Revista Universidade & Sociedade n. 4

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ciência e tecnologia

Tecnologia e Desenvolvimento Sustentável Henrique Rattner Introdução Enquanto a ciência e a tecnologia vêm transformando, radical e inegavelmente, a vida nas sociedades contemporâneas, os impactos ambientais decorrentes dessas transformações não podem mais ser analisados de maneira isolada dos contextos sócioeconômicos, políticos e culturais em que essas mudanças se inserem. As dimensões econômicas não podem mais ser tratadas como fatores isolados das variáveis sócio-culturais e políticas, sem sua inserção dentro de uma abordagem sistêmica que leve em conta as interações recíprocas entre esses diversos fenômenos. Tradições, crenças e valores culturais exercem fortes influências sobre o comportamento econômico, com profundas implicações tanto sobre as políticas gerais, como sobre as específicas. Dessa forma, transformações tecnológicas podem ser definidas como um processo social dentro de uma complexa relação de causa e efeito com as mudanças culturais. Por isso mesmo, é que nenhuma fórmula determinística pode ser aplicada num exercício de prospecção tecnológica, já que as escolhas neste campo dependem das necessidades, dos interesses e das relações de poder entre

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os diversos atores sociais que participam do processo de geração de bens e de produtos. Enquanto as transformações tecnológicas influenciam a mentalidade e o comportamento dos atores sociais, as atitudes, crenças e valores destes deveriam ser considerados como condições essenciais a serem analisadas quando da introdução de inovações tecnológicas, bem como para se prever os possíveis impactos decorrentes de sua aceitação. Se os grupos sociais que compõem uma dada sociedade não estiverem preparados para aceitar e/ou assimilar os impactos e as conseqüências dessas transformações, então, estas não serão bem sucedidas ao gerarem seus resultados, seja em termos de um aumento na eficiência produtiva, seja na consecução de um desenvolvimento que venha a ser efetivamente sustentável. Por outro lado, devido à resistência - interesses e valores opostos dos diferentes atores sociais engajados nesses processos de desenvolvimento -, a incorporação e a aceitação de mudanças técnicas e culturais geram tensões e conflitos. Nesse sentido, contrariamente às atuais teses reducionistas, parece ser necessário enfatizar a interdependência entre as variáveis econômicas, tecnológicas,

culturais, políticas, ambientais e éticas dentro de um processo de desenvolvimento que seja sustentável. Ademais, a introdução e a aplicação de tecnologias ambientalmente sadias não podem ser concebidas apenas como um problema técnico ou operacional a ser solucionado via prescrições teóricas e práticas idealizadas para o planejamento e a alocação de recursos escassos, em condições também ideais. O desenvolvimento sustentável requer, além de “tecnologias sadias”, padrões diferentes de relacionamento social, organizações comunitárias coesas, solidárias e baseadas em fortes motivações e valores e interesses comuns, que levem cada comunidade a participar de forma ativa na construção de seus próprios caminhos. Entretanto, à medida que nos aproximamos do final deste século, a humanidade adentra uma nova era, caracterizada pela crise e por novas oportunidades. Embora as tensões tenham diminuído com a redução do conflito ideológico entre o Leste e o Oeste, novas áreas de confronto vêm à tona relacionadas com o acesso e a conservação dos recursos naturais e os do meio ambiente. Contradições crescentes entre o crescimento econômico e a manutenção dos ecossistemas que sustentam esse


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