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O Leste Europeu e a Construção do Socialismo Francisco Miraglia
A
análise histórica e política do colapso da estrutura de poder no Leste Europeu é passo importante para todos aqueles que acreditam, como o autor, que a luta pela construção do socialismo passa por mais uma fase de aperfeiçoamento. É claro que se poderia dizer que a URSS não era comunista. Este simplismo não daria conta da complexidade da situação histórica e política. Os imensos erros de conduta política do PC russo - a falta de democracia social, a burocracia, a destruição de toda organização sindical autônoma, o proselitismo no lugar da educação política e o descolamento de toda hierarquia institucional de poder das raízes populares e operárias - são marcas de uma condução que de modo algum pode ser considerada
comunista. Em particular, a autonomia das repúblicas socialistas soviéticas, estabelecida na Constituição da URSS, jamais foi respeitada, procedendo-se, principalmente após Stalin, a uma russianização constante de todas. As diferenças sociais, étnicas, culturais e de modo histórico de produção foram atropeladas. Explodem hoje qual represa mal construída. O papel histórico de Gorbatchev e assessores fica a esclarecer. Mas, as reformas propostas por esta parcela da elite dirigente eram, no quadro de conjuntura social, política e econômica da URSS, inexeqüíveis. Registrese o comentário do presidente do Banco Europeu de Ajuda ao Leste depois da visita de Budapest: “O Capitalismo levou sete séculos para ficar estável no Ocidente. Não
vai dar para ser estabelecido por aqui em seis meses”. Pacotes, como estamos cansados de saber, nunca resolvem coisa alguma no interesse da maioria da população. Foram apenas mais um componente na destruição de uma estrutura política já falida e minada. A semelhança entre a estrutura de poder do PC e da Igreja Católica é intrigante : gerontocracias autoritárias, com as bases e mesmo as parcelas intermediárias destas organizações excluídas da discussão acerca de programas e políticas. O que aliás faz lembrar também a idéia de Universidade de alguns. Em todo caso, “economia de mercado” não é a solução para coisa alguma. Pergunte-se aos bilhões que se esvaem em miséria, fome e doença sob a influência do
Ano II Nº 4 Dezembro 1992 91