della Costa Página 16: Em Memórias de um Gigolô Página 18: Em Saudade Não tem Idade, ao lado de Djenane Machado Página 20: Como Barbosa, na novela Fogo no Rabo – TV Pirata Página 22: No filme Anchieta José do Brasil Página 24: Acervo Ney Latorraca Página 26: Com o pai e a mãe, na praia, em Santos Página 28: Em Orquestra de Senhoritas Página 30: Na novela Estúpido Cupido Página 32: Em Malu Mulher Página 34: Na novela Vamp, como o vampiro Vlad Página 36: Em Quartett, ao lado de Édi Botelho Página 38: No filme A Bela Palomera Página 40: Na novela Escalada, na TV Tupi Página 42: Acervo Ney Latorraca Página 44: Em Vida Vertiginosa – foto de Alisson Prodlik Página 46: Na novela O Grito Página 48: Na novela O Tempo Não Apaga, na TV Record Página 50: Com Walter Avancini, Sônia Braga e Guta Página 52: Nos bastidores de O Mistério de Irma Vap, com Nanini e Marília Pera Página 54: Na novela Sem Lenço Sem Documento Página 56: Acervo Ney Latorraca Página 58: Em Coração Alado Página 60: No filme Sedução, contracenando com Sandra Bréa Página 62: Em Othelo, ao lado de Juca de Oliveira Página 64: No filme Das Tripas Coração Página 66: Em Anarquistas Graças a Deus Página 68: Na novela Partido Alto Página 70: Na novela Vamp Página 72: Acervo Ney Latorraca Página 74: Com Renata Sorrah em Chega Mais Página 76: No musical Saudade Não tem Idade Página 78: No musical Saudade Não tem Idade, ao lado de Djenane Machado Página 80: Em O Martelo, dirigido por Aderbal Freire Filho Página 82: Na peça Hair Página 84: Na peça A Mandrágora Página 86: Em O Estranho Caso de Mr. Morgan Página 88: Em Saudade Não tem Idade Página 90: No filme A Bela Palomera, ao lado de Cláudia Ohana Página 92: Em Vida Vertiginosa – foto de Alisson Prodlik Página 94: Com Bruna Lombardi em Memórias de um Gigolô Página 96: Em Estúpido Cupido Página 98: Em Anarquistas Graças a Deus Página 100: Em Capitanias Hereditárias Página 102: Acervo Ney Latorraca Página 104: Foto de divulgação – Arquivo Rede Gazeta Contra-capa: Em Vida Vertiginosa – foto de Alisson Prodlik

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Todas as fotos que não possuem crédito fazem parte do acervo de Ney Latorraca.

FOTOS DO CADERNO


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CADERNOS DO FESTIVAL Uma publicação do Vitória Cine-Vídeo Criação e Edição Sandra Medeiros Design e Edição Gráfica Shan / Studio S Revisão Stephania Vieira - Caio Martins Impressão Gráfica Jep

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