Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado de São Paulo
EM REVISTA
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DEZEMBRO 2010 - 10ª edição - ANO IV - QUADRIMESTRAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA
O Brasil pós-Lula
Linha Direta em Revista analisa o cenário político dos partidos após as eleições. E agora quem terá mais peso nesta balança?
ENTREVISTA Luiz Salomão, Secretário Executivo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, fala sobre o Plano Brasil 2022.
Novo site do Sintetel já está no ar!
Em julho começou a funcionar o novo site do Sintetel. Mais leve e voltado ao layout, a “casa digital” do trabalhador pretende deixar a navegação intuitiva e fácil. Destaque para a TV Sintetel, que desde o ano passado é uma das principais ferramentas de trabalho do Departamento de Comunicação da entidade. Agora o trabalhador da categoria também pode fazer um pré-cadastro de sindicalização online. Basta preencher os dados solicitados e, em poucos dias, o departamento responsável fará contato para concluir a filiação. Também foi criado um novo espaço para artigos, banners e a área Sala de Imprensa, para contato direto com os veículos de comunicação, voltou a ser disponibilizada na homepage. Mudanças de aperfeiçoamento ainda serão feitas nos próximos meses, mas você já pode conferir o resultado parcial do processo. Para sugestões e críticas, mande um email para sintetel.imprensa@gmail.com
Acesse: www.sintetel.org
ÍNDICE
EM REVISTA
Entrevista -
“O Brasil está entrando em uma nova fase” .....
5
5
Secretário-executivo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República fala sobre o Plano Brasil 2022.
Legislação - Um tapinha não dói?......................................... 10 Governo interfere na educação familiar e condena o uso da palmadinha educativa. População desaprova a nova lei. Quem está com a razão?
10
Saúde - De hipocondríaco e louco todo mundo tem um pouco! .. 16 Automedicação e projeção exagerada de doenças podem ser sintomas de patologia.
Capa - A voz das urnas .............................................................. 20 Maioria dos brasileiros optou por não mudar a condução dos governos.
16
Tecnologia - Celulares inteligentes ...................................... 24 A cada dia os telefones celulares aumentam a sua funcionalidade. Agora os smartphones são a bola da vez.
Economia - A economia pós-crise ........................................ 26
24
Especialistas falam sobre os resquícios da turbulência financeira.
Artigos
Editorias 4 Editorial
28 Notícias
9 O papel da imprensa sindical - Coluna da imprensa
12 Mulher
30 Cultura
32 Dodecálogo - João Guilherme Vargas Netto
18 Aposentados
33 Passatempo
34 Quando setembro chegar - Artigo do Leitor LINHA DIRETA em revista 3
Editorial
Garantir as conquistas Passadas as eleições, nós da classe trabalhadora temos que lutar para garantir as conquistas e consolidar os avanços conseguidos nos últimos oito anos. Como escreveu nosso assessor sindical, João Guilherme Vargas Netto, o movimento sindical brasileiro, representado pelas Centrais Sindicais agindo de maneira unitária, teve grande papel no encaminhamento e na solução de problemas dos trabalhadores, da Almir Munhoz * sociedade e da economia. Durante os oito anos da gestão do presidente Lula – em particular durante o segundo mandato – a parceria estratégica entre as Centrais unidas e o presidente produziu resultados muito positivos: a política de valorização do salário mínimo, o veto à Emenda 3, o reconhecimento das Centrais e sua legalização, entre outros. No que se refere à nossa categoria de trabalhadores em telecomunicações, o Sintetel continuará firme na luta para manter e avançar nas conquistas durante as negociações de novos acordos e convenções coletivas. Independente dos candidatos eleitos, as centrais e os sindicatos terão que manter o foco e a determinação nas questões cruciais que permeiam a classe trabalhadora e os aposentados. Bandeiras de luta como o fim do fator previdenciário, a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e a proibição da terceirização da atividade-fim no setor de telecomunicações devem ser levadas como prioridade por todos nós. * Almir Munhoz é presidente do Sintetel.
DIRETORIA DO SINTETEL Presidente: Almir Munhoz Vice-Presidente: Gilberto Rodrigues Dourado Diretoria Executiva: Cristiane do Nascimento, Fábio Oliveira da Silva, José Carlos Guicho, Joseval Barbosa da Silva e Marcos Milanez Rodrigues. Diretores Secretários: Alcides Marin Salles, Ana Maria da Silva, Aurea Meire Barrence, Germar Pereira da Silva, José Clarismunde de Oliveira Aguiar, Kátia Silvana Vasconcelos de Barros, Maria Edna Medeiros e Welton José de Araújo. Diretores Regionais: Elísio Rodrigues de Sousa, Eudes José Marques, Jorge Luiz Xavier, José Roberto da Silva, Ismar José Antonio, Genivaldo Aparecido Barrichello e Mauro Cava de Britto. Jurídico: Humberto Viviani juridico@sintetel.org.br OSLT: Paulo Rodrigues oslt@sintetel.org.br Recursos Humanos: Sergio Roberto rh@sintetel.org.br COORDENAÇÃO EDITORIAL Diretor Responsável: Almir Munhoz Jornalista Responsável: Marco Tirelli MTb 23.187 Revisão Geral: Amanda Santoro MTb 53.062 Redação: Amanda Santoro, Emilio Franco Jr., Marco Tirelli e Renata Sueiro Diagramação: Agência Uni (www.agenciauni.com) Fotos: Dario de Freitas Colaboradores: João Guilherme Vargas Netto, Paulo Rodrigues e Theodora Venckus Impressão: Gráfica Unisind Ltda. (www.unisind.com.br) Distribuição: Sintetel
Cartas “Trabalhei na CTB e Telesp durante 35 anos. Fico feliz de ler notícias do Sintetel.Tenho muita admiração pelo Sindicato e sempre fui associada”. Luiza Helena Neto Esteves, Campinas. “Quero só agradecer o carinho com que nossa revista Linha Direta tem nos trazido grandes informações”. Izanete Aparecida Alvarenga, Pindamonhangaba.
Você pode enviar as suas sugestões, opiniões e comentários para a redação de Linha Direta em Revista. Basta encaminhar um e-mail para sintetel.imprensa@gmail.com, ligar para (11) 3351-8892 ou mandar uma carta para o seguinte endereço: Rua Bento Freitas, 64 – Vila Buarque CEP: 01220-000 - São Paulo- SP A/C do Depto. de Comunicação
Erramos
Em nossa 9ª edição (julho/2010) o nome correto da diretora de base é JULIANA PAULA DOS SANTOS REIS. Foi grafado de forma incorreta na pág. 23. 4 LINHA DIRETA em revista
Tiragem: 15.000 exemplares Periodicidade: Quadrimestral Linha Direta em Revista é uma publicação do Sindicado dos Trabalhadores em Telecomunicações no Estado de São Paulo | Rua Bento Freitas, 64 Vila Buarque | 01220-000 | São Paulo SP | 11 3351-8899 www.sintetel.org | sintetel@sintetel.org.br SUBSEDES ABC: (11) 4123-8975 sintetel_abc@uol.com.br Bauru: (14) 3231-1616 sintetel_bru@uol.com.br Campinas: (19) 3236-1080 subtel.cas@terra.com.br R.Preto: (16) 3610-3015 subribeirao@sintetel.org.br Santos: (13) 3225-2422 subsede.santos@terra.com.br S.J.Rio Preto: (17) 3232-5560 sindicato.sp@terra.com.br V. Paraíba: (12) 3939-1620 sintetel_sjc@uol.com.br O Sintetel é filiado à Fenattel (Federação Nacional dos Trabalhadores em Telecomunicações), à UNI (Rede Sindical Internacional) e à Força Sindical. Os artigos publicados nesta revista expressam exclusivamente a opinião de seus autores.
ENTREVISTA
“O Brasil está entrando em uma nova fase”
Da redação
Secretário-executivo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República fala sobre o Plano Brasil 2022 O engenheiro e ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro Luiz
o pessoal dessas áreas a repensá-las. Hoje, um setor crucial
Alfredo Salomão ocupa atualmente o cargo de secretário-
como o de energia já está trabalhando com um patamar mais
executivo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidên-
elevado de crescimento da demanda nos próximos 20 anos e
cia da República e é um dos responsáveis pelo Plano Brasil
isso já está influenciando decisões que vão sendo tomadas no
2022, que traça metas de desenvolvimento para o País nos
curto prazo, mas que produzem efeitos no longo prazo. Além
próximos doze anos.
disso, um plano não reinventa o País. Ele se alimenta de muitas
Na entrevista concedida por e-mail, Luiz Salmão detalhou aspectos do projeto e explicou o modelo de desenvolvimento que o Brasil deve adotar para alcançar as metas estabelecidas, independente de qual partido esteja no comando.
ações que já estão acontecendo agora, sinaliza necessidades de acelerá-las, de diversificá-las e assim por diante. LDR: Como acontecerá a aplicabilidade deste plano de diretrizes no próximo Governo?
Linha Direta em Revista: Em linhas gerais, em que consiste o Plano Brasil 2022? Luiz Salomão: É o desenho do Brasil que queremos ser ao completar 200 anos da nossa independência, com a identificação de obstáculos a superar para sermos um País mais justo, no qual os brasileiros tenham mais condições econômicas, sociais e culturais. LDR: Quando o projeto começou a ser desenvolvido e quando ele será colocado em prática? LS: O Plano 2022 é uma encomenda do Presidente Lula. Planos dessa natureza, com este grau de ambição, são colocados em prática desde o momento em que começam a ser formulados. Por exemplo, no processo de elaboração de metas para alguns setores, nós identificamos que as metas setoriais de algumas áreas estavam aquém do desejável e do necessário. Então, ajudamos LINHA DIRETA em revista 5
ENTREVISTA LS: Não se trata de um plano “partidário”
LDR: O Plano proposto envolve mu-
e sim de um esforço de diagnosticar a
danças econômicas, sociais e cul-
situação do País, suas vulnerabilidades atuais, e de selecionar meios para superálas. Estamos trabalhando com metas bastante consensuais, como acelerar a elevação da qualidade do ensino, reduzir drasticamente as desigualdades entre os brasileiros, independente de sua cor, sexo ou região de nascimento, melhorar a matriz energética, limitar a emissão de
“O Estado brasileiro já aprendeu a ser fiscalmente responsável.”
dar o meio ambiente. LDR: Este Plano ainda passará pela análise de algum outro órgão do Governo? LS: Todas as partes do Plano que são publicadas já passaram pela análise e aprovação dos respectivos ministérios e secretarias, que, aliás, participaram de sua elaboração desde os primeiros momentos. Em seguida, passará pela análise do presidente. LDR: Quais são as principais diferenças entre o atual projeto de desenvolvimento para o Brasil e o proposto pela Secretaria de Assuntos Estraté-
metas que envolvem alterações estruturais em um prazo tão pequeno? LS: Doze anos é muito tempo, ao contrário do que pode parecer à primeira vista. Em 2008, o Brasil, pela primeira vez em sua história, tornou-se um País credor do sistema financeiro internacional. Se você pudesse viajar no tempo e
gases do efeito estufa e instrumentalizar o desenvolvimento econômico sem pre-
turais. Como é possível alcançar essas
so futuro e para pôr em prática as ações capazes de nos conduzir ao futuro que almejamos. LDR: Porque o Sr. considera necessário um novo modelo de desenvolvimento nacional? LS: O Brasil está entrando em uma nova fase. Já resolvemos a inflação, que durante décadas gerou pobreza e concentração de renda. Já resolvemos o problema da dívida externa. Já consolidamos o endividamento interno, não há mais “esqueletos no armário”. O Estado brasileiro já aprendeu a ser fiscalmente responsável. Então, o tipo de política econômica que foi capaz de produzir esses resultados
voltasse a 1996, não ouviria de ninguém que esta conquista seria possível nos 12 anos seguintes. De janeiro de 2003 para cá, a inflação acumulada em 90 meses é da ordem de 46% a 58%, dependendo do índice. Se você pudesse voltar a janeiro de 1991, à época do fracasso do Plano Collor e depois de tantos outros planos fracassados na tentativa de domar a inflação, e dissesse que dali a 12 anos o Brasil começaria um longo período virtuoso de inflação mensal da ordem de 0,5%, quem acreditaria? Então, 12 anos são suficientes para a produção de mudanças substanciais. LDR: O País tem condições de sustentar um crescimento de 7% ao ano, com redução da taxa de juros, sem
gicos da Presidência?
extremamente positivos é uma política
LS: As diferenças decorrem do grau de
evidentes de esgotamento. Estamos cres-
consciência que nós, brasileiros, estamos
cendo menos do que precisamos e po-
adquirindo do nosso papel no mundo e
demos. Estamos combatendo as desigual-
das nossas vulnerabilidades internas e
dades em velocidade mais baixa do que
modernas e estamos avançando nessa
externas. Já fomos, não faz muito tem-
queremos e podemos. Devido aos juros
modernização. É uma questão de sair-
po, muito mais dependentes de impor-
elevados, a rolagem da dívida pública,
mos do rentismo e partirmos para o
tações do que somos hoje. Então, havia
embora equacionada, custa muito caro. É
produtivismo, com respeito ao meio
constrangimentos de toda ordem. Agora
por isso que não se consegue ampliar os
ambiente e com base na distribuição
somos uma democracia consolidada, no
programas de interesse social. Com isso,
dos frutos do avanço econômico. É dis-
plano das finanças somos credores in-
deixamos de ampliar o mercado interno,
tribuindo que se cresce. A mudança na
ternacionais, avançamos no combate à
o que se reflete em níveis de produção e
política econômica, de modo a reduzir
fome e à pobreza. O fato é que temos
de emprego abaixo do necessário para o
substancialmente os juros básicos, é o
bem mais autonomia para planejar nos-
País, e assim por diante.
passo fundamental.
6 LINHA DIRETA em revista
que concluiu sua missão e já dá sinais
perder outras conquistas, como é o caso do controle da inflação? LS: Tem todas as condições. Somos um País dotado de regras econômicas
ENTREVISTA LDR: Sem tal expansão anual, será possível cumprir o Plano? Não seria a aplicação do Plano que sustentaria esse percentual? LS: Sim, é possível. Quando as condições mudam, as pessoas imediatamente se adaptam e passam a agir e reagir em sintonia com as novas condições. Em termos econômicos, o Brasil era um País amarrado pela dívida externa, pela inflação e pelos juros altos. Já nos livra-
“A medida que o plano vai produzindo seus primeiros resultados, ele se realimenta continuamente.”
mos dos dois primeiros, só falta nos
básico. Nesse campo, é da quantidade
libertarmos da usura. Com essa liberta-
que nasce a qualidade. E desenvolver
ção, em pouco tempo nos libertaremos
políticas específicas para o esporte de
da miséria e da pobreza. E você tem
competição. São duas linhas de ação
razão: à medida que o Plano vai produ-
complementares, que se alimentam uma
zindo seus primeiros resultados, ele se
à outra. O ministro Orlando Silva [dos
realimenta continuamente.
esportes] tem extraordinária percepção desse processo.
LDR:
Como
a
organização
potencial de produção de energia é suficiente para sustentar a expansão prevista pelo Plano? LS: Sim. Temos grandes possibilidades ainda inexploradas. E isso nos vários tipos de energia. Fala-se muito no petróleo do pré-sal, que de fato vai colocar o Brasil entre os maiores produtores do mundo. Mas também temos um enorme potencial hidrelétrico. Só na Amazônia, e já descartando liminarmente projetos ambientalmente delicados, nosso potencial equivale a 60% de toda a capacidade hoje instalada. Já temos uma das seis maiores reservas naturais de urânio do mundo, sem ter pesquisado ainda a maior parte do território nacional. E dominamos todo o ciclo de produção do combustível termonuclear e a tecnologia de projeto e construção de usinas eletro-
de
grandes eventos esportivos, como
LDR: Existem recursos para tantos
a Copa do Mundo e as Olimpíadas,
investimentos simultâneos? O di-
pode ajudar nesse processo?
nheiro é exclusivamente público ou conta com a iniciativa privada?
LS: Ajuda a melhorar nossa capacidade de organização. Obriga a planejar melhor.
LS: Capital não é algo que se encontra
Estabelece metas claras e impõe prazos
parado em algum lugar e que, com um
rígidos. Isso é bom e já está acontecendo
projeto na mão, você vai buscar.
desde agora, à medida que as providên-
Capital é processo. Capital gera
cias vão sendo implementadas. Isso nos
capital. A disposição de re-
enriquece culturalmente em muitos as-
alizar e o realismo na avaliação
pectos. Nos torna mais aptos. O êxito
das condições de realização do
que vamos colher na organização desses
que se planeja atraem verbas,
torneios vai aumentar nossa autocon-
galvanizam a disposição dos
fiança e faz pensar grande. Além disso,
detentores de capital para in-
sem ser o mais importante, vai aumentar
vestir. Disparado o processo,
os fluxos turísticos para o Brasil.
ele se realimenta, cresce. O
nucleares. Ainda nem começamos a explorar nosso potencial de energia eólica. A biomassa, que somos capazes de produzir em condições invejáveis, também está muito subexplorada entre nós. LDR: A intenção de aumentar em 50% as matrizes energéticas limpas
êxito em cada etapa impulsioLDR: Que medidas devem ser toma-
na a concretização das etapas
das para que o Brasil integre, con-
seguintes.
forme prevê o Plano, o grupo dos dez maiores medalhistas olímpicos?
LDR: O Sr. cita que, atualmente, o País possui auto-
LS: Massificar a prática do esporte é
suficiência
energética.
O LINHA DIRETA em revista 7
ENTREVISTA não conflita com a previsão de criar
que permitirão que o Brasil
mais quatro usinas nucleares?
cresça com regularidade, sem tropeços, sem soluços.
LS: Não. Comparada com a geração de eletricidade por usinas térmicas, a energia termonuclear é extremamente limpa. O que precisamos é avançar na questão dos depósitos dos resíduos radioativos das usinas. Atualmente, há 61 usinas em construção no mundo e 439 em funcionamento. Por toda a parte está se voltando a investir na produção de energia elétrica provida por usinas nucleares. Isso vale tanto para países “emergentes”, como a China, a Índia e a Rússia, quanto para o “primeiro mundo”, a exemplo do Japão, da França e da Finlândia. LDR: Como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) pode ser usado para o cumprimento das metas para 2022? LS: O PAC acelerou o crescimento, funcionou extremamente bem como iniciativa governamental anticíclica. Ajudou o Brasil a ultrapassar a crise financeira mundial com um mínimo de perdas, com desempenho econômico e social invejado em toda a parte. O Plano Brasil 2022 é, se quisermos, um Plano de Sustentação do Crescimento. Ele está devotado à construção das condições
“A reforma tributária é um dos maiores desafios brasileiros.” 8 LINHA DIRETA em revista
LDR: Quando o Sr. cita a erradicação da miséria e a redução da pobreza a 4% da população, como o governo alcançará isso? LS: Por meio dos programas sociais, por meio do crescimento econômico baseado na distribuição – derrotando definitivamente aquela tese que tanto mal fez ao Brasil, de que era preciso primeiro fazer o bolo crescer para só depois distribuir as fatias –, por meio da indução e do estímulo ao investimento privado, pela desoneração das atividades produtivas em geral, com redução dos juros, por exemplo, pela desoneração da folha de salários. É distribuindo a riqueza, os frutos do progresso, que o País cresce. Não há um País que tenha chegado a tais patamares concentrando a renda.
você olhar para trás e comparar o Brasil de hoje com o do final do regime autoritário, verá facilmente o quanto avançamos. A classe política brasileira tem sido produtiva e competente. LDR: Por que razão a reforma política, que poderia contribuir para o avanço do País, não faz parte do Plano para 2022? LS: A reforma política é tema demasiado complexo e específico para ser tratado
LDR: Muitas destas medidas depen-
num Plano como este. Primeiro, o pro-
dem de mudanças mais complexas,
cesso de produção de consensos para a
como é o caso da desoneração da
reforma política é muito diferente do de
folha de salário de impostos e con-
um plano de desenvolvimento. Depois,
tribuições. Essa pequena reforma
envolve os três poderes, mas quem tem
tributária, com redução da arrecada-
que decidir é o Legislativo. Hoje, falta
ção, não atrapalharia o aumento dos
consenso na classe política e na própria
gastos do governo para a aplicação
sociedade. Todos concordam que a re-
do Plano?
forma é necessária, mas não há nitidez sobre exatamente em quê consiste essa
LS: A reforma tributária é um dos
reforma. Ela vai acontecer na medida
maiores desafios brasileiros para os
em que a sociedade forme clareza do
próximos anos. Nossa classe política é
que quer. A rigor, já está acontecendo,
capaz de realizá-la. Além disso, se não
inclusive por pressão da sociedade civil.
for feita, colocará problemas de gravi-
A “Lei da Ficha Limpa” já é um avanço
dade crescente e acabará se impondo. Se
de reforma da nossa política.
IMPRENSA
O papel da imprensa sindical O jornalismo sindical brasileiro, se comparado a de outros países, vai muito bem. Não só pelo volume, mas pela diversificação de veículos e pela amplitude de suas pautas. Claro que não é geral esta situação. Há sindicatos que fazem jornais unicamente voltados para seu umbigo. Jornais corporativos que não servem quase para nada. Mas também há muitas outras entidades que fazem jornalismo sindical como alternativa ao jornalismo tradicional.
Marco Tirelli
Quem cumpriu o papel de imprensa alternativa de 1980 a 2002 foi a imprensa sindical. Naquela época, quem denunciou os projetos neoliberais por meio de seus milhões de jornais regulares (diários, bissemanais, semanais, quinzenais ou mensais) foi a imprensa sindical. Quem expôs a destruição dos serviços públicos e as privatizações foi a imprensa sindical. Basta ver que há sindicatos que chegam a gastar mais de 30% do seu orçamento com a comunicação. No resto da América Latina, a comunicação sindical está longe de alcançar o peso que tem em nosso País. A primeira característica da imprensa sindical é que ela deixa claro quais são seus objetivos. Ou seja, deixa claro que tem lado, que defende uma classe e dentro dela dá especial atenção a um setor. Cada jornal se dedica prioritariamente a uma categoria específica. Não tem nenhuma postura de falsa neutralidade. Mas, é bom ter claro que isto exige muita seriedade, apresentar fatos, dados concretos e não fazer sermões, não contar lorotas ou inventar dados e fatos fantasiosos. A segunda característica é que o jornal sindical não é vendido em bancas. Ou seja, ele chega de graça ao leitor. Ele leva informação direta para o trabalhador sem as conhecidas manipulações da mídia comercial. É importante que a categoria leia o jornal sindical pois assim terá um contraponto com a grande imprensa. O jornal sindical deve ser muito atrativo, bonito e chamativo. Deve também chamar a atenção pela pauta, apresentação e linguagem. E foi partindo deste princípio que o Sintetel vem remodelando de tempos em tempos seus principais veículos de comunicação. Recentemente modernizamos o projeto gráfico do jornal Linha Direta e em seguida colocamos no ar um novo site. Por princípio, a imprensa sindical tem um lado: o lado dos assalariados, dos desempregados, dos excluídos.
Na batalha da informação, a imprensa sindical sempre teve um papel determinante. Foi nas suas páginas, sobretudo, que se combateu o projeto neoliberal implantado desde o governo Collor. Até hoje, a imprensa é o grande instrumento de comunicação dos sindicatos. Progredimos muito do ponto de vista técnico com a introdução da editoração eletrônica que permitiu fazer jornais mais bonitos e com maior rapidez. A introdução da Internet permitiu que se fizessem boletins eletrônicos, websites, além de levar ao trabalhador informações por meio das mídias sociais como o Twitter, Orkut e Facebook. Não existem mais jornais sindicais diários ou com elevadas tiragens. A mídia eletrônica substituiu em parte esta prática. A imprensa sindical apenas mudou suas ferramentas, mas ainda deve continuar forte por muitos anos. O fato é que a imprensa dos trabalhadores existe e precisa durar para sempre. LINHA DIRETA em revista 9
LEGISLAÇÃO
Um tapinha não dói?
Governo interfere na educação familiar e condena o uso da palmadinha educativa. População desaprova a nova lei. Quem está com a razão? Amanda Santoro A lei que proíbe a utilização do castigo físico em crianças e ado-
Fábio Delgado Filho, pai de duas crianças. “Do ponto de vista do
lescentes ainda não saiu do papel, mas a simples possibilidade de o
direito, caso venha a ser sancionada, a iniciativa poderá ser objeto
Congresso aprová-la já tem criado divergências entre especialistas
de ação de inconstitucionalidade”, complementou.
e segmentos diversos da sociedade. Em pesquisa do Datafolha, divulgada em 26 de julho de 2010, 54% dos 10.905 entrevistados discordaram da medida, enquanto apenas 36% se mostraram favoráveis a ela.
Desconsiderando estes dados e em comemoração aos 20 anos da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o presidente Lula assinou o PL que altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, e modifica o documento com a inserção de alguns arti-
É este índice de desaprovação acima da média que acaba por gerar
gos. O mais importante deles é o Art. 17-A que determina que “a
o mal-estar da sociedade quanto à nova regra. “O Estado está in-
criança e o adolescente têm direito de serem educados e cuidados pelos pais,
terferindo na privacidade das famílias e impondo limites ao dever
integrantes da família ampliada, pelos responsáveis ou por qualquer pessoa
que os pais têm de educar os filhos”, argumentou o advogado
encarregada de cuidar, tratar, educar ou vigiar, sem o uso do castigo corporal
10 LINHA DIRETA em revista
LEGISLAÇÃO ou de tratamento cruel e degradante, como formas de correção, disciplina,
para que as pessoas entendam que o espancamento da criança não
educação ou qualquer outro pretexto”.
é assunto familiar, mas sim algo que diz respeito a todos”, disse
O novo projeto de lei bate de frente com a cultura brasileira e, por isso mesmo, o índice de desaprovação é compreensível. “Os dados apontam que os pais querem autonomia para criar os seus filhos”, afirmou a diretora pedagógica Elisatebes Carlini. O economista Eduardo Teixeira, pai de duas meninas, corrobora com esta opinião. “O Estado brasileiro tem a mania insuportável de querer ser a nossa babá. É lei para tudo, e a maioria delas acaba sendo sumariamente ignorada pela população”, pontuou.
o ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, durante o seu discurso na 1ª Semana de Educação em Direitos Humanos, acontecida no mês de agosto. As penas, que não levam em consideração lesões corporais graves (já contempladas pelo Código Penal), variam de um a quatro anos de prisão, com agravante se a vítima tiver idade inferior a 14 anos. Advertências, acompanhamentos psicológicos e programas de orientação de família são outros métodos de punição. Os pais
Ainda de acordo com a pesquisa do Datafolha, 72% dos entre-
também podem estar sujeitos a encaminhar a criança para trata-
vistados confirmaram já ter sofrido algum tipo de castigo físico
mento especializado.
e, desse total, 16% revelaram que a prática era frequente em casa. “Aprendemos muito com os nossos pais, inclusive que eles erram. O mínimo que podemos fazer é tentar não repetir esses erros. Quero evitar ao máximo a palmadinha, apesar de achar que ela tem mais efeito moral do que qualquer outra coisa. O susto vale mais do que a dor”, completou Eduardo Teixeira.
Rede “Não Bata, Eduque” A provável aprovação da lei que pune castigos físicos em crianças
Disque-denúncia A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República já disponibiliza um número para a delação de violências diversas contra crianças e adolescentes. Desde 2003, ano em que passou a ser controlado pelo governo federal, o “Disque 100” já computou 127.770 denúncias de agressões contra menores de idade, recebendo em média 73 ligações por dia.
e adolescentes é mais uma vitória da Rede “Não Bata, Eduque”,
Violência física e psicológica (5.885 denúncias), negligência (4.760),
que encaminhou ao governo federal a proposta que foi assinada
abuso sexual (3.871) e exploração sexual (2.015) foram os delitos
pelo presidente Lula. O grupo, criado no ano de 2005, é formado
mais registrados em 2010. Rio Grande do Norte lidera o ranking
por instituições e pessoas físicas que visam mobilizar a sociedade
com uma média de 19,31 denúncias a cada 100 mil habitantes,
pela erradicação dos castigos físicos e humilhantes no País.
seguido por Distrito Federal (12,95) e Bahia (11,22). Apesar de ser
Hoje, com 300 membros, a Rede prega a construção de um plano nacional de enfrentamento à problemática que espalhe a ideia de que a educação pode acontecer sem o corretivo físico. “Quando a sociedade não tem maturidade para romper com os métodos que pertenciam à outra geração, há a tendência de se repetir o que é costumeiramente tido como normal e certo, sem muita reflexão dos atos”, acrescentou a diretora pedagógica Elisatebes Carlini.
Só com delação!
o estado que mais registrou denúncias absolutas, São Paulo está na antepenúltima posição da lista (4,55). O “Disque 100” é o nome popular do Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes. O número funciona todos os dias da semana, inclusive feriados, das 8h às 22h. A ligação é gratuita, mas também há a possibilidade de se fazer a delação pelo endereço eletrônico disquedenuncia@sedh.gov.br.
Se a nova proposta for aprovada, os pais e educadores que utiliza-
Pelo mundo
rem corretivos físicos com fins educacionais serão punidos quando
A proibição e punição dos castigos físicos em crianças e adoles-
houver delação de pessoas que comprovem a infração. Parentes, vizinhos e assistentes sociais podem contribuir na identificação dos focos de violência. As denúncias deverão ser encaminhadas ao Conselho Tutelar.
centes não é uma tendência exclusivamente brasileira. Outros 25 países já constitucionalizaram a medida. Suécia foi o primeiro a adotá-la, em 1979, seguido por Áustria, Dinamarca, Noruega e Alemanha. Na América do Sul, apenas dois países aderiram à proi-
“Se uma criança é espancada na casa vizinha diariamente, não es-
bição: Uruguai e Venezuela. Estaria o Brasil culturalmente pre-
tamos falando de beliscõezinhos ou de tapinhas. Esta é uma lei
parado para adentrar neste grupo seleto de precursores? LINHA DIRETA em revista 11
MULHER
Sua doação vale uma nova vida Por meio do Programa HCG, gestantes ajudam outras mulheres a engravidarem Renata Sueiro Ser mãe é o sonho de muitas mulheres, mas nem todas conseguem engravidar com facilidade. Por esse motivo, pessoas apaixonadas pela maternidade resolveram auxiliar quem apresenta baixa fertilidade. Foi assim que criaram o Programa HCG. Surgido na Holanda, o projeto chegou ao Brasil em 1986 e foi implementado nos estados de São Paulo e Minas Gerais que, somados, contam com mais de sete mil doadoras inscritas. O objetivo é identificar gestantes no início da gravidez e convidá-las a doar urina até a 18ª semana de gestação. Após a coleta, o líquido é encaminhado para laboratórios que retiram da urina o hormônio HCG (Gonadotrofina Coriônica Humana), popularmente conhecido como “hormônio da gravidez”, que é essencial no tratamento de fertilização. Além disso, o programa atua como agente educador e transformador na promoção do bem-estar da mulher, da gestante e do bebê e ainda fomenta – em parceria com empresas, secretarias de saúde e laboratórios – campanhas educativas relacionadas principalmente ao pré-natal, ao planejamento familiar, à prevenção de DST’s e de gravidez na adolescência.
O que é o HCG O HCG é um hormônio que está em grande concentração no soro e na urina da gestante. É muito encontrado em testes de gravidez, sendo um marcador com 100% de acerto. Ele é produzido na placenta ao longo de toda a gestação e é responsável pela liberação do estrógeno e da progesterona que são necessários para a maturação final do óvulo. Atua ainda como antiabortivo e assegura a manutenção da gravidez no início do desenvolvimento embrionário. Segundo o doutor Gilberto da Costa Silva, especialista em medicina reprodutiva pela Universidade de Londres, o HCG é responsável pelo apoio em procedimentos de fertilização. “Sem ele a ovulação não ocorre”, explica. Depois de retirado da urina, o 12 LINHA DIRETA em revista
hormônio segue em forma de pó para a fabricação de alguns medicamentos de tratamento da infertilidade feminina. A utilização do medicamento corresponde a uma das etapas do tratamento e tem o objetivo de promover o amadurecimento dos óvulos para sua posterior ovulação. “Qualquer procedimento [coito programado, inseminação intrauterina ou a fertilização in vitro] que envolva a estimulação dos ovários, também conhecido como indução da ovulação, necessitará do HCG para desencadear a ovulação”, explica Gilberto. “Eu realizo aproximadamente 20 tratamentos por mês que envolvem o HCG e o hormônio é eficaz em todas as situações quando administrado corretamente”, expõe.
MULHER
A doação
Dicas para Mamães
Atualmente o programa recebe cerca de 180 mil litros mensais de doações, mas a quantidade ainda é muito pequena. A intenção é expandir a campanha para que mais doações sejam realizadas. Quanto maior for o número de doadores menor será o preço dos medicamentos de fertilidade, aumentando a acessibilidade ao tratamento.
Ser mãe exige grandes transformações e muitas dúvidas podem surgir. Veja abaixo alguns cuidados necessários:
Segundo Heleny Gomyde, (foto ao lado) uma das coordenadoras do programa HCG, a doação é muito importante para rea-lizar o sonho de ser mãe em classes sociais carentes. “A previsão é que com a coleta disseminada pela população, os tratamentos para engravidar tenham seus preços reduzidos. Isso tornará o procedimento acessível para pessoas mais pobres”, salienta. Para fazer a doação, a gestante interessada deverá efetuar a inscrição no site do programa HCG (www.programahcg.com.br) com até três meses de gravidez. Dois dias após a inscrição, alguém entrará em contato via telefone para dar explicações sobre a dinâmica do programa. Após oito dias, os frascos para a coleta e o termo de consentimento são entregues ao doador. A partir desse momento, de quatro em quatro dias o agente enviará novos frascos e fará a coleta. A última visita será na 18º semana de gestação, quando o agente recolhe os últimos frascos e a gestante recebe um kit para o bebê, como forma de agradecimento.
Realização de consultas mensais de pré-natal até o oitavo mês de gravidez. Após esse período, passam a ser quinzenais e, no último mês, até a realização do parto, são semanais. O acompanhamento do pré-natal compreende exames como ultra-som, que permite examinar o bem-estar do bebê, exames de sangue para avaliar anemia e diabetes, exames para avaliação de infecções como sífilis, hepatite B, AIDS e toxoplasmose, e exames genéticos para descobrir doenças (síndromes) dos bebês ainda no útero materno. Esses exames só devem ser realizados quando há indicação médica, histórico familiar ou alteração no ultra-som.
Bons hábitos durante a gestação Fazer atividades físicas como hidroginástica, natação, ioga, caminhadas, corridas leves, entre outras atividades sempre com orientação médica; manter alimentação saudável, já que a gestante deve ganhar peso de forma equilibrada para não desencadear problemas para a saúde dela e do bebê. A ingestão de líquidos deve ser frequente entre as refeições (evite beber durante elas); a ingestão de alimentos pequenos de vez em quando como maçãs, barras de cereais ou frutas secas pode ajudar; para evitar azia é preciso comer e mastigar lentamente; e para auxiliar na prevenção de problemas, é necessário evitar refeições com temperos fortes e gordurosos.
Programa Mamãe Nota 10 na Atento No dia 15 de julho de 2010, a Atento realizou um evento para apresentar o programa piloto Mamãe Nota 10, que visa prover assistência de qualidade para as novas gestantes e derrubar preconceitos em torno da mulher no período de gravidez. Durante o evento ocorreram diversas palestras com o objetivo central de dar dicas sobre pré-natal, ações sociais, relação e planejamento familiar para funcionárias gestantes da área de teleatendimento. O HCG foi um dos temas divulgados pelas promotoras do programa Nidia Panizza e Heleny Gomyde. “Eu estava perdida, muitas questões foram esclarecidas. Orientação é sempre bem vinda”, afirmou a gestante Letícia Santos Nazário da Silva. Além disso, foram distribuídos diversos brindes e manuais de gravidez para todas as funcionárias gestantes. LINHA DIRETA em revista 13
CIDADANIA
Segurança pública avança no Brasil
Entretanto especialistas ainda apontam necessidades de acabar com a letalidade e corrupção policial Amanda Santoro e Emilio Franco Jr. Foi-se o tempo em que a segurança pública dominava o debate político. Essa alteração de foco é resultado das constantes melhoras nos índices de criminalidade após a adoção de políticas contínuas de combate ao crime. “Em época eleitoral o discurso costumava ser conservador, falava-se em pena de morte, em polícia que mata para fazer justiça, mas isso não ocorre mais”, comemora Denis Mizne, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz. Ele atribui essa mudança à percepção de que a sociedade anseia por discussões a respeito do funcionamento das polícias como instituições públicas de qualidade. “Há uma agenda a ser construída. O consenso é de que precisamos combinar prevenção e repressão”, aponta Denis.
Esse papel é exercido em grande parte pelas polícias civis e militares de cada estado brasileiro. Enquanto a primeira exerce trabalho científico pós-crime e de inteligência na prevenção, a segunda é responsável por patrulhar, evitar e combater qualquer ocorrência que perturbe a ordem nas cidades. “Ter mais de uma polícia não é um problema”, garante o Coronel da polícia militar Luiz Eduardo Pesce de Arruda (foto), que é contrário à unificação das forças policiais. Em São Paulo, cem mil homens e mulheres integram a PM, contingente que zela pela segurança de 42 milhões de habitantes. Denis Mizne concorda que a polícia pode funcionar com as atuais separações de estrutura, mas ressalta que é necessário melhorar aspectos como a capacidade de investigação e solução dos casos. “Boa gestão pressupõe bons diagnósticos. É por isso que ainda temos um longo caminho a percorrer”, afirma. “No Brasil, os dados da criminalidade são todos chutados”, revolta-se. Mesmo com essa falta de precisão, a segurança pública melhorou na última década. Em São Paulo os números de roubos, homicídios e latrocínios caíram vertiginosamente, o que supera a possibilidade de existirem pequenas distorções nos dados em razão de motivos diversos, como a diminuição de registros de boletim de ocorrência em função da morosidade policial. Além disso, São Paulo é o estado com maior índice de prisões efetuadas nos últimos dez anos. O poder público não nega a existência de problemas e por isso os investimentos em infraestrutura policial quintuplicaram nos últimos anos. Uma das medidas tomadas pelo governo federal foi o lançamento do Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), que elevou o dinheiro destinado à segurança dos estados. “Boa iniciativa, mas não é o suficiente”, pontua Denis. “É preciso que a questão seja tratada como prioridade. Quando esse pen-
14 LINHA DIRETA em revista
CIDADANIA samento for adotado, existirão mais verbas para investimentos”, acredita. É neste ponto que o governo federal deve entrar em ação para facilitar as discussões empacadas. A questão que envolve as dificuldades de se proteger a fronteira brasileira, por exemplo, é um dos assuntos em pauta. São 16 mil km fronteiriços que o exército nacional não consegue cobrir com eficácia. Para se ter uma dimensão da área, a tão falada linha limítrofe entre Estados Unidos e México tem apenas 2.5 mil km. “Como vamos agir com crimes que vão além das fronteiras?”, indaga Denis. Outro ponto fortemente criticado pelo diretor do Instituto Sou da Paz é o sistema prisional. “É um caos”, resume. A população carcerária de São Paulo cresce 7,5% ao ano, mesmo com o aumento na adoção de penas alternativas. Hoje são 500 mil presos, e o dado mais preocupante é que a cada cinco detenções, ao menos uma é provisória e está com o prazo expirado. O coronel Arruda explica que esse descaso fortalece a ação do crime organizado. “Se o Estado não dá assistência digna a essas pessoas, quem desenvolve esse papel é o crime organizado”, enfatiza. Para ele, a mentalidade de que o Estado não deve fornecer assistência aos bandidos é um erro, já que o crime organizado faz essa tarefa, mas cobra retorno.
Isso porque a taxa de letalidade da polícia ainda é muito alta. O Coronel Arruda explica que o uso de armas e técnicas não-letais ainda tem de ser estudado, pois não se sabe ao certo as implicações deste tipo de armamento. “Será que alguém com problema cardíaco pode ser alvo de uma arma de choque?”, questiona. É por isso que ele defende a extensão da educação policial e da ampliação das polícias comunitárias. “Educação é primordial para o combate da letalidade”, garante José Vicente Tavares dos Santos, professor de sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador do programa de segurança pública da presidente Dilma Rousseff. Há, inclusive, um movimento de fortalecimento do ensino para agentes em pólos específicos ao redor do mundo, mas ainda são poucos os países que investem nisso. Argentina, Venezuela e Estados Unidos fizeram parcerias com universidades públicas para garantir a formação intelectual dos policiais. “O objetivo básico é fazer com que esses agentes sejam humanizados e entendam o ambiente social que os envolve”, explica José Vicente. Um passo auxiliar importante nesse processo, acrescenta o Coronel Arruda, é investir nas polícias comunitárias. “O modelo de Unidades de Polícia Pacificadora no Rio é um bom exemplo de humanização eficiente da polícia”, finaliza.
Outros entraves para o aumento da eficácia da segurança pública são questões como a letalidade e a corrupção, ainda bastante evidentes nas corporações policiais. “A legislação dá margem para que o agente escolha tirar ou não tirar a vida de terceiros durante a execução das suas atividades, e ambas as decisões são amparadas pela lei”, revela Arruda. “O grande desafio da PM é educar os policiais a optarem pela vida mesmo sabendo que eles são respaldados para tirá-la”, completa.
Empresas privadas investem na segurança coletiva A sociedade civil organizada, por meio do Fórum de Diálogos em Segurança Pública, lançou, em parceria com a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) e o Instituto Ethos, a cartilha “Participação do setor privado na segurança pública”, que lista 16 iniciativas empresariais em segurança com benefícios para toda a sociedade. A ideia é mostrar aos empresários ações privadas de interesse coletivo na área de segurança para estimular a adoção de medidas parecidas. Entre elas, destaca-se o programa da Telefônica chamado
“Ação na Linha”. Após sofrer com o constante roubo de cabos, o que deixava hospitais e escolas sem comunicação, a empresa resolveu investir dinheiro no mapeamento dos lugares onde esses furtos aconteciam com maior frequência e na identificação dos envolvidos. Isso feito, a Telefônica iniciou um programa de conscientização das pessoas que participavam do esquema, mostrando os prejuízos que os furtos traziam para a educação de crianças e no tratamento de enfermos. Depois dessa iniciativa, esse tipo de crime praticamente acabou. LINHA DIRETA em revista 15
SAÚDE
De hipocondríaco e louco todo mundo tem um pouco Automedicação e projeção exagerada de doenças podem ser sintomas de patologia Renata Sueiro A hipocondria é uma desordem psiquiátrica que atinge homens e mulheres geralmente na fase adulta. O transtorno distorce os sentidos do paciente em relação ao corpo e gera uma preocupação exagerada com doenças e medo da morte. O psicanalista Rubens Marcelo Volich (foto), doutor pela Universidade de Paris, esclarece que a hipocondria não se trata de uma psicose. “O paciente não tem ruptura com a realidade e a construção do real não parte do imaginário. O hipocondríaco distorce somente a realidade do funcionamento do corpo, o resto continua intacto”, explica Volich. O hipocondríaco tem a sensibilidade corporal elevada e acredita que qualquer sensação normal ao corpo possa ser uma doença. O paciente nutre medo irracional da morte, supervaloriza sintomas e pequenos defeitos físicos, 16 LINHA DIRETA em revista
desacredita em diagnósticos médicos e por esse motivo é difícil tratar o problema real. “Encontramos grande dificuldade com esses pacientes”, afirma. “Eles são convictos da realidade de seu estado, mesmo quando todos os exames o negam”, conta Volich. Detectar essa doença é um caminho sinuoso. O diagnóstico é baseado em sintomas que duram meses e na mudança de rotina que afeta a qualidade de vida do paciente. “A doença pode prejudicar a pessoa na medida em que restringe sua vida a pensamentos e atividades relacionadas à integridade de seu corpo, a preocupações com doenças e a cuidados com sua saúde, prejudicando outros campos como vida social, familiar e profissional”, declara Volich. Ele ainda alerta que a hipocondria pode prejudicar o âmbito social, sobrecarregando os serviços de saúde com consultas, procedimentos e tratamentos médicos desnecessários. Uma pesquisa realizada pelo psiquiatra Brian Fallon, da Universidade de Columbia (EUA), revela três quadros do transtorno. 1) Obsessivo-compulsivo – ansiedade em querer informações sobre doenças. Busca geralmente familiares, amigos, internet ou médicos para saber se são portadores de alguma doença grave. Buscam informações para saber se podem se encaixar
SAÚDE no quadro de alguma doença e formas de tratamentos antes mesmo de saber se realmente estão enfermos. São aficionados em novos tratamentos e moléstias. 2) Hipocondríaco-fóbico – evita médicos ou qualquer informação sobre doenças com a finalidade de reprimir a ansiedade. São negligentes com a própria saúde. 3) Hipocondríaco-depressivo – mais desesperado e convencido de que é portador de uma doença grave e crônica sem cura. Desconfia de diagnósticos médicos.
Possíveis Causas São vários os fatores psicológicos que estão associados às causas que levam uma pessoa a se tornar hipocondríaca. A baixa autoestima, insegurança, ansiedade e carência podem ser alguns dos fatores. O susto, trauma ou a perda de um ente querido são peças sentimentais que podem gerar o medo da morte ou a crença de ser portador de doenças. A hipocondria pode incidir conforme o estado psíquico emocional do paciente.
Tratamento “Faz cinco anos que tenho hipocondria. Antes de procurar tratamento, eu ingeria remédios periodicamente. Realizei diversos exames e nada foi detectado. Atualmente estou tentando recuperar minha autoconfiança com a ajuda do psiquiatra”, revela Camila Alvez de Oliveira, 33 anos, dona-de-casa. Ao diagnosticar o transtorno, o paciente deve procurar um profissional de saúde mental. O primeiro passo é eliminar qualquer possibilidade de usar remédios. A recuperação deve ser direcionada por profissional habilitado. “O tratamento pode ser em grupo ou individual, sempre com o apoio da família”, conta Volich. “A cura irá depender do paciente, quando ele perceber os conflitos internos que desencadeiam os sintomas”, explicita. O Ministério da Saúde, também criou os CAPs (Centro de Atenção Psicosocial), unidades de atendimento intensivo voltadas aos portadores de sofrimento psíquico. “O programa de saúde mental do governo atende aos mais variados tipos de doenças, inclusive a hipocondria. São diversas unidades para atender os brasileiros”, informou a assessoria do Ministério. A hipocondria também pode estar associada a outras disfunções como ansiedade, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), depressão e síndrome do pânico. Para consultar os endereços do CAPs mais próximos, acesse: www.saude.org.br
Riscos à saúde “Confesso que já tive problemas gástricos graves por tomar remédios em excesso, mesmo assim não acredito que tenho hipocondria. Uso alguns remédios para prevenir dor de cabeça ou muscular. O meu médico me alertou sobre o problema, mas ainda não procurei tratamento”, afirma Ana Maria Rodrigues
de Medeiros, 42 anos, auxiliar administrativa. A automedicação é um risco para o paciente hipocondríaco, que por ser conhecedor de diversos remédios frequentemente os ingere por conta própria, para aliviar sintomas ou muitas vezes evitar o surgimento deles. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma), todo ano cerca de 20 mil pessoas morrem no País vítimas de automedicação, as causas mais frequentes são intoxicações, hipersensibilidade ou alergia a medicamentos. Para reduzir esses índices, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) vetou a exposição de medicamentos sem prescrição médica em prateleiras ao alcance do público. A proibição passou a valer no início deste ano. Agora, os medicamentos ficam atrás do balcão, e não em gôndolas como antigamente. Esse projeto ajuda no controle da venda de medicamentos e pode reduzir os problemas com a automedicação.
Hipocondria transitória Com uma pequena duração, a hipocondria transitória foi facilmente identificada durante a epidemia da gripe suína no Brasil. A sociedade foi tomada pelo medo de contrair a doença e morrer. Algumas pessoas entraram em pânico e passaram a evitar ambientes públicos. Nesse período, os postos de saúde e hospitais apresentaram superlotação, mas a maioria dos casos eram alarmes falsos. A hipocondria transitória passou quando o foco da doença foi reduzido devido à vacinação preventiva do H1N1. “Na época da gripe suína fiquei muito assustada. Tive muito medo que eu ou minha família contraísse a doença. Mantive um enorme cuidado, evitei frequentar lugares com grande concentração de pessoas. Quando era obrigada a usar o metrô ficava muito nervosa, quando entrava em casa era um alívio”, conta Élida Xavier, 21 anos, estudante. LINHA DIRETA em revista 17
APOSENTADOS
Dos campos de futebol ao Conselho do Idoso Conheça a trajetória deste paulistano do alto da Lapa que, compelido pelas circunstâncias da vida, trocou a bola e os gramados pela luta sindical Marco Tirelli Artur Alves Pinheiro nasceu em 27 de julho de 1942, em São Paulo. Casado há mais de 40 anos, possui três filhos e três netos. Iniciou seu estudo no Colégio Salesiano Dom Bosco, onde participou da criação do Esporte Clube São Domingos Sávio, que revelou alguns grandes jogadores da época. “Lá surgiram craques como Peixinho, Davi (cunhado do Pelé) e Sergio Lopes (que foi contratado pelo Internacional de Porto Alegre)”, relembra Tuca, como era conhecido Artur. Aos 14 anos, Artur foi contratado pelo São Paulo Futebol Clube. Já pelo novo clube, fraturou a perna durante uma partida, o que acabou com sua curta carreira. Ao deixar o futebol, Artur começou a trabalhar nos Diários Associados, de propriedade de Assis Chateaubriand. Na categoria dos gráficos, Artur teve sua iniciação no movimento sindical. “Meu pai era vice-presidente do Sindicato dos Gráficos de São Paulo e eu o acompanhava em todos os movimentos”, conta. Artur relata que muitas vezes dormiu com seu pai no sindicato. “Já em plena ditadura militar, meu pai foi preso pela sua atuação político-sindical”, recorda. “Algum tempo depois, encontraram-no muito debilitado e doente devido ao longo período em que ficou nas mãos dos torturadores. Ele faleceu nos meus braços”, emociona-se.
O ingresso nas telecomunicações Em março de 1960, Artur ingressou na CTB (Companhia Telefônica Brasileira) como auxiliar de emendador. No ano de 1969, a empresa Boviel Kyowa veio para o Brasil trazendo a tecnologia de cabo coaxial de conectores. “Concluí a especialização nesta tecnologia e fui trabalhar lá”, destaca. Artur conta que viajou a serviço por diversos países até retornar ao Brasil para fazer implantações na Bahia. Em março de 1978, o então prefeito Antônio Duarte Nogueira, da cidade de Ribeirão Preto, convidou-lhe para trabalhar na empresa municipal de telecomunicações, com a instalação da nova tecnologia em redes telefônicas. Artur aceitou a proposta para ficar mais perto da família. Na CETERP (Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto), foi nomeado chefe geral da rede telefônica. “Foi um grande salto na minha carreira, pois entrei na companhia com um salário três vezes maior em relação ao anterior”, relata. 18 LINHA DIRETA em revista
APOSENTADOS O presidente da CETERP, Armando Henrique Dias Codesido, designou Artur para montar uma equipe e fazer a expansão da rede de telefonia em Ribeirão. “Conseguimos transformar a CETERP em uma empresa de primeiro mundo”, orgulha-se. Na época, a CETERP recebeu prêmios de qualidade da Telebrás.
O ano em que tudo começou a mudar Em 1985, mudou o governo da cidade de Ribeirão Preto e assumiu o prefeito João Gilberto Sampaio. “Ele derrubou tudo o que tinha de bom na CETERP, começou a perseguir os trabalhadores e nós não tínhamos sindicato” recorda. Naquele período os trabalhadores procuraram o Sintetel. “Em dezembro de 1985, fizemos a primeira assembleia pedindo a representatividade do Sindicato”, complementa. Já em 1986, os trabalhadores da CETERP conseguiram o direito à sindicalização pelo Sintetel, inclusive no acordo firmado com a empresa no Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo; eu e o José Roberto (atual diretor regional de Ribeirão Preto) recebemos reconhecimento como delegados sindicais eleitos pela categoria com direito a estabilidade de emprego. “Tivemos um grande avanço em benefícios salariais, mas na sequência entrou o Plano Cruzado e achatou tudo”, pontua. Diante do ocorrido, a categoria se mobilizou novamente. “Iniciamos um movimento ainda maior com greves e protestos”, destaca Artur. “O prefeito João Gilberto Sampaio começou a nos perseguir, o que culminou com a minha demissão por justa causa por ter liderado a greve”, enfatiza. Após a demissão de Artur, deu-se início uma briga judicial para sua readmissão que se arrastou por três anos. Nesta época, ele continuou com o trabalho de mobilização junto com o Sintetel. A briga chegou ao final e Artur conseguiu ser reintegrado à empresa. “Voltei, mas sem receber nada retroativo e após um ano fui demitido pela segunda vez por liderar mais uma greve”, relembra. Mediante esta nova situação, o Sintetel mobilizou toda sua estrutura sindical,
com apoio de Alda Marco Antônio (Secretária Estadual do Trabalho na época) e Luiz Antonio de Medeiros (na época, presidente da Força Sindical), com o objetivo de pressionar a empresa para mais uma reintegração de Artur. Seis meses depois o objetivo foi alcançado. A partir daí, Artur foi liberado para exercer a atividade sindical. “Criamos a subsede do Sintetel, e elegemos o companheiro José Roberto Privatização da CETERP: Artur protesta na Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto ao lados dos companheiros como diretor regional”, con- Anselmo e José Roberto ta. Artur ficou a serviço do Sindicato até ser eleito direParaíba. Artur desenvolveu seu trabalho tor da Fenattel (Federação Nacional dos sindical na subsede até sair da empresa Trabalhadores em Telecomunicações). por meio de um PDV (Plano de Demissão Voluntária). “Depois que eu saí do A privatização da CETERP sindicato fui convidado a participar do Conselho Municipal do Idoso e fui eleito A CETERP existia de fato, mas não de conselheiro com 80% dos votos”, condireito e, por isso, não tinha configuração ta. “Conseguimos investimento maciço, jurídica. Na época, o prefeito Antônio com o apoio dos vereadores, e construíPallocci realizou a abertura de capital mos a primeira Casa do Idoso de São para efetivar a configuração jurídica. José dos Campos”. O então ministro das Telecomunicações A Casa do Idoso oferece piscinas, terapia Sergio Mota, reuniu-se com o Sintetel e ocupacional, aulas de informática, borafirmou que privatizaria o setor. “Iniciadados, pinturas, bailes e outras atividades mos uma luta contra a privatização, pois que incluem a reunião mensal do Fórum queríamos que o prefeito assumisse a Permanente e do Conselho Municipal do empresa como autarquia da prefeitura e Idoso; além de equipe multidisciplinar não como empresa de capital aberto”. O contando com médicos, terapeutas, denSintetel realizou um plebiscito e 90% da população votou contra a privatização do tistas e professoras de educação física. A sistema de telefonia de Ribeirão Preto. casa atende mensalmente mais de 10 mil cadastrados. O sucesso foi tanto que o Com o objetivo de parar com o movimenConselho Municipal do Idoso auxiliou to contra a privatização, o prefeito Pallocci na criação da primeira delegacia policial chamou o Sindicato e garantiu estabilidade de proteção ao idoso. Mais três Casas do de emprego por cinco anos e o plano de tipo já estão com as construções em ancargos, carreiras e salários. Artur lembra damento na cidade. que o Sindicato conseguiu a formalização dos benefícios citados pelo prefeito anteriormente. “Palocci aceitou a condição e foi feita a documentação assinada por ele e pelo Sintetel. Mas, infelizmente, a privatização foi realizada em todo o sistema de telefonia brasileiro”, lamenta.
A mudança para o Vale do Paraíba Mediante o trabalho desenvolvido, o Sintetel convidou Artur para assumir o cargo de diretor regional do Vale do
A instituição conseguiu reduzir os índices de maus tratos e depressão. “Eles recebem carinho e sentem-se alegres nas atividades diárias”, celebra. Artur comemora devido ao fato de o Sintetel sempre ter tratado os aposentados e idosos com o mesmo carinho e dedicação que é oferecido a eles pelos profissionais da Casa do Idoso. “O idoso é uma causa a ser defendida e não uma coisa a ser explorada”, conclui Artur. LINHA DIRETA em revista 19
CAPA
A Voz das Urnas
O voto popular apostou na continuidade dos governos. Tanto em São Paulo como no Brasil, quem estava no comando continua por mais quatro anos Emilio Franco Jr. e Marco Tirelli A corrida eleitoral de 2010 foi uma verdadeira guerra, isso nin-
denúncias na Casa Civil, com acusações de nepotismo e tráfico
guém pode negar. Setores conservadores, na tentativa de de-
de influência contra a ministra Erenice Guerra, ex-braço direi-
sacelerar a inclusão social do povo de baixa renda, utilizaram
to de Dilma. A resposta veio com o suposto sumiço de R$ 4
várias artimanhas para minar as candidaturas que representa-
milhões da campanha de José Serra, dinheiro que teria sido
vam a continuidade do projeto que colocou o Brasil em evi-
furtado por Paulo Preto, assessor do tucano.
dência no mundo. A disputa que mais chamou a atenção dos brasileiros, como não poderia deixar de ser, foi a corrida pela
Depois, uma onda de boatos tomou conta do pleito. Os
presidência da República. A polarização PT e PSDB foi aba-
petistas afirmavam que Serra acabaria com os programas
lada no primeiro turno pela onda verde protagonizada por
sociais e privatizaria as empresas públicas brasileiras. Os tu-
Marina Silva. Passada a euforia com os quase 20 milhões de
canos, por sua vez, rotulavam Dilma como guerrilheira e
sufrágios conseguidos na primeira rodada de votação, mas que
acharam na questão do aborto o factóide ideal para abalar a
não foram suficientes para fazer a candidata verde avançar na
candidatura da ex-ministra de Lula. E deu certo: durante duas
disputa, petistas e tucanos voltaram a ser o foco do debate. De
semanas – final do primeiro e começo do segundo turno – os
um lado, a candidata de Lula, Dilma Rousseff, e de outro o ex-
tucanos apostaram no debate religioso que dominou o cenário
governador de São Paulo José Serra.
político, a ponto de a candidata petista garantir publicamente
E o nível foi baixo. Discussões sobre segurança pública, saúde,
ser contrária ao aborto.
educação, reformas estruturais e tantas outras questões urgen-
A campanha suja substituiu o debate concreto e até mesmo
tes para um País em pleno desenvolvimento como o Brasil
a imprensa mergulhou na guerra partidária. Revistas semanais
cederam espaço para trocas de acusações, boatarias e até mes-
traziam capas tendenciosas – cada qual puxando sardinha para
mo mentiras. A candidata petista foi atingida pelo baque das
seu candidato -, em sua maioria sem informar aos leitores de
20 LINHA DIRETA em revista
CAPA suas preferências políticas. Jornais e portais da internet faziam o mesmo.
Minas e Rio, respectivamente. Independente disso, o futuro governo Dilma assegura o diálo-
A resposta que veio das urnas pareceu mostrar que a guerra foi
go com toda a sociedade brasileira, ao menos é o que acredita
de tão baixo nível que o eleitor preferiu ignorar o que aconte-
o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). “Tenho convicção de que
cia. Assim, Serra teve 10 milhões de votos a mais de um turno
Dilma seguirá a diretriz de Lula e manterá o diálogo com os
para o outro, chegando aos quase 46 milhões no total (o que
movimentos sociais, sobretudo com os trabalhadores”, afirma.
equivale a 46% em um universo de 100 milhões de eleitores
“A conversa com as centrais sindicais continuará. A postura da
que compareceram às urnas). A petista Dilma Rousseff cres-
equipe de Dilma será a de diálogo aberto”, sentencia o sena-
ceu oito milhões, e chegou aos 56 milhões de votos, portanto,
dor paulista.
56% da preferência, elegendo-se a primeira mulher presidente do Brasil.
A esperança do movimento sindical é que com a continuidade
Desse modo, foi possível constatar que o eleitorado de Marina,
avanços trabalhistas, como a manutenção da política de valori-
ávido por mudanças na forma de fazer política, praticamente
zação do salário mínimo e o fim do fator previdenciário. Para
se dividiu de forma igual, com leve preferência por Serra.
Suplicy, haverá avanço nesse aspecto. “Já estamos debatendo o
Ou seja, nenhum candidato foi capaz de mostrar algo a mais
orçamento ao lado das centrais e da presidente eleita”, conta.
do que vinha sendo proposto, então valeu a opção pela con-
“Essa tendência prosseguirá. Os novos ministros irão dialogar
tinuidade do projeto de governo do presidente Lula que tem
não só com os empresários, mas também com o movimento
demonstrado avanços no setor social e econômico.
sindical”, acredita.
O recado que saiu das urnas foi o de que o povo está contente
O deputado federal reeleito Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o
com os visíveis resultados alcançados nos últimos oitos anos.
Paulinho da Força, concorda com a visão do senador Suplicy e
Se é verdade que parte dos méritos pode sim ser creditada a
diz ter certeza de que a voz dos trabalhadores será ouvida pela
políticas iniciadas durante o governo que antecedeu Lula, é
nova presidente. “Apoiamos a candidatura Dilma por acredi-
também verdade que a rapidez e a consistência dos resultados
tar na sensibilidade dela para as questões sociais e relativas ao
são méritos do presidente e da equipe comandada por ele. O
mundo do trabalho”,
povo, ao perceber isso, optou por Dilma Rousseff.
conta. “A presidente
do projeto de governo do presidente Lula aconteçam mais
eleita com certeza
Uma mulher ocupará o poder máximo
saberá respeitar e
A primeira presidente mulher do País foi a mais votada em
camente com os mo-
15 estados e no Distrito Federal. Ganhou majoritariamente
vimentos sociais”.
dialogar democrati-
no norte e nordeste, enquanto Serra, vencedor em 11 estados, saiu-se melhor no sul e centro-oeste. O sudeste ficou dividido, com mais votos para o tucano em São Paulo e Espírito Santo contra a maioria que preferiu a petista em Minas, reduto eleito-
O Congresso Nacional
ral do tucano Aécio Neves, e Rio de Janeiro.
A Câmara dos De-
Eliminada a visão simplista de um País dividido, percebe-se
formam o chamado
que, na verdade, Dilma se saiu bem melhor no nordeste, região
Congresso
que teve muitos ganhos com Lula, mas venceria de qualquer
nal. São os integran-
maneira se os votos de lá não fossem contabilizados. Os es-
tes das duas casas que
tados em que a maioria optou por Serra não foram capazes
aprovam e propõem
de dar a ele uma vantagem larga, ainda mais com as derrotas
as leis, além de terem
no segundo e no terceiro maiores colégios eleitorais do País,
a
putados e o Senado Nacio-
responsabilidade
“Vou continuar meu trabalho de defender os interesses dos trabalhadores no Congresso”.
LINHA DIRETA em revista 21
CAPA de fiscalizarem o poder
executivo,
portanto, a presidente. A oposição encontrada
por
Lula durante seu mandato,
apesar
de fraca no discurso, foi capaz de tirar o humor do presidente, que acusava os partidos
oposicionis-
tas de quererem “A qualidade das políticas públicas dependerá das iniciativas e compromissos do Governo Dilma Rousseff ”.
atrapalhar os planos do governo federal. O ponto de maior descon-
forto de Lula era o Senado, onde a base aliada não possuia maioria parlamentar. Mas, para os quatro anos de presi-dência de Dilma a situação será outra. O PT montou uma grande coligação para a disputa das eleições e, além de o partido eleger a maior bancada do Congresso, ainda conseguiu, junto com os partidos aliados, maioria avassaladora tanto na Câmara quanto no Senado. “A correlação de forças é amplamente favorável à presidente Dilma, que contará com apoio consistente de pelo menos 360 deputados e 59 senadores, número mais que suficiente para
participação política no debate, houve perdas”, aponta. Um dos casos mais emblemáticos foi a votação arrasadora recebida pelo palhaço Tiririca, que ajudou a eleger quatro outros deputados de sua coligação. Toninho explica que as celebridades, no exercício de cargos públicos, não costumam ter sucesso. “Como vivem em função da vaidade, não são muito produtivos e o resultado é que têm passagens efêmeras no exercício de mandatos”, analisa. “Tiririca muito provavelmente integrará o chamado baixo clero”. Diferentemente do que ocorreu com o presidente Lula durante seus dois mandatos, Dilma terá pela frente uma oposição ainda mais enfraquecida e não deverá ter dificuldades para aprovar temas de interesse do governo e reformas pouco populares. Se isso por um lado é bom, também pode permitir que o governo recrie sem dificuldades a CPMF, o imposto dos cheques e das movimentações financeiras destinado a financiar a saúde pública. Nesse aspecto, Paulinho faz uma ressalva tranquilizadora: “vamos apoiar o governo apenas quando ele corresponder aos anseios dos trabalhadores”, garante. Toninho explica que tanto os deputados quanto os senadores serão pautados pelo governo, e por isso, a qualidade das políticas públicas dependerá de iniciativas e compromissos de Dilma. “A tendência é que partidos como o PT e o bloco de esquerda e centro-esquerda (PSB, PDT e PCdoB) marchem juntos e neutralizem as demais forças da aliança que eventualmente tentem impor uma agenda à direita”, afirma.
aprovar emendas à constituição” afirma Antonio Augusto de Queiroz, o Toninho do DIAP (Departamento Interssindical de Assessoria Parlamentar). As duas principais forças, PT e PMDB, que elegeram a presidente e o vice, foram os campões das urnas e já começam a dialogar a respeito da presidência da Câmara e do Senado. A ideia é que os partidos se alternem no poder, dois anos comandados pelos petistas e dois pelos peemedebistas, para encabeçar um Congresso renovado em pouco mais de 43%. Para Toninho, a atual legislatura foi marcada por muita denúncia de corrupção e a oposição teve uma postura agressiva e até golpista em relação ao presidente Lula. Ele acredita que o novo Congresso, além de melhorar o padrão ético, tem a tendência de ser menos virulento com Dilma. “Houve uma mudança qualitativa em termos de postura, até influenciada pela campanha do ficha limpa. Entretanto, do ponto de vista da qualidade intelectual e 22 LINHA DIRETA em revista
“Dilma foi eleita com correspondente maioria na Câmara como reconhecimento do crescimento do país”.
CAPA Mesmo assim, ele acredita que o novo governo não poderá
os paulistas começam a demonstrar que o apoio a esses gover-
fugir de duas grandes reformas, a política e a tributária. Entre
nantes já não é mais tão robusto, apesar de ainda ser bastante
outros temas que devem ser analisados pelo Congresso, Toni-
significativo. O resultado da eleição para deputados estaduais
nho cita o fim do fator previdenciário, a redução da jornada
também é prova disso. A base de apoio a Alckmin ainda é
de trabalho, a regulamentação da terceirização, o marco regu-
maioria esmagadora, mas a oposição cresceu. O PT saltou de
latório do pré-sal, os crimes de internet e o código florestal.
20 para 24 deputados e, somados os partidos aliados, chega à
Entretanto, como Dilma deverá depender menos do Con-
casa dos 30 oposicionistas. O PSDB manteve seus 23 deputados, um a menos que o PT, mas ao incluir na conta todos os
gresso do que Lula, a crença é de que ela poderá se dedicar
partidos que sustentam o governo tucano, esse número passa
mais a evitar que matérias polêmicas sejam votadas. Temas que
de 50. Ou seja, assim como Dilma não deve ter problemas com
pautaram o debate eleitoral, como o aborto, não serão analisa-
o Congresso, Alckmin não deve encontrar dificuldades com a
dos pelo novo Congresso, na visão de Toninho. “Não acredito
assembleia paulista.
que aconteça, mas caso ocorra, a presidente dificilmente atuará contra ou a favor. Se for votado, ela poderá sancionar dependendo da proximidade da eleição de 2014”, analisa.
O ponto negativo é a fragilidade que os trabalhadores encontrarão na luta pelos seus direitos em nível estadual, já que poucos eleitos defendem as bandeiras trabalhistas. “Infelizmente
No que diz respeito às questões dos trabalhadores, Toninho
os trabalhadores em telecomunicações não contarão com um
afirma que o quadro não é favorável. “A bancada empresarial
representante na Assembleia Legislativa, isto é uma pena, pois
cresceu muito e a sindical teve modesto aumento. Assim, a
não teremos quem defenda nossa categoria em discussões so-
postura da presidente sobre relações de trabalho, previdên-
bre o futuro do setor no País”, analisa Almir Munhoz, presi-
cia e organização sindical é que dará o tom do Congresso”. É por isso que o deputado Paulinho faz o alerta: “é muito importante esclarecer para os trabalhadores a necessidade de votarem em candidatos comprometidos com os interesses da classe. É necessário termos em Brasília uma bancada forte, já que é lá, e nas demais esferas de poder, que conseguimos ampliar os direitos”. O que chamou a atenção nesta eleição foi que alguns nomes de
dente do Sintetel. Apesar de a categoria não ter conseguido eleger o companheiro Gilberto Dourado a deputado estadual, Almir Munhoz destaca a continuidade da luta do Sintetel em defesa da classe trabalhadora. “Temos que ressaltar que os trabalhadores ampliaram a bancada sindical no Congresso e isto fará com que tenhamos parlamentares defendendo causas importantes da nossa classe”, conclui.
destaque na Câmara e no Senado não conseguiram se reeleger. Foram os casos de José Genoíno (PT-SP) e Arthur Virgílio (PSDB-AM), por exemplo. Entretanto, a maioria dos chamados “cabeças do Congresso” estará na próxima legislatura. Toninho acredita que os não reeleitos serão substituídos à altura por outros, e cita a vitória do candidato paulista ao senado Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) como exemplo. “Ele será um senador influente”, acredita.
O mapa político em São Paulo Se na esfera federal os ventos sopram a favor dos partidos de centro-esquerda, o mesmo não acontece no estado de São Paulo, onde mais uma vez Geral-do Alckmin (PSDB) foi eleito governador. Apesar de vencer ainda em 1º turno, com 50,6% dos votos válidos, o tucano quase teve de enfrentar o petista Aloizio Mercadante em uma segunda rodada. Isso mostra que
“Não conseguimos eleger um deputado estadual, mas quem sabe no futuro emplacaremos um novo candidato”.
LINHA DIRETA em revista 23
TECNOLOGIA
Celulares inteligentes
A cada dia os telefones celulares aumentam a sua funcionalidade e agora os smartphones são a bola da vez
Emilio Franco Jr. e Marco Tirelli
Em diversos ambientes públicos como saguão de aeroporto ou qualquer sala de espera, não é difícil encontrar alguém absorto em seu telefone celular. Mas o que será que tem de tão interessante nesses aparelhinhos para que as pessoas fiquem tão concentradas neles? Eis a explicação: a nova onda tecnológica do ramo são os chamados smartphones.
possibilidade de interconexão com um computador pessoal e uma rede informática sem fios com as de um telefone celular.
Os smartphones têm funcionalidades avançadas e que podem ser estendidas por meio de programas executados em seus sistemas operacionais, que são “abertos”, o que significa que é possível que qualquer pessoa desenvolva programas que podem funcionar nesses telefones.
Os campeões de venda
Numa tradução livre do inglês, “smartphone” significa “telefone inteligente”. Um smartphone possui características mínimas de hardware e software, sendo as principais: capacidade de conexão para acesso à internet, sincronização dos dados do organizador com um computador pessoal e agenda de contatos que utiliza toda a memória disponível no celular. É um computador de dimensões reduzidas, que cumpre as funções de agenda e sistema informático de escritório elementar, com 24 LINHA DIRETA em revista
Toda essa tecnologia faz com que as pessoas concentrem a atenção em seus telefones para trocar e-mails, ouvir música, enviar e receber dados ou navegar pela internet.
Existem vários tipos de smartphones, entretanto os mais evoluídos e, por esta razão os mais famosos, são o Blackberry e o iPhone. Eles possuem maior velocidade de conexão, permitindo a transmissão de vídeo, som e imagem. Funcionam nas regiões em que a operadora de telefonia móvel presta serviço e opera.
BlackBerry Há mais de dez anos no mercado, o BlackBerry se firmou como um dos principais tipos de smartphones. Ele possui dispositivo wireless (rede sem fio) e tecnologia diferente de
TECNOLOGIA seus principais concorrentes e, desse modo, mantém o usuário conectado 24 horas por dia em seu e-mail, com constantes atualizações das mensagens, além de disponibilizar telefone e agenda em tempo integral. Com isso, o usuário não precisa sincronizar seu aparelho com um computador ou outros servidores, o que o diferencia dos demais modelos de celulares inteligentes. Sempre que ocorre alguma alteração, como um novo e-mail na caixa de mensagens ou notas na agenda de compromissos, o sistema alerta seu usuário, que pode listar suas prioridades no recebimento de conteúdo. Para o jornalista Rodrigo Lara, de 26 anos, apesar de o BlackBerry demandar algum tempo de aprendizado e não ser tão amigável quanto o iPhone, ele possui uma plataforma bem acessível e uma boa quantidade de aplicativos. “Para o uso profissional é bastante útil por possuir acesso rápido aos e-mails e também por ser mais simples de digitar, permitindo, por exemplo, escrever textos durante uma cobertura jornalística”, afirmou. Essas funcionalidades só podem ser oferecidas porque o BlackBerry se conecta à internet wi-fi – sem fio – e à rede de telefonia móvel. E esse sistema ainda gera economia para seu usuário. Empresários são os principais clientes deste tipo de telefone, já que supre as principais necessidades deles – agilidade na consulta de agenda de compromissos, contatos e atualização constante das mensagens eletrônicas.
iPhone O iPhone é um tipo de smarthphone fabricado pela respeitada Apple, também responsável pelo iPad e iPod. São várias as diferenças entre o produto da empresa e o dos demais fabricantes. O iPhone reúne telefone celular, reprodutor de músicas e acesso à internet com a possibilidade de visitar as diversas páginas da Web. Entre outras inovações, o aparelho substituiu o teclado pela tecnologia chamada “one touch” (um toque). Com isso, a discagem e as mensagens são feitas diretamente na tela, por meio do toque do dedo do usuário. As novidades conquistaram o público, e não necessariamente por necessidade, como aconteceu na maioria dos casos do BlackBerry. Os fãs de novas tecnologias aderiram ao aparelho com rapidez e a marca de um milhão de iPhones comercializados foi atingido apenas dois meses após sua chegada ao mercado. O designer gráfico Felipe Reina, de 22 anos, afirma que o iPhone é um aparelho quase perfeito, mas que pequenos detalhes poderiam ser corrigidos. “Ele possui funções inacreditáveis, mas peca
em alguns aspectos básicos, como o fato de não possuir flash para fotografar”, pontua. Felipe complementa que para o desempenho profissional, ele não decepciona. “Há aplicativos extremamente úteis que facilitam e muito no dia a dia e há versões de softwares para edição de imagens, como o Photoshop, que ajudam bastante os designers quando não estão perto de um computador,” conclui. Recentemente, a Apple lançou o iPhone 4, último modelo do moderno telefone. Entre as novas funções estão comando de voz e organização de fotos por rostos, duas câmeras, resolução quatro vezes maior e com o mesmo tamanho de tela, além de grande nitidez em textos e imagens. Somam-se a isso sensores que ajustam o brilho da tela para melhorar a visualização e diminuir o consumo da bateria. O álbum de fotos apresenta muitas novidades e permite, por exemplo, que todas as imagens de uma mesma pessoa sejam agrupadas quando qualquer foto em que ela aparece for selecionada para visualização em tela. O novo iPhone possibilita ainda ter mais de um programa aberto ao mesmo tempo, assim, o usuário pode ouvir música enquanto lê os seus e-mails, por exemplo. A câmera principal tem cinco megapixels e é capaz de fazer filmes em alta definição e que podem ser editados no próprio aparelho. O novo iPhone é mais fino, menor e tem quase o mesmo peso que a versão anterior, o 3GS. Alguns usuários que experimentaram tanto o BlackBerry quanto o iPhone preferem o aparelho da Apple, conforme conta a diretora executiva Kelly Ribeiro, de 40 anos. Ela afirma que o iPhone possui um número maior de aplicativos e que sua interface com o usuário é mais simples. “Prefiro o iPhone por ser mais intuitivo e por possuir uma navegação fácil. Além disso, temos que considerar que é um objeto de cobiça pois confere maior status do que o BlackBerry”, analisa. LINHA DIRETA em revista 25
ECONOMIA
A economia pós-crise Especialistas falam sobre os resquícios da turbulência financeira Emilio Franco Jr. A crise econômica mundial, que estourou em setembro de 2008 com a quebra do banco Lehman Brothers, ainda traz efeitos preocupantes para os países europeus e os Estados Unidos. No Brasil, a crise foi menos sentida. Como apropriadamente afirmou na época o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a turbulência por aqui teve o efeito de uma marolinha. Porém, a instabilidade financeira que assola os mercados mundiais desde 2007, em função da bolha do crédito imobiliário americano, ainda incomoda muitas nações pelo globo. Para Paulo Rabello de Castro, presidente do Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio, a economia internacional vai muito mal. “Espero 26 LINHA DIRETA em revista
que o Brasil continue com essa sorte econômica no pós-Lula”, brincou. Para ele, se os maus ventos soprarem no País, a lógica voltará a ser a de antes: anos de pujança econômica alternados com anos menos favoráveis. O mercado, que funciona como uma espécie de rede interligada, é extremamente suscetível ao desempenho da maior economia do mundo, a norte-americana. O que desencadeou toda a crise mundial foi o fato de o banco central dos Estados Unidos (FED) ter estimulado durante muito tempo a compra de casas e apartamentos até mesmo por pessoas que não tinham renda para financiar um empréstimo. O FED, como é chamado o BC do Tio Sam, possibilitava a compra
de imóveis oferecendo como garantia o próprio imóvel.
Ben Bernanke, presidente do FED está em uma encruzilhada
ECONOMIA O problema dessa facilidade para compra, junto com a falta de crédito real da população para quitar suas dívidas e o aumento dos juros, é que os chamados “títulos podres” dominaram o mercado americano. “Em 2007 as coisas começaram a se deteriorar”, afirma William Handorf, professor de finanças na George Washington University. “É só olhar no tempo e ver como os imóveis foram perdendo valor real”, comenta. “O que eles valiam no papel não condizia com a realidade”, explica. William conta que a facilidade de compra foi o maior vilão. Os norte-americanos passaram a comprar mais de um imóvel, sem possuir reais condições para isso. Os preços das casas subiram tanto, e tão rapidamente, que as pessoas não tinham mais capacidade de honrar suas dívidas. Para se ter uma ideia, em 2002 e 2004, por exemplo, a valorização desses bens chegou a 15% e 19,9%, respectivamente. Já em 2006, o mercado começou a dar o sinal de alerta com o acréscimo de apenas 0,2%, e em 2008, veio o grande baque. Os imóveis começaram a perder o seu valor de mercado porque muitos americanos tiveram que devolver suas casas por não conseguirem pagá-las. A oferta de residências não condizia com a procura e o efeito foi a desvalorização de 19,1% dos imóveis. Isso foi ruim para os proprietários quites com as prestações, e não foi suficiente para reanimar o mercado. “As imobiliárias vendiam crédito para Wall Street e não se importavam em comercializar as casas para pessoas que não poderiam honrar seus compromissos com o pensamento de que empurrariam o problema para o mercado financeiro”, conta William. Após refletir sobre os erros do passado, William afirma que as perspectivas para o futuro ainda não são boas. “Eu acho que teremos um crescimento econômi-
co mundial anêmico nos próximos anos”, prevê. Paulo Rabello de Castro afirma que o quadro atual mostra que a qualidade da economia norte-americana está em cheque. “Não podemos confiar em modelos antigos para fazer um prognóstico acertado do que acontecerá em 2011”, pondera. Ultimamente, duas agências de classificação rebaixaram o status dos Estados Unidos do triplo para o duplo A. O Brasil seguiu caminho inverso, e teve o seu rating elevado para o chamado grau de investimento. “O otimismo deve ser mantido por aqui, já que temos a oportunidade de passar por um ciclo muito próspero”, acrescenta.
Henrique Meirelles ficou oito anos à frente do Banco Central
ano. A tendência, de acordo com a ata da última reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária), é a de que este
Apesar dos alertas quanto à recuperação da economia mundial, abalada com a crise no mercado grego que ameaçou contagiar a Europa, Cristiano Souza, do Banco Santander Brasil, não acha que o cenário futuro é tão preocupante. “É pouco provável que tenhamos um novo mergulho na crise, mas a situação ainda é grave”, pondera.
porcentual seja mantido pelo menos
O que se espera, explicam os economistas, é que os Estados Unidos aumentem a taxa básica de juros a longo prazo, algo que o Brasil já vem fazendo mesmo com o mercado nacional apontando para rumos bem diferentes do que a economia norteamericana. Enquanto uns acreditam ser esse um cuidado necessário, outros condenam o excesso de conservadorismo que prejudica o crescimento do País.
investir e crescer. Apesar deste cenário,
até o final do ano, já que o temor da inflação que impulsionava a alta não assusta mais. Mesmo assim, o Brasil segue com a maior taxa básica real de juros do mundo. A Força Sindical, por exemplo, considera o patamar atual “nefasto para o setor produtivo”. A crença é a de que o País está perdendo a chance de o Brasil parece estar forte contra as turbulências externas.
A taxa Selic, como é conhecida, está atualmente em 10,75% ao LINHA DIRETA em revista 27
NOTÍCIAS
Seminários de Aposentados reúnem cerca de 4 mil pessoas Neste ano, o Sintetel realizou os tradicionais seminários de aposentados em suas subsedes. Somados os participantes de todas as regionais, quase quatro mil ex-trabalhadores compareceram aos eventos. Neles, os aposentados puderam reencontrar os colegas do passado e aproveitar o dia para confraternizar com apresentações de teatro, música, entre outras atrações. Os diretores regionais se mostraram satisfeitos com os eventos que organizaram. “É complicado chegar a todos os aposentados, mas ficamos orgulhosos de ver o pessoal contente em saudar os companheiros de ontem e os amigos de sempre”, afirmou José Roberto Silva, de Ribeirão Preto. “Queria agradecer a todos que vieram ao evento e também à diretoria do Sintetel por proporcionar este momento”, discursou Ismar José Antônio, de São José do Rio Preto. Jorge Luiz Xavier, de Bauru, agradeceu a presença maciça dos aposentados. “Esse evento só é bom porque vocês estão sempre com a gente. Essa festa é para vocês”. Para Mauro Cava de Britto, do ABC, os aposentados representam um dos maiores patrimônios da categoria. “O Sintetel tem tradição em promover este tipo de evento, que tem por objetivo proporcionar momentos de alegria, nos quais todos possam rever os velhos amigos”. Genivaldo Barrichello, responsável pela subsede da Baixada Santista, afirmou que as empresas podem esquecer o trabalhador, mas o Sindicato não. Barrichello aproveitou ainda para anunciar que a empresa de teleatendimento Tivit está se instalando em Santos. “Vamos priorizar nossa categoria. Quem
tiver filhos, netos ou amigos interessados, envie o currículo para nossa subsede”, pediu. A subsede de Campinas foi a responsável por sediar o último seminário de aposentados do ano. “Sempre é um prazer desfrutar da companhia dos companheiros que ajudaram a construir a categoria aqui da região com muita luta e dedicação”, disse Elísio Rodrigues de Souza, diretor regional. O presidente do Sintetel, Almir Munhoz (foto), mostrou o apreço que sente por esses encontros. “Esse é um dos eventos do Sindicato que mais gosto de fazer. Vocês respondem aos nossos chamados e estão sempre conosco. Sinto orgulho”, completou.
Centro de Convívio dos Aposentados celebra 11 anos de existência No dia 19 de agosto, o Sintetel comemorou o 11º aniversário do Centro de Convívio dos Aposentados. Mais de 50 ex-trabalhadores do setor de telecomunicações compareceram ao Centro para celebrar a data. Os presentes acompanharam uma palestra sobre “Qualidade de Vida”, ministrada por Ivani Rentróia. Ela chamou a atenção para o recente destaque que os idosos têm tido na mídia e citou números expressivos sobre a terceira idade. De acordo com estimativas, em 2025 serão 1,1 bilhão de idosos no mundo. Atualmente, o Brasil já é o sexto país neste quesito. Além das diversas dicas passadas por Ivani, como os benefícios da uva para a pele, a palestrante ainda recomendou que os idosos se reúnam para contar histórias de vida uns aos outros como forma de exercitar a mente. 28 LINHA DIRETA em revista
NOTÍCIAS
Telefônica adotará marca Vivo
Festa Se Joga reúne público GLS da categoria O Sintetel organizou uma balada voltada para os trabalhadores gays e lésbicas da categoria. Batizada com o nome Se Joga!, a festa aconteceu na noite do dia 30 de setembro, em um espaço ao lado da sede do Sindicato. Cerca de 300 pessoas, em sua grande maioria de empresas de teleatendimento, compareceram e se divertiram ao som das músicas que costumam agitar a famosa noite de São Paulo. A Drag Queen Silvetty Montilla (foto) foi uma das principais atrações e divertiu o público com seu humor nada convencional. Os trabalhadores também tiveram seu espaço. O teleoperador da Atento Carlos Alberto Sandes Leite, por exemplo, apresentou-se no palco como Yslaina Top, personagem que vive há seis anos e com a qual já se apresentou inclusive em programas de televisão. Em clima de harmonia, os presentes aproveitaram para confraternizar sem a pressão da rotina de trabalho e deixaram a festa já querendo saber quando o Sintetel organizará a próxima.
O presidente da Telefônica, Antônio Carlos Valente, confirmou que a marca Telefônica será substituída pela Vivo em todos os ramos de negócio no Brasil. A alteração no nome da empresa de telefonia fixa e banda larga foi definida após a realização de uma pesquisa de mercado que mostrou a maior aceitação da marca Vivo, em comparação com a Telefônica, entre os brasileiros. Entretanto, as mudanças para o consumidor serão gradativas e lentas, de acordo com reportagem publicada pelo portal da revista Exame. O abandono da marca Telefônica não é uma decisão exclusiva para o mercado brasileiro. Na Europa, por exemplo, processo semelhante já aconteceu. Por lá, o nome Telefônica foi substituído pela marca Movistar, que chegou também a ser cogitada para o Brasil. Entretanto, a ideia foi abandonada pela constatação de que isso poderia acarretar em perdas de clientes e, por isso, a marca Vivo foi a escolhida.
Dieese divulga reajustes salariais do 1º semestre O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou em meados de agosto o balanço dos reajustes salariais dos primeiros seis meses de 2010. Segundo o estudo, aproximadamente 97% das 290 negociações salariais conseguiram reajustes iguais ou acima da inflação. O resultado teve um desempenho positivo em relação ao mesmo período do ano passado, quando o porcentual ficou em 93%. Entre os setores, a indústria teve os melhores resultados. Conforme divulgado, a região sudeste apresentou o desempenho mais robusto nas negociações, 36,9% maior em comparação com outras regiões do País. O Dieese acredita que o resultado deve ser ainda melhor neste segundo semestre de 2010. LINHA DIRETA em revista 29
CULTURA
Explosão musical multicolorida A chegada avassaladora do happy rock abalou as estruturas do cenário musical brasileiro. Mas será que a nova onda veio para ficar? Amanda Santoro com colaboração de Emílio Franco Jr.
Calças coloridas, camisetas estampadas, óculos retrôs e cabelos desalinhados que remontam os anos 80 da banda Blitz. Basta uma rápida olhadela para montar o visual dos grupos musicais enquadrados no happy rock (rock feliz, em tradução literal para o português). Mesmo que o primeiro contato com a nomenclatura seja feito agora, com esta reportagem, é provável que a situação seja inversamente proporcional quanto à menção de Restart, Cine e Hori. São essas três bandas que hoje encabeçam e exemplificam os rumos tomados pela música nacional, o que tem gerado divergências entre as novas gerações e os fãs dos subgêneros mais antigos do rock n’ roll. Rompendo com os padrões do emocore, estilo musical dominante nos últimos anos e amplamente divulgado no Brasil por NX Zero e Fresno, o happy rock tem uma levada mais alegre, ingênua e, por vezes, até mesmo infantil. Não é à toa que fãs do subgênero tenham idade média entre 13 e 18 anos, assim como a maioria dos integrantes das bandas admiradas por eles. “Gosto das letras e das melodias porque muitas vezes me identifico, mas o determinante é o ritmo”, revelou a estudante Natália Natale Cassiano, de 16 anos. “As letras das canções ainda falam de amor, mas de um jeito mais animado e positivo”, afirmou a jornalista Amanda Figueiredo, de 25 anos. Porém, apesar de concordarem que o happy rock veio para co30 LINHA DIRETA em revista
lorir e chacoalhar o tom tristonho do emocore, as similaridades de pensamento param por aí. “Para a minha geração, no entanto, não há como negar que a febre é mais uma modinha, e assim que os fãs ficarem mais velhos, toda essa histeria virará motivo de chacota”, completa Amanda. A jornalista Patricia Teixeira, também de 25 anos, rebate o argumento: “sou do tempo de Bacsktreet Boys e N’Sync, sempre gostei desse estilo de música, que tem tudo a ver comigo e com o que gosto de ouvir”. Apesar do caráter democrático da música, Patrícia destoa dos fãs regulares do happy rock. E é assim, entre amores e ódios, que o subgênero segue forte no cenário musical brasileiro e ganha a adesão da mídia para popularizá-lo. “Juntar pagodeiro com emo em festival de música é a forma mais desesperada, mas ao mesmo tempo economicamente esperta, de aumentar o apelo dessas bandas”, afirmou José Norberto Flesch, editor-adjunto de cultura e crítico do jornal Destak. Segundo Flesch, a massificação do gênero vem ainda acompanhada por uma tentativa de fugir dos rótulos. “Enquanto nas décadas anteriores os subgêneros eram vistos como positivos e revolucionários, mesmo que por tempo determinado, pertencer hoje a uma divisão gerada pela mídia tem forte caráter pejorativo”, complementou.
CULTURA
A história se repete Em meados dos anos 80, algumas publicações alternativas, como o fanzine Maximum RocknRoll e a Thrasher Skateboard Magazine, inventaram uma terminologia para as bandas de “emotional hardcore” que pipocavam em Washington, nos Estados Unidos. O emocore, então, foi a abreviatura óbvia designada ao que surgia naquele cenário musical. Em uma época em que o punk predominava e tudo era extremamente sério, politizado e reprimido, grupos como o Rites of Spring surgiam para falar de sentimentos que todo mundo vivia. “Entre as batidas nervosas do hardcore e os três acordes do punk rock, faltava algo que possibilitasse aos jovens refletir sobre as suas emoções e sentimentos sem precisar apelar para The Smiths ou Joy Division”, explicou Guilherme Piccin, guitarrista da extinta banda de hardcore Froid. O gênero musical, então, explodiu, sofreu modificações durante o seu percurso e virou febre nacional no Brasil algumas décadas depois. Em meados de 2006, quando o emo atingiu o seu ápice em terras nacionais, a produtora de televisão Raphaela Rodrigues falou sobre as modificações que acabaram por gerar um racha entre os fãs. “Normalmente tudo é deturpado. Só no trajeto entre Londres e Califórnia, o conceito de punk rock foi modificado. Por que do emocore não seria?”. Raphaela, que começou a escutar música emo nos anos 90 por influência do amigo Rodrigo Koala, vocalista do Hateen, ainda completa: “o mesmo público que ouvia emo também escutava hip hop e era ‘mano’ algum tempo atrás. Isso é a tal moda.”
Dica de cultura
Após toda a histeria dos fãs, hoje o emocore está em baixa e se vê em uma encruzilhada, quando seus principais representantes devem escolher caminhos alternativos para uma sobrevida. Os novos trabalhos de NXZero e Fresno expressam bem a mudança de ares tomada pelas bandas.
Modinha? Abordar paixões sem ofender o mais cético dos intelectuais ou o mais devotado dos fãs sempre é tarefa difícil. O cerne da questão, no entanto, é que o happy rock tem gerado um cabo de guerra constante entre esses dois grupos, que são muito mais plurais que a visão simplista adotada nas linhas acima. Como resultado direto, isso tem gerado um embate interessante e visível a qualquer um, principalmente aos usuários das redes sociais. A visão dos críticos, na voz de José Norberto Flesh, é saber dosar a penetração dessas novas bandas no mercado, pois isso pode definir as suas carreiras. “Lá na frente, anos depois, você pode se transformar em um respeitável Chico Buarque do rock ou em um questionável candidato a deputado”. Os fãs não deixam por menos e são enfáticos: “hoje em dia também é modinha falar que tudo é modinha”, contra-argumentou Natália Natale Cassiano. E para quem acredita que este cabo de guerra está longe de alcançar um fim pacífico, José Norberto deixa a dúbia frase: “a longevidade da carreira, no fundo, é definida pelas próprias bandas e pela resistência dos fãs”. Será, então, que o público do happy rock conseguirá segurar as novidades que virão nos próximos anos mantendo-se fiel ao subgênero?
Mamma Mia! chega aos palcos brasileiros
O musical Mamma Mia! estrou dia 11 de novembro no Teatro Abril, em São Paulo. Inspirado nas canções do grupo norte-americano ABBA, o espetáculo faz um passeio pela discografia da banda por meio da história de uma garota que, às vésperas de seu casamento, pretende descobrir a identidade do pai. Para isso, ela resolve convidar três homens do passado de sua mãe para a cerimônia que acontece em uma ilha paradisíaca grega. Na montagem brasileira, os figurinos e cenários são originais; já as letras das músicas foram aportuguesadas, como é habitual no teatro musical. Os grandes hits “Dancing Queen”; “The Winner Takes It All”; “Money, Money, Money” e “Take A Chance on Me” fazem parte do espetáculo. O elenco, também totalmente nacional, conta com nomes de peso, como é o caso de Saulo Vasconcellos e Kiara Sasso, atores referência em musicais desde “O Fantasma da Ópera”. Com 2h40 de duração, as apresentações ocorrem todas as quartas, quintas e sextas às 21h, sábados às 17h e 21h e domingos às 16h e 20h. Os preços estão salgados: variam de R$ 80,00 a R$ 250,00, mas estudantes e aposentados pagam meia-entrada. LINHA DIRETA em revista 31
EM PAUTA
Dodecálogo Apresento esta lista de tarefas para o movimento sindical aproveitar a fase boa da economia e da política.
João Guilherme *
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9.
Manter e ampliar a unidade de ação sindical entre as centrais, os setores do movimento, os funcionários públicos e os aposentados;
10. 11. 12.
Democratizar o movimento, qualificar as direções e os ativistas e melhorar o nosso relacionamento com os trabalhadores de outros países e com o movimento sindical internacional;
Reafirmar a política de valorização do salário mínimo, garantindo desde já o último grande reajuste do governo Lula; Reforçar as aposentadorias e invalidar o fator previdenciário; Conquistar aumentos salariais para que cresça a participação do salário na renda nacional; Garantir recursos de maneira permanente, estável, legal e democrática para as entidades sindicais; Participar do esforço nacional para o desenvolvimento com distribuição de renda, para que o Brasil cresça e para que se acelere o PAC-2; Conseguir a redução constitucional da jornada de trabalho, sem redução de salário, combinando-a com reduções negociadas; Difundir para milhões os resultados da Conclat, seguir adiante com a pauta de reivindicações aprovada e fortalecer a comunicação sindical; Valorizar o papel dos candidatos de base sindical eleitos, potencializando as suas ações nas Casas Legislativas e preparando, desde já, candidaturas municipais;
Fazer aprovar a Convenção 158 da OIT que proíbe a demissão imotivada e reforçar a estabilidade dos dirigentes e delegados sindicais; Fortalecer o Conselho Nacional de Relações do Trabalho com representantes qualificados, inclusive do funcionalismo público, e com assessorias técnicas. Mãos à obra. * João Guilherme Vargas Netto é assessor sindical do Sintetel e de outras entidades.
32 LINHA DIRETA em revista
PASSATEMPO
VocĂŞ sabia que...
0T ĂĄOJDPT BOJNBJT RVF FOYFSHBN FN PRETO e BRANCO sĂŁo os peixes abissais. 4VBT SFUJOBT QPTTVFN VN ĂĄOJDP QJHNFOUP 7JWFN FN MPDBJT DPN QPVDB ILUMINAĂ‡ĂƒO, onde nĂŁo existem cores para serem vistas. VisĂŁo FANTĂ STICA ĂŠ a de um tipo de CAMARĂƒO, cuja retina tem 12 tipos de pigmentos. NĂŁo ĂŠ possĂvel nem imaginar como esse animal enxerga. U N
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Solução
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Filme “My Giant� (no Brasil “Meu gigante favorito�)
Jå o GATO e o CACHORRO só têm dois pigmentos em suas retinas – o verde e o azul. Eles são daltônicos, porque estão adaptados para viver à NOITE. Precisam ver mais as formas do que os tons.
N E C T A R
Pessoas que sofrem desse distĂşrbio de crescimento tĂŞm vida muito curta.
Muitos insetos, aves, rĂŠpteis e peixes tĂŞm VISĂƒO para a luz ULTRAVIOLETA, porque possuem um PIGMENTO extra. Enxergam coisas para nĂłs invisĂveis. É o caso da ABELHA, que precisa ver o NÉCTAR nas flores.
O
O gigantismo ĂŠ uma anomalia hormonal. Na maioria das vezes causada pela glândula pituitĂĄria que provoca o crescimento anormal e excessivo do indivĂduo.
Os primatas, inclusive o ser HUMANO, enxergam do VERMELHO ao violeta, porque hå três pigmentos em suas retinas – VERDE, AZUL e vermelho.
Ăƒ
A altura normal de uma pessoa alta varia entre 1 metro e 95 a 2 metros e 10 centĂmetros. Os doentes de gigantismo podem atingir 2 metros e 40 e 2,75 centĂmetros.
A percepção da cor depende dos pigmentos da retina. Muitos animais percebem cores invisĂveis para os seres humanos.
A L U R
... pessoas que sofrem de gigantismo tĂŞm a vida muito curta?
Olho animal
Z
O mĂŠtodo ĂŠ vĂĄlido apenas para ajudar os ecologistas a encontrarem os principais pontos do planeta expostos Ă emissĂŁo de POPs.
Š Revistas COQUETEL 2010
Procure e marque, no diagrama de letras, as palavras em destaque no texto.
A
NĂŁo existe motivo para se desesperar, o estudo tambĂŠm afirma que os poluentes contidos no alimento nĂŁo oferecem riscos Ă saĂşde, pois contĂŠm pequenas quantidades de POPs.
www.coquetel.com.br
H L E B A B R A N C O A R T L U
O Greenpeace em parceria com a Universidade de Lancaster da Inglaterra descobriu um novo mÊtodo para medir a poluição do ar pela anålise da manteiga. Segundo os estudos, os POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes) são carregados pelo vento e acabam caindo nos pastos que servem de alimento às vacas, responsåveis pelo ingrediente que compþe aproximadamente 80% da manteiga, o leite. Os poluentes se acumulam na gordura do leite, que acaba em nossas mesas em forma de manteiga.
CAÇA-PALAVRAS
E D R E V I H V L U C I O U F M S H M A A P Ăƒ L I N N R O E E N T O O E T M A A T T I R Ç S A O O E Ăƒ T G N V O I A O T N E M G I P C O R R O H C A C A T E L O I V
... a manteiga Ê usada para medir poluição do planeta?
Fonte: Portal Terra
LINHA DIRETA em revista  33
ARTIGO DO LEITOR
Quando setembro chegar Quero olhar tudo com os olhos da primavera que virá! Tingir de verde a minha esperança desbotada Corroída, entregue as revezes do tempo... De azul o meu céu Que do nublado nem fez água Visto que água é vida plena Mas o nublado por si só, são reflexos de cinzas... Por um óculos cor de rosa Para enxergar os meus dias em cor. Quem sabe rosa acaba com a dor Dor negra da solidão, da noite vazia, desilusão...
Maria de Fátima Pereira Santos São Paulo - Capital
De setembro, a minha primavera particular: Quando todas as cores vão se misturar: O miolo amarelo da margarida O branco despetalado do bem me quer, nunca mal me quer... A simplicidade da flor do campo Que encanta os olhos e que, Não haverá necessidade De andar mil léguas para buscá-la. As rosas de todas as cores Que não precisam falar Simplesmente exalar seu perfume para enlevar e Acalmar a alma em carícias e delícias. De sol e céu muito claros Que iluminam as trevas do desamor. De luar que não só clareia mata e sertão Mas abre o coração de um pássaro em canção. Cantar a beleza e o colorido da vida, Despertar os sonhos adormecidos em cinzas de inverno. Acordar para viver, amar e acalentar sonhos Que tal como a esperança não pode morrer. Há de viver! Sempre com a expectativa que setembro vem E com ele a primavera que põe fim às carências Sejam elas de que natureza e proporções: De colo um infinito, De carinho, um tiquinho Um enlevo eterno de aconchego E de amor, um sem fim. Brincar e brindar a primavera Quando setembro chegar! 34 LINHA DIRETA em revista
Amigo Leitor Com a despedida do Zanganor, Linha Direta em Revista inaugura um novo espaço. A partir desta edição, reproduziremos contribuições de nossos leitores. Se você tem bons textos, faça como a Maria de Fátima, nossa primeira colaboradora: envie seu texto que a revista publicará. Mas preste atenção para as especificações que seguem abaixo. Participe!
Aproveite a oportunidade Envie seu texto para o e-mail: imprensa.sintetel@gmail.com Sua contribuição poderá vir em forma de crônica, poesia, contos ou dissertações.
Especificações: O texto deverá ter no mínimo 2.000 caracteres e, no máximo 3.500. Envie também um foto sua em alta resolução.
Pesquisa de Opinião sobre a Revista Na última edição de Linha Direta em Revista pedimos a você, leitor, que respondesse algumas questões a respeito de nossa publicação. O número de cartas-resposta recebido foi alto e surpreendeu a nossa redação. Abaixo, tornamos público o resultado obtido em relação aos seguintes tópicos apresentados: nível de escolaridade; editorias preferidas; linguagem e os meios de comunicação mais utilizados. Veja:
Escolaridade
Editorias preferidas
32 %
13 % 11 %
7%
9%
3% 11 %
13 %
7% 9%
57 %
Matérias sindicais Tecnologia Cultura Artigo Sintetel para criança
Meios de comunicação do Sindicato pelo qual se informa
Linguagem
13 %
3% 12 %
84 %
13 %
Entrevista Mulher Saúde Aposentados Matérias históricas
Fundamental Médio Superior
15 %
1% 2% 6%
1% 36 % 31 % Simples Complicada Normal Excessivamente culta
11 % Jornal em casa Jornal na porta da empresa Revista Site
Vídeos Mídias sociais Boletim digital