Síntese da Conjuntura - 30/04/2011

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Rio, 30.04.2011

Ernane Galvêas

O CARRO E OS BOIS Onde colocar os bois, no carro? Antes ou depois? O problema inflacionário é extremamente complicado, na conjuntura atual, devido à variedade de suas fontes, externas e internas. Mas uma coisa é certa: a elevação da taxa de juros SELIC, NÃO RESOLVE, apenas agrava o problema.

“não é possível baixar os juros SELIC enquanto a inflação não for drasticamente derrubada”. É óbvio que existem vários outros meios para refrear a inflação. E um deles é o corte nos gastos públicos. Há fontes de inflação às quais o BC não tem ação. Umas delas é a formação virtual de preços, através da desenfreada especulação que se desenvolve através de pseudos contratos de hedges, mecanismo praticado nas operações com derivativos nas BM&F mundiais.

O objetivo do Governo deve continuar sendo a meta de 4,5% de inflação anual. Não é que seja um sistema, mas é fundamental. Para tanto, deve-se ter uma meta de déficit fiscal nominal ZERO. Deve-se, também, controlar o ingresso de capitais externos especulativos, primeiro eliminando a isenção do Imposto de Renda sobre os rendimentos estrangeiros (Bolsa e Títulos Públicos), segundo, tributando os contratos de câmbio de prazo inferior a 2 anos. Finalmente, cabe proibir os as operações de carry trade, ou sejam de empréstimos meramente financeiros, como vêm fazendo o BNDES, o Banco do Brasil, o Bradesco, o Itaú e até mesmo o Tesouro Nacional. Para um País com mais US$ 320 bilhões de reservas cambiais, esses empréstimos são um completo non-sense.

É fundamental estabelecer um limite para essas operações, no mundo todo, inclusive no Brasil. Se isso não for feito, inclusive com a participação do FMI e do G-20, não há como estancar a especulação desenfreada e desregulada que deu origem à recente crise nos Estados Unidos e na Europa. O mercado financeiro e o mercado de capitais operam, hoje, como verdadeiros cassinos. Indústria

Outra providência absolutamente necessária é impedir que os empréstimos do BNDES, CEF e Banco do Brasil cresçam a um ritmo superior a 10% ao ano. Eles são a fonte matriz do crédito, que extravasa e se derrama sobre o sistema privado. Fechar a torneira dos bancos públicos significa fechar a dos bancos privados.

Alguém aconselhou mal Presidente Dilma a afirmar que

Segundo a CNI, a produção industrial está reduzindo o ritmo de crescimento, com queda, no 1º trimestre, em minerais não metálicos, plásticos, refino de petróleo, madeira, limpeza e perfumaria, têxteis, móveis e bebidas. Em São Paulo, a FIESP informa que houve elevação de 4,4% no INA, de janeiro a março, com 83,2% de utilização da capacidade industrial.

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Como assinalado anteriormente, a indústria automobilística ainda vem


A Fecomércio-RS inaugurou um simulador de impostos para o empresariado gaucho.

sustentando a alta, com aumento de 7,9% na produção do 1º trimestre, embora com queda de 0,4% em março. Entretanto, a Fenabrave informa que houve alta de 4,26% nas vendas da 1ª quinzena de abril, sobre o mesmo período de 2010.

Em São Paulo, segundo a ACSP, as consultas de compras a prazo na 1ª quinzena de abril cresceram 6,4%, mas no 1º trimestre ainda registram queda de 0,9%.

No 1º trimestre, a produção de aço bruto subiu 6,2%, com aumento de 5,6% nas vendas e 74,1% no valor das exportações.

A última pesquisa da CNC revela queda de 1,4% no consumo de março para abril, com alta de 1,7% em relação a abril/10 e crescimento de 7,1% para todo ano. O Banco Central informou que a inadimplência das pessoas físicas atingiu 5,9% em março.

Em São Paulo, em fevereiro, a venda de imóveis novos recuou 34,6%, sobre fevereiro/10, mas registrou alta de 125,2% em relação a janeiro. Os lançamentos aumentaram mas as vendas diminuíram. O setor imobiliário lida com a falta de terrenos, mão de obra qualificada e materiais de construção. Estima-se que os investimentos do setor deverão cair 4,7% em 2011 (FIESP).

Agricultura Apesar do impacto negativo de La Niña, que colocou em estado de emergência vários municípios gaúchos, devido à chuva, a safra de grãos 2010/2011 atingiu 157,4 milhões de tons., com alta de 5,5%. A produção de soja alcançou 72,3 milhões de tons. e a de algodão 3,16 milhões de tons.

Fato auspicioso: a Petrobrás vendeu um milhão de barris do poço de Tupi (Lula), o primeiro extraído do PréSal. Negativo: as entregas de aviões a jato da Embraer tiveram queda de 31,7%, ante igual período de 2010.

São excelentes as perspectivas da próxima safra de laranjas no Estado de São Paulo, com produção de 350 milhões de caixas de 40,8 kgs., podendo chegar a mais 25% da safra passada (300 milhões), que foi afetada pelo clima e pelos fungos. Entretanto, também em São Paulo, a próxima safra de cana deverá sofrer queda de 4 milhões de tons.

Comércio Segundo a Serasa, as vendas do comércio na Páscoa cresceram 9,1% sobre as do ano anterior, que tiveram alta de 0,7%. Em março, as vendas reais nos supermercados cresceram 1,94% sobre março/10 e 9,28% sobre fevereiro, acumulando no trimestre 2,79% (Abras).

A Advocacia Geral da União (AGU) emitiu Parecer restringindo a compra de terras por empresas estrangeiras. A medida está sendo contestada pela Agroconsult, MB Agro e ABMR&A, que consideram que a presença de estrangeiros não afeta a soberania do País e pode prejudicar a

O mercado aéreo doméstico cresceu 22,5% em março sobre março/10, acumulando +16,9% no 1º trimestre. Nos vôos internacionais, o tráfego das empresas brasileiras subiu 29,6%, acumulando 17,2% no ano. 2


Setor Financeiro

expansão do agronegócio brasileiro (J.Com. 19/4/11).

A julgar pelas estatísticas de março, as medidas adotadas pelas Autoridades Monetárias em dezembro/10 ainda não surtiram pleno efeito. O total de empréstimos do sistema financeiro aumentou 2,7% no 1º trimestre, acumulando alta de 20,7% em 12 meses. Paradoxalmente, o BNDES, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e outros continuam levantando empréstimos no exterior (tipo carry trade) aumentando a liquidez interna que o Banco Central se esforça para reduzir. Um total paradoxo, principalmente numa situação em que o País não sabe o que fazer com quase US$ 330 bilhões de reservas cambiais.

Mercado de Trabalho Em março, segundo o CAGED, foram criados 92,68 mil postos de trabalho, ante 315 mil de fevereiro (71%), resultado de admissões de 1,765 milhão contra 1,673 milhão de demissões. No trimestre, o total de admissões líquidas foi de 584 mil, comparado com 708 mil do 1º trimestre de 2010. Segundo o CAGED, as demissões foram maiores no setor sucroalcooleiro, na agropecuária, no comércio e na construção civil. Em menor escala, houve redução no serviço público, na indústria de transformação e no setor Serviços, com alta na hotelaria e restaurantes (+8,5 mil).

A liquidez doméstica, medida em termos monetários (M1) atingiu R$ 1.188,7 bilhões em março, um acréscimo de R$ 215,6 bilhões desde março/10 (+17,8% em 12 meses). Em contrapartida, as reservas bancárias caíram R$ 8,9 bilhões e os depósitos compulsórios dos bancos aumentaram R$ 17,1 bilhões, ante dezembro/10.

Segundo o IBGE, a taxa de desemprego atingiu 6,5% em março ante 6,4% em fevereiro. A massa de rendimentos do trabalho subiu 6,7% nos últimos 12 meses, resultado de +2,4% na ocupação e +3,8% nos rendimentos reais. Na região metropolitana de São Paulo, o emprego formal cresceu 6,9% em janeiro, sobre janeiro/10, segundo a Fecomércio-SP.

Há uma tendência de redução no ritmo da expansão monetária, na base comparativa de 12 meses: em março de 2010, o total de M1 expandiu à taxa de +19,3%, contra +9,2% em março/11; M2 de +18,8% caiu para +9,9% e M4 de +18,1% para +17,1%. A maior alta se deu na captação de poupanças: R$ 58 bilhões, em 12 meses (+17%).

De acordo com o DIEESE, a taxa de desemprego na região metropolitana de São Paulo, em março, fechou em 11,3% contra 10,5% em janeiro e 10,6% em fevereiro.

Inflação

As principais centrais sindicais dos trabalhadores estiveram com o presidente da Câmara dos Deputados, reforçando a reivindicação para a redução da carga de trabalho, de 44 horas semanais para 40 horas. A PEC sobre a matéria vai ser votada pelo Plenário da Câmara.

O Banco Central continua pressionado pelo mercado, tendo aumentado a taxa SELIC para 12% na última reunião do COPOM, com efeito praticamente nulo sobre as fontes atuais da inflação. Em compensação, esse aumento dos juros continua sobrecarregando as contas do Tesouro, 3


Um fato positivo foi a redução dos gastos nominais da União em 17,9% sobre março/10. No 1º trimestre, a arrecadação federal somou R$ 226,2 bilhões, um aumento real de 12,0% ou sejam R$ 35,7 bilhões.

aumentando o déficit fiscal e reduzindo os recursos que poderiam servir para reduzir os gastos de custeio ou investir em projetos essenciais da infraestrutura. Por outro lado, continua beneficiando os investidores de renda fixa, cujo efeito-riqueza aumenta a propensão a consumir, no sentido contrário do que objetiva o Banco Central.

A Presidente Dilma criou, em abril, o Forum de Gestão Governamental, com o objetivo de melhorar a eficiência da máquina administrativa. O coordenador do Fórum será o empresário Jorge Gerdau Johannpeter.

A julgar pelo IGP-M/FGV, a inflação teve uma queda substancial de março (+0,62%) para abril (+0,45%), mas o IPCA-15 teve alta de 0,6% para 0,77% e o IPC-S, praticamente inalterado, ficou em 0,80%, na 3ª prévia do mês.

Setor Externo O comércio exterior do Brasil continua em franca expansão: as exportações atingiram US$ 20,2 bilhões em abril e as importações US$ 18,3 bilhões, acumulando no ano US$ 71,4 bilhões (+31,3%) e US$ 66,4 bilhões (+27,1%), respectivamente. O saldo da balança comercial atingiu US$ 5,0 bilhões, quase o dobro do resultado alcançado em abril/10. No 1º trimestre, os investimentos estrangeiros diretos (IED) alcançaram US$ 14,3 bilhões, ante US$ 5,9 bilhões até março/10 (+42,4%).

Nos últimos 12 meses, o aluguel residencial em São Paulo teve alta de 15,25%. Segundo o presidente do BC, “o País está no meio de um ciclo de aperto monetário”, o que significa que a SELIC vai continuar subindo. De outro lado, a Presidente Dilma reafirma: “combate à inflação não significará desemprego”. Setor Fiscal

As reservas internacionais chegaram a US$ 317,2 bilhões em março e US$ 326,5 bilhões em abril, enquanto a dívida externa, em março, atingiu US$ 381,3 bilhões, inclusive US$ 102,1 bilhões de intercompanhias.

Continua desequilibrada a situação fiscal. No 1º trimestre, a economia orçamentária (superávit primário) chegou a R$ 39,3 bilhões para cobrir R$ 59,0 bilhões de juros, resultando em um déficit nominal de R$ 19,7 bilhões, contra R$ 26,3 bilhões em igual período de 2010. Os juros cresceram R$ 13,5 bilhões.

No Balanço de Pagamentos, a conta líquida de Serviços, no 1º trimestre, atingiu o saldo negativo de US$ 7,8 bilhões e a de Rendas menos US$ 10,9 bilhões, registrando déficit de US$ 14,6 bilhões em Transações Correntes.

A dívida pública bruta ascendeu a R$ 2.112,9 bilhões, R$ 29,5 bilhões superior a fevereiro e R$ 101,4 bilhões acima de dezembro/10. A dívida mobiliária caiu R$ 17,9 bilhões de dezembro/10 a fevereiro/11, mas voltou a subir em março (+7,6 bilhões).

O cenário internacional pouco se alterou nos últimos meses. O G-20 se 4


preocupa com os fortes superávits de alguns países, como a China e a Alemanha, que acumulam espantosas reservas internacionais.

Na China, o PIB cresceu 9,7% no 1º trimestre, sinalizando uma situação típica de superaquecimento, com fortes pressões inflacionárias. O Governo chinês está programando fortes investimentos no exterior, mediante uso de suas excessivas reservas em dólares. Segundo Nouriel Roubini (18/4/11), não há boas perspectivas de continuidade de alto crescimento em uma economia que poupa 50% do PIB, ou seja, tem um consumo inferior a 50%.

Os Estados Unidos continuam lutando com alto nível de desemprego, mas o crescimento anual do PIB segue em nível de 3%, embora a taxa registrada no 1º trimestre tenha sido da ordem de 1,8%. É impressionante, porém, o satisfatório comportamento das Bolsas de Valores, operando em níveis recordes de valorização. Desastrosa foi a decisão da agência Standard & Poor’s em reduzir a classificação dos Estados Unidos de estável para negativa.

Chama a atenção, nos últimos meses, a elevada cotação do ouro, que atingiu US$ 1.556 a onça troy, em fins de abril, contra a média de US$ 1.350 em janeiro, ou seja uma alta de 20% em quatro meses. Admite-se que essa alta é devido à compra de ouro pelos Bancos Centrais que possuem altas reservas em dólares, inclusive o Brasil.

Na Europa, a situação não é diferente, pela falta de solução à difícil situação da Grécia, Irlanda e Portugal. A Grécia é a “maçã podre” da Europa. Segundo noticiário da imprensa, a Islândia resolveu seu problema fiscal, via “calote”. O desemprego na Espanha atingiu 5 milhões de trabalhadores (21,3%).

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