38ª Divulga Escritor: Revista Literária da Lusofonia

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Sumário

Entrevistas PORTUGAL Barnabé Sousa.................................................................................27 Marisa Alves....................................................................................34 Raquel Nunes..................................................................................44 BRASIL Jander Oliver....................................................................................54 Lara Emanueli Neiva de Sousa.......................................................56

Jô Ramos Abre filial da ZL Books Editora na Europa Pág.10

Colunas Poetas Poveiros – José Sepúlveda..............................38 Solar de Poetas – José Sepúlveda...............................41

Participação Especial Estevão de Sousa................................................................22 Rosa Marques.....................................................................24 Inês Bari..............................................................................31 Angeli Rose........................................................................32 Rosa Maria Santos............................................................42 Fernanda Comenda.........................................................48 Uiara Melo.........................................................................50 Tito Laraya.........................................................................60 Maurício Duarte...............................................................64 Marta Maria Niemeyer....................................................66 Rogério Araújo - Rofa......................................................68 Adreico..............................................................................70 FLAL – Homenagem a autores diversos......................73


DIVULGA ESCRITOR Shirley M. Cavalcante (SMC)

Coordenadora do projeto Divulga Escritor

www.divulgaescritor.com www.portalliterario.com www.revistaacademicaonline.com

Revista Divulga Escritor Revista Literária da Lusofonia Ano VI Nº 38 Edição desembro - 2018 Publicação Bimestral Editora Responsável: Shirley M. Cavalcante DRT: 2664 Diagramação EstampaPB Para Anunciar smccomunicacao@ hotmail.com 55 – 83 – 9 9121-4094 Para ler edições anteriores acesse www.divulgaescritor.com Os artigos de opinião são de inteira responsabilidade dos colunistas que os assinam, não expressando necessariamente o pensamento da Divulga Escritor. ISSN 2358-0119

Com sucesso, chegamos à 38ª edição, da Divulga Escritor: Revista Literária da Lusofonia. Nesta edição temos como destaque de capa a ZL Books Editora e assessoria de comunicação. Assim como, o livro do autor Jander Oliver. No corpo da revista damos um destaque especial ao FLAL – Festival de Literatura e Artes Literárias, divulgando os textos vencedores de concursos da última edição de 2018, em nome da equipe organizadora do FLAL parabenizamos a todos ganhadores e participantes do Festival. Composta por mais de 30 autores contemporâneos, divulgando os seus livros, por meio de entrevistas, textos em prosa e em versos... LITERATURA! Hoje, a revista Divulga Escritor é uma das principais revistas literárias da lusofonia, com conteúdo exclusivamente literário. O editorial se destaca por sua qualidade e profissionalismo. Distribuída gratuitamente para todos que acessam a internet, a revista tem alcançado um público leitor cada vez maior. Consolidada, vamos rumo a edição 36. Juntos, vamos ler e divulgar a revista literária da lusofonia e apoiar nossos escritores contemporâneos. Muito obrigada, equipe Divulga Escritor, e administradores dos grupos: Obrigada, José Sepúlveda, apoio em Portugal. Obrigada, Amy Dine, apoio em Portugal. Obrigada, Helena Santos, apoio em Portugal. Obrigada, José Lopes da Nave, apoio em Portugal. Obrigada, Rosa Maria Santos, apoio em Portugal. Obrigada, Giuliano de Méroe, apoio no Brasil. Obrigada, Ilka Cristina, apoio no Brasil. Obrigada, Josias A. de Andrade, apoio no Brasil. Obrigada a cada um dos escritores que participam contribuindo com suas maravilhosas trajetórias literárias, apresentadas nas entrevistas. Obrigada, colunistas, que mantêm o projeto vivo! Muito obrigada por estarmos juntos divulgando literatura, e juntos podermos dizer ao mundo: EU SOU ESCRITOR, EU ESTOU AQUI. Divulga Escritor: revista literária da lusofonia, uma revista elaborada por escritores, com distribuição gratuita para leitores de todo o mundo. Boa leitura!


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Jo Ramos

Abre filial da ZL Books Editora na Europa Por Shirley M. Cavalcante (SMC) Editora Jo Ramos, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos, quais os principais objetivos a serem alcançados por meio da abertura da ZL Books na Europa? Jo Ramos - A ZL Books quer ser a editora dos brasileiros na Europa e a editora dos europeus no Brasil. Este é a ideia principal, facilitar o acesso ao mercado literário dos dois lados. Escritores precisam de novas possibilidades, novos caminhos, e formas diferenciadas de mostrar suas obras. Apresente-nos a Editora Jo Ramos - A ZL Editora já está há mais de 5 anos no mercado nacional, lançando novos autores e divulgando essas obras no mercado internacional. O forte da nossa editora é o trabalho que é realizado fora do país, através dos salões de livros, encontros, e projetos voltados para a língua portuguesa. Muitas vezes as obras são lançadas primeiramente fora do país e depois aqui. Quais os principais serviços a serem prestados pela ZL books Editora? Jo Ramos - Todos os serviços que compete a uma editora, como por exemplo: cuidados técnicos e sofisticados na apresentação das obras, lançamentos em vários países, assessoria de imprensa internacional, oportunidade de participação em eventos literários criados por nós. Além da ZL Books Editora, você abriu a ZL Books Comunicação. Apresente-nos ZL Books Comunicação. Jo Ramos - A ZL Comunicação é que viabiliza todos trabalhos de divulgação e os eventos internacionais. Coloca o autor próximo a diferentes públicos e o asses-

sora em todas as fases, até o término do trabalho. Jo, você administra vários projetos literários. Apresente-nos, os principais projetos administrados por você. Jo Ramos - Sim, entre tantos projetos quero salientar o Projeto Jovens Escritores que existe há mais de 8 anos, já foi realizado 3 vezes no Brasil, e em 2019 realizei em Portugal-Lisboa com filhos de imigrantes de vários países, em uma escola multicultural. O projeto consiste no lançamento de um livro com textos sobre diversos temas sociais, escritos pelos jovens, coordenados por mim e lançados com uma grande festa na Escola. Outro projeto são os salões de livros em Lisboa, Canadá e NY, para autores. Qualquer autor pode participar. Quem desejar participar como deve proceder? Jo Ramos - Para participação nos salões é preciso enviar um e-mail para: zlcomunicacao8@gmail.com Quais os principais objetivos a serem alcançados pela Jo Ramos Editora? Jo Ramos - Dar voz aos autores nacionais, esquecidos pela grande mídia e ignorados pela grandes corporações editoriais. Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora Jo Ramos. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores? Jo Ramos - Leiam muito, se informem sobre novos lançamentos, e tentar formar um mínimo de senso crítico. Informações apenas pelo e-mail: zlcomunicacao8@gmail.com www.divulgaescritor.com | dezembro 2019

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TROFÉU LITERATURA 2019 INFORMAÇÕES PARA PARTICIPAÇÕES

por textos literários destinados ao público infantil.

1-Considera-se livro obra intelectual impressa e publicada, com ISBN e ficha catalográfica, impressos no livro. 2-Será outorgado a obras inéditas – livros de autor/(a) (es) publicados em língua portuguesa em qualquer país do mundo, em primeira edição, até 31 de dezembro de 2018. 3-As obras poderão ser inscritas pela editora ou pelo autor, ilustrador, tradutor, capista ou produtor gráfico. 4-A editora, empresa ou pessoa responsável pela inscrição da obra assume, no ato da inscrição, total responsabilidade pela veracidade das informações fornecidas.

3-MELHOR LIVRO DE ROMANCE: Livros compostos por narrativas ficcionais geralmente longas.

CATEGORIAS

Livros lançados em qualquer país de língua portuguesa podem participar. 1-MELHOR LIVRO BIOGRÁFICO: Livros compostos por textos – documentais ou analíticos – centrados na narrativa da vida de uma pessoa. 2-MELHOR LIVRO INFANTIL: Livros compostos

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4-MELHOR LIVRO DE FICÇÃO: Livros com uma narrativa imaginária, irreal, criadas a partir da imaginação. 5-MELHOR LIVRO INFANTO-JUVENIL: Livros compostos por textos literários destinados ao público adolescente. 6-MELHOR LIVRO DE POESIA: Livros compostos por textos literários caracterizados, fundamentalmente, por ritmo, sonoridade e outros recursos intrínsecos à criação dita poética. 7-MELHOR LIVRO DE PESQUISA: Livros compostos por pesquisas, ensaios, textos profissionais, acadêmicos ou científicos. 8-MELHOR LIVRO DE SUSPENSE: Livros com em que predominam as situações de tensão, provocando temor ou eventualmente sustos, no leitor ou espectador. 9-MELHOR LIVRO EDUCACIONAL: Livros que pos-


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suem um valioso recurso para o acesso à cultura e o desenvolvimento da Educação. 10-MELHOR PROJETO GRÁFICO: Livros avulsos ou pertencentes a coleções em cuja concepção ressalte sua materialidade/visualidade. 11-MELHOR ILUSTRAÇÃO: Imagens visuais de caráter técnico, científico ou artístico articuladas ao texto verbal de um livro. 12-MELHOR CONTOS E CRÔNICAS: Livros compostos por narrativas curtas, ficcionais ou não. 13- AUTOR ESTREANTE – PRIMEIRO LIVRO 14-MELHOR LIVRO DE GASTRONOMIA 15- MELHOR LIVRO DE LITERATURA FANTÁSTICA

INSCRIÇÕES 1-ABERTAS 2-Valor da inscrição R$ 260,00 (duzentos e sessenta reais). Envio do depósito bancário para o e-mail: zlcomunicacao8@gmail.com 3- Remessa de 2 exemplares de cada título. Enviaremos o endereço depois de recebermos o comprovante de inscrição. 4- Envio da ficha de inscrição. Banco: Caixa Econômica Federal Agência: 0212 Operação: 013 POUPANÇA Conta: 013.00989006-2 CPF: 61193860768

Nosso e-mail: zlcomunicacao8@gmail.com

PRÊMIO

1-TROFÉU LITERATURA 2019 Curadora do Troféu Literatura 2019- Jô Ramos

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COLETÂNEA REFUGIADOS O MAIOR DRAMA DO SÉCULO XXI INSCRIÇÕES

As inscrições para a Coletânea Refugiados – O Maior Drama do Século XXI já estão abertas, podendo ser encerradas antes, caso o número de textos recebidos e avaliados sejam aprovados antes da data. Para participar os candidatos deverão enviar um ou mais textos de acordo com as regras estabelecidas neste regulamento. Só serão aceitas inscrições através dos procedimentos previstos neste regulamento. É de total responsabilidade dos participantes a veracidade dos dados fornecidos à organização da Antologia. Todo autor é proprietário dos direitos autorais dos textos por ele enviados para publicação no livro e cuja autoria seja comprovada pela declaração enviada. Em caso de fraude comprovada, o texto será excluído automaticamente da antologia. Cada autor responderá perante a lei por plágio, cópia indevida ou outro crime relacionado ao direito autoral. Todo autor é livre para divulgar, preparar lançamentos, noites de autógrafos, individuais ou em conjunto, desta Coletânea, desde que se responsabilize por todas as despesas — preparativos para lançamento, custos administrativos e convites, compra de exemplares a mais do que os recebidos pela participação — pertencendo também ao participante o valor das vendas dos livros em questão. DO PAGAMENTO PELO SISTEMA DE COTAS Valor: R$ 250,00 Cada autor recebe 3 exemplares. OS TEXTOS Serão aceitos textos em língua portuguesa, em documento MS Word ou equivalente (doc), formato A4, espaço 2, fonte Times New Roman de tamanho 12. Temos revisor para os textos. São 3 páginas para cada autor. Enviar foto de rosto e mini biografia com até 10 linhas. A EDITORA Leitura e seleção Revisão Projeto gráfico Criação de capa ISBN e ficha catalográfica/impressão E-mail: zlcomunicacao8@gmail.com ZL EDITORA Jô Ramos – Editora e Coordenadora deste projeto. A nossa proposta é que estudantes da rede de ensino possam participar de eventos

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PROJETO JOVENS ESCRITORES

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literários nacionais e internacionais como autores, através de suas escolas. Abrimos nosso stand para receber os jovens escritores que são selecionados por professores e diretores de cada instituição, através de um Concurso de Redação, onde o prêmio é a participação em um evento literário internacional ou nacional. Junto com o processo seletivo que é feito através do Concurso, lançamos um livro com os 30, 40 ou 50 melhores textos, isto é decidido pela instituição. Além de um vencedor, incentivamos mais de 30 alunos a continuar escrevendo. Cada instituição vai arcar com os custos da viagem, hospedagem, alimentação e inscrição de seus alunos, além, da impressão dos livros.

O Projeto Jovens Escritores é um incentivo ao estudante de todos os países, numa tentativa de tirá-los das ruas resgatando sua memória afetiva com o seu bairro, sua família e sua história. Nosso objetivo é apontar perspectivas de abordagem literária para leitores jovens, e principalmente, fortalecer a auto-estima, encorajar os participantes a escreverem seus sentimentos, suas vitórias, suas esperanças. Aprendemos que quando escrevemos sobre nós, estamos aprendendo a nos conhecer melhor e o jovem precisa ser incluído neste processo. Para garantir que o livro não saia da vida do estudante brasileiro após a fase escolar, esse projeto pretende

incentivar a leitura e a escrita através da poesia, conto, crônica e memória literária. A Literatura é um meio privilegiado para despertar o amor pela nossa língua e nossa cultura. Nossa proposta é que estudantes de escolas municipais, estaduais, particulares e federais possam participar deste projeto com seus textos reunidos em uma coletânea, no nosso stand, em feiras literárias internacionais. Não existe nada mais revolucionário do que a leitura para formação de cidadãos participantes dentro do seu país, por isso, a ZL Editora além de possibilitar esta mudança ainda sugere a publicação de uma Coletânea de Textos de Jovens Escritores envolvidas neste projeto.

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OFERECEMOS A INSTITUIÇÃO E AO ALUNO

CABE A INSTITUIÇÃO:

1- Divulgação da logo e material de publicidade no nosso stand 2- O aluno terá direito a 1 hora para apresentar seu trabalho ao público do evento. O dia para apresentação será reservado, mediante o fechamento da inscrição do aluno 3- O texto/trabalho/livro deste aluno ficará exposto durante os 3 dias do evento 4- A instituição receberá um Certificado de Participação Internacional de Incentivo a Criação Literária 5- A instituição e sua logo estarão em todo material de divulgação do evento, incluindo nosso catálogo 6- O aluno receberá Certificado de Participação

1-Inscrição do estudante: 2- Publicidade na parede do stand: 3- 5 mil, ou mais, livros com textos dos alunos para uso na rede 4- Passagem e hospedagem do aluno com acompanhante Este Projeto foi lançado há cinco anos e já levamos jovens estudantes para feiras literárias internacionais em vários países, como: EUA, Suécia, Suíça, Reino Unido e Itália. Lançamos dois livros com textos de alunos. Vejam:

Exemplo do material de divulgação, na parede do stand, que a Prefeitura ou a Secretaria de Educação/Cultura podem se beneficiar:

Livro bilíngue, português/inglês, que pode ser distribuído nas Feiras Literárias Internacionais sobre a Instituição ou sobre a cidade. Obs: Os valores serão enviados caso haja intenção da Instituição ou Prefeitura, ou Empresa de participar do projeto.

Coordenadora do Projeto: Jô Ramos Tels: Brasil: 55 21 2256-6467/9 9968-8114 Lisboa: 91255-8516 E-mail: zlcomunicacao8@gmail.com 18

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vro de Portugal

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DIVULGA ESCRITOR PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ESCRITOR ESTEVÃO DE SOUSA

“Pânico no Subúrbio”, relata a atividade de uma poderosa igreja oriunda de um país africano em que, alguns dos elementos da sua cúpula se servem da organização para, a coberto da mesma, praticarem crimes horrendos, como assassinatos e tráfico de órgãos, para vários continentes. Será que a sua atividade é descoberta, sendo por isso exemplarmente castigados? Ou, terão imunidade a impedir o castigo? Só lendo conseguirá responder, mas para já, o autor adverte: se for muito impressionável, não leia! Link para compra: https://www.amazon.com/P%C3%82NICO-SUB%C3%9ARBIO-Portuguese-Est%C3%AAv%C3%A3o-Sousa/dp/1719863911

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Excerto do livro

Naquele Agosto vivia-se um verão atípico. Tão depressa estava um calor tórrido, com o termómetro atingindo os trinta e cinco graus celsius, como no dia seguinte, já tínhamos temperaturas da ordem dos vinte e dois graus. Os mais antigos, diziam, nunca terem visto uma coisa assim! Havia até, aqueles mais pessimistas, que iam dizendo, estar próximo o fim do mundo. A estes, respondia eu, rindo: - O mundo vai acabando, todos os dias, para aqueles que da lei da morte se vão libertando, como diria o poeta! Naquela sexta-feira, treze, estava sentado, num banco, no meu jardim, meditando sobre as alterações climatéricas e as suas origens, quando o relógio, da torre da igreja, da Vila, bateu as doze badaladas da meia-noite. Desperto das minhas lucubrações, monologuei:

- Eia pá! Já tão tarde? Nem dei pelo tempo passar! Levantava-me, disposto a entrar em casa, quando repentinamente a noite, à minha frente, se transformou em dia, pela ação de um relâmpago que tudo iluminou, mostrando, quais fantasmas altaneiros, as centenas de eucaliptos ali existentes! Pareciam diabos, saídos da noite negra, para me agarrarem! Imediatamente, sem que tivesse tempo de fechar a boca, aberta de espanto, seguiu-se o ribombar de um potente trovão que, fazendo estremecer tudo o que se encontrava junto a mim, fez também com que, deixasse cair a chávena do café, acabado de tomar, que conservava na mão. No meio de muita estupefação e alguma atrapalhação, pretendia apanhar os cacos da chávena, quando me pareceu ouvir um grito estridente, proferido por voz feminina, vindo do eucaliptal existente do outro lado da estrada, defronte


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da casa onde moro. Fiquei meio apavorado! A sensação de surpresa tida com o raio, o susto provocado pelo trovão, e agora aquele grito!... Era um pouco demais para a minha provecta idade! Até porque, sempre aquela mole de eucaliptos, - que à luz do relâmpago se me apresentavam com contornos fantasmagóricos, - me havia causado algum pavor e muita curiosidade. “O que será que, se encontra bem no interior do espaço onde existe o eucaliptal?”, Perguntava-me eu, bastas vezes, sem encontrar resposta. “Não há dúvida que aquele arvoredo tão fechado, quase impenetrável, é algo que me causa desconforto! Aqui tão perto, mas ao mesmo tempo tão misterioso!” Voltava eu a meditar! Ao pensar nisto, vinha-me novamente à ideia o grito ouvido!... “Mas, seria que tinha ouvido mesmo um grito? Ou, tudo não passou de uma grande confusão provocada por todas as emoções, por que passei naqueles momentos?” Matutava, desconfiado! Nisto, ouvi a voz da minha mulher, vinda lá de dentro, perguntando-me se não me ia deitar.

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DIVULGA ESCRITOR PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ESCRITORA ROSA MARQUES

TERNURA DE FIM DE VERÃO

JOVENS DEPENDENTES DA TECNOLOGIA

Um Sol meigo envolve a tarde Numa aura resplandecente E luminosa… Como a ternura das crianças Que divertidas brincam À beira da maré... As crianças mais pequenas Protegidas pelos pais... Uma mãe dedicada Brinca com os filhos... Faz covinhas na areia molhada Tenta reter a fugitiva onda Que vem... mas logo vai... E outra criança Bem pequenina ainda... Carinhosamente Embrulhada numa toalha Olha o mar... ao colo do pai!

O REGRESSO DE THAM LUANG (10 de Julho de 2018) Louvado sejas Senhor, como Sois bom! Porque permitiste que todas as crianças Aprisionadas na gruta fossem salvas. Obrigada, pois sem a Tua mão protectora, Sem a ajuda divina, não teria sido possível Levar a cabo, tão arriscada e perigosa missão. Que era resgatar os treze jovens Das obscuras entranhas de Tham Luang, A inclemente gruta que os surpreendeu e traiu Agora, todos estão já a salvo… sem a opressão Da clausura, do medo, da fome e do frio… Brevemente voltarão às suas casas, Para junto dos pais, irmãos e mais parentes… Que depois de tantos dias de negra angústia… E de esperança incerta, almejam pelo seu regresso ao lar… Aguardam ansiosamente com a alegria da vitória, A ditosa hora para de novo os poder abraçar! 24

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Olhos baixos Fixos no telemóvel, Abstraídos... Do mundo, de si próprios Alienados... Numa dependência total Passos incertos, Inseguros, alguns tropeços Distraídos... Não ouvem, não vêem O que se passa ao redor Um amigo passa, Não dão conta... Na aula o professor fala, Não ligam... Completamente “desligados” Dependentes... das tecnologias Evitam... receiam a realidade Subservientes... Literalmente manietados... Dominados... Pelo telemóvel Ninguém sabe O que vêem O que pensam O que esperam Se é que pensam Ou esperam algo! Sempre ausentes... apáticos Apenas os dedos espertos... Tic tac, tic tac, tic tac... No telemóvel! Do livro: «Prisioneiros do Progresso»


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ENTREVISTA

ESCRITOR BARNABÉ SOUSA Barnabé Sousa nasceu a 11 de Junho, no Funchal. Carateriza-se por ser: Atento. Determinado. Direto. Disciplinado. Pragmático. Pedagógico. Persistente. Rigoroso e implacavelmente exigente! Em 2011, ingressou em Jornalismo. Em 2015, tornou-se Jornalista pós-graduado em Práticas e Estudos Jornalísticos. Em 2017, obteve o grau de Mestre em Jornalismo. Destaca-se em Rádio e em Televisão. Tem gosto particular pelas áreas de Política, Sociedade e Investigação. Nos seus tempos livres, o autor gosta de viajar, de passear e fotografar. Perde-se e encontra-se pelo mundo multifacetado da escrita. Escreve contos, poesia, prosa, pensamentos, reflexões ligadas ao «Eu» e à Espiritualidade. Já aos 15 anos vencera um prémio no género poesia pelo Jornal da Madeira. Para o Autor é obrigatório apresentar um trabalho sério, de qualidade, com o seu próprio estilo. Porque os leitores merecem o melhor. Em 20 de Novembro de 2016 criou o seu próprio «site». Já foi lido por leitores dos quatro cantos do mundo. Em 2018 o autor lança o seu primeiro romance, intitulado em: AMA-TE-ME. Vive algures por entre o jornalismo e a amorlândia. Boa Leitura!

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Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Escritor Barnabé Sousa, é um prazer contarmos com a sua participação na revista Divulga Escritor. Conte-nos, o que o inspirou a escrever “Ama-te-me”? Barnabé Sousa - O sentimento é mútuo. Sempre tive hábitos de leitura. O gosto pelos livros e pela leitura é crónico. Escrever faz bem à alma. É uma forma de libertar-nos. É ter capacidade [o poder] de tocar o coração do Outro e fazê-lo sorrir, despertar emoções, viajar por entre inúmeras sensações! Sou muito versátil e eclético no que se concerne à Escrita! AMA-TE-ME é um romance contemporâneo com pinceladas clássicas. Trata-se de uma história de amor em que os corações de Miguel e de Beatriz estão unidos desde o primeiro momento em que se encontraram. O amor entre os protagonistas está escrito nos astros, abençoado pelos Deuses e protegido pela Luz Divina. É a prova de que ainda é possível acreditar no Amor (e)terno! Apresente-nos a obra Barnabé Sousa - AMA-TE-ME é um romance para os que acreditam no Amor. O Miguel encontra a Beatriz de modo ocasional. O casal sonha viver a sua história de amor sem precalços. Os dois perambulam por entre altos e baixos. O Miguel é um homem clássico que pretende conquistar uma mulher clássica, isto é, os dois procuram e encontram a sua alma gémea. Conseguem abraçar o Amor que os une para sempre. O Miguel e a Beatriz são o pilar, a âncora, o mundo um do outro. O ar de que os dois precisam para respirar. E amar verdadeiramente. Os dois seguem lado a lado todos os dias. Juntos, constroem uma belíssima história de amor! Um amor cristalino, intenso e verdadeiramente memorável! Quais critérios foram utilizados 28

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para escolha do título? Barnabé Sousa - O título tal como a obra no seu TODO surgiram de forma natural. O número «5» referente aos pássaros representa as estrelas, o nascimento, a interajuda, a união, o equilíbrio, o centro e a harmonia. Os pássaros representam a inteligência, a leveza, a sabedoria, a alma, a liberdade, o divino e a amizade pelo que se encontram em sintonia. Os protagonistas deste enredo desenvolvem um amor carismático, misterioso, cristalino e intenso. Tal como o Homem, os pássaros também se multiplicam. Ambos têm a capacidade de sonhar e de voar, voar alto. De se abraçarem. As personagens não são exceção, principalmente os protagonistas que se esmeram em alcançar o papel principal, daí a interligação. Os pássaros têm uma beleza particular e lutam em prol de alcançar brilhantes voos. Voos gigantes e distantes. Qual o momento enquanto escrevia o romance que mais chamou a sua atenção? Barnabé Sousa - O livro no seu global é bastante interessante. A parte que mais gostei de frisar no enredo foi o casamento entre o Miguel e a Beatriz. O casamento reprenta a união dos dois por toda a vida, para além da eternidade. É o momento em que o «Sim» se eterniza. Há uma vinculação entre os dois seres que se encontram unidos pelo coração. A cerimónia representa a união de dois corações, de dois corpos perante a Natureza e os Deuses e o Amor que se encontra abençoado pela Luz Divina e pelos Astros.

Além de “Ama-te-me” você tem publicado um livro de contos eróticos, “Mergulhar Nu Sexo”. Conte-nos, como foi o processo de construção dos textos que compõe a obra? Barnabé Sousa - Antes de escrever o livro fiz várias pesquisas sobre a temática, isto é, fiz investigação de forma elaborada para construir cada texto baseado num subtema e aos poucos fui elaborando o «Mergulhar nu sexo», um livro de contos eróticos. Critico a sociedade contemporânea. «Mergulhar nu sexo» é um livro eclético. Critico. O livro apresenta-se com pinceladas eróticas envoltas de riso, ironia, metáforas, entre outras figuras estilísticas. É um livro marcado por encontros e desencontros de múltiplas


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personagens que se perdem e se encontram por entre os trilhos do amor incondicional. Fala do encontro entre o Amor cristalino entre pessoas que se amam, seres que estão unidos pelo coração. O amor quando é verdadeiro surge de modo ocasional. É o encontro entre o olhar e o coração. O olhar segue continuo e o peito enche-se de amor. Em «Mergulhar nu sexo» surgem ideias profícuas ao prazer carnal mas também ao prazer de Viver. Quando calcorreamos com amor o nosso coração é tocado por uma magia peculiar, tudo ao redor de nós torna-se mais brilhante, mais feliz. Quantos textos estão publicados nesta obra? Barnabé Sousa - O livro «Mergulhar nu sexo» é um conjunto de 31 textos. Em cada texto pincelo pedaços de sedução em que o sexo torna-se presente no corpo de duas pessoas que se encontram ligadas pela paixão e pelo fogo do Amor. Abordo o sexo clássico, isto é, evoco o sexo natural, quanto mais natural mais prazeroso. Quanto mais intenso, mais sólido. Quanto mais seguro, mais saudável. A segurança sexual clássica consiste na Aceitação global do cônjuge, pois só assim é que a Vida faz sentido quando amamos de corpo e alma o Ser que amamos. Quando amamos respeitamos, cuidamos, protegemos. Sexo clássico é o encontro exclusivo entre o «Eu» e o «Tu» que se transforma em «Nós», um «Nós» que deve ser vivido e respeitado de modo incondicional com quem amamos. Dedicamos a nossa Vida a esse alguém que nos preenche em todas as dimensões humanas, de modo singular, intenso, genuíno e, claramente, de forma cem por cento natural e saudável. Apresente-nos “Mergulhar Nu Sexo”? Barnabé Sousa - «Mergulhar nu sexo» é a minha segunda obra publicada em Maio de 2016. É uma obra criada a partir de um

pensamento construtivo a nível global e de desenvolvimento pessoal. É uma ponte entre amor e o sexo. Os dois encontram-se interligados. É chave do Criador Universal! Crio a partir de múltiplas leituras. Desmistifico o sentido de «Os Maias» numa versão contemporânea por meio de inúmeras interpretações provocando no leitor mudanças a todos os níveis. É um livro revolucionário que tem como objetivo a autoreflexão, a autoanálise, autoconhecimento e instrospeções que desenvolvem o pensamento crítico e visão cósmica que vagarosamente faço questão de evidenciar de maneira a que possamos viver num mundo mais credível, justo e equilibrado. É um livro ousado. Um livro que deve ser lido e relido inúmeras vezes, por leitores a partir dos dezasseis anos. Ao longo da leitura surgem enredos enigmáticos, enredos que provocam múltiplas interpretações, novos estados de consciência. Tudo o que os meus textos transmitem são ideias em prol do bem-estar global de cada um de nós. É um livro bombástico em que faço questão de frisar a mudança de mentalidades referente à pessoa holisticamente, ao ser humano em todas as suas dimensões. «Mergulhar nu sexo» não é mais do que a bíblia renovada, uma bíblia que permite a aceitação generalizada do cidadão, independentemente do «status social», das crenças, ideias que priorizam a liberdade sexual de cada um, uma liberdade a que estamos sujeitos desde que nascemos, uma liberdade que deve ser respeitada pelos nossos semelhantes, sem julgamentos, sem «desaires». Este livro de contos eróticos é um convite ao AMOR universal: «Amai-vos uns aos outros», com a total respeito individual mas também à nossa alma gémea. «Mergulhar nu sexo» visa quebrar as diferenças; o sexo não se explica. Surge de modo natural. Não se trata

de uma mera atração física. O sexo é um ato nobre de Amor e não um comportamento neuropsicótico. É um ato válido de realização de todo o ser humano. O que vem mudando em sua vida desde que publicou o seu primeiro livro? Barnabé Sousa - Sou reservado no que toca à minha esfera privada. Prezo o meu espaço privado. Porém, posso salientar que sigo mais determinado perante a Vida. Digamos que mergulho por entre as palavras, a investigação e «cenas» do quotidiano… Onde podemos comprar os seus livros? Barnabé Sousa - Os leitores poderão comprar os meus livros nas Editoras de onde os livros se encontram publicados. Podem adquiri-los também nas mais diversas livrarias «online». Os leitores poderão acompanhar a minha escrita em: https://www.facebook.com/BarnabeSousaOficial/ https://barnabesousa.wordpress. com/ É através destas vias que os leitores poderão obter os meus livros autografados, com dedicatória e marcador. Os mesmos serão remetidos para os vários cantos do mundo. Quais os seus próximos projetos literários? Barnabé Sousa - Estou em fase de construção e de revisão do meu terceiro romance, um romance espiritual a ser publicado em 2020. Tenho inúmeros projetos literários na gaveta, outros em desenvolvimento. Cada livro vai «nascer» na altura certa. Tenho a certeza de que cada palavra que escrevo vai mudar a consciência de cada leitor independentemente do lugar de onde se encontram. As estórias que crio são histórias muito vivas, retratam e narram episódios vinculados com criatividade, com a beleza do coração. São pedawww.divulgaescritor.com | dezembro 2019

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ços de mim, pedaços de memória, pedaços de Vida. Gosto de ReViver e de ReNascer todos os dias, de pensar. Com a minha escrita obrigo as pessoas a fazer introspeções de modo a seguirem em frente em prol do bem! Os meus livros são e vão ser sempre ecléticos, marcados por pinceladas memoráveis. Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor Barnabé Sousa. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores? Barnabé Sousa - Obrigado pela oportunidade concedida, Shirley Cavalcante. Sugiro a todos os leitores («cidadãos do mundo») que se instruam. Leiam pelo menos três páginas por dia. Os marcadores são excelentes «marcas» para cada página pausada… Os professores (as escolas desde a primária ao pós-doutoramento) como educadores devem estimular a leitura de Escritores contemporâneos equilibrando a leitura clássica em prol da progressão saudável da mente humana descurando a negligência e da desanalfabetização a nível geral. Desenvolvam a literacia. Agarrem nas ferramentas que vos são facultadas. Abracem oportunidades que vos conduzam à vossa concretização enquanto seres humanos. A todos vós, a minha enorme gratidão!

_________________ Divulga Escritor: Unindo Você ao Mundo através da Literatura. https://www.facebook.com/ DivulgaEscritor/ www.divulgaescritor.com

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DIVULGA ESCRITOR PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ESCRITORA INÊS BARI

O BLOG VIROU LIVRO!

Sobre a autora Inês Bari é formada em Comunicação Social pela Faculdade de Comunicação de Santos. Escritora, publicitária,relações públicas, roteirista e radialista.Foi coordenadora artística da Rádio Tribuna FM de 1985 a 2013. Foi integrante do Grupo Picaré de Poesias de Santos no período acadêmico. Em 1982 lançou o livro de poesias “ Sol da Noite”, tendo sido convidada a participar da Bienal do Livro em São Paulo em 1984. Em 2015 lançou o livro infantil “Era uma vez uma coisinha”, pela Chiado Editora de Portugal para quem faz resenhas mensais. Hoje, dedica-se ao projeto culturail “FM NO AR -Revival 80” aprovado no ProAC ( incentivo Cultural Governo/SP), além do blog de literatura inesplicando.blogspot.com Inesbari10@gmail.com 13 997754072 Vídeos sobre o livro/autora https://drive.google.com/file/d/1AF2Y9Xu r6ScshvNwXoDGD0d10zMEFv6k/view https://drive.google. com/file/d/19PDyIQrn_ emBqPdo6Pjq29wQ0EmR1CUD/view

Inês Bari experimenta diferentes mídias... Depois de 30 anos no rádio, na parte artística da Tribuna FM, a escritora, publicitária, roteirista, volta-se para a web e retorna a carreira literária através do Blog “ Inesplicando”, Inesplicando.blogspot.com que já supera a marca de 80 mil visualizações. Atingindo, além do Brasil, brasileiros que moram em países como EUA , França, Espanha, Portugal, Inglaterra, India, etc... Por conta disso, a Chiado Editora Portugal/Brasil, para quem Inês faz resenhas de livros, mensalmente, apostou num livro de crônicas, com as mais lidas postagens do Blog Inesplicando! O livro ficou pronto em agosto e foi lançado na Pinacoteca de Santos, dia 22 de setembro. Uma tarde cultural, com leitura de crônicas, jazz e MPB ao vivo com o guitarrista Rafael Gomes e um café entre amigos!. O livro pode ser adquirido on line pelo site www.chiadobooks.com O livro é alma gêmea do Blog! Uma coletânea das postagens que conquistaram maior número de visualizações ao longo dos dois anos de existência do Blog. Além disso, o livro apresenta o mesmo conceito visual do Blog. São 50 crônicas do dia a dia, observações de fatos do cotidiano, lugares visitados e visões poéticas a respeito da vida e das relações humanas. As crônicas são leves e breves. E em cada crônica, uma foto do cotidiano, sem tintas, nem correções, que levam o leitor à mergulhar facilmente no universo simples e comum do cotidiano. Inesplicando é o jeito “Inês” de explicar ou tentar explicar as coisas... www.divulgaescritor.com | dezembro 2019

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PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ESCRITORA ANGELI ROSE

ANGELI ROSE Temos novas notícias das realizações e conquistas da Comendadora, doutora em Letras e escritora ANGELI ROSE, de codinome na rede social Facebook, CAPITU NASCIMENTO : Recebeu a MEDALHA MARIELLE FRANCO com o poema CANÇÃO DO PRESENTE , em cerimônia na CASA OLODUM/ Salvador-Br , em 14/09/2018, aos 6 meses da memória da vereadora assassinada no RJ, junto de outros 40 escritores e artistas, promovido pela LITERARTE em reconhecimento às contribuições e ao ativismo na área cultural e literária; Sua presença no evento foi destacada depois de ter tomado posse como membro - fundador e correspondente na Academia de Letras do Brasil (ALB), seccional de Campos dos Goytacazes, e ter recebido o premio de EMBAIXADORA da lei32

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tura de Excelência e Qualidade da BRASLIDER em São Paulo. Na mesma ocasião em Campos, fio laureada com o título de PhI. em Filosofia por suas produções acadêmicas pela mesma ALB. Tem participado como coautora de diversas antologias nacionais e internacionais de prosa e poesias como: PALAVREIRAS, Ed. AUTOGRAFIA (RJ): conto DA CAROCHINHA À AUSENCIA; CONEXÕES ATLÂNTICA II, Secção Mulherio das Letras, Ed. IN-FINITA (Lisboa/Pt): DEPOIS DA METAFISICA; CONEXÕES ATLÂNTICAS III, Ed. IN-FINITA, Lisboa-Pt, com vários poemas selecionados; 100 MELHORES POETAS da Língua Portuguesa, Ed. Literarte(RJ); ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU, Ed. CHIADO, SP/Lisboa, poema selecionado entre mais de 4mil

poemas, CORREDEIRAS; DEUSAS , Ed. DARDA,(RJ), com poemas e contos sobre a condição feminina; PALAVRAS SEM FRONTEIRAS, Literarte, com conto selecionado; OS 50 MELHORES POETAS LUSÓFONOS, Ed. Literarte, com poesias; ANTOLOGIA DE ESCRITORES DE LÍNGUA PORTUGUESA V, ZL Assessorias,ed. Bilíngue port/ espanhol, com o instigante conto policial RELATO DE FOGO/RELATO DE FUEGO;OS MELHORES ESCRITORES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS, editora Alternativa, com poemas e contos; VOZES PORTUGUESAS,Literarte, com mais poemas; e agora no final do ano nos brindou com a divertida história de uma menina canhota que cresce em meio a um ambiente social bastante controverso por lidar mal com a diferença. Em seu livro-so-


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lo infanto-juvenil, agora em edição comercial, que pode ser incluído no gênero cordel contemporâneo, BIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA DE UMA MULHER PANCADA, editora Bonecker, com apresentação da especialista, prof. Dra. Eliane Yunes; 2018, RJ. Entre os muitos projetos já em andamento para publicação no início de 2019, como seu 3º. e-book acadêmico pela editora Atena, resultante de sua pesquisa sobre a ciberliteratura e formação de professores na EAD como produção do estágio pós-doutoral desenvolvido na FE/UFRJ, no prelo, sob o título LITERATURA,EXPERIÊNCIAS E OUTROS UNIVERSOS, que lhe conferiu o título de PhD em Educação(2018); a antologia em homenagem ao poeta imortal e crítico literário, Carlos Nejar, na qual colabora como poeta e ensaísta, a ser editado pela POEARTE; entusiasmada, a autora também nos contou sobre as participações em diversas feiras literárias como convidada e ministrante de oficinas, curadora e palestrante, o que teve como coroamento a posse na ACADEMIA DE LETRAS E ARTES MINEIRA de Ouro Preto, a convite de membros e da LITERARTE. E ainda encontra tempo e disposição para cuidar dos detalhes finais da revisão de seu romance epistolar LIÇÃO ENTRE AMIGAS, que recebeu assessoria do jornalista ELIAS FARJADO (Estação das Letras) para lançamento em 2019, sem editora ainda; Assim, esta “artilheira da cultura” (2016) caminha em prol do direito à literatura e à leitura.

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ENTREVISTA

ESCRITORA MARISA LUCIANA ALVES

O que Zeus mostrou aos homens apresenta, aos leitores mais jovens, os Deuses da mitologia grega, os seus parentescos, feições, virtudes e defeitos. Paralelamente a essa descrição vai surgindo a apresentação do estado da Natureza e do meio ambiente na Terra, que os Homens têm vindo a menosprezar.”

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Marisa Luciana Alves acabou de publicar o seu 5.º livro. Nasceu no ano de 1976, em Vinhais, distrito de Bragança (Portugal). É Mestre em Literatura Portuguesa e professora de Português-Inglês, desde 1999. De 2001 a 2007 lecionou no ensino superior. Vê a escrita como uma forma de libertação e o seu percurso como escritora começou em 2011, ano em que publicou o seu 1.º livro. De momento, conta já com 5 livros publicados. Participou em 21 colectâneas com os seus poemas e contos, desde 2014. Foi a vencedora do 3.º concurso literário «Receitas Secretas», da Papel D’Arroz Editora, em 2015, do qual resultou a publicação da sua novela A tua receita, meu amor!. Já escreveu para revistas literárias digitais. Boa Leitura!

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Escritora Marisa Luciana Alves, é um prazer contarmos com a sua participação na revista Divulga Escritor. Conte-nos, o que mais a encanta na arte de escrever? Marisa Alves - Bom dia. Antes de mais, queria agradecer à Divulga Escritor pela oportunidade de participar nesta revista. Em relação à per-

gunta que me coloca, desde criança que gosto de escrever. Recordo-me dos discursos para as festas de família e pequenas histórias que eu escrevia, algumas das quais ainda hoje guardo. A escrita esteve e está sempre presente na minha vida, no entanto, enquanto escritora, sou um pouco atípica. Posso passar dias sem escrever e a inspiração pode surgir na hora menos pensada. O que me


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encanta na arte de escrever são os desafios, mas também as palavras que me surgem na mente como se fossem notas de rodapé ou legendas de um filme e que eu tenho necessidade de organizar. Preciso de sentir borboletas no estômago, a inquietude da alma para poder escrever. Sou uma escritora «à moda antiga» e ando sempre com um bloco de notas e uma caneta, porque gosto de escrever à mão, de fazer rascunhos, de reescrever, mas principalmente de sentir o papel que recebe as minhas palavras. Como surgiu o livro infantojuvenil “O que Zeus mostrou aos homens”? Marisa Alves - Gosto de escrever para crianças e tenho a noção de que essa não é uma tarefa fácil, contrariamente ao que se possa pensar. Os contos permitem enriquecer o imaginário infantil e é neles que muitas vezes as crianças encaram dificuldades, enfrentam perigos, aprendem a distinguir o Bem do Mal. Aprendem sobretudo que, tanto ali como na vida real, as coisas nem sempre são fáceis, mas que, no fim, com ajuda, tudo se resolve. O que Zeus mostrou aos Homens é um livro que surge do meu gosto, enquanto leitora, pelo fantástico e maravilhoso, pela mitologia. Além disso, costumo trabalhar com os alunos, em Português, a mitologia greco-latina, nomeadamente em alguns contos ou n’Os Lusíadas, de Camões. Apresente-nos a obra (sinopse) Marisa Alves - O que Zeus mostrou aos homens apresenta, aos leitores mais jovens, os Deuses da mitologia grega, os seus parentescos, feições, virtudes e defeitos. Paralelamente a essa descrição vai surgindo a apresentação do estado da Natureza e do meio ambiente na Terra, que os Homens têm vindo a menosprezar. Por isso, devido às suas atitudes, são questionados e enfrentados pelos Deuses do Olimpo, que os impelem a mudar a sua forma de atuar face à Terra. Efeito de estufa, poluição e

reciclagem são alguns dos conceitos que surgem neste livro e que permitem ao leitor tomar contacto com a defesa do Ambiente, levada a cabo pela vontade dos deuses. A magnitude de um Deus superior, a bondade de uma deusa e as considerações de outros deuses permitem levar a bom porto esta história. O que mais chama a sua atenção nesta obra literária? Marisa Alves - Talvez a relação existente entre os deuses, nomeadamente a parte em que Zeus ouve com atenção cada um deles e, com todo o seu poder e omnipotência, decide pelo amor que tem a Hera, dar uma nova oportunidade aos Homens. Quais os principais desafios para escrita do enredo que compõe a obra? Marisa Alves - Como já referi, sou fã da mitologia greco-latina e tentei com esta obra motivar os meus leitores, principalmente porque são um público bastante jovem, para o conhecimento da mitologia. Além disso, tendo em conta a problemática do ambiente, tão falada e tratada nos dias que correm, até em contexto escolar, achei que seria um bom “casamento”. Os principais desafios para escrever o enredo surgiram da decisão de cada deus, tendo em conta, claro, o conhecimento que eu tinha deles: uns mais amenos, outros mais austeros. E o enredo foi surgindo. Além de “O que Zeus mostrou aos homens” você tem publicadas outras obras literárias. Apresente-nos os títulos. Marisa Alves - Sim, é verdade. O que Zeus mostrou aos homens é o meu 5.º livro. Antes dele surgiram: Contando memórias…, em 2011; De suplicar por mais…, em 2013; O sono da Primavera, em 2014, e A tua receita, meu amor!, em 2015. Contando memórias… é o resultado de uma pesquisa/recolha da literatura e da cultura alentejanas. De suplicar por mais… trata-se de um registo

de algumas memórias culinárias da minha mãe e uma homenagem às tradições gastronómicas transmontanas, das gentes de Vinhais (Bragança). O sono da Primavera é uma compilação de três contos infantis que transversalmente têm a Primavera como elemento comum, retratando-a ora como espaço ora como personagem. A tua receita, meu amor!, é uma novela onde o amor é uma constante e em que uma receita vai unir um casal de apaixonados. São, como pode ver, livros que aparentemente nada têm a ver entre si, nem o tema, nem a tipologia, nem, quiçá, o público-alvo. Porém, todos têm em comum a dedicação que prestei a cada um. Onde podemos comprar os seus livros? Marisa Alves - O que Zeus mostrou aos homens pode ser comprado na editora (http://edicoestoth. pt/). Quanto a O sono da Primavera, pode ser adquirido na Edições Vieira da Silva (https://www.edicoesvieiradasilva.pt), na Bertrand ou Wook. Além disso, tanto um como o outro podem comprados através da Rota do Livro, em http://www.rotadolivro.pt/. A Marisa recebeu um prémio literário. Conte-nos como foi. Marisa Alves - Bom, surgiu a oportunidade de participar no 3.º concurso literário da Papel D’Arroz Editora, intitulado «Receitas Secretas». Gostei do desafio, pela temática das receitas de culinária, e concorri com o conto “Ao sabor da memória” (2014). Sinceramente, quando concorri, não pensei vencer. O que me interessou na participação foi valorizar a sabedoria gastronómica da minha região, Vinhais, minha terra Natal, em Trás-os-Montes. O conto era sobre o Pastel de Entrudo de Vinhais. É um pastel salgado feito com massa tenra e produzido a partir do fumeiro transmontano. Uma delícia! Mais tarde, fui informada pela editora que o meu texto tinha sido o vencedor e o prémio foi a publiwww.divulgaescritor.com | dezembro 2019

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cação da novela A tua receita, meu amor! (2015), escrita a partir desse momento, já que uma das condições era ser um livro no âmbito do tema do concurso. Quais os seus próximos projetos literários? Marisa Alves - De momento não tenho nada certo. Sei apenas que continuarei a escrever para crianças. Tenho algumas ideias na gaveta que espero pôr em prática brevemente, nomeadamente a publicação de mais um conto infantil. Além disso, encontro-me a escrever o meu primeiro romance, ainda numa fase inicial, de pesquisa, mas, a meu ver, vai desenvolvendo-se muito bem. Espero poder dar notícias dele no final do próximo ano. Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora Marisa Luciana Alves. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores? Marisa Alves - Eu é que agradeço pela entrevista e, principalmente, pelo caminho que a Revista Divulga Escritor tem vindo a fazer ao longo dos últimos anos pela promoção da escrita e valorização da língua portuguesa. A mensagem que posso deixar aos leitores é a de que nunca devemos deixar de sonhar, apesar dos obstáculos, dos entraves. Foi um sonho que no livro O que Zeus mostrou aos Homens provou que é possível lutar e alcançar o que queremos. Por isso, sonhem e lutem pelos vossos sonhos. Só assim é possível ser feliz! _________________ Divulga Escritor: Unindo Você ao Mundo através da Literatura. https://www.facebook.com/ DivulgaEscritor/ www.divulgaescritor.com

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SOLAR DE POETAS Por José Sepúlveda

O Natal da minha infância Corria a segunda metade da década de conquanto, do século vinte. Ali, na minha aldeia vivia-se uma vida simples e pacata. Estava ainda distante a explosão tecnológica, a era do plástico era ainda incipiente. Na loja do Robeiro os produtos alimentares e outros eram ainda embalados num grosseiro papel de embrulho que dobravam em forma de funil ou através de cartuchos, uns maiores outros mais pequenos. E ali se transportavam os géneros alimentícios ou outros produtos para o lar. O papel dos embrulhos e dos cartuchos era depois aproveitado como acendalhas para o fogão de lenha que servia na cozinha. Quando chegava o Natal, era uma azáfama entre a miudagem. Muito cedo e já se ouvia o barulho da grande roda da Bomba de Água a trabalhar para saber subir o precioso líquido para as lides lá de casa: higiene, alimentação, limpezas e outras. Ao longe, os passos do operariado que se dirigia para dar vida às grandes indústrias de fiação e tecelagem, tecido produtivo de toda a região e que alimentavam a maior parte dos aglomerados familiares da aldeia. Levantávamo-nos bem cedo, mal o sol despontava e lá íamos com o tosco caixote de madeira que fora embalagem de sabão em barra por essas bouças fora à pro38

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cura de musgos, ramos de azevinho e o pinheirinho natural, para montarmos o presépio e árvore de natal que trariam a alegria de toda a pequenada durante a magia de toda a quadra natalícia, até que surgisse o dia dos Reis (6 de Janeiro), altura em que tudo era desmontado à procura de um novo dezembro. Almoçava-se a correr, batata cozida com bacalhau assado na brasa, regado por uma delícia de azeite bruto e recheado com pedaços de cebola. Uma delícia que ao longo dos anos fomos mantendo no nosso agregado familiar como tradição a não ser quebrada. Pela tarde, preparávamos um cantinho da sala de jantar, às vezes da sala de entrada (que tinha mais luz) e ali passávamos algumas horas à volta do pinheirinho e do presépio. Eram as figuras de barro tosco que cada ano a mãezinha fazia crescer quando se deslocava à Santana - onde se realizava a grande feira semanal – e ali, na Loja da Poveirinha, ia adquirindo cada ano novos bonecos de barro. A árvore era enfeitada com fios de neve e quando não havia, com pedacinhos de algodão em rama que a mãezinha trazia do Posto Médico. Juntávamos depois as minúsculas bolinhas de natal, ainda em vidro, as vezes meio partidas e cujas mazelas escondíamos para que pudessem ser ainda usadas. Quando não havia nada mais para colocar, usávamos o

papel de estanho que íamos juntando ao longo do ano, quando recebíamos de presente um pequeno pacote de bombons. A iluminação confinava-se a uma lâmpada de pequena potência no presépio, para o iluminar e outra atrás da grande estrela colocada no cume da árvore, para que esta brilhasse. Nos intervalos desta azáfama, por vezes, eramos chamados à cozinha pela nossa mãe, para ir rapar os tachos da iguarias que ela, juntamente com nossa tia, estava a preparar para a Ceia e o almoço de Natal: os mexidos (que curiosamente ali na aldeia se chamavam formigos), a aletria, o leite-creme, a rabanadas, os sonhos, enfim, tanta coisa boa. Enquanto essas coisas iam sendo feitas, preparavam a couve, galega, claro, para a ceia que era sempre composta por batata cozida com bacalhau, troços de couve – galega, claro, da qual eram re4tiradas quase integralmente as folhas. Eram uma delícia esses troços, a batata e o bacalhau (para mim era sempre o rabo, que tinha maior gosto), regados com um fio de delicioso azeite aquecido, com cebolada. O vinho era também do bom, tinto, de pipa privada, aquecido com maça (uma tradição cuja origem nunca soube) ao qual se juntava um pouco de açúcar. Maravilha de noite. À mesa, no fim da ceia, depois da ceia e dessas iguarias acompanhadas dum manancial de frutos secos,


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cantava-se com alegria. O nosso pai dava o mote: o berimbau, uma pomba, músicas tradicionais de natal. E, já longa madrugada, dirigíamo-nos para a cama à espera da chegada do Menino Jesus com as almejadas prendinhas. Às vezes, em segredo, o Menino encomendava ao meu pai, alfaiate de profissão, uma calças novas ou um casaco quente e à mãezinha uma camisola de tricot, para o rigor do inverno. E, pela madrugada, muito cedo, ainda mal o sol acabara de nascer, cada um de nós se levantava em silêncio, ávido de correr para a sala à procura das prendinhas que o Menino Jesus, carregado até não mais poder, trazia para encher os nossos sapatinhos, criteriosamente colocados ao redor do presépio à sua espera. E lá vinham os carrinhos de folha-de-flandres, as bonecas de trapo ou porcelana, os chocolates ou caramelos e outras guloseimas… e as tais roupas que ele, diligente, tinha previamente encomendado aos nossos pais para nos oferecer. Depois, vestidos com os nossos novos trajes, lá nos preparávamos para a matutina missa onde, cada um, com orgulho, exibia os presentes recebidos. Nesse ambiente natural e simples, ano após ano, ansiávamos o chegar desses dias mágicos que viriam pela vida fora a marcar as nossas vidas com alguns dos momentos mais felizes e significativos, registados no Relógio do Tempo, o tempo desta nossa peregrinação. Vivamos então a magia do Natal. Feliz Natal.

Natal Que frio! Cai a neve lá na aldeia... E os pequeninos correm ao quintal Em busca de pedrinhas e de areia Para o presépio deste seu Natal. E partem pelo vale, pelo monte, Colhendo musgos, líquenes, azevinho, À espera que a avòzinha venha e conte A história da vaquinha e do burrinho. E mesmo com as mãozinhas tão geladas, Constroem seu presépio... E animadas Co’as luzes que dão brilho ao seu redor, Revivem o Natal da sua aldeia E toda essa magia que rodeia A história do Menino Deus de Amor. www.divulgaescritor.com | dezembro 2019

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POETAS POVEIROS

Por José Sepúlveda

Cartas de Belém E do amor nasci Durante toda a noite e madrugada Mãezinha contorcia-se com dor, Olhava para o ventre e aguardava O filho que lhe dera o Criador. Vagidos magoados. Triunfante, Mãezinha viu chegada a minha hora E do amor nasci e num instante A nova se espalhava por lá fora. E logo aquela voz angelical Anunciava em todo esse local Que um filho divinal ali nascia. Pastores, camponeses, muita gente, Queriam, cada qual com seu presente, Saber das Boas Novas de Alegria! Jose Sepulveda

Murmúrios em Belém Um murmúrio se ouviu Nesse novo alvorecer E o povoado sentiu O Messias renascer De boca em boca correu Por Efrata de Belém Que o Deus Menino nasceu Numa choupana em Jerusalém O povo ouvia baixinho Pois de Herodes tinha medo E falavam do Menino Muito atentos, em segredo Enquanto Herodes seguia Esse povo a labutar Muito estranho se sentia Ao ouvi los cochichar

Mandou soldados sondar Razões de tanta euforia Não demorou a encontrar O segredo que existia Procuraram o Messias Em todo o seu povoado Em pensões, albergarias Em grutas, em todo o lado Jesus nas palhas deitado O seu soninho dormia Atentos e com cuidado Zelavam José, Maria

“Nascimento sagrado” Maria chega no burro ao lugar sagrado Para ela dar à luz seu bebê tão esperado O menino Deus que vem salvar o mundo Com paz, caridade, e um amor profundo... Finalmente encontrou um espaço seguro A onde seu filho Jesus seria bem-recebido Foi então aquecido com o bafinho do burro No dia chamado Natal, nascimento querido... Festeja-se pois, cada ano o seu aniversário Juntam-se as famílias para festejar o Natal Não só em Belém Efrata, mas ao contrário Em todo o mundo é um dia muito especial... Maria José

Rosa Maria Santos

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DIVULGA ESCRITOR PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ESCRITORA ROSA MARIA SANTOS

ERA UM DIA MUITO ESPECIAL, O DIA DE NATAL Flor, menina astuta e brincalhona, estava com ar triste. Lili, a sua gatinha, tinha desaparecido há semanas. Este Natal não poderia gozar da sua doce companhia. De manhãzinha bem cedo a Avozinha entrou no seu quarto e chamou-a como era seu hábito desde que a netinha fora viver lá para casa. Flor sorriu-lhe e a avó reparou que os seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar. E perguntou: - Minha querida, não te quero ver assim. Sabemos bem que a Lili desapareceu, mas tenhamos confiança. Ela vai voltar para casa. Os gatos têm um bom sentido de orientação. Além disso, hoje é Natal, Flor vamos lá ver se arrebitas. Levanta-te, há muito que fazer hoje e preciso da tua ajuda. Temos que ir ao musgo para o nosso presépio. - Eu sei, minha Avozinha, o Natal é já amanhã. Não estou esquecida, apenas triste. A Lili fazia parte da minha vida, bem sabes. Sinto a sua falta.

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- Tenta esquecer isso por algum tempo, vais ver como de repente nos entra pela porta dentro. Hoje é dia de alegria, não de tristeza. Reanimada pelas palavras da avó, Flor levantou-se, vestiu uns agasalhos quentes e lá foram as duas à arrecadação buscar os apetrechos para o seu presépio.

- Vamos, avó, olha ali Musgo bom, com bela cor Traz a cesta para aqui, Mas que bonita esta flor A cabana vai ficar Bem linda, cheia de Luz, E por certo irradiar O rostinho de Jesus Logo que apanharam o musgo, o azevinho e alguns ramos de pinheiro, voltaram a toda a pressa para casa, montaram o presépio e depressa escureceu. Finalmente, tudo

pronto à espera do Natal. A mesa cheia de iguarias, as batatas, o bacalhau, tudo pronto para uma noite de todo essencial. Apesar de estarem apenas elas, era sempre um dia de grande festa, cheio de paz e amor. O resto da família encontrava-se emigrada por esse mundo fora e agora apenas podiam contar com a companhia uma da outra. Depois da ceia, sentada num banquinho de madeira na velha cozinha, lareira acesa, ali passavam o resto da consoada com a avó a contar velhas memórias doutros tempos, enquanto lançava para o borralho batatinhas novas e maçãs da porta da loja, que ficavam uma delícia quando assadas à lareira. - Truz, truz, truz – ouviu-se bater. Avó, estão a bater à porta, quem será? - Não imagino, querida. Levantou-se, espreitou pelo postigo e viu do lado de fora um menino tinindo de frio. Abriu, sau-


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Por José Sepúlveda

dou-se e convidou-o a entrar. Estava descalço, tremendo, quase desfalecendo. Amparou-o e trouxe-o para dentro. - Flor, vai ao quarto e traz depressa umas meias bem quentinhas e uma camisola forte. Traz também umas calças aconchegantes. Flor correu ao quarto e procurou entre as suas roupas favoritas. Correu e num ápice as entregou nas mãos do menino que apenas sorriu. - Veste-as e vem sentar-te aqui connosco à lareira, estamos mais quentinhos e vais deliciar-te com as histórias da minha avó. Podes comer o que mais te apetecer, sim? Queres que te ajude a vestir as roupas? Veste-as, são quentinhas. Toma também estas pantufas. E ali passaram o resto do serão, ouvindo as belas memórias que a avozinha não se cansava de contar. E por ali se estenderam noite fora. - Bem, meninos, são horas de descansar. Horas da caminha. Vamos dormir na graça do Menino Jesus. Tu dormes na caminha da Flor

e ela vem dormir comigo esta noite. De resto, amanhã logo se verá. E lá foram dormir. Foi a sua mais linda noite de Natal. De manhã bem cedo, lá estava a Avozinha a calcorrear por ali, para preparar o pequeno-almoço, desta vez para si, para a Flor e essa companhia inesperada e tão feliz do menino, o seu Menino Jesus. Momentos depois lá estava a chamar a netinha e lá foram juntas ao quarto para despertar o seu amiguinho. Mas não, o quarto estava vazio. O que teria acontecido? Uma sombra de tristeza descia no olhar de avó e neta. Porque teria ido embora? Nem sequer um adeus! Vasculharam os recantos da casa e nada. Voltaram à sala e cheias de espanto viram as roupas apinhadas sobre a cadeira, dobradinhas e limpas. Mas para sua surpresa, a mesa estava agora repleta de doces e iguarias como elas nunca tinham visto. De repente, a porta abriu-se e, surpresa, entrou o menino carre-

gando um belíssimo cesto de verga devidamente aconchegado que prontamente entregou a Flor. De olhos esbugalhados, descobriu o cesto e… - A Lili! Avó, a Lili voltou! E não vem só! Olha-me estes três gatilhos, tão lindos! Obrigado! Ó, nem sei sequer o teu nome para te agradecer! De novo, a felicidade tinha entrado naquele lar humilde onde cada canto estava rodeado de afetos. Com a alegria, nem tinham reparado que o menino tinha desaparecido de novo. Correram em direção ao presépio e sussurraram: - Foi Ele? - Obrigada, Menino Jesus – disse Flor emocionada – obrigado por teres descido hoje à nossa humilde casinha e por nos teres devolvido não só Lili mas também os seus filhinhos. Este vai ser sempre o Natal mais feliz das nossas vidas. Feliz Natal!

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ENTREVISTA

ESCRITORA RAQUEL NUNES O meu nome é Raquel Nunes, tenho 23 anos, sou natural da Ilha Terceira (Açores) e Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde. O meu namorado, Pedro Garcia, coautor da obra, tem 30 anos, é natural de Lisboa e é vendedor de profissão na Loja de Bricolage Leroy Merlin. “A Ilha Misteriosa da Imaginação” é o primeiro Livro da nossa autoria.

O Livro faz referência ao problema atual do Bullying, que muito tem perturbado a estabilidade emocional e comportamental de crianças e jovens em Portugal. Assim, este Livro pretende consciencializar as crianças e jovens para a problemática e ressaltar que a diferença não é, necessariamente, algo negativo.”

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Boa Leitura!

Por Giuliano de Méroe

Escritora Raquel Nunes, é um prazer para nossa equipe contar com a sua participação em nosso projeto, seja bem-vinda! Conte-nos por que decidiu escrever uma obra de literatura infantil? Raquel Nunes - Começamos por agradecer a oportunidade de participar no vosso projeto, que é um prazer para nós. Esta obra surgiu no âmbito de um concurso literário, no qual participámos, embora sem grandes expetativas. A escrita de uma obra de literatura infantil está, assim, relacionada, não só com o nosso interesse em especial por esta população, mas também com os critérios do concurso. Como não ganhamos o concurso, decidimos pedir uma avaliação da obra ao Grupo Editorial Chiado de Lisboa (Portugal), até porque o processo de

construção do Livro foi uma experiência muito positiva para nós. Rapidamente obtivemos uma resposta muito positiva da Editora e avançamos para a publicação da obra. Estamos curiosos em saber como foi organização da escrita deste livro... Explique-nos como articularam as vossas ideias? Raquel Nunes - O nosso principal objetivo foi promover a literatura infantil e a leitura de pais para filhos, seguindo-se o objetivo de abordar um tema atual e, ao mesmo tempo, transmitir uma mensagem importante. Sendo Psicóloga, tenho muito interesse pelo tema do Bullying e tenho procurado promover relações interpessoais positivas, então optámos por abordar esta temática tão atual. Para o efeito, criámos personagens diferentes e atrativas, como forma de captar a atenção das crian-


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ças; utilizámos uma linguagem informal; e procurámos criar interação com o leitor a partir de pequenos desafios. Começámos por escrever uma história, mas como o Pedro é muito criativo, fomos considerando várias opções e reformulando a história, tentando sempre melhorar o seu conteúdo e manter a atenção das crianças. No livro “A Ilha Maravilhosa da Imaginação”, quais os assuntos e dilemas percebidos que incentivaram sua produção? Raquel Nunes - O Livro “A Ilha Misteriosa da Imaginação” aborda sobretudo as diferenças interindividuais e os desafios que, muitas vezes, sentimos em gerir e até mesmo aceitar/respeitar essas diferenças. O Livro faz referência ao problema atual do Bullying, que muito tem perturbado a estabilidade emocional e comportamental de crianças e jovens em Portugal. Assim, este Livro pretende consciencializar as crianças e jovens para a problemática e ressaltar que a diferença não é, necessariamente, algo negativo. Apresente-nos a obra (sinopse) Raquel Nunes - Esta é uma história que se passa numa ilha especial, onde tudo o que se possa imaginar existe. Nesta ilha vivem criaturas/ animais nunca antes vistas, todas elas tão diferentes entre si que, por não saberem estar juntas, decidem viver sozinhas, até ao dia em que algo estranho acontece…Um terrível vulcão de sopa acordou e toda a ilha corre perigo. A Fada Labidenti (protetora da ilha) dá a difícil missão aos animais de salvar a ilha. Mas haverão regras, e se as cumprirem, além de salvar a ilha, poderão ainda ser surpreendidos com um tesouro de valor inestimável. Conseguirão a

vro nas redes sociais, através da Página do Livro no Facebook (Livro “A Ilha Misteriosa da Imaginação”) e no Instagram (raquel_nunes_pedro_garcia).

Carboleta, o Macacão, o Gatifinho e o Girafão deixar as suas diferenças de lado e juntos ultrapassar os desafios que os esperam? Conseguirão encontrar o tesouro e salvar a ilha? Esta obra foi dedicada a alguma pessoa em especial? Raquel Nunes - A obra não foi dedicada a nenhuma pessoa em especial, mas foi inspirada no nosso contato com crianças, nomeadamente da família, inclusive, foi a minha afilhada Isabel Rocha que deu nome à obra; e foi com a minha prima Isabel Nunes que criei as primeiras três personagens da obra. Onde poderemos comprar o livro? Raquel Nunes - O Livro encontra-se em todos os países de língua oficial portuguesa e pode ser adquirido em formato físico (Livro) ou e-book, entre outras formas, através da Chiado Kids (com portes de envio grátis), Fnac, Bertrand ou Wook. Podem, também, seguir o nosso Li-

Quais são os vossos principais objetivos, como escritores de livro infantil? Raquel Nunes - Como escritores de um livro infantil, os nossos principais objetivos foram promover a leitura pelas crianças e momentos de leitura em família; e abordar temas atuais, sensibilizando as crianças para temas mais delicados. Isto porque os livros podem ser fontes de conhecimento e meios de promoção de outras competências ou ferramentas importantes para o futuro, como: estimular a criatividade e imaginação (tão útil num mundo em crescente mudança e evolução, que desafia cada vez mais à inovação e ao empreendorismo); desenvolver competências de atenção (o que também é um desafio atual, numa atualidade modernizada, envolvida por novas tecnologias e associada ao imediatismo); entre outras. A escritora pode se lembrar de alguma passagem ou lembrança da história que mais a marcou profundamente? Raquel Nunes - Recordamo-nos em particular de um momento ainda na fase de construção da obra. Quando terminei de escrever a história, e pensei que estaria praticamente concluída, o Pedro disse que tinha outras “pequenas ideias” para adicionar à história…mal sabia eu que teria de alterar grande parte da história e isto em véspera de exame da faculdade… olhei-lhe com cara de má e disse-lhe “Não me voltes a fazer isso nas vésperas de exame!”. Mas nem sempre as ideias surgem quando queremos, e estas surgiram já um www.divulgaescritor.com | dezembro 2019

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pouco em cima da data limite de submissão da obra ao concurso. Agora, olhando para trás, rimos da situação. Todo o processo de escrita da obra foi muito positivo para nós. O mercado editorial atualmente segue em uma fase difícil, com grandes livrarias e editoras enfrentando dificuldade para sustentar seus projetos. A autora pode opinar, com alguma ideia e sugestão sobre o que nossos leitores podem fazer para aquecer a produtividade do mundo editorial? Raquel Nunes - Essa é uma dificuldade sentida no mercado editorial, até pela crescente modernização tecnológica. Considero que algumas iniciativas por parte dos leitores podem contribuir para a promoção da leitura, por exemplo: a simples crítica/avaliação de livros, que pode informar outros leitores sobre as obras; a partilha de experiências de leitura e a sugestões de livros a partir de Blogs e Páginas nas redes sociais, convidando os seguidores a participar no Blog com sugestões e críticas de livros; a criação de grupos de discussão de obras ou a realização de sessões de leitura para os mais novos. Pois bem, estamos concluindo a entrevista. Estamos gratos em conhecer seu estilo literário. Obrigado pela participação no Projeto Divulga Escritor. Que mensagem você pode deixar para nossos leitores? Raquel Nunes - Temos procurado passar uma mensagem aos mais novos, mas que pode extender-se a todos, que é a seguinte: sempre que encontre uma folha em branco, não a deixe ficar em branco, “incomode” essa folha, implique com ela, risque, escreva, desenhe, só não a deixe ficar em branco, pois todas essas folhas são bilhetes diretos para a nossa “Ilha da Imaginação”. Não deixe de imaginar, de criar e coloque a sua 46

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individualidade em tudo o que faça, pois “Nunca ninguém fez a diferença sendo igual ao resto” (Hugh Jackman). Muito Obrigada, uma vez mais, pela oportunidade de participar no vosso Projeto e dar a conhecer o nosso Livro. _________________ Divulga Escritor: Unindo Você ao Mundo através da Literatura. https://www.facebook.com/ DivulgaEscritor/ www.divulgaescritor.com


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DIVULGA ESCRITOR PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ESCRITORA FERNANDA COMENDA

O PAÍS DO LAGO Havia muito silêncio humano, não se ouvia rir, nem falar, nem gritar, apenas o barulho dos grilos, dos pássaros noturnos e o correr da água no riacho. De repente, uma luzinha surgiu e um riso de criança soou. A luzinha deslocava-se e o riso continuava, um pássaro que parecia azul acompanhava essa criança. A luz envolvia-a e ajudava-a a ver o caminho. Uma suave melodia começou a ouvir-se e naquele momento vários seres da floresta começaram a aparecer… a lua aproximou-se da floresta, a sua luz e brilho aumentaram e como um foco artificial, como se de um palco se tratasse, um círculo brilhante no chão surgiu. Muitos animais, duendes e fadas ocuparam o seu lugar à volta do círculo. Das árvores saíram lindos pássaros multicolores, dos seus bicos ouviu-se uma melodia fantástica que enchia todos os presentes de alegria… A menina calmamente foi para o meio do círculo, iniciou uma dança que parecia deslizar e começou a cantar… Todos os espetadores estavam maravilhados! De repente, viu-se um relâmpago e alguns segundos depois ouviu-se um trovão enorme, a chuva começou a cair fortemente. 48

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Todos os presentes correram para as suas tocas. A menina fugiu abrigando-se na casinha de um esquilo, no tronco de uma árvore. Era quente e confortável. Durante a noite, alguém lhe falou ao ouvido: - Menina, menina, ouve com atenção!...Amanhã vai ao Lago Azul, olha para a água e aguarda. Assim foi, a menina, no dia seguinte logo pela manhã, foi até ao lago. Os seus belos olhos verdes contemplavam a água azul. No meio do lago, a água começou a borbulhar, uma luz começou a surgir e uma linda senhora de cabelos compridos castanhos dourados, com um vestido de brilhantes escamas de peixe, apareceu. A sua voz era doce e ecoava, parecia que vinha do fundo do lago. A senhora disse: -Eu sou a Fada do Lago, sou eu que o controlo e governo. Este lago é mágico, é ele que comanda a felicidade e alegria dos humanos. Nós, neste momento, estamos com dificuldades, não temos energia suficiente para a felicidade. Será que nos podes ajudar, Eliane? Os olhos da menina abriram-se ainda mais e com um esgar de surpresa disse: - Sim, claro, Fada. Podem contar

comigo. Mas o que poderei fazer? - Olha, Eliane, queremos que vás à Biblioteca da cidade e que com a ajuda do bibliotecário escrevas frases a incitar a amizade e felicidade. Cola papéis nas paredes interiores e exteriores da Biblioteca, e cola-os também nas paredes dos prédios da cidade. Olha, aqui tens estas conchas e pedras do fundo do lago para ofereceres às pessoas. São mágicas. Eliane pediu a ajuda do Bibliotecário e ambos escreveram várias frases: “Sorri sempre!”; “Bom dia!”; “Boa tarde!”; “Se faz favor…”; “Dá a tua simpatia!”; “Partilha o que tens!”; “Segura a mão de quem precisa!”; ”Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti!...”; “Recebe a minha simpatia!”; “Recebe a minha amizade!”, etc. Eliane e o Bibliotecário colaram muitos papéis com as frases como tinha sido proposto pela Fada e foram também pelas ruas da cidade distribuindo outros papéis com frases incitando ao amor, amizade, boa educação e bom comportamento, dando beijos e cumprimentando toda a gente. À medida que caminhavam muitas crianças e adultos juntavam-se-lhes e com eles distribuíam simpatia aos transeuntes.


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Por José Sepúlveda

Todos estavam felizes, todos davam as mãos, e quando um tinha fome, o outro tirava da mochila um alimento e oferecia-lho. Quando um tinha vontade de chorar por ver miséria, outro chorava com ele, mas ambos ajudavam o desgraçado que necessitava de comida, ou de agasalho, ou simplesmente de falar ou de companhia. A pouco e pouco a cidade ficou mais feliz, mais amiga. Até o Presidente da Câmara ficou diferente. A sua atuação perante a comunidade transformou-se, começou a trabalhar para o bem de todos, criando boas condições: escolas confortáveis e com boas instalações e materiais de trabalho, jardins cheios de árvores e flores; locais de trabalho para os adultos. Enfim, aquela cidade era um exemplo para todo o mundo! A menina feliz, durante a noite, enquanto dormia, ouviu novamente a voz: -Vai ao lago amanhã, a Fada quer falar contigo! Eliane acordou bem cedo. Lavou-se, penteou-se, vestiu os seus calções cor de rosa e a sua blusa de alças brancas, tomou o seu pequeno almoço composto por leite e flocos e pôs-se a caminho. Estava muito feliz. Cantarolava uma linda canção que falava de amor e alegria. Chegou ao lago. A Fada surgiu imediatamente assim que ela se sentou no rebordo do lago.Sorriu-lhe e agradeceu-lhe o seu trabalho. A alegria e felicidade tinham voltado ao reino. A fada pegou na mão de Eliane e levou-a a visitar o fundo do lago. Os olhos da menina abriam-se maravilhados perante a beleza da cidade aquática. Ela era muito pareci-

da com a de fora do lago, mas mais brilhante, mais fantástica. O palácio era uma concha gigante de madrepérola, as cadeiras, as mesas, as camas eram conchinhas brilhantes. Eliane sentou-se num sofá concha e adormeceu. Quando acordou estava rodeada de muitos peixinhos. Assim que Eliane abriu os olhos, os peixinhos cantaram-lhe uma linda canção. O coração da menina encheu-se ainda de mais alegria. Levantou-se e em forma de agradecimento começou a dançar uma dança mágica, era ballet, era hip-hop!... Os peixes dançaram com ela. Assim que terminaram, todos eles a levaram para a superfície, enviando-lhe beijos com as suas barbatanas. A caminho de casa, as árvores, as

flores e os animais aplaudiram-na e com ela caminharam. Eliane lembrou-se das conchas e das pedras que a Fada lhe tinha oferecido, foi buscá-las a sua casa, ao seu quarto, ao guarda-jóias onde elas se encontravam bem aninhadas e, rapidamente, foi para a rua distribuí-las pelas pessoas, animais e plantas. Progressivamente, à medida que Eliane oferecia as conchas e pedras, o céu ficava mais azul, o sol de dia e a lua à noite mais brilhantes, as estrelas mais cintilantes e a humanidade mais amiga, solidária e feliz! Eliane sorria e sabia que a única solução para a felicidade é dar e receber, é distribuir amor aos humanos e animais e cuidar bem da natureza, porque todos nós fazemos parte do Universo!... www.divulgaescritor.com | dezembro 2019

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PARTICIPAÇÃO ESPECIAL EDITORA UIARA MELO

“JONAS E O UNIVERSO PARALELO” UM LIVRO QUE VAI ALÉM DO SIMPLES ENTRETENIMENTO

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Qualquer projeto, seja ele uma antologia ou coletânea, gera ansiedade e expectativa em relação à publicação, divulgação, notoriedade e visibilidade. Cada participante busca um objetivo dentro de suas particularidades. Enquanto alguns veem esse tipo de projeto como oportunidade de adentrar no universo da escrita editorial, outros consideram esta participação desimportante para o processo de divulgação do seu trabalho. Contudo, quando um escritor participa de um projeto como este, trabalha em conjunto, participa de todo um processo de criação coletiva e se torna um dos responsáveis pelo sucesso da obra. O principal objetivo dessa obra é alcançar o adolescente, em instituições educacionais, escolas públicas e particulares e bibliotecas. Pretende-se dialogar, por meio da ficção, com a subjetividade juvenil, mostrando novas perspectivas diante da realidade e facilitando o contato com a literatura brasileira a ponto de valorizar o escritor e sua nacionalidade. “Jonas e o Universo Paralelo” aborda assuntos polêmicos como bullying, drogas, religião, racismo, depressão etc. Cada capítulo da obra foi escrito por um autor diferente com as suas particularidades e singularidades. No Brasil, muito se tem questionado a respeito da valorização da leitura e da forma como a lite-


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ratura chega para os estudantes de rede pública ou particular. Livros são para serem lidos, sejam eles didáticos, científicos, paradidáticos ou literários. Entretanto, mesmo com a relevância da literatura, ela não é valorizada como deveria ser. Muitos dizem que isso se deve a questões culturais, mas essa não pode ser uma justificativa para que bons livros – com conteúdo significativo – possam ser publicados e apresentados aos jovens. Livros literários podem deixar de ser apenas diversão para serem significativos e instigadores, acrescentando conteúdos válidos para o amadurecimento intelectual. Deste modo, essa proposta de história coletiva visa contribuir, valorizar, socializar e compartilhar vivências entre o escritor e o leitor. Jonas e o universo paralelo é uma obra idealizada pela escritora e editora Uiara Melo e publicada pela Epigenia Editora, situada na cidade de Macaé/RJ. Para Uiara Melo ver a obra finalizada foi um sonho realizado, pois, diante de muitos obstáculos, oito escritores abraçaram a ideia e deram vida a Jonas. A obra teve a participação de oito escritores e da editora, sete deles residem na cidade de Macaé/RJ e uma escritora em Valdoparaíso de Goiás/GO. Os autores selecionados receberam, por sorteio, seus temas. Tal ação procurou retirar os escritores do senso comum, causar-lhes inquietação e fazer com que saíssem da zona de conforto. Mas é válido saber que a obra conta com autores estreantes e outros com certa experiência na produção literária. Este time de escritores se reuniu para narrar eventos marcantes das viagens de Jonas, um rapaz maranguapense de 38 anos que possui uma rara modificação genética. Suas experiências começaram aos sete anos de idade, quando, ao cair de cima de uma árvore, ele foi parar na França, em 1799, em plena Revolução Fran-

cesa. Jonas ele não tem controle do tempo, lugar e idade durante as viagens e, sempre que retornava para o seu tempo real, tratava de escrever em um caderno os fatos vividos, selecionando onzes melhores temas para compartilhar com os jovens, com o objetivo de ajudá-los a superar as suas dificuldades e conflitos internos. O lançamento da obra aconte-

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ceu em várias escolas públicas e particulares na cidade de Macaé entre os dias 22 e 26 de outubro, em comemoração ao Dia Nacional do Livro, em 29 de outubro. Contou com a participação calorosa de jovens estudantes, demonstrando que ainda existe salvação para a literatura brasileira. A Epigenia deseja continuar com o tour literário, visitando mais instituições em 2019.

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Escritores participantes da obra: Ana Cândida; Ana Cristina; Ana Helena; Elizama Nascimento; Eddie Paiva; Patrícia Fernandes; Priscila Caroline; Raquel Donegá; e, Uiara Melo. Um pouco sobre cada escritor:

Ana Cândida Me chamo Ana Cândida, mãe de João Eduardo, apaixonada por transformação, um ser em total evolução constante. “Sou Ana Cândida dos Reis Neves, consultora e apoiadora Master Mind, empresária no Ramo da Beleza. Quando recebi a proposta para participar desse projeto, meu coração se encheu de alegria, por poder estar em um projeto que terá impacto positivo, de apoio e de alerta para os adolescentes, que são nosso futuro! Obrigada Uiara Melo, pelo belíssimo projeto.”

Ana Cristina Faria Sou filha do Rio de Janeiro e afilhada de Brasília, onde aprendi que para ser e ter eu deveria absorver. Andei bem devagar, na contramão, mas quis o destino que eu estivesse aqui. Sou escritora de uma obra que ainda está na Editora. Nas horas vagas, divago, mas em compromisso escrevo para o Blog Faroeste Literário desde 2015 na coluna Súmula de Domingo. Tenho um poema que virou samba, então o cantei e declamei para uma rádio http://www. rcp-var.com “Desenvolver o capítulo sobre Sexualidade na adolescência, foi muito tranquilo porque eu já tinha em mente a história a ser contada, então quando recebi o tema foi fácil encaixar e abordar o assunto, haja vista que adolescente em qualquer época é em si uma explosão de coisas indefinidas e, pasmem, já fui uma. Jonas é um menino muito doce que encantará com certeza essa geração.”

Ana Helena Psicóloga (Universidade Salgado de Oliveira) com pós-graduação em Terapia Cognitivo-Comportamen-

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tal (SPEI - Sociedade Paranaense de Ensino e Informática). Curso de Extensão em Psicologia Jurídica (IBHA -Instituto Brasileiro de Hipnose Aplicada), Extensão em Relações Raciais (PENESB - UFF), Formação em Coach (Life and Professional Certification) além de outros cursos. Nas graduações apontadas, minhas pesquisas sempre foram voltadas para o público feminino. Toda a experiência adquirida ao longo da minha carreira é válida, mas considero a da saúde mental a experiência mais rica onde fui transformada pessoal e profissionalmente. “A imaginação é uma das grandes ferramentas que adquirimos na infância a ser usada pelo resto da vida. Acontece que quando crescemos, não somos ensinados acerca dessa ferramenta poderosa e junto com os brinquedos, a deixamos de lado à mercê do tempo. Ainda bem que temos na escrita a chance de capturar a nossa imaginação! No começo do capítulo que escrevi, achei complicado, mas quando soltei a criança criativa que cada um tem dentro de si, a história fluiu de tal modo que entreguei o capítulo antes do prazo previsto. Gratidão. Estou muito feliz pela oportunidade de fazer parte dessa obra e empolgada com o lançamento.”

Eddie Paiva Eddie Paiva é escritor do livro “Sua Mente, Seu Sucesso”; Palestrante; Professor e também Consultor de Desenvolvimento Humano Organizacional com mais de 7 anos de experiência atuando diretamente


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em Recursos Humanos de empresas multinacionais do segmento de óleo e gás. Especialista em programação neolinguística e neurociência aplicada à aprendizagem. Coach de motivação e propósito. Empreendedor idealizador da Skills4Life, uma startup de educação que promove treinamentos e cursos livres especialista em desenvolver habilidades para vida em adolescentes e jovens. Mentor de mindset e comportamento empreendedor. Atualmente, também é mestrando em Educação em Ciências e Saúde pela Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ). “Participar da coletânea “Jonas e o Universo Paralelo” foi uma experiência ímpar simplesmente porque o projeto é encantador. Escrever para o público infanto-juvenil é tarefa desafiadora. Mas o que seria de nós escritores se não fossem esses desafios? Estou feliz com a oportunidade e espero que nossas histórias possam contribuir com a vida de muitos estudantes.”

Patrícia Fernandes Gosto de escrever, estar em família e vivenciar o amor de Deus em minha vida! “Entre o Sonhar e o Desacreditar... está o sim e o não! Participar da Coletânea foi o começo do que um dia foi um Sonho, para um futuro promissor de ser uma escritora e compositora, levando o Amor!”

Raquel Donegá Professora, formada em Letras e estudante de Psicologia, pós-graduada em Língua Portuguesa e que adora Mídias e Poesia. Mãe de adolescente, amiga, esposa e dona de casa. Poetisa nas horas vagas. “O convite para compor um livro narrativo em conjunto com pessoas desconhecidas (algumas nem tanto) já surgiu como um presente do universo. O processo criativo foi acompanhado da presença de um novo amigo: Jonas, que chegou aos poucos, pegou nas minhas mãos e me orientou quando Ana foi se apresentando e revelando sua dor. A companhia sempre presente de um personagem que perpassava as muitas dores existenciais foi essencial para a dinâmica da obra! E tudo isso ainda veio preenchido pela possibilidade de conhecer novos autores e uma editora que pensa no lado humano, que pretende não apenas adentrar no universo misterioso da juventude, mas abraçar os jovens e andar junto!”

Uiara Melo Uiara Rosiene Melo ou Uiara Melo (como é conhecida) nasceu e vive na cidade de Macaé-RJ. Hoje com 36 anos é empresária e empreendedora. Formada em Gestão em Recursos Humanos pela Estácio de Sá e em Normal Superior pela Cândido Mendes. Pós-graduada em Pedagogia Empresarial pela ESAB. Sempre esteve envolvida com a cultura local. Hoje é escritora, palestrante e poetisa. Possui 6 livros publicados de forma independente. “Quando pensei na possibilidade de criar essa história de forma coletiva, eu não imaginava que tomaria proporções tão grandiosas. A qualidade dos textos desenvolvidos pelos escritores participantes só mostra que temos no país profissionais de alta qualidade. Estou muito agradecida por este projeto ter ganhado formas. Espero conseguir ajudar os jovens que tanto precisam de um apoio e acolhimento”. Mais informações: www.epigeniaeditora.com.br ou contato.epigeniaeditora@gmail.com

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ENTREVISTA

ESCRITOR JANDER OLIVER O escritor Jander Oliver tem 29 anos, da cidade de Itatiba - São Paulo, formado em Gestão de Tecnologia de Informação. Sua carreira como escritor começou através do Concurso Nacional (Novos Poetas - Sarau Brasil de 2014) onde teve um dos seus poemas premiado. O escritor lançou seu primeiro livro de poesia chamada Frases de uma Vida Um poema chamado Apenas quero ser eu, se destacou entre outros poemas do escritor, um dos seus poemas teve reconhecimento internacional. O escritor lança seu segundo livro ( O Mundo Cinza) é o primeiro de uma historia que narra a vida de um homossexual e que aborda questões de preconceitos, Religião, politica e superação. Boa Leitura!

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Escritor Jander Oliver, é um prazer contarmos com a sua participação na revista Divulga Escritor. Contenos, o que o motivou a escrever “O Mundo Cinza”? Jander Oliver - Escrever Esse livro foi uma das melhores coisas que já fiz na minha vida, foi eu poder viver o personagem e contar a história de muitos brasileiros que vivem o que Arthur passou, é um livro que vem falar do amor ao próximo e se colocar no lugar do outro. O mundo cinza ele é um livro que vem conquistando muitas pessoas, ele já está em outros países como Portugal e recentemente recebi uma proposta para ir a Miami nos Estados Unidos, apresentar livro 54

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( O mundo Cinza ) numa exposição de uma feira literária internacional que acontecerá nos Estados Unidos. Apresente-nos a obra (sinopse) Jander Oliver - O Mundo Cinza A historia de um personagem gay, o livro narra a infância de Arthur em uma vida simples que levava numa cidadezinha do interior. Na adolescência começa a sofrer pressões de seus colegas, Arthur que vivia numa intensa confusão com ele mesmo, sentia que eram duas pessoas dentro de si mesmo. Na faculdade Arthur conhece Alex, começam uma amizade, com o passar do tempo Arthur resolve contar para os pais, que e gay seus pais tomam uma decisão que ira mudar completamente sua vida, isso


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inclui a mudança de pais. Na volta, Arthur conhece todos extremos da vida e se torna uma pessoa deferente de que todos imaginavam. Muitas pedras foram jogadas, mas delas construiu uma ponte segura para o futuro você faria o mesmo? Como foi a escolha do título? Jander Oliver - A escolha do título tem a ver com as fases que o homossexualismo passa em sua vida pessoal, na verdade que visa é a imagem que tudo é rosa e tudo é lindo, mas só no fundo de cada pessoa que vive e passa pelo transtorno da descoberta e da aceitação em si próprio é muito difícil, é tudo muito escuro muito Cinza. É triste descoberta e a aceitação de si próprio, e ainda ter de pensar na rejeição da família e conviver com os preconceitos que a sociedade impõe é ainda mais terrível. Quais os principais desafios para escrita de “O Mundo Cinza”? Jander Oliver - Para mim um dos maiores desafios foi, escrever sobre o tema, tudo que foi escrito neste livro foram sentimentos relatados a mim, são pessoas que vivem ou passam isso no seu dia a dia e relatar sobre histórias tão triste foi difícil, teve alguns momentos que cheguei a me emocionar com tantas histórias e muitas delas que acabaram em morte por um simples fato de ter o preconceito travado nas entranhas e com isso deixou o ódio falar mais alto. Apresente-nos, as principais temáticas que estão sendo abordadas, por meio da trama que envolve o enredo? Jander Oliver - O livro fala de religião, política e justiça onde convida o leitor se por no lugar daquela pessoa que sofre a discriminação. Quais os principais objetivos a serem alcançados, por meio da leitura de “O Mundo Cinza?

Jander Oliver - Que as pessoas se respeitam entre si. Gostar ou não gostar é um direito de todos, mas que as pessoas possam viver entre si dentro do respeito e da igualdade entre elas, pois somos somos seres racionais. Qual o momento, enquanto escrevia o livro, que mais chamou a sua atenção? Comente. Jander Oliver - Foi o momento que os pais expulsão seu filho de dentro de casa por causa da religião, porque para eles ser homossexual era pecado. Onde podemos comprar o seu livro? Jander Oliver – https://w w w. clubedeautores.com. br/ptbr/book/247998-O_mundo_Cinza#.W4dLrSRKjIU h t t p s : / / w w w. y o u t u b e . c o m / watch?v=0e-TZkqkO0U Quais os seus próximos projetos literários? Jander Oliver - No momento estou com um projeto de escrever o livro que aborda o assunto que tem sido uma armadilha para os homossexuais que são os aplicativos das redes sociais, que muitas pessoas têm sido assassinadas em um desses encontros, talvez seja um serial killer, o próximo livro. Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor “O Mundo Cinza” do escritor Jander Oliver. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores. Jander Oliver - Que todos os seres humanos brasileiros respeitem um

ao outro, que os pais amem seus filhos e jamais o exponha seus filhos em situações difíceis e de humilhação, pois ele é sangue do seu sangue. Que todos os lgbts se unam mais através da arte e entre outras questões. Só na base da união e de reconhecimento aos artistas que estão engajados para melhoria da sobrevivência das pessoas. Só através da arte conseguiremos fazer um país melhor e uma sociedade mais intelecto, por isso a união de todos, que o mundo veja além dos olhos e que seja com o coração, que o ser humano se coloque no lugar do outro, porque todos nós somos filhos de Deus e ele ama cada uma dessas pessoas sem distinção. _________________ Divulga Escritor: Unindo Você ao Mundo através da Literatura. https://www.facebook.com/ DivulgaEscritor/ www.divulgaescritor.com

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ENTREVISTA

ESCRITORA LARA E. N. DE SOUSA Lara Emanueli Neiva de Sousa é natural de Picos (PI) e, atualmente, reside em Teresina (PI). Formou-se em Bacharelado em Enfermagem pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Como enfermeira, teve a experiência de trabalhar no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e no Hospital Psiquiátrico, ambos serviços de saúde mental existentes no Estado do Piauí. Trabalha, atualmente, como referência técnica da Gerência de Atenção à Saúde Mental da Secretaria de Estado da Saúde do Piauí (SESAPI). Como escritora, inicia em 2018 sua carreira publicando na internet crônicas que desvendam os retratos da vida humana, capazes de tocar a alma das pessoas, com pseudônimo Escritora de Alma. Além de publicar seu primeiro romance intitulado “Os desafios de amar”, um enredo romântico sobre almas afins. Essas almas se reencontram em um cenário nada romântico: o hospital psiquiátrico, importante local para o resgate de dívidas de Laura e Erick,e possibilita minimizar o sofrimento das pessoas ditas insanas.

Boa Leitura!

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Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Escritora Lara Emanueli Neiva de Sousa, é um prazer contarmos com a sua participação na revista Divulga Escritor. Conte-nos, o que a motivou a ter gosto pela arte de escrever? Lara Emanueli - A leitura e a escrita sempre foram ferramentas que me atraíram e atraem até hoje. Durante a minha infância e adolescência, a magia dos romances, as histórias de ficção, poemas e poesias me seduziam, o que acabou despontando idéias e a vontade de escrever algumas palavras em um pedaço de papel. Essas idéias começaram a se aglutinar e, aos 15 anos, criei minha primeira história, escrita a próprio punho, que guardei em uma caixa chamada caixa dos tesouros, tornando um desejo adormecido. Em seguida, após ingressar na universidade ter um contato mais próximo com a saúde mental e vivenciar as nuâncias desse campo de atuação no cotidiano laboral como enfermeira, despertou o desejo adormecido de escrever crônicas, depois o romance e depois não consigo parar de escrever. Risos. Como surgiu inspiração para escrita de seu romance “Os desafios de amar”? Lara Emanueli - A inspiração veio de duas fontes. A primeira surgiu quando li um livro intitulado “O amor nunca diz adeus”, de Amadeu Ribeiro, e me fez refletir e encorajou-me para escrever uma história, de maneira a permitir o afloramento das ideias, as intuições brotavam como a nascente de um rio e as emoções presentes em cada linha escrita. A segunda veio do contato direto com a saúde mental, cenário em que conheci vários atores que carregavam suas experiências de amar; pude compartilhar de maneira próxima e outras à distância, seus valores, saberes; além de que vivi

momentos que possibilitaram ressignificar a vida; enfim, compreender que o ato de amar tem desafios a serem superados. Assim, com estes contatos, experiências construiu-se um alicerce para o romance “Os Desafios de Amar”. Apresente-nos a obra (sinopse) Lara Emanueli - Entendo que o encontro de duas almas afins tem como foco principal a afinidade entre elas e não a aparência física. O romance “Os Desafios de Amar” retrata experiências terrenas de duas almas que foram agraciadas pelo Criador com o elo do amor. Inicialmente, a história acontece no século XIX, em Paris, com os espíritos na roupagem de Clair e Klaus. Tratando-se de almas gêmeas, o Criador possibilita outro encontro entre essas almas em uma nova roupagem, durante o século XX, em São Paulo, como Laura e Erick. Essas almas se reencontram em um cenário nada romântico: o hospital psiquiátrico, importante local para o resgate de dívidas de Laura e Erick,e possibilita minimizar o sofrimento das pessoas ditas insanas. Qual a passagem, enquanto escrevia o romance, que mais a marcou. Comente. Lara Emanueli - A passagem do romance mais marcante foi o reencontro dos protagonistas (Laura e Erick) em um avião após anos separados. Recordo que quando estava escrevendo, estava ouvindo música citada no romance “Suerte” de Jason Mraz e Ximena, cada palavra que emergia naquele momento, fez uma lágrima percorrer minha face, foi um momento emocionante. Era uma cena simples, contudo, percebi naquele instante que a essência do romance estava na simplicidade, um perfume que enobrece nossa alma. Acredito que consegui retratar isso nesta parte do romance. O que mais a encanta em “Os desafios de amar”? Lara Emanueli - O que mais me

encanta nesta história é que ela envolve um dos maiores ensinamentos deixados por Cristo para o homem: AMAR. Um verbo fácil de conjugar; entretanto, vivenciá-lo exige transpor obstáculos, ou seja, ação que deve ser cultivada diariamente. Este enredo nos convida a compreender que somente o AMOR é capaz de desencadear movimentos e mudanças nas jornadas, seja no plano físico e espiritual, pois os desafios de amar fazem parte dessa caminhada. Onde podemos comprar o seu livro? Lara Emanueli - O romance pode ser adquirido no formato impresso e eletrônico. A versão impressa pode ser adquirida por meio dos sites da Editora Viseu; Lojas Americanas; Submarino; Shoptime; Amazon. Já a versão eletrônica (e-book) pode ser encontrada nos sites da Amazon; Livraria Cultura; Saraiva; Casa del Libro; Barnes & Nobel; Kobo; Wook; Apple. Quais os seus principais projetos literários? Lara Emanueli - Como costumo dizer escrever está no meu DNA. No mundo acadêmico continuo escrevendo e publicando artigos científicos, capítulos de livros, ampliando a produção técnica no campo da psiquiatria/saúde mental. Assim, no primeiro semestre de 2019 já serão publicados dois capítulos de livros sobre saúde mental no contexto hospitalar e judiciário e um livro sobre gestão da saúde mental no âmbito do Sistema Único de Saúde. No mundo da literatura continuo publicando periodicamente crônicas, poemas e divulgando o meu primeiro romance. No ano que vem estarei publicando outro romance, na realidade estou reescrevendo uma história de amor vivida no meu Estado, transportando-a para a literatura. Além desse projeto, caminha em paralelo um próximo volume do enredo “Os Desafios de Amar”, descrevendo a continuidade da história de Erick e Laura. www.divulgaescritor.com | dezembro 2019

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Conte-nos, como está sendo o antes e o depois da publicação de um livro. Lara Emanueli - Emocionante. Depois da publicação do romance tenho vivido experiências singulares, principalmente, advindas do contato com os leitores. Compartilhar com eles sobre impressões, comentários referentes a este enredo tem despertado satisfação, alegria e com isso aumenta ainda mais a responsabilidade de continuar a escrever. A construção de uma relação de respeito, ética, empatia com os leitores tocou e continua tocando profundamente minha alma, meu coração e minha mente, tornando uma fonte motivadora excepcional. O que a escrita representa para você? Lara Emanueli - Acredito que escre58

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ver não deve ser considerado apenas uma arte, mas como um dom que advém da conexão existente entre o escritor, papel e caneta, portanto, considero uma conexão transcendental. Após a consolidação dessa conexão, o escritor vai deixando sua criatividade, sensibilidade aflorarem e fluírem como o brotar e o curso da água de um rio, potencializando assim a confiança dentro de si, e aos poucos as linhas escritas se transformam em uma história, poesia e poema. Assim, não basta apenas perceber que o individuo possui o dom da escrita, que vai sendo lapidado a cada vez que se produz um texto, mas entendo que escrever consiste na capacidade de traduzir os sentimentos, a magia de cada emoção em palavras, entre outras palavras, escrever é traduzir o que se consegue enxergar com os olhos de poetisa.

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora Lara Emanueli Neiva de Sousa. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores? Lara Emanueli - A mensagem que deixo para nossos leitores é de agradecimento. Toda vez que escrevo é para vocês meus caros leitores, afinal tenho uma consideração especial. É um enorme privilégio e saibam que me importo em saber quem são vocês. Nesses meses após a publicação das crônicas e romance pude conhecer um pouco de cada um através de suas manifestações (comentários, mensagens, curtidas e compartilhamentos) e percebi que as pessoas que estão à frente do monitor/celular/livro são seres humanos. Isso mesmo, seres humanos que deixam a magia, o poder, o mistério e o encantamento das palavras invadirem o mais íntimo do seu ser. Para finalizar externo meu sincero agradecimento a todos vocês, sejam pessoas conhecidas ou anônimas. Sinto-me bastante lisonjeada por tê-los como interlocutores reais e potenciais, pois sem vocês não haveria motivos para dedicar a uma das paixões de minha vida, escrever. Na oportunidade agradeço a Revista Divulga Escritor pela oportunidade e parabenizo pelo excelente trabalho que executam.

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DIVULGA ESCRITOR PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ESCRITOR TITO LARAYA

RESENHA DO LIVRO “UMA REVOLUÇÃO NO INFERNO” Português Celso Fernandes Campilongo* É prazeroso – mas não fácil – resenhar “Uma Revolução no Inferno”, de Tito Mellão Laraya (Lisboa, Chiado Editora, 2016). A dificuldade é imposta já pelo nome do Autor, com sonoridade musical e silabar literário. Onomástico que condensa a personalidade artística de Tito: músico e escritor. Romance, poesia, ensaio, ficção, história infantil, erotismo e refinamento estão espalhados não só neste livro, mas na ampla obra de Tito, publicada no Brasil, Portugal e Itália. O estilo de Tito Mellão Laraya é heterodoxo: o romancista salta, agilmente, da prosa para a poesia e, por vezes, faz o leitor pensar que os textos são letras de canções harmoniosas. Estejamos preparados: pensar antes de escrever e descobrir prismas novos sobre a vida integram o método de Tito. Alinha-se aos escritores que “sempre incomodaram”

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e “pensam diferente”. Nessa fonte o Autor bebe formas meditadas e originais. Tito possui estilo reflexivo. É escritor-filósofo. Combina fantasia e realidade com elegância que convida a pensar. Aproxima-se do turbilhão modernista, irónico e irreverente de Oswald de Andrade. Invoca mitos folclóricos, histórias bíblicas, contos de fada e teses sociais, à moda de Monteiro Lobato. Pende para a tradição ensaística e a crítica literária, como Antônio Cândido. Tem a delicadeza contundente e cortante de Lygia Fagundes Telles e Hilda Hilst. Babel? Nada disso. Passado e tradição sempre com olhos para o futuro. O velho sempre novo. Não por acaso, Tito estudou nos mesmos bancos acadêmicos, no mesmo século e na mesma Escola que forjou Oswald, Lobato, Cândido, Lygia e Hilda, para ficarmos no século XX. Tito tem berço literário. Ninguém passa impunemente pelas Arcadas do Largo de São Francisco. O exercício de escrever faz bem a

Tito. Dentre as paixões que o Autor revela, além da escrita e das mulheres amadas, sempre quis respirar os mesmos ares que Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Vicente de Carvalho e, de modo especialíssimo, Castro Alves respiraram. No Largo, foi aluno de Goffredo da Silva Telles Jr., que foi casado com Lygia e considerava Castro Alves o maior brasileiro de todos os tempos. Ainda assim, como ocorre com frequência com os espíritos iluminados, Tito reclama da Escola! Acreditava que ali aprenderia a escrever. Sonho ou realização? Alegria ou fracasso? Este livro e o conjunto da obra de Tito trazem a resposta. José ou Freud talvez expliquem o paradoxo: Tito aprendeu a escrever no Largo que sempre formou escritores, mas onde nunca se ensinou este ofício. Garanto que foi bom aluno! A mística das Arcadas é implacável. Tito gosta de binômios e antinomias. Recorre, com frequência, a essas formas estilísticas. Brinca brilhantemente com elas: Tito ou


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José, a unidade de uma diferença? Desdobra sua narrativa em outros duais: ser e querer; pensar e sentir; existencial e material; crítico e esperançoso, por exemplo. Sua escrita redescreve não o “Livro de Jó” ou a obra de Freud, como sugere. “Uma Revolução no Inferno” indaga sobre a essência paradoxal do ser humano e as aporias que aproximam e afastam fracasso e realização. Seu texto é tautológico: feliz porque existencial e existencial porque feliz. Como José (ou Tito?), que modifica o grupo enquanto modifica a si mesmo! Assim, o estilo é, também, autológico. Não pensa o mundo do lado de fora ou acima dos mortais. Pensa no mundo e de um observatório inafastável: o próprio mundo. É daí que brota a confiança esperançosa de José. Tito não revela apenas amor pela escrita. Dicotômica e paradoxalmente, sente o “peito doer” por ser poeta, confessa. Amor e dor ao mesmo tempo. Da dor brota a alegria do texto e a paixão pela literatura e pela vida. Tito afirma que tudo oscila entre o sim e o não, o querer e o desprezar. Não creio. A trama do seu texto, na reconstrução de José e de Freud, revela muito mais: a simultaneidade dos contrários. A implicação e polaridade invocada por outro de seus mestres nas Arcadas: Reale. A palavra de um homem que pensa diferente, com já disseram sobre Tito. Maura Cristina, Larissa, as meninas das flores e do primeiro beijo são donzelas que, como na vida real, alegram e angustiam os poetas, tudo ao mesmo tempo. Complexo e caótico: por isso mesmo, belo e poético. Os “Três Porquinhos”, Cinderela e Gata Borralheira sugerem aventuras infantis. São estórias recriadas com a mesma picardia do Vampiro erótico e sedutor descrito por Tito.

Em cada página, um estilo renovado, provocativo e instigante. Uma leitura que faz pensar e incomoda, como convém à verdadeira literatura. “Beijo no pescoço”, diria Tito. Sem ser crítico literário e, por dever de ofício, mais treinado na literatura jurídico-acadêmica do que na literatura artística, não hesito em dizer: “Uma Revolução no Inferno” é excelente leitura! São Paulo, Natal de 2019 *Celso Fernandes Campilongo é Professor Titular e Vice-Diretor da Faculdade de Direito da USP e Coordenador do Núcleo de Filosofia do Direito do Programa de Pós-Graduação da PUC-SP. Formado no Largo de São Francisco em 1980.

Inglês This and the translation of the review written by Celso Fernandes Campilongo, on the work of Tito Mellão Laraya - “A Revolution in Hell” It is pleasant - but not easy - to review “A Revolution in Hell” by Tito Mellão Laraya (Lisbon, Chiado Editora, 2016). The difficulty is already imposed by the Author’s name, with musical sonority and literary syllabary. Onomastic that condenses the artistic personality of Tito: musician and writer. Romance, poetry, essay, fiction, children’s story, eroticism and refinement are scattered not only in this book but in Tito’s extensive work published in Brazil, Portugal, and Italy. The style of Tito Mellão Laraya is heterodox: the novelist jumps agilely from prose to poetry and sometimes makes the reader think that texts are lyrics of harmonious songs.

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Let’s be prepared: think before writing and discover new prisms on life that integrate the method of Tito. It aligns itself with writers who “have always bothered” and “think differently”. In this source the Author drinks meditative and original forms. Tito has a reflective style. He is a writer-philosopher. It combines fantasy and reality with elegance that invites you to think. He approaches the modernist, ironic and irreverent swirl of Oswald de Andrade. It invokes folk myths, biblical stories, fairy tales and social theses, in the style of Monteiro Lobato. It is based on the tradition of essays and literary criticism, such as Antônio Cândido. It has the blunt and sharp delicacy of Lygia Fagundes Telles and Hilda Hilst. Babel? None of this. Past and tradition always with eyes for the future. The old man always new. Not by chance, Tito studied in the same academic banks, in the same century and in the same School that forged Oswald, Lobato, Cândido, Lygia and Hilda, to stay in century XX. Tito has a literary cradle. No one passes with impunity through the Arcades of Largo de São Francisco. The writing exercise is good for Tito. Among the passions that the Author reveals, besides the written and beloved women, always wanted to breathe the same airs that Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Vicente de Carvalho and, in a special way, Castro Alves breathed. In Largo (São Francisco), he was a student of Goffredo da Silva Telles Jr., who was married to Lygia and considered Castro Alves the greatest Brazilian of all time. Yet, as is often the case with enlightened spirits, Tito complains about the School! He believed he would learn to write there. Dream or achievement? Joy or

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PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ESCRITOR TITO LARAYA

failure? This book and the whole of Tito’s work bring the answer. Joseph or Freud may explain the paradox: Tito learned to write in the Largo that always formed writers, but where this craft was never taught. I guarantee you were a good student! The mystique of the Arcades is relentless. Tito likes binomials and antinomies. He often resorts to these stylistic forms. Play brilliantly with them: Tito or Joseph, the unity of a difference? It unfolds its narrative in other duals: to be and to want; thinking and feeling; existential and material; critical and hopeful, for example. His writing redefines not the “Book of Jó” or the work of Freud, as he suggests. “A Revolution in Hell” asks about the paradoxical essence of the human being and the aporias that approach and ward off failure and achievement. His text is tautological: happy because existential and existential because happy. Like Joseph (or Tito?), Who modifies the group while modifying himself! Thus, style is also autologic. Do not think the world outside or above mortals. He thinks of the world and of an unassailable observatory: the world itself. This is where Joseph’s hopeful confidence springs. Tito does not just reveal love of writing. Dichotomically and paradoxically, he feels the “chest hurt” because he is a poet, he confesses. Love and pain at the same time. From pain comes the joy of the text and the passion for literature and life. Tito affirms that everything oscillates between the yes and the no, the wanting and the despising. I do not believe. The plot of his text, in the reconstruction of Joseph and Freud, reveals much more: the simultaneity of the opposites. The implication and polarity invoked by another of his masters in the Arcades: Reale. The word of a man who thinks dif62

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ferently, has already said about Tito. Maura Cristina, Larissa, the girls of flowers and the first kiss are maidens who, like in real life, rejoice and distress the poets, all at the same time. Complex and chaotic: for this very reason, beautiful and poetic. The “Three Little Pigs”, Cinderella and “Cinderella” suggest children’s adventures. They are re-created stories with the same picardy of the erotic and seductive Vampire described by Tito. On each page, a renewed, provocative and thought-provoking style. A reading that makes you think and uncomfortable, as befits true literature. “Kiss on the neck,” Tito would say. Without being a literary critic, and as a duty of office, more trained in legal-academic literature than in artistic literature, I do not hesitate to say: “A Revolution in Hell” is an excellent read! São Paulo, Christmas 2019 * Celso Fernandes Campilongo is Full Professor and Vice-Director of the USP Law School and Coordinator of the Nucleus of Philosophy of Law of the Post-Graduation Program of PUC-SP. Graduated in Largo de São Francisco in 1980.

Alemão Dies ist die Übersetzung der von Celso Fernandes Campilongo verfassten Rezension über die Arbeit von Tito Mellão Laraya - “Eine Revolution in der Hölle” Es ist angenehm, aber nicht einfach, “Eine Revolution in der Hölle” von Tito Mellão Laraya (Lissabon, Chiado Editora, 2016) zu rezensieren. Die Schwierigkeit wird bereits durch den Namen des Autors mit musikalischer Klangfülle und literarischer Silbenschrift auferlegt. Onomastik, die die künstlerische

Persönlichkeit von Tito verdichtet: Musiker und Schriftsteller. Romantik, Dichtung, Essay, Fiktion, Kindergeschichte, Erotik und Raffinesse sind nicht nur in diesem Buch verstreut, sondern auch in Titos umfangreichem Werk, das in Brasilien, Portugal und Italien veröffentlicht wurde.Der Stil von Tito Mellão Laraya ist heterodox: Der Schriftsteller springt agil von Prosa zu Poesie und lässt den Leser manchmal denken, Texte seien Lyrik harmonischer Lieder. Seien wir vorbereitet: Denken vor dem Schreiben nach und entdecken neue Prismen im Leben, die die Methode von Titus integrieren. Er richtet sich an Schriftstellern, die “stöhren” und “anders denken”. In dieser Quelle trinkt der Autor meditative und originelle Formen.Tito hat einen reflektierenden Stil. Er ist ein Schriftsteller-Philosoph. Es verbindet Fantasie und Realität mit Eleganz, die zum Nachdenken einlädt.Er nähert sich dem modernistischen, ironischen und respektlosen Wirbel von Oswald de Andrade. Es ruft Volksmythen, biblische Geschichten, Märchen und soziale Thesen im Stil von Monteiro Lobato herauf. Es basiert auf der Tradition von Essays und Literaturkritik wie Antônio Cândido. Es hat die stumpfe und scharfe Köstlichkeit von Lygia Fagundes Telles und Hilda Hilst. Babel? Nichts davon. Vergangenheit und Tradition immer mit Blick auf die Zukunft. Das Alte ist immer neu.Nicht zufällig studierte Tito in denselben akademischen Stühle im selben Jahrhundert und in derselben Schule, die Oswald, Lobato, Cândido, Lygia und Hilda schmiedete, im XX Jahrhundert. Tito hat eine literarische Wiege. Niemand geht ungestraft durch die Arkaden von Largo de San Francisco.Das Schreiben ist gut für Tito. Zu den Leidenschaften, die der Autor offenbart, wollten neben den geschriebenen und geliebten Frauen immer die gleichen


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Atemzüge wie Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Vicente de Carvalho und Castro Alves auf besondere Weise eingeatmet werden.In Largo war er Schüler von Goffredo da Silva Telles Jr., der mit Lygia verheiratet war und Castro Alves für den größten Brasilianer aller Zeiten hielt. Doch wie es oft bei erleuchteten Geistern der Fall ist, klagt Tito über die Schule! Er glaubte, er würde dort schreiben lernen. Traum oder Erlebnis? Freude oder Misserfolg? Dieses Buch und die gesamte Arbeit von Tito bringen die Antwort. Joseph oder Freud erklären vielleicht das Paradoxon: Tito hat im Largo schreiben gelernt, das immer Schriftsteller bildete, wo dieses Handwerk nie gelehrt wurde. Ich garantiere Ihnen, dass Sie ein guter Schüler waren! Die Mystik der Arkaden ist unerbittlich. Tito mag Binomien und Antinomien. Er greift oft auf diese Stilformen zurück.Er spielt brillant mit ihnen: Tito oder Joseph, die Einheit eines Unterschieds? Es entfaltet seine Erzählung in anderen Dualen: zu sein und zu wollen; denken und fühlen; existentiell und materiell; kritisch und hoffnungsvoll zum Beispiel. Sein Schreiben definiert nicht das “Buch Hiob” oder die Arbeit Freuds neu, wie er meint. “A Revolution in Hell” fragt nach dem paradoxen Wesen des Menschen und den Aporien, die sich dem Scheitern und Erfolgen nähern und sie abwehren. Sein Text ist tautologisch: glücklich, weil existentiell und ex-

istentiell, weil glücklich. Wie Joseph (oder Tito?): Wer modifiziert die Gruppe, während er sich selbst modifiziert! Der Stil ist also auch autolog. Denken Sie nicht an die Welt außerhalb oder oberhalb der Sterblichen. Er denkt an die Welt und an ein unangreifbares Observatorium: an die Welt selbst. Hier entspringt Josephs hoffnungsvolles Vertrauen. Tito offenbart nicht nur die Liebe zum Schreiben. Dichotomisch und paradox fühlt er die “Brustschmerzen”, weil er ein Dichter ist, gesteht er. Liebe und Schmerz zugleich. Aus Schmerz entsteht die Freude am Text und die Leidenschaft für Literatur und Leben. Tito versichert, dass alles zwischen Ja und Nein, Wollen und Verachten schwankt. Ich glaube nicht. Die Handlung seines Textes zeigt in der Rekonstruktion von Joseph und Freud noch viel mehr: die

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Gleichzeitigkeit der Gegensätze. Die Implikation und Polarität, die ein anderer seiner Meister in den Arkaden hervorruft: Reale. Das Wort eines Mannes, der anders denkt, hat bereits über Tito gesprochen. Maura Cristina, Larissa, die Blumenmädchen und der erste Kuss sind Jungfrauen, die sich, wie im wirklichen Leben, gleichzeitig freuen und der Dichter bedrängen. Komplex und chaotisch: Aus diesem Grund schön und poetisch. Die “Drei kleinen Schweine”, Aschenputtel und Aschenputtel suggerieren Kinderabenteuer. Es handelt sich um wiederentdeckte Geschichten mit derselben Pikardie des erotischen und verführerischen Vampirs, die Tito beschreibt. Auf jeder Seite ein erneuerter, provokativer und zum Nachdenken anregender Stil. Eine Lektüre, die zum Nachdenken und Unbehagen einlädt, wie es sich für die wahre Literatur gehört. “Kuss auf den Hals”, würde Tito sagen. Ohne Literaturkritiker zu sein und als Amtspflicht mehr in juristisch-akademischer Literatur als in künstlerischer Literatur ausgebildet zu sein, zögere ich nicht zu sagen: “Eine Revolution in der Hölle” ist eine hervorragende Lektüre! São Paulo, Weihnachten 2019 * Celso Fernandes Campilongo ist ordentlicher Professor und stellvertretender Direktor der USP Law School und Koordinator des Kerns der Rechtsphilosophie des Graduierungsprogramms des PUC-SP. 1980 Abschluss in Largo de São Francisco.

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DIVULGA ESCRITOR PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ESCRITOR MAURICIO DUARTE

DEUS... ESSE DESCONHECIDO... Não sei quando é, nem quando foi. Nem tampouco sei se será algum dia. Mas de uma coisa tenho certeza, está sendo, sem se estabelecer no presente, foi, sem se estabelecer no passado, e será, sem se estabelecer no futuro. Do que estou falando? De Deus, lógico. Dele nada pode ser dito sem que se negue ao mesmo tempo a mesma assertiva. As teorias filosóficas e especulativas a Seu respeito nas diversas teologias, tratados e orações não dão conta da sua magnificência e grandeza infinitas. Incomensurável é Sua imensidão e incognoscível Sua sabedoria. Igualmente onipresente é Seu amor que a tudo permeia. Onipotente é a Sua ação e onisciente Seu discernimento. No entanto, há um abismo entre quem vê e quem não vê essa verdade. Muitos dirão que se trata de mera megalomania da igreja esse

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louvor a Deus. Sim, porque se somos feitos à imagem e semelhança de Deus, nossa centelha, fagulha, ou como queiramos chamar, nossa partícula divina presente em nós, seria, igualmente, infinita e imponderável por questão de natureza. Não por quantidade, mas por qualidade. E a palavra natureza é a chave. Já que poderíamos ver que os panteísmos de grande números e ordens que povoam a crença – mais ou menos imaginativa ou não – de várias pessoas, nos dias atuais, não permitem vislumbrar a grandeza de Deus. Ou tornaria essa tarefa um tanto quanto árdua... Porque seria pretensão, pura e simples, que existisse um tal Ser como Deus e que, ainda por cima, fôssemos feitos a Sua imagem e semelhança... Não quero entrar em mérito nem demérito. Cada um tem a sua fé e a sua crença. Mas me toca pro-

fundamente, de forma negativa, trocar Deus por uma natureza Todo-Poderosa totalmente consciente – quando sabemos que em séculos anteriores alguns estudiosos sustentavam que os vegetais não eram vivos, o que corrobora a velha teoria de pêndulo, o pêndulo da sociedade foi de um lado para o outro, nada mais e nada menos; de uma desvalorização da natureza para uma valorização ao extremo da natureza e aí é questão de seguir a maioria ou não seguir a maioria e não do que está certo ou do que não está certo – e que seria parte de Deus ou Deus inteiramente... Desse modo, o universo em sua infinitude seria a própria consciência cósmica sem tirar nem pôr... E Deus é esquecido em nome deste panteísmo de pêndulo. A Pessoa de Deus, Santíssima Trinda-


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de, Pai, Filho e Espírito Santo, em Uma Pessoa é um mistério sagrado que Jesus Cristo veio para revelar e cumprir o que já tinha sido profetizado. Não descarto totalmente a visão panteísta, mas é certo que as ruínas da cristandade podem ser só isto mesmo, ruínas, mas valem mil vezes mais do que mil Gnoses de Princeton da contemporaneidade ou similares. Quem experimenta Deus em profunda oração – oração centrante, por exemplo – ou em meditação cristã, não pensa duas vezes em apontar Deus como Pessoa. Porque Deus não é um espírito vazio, Ele é

o Espírito Paráclito que veio após a partida de Jesus, sendo também uma Pessoa, o Divino Espírito Santo. Esta percepção só se dá de ser humano a ser humano e é impossível ser traduzida em palavras, na verdade as palavras e os símbolos atrapalham. Deus Pai e Deus Filho também se tornariam obsoletos se não houver tal completude de consciência por parte de quem se volta para o divino. Na verdade, é o divino é que se abaixa para que possamos nos elevar, e não o contrário. Por nossas meras forças, nada conseguiríamos. “Nada podeis fazer sem mim” disse Jesus Cristo. A vinda do iluminado possi-

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bilita nossa ascensão, mas é preciso que nos tornemos devotos. Deus não tem necessidade nenhuma de ser mestre, mas nós temos necessidade de sermos devotos, por assim dizer. Que Deus olhe por todos nós e possa agir em favor de uma conspiração de consciência que seja capaz de trazer iluminação a todos. Amar a Deus acima de todas as coisas não é figura de retórica. É uma necessidade. Paz e luz. Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

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DIVULGA ESCRITOR PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ESCRITORA MARTA MARIA NIEMEYER

TEMPO DE NATAL Que bom seria se o Natal fosse todo dia! Eu pudesse hospedar José e Maria, Jesus em minha casa nasceria...

LIVRO Quem sabe escreverei um livro, talvez antologia... pode ter contos, poemas e cartas pode ter muita magia. São autores jovens e jovens experientes. Tema livre, independente a essência é alegria. Minhas amigas escrevem escondem sob o colchão, vergonha de escrever e apresentar a nação. Vou encorajá - las divulgar, escrever faz bem a alma e o coração. Uma delas gosta de rima... Amiga levante a autoestima mesmo que a rima seja a prima... Escrever não é mico. Dá trabalho? Trabalho tão prazeroso! A poesia sacia o adulto, encanta a crianças é minha esperança. Marta Maria Niemeyer

Que bom seria se eu Existisse naquele tempo, naquele dia! Distante também presente Jesus não está ausente... A presença de Jesus nos conduz e alivia o peso da cruz... O espírito de Natal encanta, nos prepara o momento de amor, perdão, reconciliação, compartilhamento e união... Que bom seria se o Natal fosse todo dia! Como eu gostaria de acolher José e Maria! Jesus em minha casa nasceria. Jesus nasce , renasce em cada coração de cada irmão, coração disposto a comunhão e união. Que bom seria se o Natal fosse todo dia! as guerras encerrariam a paz reinaria... Desejo o olhar iluminado pelo Natal, o sorriso inocente brilhar nas retinas de toda gente. O espírito de Natal, esperança inesgotável sonhos e fantasias tempo de fé e alegria tempo de magia...

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DIVULGA ESCRITOR PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ESCRITOR ROGÉRIO ARAÚJO – ROFA

Amo o meu país... Brasil! Quando falamos em AMOR pelo país, não é algo ultrapassado ou apenas das pessoas mais idosas que sentiam um friozinho e se emocionavam ao ouvir o som e letras no Hino Nacional. Deve ser um sentimento coletivo, de todos, sem exceção. Muita gente só sente alguma coisa pelo país quando assiste a um jogo de futebol na Copa do Mundo ou outros esportes nas Olimpíadas. Mas, e no dia a dia, como fica? É preciso sim ter esse sentimento pelo país que é saudável e válido, mas também ter razão em momentos de eleição e a pensar no que ouve pela rádio, TV ou internet. Nem tudo é verdade e é preciso analisar para não virar um “papagaio” e repetir o que se vê sem questionar. Completamos no último dia 15 de novembro de 2018, os 129 anos da Proclamação da República, quando Marechal Deodoro da Fonseca pôs fim ao Império, dando início a uma nação realmente independente. E de lá para cá muitas histórias aconteceram... “Feliz a nação cujo Deus é o Senhor”, diz o Salmo 33.12. Basta crer e colocar o nosso Pai do Céu como conselheiro que tudo dará certo e tudo ficará nos trilhos para o país e em nossas vidas!

Um 2019... nota DEZ para Você! 2018 está terminando. O que fizemos no ano que passou? Essa avaliação já virou uma “tradição” na “passagem mágica” de 31 de dezembro para 1º de janeiro. Muitos fazem os planos mais mirabolantes para o ano novo sem se dar conta de como são inalcançáveis essas suas perspectivas. E, depois, ficam frustrados. Sonhar é bom. Planejar é preciso. Mas tudo que pensamos não pode ficar “fechado” em nossa mente e desejos e, sim, ser colocado nas mãos de NOSSO DEUS para que Ele avalie se o que planejamos será o melhor para nossas vidas. O nosso Pai tem uma visão celestial e nos conhece muito bem, pois nos criou. Reflita sobre o que deixou de realizar e veja o que é possível manter e o que precisa de uma melhora significativa. Peça ajuda do DEUS DOS IMPOSSÍVEIS que é capaz de realizar grandes coisas e derramar preciosas bênçãos sobre a vida de seus filhos que Ele tanto AMA. Para que 2019 seja um ano DEZ em sua vida, coloque-se nas mãos do SENHOR. Não esqueça que somente através dele podemos obter um ano diferente mesmo. Um Feliz Ano Novo para você e sua família!

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DIVULGA ESCRITOR PARTICIPAÇÃO ESPECIAL ESCRITOR ANDREICO

DOR Dor como defini-la? Dedilhá-la no violão Decorá-la no coração Escrevinhá-la nas pedras ou entregá-la a Deus?

ESCURIDÃO

Meu medo, minha angústia de viver Meu desejo de tudo perfeito ser Minha vontade de sempre tudo ver E no meu controle os ventos da vida ter Então aprendi que minha fragilidade É minha força Minha limitação é minha razão De sentir mais Viver mais e ser mais

Meu coração

Perdeu o medo da escuridão Do que vem a ser e do que não Das forças que moldam nossas vidas Nosso coração Que nos mostram Que não somos imunes Que a morte é o futuro que nos une E que, mesmo assim A esperança é sempre presente E que podemos ter paz E estar contente.

Dor Diversos versos para expressar De dia e de noite busco encontrar Uma palavra que diga tudo Pois não minto Mas não sei de nenhum som distinto Que diga mais perfeitamente o que sinto Dor Diversos amigos para compartilhar Ou poucos que irão me apoiar? Há os que se alegram com o devir De quem doente partir Mas dor quem sente Dor da perda de um ente Que se vai e deixa tudo diferente A dor de um coração que não mente Dor Só sua marca nos deixa Mais fortes para lutar Mais valentes para vencer E mais inteligentes pra viver Dor Nossa vida doída Cheia de pranto e amargura Mas a alegria que dura Na dor permanece segura Andreico Escritor https://www.facebook.com/andreicoescritor/

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Concurso de Textos Anônimos - 00CTA044 Marcas... Os domingos no paraíso, Tardes encantadas, banhos no rio. Hoje as águas indagam Por onde anda teu sorriso. Sentado a beira rio, Procurando no espelho d’água O brilho de teu rosto E o sol que levaste do meu corpo. Meus pés pisam as pedras Por onde andastes. Minha voz procura na voz Da natureza a voz que me calastes. Lembranças dos banhos na chuva. Hoje a chuva que molha, São chuvas de lágrimas, Pois você foi embora. Os olhares das pessoas Indagam sobre nós. Mas não há nós. Apenas Eu longe de você agora. Seu caminho no paraíso se apagará. Suas pegadas no rio, a água levará, Porém, as marcas deixadas por você, Em meu coração, vão te fazer lembrar...

Renato Galvão 00CTA044

Concurso de Textos Anônimos - 00CTA006 ROSADO Foi nas primeiras vezes em que me aventurei sozinho para além do canavial, que o vi. Ele habitava o chavascal que se estendia para além da cerca. Como não houvesse ali outros animais, ele reinava sozinho naquele sítio desde, eu imaginava, sempre. O terreno não era cuidado, pois não havia retorno para o trabalho. Portanto a guaxima crescia, tombava, brotava, crescia... e o rosado vivia do pouco capim-gordura que conseguia encontrar e, suponho, de folhas e brotos que encontrasse por debaixo da capoeira.

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Se pressentisse a proximidade de outro vivente, não parava e não olhava para investigar, posto que fosse quase cego. Apenas levantava um pouco a cabeça, aspirava o ar e, se reconhecesse nele o odor estranho dos humanos, partia em incontrolada carreira, dobrando a guaxima e erva canudo. Assim ele sumia para além do lombo e se protegia sob a vegetação cerrada. Às vezes não era visto por vários dias, mas em dias de sol forte, frequentava as proximidades do brejo. Com bastante sorte eu podia avistá-lo bem de perto, de onde era possível enxergar bem sua silhueta. O pelo branco encardido apresentava desenhos em vermelho nobre, simulando um mapamúndi de um planeta qualquer. As orelhas, atacadas por parasitas, se dobraram definitivamente. Os olhos, um dia eu vi, eram verdes. Suas feições, já desfalcada de pelos, se insinuavam quase humanas, não fosse o prolongamento natural da anatomia equina. Penso que nesse dia ele não estava bem, pois não se mostrou disposto a fugir da minha proximidade. Claro que eu contribuí para isso, ocultando-me entre os arbustos. Ou meditava sobre teologias cavalares ou sofria de incômodo mais físico, o certo é que não percebeu que eu, camuflado pela moita de cipó-de-são-joão, invadia sua privacidade. Até que eu, cansado e satisfeito, cometi um pecado venial: corri em sua direção gritando e batendo palmas. Foi muito mais rápido do que acender um pavio. Ele acordou bruscamente de sua letargia e partiu numa carreira fenomenal, buscando a energia guardada, não se sabe onde. Nesse dia tive a clarividência de descobrir que as pessoas adultas poderiam saber de coisas que eu não sabia. Fui perguntar a minha mãe se o Rosado era sempre assim, sozinho, arisco e de orelhas caídas. Fiquei sabendo então que em outras épocas (existiram outras épocas) ele foi um cavalo muito bonito, forte e bom de sela. Era o preferido da Dona Tancinha e minha mãe mesmo o cavalgou. Bom de marcha, – bom de cômodo, ela disse – manso e esperto. Compreendi que existiu um passado que construiu as coisas que vejo agora. Fiquei pensando sobre isso, até entender que este agora será passado também e que as coisas que eu vejo com os meus sete anos... e que eu também... (deixemos de conversa; vamos voltar ao Rosado). Continuei vendo-o de longe e não o importunei mais, a não ser em pensamento. O Rosado não aparecia, havia dias. Bateu uma curiosidade crescente que me incomodava. Acabei por alimentar um princípio de coragem ateada por algum anjo do bem, eu queria crer, pois aquela saudade não podia ser arte do Coisa-ruim. Acabei concretizando meu plano, ou de quem quer que fosse. Naquele dia, logo após o almoço, bem alimentado e bem suprido do espírito de Júlio Verne, me insinuei pelo canavial, ação comum e corriqueira, passei sob a cerca, venci rapidamente o trilho e cheguei à cerca do sítio do Rosado. Abaixei-me e passei sob o arame. Quando pisei do outro lado... bem, quando eu vejo hoje um papa se abaixar e beijar o solo de um país que visita, lembro-me daquele momento. Mas caminhei seguro, mesmo me sentindo um invasor, com a mente fixa no Rosado. Morto, ele não estava, pois os urubus o teriam denunciado. Procurei primeiramente no brejo, pois nesses tempos secos, é comum que animais se atolem, em busca de água ou alimentos verdes. Não estava. Subi pela grota, procurando por rastros ou estrumes frescos, revistando cada dobra de terreno e cada moita. Nada. Restava a capoeira, mas eu não poderia percorrê-la sozinho. Decidi atravessar a vertente nua em direção a uma aba de mata que descia pela grota. Meu coração não sabia se parava ou disparava. Em uma pequena depressão cavada na encosta do morro não se sabe por quem, como se alguém pretendesse, décadas atrás, armar ali a sua barraca, sua majestade: o Rosado. Estaquei-me a alguns metros, organizando a confusão daquela notícia. Ele estava deitado, imóvel, mas de quando em vez movimentava sutilmente o coto da orelha, simulando os últimos impulsos de abanar algum mosquito aproveitador. O perímetro alcançado pela cauda estava varrido, mas não havia nenhum movimento. Vi como o pescoço dele era fino, olhado de encontro ao chão, pouco mais que uma pele, ligando a cabeça ao tronco. Aproxime-me, quase em veneração à sua dignidade vencida. Quando toquei-lhe a “face” com o dorso da mão, seu olho de cima ensaiou um débil movimento, liberando ainda uma lágrima, salgada como as outras, que lhe desceu pela raia construída por elas na pelagem rara e sem vida.

Jaeder Teixeira Gomes 00CTA006 74

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Concurso de Textos Anônimos - 00CTA002 Se um dia eu deixar de te ver

Se um dia eu deixar de te ver, eu terei as minhas lembranças, as batidas do meu coração, o brilho dos meus olhos e lá você estará. Se um dia eu deixar de te ver, eu terei aonde buscar as tuas fotos, o teu semblante, e os teus olhos eu contemplarei, me perguntando agora onde você está? Se um dia eu deixar de te ver, eu terei à noite inteira para sonhar contigo. Se um dia eu deixar de te ver, eu terei a música, livros, cenas de filme e novela, que fará lembrar de você, querendo você aqui e agora comigo. Se um dia eu deixar de te ver, eu terei o vento, eu terei os anjos que soprarão no teu ouvido que estou com saudade e que te amo, quero e preciso ver o teu sorriso. Se um dia eu deixar de te ver, alguém tocará no teu nome, eu terei a saudade, a dor e as lágrimas querendo te buscar para junto de mim. Se um dia eu deixar de te ver, eu terei vestígios de amor no meu coração, na minha alma e nos meus pensamentos. Se um dia eu deixar de te ver, é porque o destino quis assim, mas saiba que te amei e quero que sejas feliz, e que não sofras nem por um momento. Se um dia eu deixar de te ver, eu seguirei os teus rastros, saberei da tua história, seguirei a minha vida, apesar de que aqui dentro ficará sempre um tormento. Se um dia eu deixar de te ver.

Laura Jane Silva 00CTA002

Concurso de Textos Anônimos - 00CTA011 OS BENZIMENTOS DE MINHA AVÓ Miúda, serena, calma, e doce. Mulher extremamente doce. Submissa como nenhuma outra. Assim era minha avó. Silenciosa e terna. Não me lembro de sua voz alterada. Soava sempre no mesmo tom de cantiga de ninar. Mulher de movimentos leves e precisos. Criou nove filhos na escassez de recursos, gerenciando o pouco ou quase nada, e deu conta. E ainda deu conta de dar amor a todos os netos, a muitos que, de bando a cada ano, chegavam ao mundo. Leveza na lida dos afazeres domésticos. Casebre de barro, depois de tábuas, chão de terra batida. Sempre limpa. Amorosa e cuidadosamente limpa. E cheirosa. De manhã, quando passava pelos cômodos borrifando água com as pontas dos dedos no chão de terra, antes de passar a vassoura, o cheiro da terra molhada lembrava a chuva. E depois, durante todo o dia era cheiro, cheiro... Do pão assado, do café coado, do feijão com alho, do arroz com cebola, da carne de panela, da linguiça frita, da pele de porco crocante, do pepino cortado, do limão espremido... E no comecinho da tarde, o cheiro do bolinho de chuva, do bolo de fubá com erva doce, do biscoito de polvilho, do arroz-doce com açúcar queimado e paus de canela, do doce de abóbora, de chá de folhas de laranjeira... Tudo doce e aconchegante, no mesmo sabor de uma infância bem vivida. E minha avó ainda benzia. Era a benzedeira da vila. Sempre arrumava tempo para atender quem batesse em sua porta.

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Seu benzimento, sua reza, tudo era brando. Igual a ela. Uma alquimia de sons e palavras que embalava os pensamentos e adormecia os pequenos. Crianças chegavam gritando, e saíam dormindo. Isso eu presenciei inúmeras vezes. E o benzimento era feito. As orações eram sussurradas enquanto suas mãos costuravam um paninho. Isso mesmo! Dobrava um pequeno retalho de pano, colocava uma linha comprida na agulha, fazia o nó e começava a costurá-lo apenas em uma lateral. Conforme rezava, subia e descia a agulha com delicadeza, inúmeras vezes, costurando sempre de baixo para cima. Rezava, de vez em quando parava a costura, e docemente perguntava à pessoa que estava benzendo, ou ao seu responsável: - O que eu coso? A pessoa respondia com a explicação do mal que a afligia: dor nas costas, cólica, dor de cabeça, dor de garganta, tosse, fraqueza, noites mal dormidas, cansaço, rouquidão... Então minha avó, pacientemente, explicava para a pessoa que sempre que ela lhe perguntasse, por repetidas vezes: “o que eu coso?”, que ela respondesse: “carne quebrada”. E assim era feito. Depois que ela ouvia a pessoa falar: “carne quebrada”, juntava estas palavras à reza e respondia: - Carne quebrada, osso essssss... Por mais que eu apurasse meus ouvidos, chegando mesmo a prender a respiração, isso era tudo o que eu conseguia ouvir. Depois ia sussurrando palavras e as juntava às preces, e por aí seguia. Minutos e minutos de reza sussurrada. Cansei de perguntar o que ela dizia, mas ela nunca me contou. Esse ritual da costura deveria ser feito por três dias para a mesma pessoa, e o mesmo paninho seria usado até que a beirada costurada formasse um caseado firme, tantos os pontos feitos nos mesmos lugares. Cada pessoa benzida por ela levava seu retalhinho costurado, com agulha e tudo, e deveria voltar com ele nos outros dois dias. A linha só seria cortada no último benzimento, e o paninho costurado deveria ser jogado em água limpa e corrente, ou queimado. E as pessoas voltavam, e as queixas dos males se esvaíam. Um dia, depois de muito perguntar sobre o que ela dizia durante os seus benzimentos sussurrados, ela me pegou pela mão, colocou-me sentada diante dela, e docemente inquiriu: - Por que quer saber o que eu falo quando estou benzendo? Quer seguir o ofício? Fiquei tão assustada com a pergunta que respondi prontamente: - Não! Naquele não quase gritado, eu deixei claro que nunca havia pensado nisso. Eu sabia que aquilo não era um ofício. Minha avó não ganhava absolutamente nada com as benzeduras. Era uma missão, um dom. Enquanto ela benzia e aliviava as dores e inquietudes das outras pessoas, ela abrandava o seu próprio coração, alimentava a sua serenidade. Benzer era vital para ela. Era uma doação sem medida, era uma entrega. Mas não para mim! Desse dia em diante, nunca mais perguntei sobre o que falava enquanto benzia. Eu a respeitei, e nunca mais apurei meus ouvidos para tentar desvendar os seus sussurros sibilantes. Não havia na vila criança ou adulto que não tivesse passado pelo benzimento de minha avó. Não tinha dia em que não atendesse os que a procuravam. Benzia enquanto havia a luz forte do dia. Mas, depois das seis horas da tarde, nem adiantava chegar. Não atendia em circunstância nenhuma. Havia duas coisas que não fazia depois das seis. Não benzia e não varria a casa. Mesmo que fosse da maior urgência, era perda de tempo insistir. E mesmo com a insistência de muitas pessoas, não se alterava para dizer não. Dizia mansamente uma, duas, quantas vezes precisasse negar o atendimento. Um dia chegou um senhor, e perguntou se ela poderia benzer um cavalo que estava doente. Minha avó se espantou. Não benzia animais, só benzia pessoas. Se bem que muitas vezes eu a vi passando as mãos carinhosas nos nossos gatinhos e cachorrinhos, e mexendo os lábios, como fazia nas rezas do benzimento! Mas, oficialmente, nunca ninguém trouxe bicho para que ela o benzesse.

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Receosa e surpresa com o pedido, ela explicou ao homem que não benzia animais. Mas, diante da insistência e da aflição do pobre coitado, penalizada com a situação, disse a ele que pensaria e lhe daria uma resposta. Na verdade, ela não precisaria pensar. Ela pediu um tempo para conversar sobre isso com o meu avô. Tudo que fosse fora do combinado teria de passar pelo crivo dele. Se até mesmo o benzimento de pessoas que ela fazia, ele não encarava muito bem, não acreditava naquilo, criticava o feito como uma perda de tempo da benzedeira e do benzido! Quando minha avó lhe falou sobre a benzedura do cavalo, ele ficou transtornado. Esbravejou, vociferou... O homem do cavalo era conhecido dele. Ambos trabalhavam como charreteiros da vila. Vida dura. E pobre. Minha avó, apesar de saber que ele não concordaria com a ideia desde o momento em que o homem lhe fez o pedido, ficou sem jeito de dizer não, e agora estava apavorada porque teria enfim que dar a negativa ao homem. Ficou tão aflita que não conseguiu pregar os olhos durante toda a noite. De manhã estava um bagaço... E tinha ainda a dura missão de dizer não ao homem do cavalo. Passado das quatro horas da tarde, ela ouve as palmas vindas do portão. Chega a estremecer. É chegada a hora... Abre a porta na certeza de que era o homem do cavalo. E era. O homem e o cavalo! Minha avó ficou tonta, as pernas tremiam. A visão que tinha era ainda mais assustadora. O cavalo estava com uma aparência horrível, muito inchado, nem entendia como ele havia chegado até ali. O sol estava muito forte, e aquele homem com aquele cavalo ali, diante dela, do lado de fora da cerca de balaústres... Nem sabia o que fazer. A primeira coisa que lhe veio à cabeça foi abrigá-los do sol, colocá-los no quintal, na sombra da mangueira. E foi custoso fazer com que o cavalo andasse mais um pouco, que passasse pelo estreito portão e se ajeitasse na sombra. Quando tudo se acalmou, minha avó, toda sem jeito, tentou explicar ao homem que não benzeria o cavalo, mas ele insistia tanto que ela achou melhor fazer uma oração, uma reza pedindo a Deus que tivesse compaixão do sofrimento do bicho. Fazendo isso, rezaria com fé, poderia ser que o animal melhorasse, e o intuito principal dessa reza mais ligeira era que eles iriam embora antes do meu avô chegar! Tudo ficaria resolvido rapidamente. E ela não faria de qualquer jeito, não! Rezaria com muita fé, mas rapidamente. Pensando assim foi para perto do animal. O coitado estava de pé, arrepiado, imenso de inchado, e mantinha os olhos fechados. Estava exausto com a caminhada até ali. Minha avó colocou a mão na testa dele, e nem assim o bicho abriu os olhos. Ajeitou o braço de maneira que toda a palma da mão tocasse no animal, e começou a rezar. E se entregou à reza. Mesmo aflita, com pressa, rezou serena. De repente, em meio à reza, o animal foi se movendo de mansinho, tremelicando, e tombou de lado. Foi um espanto danado! Minha avó deu um passo para trás e não conseguia entender o que estava acontecendo. Agachou-se perto da cabeça do animal, os olhos continuavam fechados. Correu os olhos pelo pescoço do bicho e parou na barriga. O cavalo não estava respirando, a barriga estava imóvel. O animal todo estava imóvel. Morto! Isso mesmo, o bicho estava morto. Estirado, imenso no seu inchaço. E minha avó, ali. Incrédula, apavorada, embasbacada, sem ação. Não demoraria nada e meu avô chegaria... Seria o caos! O que fazer com este animal caído? A cada olhada que ela dava para o bicho, parece que ele se agigantava. Parecia um elefante no tamanho! E como tirá-lo dali? O dono do cavalo permanecia calado. E imóvel. Não tinha o que fazer. Tinha de pensar. Pensar numa maneira de levar o animal dali.

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E ficaram pensando. O homem, no cavalo, e minha avó, no meu avô. Aflitos... E meu avô chegou. Ainda na rua, desatrelou o cavalo da charrete, amarrou a corda comprida no cabresto e soltou o animal na data do outro lado da rua, um terreno vazio onde havia touceiras e touceiras de colonião. A charrete ficava ali mesmo, na calçada em frente da casa. Não havia risco. Não havia ladrão. E entrou... Em poucos segundos, o mundo veio abaixo. Ele gritou, esbravejou, amaldiçoou, praguejou, destratou... Foi um tendepá! E minha avó, calada. O homem do cavalo, petrificado. Parecia uma estátua! Esgotados os desaforos e desacatos proferidos pelo meu avô, ele e o homem do cavalo decidiram pedir ajuda a um sitiante que morava perto da vila. Lá havia um trator muito velho, mas com boa vontade, poderia arrastar o animal dali para longe. E foram atrás do socorro... E ele veio. Parte da cerca de balaústres precisou ser derrubada para a operação da retirada do animal. E minha avó ouviu... Quando, enfim, o cavalo foi retirado, a noite já ia alta. E minha avó ainda ouvia... E ouviu por muitos dias... Era uma pessoa resignada com a vida, submissa ao marido, e muitas vezes eu imaginava que um dia ela perderia essa resignação e faria o maior escarcéu, a maior gritaria, colocando fora toda a gama de desaforos que recebera da vida. Eu sempre pensava que não era possível ser tão cordata, tão sem réplica. Uma hora a coisa ia descambar... Fiquei na espera. Ela se foi, e eu não vi esse espetáculo. Ela era assim. Era de boa têmpera. Tinha bom cerne, alma nobre, coração manso. Aliás, ela era só coração. Coração nas mãos que benziam, nos dedos que nos acarinhavam, nos braços que nos embalavam, na placidez do rosto que nos acalmava. Coração nas cantigas doces que nos faziam dormir, na serenidade da fala que chegava aos nossos ouvidos, nos olhos que nos enterneciam, e nos lábios que tanto rezavam por nós. Era o coração que ela entregava nos benzimentos, nas rezas sussurradas.

Regina Ruth Rincon Caires 00CTA011

Concurso de Textos Anônimos - 00CTA010 BANHO DE AÇUDE O aviso fora dado pela enésima vez... Mas, vivendo a plenitude da meninice, como resistir a um banho de açude naquele calor infernal?! Nos arredores da vila, nas áreas de vários sítios e fazendas, os açudes multiplicavam-se ano a ano. Escavados, brotados das minas; enfim, eles espocavam convidativos, tentadores. E assim, para o desespero e a preocupação dos pais, não havia tarde que não terminasse com os meninos varando cercas de arame farpado, cruzando plantações, pastagens, e mergulhando nas águas nem sempre limpas daqueles imensos açudes. E, apesar dos inúmeros avisos, Mário estava sempre entre eles. Cansava de prometer a si mesmo que não mais desobedeceria às ordens do pai, que não quebraria o acordo firmado com ele, mas era uma tentação quando os ponteiros do relógio da igreja matriz iam marcando três horas da tarde... Os meninos, sorrateiros, iam-se esgueirando das casas, da praça, e seguindo em direção de

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algum açude. E aí o coração não resistia! Mário, num átimo, jogava às favas as promessas, e só se acalmava quando sentia o frescor das águas do açude no seu corpo... E todos faziam tudo do mesmo jeito. Quando estavam bem próximos do açude, principiavam a correr enquanto desatinados se despiam. Na largueza da inocência, na sofreguidão da liberdade. Calção e camisa eram tirados do corpo e displicentemente enrolados. Cuecas e sapatos não havia. Naqueles tempos, meninos não usavam cuecas, e calçado nos pés era só para a escola, igreja ou passeio. Cada um escolhia um lugarzinho para deixar a sua acanhada trouxinha a salvo até que saíssem do banho. Podia ser junto ao tronco de uma árvore, na sombra de uma moita de capim, sobre um cupinzeiro, não importava. A única preocupação é que a roupa ficasse protegida da água do açude. Mas o pai de Mário queria colocar ponto final naquela série de desobediências, e o pobre caborteirinho nem de longe imaginava que seria justamente naquela tarde. Lépido, ardiloso, conluiado com os companheiros, num triscar de olhos atravessava os pastos, as plantações, vazava as cercas, se despia, arrumava as roupas perto do tronco de uma árvore, e se jogava no açude. E o açude virava uma festa! A água, antes serena, pipocava com os saltos, e logo, com o incessante pisoteio agitado de todas as crianças, o barro do fundo ia subindo e turvando tudo, até formar um lamaçal. Parecia um bando de jacarés rolando os corpos nus. E o barro grudava nos cabelos, nas costas, sob as unhas, nas curvas das orelhas... Por mais que se esfregassem para limpar, não havia como não levar resquícios para casa e, consequentemente, fragilizar a argumentação de que não incorreram na desobediência de nadar nos açudes. As evidências estavam sempre presentes. Se não na roupa, com certeza, no corpo. Naquela tarde, no meio das risadas, dos saltos, das brincadeiras, ouviu-se uma voz ao longe, gritando: - Mário! Mário, você está aí?! Mário, que reconheceu a voz do pai, estremeceu. De longe, o açude apinhado de cabecinhas enlameadas, brilhando ao sol, silenciou. Era totalmente impossível reconhecer cada criança. O mais experiente deles, numa tirada de mestre e líder, respondeu: - Seu Osvaldo, o Mário não está aqui, não! E Mário apavorado, petrificado, meio escondido atrás de dois amigos, prendia a respiração, não conseguia arfar o peito tamanho era o medo. Seu Osvaldo, aparentando muita calma, respondeu: - Está bem... Eu me enganei pensando que ele estivesse aqui... Dizendo isso, Seu Osvaldo deu meia-volta e lentamente foi caminhando em retirada, refazendo quase o mesmo trajeto que percorrera na vinda. As crianças, percebendo que ele se afastava, voltaram às brincadeiras, às cambalhotas, e às risadas como se nada tivesse acontecido. Mário ficou meio ressabiado, mas logo esqueceu. E brincou... Como brincou... Seu Osvaldo, com seus olhos astutos de quem um dia já fora criança, ia caminhando lentamente e olhando de esguelha cada trouxinha de roupa colocada aqui e ali. E encontrou a trouxinha de Mário, com aquela velha camisa, surrada. Disfarçadamente, abaixou-se e rapidamente a recolheu. Estavam ali a camisa e o calção. Seu Osvaldo continuou a caminhada rumo à vila, abraçado à trouxinha de roupas do filho. Calmamente... E seguiu para casa. O sol estava baixando, e era chegada a hora de Mário cuidar da limpeza do corpo antes de vestir a roupa e seguir de volta para a vila. Era preciso estar em casa antes da escuridão da noite chegar. E todos foram saindo do açude. Mário se lavou inúmeras vezes, esfregava o couro cabeludo com as unhas até que ardesse. Esperava a água se acalmar, esperava a lama assentar-se no fundo, e mergulhava a cabeça para se livrar do barro. E esfregava cada curvinha das orelhas para remover o barro teimoso que insistia em não sair.

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Pronto. Agora era só caminhar devagar até encontrar a árvore aonde deixara as suas roupas. Assim, caminhando devagar, evitaria que o barro fosse espirrado nas pernas e o corpo ficaria completamente seco com os últimos raios do sol. E assim foi... Os companheiros estavam quase todos vestidos, muitos já caminhavam de volta, e Mário ainda procurava as suas roupas. Olhava de um lado, de outro, e nada. Foi ficando intrigado e pôs-se, desesperado, a perguntar a um e a outro. Nada... Em poucos minutos virou uma verdadeira caçada às roupas de Mário. Inutilmente... Os mais medrosos puseram-se a correr rumo à vila. Não podiam se atrasar! Os companheiros mais chegados, calados, cansados da busca e imaginando o que havia acontecido, foram se dispersando. E Mário ficou ali, parado. E nu. Sabia exatamente o que o aguardava. O pai havia levado as suas roupas, e teria de enfrentá-lo. Nu... E, como chegar até lá? Como um menino de dez anos pode atravessar uma vila, assim, pelado?! Olhando o céu e percebendo que logo seria noite, juntando a vergonha de caminhar nu e o medo do escuro, Mário foi mudando os passos, vagarosamente. O trecho de volta, naquelas condições, tornara-se mais longo, infinitamente mais longo, e logo precisou apressar o passo. E assim, ele foi correndo de árvore em árvore, de moita em moita, para tentar esconder a sua nudez. Mário vazou cercas, cruzou pastos, plantações... Nu. Ficava apavorado quando lembrava que estava perto da vila. Como passaria pelas casas, como enfrentaria as pessoas, assim, pelado?! E foi caminhando, aos trotes, aos pulos... O sol sumiu, a noite estava à porta. E o medo, também... Atravessou a primeira rua da vila, escondeu-se atrás de uma casa. Ainda bem que não existiam muros. Só cercas. E foi, já no escuro da noite, correndo de parede em parede, esgueirando-se por moitas de bananeiras, varando cercas, atravessando ruas na noite escura. E a cada espaço de tempo, respirava fundo, benzia-se e pedia a Deus para que aplacasse a ira do seu pai. Não escaparia da cinta, disso ele sabia. O que pedia a Deus é que as cintadas fossem menos iradas, mais suaves... Enfim, Mário chegou ao quintal de casa. Caramba, no varal não havia nenhum pano, nada para se cobrir! Tinha certeza de que o pai, a mãe e seus irmãos estavam lá dentro, esperando por ele. E sabia que seus irmãos cairiam na risada quando ele entrasse pelado. Talvez não. O pai devia estar furioso e os irmãos não iriam ter coragem de rir! Duro ia ser aguentar a gozação, a zoeira dos próximos dias... Mas não queria pensar no depois. Tinha de resolver o agora. E com a voz quase sumida, disse: - Pai! Nada, ninguém apareceu. - Paiêêê!!! Gritou tão forte que chegou a fechar os olhos. E o pai apareceu. Imenso. Parecia maior que a porta! E Mário ali, em pé, no escuro, e pelado. Nem queria olhar para a mão dele. A cinta deveria estar ali, saltitante, ávida pelo seu lombo, pronta para estalar... Mas não estava. Para sua surpresa e alívio, não estava. Mário caiu no choro. Choro de vergonha, de medo, de arrependimento, de tudo... E Seu Osvaldo entendeu. Não seria preciso castigar mais. Limitou-se a buscar uma toalha, cobrir o filho, abraçá-lo e dizer: - Mário, meu filho, que esta seja a última vez! E parece que foi...

Regina Ruth Rincon Caires 00CTA010

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Concurso de Textos Anônimos - 00CTA036 FOTOGENESIS O dia que mudou a minha vida não podia ter começado de forma mais banal. O guincho eletrônico do despertador, seguido a uma noite sem qualquer memória de sonhos, o vapor tépido da cabine de limpeza e a barra de proteínas matinal, salobra e seca, nada faziam adivinhar que algo se desviasse da rotina. Mesmo no meu caminho, os anúncios berrantes nas carruagens do metrô prometiam as mesmas coisas de sempre: estatuto, fama, beleza, férias exóticas, lentes holográficas com desconto. Dizem os ingleses que o diabo está nos detalhes e, nisso, devem ter razão. Nunca esperei que as portas do paraíso se abrissem pelas mãos de uma rapariga franzina com olheiras e nós no cabelo, sentada a um canto do centro de Aprendizagem Virtual. Estava numa pausa para esticar as pernas e humedecer os olhos cansados do visor quando ela me sacudiu o ombro, tão nervosa como excitada: - Eu sei quem és! Saturn9? Eu sigo o teu blog, sou ... uma fã! Nos tempos que correm abordar assim uma estranha era no mínimo insólito, muito menos tocando, mas não sei se por prestidigitação captou de imediato a minha curiosidade. Se não me tinha simplesmente mandado uma mensagem, como toda a gente, devia ter algum motivo. - Eu vi-o! Eu! Vi-o ontem, no Kybalion! Entre os olhos raiados de vermelho, a pinga de saliva no canto do lábio e a linguagem críptica, talvez qualquer um a assumisse como louca, mas eu sabia do que falava. O Anjo de Diamante, um mito que eu conhecia de trás para a frente. De facto, todo o meu blog era dedicado a essa mesma lenda urbana - um ser de beleza infinita perdido neste mundo poluído, uma pérola pura na ostra escura e espinhosa dos arranha céus e complexos de habitação. Existem tantas versões da história como pessoas a contá-la mas, na verdade, ninguém sabe ao certo o que é, nem sequer o seu gênero ou idade. Há teorias para todos os gostos, um humano melhorado como os que vivem acima das nuvens, um alienígena, uma ilusão coletiva provocada pelos neuro-implantes, uma segunda vinda de deus... A única coisa que todos concordam é na sua pele, longos cabelos e fato impecavelmente limpo, todos de uma palidez reluzente que quase fere o olhar - daí o nome. Antes que minha misteriosa informadora pudesse perguntar mais alguma coisa que fosse, as sirenes tocaram novamente e ela desapareceu entre os corredores cinzentos, de volta à realidade virtual e mais três horas de cálculo avançado. Quando retirei o visor, com a cabeça a latejar, a ideia de a interrogar para um post sobre mais um avistamento parecia um sonho distante. Não a encontrei e com o céu a enegrecer, tomei de novo o metrô para casa. O lusco fusco do fim do dia era igual ao da manhã e sentia-me tão cansada como nessa primeira viagem, num estado turvo entre o adormecer e despertar, de vez em quando sacudida pelos solavancos das carruagens e a voz robótica que anuncia as estações. A batida repetitiva do rap que os phones do passageiro do lado sussurravam e o calor abafado pesavam-me sobre os olhos quando, de repente, algo me captou de novo a atenção: - Estamos a chegar a Kybalion. Centro recreativo. Vi-me tomada de um súbito instinto e, antes que pudesse cair de novo na rotina, dei por mim com os pés na estação colorida e a carruagem a afastar-se na distância. Suspiro. A carruagem continua a sua marcha, acelerando e desaparecendo nas sombras de uma curva, deixando-me a mim e às luzes e sons psicadélicos do Kybalion. O chão holográfico pisca às cores a cada passo que dou, aproximando-me do arco de entrada do complexo de entretenimento, cruzando os arcos néon que já conhecia como a minha própria mão. Há uns anos era a atração do momento mas, como tudo, rapidamente

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passou de moda e quando deixou de ser in lá ir, os marginais mudaram-se para lá e rapidamente vieram também os neuro-estimulantes e os grafittis. Não me desagradava, contudo. Comparado com a limpeza estéril e queimada a lixívia da maioria dos edifícios e transportes, uma certa sujidade e caos nem era assim tão mau. O cheiro era cáustico, uma mistura de fumos químicos com vômito e pó queimado dos milhares de ecrãs das máquinas de jogo e reclames constantes, a competir pela atenção de meia dúzia de jovens perdidos no sistema; era irônico o contraste. Mas eu não tinha vindo para perder mais uma noite entre vícios depois de prometer a mim própria que vinha investigar, pelo menos não hoje. O Anjo de Diamante. A rapariga dizia que o tinha visto aqui e, não era de longe a primeira, das dezenas de avistamentos que eram sussurrados na net todas as semanas, nenhum se distanciava muito do centro de entretenimento abandonado. Mesmo pondo de parte os que podiam ser falsos, ou alucinados, era um facto demasiado consistente para ser ignorado. Seguindo quase um ritual, subi dois lances de escadas, virei à esquerda e encontrei a pequena sala violeta tal como a conhecia, com os seus sofás de leopardo gastos e fractais projetados nas paredes pelas lâmpadas tremeluzentes. Agora era aguardar. Apesar de todo o meu fascínio, nunca o tinha visto, mas tinha um pressentimento estranho que hoje seria diferente. Deixo-me relaxar, afundando no assento e com o olhar perdido nas luzes… Os padrões caleidoscópicos e o ritmo hipnótico da música massageiam-me e entorpecem a consciência, estou na zona. É só assim que ele aparece, pelo que dizem. Ideia engraçada. A beleza de facto é fugaz. Entretenho-me a imaginá-lo a surgir do corredor escuro, branco, puro e elegante, reluzindo como uma lua cheia coberta de diamantes, os pés parando milímetros acima do chão e o cabelo ondulado flutuando ao sabor de um vento que não existe. Sentar-se-ia ao meu lado e, poder-lhe-ia finalmente perguntar qual o seu segredo… ou perder-me naquela majestade para sempre, aquela luz cegante com que sonhei tantas tardes e noites solitárias. Não seria mau, ter como última visão um ser tão magnífico como descreviam. Sentar-se-ia ao meu lado, poria a mão sobre o meu ombro e… Uma leve sensação de pressão arrancou-me das minhas fantasias. Dedos pálidos, cobertos de anéis requintados de ouro e tons pastel tocavam-me com a delicadeza de uma libélula. Não consegui virar o rosto. Toque, toque, toque, toque, toque, ao longo do meu pescoço, forçando-me a erguer o queixo com a ponta de uma unha pintada. O rosto que me fitava de volta era estranho. Cada parte era absolutamente perfeita, os olhos cor de arco íris e os lábios rosados brilhantes de paixão e luxúria, mas havia algo de bizarro no conjunto. Era como se alguém tivesse tentado resolver um puzzle cortando os encaixes e colando as peças; a imagem continua vívida mas ficam espaços vazios e linhas em que as coisas não coincidem, uma montagem à partida demasiado estranha para ser real, onde contudo se notavam as costuras. Era um misto de belíssimo com um toque de sinistro que só o valorizava ainda mais. - És... és... Tinha passado tanto tempo a imaginar o que teria para perguntar mas as palavras falhavam-me. Também não obtive nenhuma resposta. Não foi necessário. Segurando-me o queixo, o Anjo debruçou-se num ápice e beijou-me, longa e profundamente, com um olhar avassalador e um sabor quase enjoativo a baunilha e morango. Nunca pestanejou, aliás, não me lembro de o ter visto piscar aqueles olhos hipnóticos uma única vez. A língua abraçou a minha e continuou e continuou, uma fatia de carne húmida e infinitamente comprida. Quando me desceu pela garganta quis gritar ou vomitar mas não consegui. Tentei empurrá-lo mas para quão elegante era, era surpreendentemente forte, nem vacilou. Um sabor a cobre encheu-me a boca e perdi os sentidos. Acordei num quarto desconhecido. As luzes suaves deixavam apenas vislumbrar um ambiente luxuoso e sedutor e uma janela que dava para uma vista do céu noturno.


Nunca tinha visto as estrelas debaixo do smog da cidade, eram realmente mais bonitas do que nos ecrãs. Onde estaria? No topo de uma das torres de luxo? Antes que me pudesse esquecer do que se tinha passado, uma silhueta pálida e esguia ergueu-se à minha frente, fitando-me de alto a baixo com os seus olhos luminosos. - Estiveste solitária durante tanto tempo… estava à espera que estivesses pronta para me conhecer. Encolhi-me sobre mim própria, deslizando sobre o que agora via serem os lençóis de uma cama. Não me sentia ferida mas de algum modo estranha e dormente. - Quem... o que és? - Não tenho a certeza… sei que não sou como tu. Também não sou nenhum anjo apesar do que dizem por aí. Não existe tal coisa, pelo menos nesta cidade. Só te posso dizer que não nasci da mesma maneira que vós, foi mais lento e complexo, em tubos e laboratórios. Era suposto ser mais como tu, contudo. Tentaram e tentaram, vezes sem conta, criar uma pessoa como vós, mas melhor. Talvez ainda estejam a tentar. Não conseguiram exatamente o que queriam comigo, mas também não me conseguiram reciclar como fizeram os outros. Fugi, sem saber onde pertencia, mas vocês adoraram-me. - Mas como? - Adaptei-me. Com os cartazes nas ruas e as celebridades online não foi difícil perceber o que estava em voga. Achei estranho quão depressa mudavam os ideais, mas também, do mesmo modo podia mudar eu... - Oh.. mas então é por isso que toda a gente te vê de maneira diferente? - Hehehe... já vais descobrir... algo me diz que o look de outsider decadente vai estar in por uns dias Segurando-me no pulso primeiro abriu a camisa, depois as calças, depois … algo, desabrochou como uma flor vermelha, molhada e cheia de muco, pétalas de carne e osso e, ao centro, uns estames cromados cheios de pequenas luzes. Foi aí que tirei os olhos dele pela primeira vez e, eles rolaram e rolaram e rolaram e rolaram … era excruciante... partes de mim que nunca tinha visto espalharam-se, tal qual uma fila de crianças mal comportadas e sujas a encharcar o chão de lama vermelha. Flashes de um branco tão puro que ardia e um abraço sufocante acompanharam-me de novo ao negro de um sono sem sonhos. ... Quando acordei era muitos. Todos a abraçarem-me e eu a acariciá-los com milhares de braços que não sabia que tinha. Estávamos todos debaixo de um leite cor de pérola, em carícias constantes, numa sensação deliciosa sem fim, de êxtase permanente. De súbito, senti-me puxada para a superfície por uma força invisível, mas tão irresistível como os prazeres daquele mundo luminoso. Senti um choque ao emergir, um frio súbito acompanhado por um cheiro familiar a combustível e o zumbido dos neons, de um mundo que agora me parecia uma memória distante. Num momento de choque estendi os braços mas, vi-os pálidos, perfeitos e cobertos na mais delicada joalharia e cetim cor de prata. Fitei o meu rosto, ou melhor, o rosto dele e de mim e de todos os outros numa poça oleosa à beira da estrada. Tinha escolhido os meus olhos cinza. De facto sempre tinha achado que eram a minha melhor característica. Hoje, pelo menos por um dia, era eu o misterioso Anjo de Diamante. Todos juntos avançamos, dançando sobre as ruas, tocando o chão como uma borboleta. Por mim, é um destino que não me importo de partilhar. Nenhuma doença, cicatriz ou idade nos tocará. Se a beleza é fugaz, será demais ter dado a vida para preservar esse momento de perfeição para sempre?

João Pinto 00CTA036

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Concurso de Textos Infantojuvenil - 00CIJ019 Imagine só! Imagine só! Se todo o passado voltasse? Se a vida nunca acabasse? Se a lua mais perto chegasse? Imagine só! Se o vento parado ficasse? Se as estrelas nunca brilhassem? Se a terra do nada parasse? Imagine só! Se você não mais pensasse? Se o animal pesado voasse? Se tudo no mundo de ponta cabeça virasse? Imagine só!

Lysara Pinheiro (20) Projeto Arco-íris – Jauá Camaçari/BA 00CIJ019

Concurso de Textos Infantojuvenil - 00CIJ025 Menino Esperança No Sertão, onde tudo que deveria ser verde era marrom, vivia um menino com poderes inexplicáveis.. O nome desse menino não sei, mas o sobrenome era Esperança. Todo dia o menino Esperança saia pelo povoado para brincar com o menino “Pé de Vento”, sujando o terreiro de Sinhá França. Eles faziam muitas traquinagens, o que deixava o vovô Neco furioso. Um dia, Pé de Vento encontrou um menino do mato que sabia do segredo do menino Esperança. Cansado de guardar esse segredo, o menino do mato engana “Pé de Vento” dizendo que ia fazer uma surpresa para o menino Esperança. Ele sabia que toda vez que o menino Esperança caía, acontecia alguma transformação e ele seria beneficiado mais uma vez. Amarraram um barbante em cada ponta do terreiro de Sinhá França, quando o garotinho apareceu por lá, assustado por não ter encontrado ninguém, tentou correr, mas já era tarde. Ele tropeçou e caiu. E, para surpresa de todos, depois de muito tempo, choveu no sertão, trazendo alegria e esperança.

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Erick Jarlan Lima dos Santos (14) Projeto Arco-íris – Jauá Camaçari/BA 00CIJ025


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Concurso de Textos Infantojuvenil - 00CIJ001 Desculpe Mãe Lembro de quando menorzinho bagunçava pela rua a a a... Hoje estou trancado aqui dentro, muita saudade no peito Lembro daqueles momentos, quando estava do seu lado Mãe, hoje eu sou maltratado, mãe me perdoa se te fiz chorar Há anos estou pedindo a DEUS pra me guardar Em qualquer ocasião me desculpe, estou há quase dois anos aqui dentro O limite do detento é viver no sofrimento, me desculpe, mãe Eu estava em um grande objetivo, queria ficar rico Para te dar uma condição de vida melhor A nossa história infelizmente não deu certo A humildade é capaz de conquistar a liberdade e e e... Manda um abraço para os guerreiros Um abraço na minha mina, diz a ela que eu a amo o o o... Wilma você está dentro do meu peito ooo... Sinto falta de quando menor deitava do teu lado Você me dava beijos e abraços bem apertados Me dizia “filho a mãe te ama” Infelizmente o tempo passou e eu me coloquei Nessa vida simplesmente por amor Queria te dar uma casa, ou até mesmo uma mansão Me desculpe mãe, só te dei desgosto, isso dói no coração Lembro daquela casinha de madeira que nós tínhamos Nem banheiro tinha, me desculpe mãe Uma mulher guerreira, que tira da sua boca Para alimentar seus três filhos De acordo com a vida, a lei da natureza leva o homem a miséria Engraçado que os ricos esbanjam seus carrões Gastando dinheiro a toa com casas no Leblon Enquanto na periferia sofrem com falta de alimentação Me desculpe mãe, lembre-se que teu filho a ama de coração Eu canto para a Senhora ESSA HUMILDE CANÇÃO Canto também para alegrar meus irmãos Que estão trancados aqui dentro passando por sofrimento Me desculpe mãe.

Autoria: Alex/18 anos Fundação Casa Três Rios 00IJ001

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Concurso de Textos Infantojuvenil - 00CIJ018 Jardim de felicidade As flores que plantei Nos jardins por onde andei As flores que colhi Por aí, por onde passei As cores, as mais belas cores, Os amores, os mais singelos amores. Construí cercados Me tranquei com aramados Deixei de semear A chuva chegou O arco-íris se instalou O vento voltou a soprar Abri a porta Olhei para fora O sol, sorrindo, estava lá Restaurei a alegria Me alimentei da vontade Reconstruí meu jardim de Felicidade Lysara Pinheiro (20) Projeto Arco-íris – Jauá Camaçari/BA 00CIJ018

Concurso de Textos Infantojuvenil - 00CIJ014 Diga-me: Como devo amar? Um jardim, uma terra, uma semente Cava, planta e rega Uma rosa nasce, coberta de espinhos Um homem, uma mão, um jardineiro A dor encobre o amor, o sangue Encobre as lágrimas, e a flor? Essa, ingênua e ingrata Não percebe e nem sente Os sentimentos do jardineiro Rosa incrédula, não sabe amar. Pobre homem, tanto amor Para uma única flor.

Luana Karoliny 00CIJ014

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Concurso de Textos Infantojuvenil - 00CIJ027 Uma manhã com lindas flores Era um local livre de terrores Fácil de avistar pequenas flores Muitas com sorrisos singelos Apenas uma, tinha cheiro de caramelos Sempre meiga e sensata Aparecendo na hora exata Pronta e disposta a nos fazer sorrir E, assim ela falou para mim: Sinta o leve vento a soprar Futuramente seus pensamentos mudarão Reflita sobre o que a vida lhe reserva Enfrente seus medos e comece a lutar Acredite. O sofrimento de todos Um dia acabará.

Raine Santana (17) Projeto Arco-íris – Jauá Camaçari/BA 00CIJ027

Concurso de Textos Infantojuvenil - 00CIJ012 Palavras Sinceras As palavras mais sinceras são as que vêm do coração E não da mente O amor verdadeiro não escolhe aparência física e sim sentimentos sinceros Amar é cuidar todos os dias das pessoas que você quer bem cuidar é nunca deixar de lado ou abandonar É estar presente nos melhores e piores momentos É falar, ouvir, analisar e refletir Tentar sempre fazer da maneira correta Caminhando junto Nada separa de uma união sincera E verdadeira Quem segue pelo que é certo Não cai no errado.

Autoria: Afonso/18 anos Fundação Casa Três Rios 00CIJ012

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