Gestão empresarial do Estado e pandemia – o caso da Itália

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Emilio Gennari – Educador Popular E-mail: epcursos@gmail.com

Gestão empresarial do Estado e pandemia – o caso da Itália

“Se eleito, fecharei o Estado para balanço e promoverei um choque de gestão!” Nas duas últimas décadas, frases como esta se tornaram recorrentes nos discursos dos candidatos aos cargos executivos da administração pública do nosso país. Ao ocultar o papel das injerências da iniciativa privada nos atrasos que marcam a viabilização dos planos de governo e nos problemas que impedem às políticas sociais de oferecerem os resultados esperados, estes senhores prometem o milagre de fazer mais, com menos recursos e sem demora. Acessível ao senso comum que conhece o rigor da gestão do trabalho na iniciativa privada, esta retórica simples e direta convence as pessoas de que os mecanismos próprios da eficiência empresarial são os mesmos que farão a máquina pública funcionar a contento. É assim que cortar gastos e otimizar o aproveitamento dos recursos disponíveis se impõem como medidas inquestionáveis que pintam com as cores da irracionalidade qualquer afirmação que desperte dúvidas em relação aos resultados a serem alcançados. Mas até a que ponto a eficiência típica da gestão empresarial pode ser aplicada aos serviços públicos? Economizar recursos é sempre tão benéfico como querem nos fazer crer? Ou a obsessão para cortar custos e melhorar o desempenho pode fragilizar estruturas que, para proteger a coletividade de eventos imprevisíveis, demandam investimentos dispendiosos e aparentemente desnecessários? Estas questões costumam permanecer sem resposta quando a gestão da saúde pública não enfrenta emergências que testam os limites de suas práticas. Em tempos de pandemia, porém, a racionalidade empresarial, pautada por custos mínimos e lucros máximos, enfrenta uma realidade que coloca em cheque a eficiência alardeada quando da sua implantação. Vejamos alguns exemplos. Transferir para a China a fabricação de materiais de segurança e equipamentos hospitalares possibilitou poupar muito dinheiro nas compras que abastecem os centros de saúde de todas as nações. Por outro lado, quando a produção de uma quantidade considerável de suprimentos passou a depender da capacidade instalada em um único país e o planeta se deparou com uma pandemia, as vantagens desta escolha se tornaram um tiro no pé. 1 Os atrasos no abastecimento expuseram os profissionais da saúde ao contágio do coronavírus e levaram os países a uma competição insana. Longe de oferecer solidariedade aos povos que contavam com menos recursos para enfrentar a Covid-19, as nações ricas

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Antes da pandemia, a China fornecia 48% dos equipamentos de proteção utilizados nos hospitais estadunidenses e 50% dos que a União Européia empregava em seus centros de saúde. Em função desta dependência, uma paralisação momentânea das linhas de produção do gigante asiático levaria a uma situação de desabastecimento nos países compradores. Em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/04/05/interna_internacional,1135868/alem-da-politica-eua-dependemde-insumos-medicos-da-china-para-combat.shtml Acesso em 18/09/2020


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