Mobilidade As dificuldades de se andar a pé na cidade
Periferia Juventude negra quer ser ouvida e ter oportunidades
Economia Dívida de empresas locais com a Previdência é de R$ 1,7 bi
Agosto de 2017 Agosto 2017 Sorocaba SP
Uma cidade em movimento
A
ssim como a própria história, a realidade de Sorocaba não é inerte, não é estagnada. O movimento da cidade é construído cotidianamente por seus moradores.
Foguinho
Esta edição é uma homenagem do Sindicato dos Metalúrgicos (SMetal) aos trabalhadores do passado e do presente que deram e dão movimento para a nossa cidade.
Por não ser inerte, erros cometidos podem ser corrigidos para o bem da comunidade. Pois, na democracia, só faz sentido a organização políticosocial se ela for pensada para o bem estar da população; e não apenas para atender vaidades ou interesses econômicos. Mas as correções de rumo benéficas para o conjunto sociedade não
surgem de ações individuais; elas são resultados de reflexão coletiva, seguida de retomada da consciência e da fraternidade entre a classe trabalhadora. Além de parabenizar o suor e a resistência dos sorocabanos, o objetivo do SMetal com esta publicação é contribuir para essa reflexão.
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Agosto de 2017 - Sorocaba 363 anos
Foguinho
A história se constrói agora, por todos nós
Na maioria das vezes, a história oficial — aquela estimulada pelos governantes e pela elite financeira de direita — destaca apenas os nomes de celebridades na construção do país, do estado, das cidades e da sociedade. É como se apenas os grandes empreendedores formatassem o mundo em que vivemos e à população coubesse apenas o papel de espectadora desse processo. Quem quiser saber da história das organizações sociais e de trabalhadores, terá que buscar publicações específicas. É como se a história operária e a história da civilização moderna fossem coisas distintas; e não faces de uma mesma jornada ao longo dos anos.
Embrião da cidade
Em Sorocaba, de perfil histórico coletivo e operário, essa omissão é ainda mais disseminada. Afinal, aqui a direita resolveu fincar mais fundo suas bandeiras neoliberais, que buscam justificar a exclusão e pregam o conformismo diante das injustiças sociais e trabalhistas. É bastante divulgado, por exemplo, que os bandeirantes da família Sardinha construíram a primeira fundição rústica do continente no morro Araçoiaba (atual Fazenda Ipanema) por volta de 1590. Mas é bem menos divulgado que, após os patrões terem abandonado o empreendimento, no início do século 17, os operários fundaram uma vila na Zona Norte, nos altos do Itavuvu. Quando Baltazar Fernandes chegou já existia uma comunidade de trabalhadores bem organizada, que ele tratou de incorporar ao município que fundou em 1654.
Pioneirismo
Também é notório que Dom João VI, nas primeiras décadas do século 19, mandou construir uma grande siderúrgica (a Real Fábrica de Ferro) também no morro Araçoiaba. Mas é raro vermos ressaltado que os escravos negros desse empreendimento formularam as primeiras pautas de reivindicações que se tem registro na região. Ou seja, os operários escravizados da siderúrgica, com ajuda de técnicos estrangeiros, suecos e alemães, organizaram-se para exigir condições de trabalho, de vida e dignidade.
Primeiras leis
Na greve de 1917, que deu início à conquista de uma série de direitos, os trabalhadores de Sorocaba tiveram participação exemplar. Mais de 10 mil operários locais participaram da paralisação, em uma cidade que contava então com apenas 40 mil habitantes. Nas décadas de 20 e 30, novas greves e protestos continuaram conquistando direitos trabalhistas em muitas regiões e categorias profissionais, como registro de trabalho, regulamentação da jornada, direito de férias, redução do trabalho infantil e aposentadoria.
CLT foi conquista coletiva
No início dos anos 40, o presidente Getúlio Vargas, espertamente,
condensou os direitos que os trabalhadores vinham conquistando em um único documento, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A CLT, hoje praticamente arrancada de nós pelos golpistas, portanto, não foi um presente de Getúlio, foi fruto de uma série de lutas coletivas da sociedade.
Séculos 20 e 21
Na segunda metade do século 20 os operários de Sorocaba, inclusive metalúrgicos, continuaram moldando a história local não somente com seu trabalho, mas também com sua consciência de classe, seu espírito coletivo e seu senso de cidadania. Poucos anos atrás, as organizações de trabalhadores, junto com os movimentos sociais, foram responsáveis por alertar a sociedade que havia um golpe em curso do país. E que o objetivo desse golpe era retirar nossos direitos, fazendo a sociedade regredir mais de um século na história. Dito e feito. Mas a retomada da consciência e da fraternidade entre a classe trabalhadora ainda é possível, com consequências bastante positivas no resgate dos direitos coletivos da população.
Reflexão
Nesta semana de aniversário de Sorocaba, sugerimos que cada um de nós tenha a humildade de refletir sobre a história. Não somente a história que já passou, mas também aquela que estamos construindo neste momento e aquela que queremos deixar para os próximos anos e para as próximas gerações.
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O sorocabano que anda a pé Jeniffer Farias, 27, se esforça para caminhar no centro de Sorocaba com o bebê nos braços e o carrinho. “A gente passa muito apuro”, relata. “Com o carrinho, a gente atropela as pessoas, causa incômodo. Acabo trazendo o bebê no colo, o que é cansativo e desconfortável para ele”. As dificuldades dela são as mesmas para 31% dos sorocabanos. Esse é o percentual de pessoas que andam a pé diariamente para realizar as atividades diárias, segundo o Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade, realizado em 2013. Isso significa afirmar que mais de 200 mil pessoas se locomovem a pé, número maior que todas as cidades da Região Metropolitana de Sorocaba. Segundo a pesquisa da Urbes – Trânsito e Transporte, o número é superior ao de pessoas que usam o transporte coletivo (25,76%) e menor dos que usam transporte individual (42,41%).
Acidente e falta de estrutura
Jane Caruso, 63, com uso de uma bengala, também passa pelas estreitas e irregulares calçadas de Sorocaba. “Temos médico para ir, exame para fazer e tem lugar que só a pé para chegar”, conta. A senhora reclama que a situação se repete por toda cidade e já lhe causou acidentes “Machuquei as mãos, os joelhos”. Algo parecido com a situação que o Luiz Carlos Barros Cruz, 60, passa todos os dias. “Com o tempo, a gente conhece o lugar e se acostuma, mas é difícil. Tem que procurar o melhor lugar. Às vezes, tem que sair para rua para passar e corre o risco de ser atropelado”, revela o porteiro que tem uma deficiência na perna esquerda.
Estudantes são os que mais caminham
No horário de pico pela manhã, das 6h30 às 8h30, o número de viagens não motorizadas chega a 35%. Os principais motivos dessas viagens são para trabalho e estudo. No quadro geral, estudo corresponde a 50% das viagens nessa modalidade. Na sequência vem compras (43,70%), trabalho (24,90%) e saúde (20,30%). Outras situações somam 30,80%.
Mais pobres caminham mais e por mais tempo
Em média, o sorocabano anda 20 minutos a pé para as atividades diárias. São 22 minutos para chegar ao trabalho e 20 para saúde e compras. Já trajetos com destino à escola duram 19 minutos. Das pessoas que têm renda familiar inferior ao salário mínimo (até R$ 700 no período da pesquisa), 45,3% se deslocam a pé, em média, 34 minutos por viagem. Os moradores de Sorocaba com renda entre R$ 700 e R$ 2.100 são o grupo que mais andam a pé (35,1%), cerca de 32 minutos.
Mais participação
Para Gilberto Franca (foto), professor da Universidade Federal de São Carlos UFSCar Sorocaba, o caminho está em desenvolver políticas que tenham participação popular. “O que não existiu até agora é o debate. Tem um plano que é apresentado pelo executivo, com audiências muitas vezes esvaziadas ou com algum nível de conflito de interesse, resolvido pontualmente”. O professor também defende que haja uma educação urbanística. “A população não tem a cidade como um direito porque ela não teve a chance de participar de elaboração ou de ser educada para isso. Então, você tem um plano macro, mas ele precisa levar a participação da comunidade, levar ela a fazer o processo junto”.
Fotos: Foguinho
31% dos sorocabanos precisam andar para realizar as atividades diárias, mas as condições de vias e calçadas dependem de melhores condições
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Educação, cultura, lazer. Jovens de Sorocaba se organizam para exigir melhores condições de vida e fim da violência
Movimento hip-hop
O hip-hop é um exemplo de luta e resistência contra o racismo no Brasil. Ele chegou no país na década de 80 e, além de conter expressões artísticas, como música, dança e grafite, é um movimento popular e social. “O hip-hop é uma forma de se organizar que pode apresentar novas possibilidades e horizontes para a juventude que está nas periferias e não vê
Maria Victor, de 17 anos, conta que já sofreu situações de racismo em sua escola, inclusive de professores, e que acredita que essa situação que dura muito tempo no Brasil pode mudar
Melqui ajuda a organizar, com o Fórum de Hip-Hop de Sorocaba, a “Quinta do Hip-Hop”, no Barracão Cultural que fica na Av. Dr. Afonso Vergueiro, 310, no centro de Sorocaba
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perspectivas de melhora de sua própria vida e de quem está ao seu redor”, explica Melquisedeque Silva, participante do Fórum do Hip-Hop de Sorocaba. Para o skatista Mateus Santos, conhecido como Tolão, morador do bairro Laranjeiras, em Sorocaba, um dos pontos mais negativos da periferia é a falta de espaços públicos destinados à cultura e ao lazer. “Acaba que os jovens do bairro, por si mesmos, organizam suas atividades, como batalhas de rap, baile funk, campeonato de skate”, conta. A falta de segurança também é criticada por Tolão. “Não existe segurança na periferia de Sorocaba. E boa parte da comunidade tem medo da polícia, mesmo que não tenham motivo para isso”, conta, afirmando que os moradores vivem episódios cotidianos de prejulgamento e falta de respeito generalizado por parte de policiais.
Educação
Ana Maria, do NUCAB, acredita que a mudança é possível a partir de uma “escola de verdade, onde os jovens sejam incitados a buscar conhecimento, não onde se despejem sobre eles conceitos já analisados e, às vezes, com preconceitos enraigados”. Além disso, de acordo com a educadora, “sem emprego e educação, não é possível ter uma vida minimamente digna na sociedade que vivemos hoje. A falta de estabilidade – seja financeira, emocional – contribui para que a própria sociedade não consiga se desenvolver. E é o jovem negro que está mais vulnerável a essa situação”.
Ana Maria Souza Mendes, coordenadora do Núcleo de Cultura Afro-brasileira (NUCAB) da Uniso, defende a importância de sonhar. “Não um sonhar para viver nas nuvens, mas é papel de quem está vivo sempre pisar firme para poder ajudar o outro e construir esse futuro”
“A gente sabe que não vão dar de mão beijada essa liberdade para gente”, afirma Tolão, sobre a importância da luta e da resistência
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Periferia é periferia em todos os cantos do Brasil. Cada uma com sua especificidade, mas com uma série de características em comum: problemas de saneamento básico, transporte, baixa renda, nível de escolaridade e de violência. As favelas, morros e guetos são produtos da exclusão social expressa nas cidades. No centro, os ricos; na margem, os pobres, majoritariamente negros. A coordenadora do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira (NUCAB) da Universidade de Sorocaba (Uniso), professora Ana Maria Souza Mendes, afirma que a forma como a abolição da escravatura foi realizada, em 1888, sem planejamento de sobrevivência e inclusão social dos libertos, contribuiu para o problema, até hoje não superado pela sociedade brasileira que é a desigualdade social. Desde então, a população negra em Sorocaba e no país vem buscando formas de organização, reconhecimento e inserção social. Seja com música, projetos de educação ou em movimentos sociais, o jovem da periferia tem exigido melhores condições de vida e menos violência.
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Juventude negra resiste em Sorocaba
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Centro de reabilitação para homens autores de violência contra mulheres existe desde 2015 em Sorocaba
Reeducação
O atendimento tem duas fases. A primeira
é preventiva, quando o homem entra no programa espontaneamente, logo após a denúncia de agressão, antes de passar por julgamento. Outra fase ou situação é quando, após julgado e condenado, a sentença indica que o agressor seja reeducado e ele então é encaminhado ao CERAV.
Tratamento
O primeiro passo do tratamento, segundo Tatiana, é conhecer a sua história e fazê-lo refletir. “Em 90% dos casos existe uma repetição de comportamentos de vivências de algum momento da vida, mas eles não notam isso”, conta. “Depois eles têm o sentimento de injustiça e revolta, porque estão ali a partir de uma medida protetiva e afastados de casa. Mas quando começamos a mostrar onde estão as injustiças, eles passam a entender o que é violência”, comenta. Em 2016, segundo Tatiana, houve apenas 2% de reincidência após o tratamento.
• Escolaridade Ensino médio completo – 41% Ensino fundamental incompleto – 24% Ensino médio incompleto – 14% Ensino fundamental completo – 11% Analfabeto – 6% Curso técnico – 4%
• Tipo de violência Ameaça – 50% Lesão corporal – 35% Injúria – 10% Contravenções penais – 3% Danos – 1% Difamação – 1%
• Vínculo com a vítima Ex-esposa – 45% Esposa – 38% Ex-namorada – 11% Namorada – 2% Mãe – 2% Filha – 2%
DESCONFIE DE CLICHÊS Segundo Tatiana, com o CERAV foi possível perceber que não há apenas o agressor “comum”, ou “clichê”: de baixa renda, pouca escolaridade e com problemas ligados a alcoolismo ou drogas. “Nós verificamos que há agressores de todas as camadas sociais, profissões e níveis de escolaridade”.
Fonte: CERAU/Balanço 2016
Criada em 2006, a Lei Maria da Penha trouxe mecanismos de proteção às mulheres e maior visibilidade a questões de violência doméstica e familiar. Entre esses mecanismos estão os Centros Especializados de Reabilitação do Autor da Violência (CERAV). Apesar de pouco conhecido, em Sorocaba o serviço funciona desde 2015 e já atendeu mais de 500 homens. Tatiana Festa, assistente social do CERAV, explica que o programa teve início no Centro de Integração da Mulher (CIM-Mulher), que há 20 anos realiza um trabalho de atendimento a mulheres vítimas de agressão. Ela conta que, no começo, houve certa resistência ao serviço, “mas o que estamos fazendo é um trabalho de proteção à mulher, porque quando o homem está ‘educado’, consciente, ele não fará isso de novo”.
• Faixa etária 20 a 30 anos – 21% 30 a 40 anos – 31% 40 a 50 anos – 36% 50 a 60 anos – 7% 60 e mais anos – 5%
Vagner Santos
Reabilitação de homens agressores
PERFIL
Jovens que completam a maioria longe da família precisam, de uma hora para outra, encarar a vida sozinhos
O retrato familiar – pai, mãe e filhos – não é uma realidade para todo mundo. Para muitas crianças e adolescentes, a família são outras crianças e os funcionários dos abrigos onde vivem. Elas foram tiradas de casa por motivos como pobreza, violência doméstica, dependência química dos pais e abandono. Uma vez no abrigo, duas opções ocorrem: ou voltam para a família ou são adotadas. No entanto, em muitos casos, ficam nos abrigos até completarem a maioridade. Sem família e, na maioria das vezes, sem perspectivas, precisam encarar a vida sozinhas praticamente de uma hora para outra. O Governo Federal até estabelece, em documento de Orientações Técnicas, a instalação de repúblicas destinas aos jovens entre 18 e 21 anos em “situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social, com vínculos familiares rompidos ou extremamente fragilizados e que não possuam meios para autossustentação”. Mas, na prática, isso não acontece. Rosemeire Xavier Cardoso, diretora do Cartório da Infância e Juventude
da Comarca de Sorocaba, relata o problema. “Mesmo que arrume emprego, ela não vai conseguir se manter sozinha. Tinha que ter uma transição. Você tem 17 anos e onze meses hoje e amanhã você está na rua com sua malinha”. Para Rosemeire, é necessário mais esforço da maioria das entidades para ajudar nessa passagem, além de faltar sensibilidade e apoio por parte do governo. Algumas entidades, porém, lutam para ao menos garantir qualificação profissional para os jovens. Bethel e Refúgio, por exemplo, fazem parcerias com empregadores para garantir que, ao sair, esses adolescentes consigam se manter sozinhos por algum tempo. Mas ainda não é o suficiente.
Os números
Em Sorocaba, cerca de 40 crianças e adolescentes estão nos abrigos e aptas para adoção. Levando em consideração pesquisa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que
Gabrielli Duarte
A vida pós-abrigo
aponta que 84% dos pais adotivos querem filhos até 5 anos, as chances da maioria dessas crianças não são animadoras. Trinta delas estão acima dessa idade e, em vários casos, por fazerem parte de grupos de irmãos, têm ainda menos possibilidades de serem adotadas. Seis desses adolescentes estão com 17 anos. São meninas e meninos vítimas de abandono, maus tratos, violência e abuso sexual. No
abrigo, encontram o mais próximo que conheceram de um lar; e agora vivem entre a angústia e a expectativa de uma nova ruptura. “Agora é seguir em frente. Minha família não quis saber e agora eu tenho que me erguer, dar o melhor para o meu filho”, conta uma dessas meninas. Outra já planeja os estudos. “Quero fazer um curso de inglês e, depois, uma faculdade. Meu sonho é fazer arquitetura”.
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As empresas metalúrgicas de Sorocaba que estão inscritas na Dívida Ativa por deverem FGTS correspondem à soma de R$ 23,5 milhões
Empresas de Sorocaba devem
R$ 1,7 bilhão
para a Previdência Em Sorocaba, 3.244 empresas estão inscritas na Dívida Ativa (em levantamento feito no dia 18 de julho pelo SMetal, publicado na Folha nº 873) por deverem impostos previdenciários à União, totalizando R$ 1,7 bilhão. Os dados são Procuradoria da Fazenda Nacional. Para o economista da subseção do Dieese/ SMetal, Fernando Lima, esses valores ilustram a complexidade tributária do Brasil e também demonstra o aparato para o não pagamento desses tributos. Por isso, ele destaca a importância de se ter mecanismos que agilizem a execução dessas cobranças de empresas devedoras. “Para não se chegar a montantes tão altos. A consequência disso é a reforma da Previdência que toma o cami-
nho inverso, de punir os trabalhadores ao invés de cobrar essas dívidas elevadas”, conclui.
Incluindo PIS, Cofins, Previdência e FGTS, além de outros impostos não previdenciários, em Sorocaba, 17.473 empresas estão cadastradas na Dívida Ativa e devem R$ 26 bilhões de impostos à União Em resposta à imprensa do SMetal, o procurador regional da na 3ª Região, Leonardo de Menezes Curty, explica que uma empresa é inscrita em dívida ativa da União na hipótese de possuir débito não quitado de natureza fiscal, ou não, com
órgão federal, nos termos da Lei 4.320/64, art. 39. De acordo a procuradoria, a cobrança desses impostos é feita diretamente por meio da ação de execução fiscal e indiretamente, protestando e incluindo o devedor no CADIN (Cadastro da Dívida Ativa), bem como não fornecendo a certidão negativa de débitos e tributos federais. Questionado sobre o tempo que uma dívida pode permanecer ativa, a resposta do procurador é de que não há prazo para retirada de uma inscrição do cadastro da dívida ativa da União. De maneira geral, caso haja inércia na cobrança por cinco anos, teremos a ocorrência da prescrição. Na lista da Dívida Ativa há situação de empresas que estão discutindo os valores na justiça.
Em comparação com 2016, houve um aumento de 17,9% no valor total dos acordos
Injeção de R$ 79 mi na economia local Só no primeiro semestre deste ano, o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal) fechou 38 acordos do Programa de Participação nos Resultados (PPR), totalizando R$ 79,278 milhões considerando a primeira e a segunda parcelas. Foram contemplados 12.072 metalúrgicos da base do Sindicato, de janeiro a junho, o que equivale a 33,15% da categoria. Em comparação às mesmas empresas que fecharam acordo em 2016, houve um aumento de 17,9% no valor total de PPR injetados na economia. O economista da subseção do Dieese do SMetal André Corrêa Barros explica que no ano passado as negociações totalizaram R$ 67,243 milhões, contemplando 10.008 trabalhadores. “Independente do momento do país, de crise ou não, o PPR é utilizado para quitar dívidas e consumo, mas tendo em vista as incertezas
sociais e política do Brasil, quem puder deve gerar uma poupança, como se fosse um fundo para cobrir uma dificuldade financeira futura”, comenta Barros.
Mobilização
Em época de constantes ataques aos direitos trabalhistas, as negociações não são fáceis. Durante o primeiro semestre houve denúncias de práticas antissindicais, como pressão para o trabalhador não participar das assembleias, entre outras atitudes que revelam a falta de vontade do setor patronal de negociar direitos. “Mesmo com crise, conseguimos mobilizar a categoria para avançar nas propostas. Isso demonstra que com luta e resistência é possível conquistar direitos”, afirma o presidente do SMetal, Leandro Soares.
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Deputado federal tucano da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) defende projeto político de Temer (PMDB)
A quem
Vitor Lippi
Vitor Lippi virou Lippinóquio, como denúncia dos movimentos sociais por ele afirmar que Reforma Trabalhista não retira direitos
representa?
Como deputado federal pela legenda do PSDB, desde 2015, Vitor Lippi (PSDB) representa bem o capital financeiro. Ele, que já foi prefeito de Sorocaba por dois mandatos (de 2005 a 2012), veste a camisa neoliberal ao apoiar reformas que maximizam os lucros do setor empresarial. Votou a favor da Reforma Trabalhista, em abril. Conforme suas declarações nas rádios e em sua rede social, também é a favor da Reforma da Previdência, que acaba com a digna aposentadoria. Seus posicionamentos não passam despercebidos, pois são ataques diretos à justiça e à democracia. Em defesa dos cortes de direitos trabalhistas ele chegou a acusar advogados de serem aliciadores de trabalhadores. A 24ª subseção da Ordem dos Advogados rebateu sua acusação com a divulgação de uma nota de repúdio. Entre os pontos da nota, a OAB/ Sorocaba destaca que “estranha-se ainda mais as constantes agressões do deputado Vitor Lippi à Advocacia, na medida em que tem se socorrido com frequência de advogados e advogadas para lhe defender em ações de improbidade administrativa contra ele promovidas”. Como suplente da Comissão Especial da Câmara, que analisou a proposta de Reforma Trabalhista (PL 6787/16), ele já havia desferido ataque à advocacia quando disse que 90% das ações trabalhistas dos brasileiros eram fraudulentas. Na ocasião, a OAB Sorocaba fez o contraponto ao afirmar que “em decorrência da crise econômica agravada em 2016, estima-se que mais de 60% das ações trabalhistas em trâmite
no Brasil digam respeito a diretos básicos como vínculo de trabalho, pagamento de verbas rescisórias e FGTS”. Lippi ainda percorreu entidades para fazer palestra sobre outras mentiras em defesa da Reforma Trabalhista, que entrará em vigor a partir de novembro. Por isso, recebeu escracho do Levante Popular da Juventude em abril de 2016, após a votação do impeachment, que golpeou a democracia brasileira e outros movimentos sociais e sindicais.
Terceirização irrestrita
O discurso do deputado da RMS não tem credibilidade, mas sua atuação em Brasília, na Câmara dos Deputados, só traz prejuízos à soberania do país. Como aliado de Temer (PMDB) ele é um dos responsáveis pela aprovação da terceirização irrestrita. As empresas já estudam substituir a mão de obra empregada por pessoas jurídicas (PJ), em todas as áreas. “Setores administrativo e recursos humanos das indústrias estão entre os primeiros a serem pejotizados ou terceirizados. Com a terceirização para atividade-fim, fica mais fácil para o empresário precarizar o mundo do trabalho como um todo”, analisa o secretário de organização, Izídio de Brito. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) quer barrar a nova lei na Justiça, com o Ministério Público do Trabalho.
Defesa tucana
Lippi sempre esteve envolvido, em cenário
nacional, com os aliados do capital financeiro. Chegou a defender o ex-presidente do PSDB, Aécio Neves, envolvido em corrupção e que teve prisão decretada: “é um problema do comportamento dele, que respinga no Partido”, arriscou-se dizer Lippi, à rádio Ipanema. É bom lembrar que Lippi pediu votos para Aécio. Assim, como também apoiou o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB), que está preso.
Até quando?
2018 está aí. O Brasil vive a pior recessão de toda sua história. Desemprego, lojas e indústrias fechando as portas. Até quando o discurso de Lippi e outros aliados de Temer vai se sustentar? A próxima batalha a ser enfrentada é a Reforma da Previdência. O posicionamento do SMetal e CUT é o de resistir. “Apesar do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ter declarado que a Câmara não precisa ouvir o povo, lutaremos pelo retorno do sistema democrático em nosso país”, destaca o secretário-geral do SMetal, Silvio Ferreira. FIQUE ATENTO A OUTRAS PAUTAS GOLPISTAS - Salvar o mandato do golpista Temer . - Reforma política casuística - Programa de demissão voluntária para os servidores federais - Reformulação do Código de Mineração - Venda de terras para estrangeiros - Flexibilização do conceito de trabalho escravo - Restrição do direito de greve dos servidores públicos
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Agosto de 2017 - Sorocaba 363 anos
inho
Reprodução Foguinho
Diretoria do SMetal tomou posse no mesmo dia 24 de maio, dia de resistência em Brasília, por #NenhumDireitoAMenos
Foguinho
Gabriela Guedes
O even t Maio, o político-cu Dia do ltural d Espan hóis e Trabalhador, os Metalúrg ic atraiu o mais d correu no P os no 1º a e9m il pess rque dos oas
l sofrem censura Jornalistas do Cruzeiro do Su etores da Fundação direta por parte de alguns dir Ubaldino do Amaral (FUA)
Daniela Gaspari
dia 28 de maio o n ou ar p a ab oc Greve Geral: Sor e Temer tra o governo d n co o st te ro p em
ciais maio os movimentos so Brasília: No dia 24 de ís taram na capital do pa es ot pr ís pa do ais dic e sin governo Temer contra as ofensivas do
Dia 4 de abri l milh concentraram ares de metalúrgicos se na z contra as refo ona industrial para protes ta rmas trabalhis ta e da previd r ência
às classe trabalhadora foi a ço ar m de 31 dia No Temer ção e as reformas de ruas contra a terceiriza
Fogu
Dia Nacional de Paralisação contra as Reformas no dia 15 de março
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