Publicação Oficial do Sistema Findes • Set/Out 2016 • Distribuição gratuita • nº 325 • IMPRESSO
Entrevista Ricardo Ferraço e o cenário político brasileiro Inovação O sucesso das startups
Especial Agenda para o Brasil voltar a crescer
Boas perspectivas Empresários acreditam em um 2017 diferente
Expediente
Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo – Findes Presidente: Marcos Guerra 1º vice-presidente: Gibson Barcelos Reggiani Vice-presidentes: Aristóteles Passos Costa Neto, Benízio Lázaro, Clara Thais Rezende Cardoso Orlandi, Elder Elias Giordano Marim, Egidio Malanquini, Houberdam Pessotti, Leonardo Souza Rogerio de Castro, Manoel de Souza Pimenta Neto, Sebastião Constantino Dadalto 1º diretor administrativo: José Augusto Rocha 2º diretor administrativo: Sérgio Rodrigues da Costa 1º diretor financeiro: Tharcicio Pedro Botti 2º diretor financeiro: Ronaldo Soares Azevedo 3º diretor financeiro: Flavio Sergio Andrade Bertollo Diretores: Almir José Gaburro, Atilio Guidini, Elias Cucco Dias, Emerson de Menezes Marely, Ennio Modenesi Pereira II, Jose Carlos Bergamin, José Carlos Chamon, Luiz Alberto de Souza Carvalho, Luiz Carlos Azevedo de Almeida, Luiz Henrique Toniato, Loreto Zanotto, Mariluce Polido Dias, Neviton Helmer Gasparini, Ocimar Sfalsin, Ortêmio Locatelli Filho, Ricardo Ribeiro Barbosa, Samuel Mendonça, Silésio Resende de Barros, Tullio Samorini, Vladimir Rossi Conselho Fiscal Titulares: Bruno Moreira Balarini, Ednilson Caniçali, José Angelo Mendes Rambalducci Suplentes: Adenilson Alves da Cruz, Antonio Tavares Azevedo de Brito, Fábio Tadeu Zanetti Representantes na CNI Titulares: Marcos Guerra, Gibson Barcelos Reggiani Suplentes: Lucas Izoton Vieira, Leonardo Souza Rogerio de Castro Superintendente corporativo: Marcelo Ferraz Goggi Serviço Social da Indústria – Sesi Presidente do Conselho Regional: Marcos Guerra Representantes do Ministério do Trabalho Titular: Alcimar das Candeias da Silva Suplente: aguardando nome Representante do Governo: Orlando Bolsanelo Caliman Representantes das atividades industriais Titulares: Sebastião Constantino Dadalto, Houberdam Pessotti, Jose Carlos Bergamin, Valkinéria Cristina Meirelles Bussular Suplentes: Sergio Rodrigues da Costa, Gibson Barcelos Reggiani, Eduardo Dalla Mura do Carmo, Luiz Carlos Azevedo de Almeida Representantes da categoria dos trabalhadores da indústria Titular: Luiz Alberto de Carvalho Suplente: Lauro Queiroz Rabelo Superintendente: Luis Carlos de Souza Vieira Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai Presidente do Conselho Regional: Marcos Guerra Representantes das atividades industriais Titulares: Benízio Lázaro, Rogério Pereira dos Santos, Neviton Helmer Gasparini, Manoel de Souza Pimenta Neto Suplentes: Ronaldo Soares Azevedo, Wilmar Barros Barbosa, Luciano Raizer Moura, Pablo José Miclos Representantes do Ministério do Trabalho Titular: Alcimar das Candeias da Silva Suplente: aguardando nome Representante do Ministério da Educação Titular: aguardando indicação do MEC Suplente: Ronaldo Neves Cruz Representantes da categoria dos trabalhadores da indústria Titular: Vandercy Soares Neto Suplente: aguardando indicação da UGT Diretor regional: Luis Carlos de Souza Vieira
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Indústria Capixaba – Findes
Centro da Indústria no Espírito Santo – Cindes Presidente: Marcos Guerra 1º vice-presidente: Gibson Barcelos Reggiani 2º vice-presidente: Aristóteles Passos Costa Neto 3º vice-presidente: Houberdam Pessotti Diretores: Cristhine Samorini, Ricardo Augusto Pinto, Edmar Lorencini dos Anjos, Altamir Alves Martins, Rogério Pereira dos Santos, Zilma Bauer Gomes, Alejandro Duenas, Ana Paula Tongo da Silva, Antonio Tavares Azevedo de Brito, Bruno do Espírito Santo Brunoro, Celso Siqueira Júnior, Eduarda Buaiz, Gervásio Andreão Júnior, Helio de Oliveira Dórea, Julio Cesar dos Reis Vasconcelos, Raphael Cassaro Machado Conselho Consultivo: Oswaldo Vieira Marques, Helcio Rezende Dias, Sergio Rogerio de Castro, José Bráulio Bassini, Fernando Antonio Vaz, Lucas Izoton Vieira, Marcos Guerra Conselho Fiscal: Joaquim da Silva Maia, Gilber Ney Lorenzoni, Hudson Temporim Moreira, Ennio Edmyr Modenesi Pereira, Marcondes Caldeira, Sante Dassie Instituto de Desenvolvimento Educacional e Industrial do Espírito Santo – Ideies Presidente do Conselho Técnico do Ideies: Marcos Guerra Membro representante da Diretoria Plenária da Findes: Egidio Malanquini Membro representante do setor industrial: Benízio Lázaro Membro efetivo representante do Senai-ES: Luis Carlos de Souza Vieira Membro efetivo representante do Sesi-ES: Yvanna Miriam Pimentel Moreira Representantes do Conselho Fiscal - Membros efetivos: Tullio Samorini, José Carlos Chamon, José Domingos Depollo Representantes do Conselho Fiscal - Membros suplentes: José Ângelo Mendes Rambalducci, Luciano Raizer Moura, Houberdam Pessotti Representante da comunidade científica Acadêmica e Técnica: João Luiz Vassalo Reis Diretor-executivo do Ideies: Antonio Fernando Doria Porto Instituto Euvaldo Lodi – IEL Diretor-regional: Marcos Guerra Conselheiros: Luis Carlos de Souza Vieira, Maria Auxiliadora de Carvalho Corassa, Lúcio Flávio Arrivabene, Geraldo Diório Filho, Sônia Coelho de Oliveira, Rosimere Dias de Andrade, José Bráulio Bassini, Diretor da Findes para assuntos do IEL: Aristóteles Passos Costa Neto Conselho Fiscal: Egidio Malanquini, Tharcicio Pedro Botti, Loreto Zanotto e Rogério Pereira dos Santos Superintendente: Fabio Ribeiro Dias Instituto Rota Imperial – IRI Diretor-geral: Marcos Guerra Diretores: Adenilson Alves da Cruz, Benízio Lázaro, Jose Carlos Bergamin, Edmar Lorencini dos Anjos Conselho Deliberativo Titulares: Marcos Guerra, Baques Vladimir Carvalho Sanna, Celso Siqueira Júnior, Clara Thais Rezende Cardoso Orlandi, José Augusto Rocha, Tharcicio Pedro Botti Suplentes: Maely Guilherme Botelho Coelho, Eustáquio Palhares, Flavio Sergio Andrade Bertollo, Gervásio Andreão Junior, Henrique Angelo Denicoli, Elias Cavalho Soares Membros natos: Aristóteles Passos Costa Neto, Ernesto Mosaner Júnior, Lucas Izoton Vieira, Sergio Rogerio de Castro Titulares: Associação Montanhas Capixabas Turismo e Eventos, Suplentes: Cristhine Samorini, Levi Tesch, Luiz Carlos Azevedo de Almeida, Tullio Samorini, Valter Braun, Associação Turística de Pedra Azul, Fundação Máximo Zandonadi, Agrotures - Associação de Agroturismo do Estado do Espírito Santo Conselho Fiscal Efetivos: Egidio Malaquini, Sergio Brambilla, Altamir Alves Martins Suplentes: Antonio Tavares Azevedo de Brito, Mariluce Polido Dias, Raphael Cassaro Condomínio do Edifício Findes (Conef) Presidente do conselho: Marcelo Ferraz Goggi
Câmaras Setoriais Industriais e Conselhos Temáticos (Consats) Coordenador geral: Gibson Barcelos Reggiani Câmaras Setoriais Industriais Câmara Setorial das Indústrias de Alimentos e Bebidas Presidente: Claudio José Rezende Câmara Setorial das Indústrias de Base e Construção Presidente: Wilmar dos Santos Barroso Filho Câmara Setorial da Indústria de Materiais da Construção Presidente: Houberdam Pessotti Câmara Setorial das Indústrias de Mineração Presidente: aguardando posse Câmara Setorial da Indústria Moveleira Presidente: Luiz Rigoni Câmara Setorial da Indústria do Vestuário Presidente: Jose Carlos Bergamin Conselhos Temáticos Conselho Temático de Assuntos Legislativos (Coal) Presidente: Paulo Alfonso Menegueli Conselho Temático de Comércio Exterior (Concex) Presidente: Marcílio Rodrigues Machado Conselho Temático de Desenvolvimento Regional (Conder) Presidente: Áureo Vianna Mameri Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra) Presidente: Sebastião Constantino Dadalto Conselho Temático de Meio Ambiente (Consuma) Presidente: Wilmar Barros Barbosa Conselho Temático de Micro e Pequena Empresa (Compem) Presidente: Flavio Sergio Andrade Bertollo Conselho Temático de Política Industrial e Inovação Tecnológica (Conptec) Presidente: Franco Machado Conselho Temático de Relações do Trabalho (Consurt) Presidente: Haroldo Olívio Marcellini Massa Conselho Temático de Responsabilidade Social (Cores) Presidente: Jefferson Cabral Conselho Temático de Educação (Conedu) Presidente: Luciano Raizer Moura Conselho Temático de Energia (Conerg) Presidente: Nélio Rodrigues Borges Conselho Temático de Economia Criativa (Conect) Presidente: José Carlos Bergamin Diretorias e Núcleos Regionais Diretoria da Findes em Anchieta e região Vice-presidente institucional da Findes: Fernando Schneider Kunsch Diretoria da Findes em Aracruz e região Vice-presidente institucional da Findes: João Baptista Depizzol Neto Núcleo da Findes em Barra de São Francisco e região Vice-presidente institucional da Findes: não definido Diretoria da Findes em Cariacica e Viana Vice-presidente institucional da Findes: Rogério Pereira dos Santos Diretoria da Findes em Cachoeiro de Itapemirim e região Vice-presidente institucional da Findes: Áureo Vianna Mameri Diretoria da Findes em Colatina e região Vice-presidente institucional da Findes: Manoel Antonio Giacomin Núcleo da Findes em Guaçuí e região: Vice-presidente institucional da Findes: Bruno Moreira Balarini Diretoria da Findes em Linhares e região Vice-presidente institucional da Findes: Paulo Joaquim do Nascimento Núcleo da Findes em Nova Venécia e região Vice-presidente institucional da Findes: José Carnieli Núcleo da Findes em Santa Maria de Jetibá e região Vice-presidente institucional da Findes: Denilson Potratz Núcleo da Findes em São Mateus e região
Vice-presidente institucional da Findes: Nerzy Dalla Bernardina Junior Diretoria da Findes em Serra: Vice-presidente institucional da Findes: José Carlos Zanotelli Núcleo da Findes em Venda Nova do Imigrante e região Vice-presidente institucional da Findes: Sérgio Brambilla Diretoria da Findes em Vila Velha Vice-presidente institucional da Findes: Vladimir Rossi Diretoria da Findes em Vitória Vice-presidente institucional da Findes: não definido Diretores para Assuntos Específicos e das entidades Diretor para Assuntos do Fortalecimento Sindical e da Representação Empresarial: Egidio Malanquini Diretor para Assuntos Tributários: Leonardo Souza Rogerio de Castro Diretor para Assuntos de Capacitação e Desenvolvimento Humano: Clara Thais Rezende Cardoso Orlandi Diretor para Assuntos de Marketing e Comunicação: Eugênio José Faria da Fonseca Diretor para Assuntos de Desenvolvimento da Indústria Capixaba: Paulo Roberto Almeida Vieira Diretor para Assuntos de Políticas Públicas Industriais: Paulo Alexandre Gallis Pereira Baraona Diretor para Assuntos de Relações Internacionais: Rodrigo da Costa Fonseca Diretor para Assuntos do IEL: Aristóteles Passos Costa Neto Diretor para Assuntos do Ideies/CAS: Egidio Malanquini Diretor para Assuntos do Cindes: Aristóteles Passos Costa Neto Diretor para Assuntos do IRI: Elias Carvalho Soares Diretor para Assuntos do Sesi: José Carlos Bergamin Diretor para Assuntos do Senai: Benízio Lázaro Sindicatos da Findes e respectivos presidentes Sinduscon: Paulo Alexandre Gallis Pereira Baraona | Sindipães: Luiz Carlos Azevedo de Almeida Sincafé: Egidio Malanquini | Sindmadeira: Luiz Henrique Toniato Sindimecânica: Ennio Modenesi Pereira II | Siges: Maria Angela Demoner Colnago Sinconfec: Clara Thais Rezende Cardoso Orlandi Sindibebidas: Sérgio Rodrigues da Costa | Sindicalçados: José Augusto Rocha Sindifer: Lúcio Dalla Bernardina |Sinprocim: Raphael Cássaro Machado Sindutex: Mariluce Polido Dias | Sindifrio: Evaldo Mario Lievore Sindirepa: Eduardo Dalla Mura do Camo | Sindicopes: José Carlos Chamon Sindicacau: Gibson Barcelos Reggiani | Sindipedreiras: Loreto Zanotto Sindirochas: Tales Pena Machado | Sincongel: Vladimir Rossi Sinvesco: Fábio Tadeu Zanetti | Sindimol: Alvino Pessoti Sandis Sindmóveis: Ortêmio Locatelli Filho | Sindimassas: Levi Tesch Sindiquímicos: Jose Carlos Zanotelli | Sindiolarias: Ednilson Caniçali Sindinfo: Luciano Raizer Moura| Sindipapel: Glaucio Antunes de Paula Sindiplast: Gilmar Guanandy Régio | Sindibores: Valkineria Cristina Meirelles Bussular Sinvel: Delson Assis Cazelli | Sinconsul: Bruno Moreira Balarini Sindirecicle-ES: Romário José Correa de Araújo Sindilates: Claudio José Rezende Sindipesca: Mauro Lúcio Peçanha de Almeida | Sindividros: Arisson Rodrigues Ferreira Sindicigi: Fernando Otávio Campos da Silva | Sinaes: Carlos Magno Correa Santos Sindijoias: Marco Aurélio Endlich Ribeiro | Sindifabra: José Waldyr Machado Vasconcelos Júnior | Sinerges: Fabrício Cardoso Freitas Set/Out 2016 • 325
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Nesta Edição
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CENÁRIO Com perdas geradas pela crise econômica brasileira e sendo particularmente atingida pelas consequências da paralisação da Samarco, a produção industrial capixaba bateu recordes negativos no primeiro semestre do ano. No entanto, empresários já vislumbram um 2017 com esperança de crescimento. Saiba as razões do otimismo.
ENTREVISTA
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O senador Ricardo Ferraço fala sobre os desdobramentos do impeachment da presidente Dilma Rousseff para o Brasil e detalha sua percepção sobre o Espírito Santo no atual cenário de crise que assola o país. O parlamentar também aborda como as reformas previdenciária e trabalhista são essenciais para a reconstrução da economia e a retomada do crescimento.
ESPECIAL Após ouvir lideranças industriais de todo o país, a CNI reuniu 36 medidas fundamentais que devem ser implementadas pelo Governo Federal, com o objetivo de ajudar o Brasil a superar a atual crise econômica. Confira as ações listadas, que passam por reformas na legislação trabalhista e tributária, ampliação do comércio exterior, extensão do crédito, concessões em infraestrutura e redução de impostos e burocracia para as empresas.
INDÚSTRIA 30 Em meio ao drama de estar em uma das piores secas de sua história, o Espírito Santo segue buscando alternativas para superar os impactos da falta de água. Veja como a indústria, a agricultura e a sociedade como um todo são atingidas pela longa estiagem e a expectativa para os próximos meses.
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Indústria Capixaba – Findes
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Edição nº 325 Set/Out 2016
INOVAÇÃO O mundo está em plena transformação, sendo redesenhado com base na tecnologia. E talvez o melhor exemplo dessas mudanças atenda pelo nome de startups, empresas focadas em inovação, com grande e rápida rentabilidade. A despeito das incertezas da economia, elas seguem crescendo no Estado e no país.
SUSTENTÁVEL 38 Fundamental na economia capixaba e grande gerador de emprego e renda, o setor de rochas ornamentais segue dando exemplos no que se refere à conscientização e aos investimentos em práticas sustentáveis. As empresas do Estado se transformaram em destaque na preservação do meio ambiente.
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Publicação oficial do Sistema Findes Set/Out – 2016 • nº 325 Conselho Editorial – Marcos Guerra, Gibson Barcelos Reggiani, Sebastião Constantino Dadalto, Aristóteles Passos Costa Neto, Luis Carlos de Souza Vieira, Elcio Alves, Clara Thais Rezende Cardoso Orlandi, Jose Carlos Bergamin, Egidio Malanquini, Benízio Lázaro, Eugênio José Faria da Fonseca, Annelise Lima, Fabio Ribeiro Dias, Antonio Fernando Doria Porto, Marcelo Ferraz Goggi, Cintia Dias e Breno Arêas. Jornalista responsável – Breno Arêas (MTB 2933/ES) Apoio técnico – Assessoria de Comunicação da Findes Jornalistas: Evelyn Trindade, Fábio Martins, Fernanda Neves, Milan Salviato, Natália Magalhães e Rafael Porto Gerente de Marketing: Cintia Dias Coordenação: Breno Arêas
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Produção Editorial
GESTÃO O empoderamento feminino e a igualdade de direitos ganham cada vez espaço por meio de questionamentos sobre as diferenças salariais e a ocupação de cargos e de áreas antes restritas aos homens, como os pátios industriais. Conheça o movimento que debate o papel da mulher na sociedade e no mercado de trabalho.
Coordenação Editorial: Mário Fernando Souza Gerente de produção: Cláudia Luzes Editoração: Michel Sabarense Apoio: Mara Cimero Copidesque: Márcia Rodrigues Textos: Ana Lucia Ayub, Andrea Nunes, Fernanda Zandonadi, Gustavo Costa, Roberto Teixeira, Thiago Lourenço e Weber Caldas Fotografia: Jackson Gonçalves, fotos cedidas, arquivos do Sistema Findes e Next Editorial Depto. Comercial: 27 2123.6530– comercial@lineapublicacoes.com.br
Impressão
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Editorial
Iniciando a retomada
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processo de recuperação do Brasil ganha mais força e apoio a cada dia. Os planos apresentados e os temas debatidos nos primeiros meses de gestão de Michel Temer contrastam com os rumos adotados pela ex-presidente Dilma Rousseff. Com foco no ajuste fiscal, no crescimento econômico e na geração de empregos, o novo chefe do Executivo trabalha pela recuperação da credibilidade do país, elevando o grau de confiança e a expectativa de investidores, de empreendedores e da sociedade. Superada a briga política em torno do processo de impeachment, o Congresso volta a discutir projetos que ampliarão a competitividade nacional no cenário mundial. A reforma da Previdência, a regulamentação da terceirização e a modernização das leis trabalhistas são alguns dos pontos que contribuirão para o saneamento das contas públicas, seja equilibrando gastos, seja estimulando o aquecimento da economia – consequentemente, elevando a arrecadação tributária. É chegado o momento de eleger as prioridades da nação. Por meio da Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), temos dado nossa contribuição para a construção de uma agenda desenvolvimentista. Acompanhados de lideranças industriais capixabas em reunião com o presidente Michel Temer, entregamos carta apontando demandas específicas de nossa terra. Entre os itens estão a duplicação da BR-262, a construção da EF-118, a conclusão do aeroporto e das obras do contorno do Mestre Álvaro, além da retomada da operação da Samarco e do projeto do Polo Gás-Químico em Linhares. Pouco a pouco, a indústria nacional – em especial, a capixaba – vai recebendo a atenção que merece como indutora de desenvolvimento e geradora de oportunidades que é. As constantes vindas de ministros ao Estado nos últimos meses, alguns em agendas na própria Findes, reforçam a importância do setor produtivo na nossa economia. Inúmeros desafios ainda estão por vir, mas o diálogo aberto com os diferentes poderes constituídos, em Brasília e no Espírito Santo, trazem ânimo e novas perspectivas aos empresários do segmento. Aproximamo-nos também dos órgãos de licenciamento ambiental e, por meio do Conselho Temático de Meio Ambiente (Coema) da CNI, debatemos mudanças para desburocratizar a legislação do país sem prejudicar nossos recursos naturais. É preciso lembrar que, em terras capixabas, enfrentamos uma das mais graves crises hídricas da história. A pauta Marcos Guerra Presidente do Sistema Findes/Cindes
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Indústria Capixaba – Findes
foi tratada detalhadamente nesta edição, ouvindo especialistas do Governo e lideranças da indústria, explicando desafios ambientais e econômicos do problema. Acreditando na mudança do país, a Findes elaborou duas agendas, em consonância com os documentos publicados pela CNI. Entregamos aos candidatos a prefeito de todo o Estado a “Agenda Para o Desenvolvimento Sustentável das Cidades Capixabas”, que reúne propostas técnicas para os administradores municipais. Estimulando a criação de parcerias público-privadas e convênios entre as cidades, a entidade tenta disseminar a visão holística de região entre os candidatos, na certeza de que prefeituras eficientes e modernas trarão avanços para a população e para os empresários locais. Neste período, realizamos importantes entregas no interior e na Grande Vitória, dando continuidade aos projetos do plano de investimentos do Sistema Findes, criado em nossa gestão. Mais que discursos, nossa Federação trabalha para entregar ferramentas que gerem transformação social, oportunidades de emprego, renda e desenvolvimento regional. Com profissionais qualificados e uma indústria forte, construiremos um Espírito Santo cada vez mais pujante e seremos uma referência nacional de desenvolvimento. Boa leitura!
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Cenário por Fernanda Zandonadi
2017 pode ser o ano da retomada de crescimento para a economia Depois de dois anos tentando driblar as turbulências, empresários já veem 2017 com alguma esperança de avanços
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e os empresários capixabas pudessem riscar um período de tempo da agenda, possivelmente seria o primeiro semestre de 2016. Amargando as penúrias da crise econômica do país e sentindo na pele as consequências do rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG), em novembro de 2015, e que resultou na paralisação da planta da mineradora em Anchieta (ES), a produção industrial do Espírito Santo registrou a maior queda entre 15 estados: um recuo da ordem de 22,6%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e revelam uma comparação preocupante: no mesmo intervalo, a retração nacional foi de 9,1%, em média. O setor industrial, que reúne empreendimentos de extração, entre eles a Samarco, e de transformação, mostra nos números que a baixa capixaba na atividade foi mesmo
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influenciada pela suspensão dos serviços da companhia. O segmento de transformação teve declínio de 2,2% no Estado, patamar inferior à média do país. Tantos danos não são facilmente sanados, na opinião do presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Marcos Guerra. E não há como recuperar em um semestre as perdas de dois anos de arrefecimento econômico. “Este ano, o Espírito Santo terá um recúo na produção física e industrial. Será um ano difícil, penoso para nossa economia, que, além de todas as perdas, é dependente da venda de commodities, minerais principalmente, e encontrou na Ásia, em especial na China, um mercado que está comprando pouco. Há ainda a Samarco, que está parada. E é notório que nosso Estado depende muito das grandes empresas, em especial das indústrias
“A recomendação é: não deixe de investir no próprio negócio, no produto, na comunicação, no marketing, no trending. Mas mantendo os pés no chão. Não é momento de ser agressivo, mas de manter sua empresa funcionando bem” Marcos Guerra, presidente da Findes
de commodities, mas a indústria tradicional também terá perdas. É uma bola de neve. No segundo semestre, vai ocorrer uma recuperação, mas será tímida.” Segundo Guerra, com a consolidação do impeachment da agora ex-presidente Dilma Rousseff, o mercado vai reagir e pode até mesmo surpreender empresários e industriais. “Mas como já estamos vivendo dois anos de recessão, fico apreensivo em fazer projeções mais positivas. O mercado internacional, as vendas para médio e longo prazos, os acordos bilaterais, estes sim, começarão a avançar, até porque o país já vive uma mudança muito grande com os ministros das Relações Exteriores ( José Serra) e do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio (Marcos Pereira). São dois ministros de visão holística e que podem contribuir de forma significativa para a retomada do crescimento.”
A grande incerteza, do ponto de vista econômico, é se o governo Temer fará uma travessia bem-sucedida ou se vai naufragar, analisa o diretor-presidente e fundador da empresa de consultoria Macroplan, o economista Claudio Porto. “Acho pouco provável que, mesmo com denúncias da Lava Jato, fatos novos venham a comprometer o processo de recuperação do Brasil. Há um fator informal que é uma fadiga do país em relação aos escândalos políticos. Esses problemas aumentaram, e muito, os custos de se viver por aqui. E há ansiedade de mudar”, observa. O ano de 2016, no entanto, pode ser considerado perdido, na opinião do consultor. Mas há a expectativa de que o segundo semestre seja menos ruim do que o primeiro, apesar de o cenário refletir ainda alto desemprego e tímida atividade econômica. Na prática, seria um arrefecimento da queda. “Bons sinais, mas aumento no número de vagas de emprego, só no ano que vem. Há uma inércia no mercado de trabalho e na produção; isso signfica que quando tiver início a retomada, ela será feita sobre a capacidade ociosa de mão de obra. Na prática, há muitas empresas mantendo empregado subocupado. E quando elas começarem a produzir novamente, utilizarão primeiro essa mão de obra que já está em seu quadro de pessoal”, avalia. A esperança na recuperação da economia é o que “dá gás” aos donos de negócios. O presidente do Grupo Izoton, Lucas Izoton, comenta que a crise atual é a maior da história do país. “Trabalho desde os 10 anos de idade, passei por 20 ministros da Fazenda, 20 planos econômicos, período em que a moeda perdeu nove zeros. E posso dizer com convicção que nunca vi uma crise como esta. Nem os mais pessimistas acertaram as previsões. Mas acredito que chegamos ao fundo do poço, que a confiança de empresários e consumidores começou a crescer desde maio e que só poderemos ver um início definitivo de recuperação alguns meses após o impeachment. O Natal deste ano deve ter vendas melhores do que o de 2015, o que será um alento. Atuo nos setores de moda e construção civil e acredito que crescimento positivo, entre 1% e 2%, só em 2017.” Set/Out 2016 • 325
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Cenário Para Izoton, nem mesmo a época de hiperinflação foi tão ruim para a nação. “O detalhe é que esta crise que vivemos é pela falta de perspectiva e dificuldade em enxergar um futuro promissor. No Plano Collor, por exemplo, entramos em um inferno em março. Mas, em julho, voltamos para o céu. Batemos recorde de vendas. As crises, antes, duravam um ano, seis meses, mas sempre com perspectiva de solução. Esta crise atual, por conta do posicionamento político de Dilma Rousseff e do PT, não gerava nenhuma perspectiva positiva. E o pessimismo mina o consumo. O cliente poderia até precisar, querer e ter dinheiro para comprar um produto, mas não tinha humor para fazer a compra. Mais importante do que querer e poder comprar é você se emocionar com a compra. E com tantas notícias ruins, gerar essa emoção no consumidor ficou praticamente impossível. E esse cenário, esperamos, vai mudar nos próximos meses.”
Reação Se a economia dá sinais de que pode registrar um impulso nos próximos meses, a hora torna-se propícia para investir, orienta Marcos Guerra. “A recomendação é: não deixe de investir no próprio negócio, no produto, na comunicação, no marketing, no trending. Não podemos deixar isso de lado. Mas sempre mantendo os pés no chão. Não é o momento de abrir praças, mas de se manter atualizado no mercado. Não é momento de ser agressivo, mas de manter sua empresa funcionando bem.” O presidente da Morar Construtora, Rodrigo Gomes de Almeida, também demonstra otimismo e vê uma boa hora para criar. “Tem muitos ativos que estão desvalorizados em razão da crise, mas que terão a retomada da sua valorização nos próximos meses, com a melhora do país. Quem se antecipar a esse movimento tem excelente oportunidade de negócio.” Parcerias: caminho viável As parcerias público-privadas (PPPs), que contam tanto com dinheiro do Governo quanto do mercado, apresentam-se como boas oportunidades, segundo Marcos Guerra.
Governo precisa avançar e fazer reformas Se os empresários estão fazendo a sua parte, a administração pública também tem uma conta a pagar. Mesmo nesse período complicado para a economia, e talvez especialmente por isso, é o momento de restabelecer linhas de crédito no país e colocar mais dinheiro para circular, avalia o presidente da Findes, Marcos Guerra. “O Governo também precisa avançar em acordos bilaterais com países estratégicos para a venda de produtos brasileiros”, frisa. A falta de segurança jurídica é outro ponto que incomoda os setores produtivos, especialmente em relação à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), regramento considerado arcaico e pouco adequado para uma nação que vislumbra o crescimento. “É preciso uma mudança significativa. Não significa tirar direitos dos trabalhadores, mas buscar segurança jurídica para quem emprega no país. Outra mudança extremamente necessária é em relação à Previdência Social. Ou o Governo opta por deixar a Previdência quebrar, ou faz mudanças e acertos. Não mexer nesse setor é uma irresponsabilidade muito grande. Da forma que as coisas andam hoje, é possível ver um país à beira do abismo. Daqui a dez anos, a Previdência não terá mais recursos para pagar seus beneficiários. Mais do que simplesmente mudar regras, o Governo também precisa buscar formas de aportar recursos para a Previdência sem que isso signifique rombos no Orçamento”, alerta Guerra. A diferença entre buscar e fazer reformas importantes para alavancar a economia ou deixar o país caminhar sem rumo pode representar a vitória nas próximas eleições presidenciais. Com uma travessia bem-sucedida, o governo Michel Temer entregará o país com inflação no centro da meta ou até abaixo, explica o diretor-presidente e fundador da empresa de consultoria Macroplan, o economista Claudio Porto. “Provavelmente teremos crescimento maior do que 1% em 2017 e de 3% em 2018, em cima, especialmente, da capacidade ociosa do mercado de trabalho. Quem está caindo 3% e vislumbra um crescimento de 3% está encarando o céu. Esse cenário é muito propício à vitória de um candidato de linha liberal, que pode ser o próprio Temer, caso ele dispute uma reeleição,ou ainda Henrique Meirelles (hoje Ministro da Fazenda), ou até o próprio Aécio Neves (presidente nacional do PSDB). A tendência é de que, com um certo sucesso econômico da equipe atual, o vencedor das próximas eleições seja mais liberal, com Governo voltado para o mercado.” Fonte: Entrevistados da matéria
“Tem muitos ativos que estão desvalorizados em função da crise, mas que terão a retomada da sua valorização nos próximos meses em função da melhoria do país. As pessoas que se anteciparem a esse movimento têm excelente oportunidade de negócio” Rodrigo Gomes de Almeida, presidente da Morar Construtora 12
Indústria Capixaba – Findes
Com entregas no médio prazo, são investimentos interessantes, que podem alavancar os negócios. “Todos os contratos firmados agora e com entrega a partir de 2017 podem valer muito a pena. A indústria vai retomar o crescimento nos próximos 12 meses, ou seja, quem investir agora, com tranquilidade, tem grandes chances de retorno.” “Há dinheiro, há capital circulando no mundo. Há oportunidades. Se houver melhora no ambiente regulatório, com regras mais amigáveis ao capital, os investimentos serão alavancados”, prevê Claudio Porto, da Macroplan. Especialistas também veem com bons olhos o próximo ano e avaliam que 2017 desponta com contornos de esperança.
Há, segundo Porto, uma série de indicadores objetivos e subjetivos que apontam para uma leve melhora na conjuntura e na ambiência econômica, com o impeachment de Dilma Rousseff. “Mas é importante frisar que temos dois cenários. O primeiro, com um sucesso parcial do governo Temer, uma travessia bem-sucedida, ou seja, em sua gestão, ele tiraria o país da UTI e daria partida a algumas reformas e mudanças estruturais. Não dá para resolver tudo, mas há dois pontos importantes que precisam ser discutidos seriamente: o teto do gasto público e a reforma da Previdência. Essas ações ajudariam a acabar com a pressão sobre os gastos e aumentariam a confiança dos agentes econômicos”, ressalta ele, enfatizando que isso ajudaria, e muito, na reativação dos investimentos externos.
Espírito empreendedor O Espírito Santo, com sua vocação para o comércio exterior, sofreu um impacto direto da crise financeira. Apesar de o volume de exportações pelo Estado ter dado um salto de 29,37% em abril deste ano, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o acumulado em 2016, nos quatros primeiros meses, mostra um resultado pouco animador, com queda de 40,37% - foram US$ 504,52 milhões em vendas. O setor de petróleo, por exemplo, que pouco havia exportado em março, destinou cerca de US$ 33 milhões ao mercado externo em abril. Já a área de minério negociou cerca de US$ 110 milhões, um crescimento de 30% na comparação com março, enquanto o comércio de celulose quase dobrou, passando de US$ 37 milhões, em março, para US$ 72 milhões em abril. Ferro e aço, segmento importante para os capixabas, exportou US$ 32 milhões em março, pulando para US$ 50 milhões em abril. No entanto, apesar de positivos, os números escondem um crescimento “maquiado” (uma vez que são calculados em cima de meses de queda) e têm explicação no fechamento da Samarco, uma das maiores exportadoras de minério de ferro do país, além da baixa nos preços dos produtos e da desaceleração das compras pela China. O petróleo, outra importante commodity que sai pelos portos capixabas, também sofre os reveses externos: no início de agosto deste ano, a cotação do barril caiu abaixo dos US$ 40 pela primeira vez desde abril, com os preços em retração de quase 4%. E esse processo de cifras encolhidas foi em pleno pico de temporada de viagens nos Estados Unidos, época em que os valores, naturalmente, são elevados pela alta demanda por gasolina.
“Mais importante do que querer e poder comprar, é você se emocionar com a compra. E com tantas notícias ruins, gerar essa emoção no consumidor ficou praticamente impossível. E esse cenário, esperamos, vai mudar nos próximos meses” Lucas Izoton, presidente do Grupo Izoton
“Provavelmente teremos crescimento maior do que 1% em 2017 e de 3% em 2018, em cima, especialmente, da capacidade ociosa do mercado de trabalho. Esse cenário é muito propício à vitória de um candidato de linha liberal” Claudio Porto, economista, diretor-presidente e fundador da empresa de consultoria Macroplan
Com esse cenário pouco tranquilizador do mercado externo, o Espírito Santo pode demorar um pouco mais para sair da crise, explica Claudio Porto. Ele salienta, no entanto, que a tendência é de melhora, já que o mercado de commodities já chegou ao fundo do poço e agora deve reagir. “Mas há uma carta na manga. O Espírito Santo pode recuperar-se rapidamente. É um dos estados mais atrativos ao investimento privado, por conta da qualidade do ajuste feito pelo Governo Estadual. Tenho recomendado o Estado aos meus clientes que pretendem investir”, revela. Se comparado ao Rio de Janeiro, salienta Porto, não há dúvidas de que o Espírito Santo é mais indicado para o aporte de investimentos, especialmente se as negociações envolverem o Governo. Entre os projetos mais interessantes no Estado, ele cita aqueles ligados a mobilidade urbana, saneamento e rodovias. “Não apenas a infraestrutura, que é um processo mais rápido, mas também no adensamento do perfil econômico. Por exemplo, o Estado continua a produzir petróleo e, com a melhoria econômica, aumenta a demanda e tudo indica que teremos novos leilões”. Essas possibilidades que se apresentam mostram que há espaço para o avanço local, já que por aqui as empresas atuam em um ambiente fácil de fazer negócios, com Governo e capital social confiáveis. “O grande desafio para as empresas que atuam em solo capixaba é mesmo ampliar a produtividade e ganhar musculatura. O ambiente de negócios é interessantíssimo e tem tudo para crescer.” Porto cita ainda outra área com potencial de crescimento capixaba: a de serviços avançados, com densidade técnica, como manutenção de precisão, mecatrônica, manutenção em máquinas complexas, engenharia, design e robótica. No ramo da educação, menciona cursos de pós-graduação, em especial os de medicina de alta e média complexidade. No campo industrial, há as atividades de projeto, programação e controle de produção. “O Estado tem cadeias produtivas sofisticadas e que começam a demandar serviços nessas áreas. Há profissionais atuando aqui, mas a maior parte vem do Rio de Janeiro e de São Paulo. Temos que adensar essa indústria aqui.” Set/Out 2016 • 325
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Indústria Artigo em ação
ETORE CAVALLIERI É DESTAQUE NO CONTANDO HISTÓRIAS O empresário Etore Selvatici Cavallieri, líder do Grupo Imetame, foi o homenageado do projeto Contando Histórias, realizado pelo Cindes no dia 15 de julho. A já tradicional atividade, que conta as trajetórias profissionais de pessoas que promoveram o desenvolvimento do Estado, aconteceu durante o Meeting de Líderes Industriais,em Pedra Azul,Domingos Martins. O empreendedor falou sobre a importância do apoio da família e de ter sido aluno do Senai. “Comecei a trabalhar quando tinha 4 anos de idade. Meu pai me ensinou a aproveitar as oportunidades da vida. Minha trajetória foi uma superação de obstáculos a cada dia. O Senai me deu minha única base de estudos para o mundo profissional. Formei-me torneiro mecânico e estagiei na própria escola, concluindo o curso em 1970”, disse. Etore falou ainda sobre os projetos sociais que realiza por meio da Associação Vidas. O Grupo Imetame hoje é formado pelos setores de energias, granito, metalmecânica e logística.
GUERRA É O NOVO COORDENADOR DO FÓRUM DE ENTIDADES Com foco no debate permanentemente de assuntos como qualificação profissional, mobilidade, meio ambiente e segurança, o Fórum de Entidades e Federações (FEF) passou em junho a ser coordenado pelo presidente do Sistema Findes, Marcos Guerra. A cerimônia de posse aconteceu no plenário da entidade em Vitória, e contou com a presença do governador Paulo Hartung e de lideranças políticas e empresariais do Estado. Além da Findes, integram o Fórum as federações da Agricultura e Pecuária (Faes), do Comércio de Bens e Serviços (Fecomércio) e dos Transportes (Fetransportes) e o Espírito Santo em Ação. Eleito por unanimidade, Guerra assume no lugar de Wagner Chieppe, que esteve à frente por dois mandatos. A expectativa do novo coordenador é ampliar o trabalho de interiorização do desenvolvimento capixaba, que já é uma de suas marcas no comando da Findes.
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Indústria Capixaba – Findes
SESI-ES ANUNCIA PROGRAMAÇÃO DE ARTES PARA SEMESTRE O calendário de artes cênicas de 2016 do Sesi-ES tem sequência em outubro e novembro, com a realização de espetáculos adultos e infantis, além de dança contemporânea. No dia 1º de outubro, o Grupo Vira-Lata de Teatro apresentará “Nada Será como Antes – uma homenagem a Elis Regina”. Já o espetáculo “Anjos e Abacates” é o destaque em 9 de outubro, com os integrantes do Repertório Artes Cênicas. Em 23 de outubro, “O Bello e as Feras” será apresentado pela trupe do Mente Insana Produção; em 5 de novembro é a vez de “Couro de Cabra e a Promessa”, com o elenco do Iá Pocô. E finalmente, no dia 11 de novembro, os integrantes de Rotas e Roteiros Produções traz a “Terapia do Riso 4”. Os espetáculos serão realizados no Teatro do Sesi-ES em Jardim da Penha, Vitória. Foram mantidas para todas as apresentações do 2º semestre os preços acessíveis praticados no início do ano: R$ 10,00 (inteira), R$ 5,00 (meia) e R$ 2,00 para trabalhador da indústria.
Indústria em ação Artigo
MANUTENÇÃO INDUSTRIAL É DESTAQUE EM EVENTO
MÓVEL SHOW 2016 REGISTRA BOAS EXPECTATIVAS PARA O SETOR Representantes do setor moveleiro de todo o Brasil participaram no Móvel Show 2016, principal evento do segmento no Espírito Santo. Em sua quarta edição, a feira, que foi realizada entre 11 e 14 de julho, movimentou o mercado e foi marcada pela sensação de otimismo entre os expositores, que esperam bons negócios para o segundo semestre do ano. Uma iniciativa da Yes Feiras & Eventos e da Alternativa Editorial, com participação do Sesi e do Senai, o evento teve o apoio do Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário de Linhares e da Região Norte do Espírito Santo (Sindimol), da Vilage Marcas e Patentes e do Governo do Estado. Para Fabricio Mendes, diretor da Yes, o formato de showroom, voltado para a geração de negócios, e a visitação qualificada foram os pontos fortes da edição. “Passaram pela Móvel Show os principais compradores de estados importantes como Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Alagoas, Paraná e Minas Gerais, além de lojistas da Grande Vitória e do interior do Espírito Santo. A visitação qualificada e o foco nos negócios eram as nossas propostas iniciais e, diante disso, atingimos nossas expectativas”, falou.
“Novos desafios que devem ser inseridos no ensino técnico”. Esse foi o tema da 2ª Semana do Técnico de Manutenção Industrial, realizada pelo Senai-ES entre 2 e 4 de agosto na sede da entidade, em Vitória. A edição deste ano, que trabalhou os conhecimentos sobre novas tecnologias, processos e conceitos no setor, abordou estratégias capazes de garantir competitividade, como a tecnologia e a inovação. O grupo de palestrantes, formado por engenheiros mecânicos, técnicos em metalurgia e consultores técnicos, debateu conceitos ligados à manutenção industrial por meio de conteúdos teóricos e práticos. Os assuntos foram da “gestão de equipamentos, maximizando a produtividade” à “NR13 – Vasos de pressão”, passando ainda pelo “Uso seguro de ferramentas na indústria”, entre outros.
EXPO CONSTRUÇÕES REÚNE MAIS DE 6 MIL PESSOAS O Carapina Centro de Eventos, na Serra, reuniu mais de 90 empresas fornecedoras de produtos e serviços de diversos segmentos da construção civil, como os de cimento, plástico, tintas, gás encanado, móveis e rochas ornamentais, durante a realização da segunda edição da Expo Construções. A principal feira da construção do Espírito Santo, que aconteceu de 14 a 16 de junho, atraiu 6.134 pessoas, entre representantes de construtoras, lojistas de materiais de construção, arquitetos, designers de interiores, engenheiros, estudantes e outros profissionais do setor. Além da área de exposição, o encontro teve em sua programação diversas palestras, apresentações técnicas, debates, rodada de negócios, caravana itinerante com lojistas e Olimpíada Senai de Ocupações, criando um espaço privilegiado para a troca de experiências, networking e capacitação profissional. O evento foi uma iniciativa por meio do Sesi e Senai, por meio da Câmara Setorial das Indústrias de Materiais da Construção. Nada menos que 14 sindicatos da Federação participaram da edição deste ano da Expo Construções, cada vez mais consolidada como ferramenta para fomentar a área no Estado.
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Artigo
Complexo de Tubarão: 50 anos
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Complexo de Tubarão, área operacional da Vale em Vitória, está comemorando 50 anos. Nesse meio século, a Vale e o Espírito Santo se desenvolveram juntos. A empresa já mantinha atividades portuárias no Estado desde a década de 1940, mas foi com a inauguração do Porto de Tubarão, em 1966, que passou a ter participação decisiva no seu processo de industrialização e modernização. A transferência das atividades portuárias da Vale dos cais de Atalaia e Paul, em Vila Velha, para um novo local, em Vitória, teve como objetivo atender à crescente demanda da época por minério de ferro. Nesse sentido, o Porto de Tubarão representa para a companhia uma guinada na sua estratégia. Naquele momento, a Vale começou a operar um sistema integrado entre mina, ferrovia e porto que foi decisivo para o seu crescimento e é um diferencial competitivo até hoje. Para o Estado, Tubarão significou a criação de um ambiente de negócios que beneficiou toda a cadeia de serviços, garantindo a transição de uma economia até então predominantemente agrícola, dependente da cultura do café, para uma economia industrial de escala internacional. Sempre à frente do seu tempo, o Porto de Tubarão, quando inaugurado, tinha capacidade fora do comum para a época. Podia receber navios de 150 mil toneladas, embora a maioria da frota da época tivesse, no máximo, 60 mil toneladas. De 2,9 milhões em 1966 para as atuais 120 milhões de toneladas de minério e pelotas por ano, o modal portuário teve participação decisiva no escoamento da crescente produção da Vale ao longo dos anos e marcou seu lugar na história da empresa, do Espírito Santo e do Brasil. Hoje, a estrutura recebe cerca de 1.100 navios por ano, entre eles os maiores mineraleiros do mundo, os Valemax, com capacidade para 400 mil toneladas.
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Indústria Capixaba – Findes
Com a instalação das usinas de pelotização, a partir de 1969, o porto se transformou em Complexo de Tubarão. Além da movimentação de minério de ferro, também fazem parte do Complexo o Terminal de Praia Mole (TPM), que atua na movimentação de carvão mineral, coque e manganês; o Terminal de Granéis Líquidos (TGL), onde são desembarcados combustíveis; e o Terminal de Produtos Diversos (TPD), responsável pela movimentação de grãos e fertilizantes. Com 14 quilômetros quadrados de área física, a estrutura abriga hoje, além do porto, oito usinas de pelotização e o Centro de Controle Operacional (CCO) da Ferrovia Vitória a Minas, que gerencia a movimentação de pelo menos 60 tipos de produtos, entre minério de ferro, aço, soja, carvão e calcário, ao longo de 905 quilômetros de linha férrea, o que representa cerca de 30% de toda a carga ferroviária do país. A Vale se mantém como uma das maiores empresas do Estado, realiza cerca de 60% de suas compras com firmas locais e responde por, em média, 13% do PIB estadual. Hoje, Tubarão é um porto maduro, com capacidade para atender à demanda. Estamos investindo para fazer cada vez melhor do ponto de vista de sustentabilidade, de segurança e da estabilidade das nossas operações. Ao longo dos anos muita coisa mudou: a Vale e a cidade cresceram, a economia do Estado se diversificou, e os índices de desenvolvimento humano do Espírito Santo se consolidaram como alguns dos melhores do país. Mais do que um projeto industrial, a presença da mineradora se tornou um vetor de desenvolvimento local. Essa história se reflete nos empregados próprios e terceirizados da companhia no Estado, nos projetos sociais apoiados pela empresa e na memória de todos que, de alguma forma, participaram desses 50 anos de trabalho, desafios e superações.
FABIO BRASILEIRO é diretor de Logística da Vale
Indústria em ação Artigo
Ex-alunos do Senai Cetiqt marcam o Vitória Moda 2016
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mês de julho foi mais uma vez do mercado fashion no Espírito Santo. Inspirada no tema “Natural, original, tropical – mergulhando em nossas raízes”, a nona edição do Vitória Moda agitou a capital do Estado e mostrou mais uma vez o potencial dos capixabas no setor do vestuário. Uma iniciativa do Sistema Findes, em parceria com o Sesi e o Senai e com correalização do Sebrae-ES, o evento foi aberto no dia 4, no Teatro do Sesi, com uma palestra ministrada pela empresária Chiara Gadaleta, que abordou “A nova era da moda: unindo regionalidade, criatividade e sustentabilidade”. A abertura também contou com um pocket show da Camerata do Sesi e do cantor Amaro Lima. Já no dia 5, a programação começou para valer no Centro de Convenções, com um desfile produzido por nove ex-alunos do Senai Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Cetiqt). Com um visual inovador, a apresentação, que conquistou o público, teve como tema “Mundo no Brasil”. A finalidade da iniciativa foi mostrar a qualidade e a criatividade dos profissionais de moda formados em diversos estados pelo Senai, ajudando a fortalecer a competitividade da indústria nacional e abrindo espaço para parcerias com entidades e empresários do segmento local do vestuário. O Senai Cetiqt, aliás, trabalhará junto com o Senai-ES, em projetos do Centromoda de Colatina e de Vila Velha. “Vir ao Espírito Santo, a convite do Senai-ES, configurou-se uma excelen-
te oportunidade de conhecermos o mercado local, de realizarmos a troca de know-how e, o mais importante, fecharmos parcerias com os capixabas. Acredito que esse contato renderá muito em curto e médio prazo”, afirmou o diretor executivo do Senai Cetiqt, Sérgio Motta. Também presentes no evento, o diretor regional do Senai-ES e superintendente do Sesi-ES, Luis Carlos Vieira, e o presidente da Câmara Setorial da Indústria do Vestuário da Findes e coordenador do Vitória Moda, José Carlos Bergamin, afirmaram que o Vitória Moda já está consolidado no calendário e é ansiosamente aguardado durante todo o ano não apenas por quem atua no setor, mas também por quem gosta de novidades do mercado de forma geral. Vários segmentos da economia criativa ocuparam 30 espaços em uma área de 700 m², batizada de Salão Criativo. Não faltaram representantes de moda, arquitetura, artesanato, fotografia, moda, design, cinema, gastronomia, marcenaria, entre outros. Além disso, ocorreram shows musicais e exposição temática e de projetos e empreendimentos focados em inovação. O Vitória Moda 2016, o maior entre todas as edições, teve 26 desfiles e contou com marcas como Bebel Gama, Islavix e Surreal. Outro destaque foi a presença da modelo capixaba Naira Lili, que ficou conhecida nas passarelas na São Paulo Fashion Week (SPFW). Na carreira há apenas um ano, a jovem, que atuava como babá e feirante, fechou a exibição da coleção de uma marca capixaba. Set/Out 2016 • 325
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Entrevista Artigo por Fernanda Zandonadi
Ricardo Ferraço “Vai dar muito trabalho reconstruir o legado de incompetência deixado pelo governo de Dilma Rousseff”
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epois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o momento é crucial para o futuro econômico e político do Brasil, avalia o senador Ricardo Ferraço. A mudança de rumos, segundo ele, tem que passar por reformas intensas em áreas-chave do poder, como a diminuição do gastos do Governo. Nesta entrevista, o parlamentar defende ainda que as reformas previdenciária e trabalhista são essenciais para a reconstrução da economia e a retomada do crescimento do país. Salienta, ainda, que o atual presidente, Michel Temer, já está legitimado pela Constituição Federal, no entanto, precisa agora legitimar seu Governo diante do povo brasileiro, com a abertura de novos caminhos e propostas que tirem o país da profunda recessão que se instalou. Como o senhor avalia este momento pós-impeachment? Ele traz de volta otimismo e esperança?
O presidente Temer está legitimado pela Constituição Federal. Mas ele precisa se legitimar perante o povo brasileiro com atitudes que possam mover o Brasil em um rumo diferente desse que foi trilhado pela presidente Dilma e seus aliados. O brasileiro se mobilizou em torno de governos que possam ser decentes e eficientes. E para isso, ele (Temer) precisa se reestruturar e se justificar diante da sociedade. Os brasileiros pagam uma elevadíssima carga tributária, e o Estado consome todos esses recursos, que são drenados com a lágrima e o suor do povo, para a sua manutenção. O momento é de otimismo, mas é também de muito trabalho em busca dessa legitimação. Na sua opinião, quais devem ser as prioridades do governo Temer?
Temer primeiramente precisa enfrentar a herança deixada pelo governo Dilma. Não deixamos de reconhecer os avanços conquistados na área social, mas para se reeleger, a ex-presidente colocou tudo por água abaixo. Desarrumou
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Indústria Capixaba – Findes
a casa por completo e prejudicou, principalmente, os mais pobres, com o desemprego e inflação. Têm faltado recursos para investir em áreas essenciais à atividade humana, como a saúde, a educação, o saneamento básico, a segurança pública. Temos problemas estruturais na nossa economia que precisam ser solucionados. Há 15 anos o setor público brasileiro gastava 10% do PIB. Hoje, gasta 20%. Ou seja, se continuarmos nessa escala de crescimento, não sobrarão recursos para investir na sociedade. O que aconteceu na Grécia e até mesmo no Rio de Janeiro pode acontecer no Brasil se não tomarmos medidas severas para conter o gasto público. Temer garantiu que o Brasil volta a crescer em breve. Isso é possível?
Temer tem uma equipe econômica formada por pessoas que sabem o que precisa ser feito, mas acho que nenhuma equipe econômica anda sozinha. Precisa de apoio e determinação política para que as questões que precisam ser enfrentadas possam ser implementadas com um olhar para o conjunto da sociedade. O presidente está vivendo o desafio de tentar unir a base aliada para ter apoio na aprovação das reformas e das medidas para recuperar a economia. O crescimento depende disso, neste momento. Os problemas econômicos só começaram depois das eleições presidenciais de 2014. Por quê?
Porque 2014 foi o ano da mentira máxima. A crise que vivemos em 2014 não é nada se comparada à de 2015 e à de 2016. Em 2014, durante as eleições, a presidente Dilma Rousseff prometeu o céu aos brasileiros e entregou o inferno no ano seguinte. Ela escondeu, fraudou a realidade do nosso país. Se os brasileiros soubessem que 2015 seria o que foi, esse disparate, seguramente ela não teria sido eleita. Ela se valeu da mentira e da fraude para enganar a população
“Não deixamos de reconhecer os avanços conquistados na área social, mas para se reeleger, a ex-presidente colocou tudo por água abaixo. Desarrumou a casa por completo e prejudicou, principalmente, os mais pobres, com desemprego e inflação”
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Entrevista Artigo
e toda essa mentira só fez com que a população, perdesse a confiança em seu Governo. Agora, com o governo de Michel Temer, a esperança é de mudanças e melhoras na economia. E quando essa melhora vai surgir de fato?
Vai dar muito trabalho reconstruir o legado de incompetência deixado pelo governo de Dilma Rousseff. Não é um processo que será resolvido em curto prazo. É preciso que todos nós possamos dialogar com a sociedade e em torno da verdade. Toda a desorganização da economia vai demandar um tempo maior de debates e ações para que as coisas melhorem. Posso dizer, por hora, é que as coisas deixaram de piorar desde que a presidente foi afastada. O que já é um bom começo. Mas há muito o que fazer. A retomada do crescimento, da geração de empregos, depende profundamente de resolvermos a desorganização fiscal que Dilma Rousseff deixou. Não conseguiremos voltar a crescer se não baixarmos a taxa de juros, superarmos a recessão e melhorarmos o ambiente de negócios. E isso só vai se resolver a partir de
uma solução do “nó” fiscal, que está fazendo com que o país continue mergulhado em um ambiente econômico negativo. Se isso não for resolvido, não tem como reduzir a inflação, não tem como reduzir a taxa de juro e não tem como prever uma melhora na situação do empreendedor brasileiro. O Espírito Santo, além de todos os reveses da economia brasileira, também sentiu o impacto da seca, que assola principalmente o norte do Estado, e a paralisação da Samarco, em Anchieta. Vamos sair da crise junto com o restante do país ou nosso processo será diferente?
O caso do Espírito Santo é mais complexo. Além de estarmos alinhados com a difícil realidade nacional, temos esses problemas particulares. A Samarco, por exemplo, é responsável por 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. Quer dizer, uma empresa que sempre criou riquezas e oportunidades nos trouxe essa preocupação adicional, por conta dos problemas que sugiram com o rompimento de sua barragem em Mariana. Ainda há a seca, outro problema que bateu forte no Espírito Santo. A falta de chuvas é um fator absolutamente dramático. São dois anos e meio de seca, com enormes prejuízos. E isso em um Estado com uma agricultura forte e muito importante, porque alimenta a economia. Mas há ainda outros pontos particulares que impactam a economia capixaba. Os problemas da Petrobras, por exemplo. Estamos profundamente inseridos no processo de produção da empresa, há um conjunto de projetos que estavam programados para acontecer no Espírito Santo, mas que, por conta da crise que vive a Petrobras, foram cancelados. E isso tem efeitos adversos diretos sobre vários setores da economia, como o metalmecânico, por exemplo. Falar em Petrobras nos remete à Operação Lava Jato. Na sua opinião, ela está ajudando o país a sair da impunidade?
A Lava Jato é, na minha opinião, uma oportunidade extraordinária para combater a impunidade no país. É uma forma de fazer com que as práticas reveladas durante a operação possam ser superadas e se tornarem página virada. Precisamos de um país em que a competição, o mérito e a competência possam se estabelecer sem o tráfico de influências, que é absolutamente negativo. A competição saudável é excelente para a economia e percebemos, na Petrobras,
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Indústria Capixaba – Findes
“Não conseguiremos voltar a crescer se não baixarmos a taxa de juros, superarmos a recessão e melhorarmos o ambiente de negócios” Outra discussão que se arrasta há anos e que agora, novamente, vem à tona, é a reforma da Previdência. Qual é a opinião do senhor sobre o assunto? As mudanças são urgentes?
um esquema montado para favorecer empresas que tinham uma relação promíscula com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A operação, repito, é uma ótima oportunidade de deixar todo esse processo às claras, além de recuperar recursos que foram desviados dos cofres públicos. É preciso enfatizar também que essas companhias têm que revisitar seus processos e revê-los. O setor produtivo reclama muito da alta carga de impostos no país. Além disso, a burocracia mais atrapalha do que ajuda. O que será feito para melhorar este cenário?
Existem coisas que as pessoas já olham com dúvidas, até porque o tempo vai passando e não há resultados. A reforma tributária é uma delas. Muito se fala, pouco se faz. E ela tem que ser revisada de acordo com o papel e o tamanho do Estado brasileiro. Historicamente, o Governo resolveu seus problemas com aumento de impostos. E não podemos mais sequer discutir aumentar os tributos. Temos que olhar o problema de outro ângulo e fazer uma profunda revisão dos gastos do Governo, que empregou mal o dinheiro dos impostos, como se este não tivesse dono. Defendo a reforma tributária, mas precisamos também da reforma do Estado, para que seja possível tratar esses recursos com respeito, o que não estava acontecendo. Com a gastança desenfreada, ficava impossível pensar em reforma tributária.
Evidente. Na minha opinião, precisamos fazer essa reforma “para ontem”. Não é uma questão política, é uma questão matemática. Se não for feita logo uma reforma previdenciária, o que vai acontecer é que vamos evoluir para um país onde há direitos, mas não há dinheiro para bancá-los. Se a reforma da Previdência não for feita, o direito dos aposentados corre sérios riscos. Essa é a verdade. O Brasil precisa enfrentar esse problema com verdade, e não colocá-lo para debaixo do tapete, permanentemente. A reforma trabalhista também é tema recorrente. Qual sua opinião sobre a Consolidação das Leis do Trabalho? Precisam ser aperfeiçoadas?
Certamente. Precisamos aperfeiçoar a legislação trabalhista, que não contribui para a geração de empregos e de renda. Ela trabalha contra as oportunidades e precisa ser revista. Os acordos entre o empreendedor e o trabalhador precisam ter um valor superior. É isso que deve ser levado em conta. Dependendo das circunstâncias, é muito melhor manter um emprego buscando o enfrentamento e a análise de acordos do que perdê-lo. E esses acordos teriam valor superior a outros documentos. Na prática, a manutenção da legislação como ela está trabalha para que não consigamos ampliar as oportunidades de emprego. A CLT foi muito importante quando surgiu, mas agora precisamos considerar os fatos da vida real, a vida como ela é. Defendo as flexibilizações, já que, na prática, os discursos são falsos, parecem a favor do trabalhador, mas conspiram contra seus interesses. Set/Out 2016 • 325
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Especial por Ana Lucia Ayub
Receita para o Brasil sair da crise Medidas de ajuste fiscal, concessões à iniciativa privada e abertura ao mercado externo são algumas das apostas dos empresários para impulsionar a competitividade do Espírito Santo e do país
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Confederação Nacional da Indústria (CNI) ouviu lideranças do setor em todo o país e reuniu 36 medidas consideradas fundamentais que deveriam ser implementadas pelo Governo Federal com o objetivo de ajudar o Brasil a superar a atual crise econômica. O documento, chamado “Agenda para o Brasil sair da crise”, já foi entregue ao presidente Michel Temer e apresentado em audiência pública na Câmara dos Deputados. As ações sugeridas passam por ajuste fiscal, reformas nas legislações trabalhista e tributária, aumento das concessões em infraestrutura, avanços na área de comércio exterior, melhorias das condições de crédito para as empresas e suspensão de novas obrigações acessórias, que aumentam o custo e a burocracia para os negócios. O documento, que teve a colaboração do presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Marcos Guerra, também vice-presidente da CNI,sustenta “que o país só voltará a crescer com ações nas áreas fiscais e de competitividade”. Segundo a entidade, os empresários aguardam sinalização de que o Executivo adotará medidas estruturais para que recuperem a confiança e voltem a investir no Brasil.
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Indústria Capixaba – Findes
Entre as prioridades expostas pela indústria está a aprovação da reforma da Previdência e do projeto de lei que regulamenta a terceirização dos trabalhadores e de propostas que estimulem a inovação. Conforme cálculos da CNI, o sistema previdenciário atual tem uma estimativa de déficit de R$ 167 bilhões para 2017, o que torna inviável mantê-lo da forma como funciona atualmente. “Uma Previdência ajustada eliminaria a principal fonte de incerteza na área fiscal, com alívio sobre a inflação e a política monetária. Mas a melhora do ambiente de negócios brasileiro é batalha a ser travada em várias frentes”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. Para acelerar o processo de concessões, a instituição pede que a administração pública reveja o regime de partilha no segmento de óleo e gás, modernize as condições de acesso ao gás natural importado e as concessões para exploração desse produto em terra, além de solicitar a transferência das administrações portuárias ao setor privado e a conclusão do processo de revisão das poligonais dos portos organizados. “O Brasil precisa de reformas estruturais para voltar a crescer. Os investimentos em infraestrutura, a ampliação
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da participação nacional nos mercados internacionais, a reforma da Previdência Social, a modernização das relações de trabalho e a melhora da qualidade dos gastos públicos são fatores decisivos para a criação de empregos e a reativação da atividade econômica. Um melhor ambiente de negócios permitirá o aumento da competitividade e a volta do crescimento.” explica, Robson Andrade Para Marcos Guerra, é preciso valorizar “quem gera emprego e renda para o país. Como a indústria nacional vive um processo de enfraquecimento, é imperativo desenvolver um grande projeto voltado para a retomada do crescimento da economia, com ampliação da competitividade da indústria, redução de juros e modernização da estrutura burocrática”, pontua.
“A crise política e a crise econômica causaram queda generalizada na arrecadação, o que exigirá ainda mais empenho e criatividade dos prefeitos. Apontamos caminhos que poderão tornar nossas cidades melhores para morar, investir, trabalhar e visitar”- Marcos Guerra, presidente do Sistema Findes
Comércio exterior Para alavancar o comércio exterior, a agenda da CNI reúne propostas de políticas públicas para acordos comerciais, investimentos brasileiros no exterior, facilitação e desburocratização dos trâmites burocráticos, barreiras tarifárias e não tarifárias, tributação, financiamento e garantias às exportações, defesa comercial e mecanismos para mercados prioritários. Também trata da agenda de missões e mecanismos para atração de investimentos e reivindica taxa de câmbio competitiva e estável. As prioridades para o comércio exterior foram apresentadas ao titular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Marcos Pereira, em junho. “O comércio exterior deve fazer parte de uma agenda estratégica e permanente para o aumento da competitividade do país. Set/Out 2016 • 325
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Especial Se essa atividade já é importante para estimular o crescimento em períodos de normalidade da economia, ela se torna ainda mais relevante em tempos de restrições no mercado interno, como o que estamos vivendo atualmente. Precisamos retirar os entraves às exportações, desonerá-las do pagamento de impostos e abrir mercados para nossos produtos, especialmente por meio de novos acordos comerciais”, disse Robson Braga de Andrade. As negociações comerciais são parte importante da agenda da CNI, que, nos últimos anos, tem defendido a ampliação da rede brasileira de tratados bilaterais de comércio. O Brasil tem ficado à margem dos grandes pactos de integração internacional. Atualmente, os tratados brasileiros com outros países representam menos de 8% do comércio global, enquanto os Estados Unidos atingem 30%; a União Europeia, 45%; e o México, 57%. Para a CNI, permanecer fora dessa rede de acordos impõe às empresas domésticas custos mais altos para exportar e menor segurança jurídica, além de obrigar os empreendedores a lidar com regras menos favoráveis para vender, comprar, investir e receber investimentos estrangeiros. Segundo o ministro Marcos Pereira, a agenda internacional está sendo analisada pelo MDIC, e várias iniciativas já estão em curso, entre elas a implantação do Certificado de Origem Digital (COD), que vai desburocratizar o comércio entre o Brasil e a Argentina, um dos maiores compradores de produtos manufaturados brasileiros. Os dois países serão os primeiros a adotar o mecanismo. O acordo entre eles foi celebrado no início de agosto. O COD é o documento eletrônico que atesta a origem da mercadoria, assinado digitalmente pelo exportador e pelo funcionário habilitado da entidade emissora autorizada pelo ministério. A inovação deve gerar economia de tempo e de custos de pelo menos 35% na emissão do documento, “uma vez que reduz gastos com logística”, destacou Pereira. A obtenção do certificado leva até 24 horas, podendo chegar a três dias quando a entidade emissora não se localiza na cidade da empresa solicitante. “A expectativa é de que a emissão
“O Brasil precisa de reformas estruturais para voltar a crescer. Os investimentos em infraestrutura, a ampliação da participação do Brasil nos mercados internacionais e a reforma da Previdência são fatores decisivos para a reativação da atividade econômica” Robson Andrade, presidente da CNI
eletrônica reduza o prazo para 30 minutos, e o ministério já trabalha para repetir essa iniciativa com outros parceiros importantes”, apontou. Outro ponto que já está em andamento é o estabelecimento de novas parcerias com os Estados Unidos. Agora, dois laboratórios instalados nos EUA, o Intertek e o TUV Rheinland, acreditados pelo Inmetro, passam a realizar, no Brasil, procedimentos para a certificação de produtos nacionais destinados ao mercado norte-americano. Com isso, as exportações aos Estados Unidos ficarão mais rápidas e baratas. A estimativa é de que o prazo diminua de 12 meses para aproximadamente 90 dias e que o custo seja reduzido em quase 70% em comparação aos preços de certificação praticados pelas unidades laboratoriais dos Estados Unidos, às quais anteriormente os produtos brasileiros deveriam ser necessariamente submetidos. Quanto aos tratados bilaterais, Pereira explicou que o ministério está engajado no aprofundamento do Acordo de Complementação Econômica (ACE) nº 53 entre Brasil e México e no avanço das negociações entre o Mercosul e a União Europeia, a fim de incrementar os fluxos comerciais em
Propostas para o país:
EFICIÊNCIA DO ESTADO TRIBUTAÇÃO Reforma da Previdência e Reforma do ICMS e controle de gastos compensação de créditos entre tributos federais
Fonte: CNI
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Indústria Capixaba – Findes
RELAÇÕES DE TRABALHO Regulamentação da terceirização e valorização da negociação coletiva
INFRAESTRUTURA Revisão do regime de partilha em óleo e gás e transferência das administrações portuárias ao setor privado
ambas as vias. “Também estão em curso negociações para ampliar os acordos de Preferências Tarifárias Mercosul-Índia, MercosulLíbano e Mercosul-Tunísia, mas, para o efetivo aproveitamento dessas vantagens pelo setor privado, é necessário o ordenamento jurídico, por meio de ato do Poder Executivo ou por aprovação do Congresso Nacional. Vamos trabalhar para que isso aconteça”, complementou.
Rumos para a indústria capixaba O Espírito Santo também definiu os rumos que a indústria capixaba deve tomar diante da atual conjuntura política e econômica. Com base nesse cenário, o Sistema Findes, com o apoio técnico do Instituto de Desenvolvimento Educacional e Industrial do Espírito Santo (Ideies), elaborou a Agenda para o Desenvolvimento da Indústria Capixaba 2016/2018, documento que reúne as estratégias do setor industrial capixaba em 47 ações a serem implementadas no período de dois anos, com envolvimento da indústria e das esferas estaduais e municipais, visando ao aumento da competitividade do setor industrial. A agenda é resultante do Fórum da Indústria Capixaba, que reúne representantes de empresas industriais de todos os portes, presidentes de sindicatos, diretores, executivos, conselheiros e técnicos do Sistema Findes. As ações sugeridas estão estruturadas em alguns pontos centrais: estabelecer parcerias entre Governo e iniciativa privada (parcerias público-privadas, as PPPs, concessões, inclusão da indústria em conselhos e nas discussões sobre o desenvolvimento do Estado); ampliar as linhas de financiamento e o acesso ao crédito; promover a desburocratização e a simplificação tributária; mobilidade urbana
“É preciso restabelecer a equidade tributária para garantir a competitividade das empresas” Gibson Reggiani, 1º vice-presidente da Findes
FINANCIAMENTO Estímulo à ampliação do financiamento privado de longo prazo
(não apenas em obras, mas também no envolvimento da indústria e do comércio nos Planos de Desenvolvimento Urbano-PDUs); e propostas de mudanças no comércio exterior, entre elas a criação de uma nova ZPE (Zona de Processamento de Exportação) no sul, a ser instalada no Porto Central, em Presidente Kennedy, onde empresas poderiam operar com suspensão de impostos, liberdade cambial (não são obrigadas a converter em reais as divisas obtidas nas exportações) e gozar de procedimentos administrativos simplificados. A iniciativa também pretende viabilizar a ZPE de Vila do Riacho, em Aracruz, que já foi aprovada pelo MDIC há seis anos, mas ainda não saiu do papel. Uma das sugestões para a desburocratização é promover mudanças nas licenças e nos alvarás emitidos no Espírito Santo, cuja demora é um dos entraves para a instalação de projetos e o crescimento econômico do Estado. Segundo Marcos Guerra, da Findes, um ponto prejudicial nos processos é a disputa de competência entre os órgãos estaduais e federais. “Desburocratizar não significa ter licenças mal analisadas. Muitas vezes, investidores chegam com ideias, com recursos, há mercado, mas por conta das licenças, o projeto não avança. Outra situação é que em algumas cidades, mesmo que a empresa tenha 30 anos de funcionamento, a prefeitura não concede a licença anual se ela não tiver construído uma calçada cidadã. A licença poderia ser de cinco anos”, diz. Segundo o 1º vice-presidente da Findes, Gibson Reggiani, o intuito é criar regulamentações mais simples e eficazes, processos mais céleres, menos burocráticos e onerosos, e maior organização e produtividade nos processos fabris. “Serão tratados todos os tributos que incidem sobre a produção industrial, tais como o ICMS e o ISS, bem como os processos de licenciamentos municipais, de vigilância sanitária, Bombeiros e outros. A ideia é padronizar os processos, disponibilizá-los por meio eletrônico e ampliar os prazos de vigência”, explica. Na indústria, o custo de produção sofre influência direta dos tributos. Segundo estudo divulgado pela CNI, um produto fabricado no Brasil é, em média, 34,2% mais caro do que um similar importado. Desse total, 15,5% referem-se apenas ao custo da burocracia tributária do país. Para piorar, a cada dia, 46 novas
COMÉRCIO EXTERIOR Negociação de acordos comerciais e manutenção de câmbio competitivo e estável
SEGURANÇA JURÍDICA E REGULAÇÃO Regulamentação dos procedimentos para desconsideração da personalidade jurídica e fortalecimento das agências reguladoras
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Especial “A implantação do certificado de origem digital vai desburocratizar o comércio entre o Brasil e a Argentina, gerando economia de tempo e de custos de pelo menos 35% na emissão do documento” Marcos Pereira, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior normas são criadas, exigindo 2.600 horas de trabalho por ano apenas para pagar impostos. “Serão propostas simplificações no cumprimento de obrigações acessórias do Fisco estadual e redução das multas a valores compatíveis com outros estados da federação, além de esforços para compatibilizar as tarifas municipais com as praticadas em outros municípios da federação. É preciso restabelecer a equidade tributária para garantir a competitividade das empresas”, diz Reggiani. Outro documento, a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável das Cidades Capixabas 2017-2020, reúne ações para
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a melhoria da gestão municipal, trazendo sugestões simples, mas eficazes, para os 78 municípios do Espírito Santo. Ela foi entregue ao governador Paulo Hartung no dia 26 de agosto e está sendo distribuída aos candidatos a prefeito em encontros regionais. De acordo com Marcos Guerra, governar uma cidade é tarefa que exige planejamento. A retração geral de arrecadação nos municípios, apontada em relatório do Tribunal de Contas da União, revela que os próximos anos demandarão empenho e organização por parte dos prefeitos para uma boa gestão. “A crise política e a crise econômica causaram queda generalizada na arrecadação, o que exigirá ainda mais empenho e criatividade dos prefeitos. Apontamos caminhos que poderão tornar nossas cidades melhores para morar, investir, trabalhar e visitar”, argumentou o presidente. Segundo o dirigente, em 62 dos 78 municípios capixabas a prefeitura é a maior empregadora da região e detentora do mais alto orçamento, o que demanda uma grande responsabilidade com os gastos públicos.“Não há mais espaço para o amadorismo e o assistencialismo na gestão pública. Os prefeitos devem estimular o desenvolvimento sustentável e as PPPs, gerando novas oportunidades e riquezas para o município. Mas tudo de forma integrada com a região e com o Estado, a partir de um planejamento de longo prazo. Não adianta olhar só para o município, nem só para o período de um único mandato”, concluiu.
Especial Indústria por Weber Caldas
Vidas secas: drama da falta de água piora em 2016 Efeitos da longa estiagem causam prejuízo à agricultura e à indústria. Com chuvas 50% abaixo do esperado, falta água até para o consumo humano em algumas regiões do Estado
O
nde havia um rio, hoje só se vê mato. A terra árida toma o lugar das plantações agrícolas. Os pastos secaram. O gado definha e morre de fome e sede. Das torneiras, não pinga nem uma gota. Esse cenário desértico, em que falta água até para o consumo humano, infelizmente, está sendo registrado aqui, em terras capixabas. Desde 2014, o Espírito Santo vem sofrendo os efeitos de uma estiagem que se agrava a cada mês. Um drama que gera prejuízo para produtores rurais, empresários, moradores das áreas mais afetadas e até consumidores de outras regiões. Para se ter ideia da situação, o volume de chuvas registrado entre janeiro e julho de 2016 foi 50% menor do que o esperado para o período, em comparação com os anos anteriores à estiagem. Como consequência, as vazões dos principais rios capixabas se reduziram. Alguns deles secaram completamente. Em 20 municípios, a maioria nas regiões norte e noroeste do Estado, o quadro é considerado extremamente crítico, não havendo água suficiente sequer para o consumo humano. Já
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há racionamento em 15 municípios. Em setembro se iniciou o racionamento na Grande Vitória (58 bairros). Essa é a primeira vez, na história do Estado, que a capital passa por racionamento de água. “Não é uma questão de fazer terror ou não. É preciso falar da realidade. Em algumas bacias hidrográficas do Estado podemos dizer que, tecnicamente, a água acabou. Não tem mais água para todos os usos de que se precisa”, afirma o presidente da Agerh, Paulo Paim. “É um ‘salve-se quem puder’: quem acha uma gotinha de água usa.” Com essa seca, a estimativa do Centro do Comércio de Café de Vitória é de uma queda de 50% na produção de café conilon do Estado, em 2016. De acordo com Nerzy Dalla Bernardina Júnior, vice-presidente institucional da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) em São Mateus e região e diretor industrial da Usina Alcon, a retração da safra canavieira pode chegar a 70% até dezembro deste ano.
“Não é uma questão de fazer terror ou não. É preciso falar da realidade. Não tem mais água para todos os usos de que se precisa” - Paulo Paim, presidente da Agerh
hoje, não passa de 70 ou 80”, conta Sérgio Brambilla, vice-presidente institucional da Findes em Venda Nova do Imigrante e região e sócio-fundador da Thai Café.
“No campo, a pecuária e a agricultura em geral foram praticamente dizimadas. Temos muitas famílias abandonando suas pequenas propriedades e se deslocando para outros estados. Os produtores que ficaram levarão, talvez, mais de três anos para se recuperar desse prejuízo”, relata Nerzy. “É uma estiagem que se prolongou muito além da média histórica. Isso agravou demais a situação, sobretudo na região rural. A todo minuto ouço relatos dramáticos por parte de produtores de café, cana-de-açúcar, pimenta ou gado”, reforça José Carnielli, presidente da Cooperativa Veneza e vice-presidente institucional da Findes em Nova Venécia e região. “A Veneza, nesses casos, tem tentado contribuir com alimentação para o rebanho dos cooperados. E também vem buscando parcerias para manter a produção de laticínios.” Apesar de menos prejudicada, a região sul do Estado também enfrenta dificuldades na produção agrícola. “Há casos de agricultores que estão há dois anos sem conseguir irrigar a lavoura, em razão da escassez de água. Quem produzia 150 sacas de café,
Medidas de controle Para controlar essa disputa pela pouca água que ainda resta, a Agerh recomendou que as prefeituras capixabas criem leis e imponham sanções e até multas para o desperdício de recursos hídricos. Entre as ações proibidas estão a utilização de mangueiras para a limpeza de calçadas, pisos, muros, fachadas, vidraças e veículos e o emprego a irrigação de jardins. Essas práticas só são permitidas com o emprego de água de reúso. As medidas restritivas se estendem também, nas regiões mais críticas, às indústrias, obrigadas a reduzir imediatamente o consumo, por meio da adoção de práticas de reúso e reciclagem da água em suas etapas de produção. “Quanto mais crítica a situação, maior é o conflito pelo uso da água. Na bacia do Doce, os rios Santa Maria da Vitória e Santa Joana praticamente não têm mais água. Por isso, é importante haver controle e regulação”, destaca Paulo Paim. “É preciso se engajar na questão do reúso. O Espírito Santo pode sair na frente nisso.” Cuidar da gestão dos conflitos é uma das missões dos 13 comitês de bacias hidrográficas existentes no Estado (ver mapa), compostos por representantes do poder público, da sociedade civil organizada e das empresas ou atividades econômicas que usam as águas dos rios em seus processos. A eles cabe fazer cumprir o Plano de Recursos Hídricos e Enquadramento, que estabelece metas a serem alcançadas ao longo do tempo. Esse plano permite conhecer a situação atual de cada rio, cabendo à sociedade, por meio dos comitês de bacias, dizer como e para o que quer utilizar cada trecho de manancial, daqui a 20 anos: lazer, pesca, utilização para abastecimento humano ou de indústrias, diluição de efluentes, entre outros. “São instrumentos clássicos de gestão, importantes em momentos como o atual, de escassez”, observa Paim. O Governo do Estado, por meio da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) e da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama), também já instituiu o Certificado de Sustentabilidade Quanto ao Uso Set/Out 2016 • 325
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Especial da Água. Voltado aos produtores rurais, o documento substitui, pelo período de um ano, a outorga para utilização nas lavouras de sistemas de irrigação que sejam sustentáveis. Trata-se de uma forma de estimular os produtores a trocarem os sistemas de irrigação que consomem muita água por outros mais eficientes e sustentáveis. O presidente da Agerh sugere, agora, a criação de um selo de sustentabilidade que valorize as indústrias que adotam o reúso em sua operação. “Não basta pedir ao cidadão para economizar água. É preciso criar instrumentos que ajudem a validar e valorizar aqueles setores que adotam medidas sustentáveis”, explica Paulo Paim. “O próprio setor industrial, junto com a Agerh, pode criar um selo para valorizar os seus produtos, diferenciando aqueles que fazem uma gestão por qualidade e adotam o reúso da água, o que é bastante apreciado no mercado internacional.” Sobre esse assunto, Wilmar Barros Barbosa, presidente do Conselho Temático de Meio Ambiente (Consuma) da Findes, avalia que “a criação desse selo é algo que precisa ser bem discutido, para se determinar os parâmetros ideais. É necessário definir bem o modelo, para que seja acessível a todas as unidades empresariais. A gente aguarda o Governo colocar isso em pauta para que possamos debater e ver qual é o melhor caminho.” Na Findes, os temas ligados à área ambiental são tratados nas reuniões do Consuma, que acontecem, na maioria das vezes, mensalmente, quando as lideranças do segmento se reúnem e discutem soluções e alternativas para os diversos assuntos relativos à atividade. O Conselho também realiza ações como workshops, palestras e outros eventos. Para o seu presidente, Wilmar Barros Barbosa, a maior parte das grandes indústrias reutiliza e promove o tratamento da água empregada em seus processos. “A indústria não só utiliza a água para diversas finalidades, como também procura devolvê-la para a natureza em condições ainda melhores do que as registradas no momento da captação. A maioria delas tem estações de tratamento de água, ao contrário da agricultura, por exemplo, que utiliza a água bruta, sem tratamento. Muitos processos produtivos permitem o reúso da água, basta saber como fazer para ter bons resultados. Por isso, demos início, desde 2015, a um trabalho de conhecimento sobre o reúso e como ele pode ser aplicado para que uma empresa não sofra problemas futuros. Reúso de água é complexo, mas as indústrias têm se saído bem”, disse.
“Os agricultores assumiram dívidas para serem quitadas por um processo produtivo que se perdeu com a seca. As indústrias já estão produzindo menos, em razão da recessão, e seus custos de produção estão mais altos devido também à falta de água” Wilmar Barros Barbosa, presidente do Consuma 32
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Ações do Sistema Findes Atenta à situação crítica em que se encontra o Estado diante da escassez de água em algumas regiões, a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) vem promovendo ações com o objetivo de ajudar o setor a contornar o problema. Por meio do Conselho Temático de Meio Ambiente (Consuma), desde 2014 têm sido realizados debates, palestras e workshops em que se discutiram soluções para a crise hídrica de forma a não prejudicar o meio ambiente nem a produção industrial. No início de agosto, ocorreu a palestra “Uso de águas subterrâneas: entendendo os caminhos a serem percorridos”, ministrada pelo professor Ricardo Hirata, do Instituto de Geociências da Ufes e também vice-diretor do Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas da Universidade de São Paulo (USP). “Na região norte-noroeste do Estado, que sofre mais com a seca, há grandes poços subterrâneos que poderiam atenuar o problema de abastecimento de água”, disse Hirata em sua apresentação. Antes, em julho, o Consuma já havia organizado um debate com empresários industriais sobre o gerenciamento de recursos e a cobrança pelo uso da água no Estado, com a participação da coordenadora de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Zelia Piotto. “A indústria não é contrária à cobrança. Mas é necessário que haja regras bem definidas. Precisamos visualizar o hoje e também considerar como seria o consumo da água no futuro”, afirmou, na ocasião, o presidente do Conselho, Wilmar Barbosa. Fonte: Sistema Findes
Crise hídrica e econômica A seca agrava o impacto sobre as indústrias da crise econômica vivida no Brasil. Obrigados a reduzir a produção devido à recessão, os empresários veem a falta de recursos hídricos prejudicar seus planos de recuperação financeira. “O período já é de crise, com falta de capital de giro e condições bancárias muito caras. Os agricultores assumiram dívidas para serem quitadas por um processo produtivo que se perdeu com a seca. As indústrias já estão produzindo menos, em razão da recessão. E correm o risco de não ter competitividade no mercado, porque seus custos de produção estão mais altos devido também à falta de água”, explica Wilmar Barbosa. “Em relação às empresas, a regra é enxugar o máximo possível de seus custos e, com isso, fica em jogo a garantia de emprego dos funcionários. Infelizmente, existe uma crise política e financeira que assola o país, mas a nossa crise também é hídrica. Se chover, pelo menos teremos o produto para circular, com preços altos ou baixos, e fazer girar a engrenagem”, detalha Nerzy Dalla Bernardina Júnior. Com os produtores rurais e os empresários sentindo o impacto financeiro da seca, o movimento do comércio em algumas cidades do interior do Estado também caiu bastante. “Não me lembro de ter passado um ano tão difícil como este que estamos enfrentando no Espírito Santo, em termos de seca”, diz Hélio Schneider, superintendente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps). “Sem água, não tem lavoura. Aí, não tem produção. Então, não
há dinheiro. Supermercadistas do interior estão vivendo um drama. As vendas despencaram.” O problema afeta também o consumidor, que sofre com o aumento frequente dos preços nas gôndolas dos supermercados, como relata Schneider. “Na pecuária, há produtores abatendo suas vacas leiteiras porque a seca destruiu todo o pasto. Sem alimento, não dá nem para manter o animal vivo. Aí os preços do leite, do queijo e da manteiga disparam nos supermercados.” “A falta de água afeta de diversas formas a vida do cidadão. A diminuição da produção no campo interfere na quantidade e na qualidade da comida na mesa”, completa Paulo Paim, da Agerh. Desde o ano passado, o Governo do Estado estabeleceu uma série de ações para mitigar os efeitos da longa estiagem. Entre as medidas do Plano Estadual de Recursos Hídricos, estão a construção de cinco barragens de médio porte e 26 de pequeno porte; a conclusão da barragem de Pinheiros-Boa Esperança; o fim das obras do Sistema de Abastecimento de Água Reis Magos; a construção de uma represa no Rio Jucu; perfurações de novos poços de profundidade; e a intensificação do programa Reflorestar, entre outras.
Localização dos municípios em situação crítica 19 municípios em situação extremamente crítica Apiacá Aracruz Barra de São Francisco Domingos Martins Ecoporanga Fundão Linhares Mantenópolis Marechal Floriano Marilândia Pancas Rio Bananal São Mateus Santa Leopoldina Santa Maria de Jetibá Serra Sooretama Vila Pavão Vila Valério
13 Comitês de Bacias Hidrográficas: Itapemirim, Rio Novo, Benevente, Jucu, Santa Maria da Vitória, Santa Maria do Doce, Litoral Centro-Norte, Guandu, Barra Seca e Foz do Rio Doce, Pontões e Lagoa do Rio Doce, São Mateus e Itaúnas. Fonte: AGERH
“Temos muitas famílias abandonando suas pequenas propriedades. Os produtores que ficaram levarão, talvez, mais de três anos para se recuperar desse prejuízo” - Nerzy Dalla Bernardina Júnior, vice-presidente institucional da Findes em São Mateus e região
“Estamos avançando em políticas públicas para preservação de mata nativa e nascentes, além da recuperação de mata ciliar e fortalecimento dos Comitês de Bacias Hidrográficas. Porém, o Governo não faz as coisas sozinho. Precisamos de engajamento e consciência da população sobre as relações de consumo com os recursos ambientais no Estado”, enfatizou o governador Paulo Hartung, durante cerimônia no Palácio Anchieta. No total, o Executivo planeja a construção de 60 barragens no Estado, num investimento de R$ 60 milhões até 2018. A maior delas será situada no Rio Itauninhas, com capacidade para armazenar 17 bilhões de litros de água, o suficiente para abastecer uma população de 310 mil habitantes por ano ou para irrigar 5.000 hectares de lavouras de café por meio de gotejamento. Esse empreendimento foi iniciado em 2003, numa parceria entre a Prefeitura de Pinheiros e o Governo Federal. Mas sofreu diversas paralisações. Até que o poder estadual decidiu assumir o projeto, que terá um investimento final de R$ 4,9 milhões. “A partir do momento em que sair do processo de crise, essas ações darão resultado. São medidas necessárias e estão vindo num bom momento”, comemora Wilmar Barbosa, do Consuma. Além das obras, a expectativa é pelo fim da estiagem e a volta das chuvas, o que pode ocorrer a partir de outubro. “Estamos sempre em contato com o Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural). A informação que recebemos é de que, com o fim do efeito El Niño, a tendência é que volte a chover em volumes normais a partir de outubro”, espera Paulo Paim. “Ninguém quer que o Estado fique debaixo d’água, mas, se houver um período de muita chuva, será importante. Porém, não adianta chover tudo num dia e num lugar só. As chuvas precisam ser mais amenas e por um período mais longo. Em janeiro deste ano, choveu bastante, mas não adiantou nada para a reservação de água”. Barbosa pontua, porém, que mesmo com a volta da chuva, as perspectivas, para os agricultores, ainda são preocupantes. “Torcemos muito para que chova bastante ainda este ano. Porque, até agora, as chuvas não foram significativas. É preciso lembrar, porém, que o agricultor que perdeu toda a produção com a seca precisa, antes de tudo, que as chuvas se normalizem para que possa voltar a plantar. Depois disso, dependerá de um tempo de carência para fazer a colheita e, enfim, recuperar-se financeiramente”. Set/Out 2016 • 325
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Especial Inovação por Gustavo Costa
Inovações que valem ouro L
ideradas por jovens empreendedores que buscam um lugar ao sol para projetos que se destacam tanto em termos de lucratividade quanto de sustentabilidade, as startups – empresas com pouco tempo de mercado, focadas em inovação, com grande e rápida rentabilidade – vêm ganhando terreno no mundo inteiro, sobretudo na área de tecnologia. Ao adotar um modelo de negócios escalável e repetível, elas mostram que a determinação, a ausência de aversão ao risco e a capacidade aprender com os erros são fundamentais para quem quer vencer. De acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), a despeito da crise econômica no país, o número de empreendimentos em estágio inicial em dezembro de 2015 chegou a 4.151, nada menos que um aumento de 18,5% em seis meses. Para o presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Espírito Santo (Sindinfo), Luciano Raizer, o surgimento negócios focados em inovações são um movimento recente no país e também no Estado. “É um
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Mesmo em tempos de crise, cresce o número de startups no país
movimento importante, que está transformando a realidade cotidiana com soluções inovadoras, muito centradas na internet. O mundo está em plena transformação, sendo redesenhado com base na tecnologia. Novos negócios têm surgido, novos produtos têm substituído os tradicionais, e o motor dessa transformação tem sido o surgimento de milhares de empresas, em várias localidades no mundo. O Brasil segue caminho semelhante e no Estado temos
“Assim como o povo brasileiro, muitas startups têm a capacidade de se adaptar a momentos de crise” Murilo Ferraz, fundador e diretor da Treebos
ainda poucas startups, mas é um movimento crescente e a cada dia se torna mais significativo”, falou. O superintendente da TecVitória, Vinícius Chagas Barbosa, percebe a criação de uma organização desse tipo como uma ação a ser aplaudida, e mesmo as falhas precisam ser vistas como fundamentais. “Eventuais fracassos devem ser vistos como acúmulo de experiência, assim como acontece em países mais tradicionais na geração desse tipo de empreendimento. No Brasil ainda temos uma cultura de intolerância ao fracasso, que está sendo reduzida em algumas cidades, como São Paulo e Florianópolis, mas que resiste no Espírito Santo. Outro aspecto que contribui para essa cultura é que fechar uma empresa no Brasil é caro e demorado, além de demandar uma burocracia absurda. Startups são empreendimentos que nascem, são testados e, se por acaso não derem certo, desaparecem, mas esse desaparecimento deveria ocorrer de forma bastante simples, e não como um calvário para o empreendedor.” Como acontece no caso de qualquer outra empresa, para se abrir um negócio semelhante é preciso ter em mente uma série de desafios: impostos, dificuldade de crédito e mesmo de planejamento. Barbosa lembra que as estatísticas dizem que 25% das startups brasileiras fecham no primeiro ano, mas esses números possam estar distorcidos, uma vez que muitas empresas são simplesmente deixadas de lado por conta dos entraves ou de desconhecimento. “Percebo também no Espírito Santo uma cultura de criar uma startup para ficar rico rapidamente, o que é bem difícil de ocorrer. O dinheiro normalmente é consequência do sucesso de uma ideia, ligado a uma enorme quantidade de suor e dedicação, e com assertividade no entendimento de que um negócio deve prever monetização realista”, destacou.
Acelerando negócios Quem está dando os primeiros passos com sua startup pode encontrar grandes aliadas no caminho da consolidação. Para Luciano Raizer, as boas ideias precisam ser desenvolvidas para se tornarem novos produtos. “E é aí que entram as incubadoras e as aceleradoras locais e também os meios para que isso ocorra. Temos que destacar o importante papel que a TecVitória, o Ifes e a Start You Up desempenham para apoiar o surgimento e fortalecimento de startups capixabas. Esses projetos precisam de apoio
“O mundo está em plena transformação. Novos negócios têm surgido, novos produtos têm substitiuído os tradicionais, e o motor dessa transformação tem sido o surgimento de milhares de empresas no mundo” Luciano Raizer, presidente do Sindinfo
financeiro para serem desenvolvidos, e aí entra o capital de risco dos ‘fundos anjos’. No nosso Estado esta ainda não é uma prática, mas espero que em pouco tempo os investidores possam perceber que existem muitas oportunidades nesses recém-criados negócios inovadores”, frisou ele. Tanto incubadoras quanto aceleradoras surgiram para ajudar os empreendedores na estruturação do negócio e priorizam projetos inovadores, especialmente os de tecnologia. A diferença entre elas está no modelo de cada uma. A aceleradora é de origem privada, com fins lucrativos e é mantida por investidores, que buscam retorno com a venda das ações da empresa apoiada. Logo, o lucro dela está diretamente relacionado ao êxito do negócio. Já a incubadora normalmente não tem fins lucrativos, sendo mantida por instituições públicas. “Para receber o apoio continuado de qualquer uma dessas instituições, o empreendimento passa por uma avaliação de sua competitividade, o que inclui perfil dos empreendedores, modelo de negócio, processo de monetização, entendimento do mercado-alvo e diversas outras peculiaridades. Ao fim desse processo, se aprovada, a startup passa a contar com o suporte da entidade escolhida, que usualmente vem com um ferramental bastante amplo para ajudar a consolidação do empreendimento. É frequente que a taxa de fracasso desses empreendimentos seja muito menor do que a de empreendimentos não apoiados. Os mecanismos não garantem o sucesso mas, uma vez que acolhem uma startup, agregam comprometimento e competências bastante relevantes para sua consolidação”, explicou Vinicius Chagas Barbosa. Set/Out 2016 • 325
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Inovação
Parque Tecnológico de Vitória: local para novos negócios Empresas capixabas se destacam Diversas startups do Espírito Santo têm obtido destaque nacional e até internacional, deixando claro o potencial capixaba. É o caso da Treebos, que surgiu da iniciativa de um grupo de amigos que queria plantar árvores em um local para que depois de um tempo, com elas já adultas, tivessem um bosque para visitar e curtir momentos de lazer com a família. O principal produto da empresa é uma assinatura que permite ao usuário ter uma árvore frutífera cultivada em um dos bosques e acompanhar seu crescimento pela internet. Os assinantes pagam uma taxa mensal para ter a planta cuidada e, quando há os primeiros frutos, eles podem escolher o que fazer com a produção: receber as frutas em domicílio; doar para uma instituição; ou vendê-las por meio do site da empresa e receber um pagamento. O fundador e diretor da Treebos, Murilo Ferraz, acredita nas características que os brasileiros imprimiram nas startups. “Assim como o povo brasileiro, muitas startups têm a capacidade de se adaptar a momentos de crise como o que estamos passando. Infelizmente, ainda não percebi resultados reais nos programas que foram criados, no Brasil, para estimular o ‘ecossistema’ de startups. As que mais deram certo teriam se feito por sua história e pessoas. A ajuda vinda de governos e instituições ainda não oferece o impulso que vemos acontecer em outros países”, disse. Mesmo em um ano complicado para a economia, a Treebos segue com bons projetos. “Durante um plano de trabalho que estamos desenvolvendo junto com a Apex, nos Estados Unidos, ficou definido que precisaríamos de um prazo entre três e cinco anos para adaptar o modelo de negócio que criamos ao mercado, à legislação e às relações de trabalho norte-americanos. Isso exigiu mudanças na forma como estávamos conduzindo a história da Treebos até aqui. Tudo tem que ser bem mais lento agora. Estamos desenvolvendo a nova plataforma que vai sustentar o modelo internacional, cujo foco será a ideia original da Treebos de criar e manter bosques”, enfatizou Ferraz.
“O dinheiro normalmente é consequência do sucesso de uma ideia, ligado a uma enorme quantidade de suor e dedicação” Vinicius Chagas Barbosa, superintendente da TecVitória 36
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O recente lançamento do edital do Parque Tecnológico de Vitória torna cada vez mais próxima uma estrutura de grande importância para novas empresas no Estado. “O parque começa a se tornar realidade em um momento no qual o mundo caminha para uma nova onda de sua economia, com a chamada indústria 4.0 e com as cidades 2.0. Começamos a viver a era da robótica, da nanotecnologia, da biotecnologia, da internet das coisas (IoT), das cidades inteligentes e humanas e da KNoT (Knot Network of Things), o nó que conecta as plataformas da IoT, permitindo interoperabilidade entre as plataformas e entre os dados dos diversos dispositivos”, disse André Gomyde, presidente da Companhia de Desenvolvimento de Vitória (CDV). Segundo ele, estão sendo feitas parcerias com instituições que compõem a governança do complexo, em uma mescla de negócios voltados para as indústrias do petróleo e gás e do minério de ferro, com atividades direcionadas à indústria das cidades e aos negócios inteligentes, conectados com a nova onda da economia mundial. A estrutura contará com a participação da incubadora TecVitória, tudo para melhor atender e ajudar as startups. “Recentemente, agregamos à governança do Parque Tecnológico a turma do Ilha Valley, em conjunto com a Fecaje (Federação Capixaba de Jovens Empreendedores), para que nos ajudem a modelar um bom plano de negócios para o parque, no que diz respeito às startups”, finalizou Gomyde.
Outra startup de sucesso é a Mito Games. Entre as soluções de sucesso da empresa está o “Eu Me Garanto”, criado para melhorar a forma como os alunos se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A tecnologia ajuda os condidatos a se manterem conectados na hora de estudar, fazendo a resolução de exercícios mais divertida. De acordo com Rafael Lontra, diretor de Produtos da Mito Games, a área de educação foi escolhida por motivos estratégicos em termos de negócio. “São nove milhoes de inscritos todo ano no Enem. É relativamente fácil se atingir o público-alvo (95% estão nas escolas), temos um segmento de clientes que gera interesse de anunciantes, possibilitando o modelo de negócio free para o jogador e pago para os anunciantes, entre outros motivos”, falou. Para as startups, a criatividade é mola propulsora a impelir o desenvolvimento humano. E é na inovação que essa criatividade mais está presente. Em tempos difíceis e incertos da economia, se faz necessária uma visão diferenciada e aguda percepção das oportunidades. E com os desdobramentos da era digital e os movimentos das cidades conectadas e cada vez mais inteligentes, está criado o ambiente perfeito para novas e vibrantes empresas.
Artigo
A indústria do cinema do Espírito Santo
A
indústria do cinema está diante de um cenário muito positivo no Brasil. Muitas são as oportunidades disponíveis no mercado para viabilizar a produção audiovisual para diversos segmentos de mercado, desde linhas de financiamento do BNDES, ideais para as indústrias criativas, até ações abrangentes como o Programa de Economia Criativa, do Bandes, além de leis federais de fomento ao setor, como a Lei do Audiovisual e Lei da TV Paga. Os estúdios cinematográficos do Espírito Santo vivem um momento de articulação muito propício. Com a criação do Sinaes e o planejamento de um APL do Audiovisual junto ao Bandes, a Sedes, a CDV e outras autoridades, temos um momento único para a defesa dos interesses do setor. Trata-se de empresas que aumentaram sua competitividade de forma significativa nos últimos anos, num amadurecimento que proporcionou a seleção dos primeiros projetos capixabas em chamadas públicas do Fundo Setorial do Audiovisual, que aplica recursos para o desenvolvimento de toda a cadeia produtiva cinematográfica em âmbito federal. Os filmes capixabas começam a despontar nas salas de cinema, nos canais de TV Paga, na internet e em outros mercados que permaneciam inexplorados pelas empresas locais. O produto audiovisual é caracterizado por um altíssimo valor agregado, constituindo por meio da propriedade intelectual uma fonte de receita que pode durar muitos anos e desdobrar-se em subprodutos, novas versões, conteúdos transmidiáticos e muitas outras alternativas inovadoras, desde mecanismos simples para movimentos de câmera até novos sensores para captação de som e imagem, cinema 4D, e muitos outros equipamentos e procedimentos que utilizam tecnologia de ponta. Dentre todas as possibilidades de desenvolvimento do setor, reconhecemos que uma
delas merece maior destaque: a aquisição de Certificados de Investimento Audiovisual. É um procedimento regulamentado pela Lei do Audiovisual (Lei Federal 8.685/93), fiscalizado pela Agência Nacional do Cinema e reconhecido pela Comissão de Valores Mobiliários. Os Certificados de Investimento Audiovisual são valores mobiliários representativos de obras audiovisuais cinematográficas, que oferecem vários benefícios, entre eles: a publicidade da marca, a possibilidade de impulsionar a economia criativa do Espírito Santo e ainda de participar dos lucros das obras cinematográficas, realizadas por meio dessa modalidade de investimento. Esses certificados podem ser adquiridos tanto por pessoas jurídicas quanto físicas, com recursos do Imposto de Renda, até o limite de 3%. Ou seja, a empresa redireciona parte dos recursos que estavam destinados para pagar o Imposto de Renda devido ao Governo Federal. Os recursos ficam no Espírito Santo, gerando emprego, renda e desenvolvimento cultural, artístico e econômico para o Estado. Pessoas jurídicas tributadas em regime de Lucro Real podem ainda contabilizar o investimento enquanto despesa operacional, alterando o cálculo do lucro e gerando um ganho fiscal de R$ 1,25 para cada R$ 1,00 investido. Muitos são os desafios para a indústria audiovisual capixaba, mas o momento é propício. Desde a primeira reunião, temos no Sinaes uma agenda sintonizada com a inovação e a sustentabilidade, em prol do desenvolvimento econômico e cultural do Estado, visando não só o fortalecimento da indústria criativa, mas a articulação com os outros setores para promover e usufruir de novas possibilidades de negócios e gerar uma verdadeira sinergia produtiva, proporcionando excelentes resultados para todos os envolvidos.
MAGNO SANTOS é produtor executivo da Finordia Produções e presidente do Sinaes (Sindicato da Indústria Cinematográfica do Estado do Espírito Santo) Set/Out 2016 • 325
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Especial Sustentável por Roberto Teixeira
Setor de rochas ornamentais é destaque nacional em preservação do meio ambiente Importante segmento da economia capixaba demonstra que aliar conscientização e investimento é fórmula eficaz para desenvolver sustentabilidade
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ido por longo tempo como vilão do meio ambiente, o setor de rochas ornamentais dá uma reviravolta e se torna, no transcorrer dos anos, exemplo de adequada postura nesse quesito – notadamente em relação ao reúso da água e à eliminação de rejeitos produzidos nas serrarias. Mas como o atual estágio de sucesso foi alcançado pelas empresas capixabas? Para o presidente do Sindicato da Indústria de Rochas Ornamentais, Cal e Calcários do Espírito Santo (Sindirochas), Tales Machado, a elevação do conhecimento por parte dos empreendedores a respeito da importância de critérios relativos à pauta verde foi decisiva. “A consequência foi a constatação da necessidade de se praticar a atividade de forma socioambientalmente sustentável, para que assim seja garantida a continuidade dos negócios”, comenta. “O Estado do Espírito Santo ganhou reconhecimento nacional sob essa perspectiva, tornando-se referência para secretários e presidentes de órgãos ambientais de todo o país que integram a Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema)”, ressalta. Para o dirigente sindical, isso traz reflexos positivos, fortalecendo a imagem do
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Indústria Capixaba – Findes
setor com clientes de todos os continentes que se preocupam com a origem e forma de produção de todos os bens adquiridos. “Em relação aos outros estados, as ações de gerenciamento de resíduos aqui adotadas funcionam como norteadoras e como exemplo a ser seguido.” O presidente do Sindirochas também enfatiza como outro fator para o êxito a capacidade demonstrada em desenvolver trabalhos em equipes, por intermédio da formação de associações de empresas, tratando a questão de forma coletiva, e não individual. “Essa união reduziu os custos para a instalação de empreendimentos destinados ao gerenciamento dos resíduos gerados com a atividade de rochas, tornando possível a implantação de mais de 10 Centros de Tratamento de Resíduos no Estado (CTRs).” Ainda de acordo com ele, o setor se superou na questão da destinação dos resíduos. “O sindicato provocou e participou da regulamentação do processo para que os empresários pudessem trabalhar de maneira correta. Em um período de 10 anos, ninguém mais vê nossa atividade como vilã do meio ambiente”, aponta.
Um exemplo da preocupação ecológica da categoria foi a adesão maciça ao uso do tear multifios diamantados,que dispensa a utilização do cal e da granalha no processo de serragem da rocha, tornando o refugo gerado mais limpo e assim aumentando suas possibilidades de emprego como matéria-prima para a fabricação de outros produtos. Os empresários capixabas prometem continuar avançando na implementação de medidas que garantam a qualidade do meio ambiente. “Novas tecnologias, que são quase sempre menos poluidoras, continuam sendo buscadas pelo setor, não apenas pelo aspecto econômico, mas também, e sobremaneira, como forma de redução ou eliminação do impacto ambiental eventualmente causado durante as atividades do processo produtivo de rochas”, afirma Machado.
Importância da legislação A falta de legislação específica sobre o tema e o reduzido conhecimento dos empresários acerca das exigências ambientais contribuíram, em certa proporção, para que a atividade fosse desenvolvida, muitas vezes, de forma inadequada. Aterros ou depósitos apropriados e licenciados para destinação dos resíduos não existiam. E, principalmente, os empresários não detinham conhecimento sobre as formas e condições corretas para a criação desses locais. A regularização do setor com relação ao descarte de resíduos de rochas começou em 2005, durante a gestão do então presidente do Sindirochas, Áureo Mameri, que hoje comanda o Conselho Temático de Desenvolvimento Regional (Conder) da Findes. “Quando assumi o sindicato, em 2003, não havia nenhuma regulamentação quanto à destinação dos rejeitos das serrarias, mas havia muita fiscalização e cobrança sobre os industriais por parte dos órgãos fiscalizadores”, lembra ele. À frente da entidade patronal e conhecendo de perto a realidade dos empresários, Mameri buscou os órgãos reguladores – no caso, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) e o Instituto Estadual do meio Ambiente (Iema) – para estabelecerem os critérios para a destinação correta da lama abrasiva das serrarias. “Criamos um comitê com representantes de todos os órgãos envolvidos, com técnicos do Sindirochas e prestadores de serviços, e desse modo desenvolvemos as normas reguladoras. Uma novidade foi a modelação do filtro-prensa para processamento de rejeitos, separando a água dos resíduos industriais”, relembra. Com a publicação, pelo Iema, da Instrução Normativa nº 019/2005 e, posteriormente, da Instrução Normativa nº
“Em relação aos outros estados, as ações de gerenciamento de resíduos aqui adotadas funcionam como norteadoras e como exemplo a ser seguido” Tales Machado, presidente do Sindirochas
“Os problemas eram coletivos, e foi necessária uma grande articulação entre o Ministério Público, o Governo do Estado e o setor de rochas. Isso gerou a criação de associações, uma delas envolvendo mais de 100 empresas” Aladim Cerqueira, secretário de Estado do Meio Ambiente
012/2007, passou a existir uma legislação específica com referência ao gerenciamento dos resíduos gerados no setor de rochas ornamentais. Até aquela data, esses materiais eram descartados sem qualquer critério técnico, em locais onde se pensava serem os menos impactantes. O processo de regularização do setor começou em 2005, com a instalação do primeiro depósito coletivo de resíduos de rochas, no município de Castelo. No ano seguinte, 2006, o Estado ganhava seu primeiro Centro de Tratamento de Resíduos (CTR), instalado em Nova Venécia, no noroeste capixaba. Com os documentos contendo as normas, em 2007 aconteceu a assinatura oficial de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), junto ao Ministério Público, para adequação de cerca de 30 empresas do setor de rochas ornamentais. O acordo funcionou como indutor para a instalação de diversas CTRs no Espírito Santo. Logo após, Cachoeiro de Itapemirim, principal município produtor do segmento no Estado, ganhou três centros de tratamento de resíduos. Em seguida foi a vez de Vargem Alta, Atílio Vivacqua, Itapemirim e Barra de São Francisco abrirem suas unidades, ampliando esse número para nove. “Até a assinatura do TAC, a maioria das empresas instaladas estavam irregulares, sem o licenciamento ambiental, correndo oriscodeparalisaçãodaatividade.Comaformalizaçãododocumento e a implantação dos depósitos, todas se regularizaram, seja através do filtro-prensa, seja por células de decantação, que são os depósitos construídos adequadamente. Além disso, para conseguirem financiamento hoje, os novos projetos precisam da licença de operação. Atualmente, o setor está todo legalizado”, frisa Tales Machado. O secretário de Estado do Meio Ambiente, Aladim Cerqueira, participou da elaboração das normas e lembra que mais de 100 empresas estiveram envolvidas no processo de adequação do segmento. “O setor de rochas, em 2003, tinha uma grande agenda e dificuldades para se ajustar a um cenário de sustentabilidade, sendo visto pela população como altamente degradador. Dentro de uma visão governamental, fomos buscar caminhos novos para a regularização da atividade e sua evolução, com soluções inovadoras. E conseguimos. Avanços com Set/Out 2016 • 325
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Sustentável
O ciclo de produção de rochas ornamentais
Matériaprima
normatizações e o tratamento da lama abrasiva, por exemplo. Os problemas eram coletivos, e foi necessária uma grande articulação entre o Ministério Público, o Governo do Estado e o setor de rochas. Isso gerou a criação de associações, uma delas envolvendo mais de 100 empresas”, conta ele.
Investimentos fizeram a diferença Paralelamente à normatização, o sindicato patronal procurou o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) e solicitou uma linha de financiamento específica para que as empresas pudessem implantar o sistema de tratamento residual sob os novos termos. “Foi um trabalho árduo, mas conseguimos criar um ambiente positivo para que o processo corresse de forma adequada. O que se perde de recurso hídrico hoje é muito pouco, temos empresas no segmento que aproveitam praticamente 90% da água da produção. A única água perdida hoje no processo é na evaporação. Os resíduos são desidratados até atingirem um máximo de 30% de umidade e em seguida são enviados, por meio de transportadoras especializadas, para depósitos coletivos ambientalmente licenciados”, explica Áureo Mameri. Segundo Maria da Gloria Brito Abaurre, responsável pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama), entre 2004 e 2010 o maior problema ambiental no Estado era relacionado ao setor. “A abertura do segmento para conversar e a vontade de normatizar foram essenciais. Os destaques na poluição ambiental atual são o pó preto, a poeira e a questão dos rios, o saneamento”, detalha.
“Criamos um comitê com representantes de todos os órgãos envolvidos, com técnicos do Sindirochas e prestadores de serviços, e desse modo desenvolvemos as normas reguladoras” Áureo Mameri, industrial, presidente do Conder/Findes
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Indústria Capixaba – Findes
Produto beneficiado
Aproveitamento Utilização
Resíduos
Reutilização Reciclagem
Blocos Destinação final
Fonte: Semma
Referência O Espírito Santo mantém a liderança brasileira em produção, processamento, beneficiamento e exportação de rochas ornamentais, atividade que contribui com cerca de 10% do PIB capixaba, de acordo com o Ministério de Minas e Energia. O campo extrativista de rochas ornamentais é classificado como mineração de pequeno porte, visto que ocupa pequenas áreas diretamente em maciços ou matacões. No sul do Estado, onde Cachoeiro de Itapemirim é principal centro de extração, concentram-se as jazidas de mármore. No norte/noroeste, que tem Nova Venécia como referência, estão as jazidas de granito. O principal parque industrial de beneficiamento fica no sul do Espírito Santo. Paralelamente, a Região Metropolitana da Grande Vitória registra um crescimento do número de empresas de processamento de mármore e de granito, responsáveis pela oferta de produtos de maior valor agregado. No ciclo produtivo do setor de rochas ornamentais destacam-se a extração, o beneficiamento primário e o beneficiamento final. Na extração ocorre a remoção da matéria-prima dos maciços rochosos. O produto final são blocos retangulares com variadas dimensões. O beneficiamento primário, segunda fase, muitas vezes chamado de serragem, é o momento em que o bloco já extraído é cortado em chapas. Trata-se da primeira etapa da operação de beneficiamento. O terceiro estágio é a do beneficiamento final¸ no qual há o acabamento de acordo com a demanda dos clientes e existe uma elaboração mais refinada do produto que foi extraído, cortado e agora trabalhado em mais detalhes.Os refugos gerados durante todo o processo são descartados em um dos 10 Centros de Tratamento de Resíduos existentes no Estado. O Espírito Santo conta com a Rota do Mármore e do Granito, composta por 22 municípios, a primeira no país voltada especificamente para o turismo de negócios. A modernização das instalações físicas e das relações de comércio, especialmente com o mercado exterior, além da promoção de eventos realizados para divulgar a produção regional – como a Vitória Stone Fair e a Cachoeiro Stone Fair – aumentaram a competitividade das empresas capixabas. A história do setor fornece ao país um exemplo que pode ser seguido por outros estados e prova que a união de entes públicos e privados em torno de um objetivo comum é o caminho mais eficaz para trazer os resultados ambientais positivos que mercado e sociedade esperam, mesmo que em médio ou longo prazo.
Indústria
Centro Integrado no Civit é ampliado
O
Sistema inaugurou no dia 26 de agosto as obras de reforma e ampliação do Centro Integrado Sesi/ Senai Serra, no bairro Civit, na Serra. O presidente da entidade, Marcos Guerra, abriu a solenidade e falou sobre a importância da reestruturação do espaço e sobre o aumento de sua eficiência no atendimento às demandas em uma região de forte atuação da indústria no Espírito Santo.“Na Serra, ouvimos as demandas e desenvolvemos um projeto para impulsionar ainda mais a indústria local. O Centro Integrado localizado no Civit está no coração da indústria da Serra, que é, por sua vez, o município mais industrial do Estado. Nossos investimentos são feitos para atender demandas específicas do setor produtivo
local, graças também ao trabalho de aproximação que realizamos com as lideranças industriais da cidade, ouvindo, dialogando e criando soluções em conjunto”, frisou ele. Batizado de “Jones Santos Neves Filho”, o Centro conta com investimentos de mais de R$ 13 milhões, que serão utilizados na edificação de salas de aula, oficinas e laboratórios, somando novos 2,4 mil m² de área construída ao espaço atual. A unidade oferecerá os cursos de técnico em Eletrotécnica, Informática, Plásticos, Mecânica, Redes de Computadores, Refrigeração e Segurança do Trabalho, além de oportunidades de qualificação para soldador, caldeireiro e torneiro mecânico e de cursos de aperfeiçoamento profissional em autocad, hidráulica, pneumática e operador de empilhadeira.
GUAÇUÍ RECEBE ESCOLA MÓVEL Com uma estrutura composta por módulos educacionais articuláveis, que formam salas de aulas, oficinas e laboratórios, a Escola Móvel do Sistema Findes chegou ao município de Guaçuí. A expectativa é de que pelo menos mil pessoas da região sejam beneficiadas, por meio de cursos profissionalizantes oferecidos pelo Senai e pelo Sesi. A Escola Móvel possui 504 m² de área construída e outros 200 m² de espaço externo, com duas tendas que servem como oficinas para a realização das aulas práticas. Com duração de cerca de um ano, as capacitações se dividem em iniciação, qualificação básica, aperfeiçoamento e especialização profissional. Serão oferecidos gratuitamente os cursos de Confecção, Construção Civil, Mecânica de Motos, Mecânica Automotiva, Alimentos, Tecnologia da Informação e Frigorífica. Para o presidente do Sistema Findes, Marcos Guerra, a iniciativa reafirma o compromisso da entidade com a interiorização. “Com a instalação da Escola Móvel, trabalhamos para atender às demandas do setor produtivo local com qualificação profissional e abrimos espaço para o diálogo entre os industriais”, frisou. A chegada da unidade foi possível graças a uma parceria do Sistema Findes com a prefeitura da cidade. O Sesi e o Senai disponibilizarão a estrutura e os profissionais, enquanto a gestão municipal cuidará das despesas e da divulgação dos cursos. Instalado pela primeira vez em Governador Lindenberg, o projeto passou por Baixo Guandu e Santa Maria de Jetibá.
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Indústria Artigo em ação
JOVENS EMPRESÁRIOS MOVIMENTAM O ESTADO
Lúcio Dalla ladeado por Manuel Pimenta, ex presidente do Sindifer e Marcos Guerra, presidente do Sistema Findes
LÚCIO DALLA BERNARDINA É O NOVO PRESIDENTE DO SINDIFER
Novas ideias, negócios promissores e muita energia. As lideranças jovens empresariais dos mais diversos setores se reuniram em Vitória, entre 24 e 26 de agosto, para a realização de dois grandes eventos ligados ao empreendedorismo: a 78ª Assembleia Geral Ordinária (AGO) da Confederação Nacional de Jovens Empresários e o Youth Business Ecosystem Summit (YBE Summit). Uma ação da Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje) com coordenação no Espírito Santo da Federação Capixaba de Jovens Empreendedores (Fecaje), a AGO ocorreu no Palácio Anchieta e contou com jovens empreendedores e empresários de várias regiões do país, além de autoridades como o governador Paulo Hartung. Em pauta, projetos como Conaje Capacita, Conaje Agro, Rede Conaje, Projeto Interaje, assim como assuntos relacionados à área tributária, missões regionais e missões internacionais. Já o YBE Summit, foi promovido no Edifício Findes e teve como tema “Espírito Santo: o Brasil e o mundo empreendem aqui!”. O encontro entre empreendedores de vários lugares do planeta serviu para conectar e inspirar jovens por meio de grandes cases de sucesso.
Natural de Colatina, o empresário Lúcio Dalla Bernardina foi empossado presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico do Estado do Espírito Santo (Sindifer-ES) no dia 22 de agosto. Também à frente da Metalosa, ele assume o comando da entidade patronal para o triênio 2016/2019. Na cerimônia, que aconteceu no auditório do Sindifer, em Vitória, o dirigente antecipou que pretende instituir o conselho de ex-presidentes da instituição. “Vamos nos apoiar na experiência bem-sucedida dos nossos antecessores, como Cezar Daher Carneiro, João Marcos Del Puppo, Luiz Alberto de Souza Carvalho e Manoel Pimenta”, destacou ele. Bernardina, que substitui Pimenta no sindicato, afirmou que o momento é de muito trabalho e que a união do setor faz a diferença em tempos de crise econômica.
SENAI TRAZ IMPRESSORAS 3D PARA SALA DE AULA Os alunos dos cursos do Senai-ES já contam com uma tecnologia capaz de tornar realidade o que antes só existia na tela do computador. A entidade investiu cerca de R$ 70 mil na aquisição de impressoras 3D para todas as suas unidades. Segundo João Marcos Del Puppo, gerente de Educação e Tecnologia da instituição, a necessidade surgiu com as aulas de prototipagem, na inauguração da Escola Senai do Plástico, na Serra. Já as impressoras das outras unidades têm caráter demonstrativo, servindo para aproximar os alunos da nova realidade. “A impressora ajuda a prepará-los para aplicações do mundo real, pois fornece a experiência com as novas tecnologias utilizadas na indústria. A qualificação desse futuro profissional significa alavancar o processo de inovação no setor produtivo, afinal, são eles que estarão trabalhando na indústria amanhã”, destacou o gerente. O próximo investimento será a aquisição de um scanner 3D de leitura tridimensional.
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Indústria Capixaba – Findes
Especial Gestão por Andrea Nunes
A força feminina no ambiente corporativo Movimento feminista discute respeito e espaço da mulher na sociedade e no mercado de trabalho
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á muito tempo elas conquistaram o direito ao voto e, na sequência, a aceitação social para que pudessem trabalhar, se divorciar e fazer suas próprias escolhas em relação à carreira e ao planejamento familiar. Mas a luta pela emancipação, pelo empoderamento e pela igualdade de direitos continua reverberando na sociedade – hoje, com a ajuda de um grande e poderoso palanque, a internet. Em especial, as redes sociais, onde questionam a cultura machista, se manifestam e opinam a respeito de fatos e atitudes, pautam a grande mídia e discutem formas de tornar o mundo menos desigual. O debate a respeito do espaço feminino na sociedade também continua na esfera da participação no mercado de trabalho. Agora, questionando as diferenças salariais,
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Indústria Capixaba – Findes
a ocupação de cargos e de áreas restritas: gradativamente, as mulheres alcançam postos de direção e funções que historicamente foram considerados atividades tipicamente masculinas – como os pátios industriais.
“O mundo é competitivo, inovador, e exige que você se atualize cada vez mais para que consiga evoluir e mostrar que vai conseguir superar tudo o que tem pela frente” Cecilia Milaneze, diretora geral da Milanez & Milaneze
Foto: Sagrilo
Para a diretora para Assuntos de Capacitação e Desenvolvimento Humano do Sistema Findes e empresária do ramo de confecção, Clara Thais Orlandi, essa mudança se deve a uma série de evoluções que a própria sociedade está vivendo. “As mulheres ampliam e redefinem papéis que lhes foram historicamente atribuídos, combinando-os com a competência no trabalho. A tecnologia tem substituído a força física pelo domínio do conhecimento e da técnica; os índices de escolarização das mulheres expandem-se em diferentes áreas, funções antes consideradas exclusivamente masculinas são competentemente realizadas por mulheres e, em configurações familiares contemporâneas, muitas vezes cabe a elas o papel de ajudar a compor o orçamento doméstico ou mesmo de prover o sustento do lar”, analisa Clara. Na indústria capixaba, por exemplo, segundo dados fornecidos pelo Ideies, no ano de 2014 (o levantamento mais recente disponível), eram 209.009 profissionais na indústria do Espírito Santo, sendo 46.547 mulheres, ou seja, uma representatividade de 22,3% na força de trabalho. A diretora da Findes reconhece, porém, que ainda há aspectos delicados a se discutir, em especial à questão da isonomia de salários.“O respeito e a aceitação social do trabalho feminino em profissões tradicionalmente masculinas têm sido proporcionais à expansão da escolaridade de mulheres, cada vez mais preparadas para o exercício de funções de maior complexidade dentro das empresas. Observa-se então o crescente acesso feminino a posições antes improváveis. A desigualdade salarial, no entanto, permanece como questão a ser superada”, ressaltou a dirigente. Com um mercado de trabalho cada vez mais mesclado entre os gêneros, empresas têm seguido a direção dessas
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mulheres atuam na indústria capixaba, representando 22,3% da força de trabalho
“As mulheres ampliam e redefinem papéis que lhes foram historicamente atribuídos, combinando-os com a competência no trabalho” - Clara Thais Orlandi, diretora da Findes e empresária do ramo de confecção
mudanças e buscado estimular a diversidade em seus quadros, aproveitando as diferenças mais comuns observadas pelos gestores entre homens e mulheres de modo a usar ao máximo os potenciais de ambos. É o caso da Grafitusa, que apesar de ter 95% de homens na mão de obra industrial, há três anos vem buscando capacitar internamente mulheres para operar equipamentos de produção e com isso diversificar o quadro de funcionários. E um dos motivos que levou a direção da empresa a tomar essa iniciativa é a própria escassez da oferta de mão de obra: a maioria dos candidatos a vagas de emprego na área industrial é do sexo masculino.“Se dependermos da mão de obra externa, não vamos encontrar isso pronto nem interesse na procura. O serviço gráfico precisa de detalhes de qualidade que mulheres sabem fazer muito bem”, afirmou a diretora comercial da Grafitusa, Cristhine Samorini. Seguindo a mesma proposta de manter o ambiente de trabalho diversificado e de buscar um equilíbrio entre os gêneros, assim como estimula a presença feminina na parte operacional, Samorini também já seguiu o caminho inverso na parte administrativa. “Eu acho muito importante diversificar a mão de obra. Tanto que eu tinha muitas mulheres no setor administrativo e precisei contratar alguns homens. Aqui na gráfica, ambos oferecem os mesmos resultados, os salários são iguais, e os cargos são idênticos. Na parte administrativa, a gente consegue mensurar isso melhor.” Set/Out 2016 • 325
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Gestão Representatividade dos profissionais dos sexos masculino efeminino na indústria capixaba – 2014 Extrativa mineral
12.444
Indústria de transformação
1.454
89,5%
10,5%
90.807
70,6%
37.780
29,4%
Serviços industriais de utilidade pública 8.307
1.496
84,7% 15,3%
Construção civil
50.904
89,7% 10,3%
Fonte: Rais 2014/Mte | Elaboração: Ideies / Sistema Findes
Capacitação Mulheres que conquistaram cargos de destaque no setor da indústria afirmam que apostaram alto na capacitação e em muita dedicação no dia a dia para se consolidar no mercado e construir suas carreiras. A diretora geral da Milanez & Milaneze, Cecilia Milaneze, defende que o essencial, não só para elas, mas também para eles, é transmitir competência na atividade desenvolvida, considerando que a competitividade do mercado é cada vez maior para ambos os gêneros, segundo avalia. “O mundo é competitivo, inovador, e exige que você se atualize constantemente para que consiga evoluir e mostrar que vai conseguir superar tudo o que tem pela frente. Antigamente, o profissional se formava em um curso superior e estava pronto. Hoje, ele precisa ter atualização permanente, de buscar conhecimento; o mundo digital evolui muito rápido e exige uma dinâmica intensa. O mercado requer muita dedicação. Se não for assim não haverá sucesso, nem para mulheres nem para homens”, salienta Cecilia. Para Christine, da Grafitusa, a mulher que ambiciona conquistar o respeito e o reconhecimento do mercado precisa ter uma postura firme, saber se posicionar no momento certo e, sobretudo, estar bem preparada e capacitada para a atividade que for realizar. “Se ela se prepara, se capacita tecnicamente, não tem por que ficar atrás. Eu percebo que existem pessoas
“O serviço gráfico precisa de detalhes de qualidade que mulheres sabem fazer muito bem. Acho muito importante diversificar a mão de obra” Cristhine Samorini, diretora comercial da Grafitusa 46
Indústria Capixaba – Findes
5.817
sem formação que chegam para discutir com uma gente mais bem preparada e aí, realmente, sofrem alguma discriminação.” Um reforço especial que Samorini revela como fundamental para seu crescimento foi o preparo que recebeu da própria família para tornar-se uma boa profissional. “Eu sempre estudei muito e tive um ótimo exemplo do meu pai, que me estimulou e nunca deixou de me cobrar um posicionamento diferenciado no mercado. Então, ser mulher, para mim, nunca foi um problema.”
Renúncia Mas se por um lado a capacitação e o empenho são degraus para a mulher conquistar seu espaço no mundo do trabalho e se realizar profissionalmente, por outro há as renúncias e escolhas que precisam ser feitas para que essa trajetória seja trilhada, como reforçou Clara Thais Orlandi. Ela, que começou sua carreira na área da educação, como professora, após muita luta, estudo e dedicação, chegou com apenas 27 anos ao posto de diretora geral de uma instituição de ensino. Mas seu espírito empreendedor acabou por levá-la a abrir um negócio próprio, hoje uma empresa que gera 160 empregos diretos. “É lógico que há um alto preço a se pagar, e isso exige muita renúncia por parte da família, que, além de apoiar, precisa entender nossa ausência do ambiente doméstico, da assistência aos filhos e ao marido. A entrada da mulher no mercado requer um esforço e dedicação dobrados, por assumirmos numerosos papéis junto à família e junto à empresa”, relatou. Mas uma coisa parece não gerar dúvida entre aquelas que assumem o seu poder e decidem se dedicar ao que realmente querem, como é o caso das que lutam em busca de empreender e crescer: quando há dedicação e vontade, é preciso seguir em frente. “Se o empreendedorismo estiver em nosso espírito, nada nos demoverá dessa ideia, mesmo sabendo de todas implicações que nossa obstinação por empreender trará”, concluiu Clara Orlandi.
Indústria em ação Artigo
Mec Show gera mais de R$ 50 milhões em negócios
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ais de 130 expositores, de nove estados brasileiros, estiveram em uma área de 12 mil metros quadrados no Pavilhão de Carapina para a Mec Show 2016 – Feira da Metalmecânica, Energia e Automação, que aconteceu de 26 a 29 de julho. O evento gerou um volume de negócios superior a R$ 50 milhões e atraiu mais de 16 mil visitantes de diversos segmentos da indústria de bens de capital, como automação, robótica, compressores, metrologia industrial, acionamentos, redutores e motores, tecnologias industriais de ponta, máquinas de corte, entre outros. “A feira reúne representantes de um dos setores mais importantes para a economia do Espírito Santo. Lá, apresentamos também o Fórum Capixaba de Petróleo e Gás, ferramenta criada junto ao Governo do Estado, à Petrobras, à Shell e à Findes para dar visibilidade às oportunidades que o setor gera para a indústria capixaba. Nossa busca é ampliar a participação de empresas capixabas entre a cadeia de fornecimento desse segmento”, conta o presidente do Sistema Findes, Marcos Guerra. A Mec Show foi realizada pela Milanez & Milaneze, empresa do Grupo Verona Fiere, e tem por meio do Sesi e do Senai como Medalhas de Ouro Igor Marsalia – Senai Linhares – vencedor da ocupação Tornearia Mecânica William Lacerda Mutz – Senai Aracruz – vencedor da ocupação Mecânica de Manutenção Virgílio Neto Filho – Senai Cachoeiro de Itapemirim – vencedor da ocupação Soldagem
um de seus correalizadores. A próxima edição da feira está confirmada para ocorrer em julho de 2017. Olimpíada Senai de Ocupações Um dos principais destaques da Mec Show 2016 foi a Olimpíada Senai de Ocupações, em que alunos do Senai-ES de Vitória, Serra, Cachoeiro de Itapemirim, Linhares, Colatina, São Mateus, Vila Velha e Aracruz foram desafiados a executar tarefas do dia a dia da indústria, dentro de prazos e padrões de qualidade. O evento contou com a demonstração de sete ocupações, sendo quatro de demonstração (Tornearia CNC, Fresagem CNC, Automação e Controle e Soluções de Informática para Negócios), além de três em regime de competição (Tornearia Mecânica, Mecânica de Manutenção e Soldagem). “O trabalho se caracterizou pelo ineditismo de sua realização no Espírito Santo em âmbito nacional pelo fato de acontecer em uma feira. Colocar nossos alunos em contato com o industrial, mostrando, estudando e fazendo em tempo real. É uma forma de apresentar o nível da qualidade da mão de obra que está sendo formada pelo Senai-ES”, destaca Guerra. Para o diretor da Findes para Assuntos do Senai-ES, Benízio Lázaro, a Olimpíada “foi uma forma tanto para que as empresas pudessem conhecer o trabalho do Senai, quanto para os alunos mostrarem o que realmente estão aprendendo. Essa aproximação é fundamental porque existem empresários que não sabem exatamente aquilo que o Senai está fazendo, com sua capacidade e os equipamentos que dispõe para formar ou qualificar profissionais”, afirma. A Olimpíada Senai de Ocupações funcionou ainda como uma seleção para participação na World Skills, em que alunos da educação profissional de mais de 60 países disputam medalhas em modalidades correspondentes às profissões técnicas da indústria e do setor de serviços. Set/Out 2016 • 325
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Indústria Artigo em ação
“BRASIL MAIS PRODUTIVO” E PNCE SÃO LANÇADOS NO ESPÍRITO SANTO Em solenidade realizada no dia 4 de agosto no Edifício Findes, em Vitória, foram lançados oficialmente no Espírito Santo o programa Brasil Mais Produtivo e o Plano Nacional da Cultura Exportadora (PNCE). O evento foi protagonizado pelo presidente do Sistema Findes, Marcos Guerra, e pelo ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira. O “Brasil Mais Produtivo” visa a aumentar em pelo menos 20% a produtividade das empresas participantes. No Espírito Santo, o programa vai atender os setores metalmecânico e de alimentos e bebidas. O objetivo é realizar consultorias em empresas instaladas em Arranjo Produtivo Local (APL) da Grande Vitória. Já o PNCE, que pode beneficiar até 3 mil empresas de diversos setores, é dividido nas etapas de sensibilização, inteligência comercial, adequação de produtos e processos, promoção comercial e comercialização. As empresas beneficiadas receberão ferramentas de treinamento, capacitação, identificação de mercados e consultoria para adequação de produtos.
EVENTO ABORDA IMPACTOS DA INDÚSTRIA 4.0 Com a premissa de oferecer um entendimento maior sobre o impacto das rupturas trazidas pela revolução tecnológica e os novos cargos e funções de trabalho no conjunto de habilidades que serão exigidas, por meio do Senai sediou, no dia 12 de agosto, a palestra “O Futuro do Emprego e a Quarta Revolução Industrial – Indústria 4.0”, ministrada pelo gerente de Inovação e de Tecnologia do Senai-SP, Osvaldo Maia. A explanação alertou sobre a importância de estar preparado para as mudanças que estão por vir. “A indústria 4.0 permite a automação e a integração de todas as etapas de produção, e pede trabalhadores críticos, flexíveis, qualificados e, principalmente, abertos a novos aprendizados”, destacou ele. Para Maia, a revolução tecnológica não precisa ser vista como uma disputa entre humanos e máquinas, e sim como realidade que traz novas oportunidades de trabalho. A chamada “quarta revolução industrial” é uma era da inteligência artificial, caracterizada por rôbos, impressão 3D, nanotecnologia e a internet das coisas.
CAPIXABAS PARTICIPAM DE MISSÃO EMPRESARIAL NA COLÔMBIA De olho em oportunidades e bons negócios também no exterior, um grupo de 50 empresários brasileiros do setor têxtil esteve em Medellín, na Colômbia, para a maior feira de vestuário daquele país, a Colombiamoda. Participaram da comitiva o presidente do Sistema Findes, Marcos Guerra, e o presidente da Câmara Setorial da Indústria do Vestuário, José Carlos Bergamin. Movimentando quase US$ 7 bilhões ao ano e com um crescimento anual estimado em 5,2% até 2020, o mercado vizinho chama a atenção de empreendedores de diversos lugares. Para Guerra, o evento, que aconteceu entre 23 e 30 de julho, serviu para mostrar o bom trabalho da indústria criativa de lá. “A Colômbia hoje possui grandes fábricas, produzindo peças para grandes marcas internacionais”, falou. A delegação brasileira foi liderada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), por meio da Rede Brasileira de Centros Internacionais de Negócios (Rede CIN), e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).
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Indústria Capixaba – Findes
Indústria em ação Artigo
1ª FEIRA DE NEGÓCIOS MOVIMENTA GUAÇUÍ
FINDES APRESENTA AGENDA PARA GESTÃO MUNICIPAL O atual momento de crise, com redução de arrecadação nas cidades, mostra que os próximos anos demandarão disciplina e organização por parte das gestões municipais. Com o objetivo de auxiliar as prefeituras, o Sistema Findes lançou no dia 25 de agosto a “Agenda Para o Desenvolvimento das Cidades Capixabas 2017-2020”. O documento, elaborado pelo Ideies, traz sugestões técnicas para os 78 municípios capixabas. A apresentação da publicação aconteceu na reunião do Conselho de Desenvolvimento Regional (Conder), com participação do presidente da Findes, Marcos Guerra, e dos vice-presidentes institucionais da entidade e com a presença de alguns candidatos a prefeitura da Grande Vitória. “É preciso entender que não há mais espaço para amadorismo, populismo, apadrinhamento político e assistencialismo na gestão pública. O bom prefeito deve dizer não para gastos desnecessários, cortar custos com firmeza, estimular o desenvolvimento sustentável”, disse Guerra. O documento foi entregue aos candidatos a prefeito nas 14 regionais da Findes.
Com o objetivo de aquecer a economia local, gerando negócios, emprego e renda, a Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Guaçuí (Acisg) realizou, entre 1º e 4 de setembro, a 1ª Feira de Negócios da cidade. O evento, que aconteceu no Pavilhão de Exposições do município, teve a participação do Sistema Findes, por meio do Sesi-ES e do Senai-ES, que contaram com um estande institucional para reuniões e encontros de negócios. No espaço, também foram oferecidos serviços. Enquanto o Sesi disponibilizou minicursos ministrados pela Unidade Móvel do Cozinha Brasil, o Senai levou a Unidade Móvel de Construção Civil. “A feira já nasce grande, com uma forte representatividade de todos os setores econômicos locais, movimenta a cidade e seu entorno e traz resultados positivos para a região”, disse o vice-presidente institucional da Findes em Guaçuí e Região, Bruno Moreira Balarini.
DIA DO ESTAGIÁRIO É MARCADO POR PALESTRA SOBRE EMPREENDEDORISMO Para celebrar o Dia do Estagiário, comemorado em 18 de agosto, o IEL-ES realizou, no dia 19, uma palestra sobre empreendedorismo com a consultora Isabela Minatel. Cerca de 300 pessoas lotaram o Teatro do Sesi -ES em Jardim da Penha, Vitória. A iniciativa lembrou a postura pró-ativa que o mercado espera, além do desafio que a indústria enfrenta ao lidar com uma geração que cresceu em contato com a tecnologia. “Essa geração tem grande dificuldade em se encaixar dentro da indústria tradicional. Logo, ela busca empreender para poder agir de acordo com seus conceitos e formas de gestão diferentes das convencionais”, explicou a palestrante.
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Indicadores
Icei cai 1,5 ponto em setembro, mas permanece no patamar de confiança
E
Tabela 1 Índice de Confiança do Empresário Industrial m setembro de 2016, em relação ao mês Icei – Espírito Santo e Brasil anterior, o Icei da indústria capixaba decresceu 1,5 ponto, mas se situou exatamente na linha divisória entre a confiança e a abr/16 mai/16 jun/16 jul/16 ago/16 set/16 falta de confiança, 50 pontos. O resultado foi Brasil 36,8 41,3 45,7 47,3 51,5 53,7 influenciado tanto pelo indicador de condições atuais como pelo de expectativas para os próximos Espírito Santo 36,5 41,6 44,2 44,9 51,5 50,0 seis meses, já que ambos recuaram, em 0,9 e 3,0 Fonte: Ideies/Sistema Findes/CNI pontos, respectivamente. Contudo, ainda se pode afirmar que o industrial capixaba visualiza um cenário menos pessimista, ano passado (36,2 pontos), percebe-se um avanço de 13,8 pontos, com expectativas sinalizando um possível ambiente de além do indicador se encontrar atualmente na linha divisória. confiança para os próximos meses, pois quando se compara o O Icei do Brasil registra 53,7 pontos, tendo crescido 2,2 pontos índice de setembro de 2016 (50 pontos) com o de setembro do em relação a agosto e 18 pontos frente a setembro de 2015.
Índice de Confiança do Empresário Industrial - Icei-ES (em pontos) 65 60 55 50 45 40 35 30
Gráfico 1
Média Histórica (fev/10 a set/2016): 52,8 50,0
set/13 nov/13 jan/14 mar/14 mai/14 jul/14 set/14 nov/14 jan/14 mar/15mai/15 jul/15 set/15 nov/15 jan/16 mar/16mai/16 jul/16 set/16 Fonte e elaboração: Ideies/Sistema Findes/CNI
Composição do Icei - condições atuais O indicador de condições atuais, apurado de acordo com a percepção dos industriais capixabas em relação à economia, ao Estado e à própria empresa,registrou leve decréscimo em setembro de 2016 quando comparado ao mês anterior (-0,9 ponto).O índice permanece abaixo de 50 pontos, que representa empresários pessimistas frente às condições atuais, reflexo do cenário nacional de crise econômica e política.
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Indústria Capixaba – Findes
O recuo foi impactado por todos os itens que compõem o índice: condições da economia brasileira (-0,5 ponto), do Estado (-0,9 ponto) e da empresa (-1,0 ponto). Entretanto, em relação a setembro de 2015, o cenário aponta para a diminuição do pessimismo, já que o indicador de condições atuais está 12,5 pontos acima, sinalizando uma possível saída dessa conjuntura econômica recessiva.
Tabela 2
Indicador de condições atuais ESPÍRITO SANTO
Principais aumentos do Estado Em relação à
Set/15
Economia brasileira
20,3
Estado
11,9
Empresa
10,8
BRASIL
Set/15
Ago/16
Set/16
Set/15
Ago/16
27,9
41,3
40,4
27,5
42,2
44,0
Economia brasileira
17,9
38,7
38,2
18,3
39,9
41,7
Estado
25,4
38,2
37,3
-
-
-
Empresa
31,1
42,9
41,9
32,2
43,5
45,2
CONDIÇÕES ATUAIS ¹
Set/16
Com relação a:
1 - Em comparação com os últimos seis meses Fonte: Ideies/Sistema Findes/CNI
Composição do Icei expectativas para os próximos seis meses Em setembro de 2016, o indicador de expectativas dos empresários capixabas recuou 3,0 pontos em relação ao mês anterior, mas pela terceira vez no ano, ficou acima dos 50 pontos (54,7 pontos). Isso mostra uma inversão no quadro de pessimismo em que se encontrava o industrial nos 19 meses anteriores a julho de 2016, sinalizando uma reação aos estímulos das medidas anunciadas pela equipe econômica do Governo Federal. Todos os índices que compõem esse indicador também recuaram, contudo, permaneceram
Principais aumentos do Estado Em relação à
Indicador de expectativas para os próximos seis meses ESPÍRITO SANTO
Tabela 3
BRASIL
Set/15
Ago/16
Set/16
Set/15
Ago/16
40,3
57,7
54,7
39,9
56,2
58,7
Economia brasileira
29,7
54,2
52,8
29,7
52,3
55,9
Estado
35,3
55,2
51,4
-
-
-
Empresa
44,3
59,8
56,5
45,2
58,2
60,2
EXPECTATIVAS ²
Set/16
Com relação a:
2 - Para os próximos seis meses Fonte: Ideies/Sistema Findes/CNI
Set/15
Economia brasileira
23,1
Estado
16,1
Empresa
12,2
acima dos 50 pontos e o que se refere à empresa apresenta uma série de cinco meses seguidos acima da linha divisória. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, o indicador aumentou 14,4 pontos; sua melhora supõe uma revisão das previsões referentes aos novos investimentos industriais no Estado.
Notas Em janeiro de 2012, as empresas da amostra foram reclassificadas segundo a CNAE 2.0, os portes de empresa foram redefinidos de acordo com a metodologia do EuroStat (mais informações http://www.cni.org.br/), e a série histórica do ES foi recalculada retroativamente a fevereiro de 2010. - O Icei varia no intervalo de 0 a 100. Valores acima de 50 indicam empresários confiantes. - A pesquisa, cuja amostra é selecionada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), contou nesse mês com a participação de 102 empresas capixabas (27 pequenas, 47 médias e 28 de grande porte). Destas, 23 empresas pertencem à indústria da construção. Set/Out 2016 • 325
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Fatos em fotos Findes realiza o II Meeting de Líderes Industriais Com a palestra “Políticas para reindustrialização do Brasil”, aconteceu na Pousada Pedra Azul, em Domingos Martins, no mês de julho, o II Meeting de Líderes Industriais. Na ocasião, o presidente do Sistema Findes, Marcos Guerra, recebeu o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, que falou para representantes de sindicatos e diretores da Federação das Indústrias. O evento também abriu espaço para mais uma edição do projeto “Contando Histórias”, com a trajetória profissional do empresário Etore Selvatici Cavallieri. Criado para promover a integração entre empreendedores do setor produtivo capixaba, gerando novas parcerias e estimulando o debate de assuntos estratégicos para o Espírito Santo, o encontro teve o patrocínio da Unimed Vitória e da Caixa Econômica Federal. 1 – O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, entre o presidente do Sistema Findes, Marcos Guerra, e o diplomata e secretário da Casa Cívil, José Carlos da Fonseca Júnior. 2 – Fundador da Imetame, Etore Selvatici Cavallieri compartilhou um pouco de sua experiência profissional e de sua história de vida na abertura do Meeting, em mais uma edição do “Contando Histórias”. 3 – Marcos Guerra recebe o público em Pedra Azul. 4 – O Meeting contou com a presença do vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Antônio Carlos Ferreira. 5 – Empresários e políticos participaram da iniciativa promovida pelo Sistema Findes. 6 – O vice-presidente institucional da Findes em Nova Venécia e Região, José Carnieli, e a esposa, Edma Pettene Carnieli. 7 – O secretário de Estado de Desenvolvimento, José Eduardo Faria de Azevedo, fala durante o evento. 8 – O vice-presidente da Findes Houberdam Pessotti; o diretor adjunto da Federação das Indústrias em Linhares e Região, Wilmar Barros Barbosa; e o empresário Ernesto Mosaner Junior. 9 – O diretor para Assuntos do Sesi-ES, José Carlos Bergamin, ao lado do presidente do Sindimassas, Levi Tesch. 10 – O diretor da Findes Ennio Modenesi Pereira II e José Carlos da Fonseca Júnior. 11 – O superintendente corporativo do Sistema Findes, Marcelo Ferraz; o diretor regional do Senai-ES e superintendente do Sesi-ES, Luís Carlos Vieira; e o assessor executivo da Presidência da Federação das Indústrias, Luiz Oliveira. 12 – O diretor adjunto da Findes em Linhares e região, Wilmar Barros Barbosa, ao lado do diretor-secretário geral do Sindinfo, Franco Machado. 13 – O vice-presidente da Caixa, Antônio Carlos Ferreira, acompanhado do vice-presidente da Findes Egídio Malanquini. 14 – O presidente do Sindiquímicos, José Carlos Zanotelli, e o presidente do Conselho Temático de Assuntos Legislativos (Coal), Paulo Afonso Meneguelli. 15 – Os empresários Constantino Dadalto e Áureo Vianna Mameri. 16 – O presidente Marcos Guerra e sua esposa, Giane Pancieri Guerra, posam ao lado do ministro Marcos Pereira. 17 – Leonardo Souza Rogerio de Castro, vice-presidente da Findes, também participou do evento. 18 – Lideranças, gestores, autoridades e representantes de sindicatos se reúnem na Pousada Pedra Azul Eco-Resort para o II Meeting.
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Artigo
H
á décadas vem se discutindo a necessidade de mudança da matriz modal brasileira, fortemente concentrada no modelo rodoviário. Esse debate tem sido fundamentado em dois aspectos principais: i) nas vantagens dos modais alternativos sobre o rodoviário em termos de custos por tonelada-quilômetro; e ii) nas externalidades negativas associadas ao modal rodoviário, tais como acidentes, congestionamentos, poluição, entre outras. No entanto, a discussão ainda carece de maior tecnicidade e costuma ser feita a partir de julgamentos frágeis, desconsiderando a ótica do usuário, que é quem realmente decide a opção a ser utilizada. Entre os problemas evidenciados nas análises mais usuais relacionadas com essa questão, podem ser citados os seguintes: i) simples comparação dos modais em R$ x t (tonelada) x km, considerando as capacidades máximas de carga e desconsiderando os custos para transbordo ou baldeação, bem como os custos dos transportes rodoviários usados antes e depois dos modais ferroviário e aquaviário; ii) falta de mensuração do custo dos estoques na origem e no destino, os quais variam em função do lote de distribuição, onerando mais os modais em que as cargas são embarcadas em maior volume; iii) falta de mensuração do “valor do tempo” associado aos lead times dos diferentes modais; e iv) falta de mensuração dos impactos de perdas e avarias no custo total das operações. Em suma, em vez de se fazer uma análise estruturada da escolha modal a partir da ótica dos usuários, mediante técnicas de preferência declarada, por exemplo, acaba sendo reduzida a discussão a aspectos opinativos e, como consequência, a lógica técnica acaba cedendo lugar à lógica política. Diante desse contexto, emerge a questão: Como mudar a matriz modal brasileira? Tecnicamente, são dois os caminhos possíveis: i) mediante estímulos aos modais alternativos;
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Indústria Capixaba – Findes
e ii) mediante políticas que desestimulem o uso do modal rodoviário, caso a primeira opção não seja suficiente para provocar a mudança desejada. Os modais alternativos podem ser incentivados de duas formas: i) mediante investimentos públicos bem planejados e eficientemente executados; e ii) por meio do desenvolvimento de um programa de privatizações sólido, atrativo à iniciativa privada e baseado em um marco legal claro, simples e estável. Já o modal rodoviário poderia ser desestimulado por meio de políticas de pagamento pelo uso das rodovias (road pricing), como já vem ocorrendo na Europa, e pelo estabelecimento de requisitos mais rígidos de qualidade e segurança nos serviços. Um exemplo a ser citado nesse sentido é a Lei do Motorista, que teria maior impacto se houvesse uma fiscalização mais efetiva, associada a uma melhor infraestrutura de apoio nas rodovias. No entanto, devido ao elevado impacto do modal rodoviário na economia, políticas que venham a desestimular o seu uso são difíceis de ser implantadas e devem ser precedidas da qualificação dos demais modais, sob pena de gerarem resultados indesejáveis. Todos esses aspectos remetem à necessidade de se qualificar a infraestrutura de transportes brasileira. Mas isso não significa simplesmente gastar mais ou privatizar mais: deve-se pensar na eficiência e na eficácia dos projetos a serem desenvolvidos. E tudo isso precisa ser feito de forma coordenada, a partir dos instrumentos de planejamento do setor (PNLT, PNLP, PIL, etc.). Apesar das críticas a que alguns desses planos têm estado sujeitos, o país avançou bastante nos últimos anos no que se refere a planejamento de transportes. Falta agora uma implementação efetiva e eficiente dos projetos planejados. Esse é o principal problema a ser resolvido, o que não ocorrerá no curto prazo, pois depende da qualificação da gestão pública, este sim o nosso grande desafio.
Foto originalmente enviada em preto e branco
Planejamento de transportes no Brasil: situação atual e desafios
GUILHERME BERGMANN BORGES VIEIRA é professor adjunto da Universidade de Caxias do Sul, pós-doutorando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e consultor de logística internacional
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