Subvers va!
A MULHER EM 2015:
o que ainda é necessário falar? Aborto: o que você precisa saber sobre o assunto
A ineficiência da Delegacia da Mulher
Projeto Maturidade: um ensaio para mudar a visão sobre a velhice
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Índice Bastidores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06 Luxúria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 Em pauta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 Denúncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Matéria da Capa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Baleza (fora do) Padrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 10 conto (e o dinheiro do busão) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
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Bastidores Olá! Me chamo Thamiris, tenho 26 anos e sou a principal responsável (por enquanto)
pela
revista
Subversiva!. Admito que tenho aprendido muito durante o desenvolvimento deste projeto, e ainda estou aprendendo. Sempre me senti atraída pela ideia do feminismo, pois já sofri discriminação simplesmente por conta do meu gênero... Já cheguei a desejar ter nascido homem não uma, mas diversas vezes, e o feminismo me ajudou (e ajuda) a entender o que fato de ser mulher não me torna inferior a um homem; se somos todos iguais perante a lei, porque tantas diferenças no âmbito social? O que a Subversiva! quer é justamente mostrar que nós podemos, sim. Podemos ter direitos iguais
efetivamente,
podemos
receber os mesmos sálarios pelas
onde nos comportar e nos vestir
em constante evolução, e precisa-
como quisermos, sem sermos que
mos continuar aprendendo.
nossa personalidade e cárater sejam julgados apenas apenas por isso.Queremos chamar as mulhe-
Nós, mulheres, também somos seres humanos com direito de pensar, sentir, expressar. Espero que
mesmas funções, ser promovidas
res à luta pelos nossos direitos, à
baseadas nos mesmos parâme-
resistência ao sistema ditatorial
tros pelos quais os homens são
imposto pelo regime patriarcal e
promovidos, ter mesma liberdade,
a desconstrução/reconstrução de
com dúvidas, críticas e sugestões;
nos libertar de julgamentos e pre-
conceitos e saberes diariamente,
afinal, esse espaço é para todas.
conceitos sociais, escolher como e
pois somos seres em mutação e
Sejam muito bem-vindas!
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Subversiva!
gostem do conteúdo aqui contido, e que nos enviem seu feedback
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Procura-se um amor que goste de chupar “Uma pesquisa recente afirma que de um total de 1252 homens heterossexuais, 78% recebe sexo oral frequentemente, mas quase a metade, 43% deles, não o pratica de volta. Ficou chocada?” Não precisa ligar no dia seguinte. Muito menos se oferecer para pagar a conta. Não precisa tecer elogios inéditos. Nem abrir a porta do carro. Não precisa ser do tipo que manda mensagens de “bom dia”. Não precisa ter decorado todas as regras do novo acordo ortográfico. Nem saber fazer combinações satisfatórias com suas peças de roupa. Não precisa amar Bukowsko. Nem o Chico. Ou o Caetano. Não precisa nem ter visto o meu top3 de séries indispensáveis para se viver. Não precisa preferir drama à ação. Nem gostar mais de Jameson que de Jack. Ou achar Beatls melhor que Stones. Tenho apenas uma condição. Só almejo uma peculiaridade. Minha única e mais urgente exigência é por um cara que goste de chupar. É isso mesmo que 8
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você leu: LAMBER VAGINAS. Pode pendurar aí a plaquinha de “procura-se um amor que goste de chupar pepecas”. Engana-se quem acha que esse meu pedido é singelo. Sim, homens adoram sexo oral. Mas só de receber porque, na hora de oferecer, a coisa, ou melhor, os números mudam: uma pesquisa recente afirma que de um total de 1252 homens heterossexuais, 78% recebe sexo oral frequentemente, mas quase a metade, 43% deles, não o pratica de volta. Ficou chocada? Pois ainda não terminou: dos cara que praticam, 1/3 tem nojo de fazer sexo oral na sua parceira. Ou seja, mesmo dentre os que fazem sexo oral, 35% diz que só o fazem porque têm “medo de ser considerado gay”, “medo de ser traído”, “porque tô com tesão e não penso na hora”,
“porque amo minha parceira”, “para dar prazer a ela”e “para retribuir”. E isso me leva a uma terrível indagação. Caras que não chupam: onde vivem? De que se alimentam? Por que existem? De onde vem esse nojinho? Como lidar? Acredito que essa atitude perante às nossas digníssimas vaginas só pode ter uma explicação: egoísmo ou nojinho. E sentir nojinho de buceta é misoginia. Não adianta vir me dizer que é uma questão de ~gosto ou que eu tô cagando regra porque esse é um assunto que atinge diretamente a vida sexual feminina. Há muitas mulheres que nunca tiveram um orgasmo na vida porque não conhecem o próprio corpo. E por que elas não se conhecem? Porque existem esse monte de estigmas sobre o órgão se-
Luxúria xual feminino. A vagina sempre foi demonizada, somos ensinadas desde criança que ela é algo vergonhoso, o que leva muitas mulheres a sentir repúdio e nojo de si mesmas. A indústria pornô também pesa nessa realidade porque fortalece um modelo padrão de vaginas desprovidas de um único pêlo. O cheiro, o gosto, a umidade, os pelos e a aparência da vagina são padronizados, plastificados, camuflados e adquirem a única função de satisfazer seu parceiro britadeira humana - e dificilmente ser saciada. Resolvi adotar uma decisão bêbada para o resto da vida
sóbria: NÃO CHUPADORES NÃO PASSARÃO! Quando tive esse lampejo de consciência, para provar meu compromisso com a causa, imediatamente deletei do meu whatsapp um PA que não cumpria o requisito. Até tinha cogitado continuar com o cara, mesmo com esse empecilho, afinal ele era gostosinho e mandava bem apesar dos pesares. Pensei em tratar na mesma moeda: já que voê não me chupa, também não vou te chupar. Só que eu acontece que eu realmente gosto de cair de boca no que deveria retaliar. Cheguei à conclusão de que não seria justo. Não é
legal pregar o revanchismo no sexo, porque o sexo representa justamente o avesso disso. Sexo é harmonia. É um momento em que não há separatismos, e sim comunhão de corpos. É chupar cada centímetro do corpo alheio e ser retribuído, é lamber cu, chupar buceta, levar tapa, levar dedada, dar tapa, gozar na cara, deixar ser gozado, amarrado, mosdido, sentado, dominado. É sentir prazer em provocar prazer no outro. Sem censuras, sem inibições e sem nojinhos. Não rola dar pra quem tem nojo de uma parte minha tão importante. Quem ama, chupa.
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Aborto: o que você precisa saber sobre o assunto
Foto: ne10.uol.com.br
O site Catraca Livre conversou com advogados e médicos para explicar o que é a descriminalização do aborto e suas consequências na realidade brasileira. Não importa se você é a favor ou contra: mulheres e fetos vão continuar morrendo enquanto não discutirmos o problema sem preconceitos.
Famosos participam da campanha #Precisamos falar sobre aborto, da revista TPM
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Em pauta 1. O que diz a lei? Atualmente o aborto é considerado um crime contra a vida no Brasil, de acordo com o artigo 124 do Código Penal Brasileiro. A legislação entende que embora o feto ainda não seja uma pessoa, pois não pode sobreviver de forma independente, já é um “sujeito de direitos”. A pena prevista é de um a três anos no caso de aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento e de três a dez a dez anos caso o aborto seja provocado por terceiro sem o consentimento da gestante. O aborto não é considerado crime em apenas três situações: em caso de estupro, risco de vida da mãe e anencefalia do feto.
anualmente de forma insegura, resultando na morte de 70 mil mulheres, sobretudo em países pobres e com legislações restritivas ao aborto. Existe, no YouTube, um documentário chamado “Clandestinas”, sobre mulheres que fizeram abortos ilegais. Vale a pena assistir.
O SUS tem mais de 150 mil internações por ano em decorrência de complicações de abortos inseguros. A rede pública arca financeiramente com a clandestinidade. Thomaz Gollop, ginecologista do hospotal Albert Einstein
3. Aborto é uma questão de saúde pública? Confira a opinião de duas médicas sobre o tema. Roseane Mattar é médica, professora livre docente do departamento de obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do serviço de assistência a vítimas de violência sexual “Pesquisas e experiências de outros países nos mostram que a legalização do aborto não aumenta a frequência de abortamento. Quando a paciente realmente não quer a gestação, ela acaba abortando mesmo que seja de uma forma não segura e isso pode causar risco de vida. É uma questão muito difícil, são varias esferas que se entrecruzam,
Segundo uma reportagem da Agência Pública, a cada dois dias uma mulher morre vítima de aborto inseguro no Brasil. No total, são 1 milhão de abortos clandestinos e 250 mil internações por complicações por ano. De acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 20 milhões dos abortos são realizados
Foto: Moça, você é machista
2. O aborto é quinta causa de morte materna no Brasil.
Qual é o papel dos homens na questão do aborto?
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Em pauta ele. A mulher já é culpabilizada pela sociedade, mas não precisaria ser punida pelo sistema médico. Uma coisa é descriminalizar, a outra é banalizar o aborto. Não é uma coisa corriqueira para nenhuma mulher e ela precisa ser acolhida nesse momento”, diz.
4. O que significa descriminalizar o aborto? Quem explica é a advogada Sheila Torquato Humphreys, mestre em direito internacional pela Universidade de Lisboa e sócia no Torquato Tillo Advogados Associados, onde é respon-
sável pela área de direito civil: “Descriminalizar é fazer com que algo que era criminoso e torne-se neutro. Mas a constituição não trata do aborto em si, mas de questões fundamentais como o direito à vida. O que não podemos é ter incongruências. Para que o aborto fosse descriminalizado no Brasil seria necessário rever a constituição e discutir o que é a vida e a partir de qual momento ela começa. Se essa discussão acontecer, espero que a gente possa tratar da causa do problema, que é a prevenção, e não só o aborto em si, que a consequência.”
Foto: blog.geraldogarcia.com
mas quem deveria decidir se o aborto deve ou não ser realizado é o medico em conjunto com a paciente.” Virgínia Junqueira é médica, professora da Unifesp e atua na área de saúde coletiva: “A maior parte das mulheres brasileiras não tem acesso a um bom ginecologista e a métodos contraceptivos. Muitas vezes a própria família ou a religião é contra a contracepção. Como o aborto é considerado um crime, temos um problema de saúde que muitas vezes não é contabilizado como tal. E sem saber o tamanho do problema não temos como lidar com
Garota segurando cartaz durante a Marcha das Vadias no RJ, em julho de 2011
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Foto: outraspalavras.net
Em pauta
Garota segurando cartaz durante a Marcha das Vadias no RJ, em julho de 2013
5. Qual é a diferença entre descriminalizar e legalizar? Quem responde é Camila Vanderlei Vilela, advogada pós-graduada em direito civil e sócia do escritório Jacinto Advogados: “O efeito de descriminalizar e legalizar é o mesmo. A partir do momento que algo deixa de ser crime é automaticamente legalizado. Quando a lei simplesmente silencia sobre um tema, quando não tipifica aquilo como crime, significa que é permi-
tido. No entanto, ao legalizar você define o que é permitido e regulamentado por lei. Seria determinar até quantas semanas é permitido o aborto e em quais circunstâncias ele pode ser realizado, por exemplo.” Confira a posição de Luka Franca, que atua na Frente Nacional Contra a Criminalização de Mulheres e Pela Legalização do Aborto: “O movimento feminista defende a legalização do aborto, não só a descriminalização. Entendemos que isso vai além da questão de saúde
publica, é também uma questão de direito da mulher. Não somos só um recipiente, precisamos nos perguntar se essa mulher quer ser mãe, se tem condições de ter filhos. A culpa é sempre da mulher, mas ninguém lembra dos homens que também apoiam isso, que somem da vida das meninas, que obrigam a fazer abortos. Estamos debatendo a realidade concreta da vida das mulheres, que estão morrendo por causa de abortos clandestinos.” Subversiva!
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Foto: www.joselitomuller.com
Em pauta
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A ineficiência da Delegacia da Mulher – parte I A Delegacia da Mulher tem por princípios: Assegurar tranqüilidade à população feminina vítima de violência, através das atividades de investigação, prevenção e repressão dos delitos praticados contra a mulher; Auxiliar as mulheres agredidas, seus autores e familiares a encontrarem o caminho da não violência, através de trabalho preventivo, educativo e curativo efetuado pelos setores jurídico e psicossocial. Crimes contra a mulher, segundo o Código Penal Brasileiro, entre outros. Certo? Em teoria sim. Já na prática...
Essa semana minha amiga virou estatística e foi agredida pelo companheiro. Pensei: direto pra Delegacia da Mulher, lá ela vai ter o acolhimento necessário pra essa situação tão delicada. E foi aí que comecei a descobrir que essa delegacia não é NADA do que a gente imagina. Relatarei, pois, o suplício que foi para conseguir fazer um simples boletim de ocorrência. Que dobrem a língua aqueles que dizem à mulher agredida que é “só ir à Delegacia 16
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da Mulher e fazer um B.O.”. Passamos pelo inferno, colegas, um inferno que eu não só não vou esquecer como vou fazer tudo que estiver em meu poder e além para que esse panorama mude. Este post é o primeiro de uma série em que tratarei do assunto. Começa pelo fato de que a DDM não abre nos fins de semana. Manda avisar os agressores que só pode bater em dia de semana, viu? Mas a real é que não faz diferença. Eu achava que faria, achava
que não seria como uma delegacia comum, onde sabidamente muitos policiais fazem pouco caso com abuso, culpam as vítimas de estupro, enfim, toda aquela coisa da cultura machista que já sabemos como funciona. Nada me tira da cabeça que aquele lugar foi feito para que as mulheres desistam de fazer denúncia. Havia um homem na triagem, um investigador de meia idade que olhou bem na nossa cara e perguntou: mas o que aconteceu?, ali mesmo na recep-
Denúncia! diar a conversa, e a boliviana ameaçada contou a ela que já tinha estado outra vez lá mas a escrivã tinha se recusado a fazer o B.O. pois não quis nem se esforçar pra entender. Esperamos mais de uma hora nesse primeiro dia e tivemos que ir embora, pois precisávamos buscar o filho da minha amiga na creche. Voltamos no dia seguin-
Foto: flitparalisante.wordpress.com
ção, sem nenhum acolhimento, nenhum tato, bem alto, sem nenhuma privacidade. Só de ficar ali sentada fiquei sabendo das histórias das mulheres que chegavam lá e que encolhiam cada vez que ouviam essa pergunta. Sei que o procedimento padrão de uma delegacia é esse, mas em uma DDM deveria ser diferente, a mulher não vai lá relatar roubo de celular ou furto de carro; é uma delegacia voltada exclusivamente a tratar da violência contra a mulher, não é? Deveria ser. O que eu vi acontecer lá foi uma segunda violência contra as vítimas, policiais despreparados, um descaso imenso e um tom quase de deboche quando comentavam outros casos. Havia lá um grupo de bolivianas esperando pra fazer B.O., pois uma delas estava sendo ameaçada pelo marido, que dizia que ia meter uma bala na cabeça dela e levar o filho pequeno, de um ano e meio, embora do país. O homem estava ameaçando também as tias e primas dela, todas presentes na delegacia. Ocorre que a escrivã não falava espanhol e não tinha NENHUMA paciência pra ouvir a mulher, apenas fazia “HEIN?” com cara de asco. Asco. Olhava pra o menininho, o filho, um bebê, com asco. Minha amiga, que fala espanhol, tentou interme-
Campanha instituicional da Polícia Civil. Será?
te e, ao chegar lá, senti um alívio: agora eram duas mulheres na recepção da DDM. Empatia, finalmente, pensei. Mal sabia eu que seria ainda pior do que ser atendida por um homem. A investigadora também não tinha um pingo de tato, assim como a escrivã. Minha amiga estava nervosa e fragilizada, como es-
tão todas as mulheres que procuram uma DDM. Era nossa terceira vez lá, ela estava ansiosa e a investigadora resolveu que o tom dela não era o correto para ser usado, já criando um atrito totalmente desnecessário em uma situação delicada. Essa mesma investigadora e uma outra mulher lá de dentro resolveram que era ok falar mal de bolivianos, precisamente: “boliviano é uma raça desgraçada” e outros impropérios. Até onde sei, xenofobia é crime, né não? E lá estava uma investigadora da polícia cometendo este crime. O pesadelo seguiu e minha amiga entrou para dar o depoimento. Acredito que jamais vi uma mulher ser tão maltratada por alguém que deveria ajudá-la. Eu não pude entrar com ela na sala, mas ouvi de fora; a escrivã chegou a dizer que a agressão que o sujeito cometeu não era crime. Mesmo com ela conhecendo a lei e batendo o pé, a escrivã se recusava a escrever exatamente o que minha amiga relatava, mudando os fatos e suavizando o ocorrido e ainda teve a manha de falar que as mulheres que “juntam os trapos” com um homem com histórico de agressor têm culpa pelas agressões que seguem. Ela teve que chamar a delegada Subversiva!
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Delegacia Especializada em Atendimento à mulher. Privacidade? Acho que não...
na sala para conseguir que o B.O. fosse feito direito. Eis que ocorreu uma coincidência que só me deixou mais bolada e mais puta: uma conhecida entrou na delegacia e, por sua vez, era conhecida da delegada. Ela disse: você conhece a Clara? Ela é uma das maiores blogueiras de direitos das mulheres do Brasil. E aí tudo mudou, minha gente. Foi um tal de o que você precisa, está tudo bem, foram bem atendidas? Têm alguma dúvida, precisam de alguma coisa? Quis dizer: preciso sim, Doutora Delegada: preciso que vocês parem de tratar as mulheres com descaso, que parem de fazê-las passar por uma segunda violência. Preciso que suas escrivãs conheçam a lei, que não culpem as mulheres pela violência que 18
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sofrem, que não constranjam essas mulheres fazendo-as relatar suas histórias sem nenhuma privacidade, na frente de todo mundo, e eventualmente para homens, que não deveriam sequer estar nessa delegacia pra começo de conversa. Contei sobre esse tratamento no facebook e muitas das minhas amigas tinham histórias similares à nossa. Resolvi pedir depoimentos anônimos para escrever um texto e foi como abrir a caixa de pandora do horror da ineficiência policial: é uma história pior do que a outra. Não foi uma, duas, três. Até agora tenho vinte e sete depoimentos de mulheres que foram tratadas com descaso na delegacia que deveria orientar, acolher e ajudar punir quem comete um crime. Em praticamente todos
os casos os policiais tentam dissuadir a vítima de fazer B.O., dizem que não vai dar em nada, a questionam como se a culpada fosse a vítima, redigem os boletins de ocorrência como bem entendem e chegam ao cúmulo, como foi o nosso caso, de distorcer a Lei Maria da Penha para que a mulher agredida ache que seu caso não se encaixa ali. Isso NÃO PODE ocorrer. Não pode. Não pode em lugar algum e menos ainda em um país onde a violência contra a mulher tem dados tão alarmantes que existe uma delegacia só para atender esses casos. Mas não adianta apenas existir, tem que funcionar, e o que presenciei foi apenas ineficiência e descaso para com as mulheres que deveriam estar sendo acolhidas. Não “é assim mesmo”. Não pode ser e tem que mudar.
Foto:lugardemulher.com.br
Foto: frondoniadinamica.com
Denúncia!
Em menos de meia hora, a caixa de emails da blogueira ficou assim. Lotada.
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A mulher em 2015: O que ainda é necessário falar? Fomos conversar com pessoas influentes no movimento feminista e pedimos suas opiniões sobre alguns dos tópicis importantes e que indicassem algumas obras que representassem o movimento e a questão do papel da mulher na sociedade
Não é de hoje que o debate sobre a mulher entrou em pauta. Em 1957, mulheres operárias fizeram manifestações em Nova York; em 1927 mulheres russas lutaram por melhores condições de trabalho; em 1975 a ONU instituiu o Ano Internacional da Mulher e, dois anos depois foi adotado seu dia internacional, 8 de março. A luta dessas mulheres, que mais tarde seria conhecida como feminismo, tinha um único princípio: provar que não havia diferença entre gêneros e que todos deveriam ter direitos iguais. No Brasil, por exemplo, o movimento passou a ter nome e grande relevância no século XX, quando um movimento – encabeçado por Nísia floresta – resolveu lutar pelo voto 22
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e trabalho das mulheres sem um possível consentimento por parte do marido. Ainda nessa mesma época, a primeira mulher a votar virou poema de Drummond (“Mietta Santiago, loura poeta bacharel conquista, por sentença de juiz, o direito de votar e ser votada...”) e deu início a grandes outros passos para as mulheres brasileiras que, cansadas de salários ruins, direitos inferiores aos dos homens, assédio e falta de liberdade, passaram a lutar pelos seus próprios direitos. Com o tempo, o movimento tomou ainda mais forma. Hoje, ainda, passa por uma maior divulgação, com seu nome atrelado a grandes celebridades, como a cantora Beyoncé que, em sua apresentação na premiação da
MTV americana, em 2014, o VMA - , começou seu show com um grande letreiro onde se via escrito a palavra “Feminist”, causando verdadeiro frenesi na internet. Para iniciar um debate, fomos falar com pessoas influentes no movimento que defendem a igualdade entre gêneros. Para elas, pedimos que indicassem algumas obras que explicassem e representassem o movimento feminista e a questão do papel da mulher na sociedade. Além disso, também pedimos suas opiniões sobre alguns dos tópicos que achávamos importante discutir, dentre eles: maternidade, padrão de beleza, desigualdade, sexualidade, feminismo, educação e machismo. O que será que ainda falta ser debatido em 2015? Como e
Matéria da Capa quando podemos falar sobre cada um dos temas que dizem respeito à mulher?
Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora. Além disso, ela faz parte da bancada do programa “Amor e Sexo”, comandado pela apresentadora Fernanda Lima, onde costuma debater sobre questões sexuais de homens e mulheres. Para ela, tudo que concebemos e entendemos como machismo vem de um sistema chamado patriarcal, onde – há cinca mil anos – a humanidade foi dividida em duas partes: Homem e Mulher. Com isso, não só a questão de gênero foi criada, como também a concepção que segrega os dois lados, onde um é forte, corajoso e poderoso, enquanto o outro é frágil e submisso. “As mulheres foram oprimidas nesses cinco mil anos. Elas foram convencidas de que são frágeis e que precisam de um homem ao lado para protegê-las”, explica, “e há grande diferença entre aquilo que elas foram ensinadas e aquilo que elas querem. E é um aprendizado tão forte que elas chegam na vida adulta e saem repetindo”. Por isso mesmo, as mulheres que têm força para romper essas amarras sociais
Foto: themetimeradio.com
Existe mulher machista?
Cartaz “We can do it!”, utilizado para promover o feminismo na década de 80 e amplamente utilizado nos dias de hoje.
acabam sofrendo graves consequências que partem da sociedade e, muitas vezes, de seu próprio psicológico. A partir daí, surge um bloqueio interno, e qualquer atitude acaba sendo enquadrada dentro do que entendemos por machismo. Mas será que a mulher pode ser machista? Segundo Regina, o que acontece com essas mulheres
é apenas uma repetição de um discurso que lhe foi ensinado e que, muitas vezes, torna-se parte tão intrínseca que “a mulher nem percebe que o que está reproduzindo faz parte de um discurso que lhe coloca em péssimas situações. E, para piorar”, completa, “há uma ignorância total sobre o feminismo. Muita gente acha que se trata de uma opressão Subversiva!
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Matéria da Capa We can do it! (Nós podemos fazer isso!) We Can Do It! (Nós podemos fazer isso!) foi uma propaganda de guerra dos Estados Unidos criado por J. Howard Miller em 1943 para a fábrica Westinghouse Electric Corporation como uma imagem inspiradora para levantar o moral dos trabalhadores1 . O cartaz é baseado em uma fotografia em preto e branco tirada de uma operária chamada Geraldine Doyle de uma fábrica em Michigan de apenas 19 anos2 . O cartaz foi visto pouco durante a Segunda Guerra Mundial. Foi redescoberto nos anos 1980 e amplamente reproduzida em muitas formas, muitas vezes não é chamado de “We Can Do It!” mas sim de Rosie the Riveter, que é a figura de uma forte trabalhadora de produção no período da guerra. A imagem de “We Can Do It!” foi usado para promover o feminismo2 e outros temas políticos da década de 1980. A imagem foi capa da Smithsonian em 1994 e tornou-se um selo postal dos Estados Unidos. Foi constituída em 2008, em materiais de campanha para vários políticos norte-americanos e foi reformulado por artistas em 2010 para celebrar Julia Gillard, a primeira mulher a tornar-se primeiro-ministro da Austrália. O cartaz é uma das 10 imagens mais solicitados no National Archives and Records Administration (Arquivos Nacionais e Administração de Documentos dos Estados Unidos). ao homem, o que está totalmente equivocado. Feminismo é a luta pela igualdade de direitos”. Simples assim. Ainda para a psicanalista, o que deve estar em tópico é o fim da separação de gêneros. “Eu não acredito em masculino e feminino porque acho que isso foi uma construção da atividade patriarcal para aprisionar, mas todos nós temos as mesmas necessidades. Pode variar dependendo das características de personalidade de cada um e circunstâncias em que vive, mas apenas isso”, 24
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conta, “eu, particularmente, acredito que não existe masculino e feminino porque nós todos somos fortes e fracos, ativos e passivos. Homens e mulheres têm que se libertar dos padrões de comportamento da forma que lhe foram impostos, eles têm que dar a mão para romper com a sociedade patriarcal que os aprisiona. Pode ver que a grande discussão do mundo é sobre o fim do gênero, acho que as pessoas estão entendendo como refletir sobre esses valores aprendidos para, assim, romper com
essa guerra entre sexos que foi criada há cinco mil anos.”
Direito ao próprio corpo e a questão da sexualidade Juliana Faria é jornalista e feminista. Começou sua carreira escrevendo matérias para mulheres e notou que muita coisa deixava de ser falada. Não à toa, criou o site “Think Olga”, um local onde podia falar sobre o que quisesse em relação ao universo feminino e, assim, tentar quebrar alguns estereótipos. Um tempo depois
Matéria da Capa Foi para tentar minimizar essas amarras que o feminismo apareceu, mas Juliana explica que não existe nenhum movimento perfeito e que o grande objetivo de qualquer ideal seria dar liberdade à mulher para que ela faça o que bem entender. “Você pode passar a mensagem pró-feminismo da forma que você quiser, não tem um manual de como ser feminista e eu acho
de alcance. “Ainda falta falar sobre muita coisa, como o aborto, a questão de gênero e, mais do que nunca, sobre o assédio sexual. Descobri há pouco tempo que a própria ONU só começou a falar disso em 2010, mas o assédio existe desde sempre, não é uma coisa nova, as pessoas só não falam”. E finaliza: “o assédio impede decisões básicas da mulher, e a gente tem que pôr na agenda, porque estamos muio atrasados em nossas próprias concepções.”
A desigualdade entre os gêneros no cotidiano
Foto: pinstake.com
ainda criou o “Chega de Fiu Fiu”, uma campanha contra o assédio sexual em espaços públicos que já verbaliza que “ninguém deveria ter medo de caminhar pelas ruas simplesmente por seu gênero”. “A mulher sempre foi um personagem do ambiente doméstico e ela entrou no espaço público no século vinte. A partir daí já foram criadas regras não vistas sobre o que deveria fazer para poder sair do ambiente doméstico sem se tornar um exemplo ruim aos olhos da sociedade”, conta, “a partir do momento que houve essa transição, as pessoas passaram a ver o sexo feminino como objeto público. Por isso mesmo, eu sempre falo que o problema está quando a mulher vira sujeito sexual, quando a mulher se impõe como dona de si mesma. As cantoras de pop funk, por exemplo, são taxadas de objetos sexuais só por se exporem como bem entendem”, explica. Para completar seu argumento, a jornalista ainda conta que, quando foi fazer uma pesquisa para o “Chega de Fiu Fiu”, notou que as mulheres não são donas do próprio corpo, pelo menos não popularmente. “Por medo de qualquer violência, elas deixam de usar roupas que queiram, deixam de usar transporte público à noite e param de andar sozinhas. Tudo por conta do que a sociedade impõe”.
Ninguém tem o direito de julgar uma mulher pelas roupas que ela veste.
ótimo.Acho que a gente tem que sair do debate acadêmico, tem que ser popular, falar com meninas de 11 anos a mulheres de 80”, conta, “as mulheres são muito diferentes, e às vezes o discurso precisa ser popular para não isolar as pessoas. Quanto mais gente agregar, melhor”. Mas ainda falta muito para que esse discurso tenha gran-
Carol Rossetti é designer e ilustradora. Foi ela que criou um projeto na internet que traz uma série de desenhos que retratam as situações cotidianas que mulheres enfrentem por seu gênero feminino. Tendo seu trabalho compartilhado por milhares de pessoas, a ilustradora acredita que , apesar de estar mais presente do que nunca, a desigualdade entrou de tal maneira na rotina das mulheres que, muitas vezes, passa despercebida,”acho que muitas mulheres não percebem isso no dia-a-dia, porque o sexismo ficou muito naturalizado”, conta, “quando a desigualdade entra na concepção de ‘normalidade’, é mais difícil se posicionar contra ela e Subversiva!
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Matéria da Capa des são diferentes para cada um dependendo da sua identidade”, conta, “acho eficiente a boa vontade: tanto em aprender quanto em ensinar. Não é obrigação de ninguém, por isso acredito que essa iniciativa seja um bom caminho”.
Sobre a padronização da beleza Carla Vitória faz parte da Marcha Mundial das Mulheres, uma mobilização que reúne mulheres desde 2000 em todo o Brasil para lutar por seus ideais, e ainda coopera no coletivo feminista Dandara. Bem nova, com 23 anos de idade, a militante fala um pouco sobre os padrões ditados para as mulheres pela sociedade. “O padrão de beleza surgiu há muito tempo, e ele vai se modificando com o tempo. Para entender, é só acompanhar desde as pinturas antigas até as grandes ce-
lebridades atuais, o chamado ‘gosto’ foi mudando”, conta, “mas é analisando essas mudanças que a gente também nota que esses padrões acabam sendo uma forma de colonização, de controle do que pode e do que não pode”. Não à toa, meninas enxergam como inspiração editoriais de moda com pessoas que – de tão iguais – acabam aniquilando o pensamento do diferente, fazendo mulheres tentarem alterar sua aparência física para se sentirem mais benquistas, mais respeitadas e mais bonitas. Apesar do debate sobre o assunto estar crescendo, Carla acredita que ainda estamos longe do ideal: “o incentivo a esse padronização acaba vindo de todos os lados, tanto pela mídia quanto no espaço de convivência”, explica, “no Brasil, por exemplo, que é um país de pessoas negras e morenas, em sua maioria, nós
Foto: www.brconfidencial.com
a luta acaba ganhando a conotação de chata, ou politicamente correta”. Ainda assim, Carol defende que o importante é debater e criar diálogos, “conversar, se informar, conhecer outras experiências além da pessoal, ver como outras pessoas experimentam a identidade de gênero e a sexualidade”. Talvez por isso seu projeto tenha criado um engajamento tão poderoso. Ela mesma, que conta ainda não ter lido os “clássicos livros sobre feminismo e liberdade da mulher”, defende que seu maior aprendizado veio por meio da conversa e troca de ideias, o que acaba influenciando seu próprio trabalho. Mas, ainda assim, esse debate tem que aumentar, “precisamos, ainda, falar sobre gênero, discutir a transgeneridade, evidenciar a desigualdade e o preconceito e, assim, tentar mostrar como as oportunida-
A arte de Carol Rossetti
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Matéria da Capa de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, dizendo que as questões sobre o aborto não serão debatidas. A gente precisa colocar na ordem do dia que esse discurso conservador está aumentando e, então, levantar as bandeiras pra rebatê-los”, finaliza.
Pelo direito de uma licnça maternidade mais adequada Tatiana de Mello Dias é jornalista e já trabalhou em diversos veículos como IstoÉ, Estado de S. Paulo e Galileu. Hoje em dia trabalhando no Brasil Post, resolveu, em sua primeira coluna, falar sobre o direito dos pais continuarem perto de seus filhos recém-nascidos pelo tempo adequado. Tendo acabado de voltar ao trabalho, Tatiana dividiu com os leitores os malefícios de uma licença maternidade onde, de um lado, aconselha-se a amamentação materna pelo período de seis meses e, do outro, obriga-se o retorno ao trabalho em quatro meses. “Precisamos repensar a nossa licença-maternidade˜”, diz em seu texto, “nosso atual período é uma violência contra a mulher. Só serve para forçar uma ruptura que não é natural e sobrecarrega as mulheres
Foto: bibmedufrgs.blogspot.com.br
acabamos tendo um padrão de beleza europeu onde glorificamos pessoas com a pele branca, olhos claros, cabelo liso, dentre outras coisas. Quer maneira maior de podar e colonizar as pessoas?” Para tentar melhorar a situação, ainda defende a atuação por duas frentes distintas, sendo a primeira falar e denunciar o assunto, “assumindo que isso existe e que é reproduzido e, então, construir alternativas de comunicação onde as garotas se vejam e se sintam reconhecidas”. Para a militante, esses passos devem ser tomados o quanto antes, já que “as pessoas precisam entender que as mulheres não precisam ser bonitas ou feias, precisam ser seres humanos”, defende. Quando perguntada sobre o que mais falta na agenda de debates no Brasil, ainda finaliza que, dentre várias coisas, também é necessário combater o discurso conservador que vem crescendo no Brasil. “A gente vem vivendo uma onda de avanço conservador, causando um grande saque dos direitos das mulheres, dos homossexuais e das minorias. Durante o ano passado houve diversos ataques homofóbicos, transfóbicos e racistas, mas os discursos que permitem o aumento desses fatos só vêm sendo legitimados. Vide a declaração
Campanha do Ministério da Saúde, 2011
no período mais delicado de suas vidas.” Apesar de melhor aqui no Brasil do que lá fora (nos Estados Unidos, por exemplo, a licença não é obrigatória e alguns estados sequer a fornecem), estamos longe do esperado. Segundo a jornalista, “há vários projetos que já estão em debate para que os pais sejam melhor assistidos, mas não podemos deixar isso silenciado, a questão da maternidade ainda é vista como secundária em vários movimentos, precisamos dar às crianças um bom tratamento que corresponda às questões básicas de saúde desde a primeira infância”. Os projetos que ajudam na questão são, dentre outros, a lei 11.770/08 (que amplia a licença para servidores federais), o PL3935/2008 (que quer aumentar a licença-paternidade para 15 dias); o PL 879/2011 (que, por sua vez, Subversiva!
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defende o aumento em 30 dias) e o 6.998/2013 (que propõe a licença para um mês). “Eu acho que a gente está atrasado em várias questões: na questão de violência no corpo da mulher, na questão de discriminação no ambiente de trabalho, dentre várias outras coisas. Eu vejo cada vez mais relatos de demissões pós-licença maternidade, e isso é muito mais comum do que se pensa”, conta, “o problema é que o empregador e a própria sociedade esperam que a mulher volte tão boa quanto antes, 100% antenada. Não há naturalidade em tratar sobre isso”. Para ela, deveríamos começar o debate sobre o direito da mulher logo desse tópico. “A questão da licença maternidade é uma questão bem antiga, prática e simples. Já existem projetos de lei sobre isso, só precisa de vontade política. Estamos falando de uma bandeira razoavelmente fácil de ser abraçada e, acredito mesmo que a gente pode ganhar um respaldo einda este ano se houver vontade.
A educação e o feminismo Querendo defender as próprias raízes e seu papel como sujeito, Denna Hill, Lúcia Udemezue, Nina Vieira e Thays Quadros criaram o coletivo Manifesto Crespo. 28
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Nele, por meio de debates e produções artísticas, o que se busca é o fortalecimento da memória e o reconhecimento da cultura. E é pela área educacional que as reflexões vão sendo provocadas nas mais diversas comunidades em todo o Brasil. Tendo como base o feminismo, - um movimento social que tem como princípio, justamente, a igualdade de gêneros -, o manifesto defende que a melhor maneira de todos os objetivos serem alcançados é criando um diálogo entre a educação popular e o sujeito, para que só assim exista a possibilidade de questionamento por parte de qualquer indivíduo nos princípios que são repassados desde sempre à sociedade. “A educação é imprescindível na vivência de todo ser humano”, explicam, “não englobando apenas conhecimentos teóricos, mas também ações práticas que facilitam no modo de pensar e agir do indivíduo, tanto psico quanto fisicamente”. Tomando diversas frentes de debate, o grupo defende a emancipação da mulher como sujeito e a luta para oprimir qualquer discurso que traga inferioridade, dentro ou fora do movimento feminista.
Foto: olheosmuros.com.br
Matéria da Capa
“Há coragem sempre agora”.
“Mulheres são gente. Esse é o princípio. Por isso partimos do feminismo e damos recortes como raça e classe. Mas, mesmo assim, é necessário falar sobre tudo.” Não à toa, isso é só a ponta das ações. É necessário transformar socialmente em todos os quadros. Usando a concepção pedagógica para criar sujeitos com voz, o coletivo ainda defende que o foco geral é “diminuir o preconceito e igualar os gêneros, garantindo mais respeito. Mas não podemos esquecer que ainda precisamos falar sobre o acesso à educação, a questão da mulher negra, dostranssexuais, os direitos reprodutivos tais como aborto e a humanização do parto, a mulher como matriarca familiar e tantos outros assuntos. Isso tem sido colocado em pauta e mudado bastante, mas, com essas mudanças, muitas outras lutas tornam-se necessárias”. E isso não pode e não deve acabar por aí.
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Projeto Maturidade: um ensaio para mudar a visão sobre a velhice Essas simpáticas senhoras com mais de 70 anos dão uma aula de sensualidade e provam que beleza não tem idade. (Nem tamanho, peso, cor...)
Foto: catracalivre.com.br
Renomado mundialmente por seus trabalhos fotográficos em moda, o holandês Erwin Olaf lida diariamente com top models de algumas das principais marcas do mundo. Com esse olhar para a beleza, ele decidiu fazer um ensaio, batizado de Maturidade, não para vender roupas e acessórios. Mas um novo olhar. Um olhar sobre a velhice, tentando desmistificar a ideia de que sensualidade apenas combina com juventude. Daí escolheu para o ensaio 10 mulheres com mais de 70 anos, reproduzindo famosas e já batidas imagens de símbolos sexuais. Confira, a seguir, as fotos do ensaio. 30
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Foto: catracalivre.com.br
Beleza (fora do) Padr達o
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Foto: catracalivre.com.br
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Beleza (fora do) Padr達o
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Beleza (fora do) Padr達o
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Beleza (fora do) Padr達o
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Editorial celebra a beleza da mulher curvilínea
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Foto: catracalivre.com.br Foto: catracalivre.com.br
Defendendo a sensualidade das mulheres curvilíneas, o novo editorial da fotógrafa Jamie Beck traz a modelo norte-americana plus size Jourdan Whitehead completamente nua e sem filtros. Provando que existe beleza feminina nas mais diversas formas e tamanhos, o ensaio batizado "Rediscovering the Goddess" foi publicado no site The Glamourai, acompanhado uma incrível crítica sobre a padronização da imagem da mulher: "A estética mainstream insiste que só o magro é sexy (na melhor das hipóteses, as garotas curvilíneas são relegadas para o domínio do fetiche), o que não é apenas arbitrário, mas inverídico e extremamente perigoso. Estudos mostram que a maioria das mulheres está insatisfeita com seu corpo
Foto: catracalivre.com.br
Defendendo a sensualidade das mulheres curvilíneas, o novo editorial da fotógrafa Jamie Beck traz a modelo norte-americana plus size Jourdan Whitehead completamente nua e sem filtros.
Beleza (fora do) Padrão – essa falta de satistação é tão presente que, nos Estados Unidos, estar preocupada com sua forma física e peso é considerado parte de ser mulher. Como isso é nor-
restrito de padrões que não permite nenhuma alternativa?", questionava o post.
Foto: catracalivre.com.br
em obedecer um conjunto
Foto: catracalivre.com.br
mal?Por que concordamos
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10 conto (e o dinheiro do busão) Tá afim de sair e curtir um evento cultural, mas tá sem dinheiro? A gente te ajuda! “Picasso e a Modernidade Espanhola” no CCBB
Modelo (1963). As obras da mostra fazem parte da coleção do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía. Eugenio Carmona, professor de História da Arte da Universidade de Málaga e conceituado especialista no tema, é o curador da exposição, que recebe apoio do Ministério da Cultura e patrocínio do Grupo Segurador Banco do Brasil Mapfre e do Banco do Brasil. A mostra acontecerá de quarta a segunda, das 9h às 21h. E a melhor parte: a entrada é franca.
Foto: www.cidadedesaopaulo.com.br
A tão esperada exposição internacional “Picasso e a Modernidade Espanhola” chega ao Centro Cultural Banco do Brasil, no dia 25 de março e fica em cartaz até o dia 8 de junho. A mostra, que reúne cerca de 90 obras, é organizada em oito módulos, cada um narrando uma história e trazendo uma possibilidade criativa diferente. Além de apresentar a influência do percussor do Cubismo para a arte moderna espanhola, a exposição vai tra-
zer pinturas de outros nomes importantes que dialogaram com a carreira de Picasso, como Juan Gris, Miró, Dalí, Julio González e Óscar Domínguez. Um módulo especial falará sobre como o artista concebeu a iconografia de sua conhecida obra Guernica, apresentando estudos e esboços que ajudam a entender o processo de criação da pintura, que faz referência à Guerra Civil Espanhola. Também compõem a mostra Cabeça de Mulher (1910), Busto e Paleta (1932), Retrato de Dora Maar (1939) e O Pintor e a
Obra Guernica, de Pablo Picasso
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