universidade
Racionalização e Democracia na Adminstração das Universidaes Públicas Gustavo Luis Gutierrez
A
s universidades públicas, como todos sabem, vivem mais uma séria crise financeira. No caso das universidades estaduais paulistas, soma-se a passagem para uma forma de administração adequada à autonomia de gestão financeira, obtida através do recebimento de um percentual anual da arrecadação do ICMS, negociado com o poder legislativo. Este conjunto de fatores trouxe à tona, mais uma vez, a discussão referente à necessidade de modernizar a administração universitária, objetivando a racionalização dos processos e obtenção de uma maior eficiência. Paralelo a isto, as universidades públicas têm sido palco de algumas medidas emergenciais que procuram ajustar as despesas a um orçamento restrito, cujas conseqüências não tem sido poucas, apesar do caráter imediatista. A atualidade deste processo e a natureza das medidas tomadas, somados aos papéis, nem sempre muito claros, que os diversos agentes desempenham, tornam difícil escrever uma análise pouco especulativa. Por outro lado, estes mesmos fatores vêm reforçar a necessidade de implementar a discussão. Partindo deste raciocínio, o
texto a seguir visa destacar a especificidade das universidades, enquanto organizações, e enumerar algumas de suas características básicas, assim como do processo de ajuste financeiro em que vivem atualmente; e observa, fundamentado nesta análise, a necessidade de uma mudança qualitativa na forma de participação do coletivo no processo de trabalho e na própria administração das universidades.
universidade e sociedade A definição do que é uma universidade, a exemplo dos demais objetos de investigação em ciências humanas, é uma tarefa difícil para a qual os melhores esforços não garantem um resultado útil ou pouco controverso. Não se trata aqui, portanto, de tentar trilhar este caminho, mas apenas definir algumas de suas características importantes, como base para uma avaliação da universidade atual, enquanto organização, e dos principais agentes envolvidos. A origem das universidades atuais data do século XII e a tradição construída coletivamente, desde essa época, talvez esteja mais presente do que se imagina. É curioso encontrar descrições antigas
onde o professor aparece lendo um texto, previamente combinado com os alunos, entrecortado de comentários e discussões a respeito. Da mesma forma, quando algum político ocupa os meios de comunicação de massa para protestar contra aparentes privilégios dos universitários, sejam docentes, funcionários ou alunos, está sendo menos original do que pensa.Referências a conflitos desta natureza, destacando as especificidades de cada época e lugar, aparecem já no século XIII Foge às condições e objetivos deste artigo tentar delinear o que se preserva e o que se transforma nestes oito séculos. Basta termos em mente que as universidades contemporâneas possuem mais história do que pode parecer numa avaliação rápida. Um dos grandes privilégios das universidades, senão o maior, paradoxalmente muito pouco comentado, consiste no fato dela ser permanentemente frequentada por gerações sucessivas de jovens, com uma visão original e pouco conformista da realidade. Isto funciona como elemento de renovação e mobilização política, como se viu em diversos momentos da história recente. Por outro lado, a importância das
Ano II Nº 4 Dezembro 1992 43