resenha
Valdemar Sguissardi
A Questão Político-Sindical na Universidade Brasileira de Pedro Rabelo Coelho (U --SM) Programa de Pós-Graduação em Educação/Faculdade de Educação URGS, 1992, 386 p. (Tese de Doutorado) (Orientadora: Arabela Campos Oliven) Pedro Rabelo Coelho, VicePresidente Regional da ANDES-SN (Região Sul), brinda o Movimento Docente nacional (ANDES e conjunto das AD’s) com uma consistente e instigante análise da questão político-sindical que perpassa a história da Universidade Brasileira nos últimos 15 anos. Dedicada à memória de um dos fundadores da ANDES (seu primeiro vice-presidente da Região Sul), Professor Sérgio Pires - “uma lição de vida sindical-docente” - e a “todos que, na Universidade, não separam o ‘acadêmico’ do ‘sindical”, esta volumosa tese está construída sobre pilares sólidos, materiais abundantes e técnica apurada. Talvez, em termos histórico-analíticos, se constitua no primeiro estudo de grande porte sobre a trajetória do movimento docente (MD), enquanto movimento político-sindical, no interior de uma IES (UFSM) e em âmbito nacional (ANDESSN). Preenche uma importante lacuna na análise do nascimento, vicissitudes e consolidação do MD, como tentantiva, ao lado da CUT, de busca de um novo padrão de sindicato, liberto das peias e mazelas que marcam o sindicalismo brasileiro desde 1930. Para resumir o conteúdo da tese, utilizemos as palavras do próprio autor: “A tese procura explicar o fenômeno do sindicalismo dos docentes na universidade brasileira, desde seu aparecimento na década de 1970 até o presente. A idéia central é que o movimento
sindical, historicamente explicado como reação coletiva dos trabalhadores contra as classes dominantes, ao se estabelecer dentro da universidade, reproduz aí o conflito social e contribui para romper a unidade que caracterizava a Instituição de Ensino Superior como uma entidade “superior”, aparentemente colocada acima da divisão de classes e das lutas sindicais, na verdade comprometida com a formação da elite intelectual burguesa. A universidade passa a viver dentro dela um tipo de conflito que antes era próprio das fábricas, das empresas, entre trabalhadores assalariados e patrões”. A especificidade dos conflitos e crises que o surgimento do sindicalismo na Universidade provoca assim como suas relações, por um lado, com o movimento sindical no seio das relações de produção que caracterizam o Brasil dos últimos 20 a 30 anos, e, por outro, com o Estado (MEC, PFL, etc), constituem a maior riqueza do presente estudo. O autor, militante do MD, não faz concessões a qualquer suposta neutralidade científica, impossível tanto para quem é como para quem não é ator da realidade em estudo. Constrói com bastante precisão tanto o objeto do conhecimento quanto suas hipóteses de trabalho. Adota procedimentos de discussão de hipóteses que se mostram em geral pertinentes e adequados ao objeto de estudo. Partindo de um estudo de caso - o MD na Universidade
Federal de Santa Maria - consegue estruturar e efetivar um consistente debate da história da ANDES e de suas repercuções no interior da Universidade e do (novo) movimento sindical no Brasil. A exposição dos fatos descritos, de suas análises e tentativas de interpretação, apresenta-se clara e muito bem articulada, conduzindo o leitor a sucessivos graus de compreensão da realidade. Permite acompanhar a permanente reelaboração do problema e das hipóteses explicativas e, em geral, aceitar a procedência da maioria das conclusões do autor. A simples leitura do principais títulos do sumário revela a riqueza temática desta tese e seu interesse para todos os que buscam resposta para um conjunto significativo de questões: 1. A QUESTÃO POLITICO-SINDICAL NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA: 1.1. O movimento docente em Santa Maria (a “nova universidade” dos anos 60; a fundação da APUSM e seu alinhamento à política educacional do período pós-64; a APUSM assume caráter sindical); 1.2. A consolidação do MD pela luta político-sindical - 1980-1984 (1980: A greve que marcou o MD como movimento sindical; a criação da ANDES; 1982: agravamento do conflito MD-Governo; 1984: radicalização e confronto); 1.3. 1985-1988: crise e ruptura do MD na UFSM e transformação da ANDES em Sindicato Nacional (democratização da UFSM e conflito interno do MD;
Ano II Nº 4 Dezembro 1992 119