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Jornal Extra Classe, ano 19, número 187 | Especial doação de órgãos e tecidos | setembro de 2014

E o relógio voltou a funcionar! ria de alegria pela chance renovada de vida, ou chorava de emoção pela dor da família que fez a doação. “Descobri que meu coração veio de um rapaz de 19 anos que teve morte encefálica após levar um tiro na cabeça quando saía de uma boate, por causa de uma briga no outro lado da rua”, conta. Dois anos depois do transplante, Barros diz Erni Barros ganhou um novo coração em 2012 que sua meta agora é “viver bastante”. Faz a biópsia de controle a cada três ou que as pessoas falem com suas famílias e se manifescinco meses, controla a alimentação, e, de resto, cui- tem a favor da doação de órgãos. da do jardim, capina, corta grama, anda de bicicleta e Ao final desta entrevista, Barros aponta para o brinca com o enteado. Não teve depressão pós-ope- relógio pendurado em cima da porta principal de enratória como é comum, diz Barros, porque não se trada e saída do Instituto de Cardiologia e sorri: “No permite ficar parado “pensando em bobagem”. Vive dia em que entrei aqui, antes da primeira entrevista em torno da família, e seu trabalho agora é ajudar (e do transplante), olhei para cima e pensei... tá paraos que estão na fila esperando por um transplante, do. Outro dia, reparei que havia voltado a funcionar. para não deixá-los desanimar. Em Rio Pardo, segue Sempre que chego aqui, penso: agora está funcionandistribuindo adesivos e conselhos na campanha para do, como eu. Tomara que nunca mais pare”.

Foto: Igor Sperotto

À

s 6 horas do dia 1º de agosto de 2012, pouco depois de ter dado uma entrevista para o 1º caderno da Campanha Cultura Doadora do Jornal Extra Classe, o motorista aposentado Erni Sebastião Paiva Barros, então com 50 anos, entrou no bloco cirúrgico do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul para receber um transplante de coração. Às 9h54, seu novo coração começou a bater. A precisão do relógio é confirmada pelo médico. Desde que se descobriu com problemas cardíacos, cada segundo em sua vida é precioso. Dois infartos, uma ponte mamária, duas safenas, 14 cateterismos, uma angioplastia, uma tentativa de tratamento com células-tronco e um marca-passo com desfibrilador, anteriores ao transplante, não haviam sido suficientes para evitar que a bomba-relógio dentro do peito de Barros ameaçasse explodir a qualquer momento, como aconteceu com seus pais, um filho e um irmão que morreram com problemas cardíacos. Ainda assim, ele relutava em entrar na fila para transplantes. Foi convencido pela vontade de ver nascer o neto e acompanhar a educação do enteado que tem o nome de seu filho. Tudo isso agora é passado. Ao despertar da cirurgia, já com o coração novo, Barros não sabia se

Foto: Igor Sperotto

Atenção permanente e agilidade zada e setorizada. Ela está preocupada com a equipe médica, que atualmente está em número reduzido. Há dez vagas, mas hoje são apenas oito que se revezam em plantões de 24 horas por dia, sete dias por semana. “Hoje é difícil fechar uma escala da magnitude que temos”, diz. O restante é considerado suficiente: quatro enferCentral de Transplantes do Rio Grande do Sul segue a lógica de rede do sistema nacional meiros, um dentista, O processo de transplante requer atenção per- um psicólogo, dois assistentes sociais, um assessor manente e coordenação ágil. Em função disso, a Cen- técnico, 13 estagiários de Medicina (foram abertas vatral de Transplantes do Rio Grande do Sul, que inte- gas em processo seletivo específico), dois auxiliares gra o Complexo Regulador do Estado, funciona 24 administrativos e dois auxiliares de regulação. Os médicos coordenam e assessoram todos os horas por dia, nos sete dias da semana. A médica Rosana Nothen, que coordena a Central, informa que, processos e avaliam as condições das instituições e atualmente, a dinâmica de trabalho está bem organi- equipes. Eles atuam na orientação, revisão, vistoria

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e fiscalização. As assistentes sociais são responsáveis pelo controle das listas de espera e relacionamento com profissionais e pacientes. A psicóloga gerencia as revisões das doações efetivadas, com posterior contato com as famílias doadoras para avaliação do processo. Também coordena os estágios oferecidos pela Central para a qualificação de estudantes de Medicina e outros cursos. A assessora administrativa organiza os cursos de formação para profissionais ligados ao transplante no RS e gerencia toda parte administrativa demandada pelo processo doação/transplante. Rosana informa que, atualmente, os serviços de transplantes estão dentro da lógica de rede, que parte do Sistema Nacional de Transplantes. Porto Alegre e Passo Fundo são referência para fígado e a capital é a única que transplanta coração e pulmão. E rins, além da capital, podem ser transplantados em Pelotas, Santa Maria, Passo Fundo, Caxias do Sul e Lajeado. “Não temos transplante de intestino e nem a intenção de fazer, pelo menos tão cedo. A procura é considerada baixa e São Paulo dá conta da demanda. Talvez seja este um bom exemplo de trabalho em rede”. A médica comemora que, hoje, a lista de espera por córneas está zerada no estado.


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