universidade
A Educação, Agora Aloylson Pinto
O
primeiro dia de um período letivo: a ocasião de uma perplexidade a cada vez renovada. O momento do encontro de pessoas que a sorte reúne, em que pese sua pertinência a um subsistema de ensino do sistema mais amplo da cultura, com o propósito comum de realizar um processo educativo, necessariamente inter-subjetivo. Intenção e sorte mesclamse em paradoxo tal que todos os componentes de uma turma, o professor incluído, pretendem algum desenvolvimento pessoal da atividade didática, mas ali estão por desígnios disparatados, em boa parte independentes de preferência, tecidos por uma combinação de contingências de toda ordem e de escolhas próprias que fazem daquele agrupamento uma convergência deliberada de acasos. É assim que professores e alunos chegam àquele encontro de desconhecidos, de antemão esperando aproveitar dele enquanto dure o seu convívio e para além, nos afazeres cotidianos. Entretanto,
as categorias funcionais que os designam como uma dualidade velam a perturbadora polivalência do ajuntamento de individualidades. Nenhum daqueles rostos revela ainda, no momento inaugural do semestre letivo, a expressão de sua própria história de vida, de suas atuais circunstâncias e da conjugação de ambas na geração de projetos pessoais. Todavia, cada um deles é uma peculiaridade de tempo que, por sua vez, se espraia na latitude das diferenças individuais, de si e por sua vitalidade, inconformáveis aos esforços classificatórios. Diferenças de inteligência, ritmo, temperamento, caráter, senso estético, motivos, estilo, autonomia de conduta são destaques referenciais que, longe de exaurir, apenas categorizam modos pelos quais a personalidade se manifesta original. Originalidade essa que se confronta na turma e vai amalgamar uma fisionomia social peculiar, na tessitura das interações ao longo do curso. Ninguém é igual. Nenhuma classe repete-se jamais.
Numa sociedade como a brasileira, cindida por condições sociais de extrema disparidade, a posição social do professor, sua classe de origem e postura política ora facilitam, ora dificultam a aproximação dos segmentos que se eboçam na turma, como reflexo das tensões entre camadas da população que coexistem na cultura mas convivem pouco e distanciamse nos modos de ser e de dispor da riqueza socialmente produzida. Quanto mais se democratize o acesso à universidade, tanto mais presentes e significativas tornam-se as distinções de classe e ideologia na composição das turmas.
horizontes de tempo Em geral, o tempo do professor contém alguma defasagem do tempo em que vivem os seus alunos. Estes, por exemplo, anseiam pela experiência profissional que ainda não têm, enquanto o primeiro já se dispõe a refletir sobre sua experiência precedente. Por tudo isso, o professor há
Ano II Nº 4 Dezembro 1992 47