REVISTA COMEMORATIVA. ABRIL DE 2014 - WWW.SMETAL.ORG.BR
Uma hist贸ria feita de trabalhadores para trabalhadores P谩g. 1
Pรกg. 2
PATRIMÔNIO 6 Da sede provisória à ampla estrutura
Sumário MOVIMENTOS SOCIAIS
Sindicato, um instrumento de luta
14
REPRESENTAÇÃO 11 Do Sindicato surgem lideranças políticas CULTURA 18 O apoio às manifestações humanas DESENVOLVIMENTO 22 Fórum de Desenvolvimento é o embrião da Região Metropolitana MEIO AMBIENTE 30 A reciclagem como ganha-pão
SINDICATO CIDADÃO
Um conceito que mudou a categoria
MIGRAÇÃO 34 Categoria é formada por ciclos econômicos e migratórios PERFIL 46 Quem é e como vive o metalúrgico de hoje DEPOIMENTOS 49 Memórias Sindicais
8 ECONOMONIA Ascencenção Metalúrgica
42
HISTÓRIA Dos fornos rústicos à OLT
36
SOLIDARIEDADE 55 A missão de ser solidário
COMPORTAMENTO 54 Uma classe voltada à cultura, economia, educação e saúde
COMUNICAÇÃO Antenados ao mundo
26
Pág. 3
Pรกg. 4
Editorial EXPEDIENTE Uma publicação do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região Editor: Paulo Rogério Leite de Andrade Redação e reportagem: Fernanda Ikedo Luiz Campos Junior Marcelo Macaus Paulo Rogério Leite de Andrade Fotografia: José Gonçalves Filho (Foguinho) Editoração eletrônica: Cássio de Abreu Freire Lucas Eduardo de Souza Delgado Reinaldo Oliveira Endereço: Rua Júlio Hanser, 140 Bairro Lageado – Sorocaba/SP CEP 18030-320. Tel. (15) 3334-5400 Impressão: Bangraf Tiragem: 30 mil exemplares. Distribuição gratuita. www.smetal.org.br Diretoria Executtiva Presidente Ademilson Terto da Silva Vice-presidente João de Moraes Farani Secretário-Geral João Evangelista de Oliveira Secretário de Adm. e Finanças Alex Sandro Fogaça Camargo Secretário de Organização Valdeci Henrique da Silva Diretor Executivo Adilson Faustino Diretor Executivo Clodoaldo Aparecido Garrote
Construção histórica Em 60 anos de construção de uma trajetória o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região participou ativamente da transformação do mundo do trabalho e renovou o conceito de sindicalismo no país. Uma história humana, rica, cheia de desafios, de realizações, entre avanços, recuos e muitos caminhos. O Sindicato compreende que é preciso dar um sentido ao trabalho, assim como mantém em seu horizonte o desafio de tornar a vida fora do trabalho também dotada de sentido. Nas páginas que seguem, nesta edição especial comemorativa, você vai acompanhar a formação da categoria metalúrgica, que deixa de ser coadjuvante para se tornar protagonista de sua própria história. Um pouco desses 60 anos que tentamos retratar aqui. Greves históricas - que constam na memória sindical brasileira - expansão das lutas das fábricas para a sociedade, com o movimento de geração de emprego e renda, com a luta pelo desenvolvimento regional, entre tantas outras bagagens que os trabalhadores, líderes sindicais carregam. Ao pensar na produção das reportagens objetivamos retratar temas como qualidade de vida, o apoio aos movimentos sociais, o incentivo do Sindicato à cultura, a representação polí-
“
Todas essas ações só foram e são possíveis com o posicionamento político e social do Sindicato
“
tica dos metalúrgicos como um celeiro de líderes comprometidos com a classe trabalhadora, o comportamento que traz o metalúrgico como ator social e as ações de solidariedade promovida pela categoria. Todas essas ações só foram e são possíveis com o posicionamento político e social do Sindicato, de ser um instrumento de luta, de construir com os trabalhadores uma história de trabalhadores. Dentro da programação de aniversário, além da revista, promovemos também o relançamento do livro “Companheiros: A hora e a vez dos metalúrgicos de Sorocaba”, uma exposição com fotos históricas das frentes e lutas da entidade e a sessão solene na Câmara Municipal de Sorocaba, onde esta edição foi lançada. Atividades em homenagem a essa categoria formada por metalúrgicos e metalúrgicas das fábricas de Sorocaba e região que demandam mudanças sociais e inspiram a evolução do mundo do trabalho. Pág. 5
Patrimônio
Da sede provisória à ampla estrutura Dois prédios próprios, três subsedes, uma colônia de férias e um clube de campo fazem parte do patrimônio do SMetal conquistados ao longo de 60 anos
ONDE O SINDICATO ESTÁ Foto: Foguinho
O Sindicato dos Metalúrgicos possui a sede principal em Sorocaba e mais 3 subsedes nas seguintes cidades: Araçariguama Iperó Piedade
Pág. 6
Fotos: Arquivo
CRONOLOGIA
1939 Primeira sede na rua Monsenhor João Soares, 97
1950 Muda-se para a rua São Bento, 43
O
1963 Passa a funcionar em sede própria na rua da Penha, 748
Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região não cresceu apenas em associados. Com o aumento no número de trabalhadores na categoria, a entidade foi ganhando também em estrutura ao longo de seus 60 anos. Tudo teve início em uma sede provisória localizada no número 97 da rua Monsenhor João Soares, Centro. Atualmente o Sindicato está situado na rua Júlio Hanser, 140, bairro Lageado, onde há dois prédios num terreno de 2.400 metros quadrados aproximadamente. No primeiro imóvel, que possui quatro andares e um auditório, funciona toda a parte administrativa da entidade. Ali também há salas onde são aplicados cursos técnicos. Já o segundo – construído mais recentemente – é composto por dois andares e um auditório. Nele estão a sala de imprensa, as salas de formação e a subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Somando-se a Sorocaba as subsedes instaladas em Araçariguama, Iperó e Piedade, a categoria conta com
45.159 metalúrgicos (números de fevereiros de 2014, conforme o Dieese). Desses, cerca de 22 mil estão associados ao Sindicato e podem usufruir do clube de campo, localizado no bairro do Éden, zona industrial de Sorocaba, e da colônia de férias da Ilha Comprida, litoral sul de São Paulo.
A colônia de férias na Ilha Comprida tem 40 apartamentos
A piscina é o carro-chefe do clube de campo
‘Aqui tem de tudo’
A Colônia de Férias do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região está situada no Balneário Britânia. São 40 apartamentos, sendo 34 com acomodações para quatro pessoas e outros seis que podem ser utilizados por seis pessoas. Há oito anos trabalhando no local, a síndica Alexandra R. S. da Silva, 42 anos, conta que de outubro a março a colônia fica completamente lotada. No entanto, nos demais meses do ano a procura também é grande. “Aqui tem de tudo”, afirma. “Temos lanchonete, churrasqueira, piscina... Há associado que vem aqui e nem vai à praia.”
Clube da família
Outro atrativo para o lazer do
1987 Instala-se, de maneira definitiva, na rua Júlio Hanser, 140
sindicalizado é o clube de campo do Éden. “Tudo começou com um simples barzinho”, lembra o coordenador José Ribamar Cunha Campos, 48. “Na época a direção do Sindicato criou um carnê e o associado que ia pagando colaborava com a expansão do clube.” A iniciativa deu mais do que certo. Prova disso é que hoje o local possui um ginásio poliesportivo com capacidade para 300 pessoas, 22 quiosques com churrasqueiras, quatro piscinas, duas saunas, quadra para futebol soçaite, palco para shows, lanchonete, salão de jogos e estacionamento para 300 veículos. O clube de campo funciona de quarta a domingo. De quarta a sexta das 9h às 20h e de sábado e domingo das 9h às 18h. “No verão já tivemos mais de 500 pessoas circulando por aqui aos fins de semana”, conta José Ribamar. “Sem dúvida o carro-chefe é a piscina, que fechamos de maio a setembro, mas nos outros meses o clube recebe um número considerável de sócios também.”
Mais a oferecer
Ainda segundo José Ribamar, o Sindicato dos Metalúrgicos possui convênios com quatro academias de ginástica – Éden, Votorantim e avenidas Ipanema e Itavuvu – e com o Pesqueiro Vitória, no bairro Brigadeiro Tobias. Além disso, a entidade colabora com a manutenção da Amaso (Associação dos Metalúrgicos Aposentados de Sorocaba). Pág. 7
SINDICATO CIDADÃO
Um conceito que mudou a trajetória da categoria
Paulo Andrade
Qualidade de vida
Há 21 anos, o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região ampliou sua atuação na sociedade para além das questões trabalhistas
Em 1992, quando o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região, Carlos Roberto de Gáspari, criou o conceito de “Sindicato Cidadão”, a sociedade brasileira vivia o final do governo de Fernando Collor de Mello. Época de inflação
Pág. 8
alta, de declínio do emprego nas indústrias e de muitas incertezas. A noção de ter “Cultura e lazer como forma de resgate da cidadania” já fazia parte da campanha dos metalúrgicos da Chapa 1, pois toda a diretoria composta tinha a compreensão de que, num período considerado como auge de demissões e de recessão, não bastava apenas reivindicar por reajuste salarial “porque no outro mês o salário já estaria defasado”, como afirma Gáspari. Era preciso então a participação ativa dos trabalhadores na política e isso implicava também no apoio público da eleição de representantes da classe trabalhadora para assumir os cargos tanto no legislativo
quanto no executivo. Dessa iniciativa foram eleitos o deputado estadual Hamilton Pereira e o vereador Izídio de Brito, além de ter conseguido eleger parlamentares nas cidades vizinhas. Depois, Lula e Dilma em âmbito nacional. Para Gáspari, o Sindicato Cidadão compreende a atuação do sindicato na sociedade pelos direitos à cidadania, como emprego, saúde, educação, habitação e cultura. José Carlos Pereira, o Peleguinho, contribuiu e acompanhou a formação do “Sindicato Cidadão”. Ex-tesoureiro da chapa presidida por Bolinha, em 1983, Peleguinho explica que o conceito surgiu da necessidade de se “entender a comunidade onde o metalúrgico mora e a situação que ele vive”.
Paulo Andrade
Ações
sociais
Edeson Souza
Da década de 90 para cá diversas ações foram realizadas para contribuir com o desenvolvimento da sociedade, de forma geral. Entre elas, campanhas de arrecadação de alimentos, em parceria com o Banco de Alimentos de Sorocaba. A entidade atende cerca de 200 instituições em Sorocaba e região, fornecendo verduras, legumes e frutas gratuitamente.
O Sindicato é um dos principais fundadores e mantenedores do Banco de Alimentos
Além dessa campanha, há as ações do Natal Sem Fome e o apoio ao Centro de Estudos e Apoio ao Desenvolvimento, Emprego e Cidadania (Ceadec), que discute a melhor forma de reaproveitamento dos resíduos sólidos, além de atuar com cooperados na reciclagem de Sorocaba.
O
embrião da
RMS
Uma das iniciativas dos metalúrgicos dentro do conceito de Sindicato Cidadão foi o Fórum de Desenvolvimento Regional, que pode ser considerada uma célula embrionária do projeto apresentado pelo deputado Hamilton Pereira, da Região Metropolitana de Sorocaba. O Fórum contou com sindicalistas e diversos segmentos da sociedade e promoveu discussões fundamentais para o desenvolvimento das cidades ao redor da cidade. (leia mais na página 22). Programa de Alfabetização de Adultos, Movimento pela Qualificação do Trabalhador, Espaço Cultural, entre outras ações estão presentes nessa trajetória. Pág. 9
um hospital
No final de 2012, junto ao mandato do vereador metalúrgico, Izídio de Brito (PT), o Sindicato liderou uma mobilização para a campanha de coleta de assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular, que é a da construção de um hospital público municipal. “O apoio do Sindicato é imprescindível porque fortalece a luta e resulta em uma conquista para toda a população”, destaca o vereador. de cultura
Todos os anos o Bloco Depois a Gente Se Vira sai às ruas abrindo o Carnaval sorocabano e sempre conta com o apoio do SMetal, tradicional parceiro. Outra união cultural que dá certo é com a ONG Grupo Imagem Núcleo de Fotografia e Vídeo de Sorocaba. O “Sindicato Cidadão” teve início no SMetal, mas devido a sua legitimidade na luta por condições mais justas na sociedade e contra as injustiças, foi acolhido também por outros sindicatos. Isso porque o conceito de Sindicato Cidadão tornou-se tese e foi aprovado, dois anos depois de ser implantado em Sorocaba, pelo Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), como orientação a ser seguida pelos sindicatos filiados à central. Conforme o atual presidente do SMetal, Ademilson Terto da Silva, o desafio continua a ser a continuidade da participação da categoria nos debates de projetos sociais. “Os trabalhadores precisam estimular a participação popular, tendo como horizonte as políticas públicas que devem ser e são elaboradas porque o metalúrgico além de um bom emprego precisa de qualidade de vida no local onde ele mora”, ressalta Terto.
Arquivo / SMetal
Atividades
Terto e Izídio durante protocolo de abaixo-assinado pelo Hospital Municipal
Gáspari no Espaço Cultural dos Metalúrgicos Paulo Andrade
Por
Foguinho
Qualidade de Vida
Comunicação
Pág. 10
Campanha Natal Sem Fome de 2001 Foguinho
O jornalismo entendido como bem social também integra esse conceito no SMetal. A entidade disponibiliza uma tiragem de 42 a 46 mil exemplares da Folha Metalúrgica, entregues em mãos pela equipe de diretores que vão de porta em porta das fábricas. Além dos assuntos trabalhistas e que envolvem o cotidiano na fábrica, também são produzidas notícias tanto no impresso quanto no site www.smetal.org.br, relacionadas aos rumos da cidade, que envolvem política, saúde, cultura e outras áreas e que são de interesse dos metalúrgicos para acompanhamento e participação. As publicações do Sindicato também costumam pautar a imprensa em geral. O contato com a sociedade em geral também aumentou a partir da entrada do Sindicato nas redes sociais, como Twitter e Facebook.
Folha Metalúrgica tem tiragem média semanal de 45 mil exemplares
Representação Foguinho
Do Sindicato surgem lideranças políticas Com o passar dos anos, entidade percebe que não deveria atuar apenas nas portas das fábricas e busca se politizar para representar o trabalhador também fora das empresas
Ao longo dos anos, o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região foi melhorando os seus mecanismos democráticos. O tempo mostrou que a entidade não poderia atuar apenas nas portas de fábricas. Mostrou ainda que os trabalhadores precisavam ser representados também quando deixam a empresa e se deparam com problemas do cotidiano, como a falta de vagas em creches para os filhos, as dificuldades para o agendamento de uma consulta médica, o transporte coletivo de má qualidade, entre outros. Assim, coube à classe se politizar e isso veio de maneira gradual. O Sindicato teve participação importante na luta pela derrubada do regime militar, na Campanha Diretas Já e em todo o processo de democratização do país. Coube ao Sindicato de Sorocaba, em particular, participar da fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores), em agosto de 1983. Diante de todos esses movimentos, foram nascendo dentro da entidade lideranças políticas. A de maior
representatividade no momento é o deputado estadual Hamilton Pereira (PT). Metalúrgico por mais de 18 anos, ele foi escolhido pelo Sindicato para disputar a eleição a prefeito em 1992. A vitória não veio naquele momento, mas a visibilidade que o pleito deu a Hamilton o lançou para um novo desafio, sempre com o apoio direto da classe metalúrgica: tentar uma vaga na Assembleia Legislativa. Ele está no quinto mandato consecutivo e pensa em alçar voos mais altos. O próximo desafio do parlamentar petista será a candidatura a deputado federal.
Cidade operária
Conforme Hamilton Pereira, a região de Sorocaba é eminentemente operária. “Trata-se de uma região que revelou e revela grandes lideranças políticas e que possui sindicatos fortes em várias cidades, além de Sorocaba”, afirma. “Atualmente uma de nossas lutas é pela redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais”, complementa.
Ainda segundo o parlamentar, os metalúrgicos foram entendendo, com o passar dos anos, que era importante participar da construção partidária. Com isso, surgiu o conceito de sindicato cidadão e os comitês de empresa. “Percebemos também que o lugar de dirigente sindical é na fábrica”, acrescenta.
Cidadania
No segundo mandato como vereador pelo PT - também eleito com o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos -, Izídio de Brito é outro que atesta que a entidade participou, de maneira ativa, do processo de redemocratização do país. “O Sindicato hoje disputa melhores condições de trabalho, melhores salários e discute políticas públicas e cidadania”, afirma. Ex-presidente da entidade de 1998 a 2007 e atualmente presidente do diretório local do PT, Izídio diz ainda que a classe metalúrgica é uma das mais solidárias. “Não somos uma classe corporativista.” Pág. 11
Arquivo / SMABC
‘O Sindicato sempre teve um lado’
Lula durante greve no ABC: grande marco na história do Brasil
Professor de história, ex-metalúrgico e presidente do Sindicato no período de 1989 a 1992, Geraldo Tittoto Filho afirma que a entidade sempre teve um lado. “Nós sempre disputamos um projeto”, diz. “Participamos ativamente da fundação da CUT e da retomada de outros sindicatos, como o dos têxteis, por exemplo”, acrescenta. Tittoto diz que não consegue ver mudança social sem participação do Sindicato, entidade que, historicamente, gera lideranças políticas. “Eu não vejo isso em outros sindicatos e nem mesmo em partidos políticos”, afirma. Na opinião do hoje professor de história e assessor sindical, há condições de se fazer mais. “O Sindicato não pode abrir mão de sua grande marca que é ousar sempre e se indignar. Marca esta muito ressaltada pelo ex-presidente Bolinha.” Pág. 12
Entidade atuante
Por sua vez, o professor Paulo Celso da Silva classifica o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região como uma entidade atuante. Segundo ele, a entidade tem uma história de luta e de participação muito ativa no movimento operário contemporâneo. “Lideranças nacionais estiveram em Sorocaba, diversas vezes, contendo o ímpeto dos sorocabanos que queriam partir para a manifestação antes mesmo do ABC deflagrá-la”, conta. A greve do ABC, inclusive, é apontada pelo professor como um grande marco da liderança brasileira e talvez latino-americana, já que muitos países também viviam sob o julgo de ditadores. “Foi a greve do ABC que fez das lideranças ali engajadas pessoas reconhecidas nacionalmente. O caso do Lula é emblemático.”
“
Em 1989, quando o Lula saiu candidato à presidência pela primeira vez, nós participamos ativamente daquela eleição. Inclusive o Lula foi o mais votado em Sorocaba e em Votorantim naquela época CARLOS ROBERTO DE GÁSPARI
“
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região de 1992 a 1995, Carlos Roberto de Gáspari, idealizador do projeto sindicato cidadão, conta que as lideranças políticas foram surgindo dentro da entidade quando a categoria percebeu que deveria ter representantes que defendessem os seus interesses. Em Sorocaba, por exemplo, a classe metalúrgica sofria diminuição. As demissões eram frequentes e prevalecia a guerra fiscal e a política econômica que não prestigiava os trabalhadores. “Com isso, nós fomos percebendo que quanto mais os metalúrgicos precisavam da gente, mais a gente estava de mãos atadas”, diz. “Não havia políticas públicas que socorressem os metalúrgicos.” Desde então o Sindicato ajudou na eleição do deputado estadual Hamilton Pereira, do vereador Izídio de Brito e do ex-vereador Arnô Pereira. A representação política se estendeu ainda para a região com a eleição de Geraldo Pinto de Camargo Filho, o
Foguinho
Levante contra o desemprego
Bolinha, Izídio e o ex-presidente Lula durante comício em Sorocaba em 2006
Geraldinho, em Piedade, e de Luiz Alberto Antunes Popst, o Luizinho, em Iperó. “Além disso, em 1989, quando o Lula saiu candidato à presidência pela primeira vez, nós participamos ativamente daquela eleição. Inclusive o Lula foi o mais votado em Sorocaba e em Votorantim naquela época”, conclui Gáspari.
“
O Sindicato não pode abrir mão de sua grande marca que é ousar sempre e se indignar. Marca esta muito ressaltada pelo ex-presidente Bolinha GERALDO TITTOTO FILHO
Hamilton Pereira (deputado federal)
Izídio de Brito (vereador em Sorocaba)
os trabalhadores
Foguinho
Foguinho
Lucas Delgado
Assessoria / CMS
Eles foram eleitos com o apoio do Sindicato e representam
“
Geraldinho Filho (vereador em Piedade)
Luizinho Popst (vereador em Iperó) Pág. 13
Foto: Foguinho
Movimentos Sociais
Pรกg. 14
Sindicato, um
instrumento
DE LUTA Desde a implantação pioneira do conceito Sindicato Cidadão, SMetal dá amplitude e apoio às lutas dos movimentos sociais e das associações de bairro
Pág. 15
Movimentos Sociais
A
Arquivo
trajetória do SMetal sempre esteve ligada aos embates trabalhistas e sociais, atento às demandas coletivas para a melhoria da qualidade de vida do trabalhador. Mesmo na ditadura civil e militar as greves em portas de fábrica foram feitas, assim como as destemidas assembleias de trabalhadores, nos três últimos anos do regime (de 83 a 85). O Sindicato participou ativamente pela redemocratização do país, como lembra José Carlos Pereira, o Peleguinho, que junto com o ex-presidente Wilson Fernando da Silva, Bolinha, participou do primeiro ato das Diretas Já, na praça Charles Miller, em São Paulo. “Sempre participamos das mobilizações populares, mesmo as maiores, nacionais”, ressalta. O professor de história e assessor de formação do Sindicato, Geraldo Titotto Filho, um dos ex-presidentes da entidade, comenta que em agosto de 1984, em São Bernardo do Campo, realizava-se o I Congresso Nacional da CUT, no qual participaram 5.222 delegados representando 937 entidades sindicais. “O Sindicato estava entre essas entidades e somava-se as entidades e dirigentes sindicais mais conseqüentes e comprometidos com os trabalhadores na época”.
Pág. 16
NOVOS RUMOS Titotto explica que após a instalação da Central Única dos Trabalhadores os sindicatos de outras categorias passaram a reconquistar suas entidades, tirando das mãos de diretorias consideradas “pelegas”. Com isso, “o movimento nos bairros, o movimento estudantil e os sem-terras também tinham nos metalúrgicos um forte aliado para suas justas causas”. Em 1985, a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos apoiou a ocupação do bairro Jardim Iguatemi, junto ao movimento por moradia de Sorocaba. A ação consta até em boletim da polícia do Dops, que pode ser acessada no acervo digitalizado do Arquivo Público do Estado (www.arquivoestado.sp.gov.br). Na ficha é citado o líder sindical Carlos Roberto de Gáspari, como uma das lideranças do Sindicato na ocupação. Com essa mesma perspectiva, de apoiar o movimento popular em busca de seus direitos e pela garantia de uma qualidade de vida, a diretoria do Sindicato também esteve junto com a população na ocupação do campo, com o MST em Porto Feliz e na Fazenda Ipanema, onde funciona o assentamento. O ex-presidente do Sindicato, Izídio de Brito Correia recorda-se também do apoio que foi dado aos moradores que sofreram reintegração de posse no Santo André 2, na zona norte e na Cruz de Ferro. “A preocupação não é apenas com o trabalhador na fábrica, mas no bairro onde ele mora, com as condições em que vive”. É o que moveu o discurso do líder metalúrgico e deputado estadual Hamilton Pereira (PT), em uma das reuniões da diretoria. Discussão essa que contribuiu para a implantação do conceito Sindicato Cidadão. Numa passagem do livro “Companheiros” (p. 220), de Carlos Araújo, Hamilton relata uma das discussões que se envolveu junto à diretoria da entidade. Ele diz que o sindicato precisava ir até o trabalhador também no local onde ele mora. “O operário, quando sai da fábrica, não deixa de ser trabalhador. Quando chega em casa, ele tem problemas no posto de saúde, no asfalto, na escola dos filhos”. Na gestão que teve início em 1992, presidida por Carlos Roberto de Gáspari, Hamilton foi vice-presidente do SMetal e nesse período, a categoria metalúrgica estava em queda, por volta dos 18 mil trabalhadores, sendo que na década de 80 era de 23 mil. O diretor do Banco de Alimentos e ex-presidente do SMetal, Carlos Roberto de Gáspari, aborda a iniciativa da Campanha Natal sem Fome, que sempre traz um tema em relevância. Em seu primeiro ano foi tratada a questão da qualificação da mão-de-obra. No segundo, foi a questão da necessidade de garantir o Fórum de Desenvolvimento Regional. “Um movimento de alfabetização, o Mova, que hoje é nacional, também nasceu dentro do Natal sem Fome. Assim como o Banco de Alimentos, que foi uma das pautas que a campanha trouxe para a cidade”.
Movimentos sociais e as lutas da juventude nunca saíram da pauta das diretorias do Sindicato. Na sede acontecem as reuniões das entidades, dos movimentos, assim como encontros e diversas atividades que a militância desenvolve. Entre elas, está o Café&Educação, mobilizado por um grupo de professores que uma vez por mês utilizam o auditório da
sede para debater assuntos ligados à educação. A juventude negra também é parceira do Sindicato e suas ações recebem o apoio da diretoria sindical. As preparações para o 1º Encontro Municipal da Juventude Negra (EMJUNE) de Sorocaba, que acontece em 20 novembro, começaram e tem seu desenvolvimento no espaço do Sindicato.
Foguinho
JUVENTUDE
Sindicato promoveu debate para marcar os 50 anos do golpe de Estado, em 31 de março de 2014. Na foto ato do Levante da Juventude
tiva de Produção Agropecuária de Agricultura Familiar São Jorge, no Assentamento Ipanema, em Iperó, foram beneficiadas com a doação de um trator zero quilômetro feita pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região. O diretor administrativo do Sindicato, Alex Sandro Fogaça, afirmou na época que a doação do trator é mais uma iniciativa da entidade que criou o conceito de Sindicato Cidadão. “E quem ganha com isso não são apenas as famílias assentadas, que passarão a ter uma renda maior, mas também a sociedade, que receberá mais opções de produtos orgânicos, que são mais saudáveis e não agridem o meio ambiente”.
Em 2013 o Sindicato doou um trator para a cooperativa de Iperó
Foguinho
Outro exemplo de atuação é o Assentamento Ipanema, no bairro Bacaetava, em Iperó, que conta com 150 lotes e está organizado em cinco cooperativas. A ocupação dos então trabalhadores rurais sem-terra aconteceu em maio de 1992. Cinco anos depois, em 1997, houve a regularização dos lotes. Os alimentos orgânicos produzidos pela Cooperativa São Jorge podem ser comprados no varejão da Ceagesp de Sorocaba, às quartas-feiras, das 16h às 22h; ou na Feira Experimental de Transição Agroecológica e Orgânica de Sorocaba, aos sábados, no Parque Municipal “Chico Mendes”, das 9h às 13h. Em outubro de 2013, 23 famílias que integram a Coopera-
Foguinho
AGRICULTURA FAMILIAR
Ato contra a reintegração de posse no bairro Santo André 2 em 2009 Pág. 17
Arquivo
Cultura
O apoio às manifestações humanas
Sindicato apoia artistas locais e da região em projetos culturais porque acredita no aperfeiçoamento da vivência em sociedade. O dramaturgo Carlos Roberto Mantovani (1950-2003) dá nome ao espaço cultural do entidade. Pág. 18
somente em manifestações trabalhistas ou para protestar por outros direitos, mas vai também para fomentar a cultura. Todos os anos o Sindicato também vai para a rua para desfilar, no tradicional bloco carnavalesco Depois A gente Se Vira, que recebe o patrocínio do SMetal. Na própria sede do Sindicato, foi criado o Espaço Cultural Mantovani, que promove exposições do Grupo Imagem, em comemoração ao Dia do Trabalhador, Dia da Consciência Negra, Dia da Mulher, e atualmente, promove a mostra itinerante da “Ditadura no Brasil”, da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal.
Confira alguns dos trabalhos mais recentes que receberam o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos
Divulgação
DVD “A Sorocabana” (2012) Uma parte da história de Sorocaba está no sangue dos amigos Tauana Fontão e Márcio Schimming. Ambos, são netos de ferroviários e se formaram na faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Produziram o documentário sobre a Sorocabana, estrada de ferro que foi a responsável pelo início da industrialização na cidade. A estrada remete a uma classe trabalhadora dona de uma distinta organização social. O documentário é um culto à memória e celebração de um modo de vida.
CD/ DVD “Arrumação”, da banda Mariamadame (2013) A Mariamadame conta com cinco músicos – Julio Moura (vocal), Leonardo Ortega (baixo), Gustavo Marques (guitarra), Bruno Barros (bateria) e Tiago Giovani (teclado) -, além de músicos de apoio nos metais e percussão. A banda já teve a honra de tocar junto com grandes nomes da música brasileira, como, por exemplo, Jair Rodrigues, Clube do Balanço, Elizabeth Viana, Paralamas do Sucesso, Pitty, Moraes Moreira, entre outros. “Arrumação” é um CD/DVD, gravado ao vivo na Usina Cultural em Sorocaba. Este trabalho conta com 12 músicas autorais.
“
O movimento sindical em Sorocaba tem uma história de apoio aos artistas da cidade. Os maiores investimentos em cultura sempre foram feitos e ainda são pelo Sindicato dos Metalúrgicos. Eu mesma tive a felicidade de contar com esse apoio quando precisei finalizar o meu DVD, “la,la,iá - um canto plural brasileiro”, que teve patrocínio da Linc, mas por conta de tantos convidados e o capricho da produção acabou precisando de uma ajuda extra para sua conclusão. Eu já participei do Coletivo de Cultura da CUT estadual e sem dúvida a Regional de Sorocaba sempre se destacou por sua atuação nessa área. MARCIA MAH
“
Foguinho
D
e acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Ademilson Terto da Silva, investir em cultura é cultivar conhecimento e respeitar as artes e os costumes dos povos. É transitar entre as diferenças que unem. Por meio da cultura pode-se também compreender melhor as mudanças de transição entre uma geração e outra. Como esse entendimento pode ser literatura, fotografia, música ou outras artes, o Sindicato sempre manteve contato direto com os artistas das diversas áreas e contribui com a formação de público, patrocinando produtos como livros, DVD’s, CDs e espaços culturais. O Sindicato não vai para a rua
DVD “Lá lá ia”, de Marcia Mah (2011) Uma mistura da cultura popular que envolve baião, valsa-choro e samba. O DVD passeia pela pluralidade brasileira, sendo o primeiro DVD autoral da cantora. Gravado ao vivo, é um produto que comemora 20 anos de trajetória da artista. A gravação aconteceu em dois dias de shows, realizados em 2010. Pág. 19
Cultura MANTOVANI: UM ARTISTA MÚLTIPLO Fez parte do grupo de danças folclóricas e Ballet Teatro, dirigido por Janice Vieira e Denilton Gomes. Entre atuações e direções, constam de seu currículo mais de 50 espetáculos. Foi autor de um livro de poesias “Redundâncias” e deixou mais de trinta textos para teatro. Mantovani dizia que experimentou e ousou demais, afugentando o público. Seus últimos trabalhos foram realizados na Oficina Cultura Grande Otelo. Em 2004, o Sindicato dos Metalúrgicos e o Grupo Imagem inauguraram o Espaço Cultural Mantovani, em homenagem a esse artista múltiplo.
Arquivo
O ator, diretor e dramaturgo Carlos Roberto Mantovani (1950-2003) aceitou o desafio de dirigir o espaço cultural do Sindicato dos Metalúrgicos, onde atuou por sete anos, de 1993 a 2000. Como um dos mais completos produtores culturais que Sorocaba conheceu ele montou um grupo experimental de teatro, que mais tarde, após sua morte, alguns membros deram origem ao Grupo Manto. À frente do espaço cultural do Sindicato, Mantovani foi o idealizador dos festivais “Curta Dança” e “Curta Teatro”.
“
Quando o Sindicato e o Grupo Imagem se encontraram, no início dos anos 2000, estávamos sem espaço até para nossas reuniões e cursos. Já os metalúrgicos precisavam de ajuda para difundir seu compromisso com a cultura. Então, foi uma parceria perfeita. Mas acredito que a
Kika Damasceno / Grupo Imagem
população foi a maior beneficiada, pois juntos promovenos inúmeras atividades artísticas e culturais. Acredito que estamos cumprindo uma missão, que é valorizar os artistas e oferecer opções de cultura para o público. EDESON SOUZA
“
Edeson Souza é presidente do Grupo Imagem Núcleo de Fotografia e Vídeo de Sorocaba, que, entre outras atividades, cuida das exposições fotográficas do Espaço Cultural Mantovani Pág. 20
Paulo Andrade
UMA TRAJETÓRIA EM LIVRO
ceu no dia 24 de abril deste ano, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, em evento especial de comemoração aos 60 anos da entidade. O lançamento do livro reuniu, em novembro de 2012, cerca de 500 pessoas na solenidade, com noite de autógrafos, realizada no salão de eventos do Monteiro Lobato, no Jardim Novo Mundo. Dezenas de dirigentes e exdirigentes sindicais, personagens entrevistados para o livro, autoridades, historiadores e jornalistas esti-
Foguinho
Rico em informações e detalhes, a obra idealizada pelo jornalista Carlos Araújo, “Companheiros - A hora e a Vez dos Metalúrgicos de Sorocaba”, e patrocinada pelo Sindicato dos Metalúrgicos traz uma galeria de imagens históricas de uma das categoriais mais representativas da região. Editado pela Loja de Ideias, “Companheiros” tem 355 páginas, apresentação do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e prefácio do historiador e jornalista sorocabano Sérgio Coelho de Oliveira. O relançamento do livro aconte-
Sandra Nascimento, da editoria Loja de Idéias; Carlos Araújo, autor do livro; Ademilton Terto, presidente do Sindicato e Sérgio Coelho, escritor do prefácio do livro Companheiros durante lançamento da publicação em 2012
veram presentes. A obra é resultado de dois anos de pesquisas e entrevistas realizadas por Araújo e relata a trajetória da categoria metalúrgica na região, desde a década de 1930 até os dias atuais. “A gente fica muito emocionado e feliz ao ver esse livro porque relata a história do Sindicato e, de certa forma, também a história do meu pai”, disse Francis Fernando da Silva, filho do ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região na década de 80, Wilson Fernando da Silva, o Bolinha, falecido em dezembro de 2008. Segundo Araújo, “Companheiros” também revela a estreita relação entre o ex-presidente Lula com Bolinha, até hoje reconhecido e respeitado por sua capacidade de organização sindical e estratégias políticas e sociais não somente em Sorocaba, mas também na região do ABC paulista, onde trabalhou e se tornou amigo de Lula, ainda nos anos 60. “Me surpreendeu saber que a história se constrói coletivamente, mas também individualmente. A partir de ideias de lideranças que tiveram coragem e compreensão avançada do momento histórico e Bolinha sem dúvida foi uma das principais lideranças”, explica. Pág. 21
Desenvolvimento Regional
Fórum de Desenvolvimento é o embrião da
Região Metropolitana Preocupação com a recolocação profissional e com a migração de pessoas de municípios da região para Sorocaba deram origem a iniciativas como a Região Metropolitana de Sorocaba
A
década de 90 foi conturbada para o país, pois além da inflação alta havia um nível assustador de desemprego. A categoria metalúrgica, de Sorocaba e região, estava em queda. Passou de 23 mil - da década de 80 - para 18 mil. Sob a presidência de Carlos Roberto de Gáspari (1992-1995/1995-1998) o Sindicato dos Metalúrgicos passou a liderar a criação do Movimento pela Qualificação Profissional. A intenção, segundo Gáspari, era de qualificar os jovens que ingressavam no mercado de trabalho, assim como dar assistência para o trabalhador desempregado. Pág. 22
Para que aumentassem as chances de recolocação profissional. No primeiro ano do Movimento duas mil vagas foram abertas em diversos cursos oferecidos em instituições como Fatec, OSE, Escola Técnica Rubens de Faria, Uniso e Senai. Além de outros cursos que estavam sendo criados por toda a cidade. Entre os cursos constam Processos de Soldagem Elétrica Tig e Mig, Operador de Empilhadeira, Leitura e Interpretação de Desenho Técnico, Radiografia Industrial, Pré-Vestibular e Inglês. No Grupo Imagem Núcleo de
Fotografia e Vídeo, que funciona na sede do Sindicato, os cursos oferecidos foram de fotografia digital, profissional e edição de vídeo.
Economia solidária
Com essa mesma preocupação surgiu como iniciativa do Sindicato o Centro de Estudos e Apoio ao Desenvolvimento, Emprego e Cidadania (Ceadec). Rapidamente, a ideia passou a receber apoio de outras lideranças sindicais e líderes comunitários, além de empresários e profissionais de diversas áreas ligados aos movimentos sociais.
Fabiana Blaseck
Deputado Hamilton Pereira participa do Circo do Desemprego, na praça Cel. Fernando Prestes, manifestação organizada por sindicalitas da CUT contra a exclusão social no ínicio dos anos 2000. Movimento deu origem ao Fórum Regional de Desenvolvimento
Gáspari e Izídio na inauguração do Ceadec, em 1999 Paulo Andrade
Voltado para a economia solidária, a criação do Ceadec como organização não governamental, em 1999, nasceu do sonho coletivo de ajudar a transformar a realidade vivida por trabalhadores de Sorocaba e região, nessa época de grande desemprego e dificuldades econômicas e sociais. A entidade realizou o trabalho de organização de cidadãos desempregados e catadores avulsos em torno da coleta seletiva dos resíduos sólidos, resultando na criação da Coreso - Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba, a primeira das diversas
Pág. 23
Preocupação com a região
Nesse contexto, a diretoria do Sindicato, na época, e o ex-líder sindical e atual deputado Hamilton Pereira preocupavam-se com essa migração. Era preciso criar empregos não somente em Sorocaba, mas nas cidades da região. Daí nasceu a ideia do Circo do Desemprego, promovido na praça central da cidade, para alertar a população e cobrar ações do governo municipal. A partir dessa iniciativa, surgiu o Pág. 24
Carlos Roberto de Gáspari ao microfone durante o Fórum de Desenvolvimento Regional promovido na Uniso
Fórum de Desenvolvimento Regional, que envolveu diversos setores da sociedade. Era necessário criar mecanismos e medidas de políticas públicas também nos municípios vizinhos. Esse foi o embrião do Projeto da Região Metropolitana de Sorocaba Lei Complementar nº 1/2014 - aprovado neste mês de abril, pela Assembleia Legislativa do Estado. As diretorias mais recentes do Sindicato dos Metalúrgicos acompanharam de perto, nos últimos nove anos, a luta do deputado estadual Hamilton Pereira (PT) - uma das principais lideranças políticas do Fórum de Desenvolvimento - pelo reconhecimento de Sorocaba como sede de uma região metropolitana. Agora, moradores e empreendedores de 26 cidades estão prestes a participar de um momento histórico: a instalação da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). Na ocasião, sindicatos de trabalhadores, universidades, Igrejas, associações empresariais, prefeitos e vereadores de vários municípios e profissionais liberais reuniram-se em torno do Fórum de Desenvolvimento para elaborar projetos que potencializassem a vocação de cada município e combatessem o altíssimo nível de desemprego da época. O próprio Hamilton cita como
parceiros nessa trajetória vários sindicatos, associações, órgãos de imprensa, prefeitos, vereadores e estudiosos locais de várias áreas, que realizaram levantamentos técnicos fundamentais para viabilizar o projeto da região metropolitana.
Foguinho
cooperativas de catadores de materiais recicláveis que foram criadas com apoio do Ceadec na região de Sorocaba, em parceria com outras instituições e organizações. A campanha Natal Sem Fome tem como característica dar destaque a um tema. No primeiro ano foi tratada a qualificação da mão-de-obra. No segundo, foi a necessidade de garantir o Fórum de Desenvolvimento Regional, baseado em um diagnóstico de que a média da população de Sorocaba crescia acima da média do Estado. Enquanto a população do Estado de São Paulo cresceu em média 2,8%, Sorocaba atingia 3,21%. De acordo com o ex-presidente do SMetal, Carlos Roberto de Gáspari, essa migração era motivada pela difusão da cidade nos jornais, como um celeiro de desenvolvimento e emprego. “Se um indivíduo trazia para a cidade uma pequena fábrica, com apenas 10 trabalhadores já ganhava destaque no jornal”, comenta Gáspari. Mas junto com essas 10 vagas havia centenas de pessoas que vinham buscar oportunidades na cidade.
Paulo Andrade
Desenvolvimento
“
Finalmente a nossa região, que já se metropolizou, se formalizará como Região Metropolitana com direto a todas as ferramentas de planejamento criadas com a Lei”,
“
HAMILTON PEREIRA
MONTE O SEU TIME E Vร AO ATAQUE CONTRA A DENGUE
Fique atento aos locais que podem acumular รกgua e mantenha-os sempre limpos e fechados. /minsaude
/minsaude
Pรกg. 25
Comunicação
Antenados AO MUNDO Desde 1992, SMetal investe na área de comunicação com o objetivo de ser uma alternativa de fonte de informação de qualidade e voltada aos interesses não apenas do metalúrgico dentro da fábrica, mas também de toda a sociedade
Pág. 26
ADEMILSON TERTO DA SILVA
Foguinho
“
A comunicação é uma ferramenta importante para o Sindicato, pois nos permite dialogar com a categoria e os demais setores da sociedade. Tanto é que fomos uma das primeiras entidades a ter uma assessoria de imprensa em Sorocaba, o que nos permitiu ser uma fonte segura para falar sobre diversos assuntos e estar constantemente na mídia
“
Com um público cada vez mais exigente, politizado e consciente da importância de buscar informação de qualidade, fora das grandes mídias presas a interesses burgueses, a comunicação voltada ao trabalhador é um seguimento que vem crescendo e se aperfeiçoando a cada dia. Hoje já são inúmeros os veículos que procuraram atender a essa demanda, como a Revista do Brasil, a Rede Brasil Atual, a TV do Trabalhador (TVT) entre outros. Seguindo o mesmo caminho, o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região também faz questão de investir em comunicação para manter a categoria e a sociedade sempre bem informadas. Atualmente, o departamento de comunicação do SMetal é coordenado pelo jornalista Paulo Rogério Leite de Andrade, e conta com outros cinco profissionais, sendo uma jornalista, um fotógrafo, dois produtores gráficos e uma estagiária. Uma estrutura responsável por manter o jornal semanal Folha Metalúrgica, um site, mídias sociais (Facebook, Twitter e YouTube), boletim eletrônico periódico, publicações especiais, materiais impressos (flyer, cartazes, livretos, revistas, cartilhas de orientação) produzir conteúdo para a TVT e ainda realizar a assessoria de imprensa da entidade. “São ferramentas pensadas para alcançar os seus públicos, que são os metalúrgicos sindicalizados ou não, e a sociedade como um todo. São também para falar com outros veículos de imprensa, com o objetivo de expressar a opinião dos representantes dos trabalhadores sobre determinado assunto, e com a própria organização sindical, através de uma rede de comunicação que envolve a CUT nacional e estadual, a Confederação Nacional e a Federação Estadual dos Metalúrgicos, além de veículos com perfil popular, como a TVT e a Rede Brasil Atual”, explica Andrade.
O presidente Ademilson Terto sendo entrevistado pelo jornalista e coordenador de comunicação do SMetal Paulo Andrade
Comunicação nasce com o Sindicato Cidadão O departamento de comunicação do SMetal foi criado em 1992, na gestão do então presidente Carlos Roberto de Gáspari. De acordo com o exdirigente, o motivo da iniciativa foi a implantação, a partir daquele momento, do novo modelo de “sindicato cidadão”, em que a atuação da entidade deixou de ser restrita apenas às questões das fábricas e avançou também para as questões da sociedade, como saúde, educação, habitação entre outras. “Até então tínhamos um panfleto chamado Jornal Zé do Aperto, que havia sido criado em 1983 com o papel apenas de fazer denúncias, que foi muito importante para mobilizar a categoria, mas era uma ferramenta de agitação. A intenção foi aumentar a nossa abrangência e passar a falar também com outros setores da sociedade. Queríamos não apenas formar, mas também informar, e daí surgiu a necessidade de uma comunicação mais ampla”, explica. Gáspari lembra que a primeira equipe nasceu com a responsabilidade de atuar em duas frentes. Uma delas era expandir o diálogo dentro da categoria, passando a envolver também o trabalhador mensalistas (das áreas administrativas das empresas), além dos horistas. A outra tinha como objetivo criar um canal de comunicação abrangente, que alcançasse a sociedade em geral. “Contratamos dois jornalista e o primeiro passo da equipe foi a criação da Folha Metalúrgica. Não adianta fazer política para a sociedade sem divulgar. Podemos afirmar que nossa força de atuação passa pela comunicação, e que ela deve crescer ainda mais”. conta. Pág. 27
Pág. 28
Valter Sanchez, diretor de comunicação do SMABC, defende a criação de novos veículos de comunicação ao trabalhador Divulgação
Crescer na área de comunicação definitivamente é uma meta do SMetal. Segundo Paulo Andrade, essa meta vai ao encontro dos objetivos do Sindicato Cidadão, que motivou a criação do departamento. “A tendência é que possamos comunicar cada vez mais com a sociedade, porque a vida do trabalhador não está somente dentro da fábrica. Ele também utiliza a saúde pública, cultura, educação, enfim, uma série de outros temas que fazem parte do seu dia a dia. Nosso compromisso é batalhar por mais qualidade de trabalho e de vida para os trabalhadores, e isso se faz atuando na sociedade”, afirma. Por esse motivo, o coordenador de comunicação do SMetal reforça o trabalho em conjunto com outras entidades voltadas ao trabalhador para fortalecer a luta por uma comunicação mais democrática, uma alternativa aos grandes conglomerados de mídia que hoje dominam a produção de informação. “Nossa intenção é que a sociedade procure compreender e aderir a essa visão de mundo a partir da ótica do trabalhador. Isso é um avanço para a democracia e para a população. É para que o filho, a esposa, a família do trabalhador tenha acesso a mais quantidade de informação e com qualidade” Quem também está nessa luta ao lado do SMetal é o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, referência quando o assunto é comunicação e que investe na manutenção de vários veículos para levar a melhor informação ao trabalhador. Entre eles estão a Tribuna Metalúrgica, o Jornal ABCD Maior, a TVT, a Revista do Brasil e a Rádio Brasil Atual, que juntos atingem um público de mais de 35 milhões de pessoas. De acordo com o diretor da área no SMABC, Valter Sanchez, o principal desafio na atualidade é justamente lutar pela democratização dos meios de comunicação. “O Brasil precisa de uma nova realidade nesta área. Ainda somos reféns de um pequeno grupo de famílias, que controla a comunicação e trabalha a favor de interesses econômicos, que não são os interesses da classe trabalhadora. Esta “grande” mídia brasileira contribui para a perpetuação do poder deste pequeno grupo. Quebrar com este monopólio e criar oportunidades para o surgimento de outros meios, que ofereçam uma comunicação livre e acessível, para todos, é com certeza nosso maior desafio. Por isso acreditamos na criação de veículos que possam fazer frente a esta dominação, colocando o trabalhador e o cidadão como protagonistas da notícia e da sua própria história”, explica Sanchez.
Divulgação
DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO
Cartaz da campanha organizada pelo Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações, com a participação de diversas entidades sociais, entre elas a CUT, para reivindicar uma nova lei geral para as comunicações no Brasil
O diretor do SMABC destaca que o início das atividades da TVT, da qual o SMetal é parceiro, já é uma vitória para toda a sociedade. “Quando falamos na conquista de uma concessão de TV para um Sindicato, estamos falando de um grande avanço, não apenas para o Sindicato dos Metalúrgicos, mas para todos os Movimentos Sociais organizados, que nunca tiveram a oportunidade de exercer este direito”, afirma. Sanchez também reforça que a criação de uma rede entre Sindicatos, Movimentos Sociais, veículos de comunicação progressistas, blogueiros e pessoas comprometidas com a democratização dos meios de comunicação no país vem fortalecer ainda mais essa luta. “Sem dúvida, é um grande passo na conquista de uma nova relação entre comunicação e sociedade”, conclui.
Foguinho
NÚMEROS DA COMUNICAÇÃO DO SMETAL
Jornal Folha Metalúrgica
Site: www.smetal.org.br 16 mil acessos por mês e 40 mil exibições de páginas. Em períodos de picos, como campanhas salariais, o movimento chega a 46 mil acessos e 150 mil exibições.
Foguinho
Média de 45 mil exemplares distribuídos semanalmente
Boletim eletrônico 2,5 mil assinantes
cadastre seu e-mail no site
6.500 curtidas
facebook.com/smetalsorocaba
YouTube
Canal com mais de 50 mil visualizações
youtube.com/smetalsorocaba
2.500 seguidores
twitter.com/smetalsorocaba
Pág. 29
Meio Ambiente
A reciclagem como ganha-pão
Foguinho
Casado por duas vezes e pai de cinco filhos, Darci de Oliveira, 54 anos, encontrou o sustento da família nos materiais recicláveis depois de não mais conseguir emprego na área metalúrgica. Ele conta que chegou a Sorocaba em 1980. Vindo de São Vicente, se instalou na cidade como comerciante. Em seguida passou para o ramo metalúrgico e trabalhou na Metal Yanes, em Votorantim. “Eu trabalhei na mesma bancada que o Bolinha (Wilson Darci de Oliveira
Fernando da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região, na década de 80, que morreu em 2008)”, afirma. No entanto, Darci admite que sequer sabia que era Bolinha. “Eu ficava intrigado quando me elogiavam, pois tinha assumido a bancada do Bolinha. Depois vim a saber de quem se tratava e claro que aquilo me encheu de orgulho.” Depois de seis anos no ramo metalúrgico, Darci ficou desempregado. Com a dificuldade para arrumar novo emprego na área, tentou novamente voltar ao comércio, o que não deu certo. “Cheguei até a ir trabalhar no Japão para não passar apuros”, lembra. De volta a Sorocaba, teve de co-
SOLUÇÃO VEM DO LIXO A situação começou a mudar quando Darci encontrou – por ironia do destino num amontoado de lixo – uma revista. Nela havia o anúncio de um curso sobre o manuseio de materiais recicláveis que seria realizado em São Paulo. “Fiz o curso e comecei a repassar aos meus companheiros tudo aquilo que havia aprendido”, conta. “Assim começamos a valorizar mais o nosso trabalho, aprendemos a dar Pág. 30
preço aos nossos materiais e o negócio começou a expandir.” Atualmente, ele é presidente da Rede Solidária Cata-Vida e ministra cursos e palestras àqueles que fazem parte da Coreso e de outras cooperativas da região. “Da reciclagem eu tiro o meu ganha-pão e quero ajudar outras pessoas a fazer o mesmo”, conclui.
meçar a recolher materiais recicláveis como tantos outros que também foram despedidos das indústrias metalúrgicas da cidade e da região. Assim, em 2002, Darci ingressou na Coreso (Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba). Na época a entidade ainda engatinhava e os cooperados mal sabiam colocar preço naquilo que eles recolhiam para revender. A maioria dos coletores, inclusive, utilizava carrinhos de mão (aqueles usados por pedreiros) para catar os materiais.
Foguinho Foguinho
Ceadec, uma entidade de referência internacional Em 1999, auge do desemprego, principalmente na área de metalurgia em Sorocaba, foi fundado o Ceadec (Centro de Estudos e Apoio ao Desenvolvimento, Emprego e Cidadania). A organização não-governamental, criada por lideranças sindicais, surgiu com o objetivo de prestar assistência aos trabalhadores de empresas que estavam pedindo falência e de apoiar a constituição de cooperativas. Passados 15 anos, hoje a entidade é referência internacional. Prova disso é que uma delegação da Venezuela veio conhecer o trabalho aqui realizado. A presidente do Ceadec, Rita de Cássia Gonçalves Viana, tamRita de Cássia bém esteve naquele país minis-
trando palestras. Além disso, a organização não-governamental recebeu, em março de 2013, o Prêmio Celso Furtado de Desenvolvimento Regional, concedido pelo Ministério da Integração Nacional. Mas, segundo Rita de Cássia, muito ainda precisa ser feito. “A Prefeitura de Sorocaba paga para enterrar mais de R$ 1 milhão em materiais que poderiam ser devolvidos à economia”, alerta. Para combater este desperdício, ela elabora, junto com o vereador Izídio de Brito (PT), que também já foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, um projeto de lei que formaliza os catadores como prestadores de serviços do Poder Público. Pág. 31
Meio Ambiente
Foguinho
Mais uma tentativa
Na verdade, em 2009 Izídio teve aprovado na Câmara um projeto cujo propósito era organizar as cooperativas, disciplinar a atuação dos ferros-velhos, fazer com que os catadores prestassem serviço à prefeitura e fossem remunerados para isso, entre outros objetivos. Mesmo passando no Legislativo, o prefeito – na época era Vitor Lippi (PSDB) – vetou a proposta. O veto, contudo, foi derrubado pelos vereadores e, em 2013, já na gestão de Antonio Carlos Pannunzio (PSDB), a prefeitura conseguiu uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) alegando que as cooperativas não têm condições de prestar serviços ao município. “Isso é uma mentira. Claro que os catadores têm condições de prestar serviços, mas não há o interesse da prefeitura”, indigna-se Izídio. “Nossa luta não vai parar por aí e vamos elaborar outra lei neste sentido.” Pág. 32
A Coreso (Cooperativa de Reciclagem de Sorocaba) conta, atualmente, com 81 catadores/cooperados que coletam cerca de 130 toneladas de materiais recicláveis por mês. A renda média mensal de cada integrante da cooperativa é de R$ 720. Ao longo de 14 anos – período de 1999 a 2013 – a Coreso acumula os seguintes números:
• Papel – 13.688,48 toneladas coletadas; • Plástico – 3.889,08 toneladas coletadas; • Alumínio – 99,66 toneladas coletadas; • Vidro – 2.055,62 toneladas coletadas; • Óleo residencial de fritura – 191,39 toneladas coletadas.
Pรกg. 33
Migração
Categoria é formada por ciclos econômicos e migratórios Sorocaba na década de 70 já apontava um fluxo entre cidades do próprio Estado de São Paulo, desempenhando o papel de pólo de atração populacional, com movimentos migratórios. É o que relata o Estudo sobre “Migração em São Paulo / Região de Governo de Sorocaba, do Núcleo de estudos de população (Nepo) da Universidade de Campinas, de fevereiro de 1993. A região de Sorocaba sempre fez parte de ciclos econômicos importantes. No século XVII como ponto de irradiação das bandeiras rumo às áreas de mineração. Em seguida, a região teve o papel de ser centro de distribuição de animais, muares, até o final do século XIX. Época em que a região se transformou em importante eixo geo-econômico entre o norte e o sul do País. Depois, com a implantação da cultura cafeeira, a região integrou-se à malha ferroviária paulista. Conforme o estudo aponta, com base em dados do Escritório Regional de Planejamento (Erplan), com a crise do café na década de 1920, intensificaram-se a produção do algodão e da cana-de-açúcar, mudando o setor agrícola. “Nesse período, o incipiente processo de industrialização que se iniciava absorvia parte da mão-de-obra procedente das áreas rurais”. O geógrafo e coordenador da pósgraduação em Comunicação e Cultura Pág. 34
Foto do livro “A enxada que plantou uma siderúrgica”
Industrialização
Conforme o estudo da Unicamp, o surto industrial na região teve início na década de 60 e o processo foi consolidado na década de 70, passando a ser um dos eixos de expansão econômica do Estado de São Paulo. “Não concordo com a visão de que Sorocaba ficou estagnada até 196070 quando inicia o outro momento industrial com as indústrias pesadas. Penso que são dois momentos que se completam e, em ambos, as imigrações são estimuladas. Também é raro um imigrante que chega sem nenhuma referência. A maioria vem com ‘o chamado’ de seu parente que já está fixado, com os nordestinos aconteceu muito isso”, contrapõe Paulo Celso.
Na década de 1980, “tivemos muitos migrantes vindo do Pontal do Paranapanema, devido aos conflitos pela posse de terra vividos na região entre o MST e os latifundiários”, aponta o geógrafo. Ainda segundo ele, Sorocaba foi uma referência, tanto pelos que já estavam aqui vindos da região como pelas possibilidades econômicas que abria. O Vale da Ribeira também é uma das áreas de expulsão do Estado de São Paulo, pertencendo ao triste “corredor da Fome”, que passa por Sorocaba rumo ao sul. “Tive muitos alunos seminaristas que vinham do Vale e eles diziam que ‘ali falta tudo’. Itaoca, também cidade do Vale, é a cidade que mais decresce no Estado. Todos esse movimentos da população das cidades e regiões do entorno de Sorocaba chegam aqui buscando melho-
Foguinho
da Uniso, Paulo Celso da Silva, explica que a migração do norte do Paraná para Sorocaba é uma constante na cidade, pois historicamente o município chegava – territorialmente - quase lá, isso quando era uma sesmaria. Depois com as rotas de muares e, posteriormente com a ferrovia, a ligação sempre foi grande. Nos vários anos de crise na agricultura do Paraná e de prosperidade no estado de São Paulo, a população se deslocava para cá.
Paulo Celso: “todos esse movimentos da população das cidades e regiões do entorno de Sorocaba chegam aqui buscando melhorias na qualidade de vida”
rias na qualidade de vida (econômica, pessoal, educacional, etc). Geralmente, Sorocaba é destino e não passagem para outros centros”, conclui. Pág. 35
Foguinho
História
Dos fornos rústicos à organização no LOCAL DO TRABALHO
OS PRIMÓRDIOS
M
esmo antes de formalizarem suas entidades representativas, no século XX, os metalúrgicos da região já estavam em plena atividade e já procuravam se organizar para melhorar a qualidade de trabalho e de vida. A região de Sorocaba é o berço da metalurgia no continente. Em 1589, os Afonso Sardinha, pai e filho, estiveram no morro de Araçoiaba (hoje morro Ipanema, em Iperó) na esperança de encontrar, principalmente, ouro. Acabaram se deparando com jazidas de magnetita. Para processar o minério eles instalaram duas forjas rústi-
Pág. 36
cas, do tipo catalãs. Pode-se imaginar o valor desse empreendimento numa época, menos de cem anos após o descobrimento do Brasil, quando todo artefato de metal, inclusive utensílios domésticos, facas, ferramentas e peças para montaria tinham que ser trazidos de Portugal. Os trabalhadores dessa fundição pioneira fundaram no morro a vila de Nossa Senhora de Monte Serrat. Com a desativação da fábrica, no início do século XVII, esses trabalhadores se deslocaram para a região onde atualmente é a Zona Norte de Sorocaba. Nesse local, fundaram a Vila de Nossa Senhora
de Itapevuçu (mais tarde, Itavuvu), onde até hoje existe o Pelourinho, símbolo do reconhecimento da vila pelo Império Português. Após a iniciativa pioneira dos Sardinha, outras se sucederam no morro Araçoiaba, como os fornos rústicos de Domingos Pereira Ferreira, construídos em 1776 para produzir ferro gusa. Voltando ao período colonial, em 1785, D.Maria I, a Louca, proíbe a produção de ferro no Brasil colônia. O objetivo era impedir a concorrência com os produtos portugueses. A proibição só foi revogada em 1795, por Luiz Pinto de Souza.
A região de Sorocaba é o berço da metalurgia no continente. Os trabalhadores da categoria passaram a se organizar em associações até a formação do atual Sindicato
Em 1808, já com D. João VI no trono, a Corte transfere-se para o Brasil para fugir do exército de Napoleão. Logo em seguida, D. João pede para especialistas em siderurgia projetarem uma grande indústria de fundição para o Brasil. Em 1810, por carta régia, D. João cria a Companhia Montanística das Minas Gerais de Sorocaba, depois rebatizada como Fábrica de Ferro de São João do Ipanema. As poucas dezenas de trabalhadores do local - cerca de 14 estrangeiros assalariados e muitos escravos - construíram nas imediações da fábrica a primeira represa e a primeira roda d’água do País, e
também uma rede de canais para obtenção de força hidráulica. Datam dessa época requerimentos de escravos que, orientados por técnicos estrangeiros, solicitam à gerência condições básicas de subsistência, como roupas, alimentos, cobertura para alojamento, entre outras. O objetivo dessas primeiras “pautas de reivindicações”, nos argumentos dos próprios escravos, era simplesmente conter a fome e a incidência de doenças entre os trabalhadores e seus familiares. Em 1865 a fábrica começa a produzir armas para a Guerra do Paraguai. É desse período a construção da Fábrica de Armas Bran-
cas, uma das edificações mais imponentes do local. Os operários comandados por Mursa também constroem uma estrada de ferro para transportar minério, iniciativa pioneira para a época. Mais tarde, essa linha férrea deu início à ligação por trem entre a Fábrica de Ferro e São Paulo, através de Sorocaba e São Roque. Ao longo do século XIX, a Fábrica de Ferro de Ipanema produziu pregos, martelos, arames, arados, vasos, cruzes de ferro, sinos, escadas e gradis, atendendo as mais diversas encomendas. A fábrica encerrou suas atividades em 1895. Pág. 37
História
AS PRIMEIRAS ORGANIZAÇÕES O atual Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região começou a ser forjado em 18 de junho de 1939, como Sindicato dos Operários Metalúrgicos e Classes Anexas de Sorocaba, em assembléia promovida na sede do Sindicato dos Operários Tecelões, que ficava na Rua Padre Luis, Centro. De acordo com pesquisa histórica promovida pelo professor e assessor de formação do SMetal, Geraldo Titotto Filho, na ocasião, o representante do Departamento do Trabalho, Angelino de Góes Filho, solicitou junto à Assembléia a aclamação dos membros da Junta Governativa para dirigir o destino do Sindicato a ser fundado nessa oportunidade. Foram aclamados os seguintes membros: Presidente - Petronilho Damasceno de Lima, Osório Telles de Medeiros - Vice Presidente, Raphael Cezarote - 2º secretario, Manoel Vieira - 1º tesoureiro, Luiz de Oliveira - 2º tesoureiro. Essa entidade funcionou na rua Monsenhor João Soares, nº 97, a partir de 19 de dezembro de 1939, custeada pela contribuição dos associados. No Brasil, da Era Vargas, sob o signo do Estado Novo, o mundo assistia, perplexo, a perversidade do fascismo italiano e do nazismo alemão, que escreveram uma das páginas mais tristes da história humana: a Segunda Guerra Mundial. PanoraPág. 38
ma que apresentou uma nova divisão, no que diz respeito à influência do mundo: a bipolaridade entre os Estados Unidos da América (Capitalismo) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (Socialismo).
Nova assembleia
Foi assim que, após um período de inércia, operários, pró-socialismo, realizaram uma Assembléia Geral, em Sorocaba, para instalação da Associação Profissional dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de Sorocaba. A Assembléia ocorreu no dia 24 de fevereiro de 1946, na sede do Movimento Unitário dos Trabalhadores/Seção Sorocaba, na rua Brigadeiro Tobias, número 42. Essa entidade, com certeza, foi o embrião do atual SMetal e sua primeira diretoria foi composta pelos operários: Benedito Ferraz - Presidente, Francisco Leão Filho - Secretário e Leandro Daniel de Lima - Tesoureiro. Para o Conselho Fiscal, foram escolhidos os operários Zacarias Augusto Fonseca, Oswaldo Teixeira e Arlindo Finessi. A Associação centrou sua atuação em três eixos: na consolidação da própria entidade, no auxílio médico e jurídico aos seus associados e na defesa dos interesses dos operários, no que diz respeito a relação Capital X Trabalho. No dia 9 de setembro de 1946,
participou, através de seu Presidente Benedito Ferraz, do I Congresso Sindical dos Trabalhadores do Brasil, realizado no Rio de Janeiro, sob o patrocínio das Federações dos Trabalhadores e do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Em 1947, aderiu em Assembléia da categoria, à Confederação dos Trabalhadores do Brasil - CTB. A eleição de dezembro de 1945 tinha levado o General Eurico Gaspar Dutra à Presidência da República e os principais atos desse governo apontam para a criação de escolas primárias e de cursos de alfabetização de adultos, à proibição do jogo em todo o território nacional e a supressão do Partido Comunista do Brasil - PCB. Este último ato, violentou as liberdades e feriu profundamente as organizações operárias, incluindo a Associação dos Metalúrgicos. Com a perseguição interna, somada à crise provocada pela Segunda Guerra, com o desemprego e a crise econômica os operários caíram na defensiva dentro das fábricas. Em 1950, houve nova eleição, com a diretoria composta pelos operários: Ernesto Bastos - Presidente, Oswaldo Cruz - Secretário, Fausto de Oliveira - Tesoureiro e Fioravante Sajo, Benedito Nascimento, Sílvio Sajo, Benjamim Silveira Costa, Pedro Gomes do Nascimento, Luis Correa, João Maturano e Hermínio Sajo, para o Conselho Fiscal.
A CARTA SINDICAL Por intermediação do deputado Ortiz Monteiro, no dia 12 de abril de 1954, a associação obteve a carta sindical do governo de Getúlio Vargas Arquivo/SMetal
Os metalúrgicos de Sorocaba, que tiveram a Associação reconhecida desde 1946, conseguem no dia 12 de abril de 1954, serem contemplados, com o reconhecimento de seu Sindicato, recebendo do Governo a tão esperada “Carta Sindical”. Compunham a Diretoria os operários: Ernesto Bastos Netto, Fioravante Sajo, Benedito Rosário do Nascimento, Hermínio Sajo, Benjamim Silveira Costa, Benedito de Almeida, Euclides Cavichiolli, Jairo Castro e Luiz Rodrigues da Cruz. A comunicação foi feita através de telegrama enviado por José Sanches Duran, então Presidente da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Estado de São Paulo. O Sindicato tinha sede social na rua São Bento, nº 225. A primeira Diretoria foi empossada no dia 19 de setembro de 1954, composta pelos seguintes membros: Ernesto Bastos, como presidente, Jairo de Castro, secretário e Benedito Rosário do Nascimento, tesoureiro. Hermínio Sajo, Francisco Daniel e Nicolau Sajo eram suplentes da diretoria. Nesse período, estavam associados ao Sindicato aproximadamente 450 operários.
Imagem de meados dos anos 90 reúne Carlos Roberto de Gáspari, então presidente da entidade (1992/95 e 95/98); Wilson Bolinha, presidente de 83/86 e 86/89; Hermínio Sajo e Fioravante Sajo, diretores da década de 50; Benedito Ferraz, presidente em 1946; e Geraldo Titotto Filho, presidente do Sindicato de 1989 a 1992
DESTITUIÇÃO DA DIRETORIA ELEITA No ano de 1963, o Sindicato muda-se para a sua sede própria, na rua da Penha, 748, local onde funcionou até adquirir a atual sede, próxima à rodoviária. Mas com o golpe de estado em 1964, a realidade do país mudou radicalmente, com as perseguições políticas e sociais. Houve intervenção nos Sindicatos e foram nomeadas pessoas de confiança dos empresários para substituir as diretorias combativas.
Essa violência acabou acontecendo no Sindicato e revezaram-se nos cargos de direção, entre outros: Carmo Ferreira da Silva, Benedito Abrão, Sidney Soares, Wantelino Ribeiro, Benedito Dias Batista, Luis Nunes Ferreira, Roque Machado, Rubens Tagliarini e Antonio Mauro de Abreu. Foram 19 anos de colaboração de classes, suspensão das lutas e esvaziamento da entidade. Pág. 39
Arquivo/SMetal
História
Batistão e Bolinha, dois dos principais líderes sindicais da região de Sorocaba da década de 80, ao lado de Lula, na antiga sede do Sindicato na rua da Penha
NOVO SINDICALISMO Nos dias 16, 17 e 18 de agosto de 1983 houve eleições e concorreram três chapas: A Chapa 1 foi composta por lideranças políticas da cidade, militantes das fábricas e por um racha na situação, que se diziam inocentes úteis da antiga diretoria; a Chapa 2 foi formada só por membros ligados à Federação dos Metalúrgicos, não caracterizando nenhuma mudança; e a Chapa 3 formada pelas novas lideranças vindas do ABC, mais militantes sindicais de Sorocaba. Esta última, encabeçada por Wilson Fernando da Silva, Bolinha, que venceu as eleições, apresentando entre outras, as seguintes propostas: a) lutar pela organização da classe trabalhadora e pela sua libertação; b) pelo fim da estrutura sindical atrelada ao governo e aos patrões; c) por uma Central Única dos Trabalhadores; d) lutar ainda pela estabilidade no Pág. 40
emprego, por CIPAs eleitas democraticamente, por salário igual para trabalho igual, pelo contrato coletivo de trabalho, pelo direito de greve, pelo salário desemprego etc. Processo de redemocratização Em novembro de 1983, foi lançada a “Campanha das Diretas” para presidente e os diretores do Sindicato dos Metalúrgicos participaram desse processo. As primeiras manifestações não levaram mais que 10 mil pessoas. Em janeiro de 1984 já eram 300 mil na Praça da Sé, em São Paulo e no dia 16 de abril, mais de um milhão no Anhangabaú, em São Paulo. Após rasgar o silêncio imposto pela ditadura militar, com a realização de enormes greves no final da década de 70, o movimento sindical caminhava para a consolidação de um antigo sonho: “criar uma central sindical”, mesmo com a proibição da legislação vigente na época.
Em agosto de 1984, em São Bernardo do Campo (SP), realizava-se o I Congresso Nacional da CUT, participaram 5.222 delegados representando 937 entidades sindicais. O Sindicato estava entre essas entidades e somava-se as entidades e dirigentes sindicais mais conseqüentes e comprometidos com os trabalhadores na época. As várias lutas ocorridas na categoria, ainda em 83 e principalmente na campanha salarial, em abril de 84, trouxeram várias conquistas, entre elas: as “Comissões de Fábrica”. Assim, ocorre o I Encontro dos Trabalhadores Metalúrgicos de Sorocaba (Comissões e Grupos da Fábrica), em Praia Grande (SP), nos dias 16 e 17 de junho de 1984. O movimento nos bairros, o movimento estudantil e os sem-terras já tinham nos metalúrgicos, um forte aliado para suas justas causas.
Com um sindicalismo pioneiro a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos, na década de 90, além de defender o chão de fábrica, a entidade passa a defender os direitos trabalhistas nos bairros, na cidade, no país. Em resumo, pelos direitos de cidadania, tais como educação, cultura, saúde, habitação, emprego, participação política, informação e lazer, entre outros. A implantação desse conceito entre os metalúrgicos de Sorocaba, em 1992, resultou em diversas parcerias, ações sociais, respeitabilidade social e conquistas políticas para a categoria. • Criação da Campanha Natal Sem Fome de Sorocaba (1993); • Estreitamento das relações com lideranças comunitárias e religiosas, entidades filantrópicas e universidades;
• Desenvolvimento de parcerias para qualificação profissional nas sedes; • Defesa do Sindicato Cidadão em Congressos, Encontros e Seminários da CUT, etc. (Leia mais sobre o conceito Sindicato Cidadão na página 8) Paulo Andrade
Paulo Andrade
O ex-presidente do Sindicato, Carlos Roberto de Gáspari, na década de 90
O SINDICATO CIDADÃO
Geraldo Titotto, ex-presidente do Sindicato de 89 a 92
ANOS 2000 A partir do ano de 2000, com a liderança de Izídio, que dirige o Sindicato até 2010, quando se afasta para assumir a vereança em Sorocaba, o Sindicato adota uma nova forma de organização: os Comitês Sindicais de Empresa. Contrariando a legislação vigente, a Diretoria foi ampliada e a Organização no Local de Trabalho OLT, passou a ser prioridade. Para fazer parte da Diretoria, o trabalhador deveria primeiro ser eleito pelos trabalhadores da empresa onde trabalha e só depois, num segundo turno, ser eleito diretor do Sindicato. O resultado foi significativo, aumentou a representatividade e a participação da categoria - mais de 50
fábricas contavam com CSEs, o que garantiu conquistas importantes, inclusive de aumento real nos salários. Na relação com a sociedade, o projeto iniciado com a Campanha Natal Sem Fome evoluiu, dando origem ao Banco de Alimentos, que desde sua fundação tem diminuído as desigualdades em nossa cidade e permitindo vida digna a centenas de indivíduos socialmente excluídos. No plano político, Izídio de Brito foi eleito vereador em Sorocaba com uma proposta de mandato popular e de consulta permanente às bases. Em seu lugar, assume Ademilson Terto da Silva, diretor do Sindicato desde 1995, reeleito nas eleições de 2011, liderando a Chapa 1.
Paulo Andrade
O ex-presidente do Sindicato Izídio de Brito liderando assembleia de trabalhadores em cima do carro de som
Pág. 41
Economia
Ascensão metalúrgica COMO A CATEGORIA DESBANCOU OS FERROVIÁRIOS E OS TÊXTEIS PARA SE TORNAR A PRINCIPAL FORÇA ECONÔMICA DE SOROCABA
Pág. 42
minho e contribuiu para o crescimento do setor metalúrgico. O Brasil já estava na era do automóvel e o presidente Juscelino Kubitschek promoveu o incentivo Divulgação
O setor de metalurgia é, atualmente, o que mais emprega em Sorocaba. A mais recente pesquisa realizada pelo Dieese do SMetal, com dados de 2013, aponta que cerca de 35 mil trabalhadores estão registrados na categoria. Mas nem sempre foi assim. Para chegar a esse ponto, a indústria metalúrgica se aproveitou de momentos fundamentais da economia brasileira para se desenvolver e ganhar espaço na cidade. A primeira expansão foi na década de 1970, quando teve início uma invasão de empresas metalúrgicas em Sorocaba. Até então, eram as industrias têxteis e a ferrovia as responsáveis por conduzir a economia local e dividir o quadro salarial na cidade. Porém, em meados do século XX, os dois setores começaram a entrar em declínio, o que abriu ca-
Geraldo Bonadio
para ampliar a indústria de veículos no país, tendo como contrapartida a exigência de que os carros fabricados tivessem componentes produzidos em solo abrasileiro. Como em São Paulo as regiões industriais já estavam saturadas, as empresas tiveram que buscar novas localidades para instalarem suas plantas e o governo estadual criou incentivos fiscais para que as cidades pudessem recebê-las. Sorocaba agarrou a oportunidade. A localização geográfica do município, próxima da capital e entre o porto de Santos e o caminho para o interior do estado foi um diferencial. Além disso, Sorocaba havia se beneficiado com a recente construção da rodovia Castello Branco, que favoreceria o escoamento da produção. Juntou-se a esses fatores a vasta mão de obra experiente e qualificada
Paulo Andrade
existente na cidade, proveniente das oficinas da Sorocabana. “O resultado foi que em 1969 chega a Faço (Fábrica de Aço Paulista) para iniciar a expansão industrial na cidade, que se consolidaria a partir da década de 1970, com a criação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Industrial e a vinda de muitas outras
fábricas”, conclui o historiador. Segundo o jornalista e historiador Geraldo Bonadio, autor do livro “Sorocaba, a cidade industrial”, as fábricas de tecido de Sorocaba, que haviam se instalado no final do século XIX não evoluíram para acompanhar as exigências do mercado e foram perdendo competitividade.
Neste mesmo período, a estrada de ferro Sorocabana também começou a entrar em decadência, com o fechamento sistemático de vários ramais, as ligações entre cidades. “Nesse momento, Sorocaba se viu na necessidade de planejar um novo desenvolvimento industrial”, conta o historiador.
Depois de um período de estagnação e até mesmo retração, durante os anos 1980 e 90, em que o setor metalúrgico chegou a contar com cerca de 20 mil trabalhadores, um outro momento histórico que contribuiu para fortalecer o setor metalúrgico em Sorocaba foi nos anos 2000, mais precisamente a partir de 2002, com e eleição de Lula para a presidência do Brasil. De lá pra cá, segundo dados do Dieese, a categoria viu seu quadro de funcionários crescer 110% na região. “A grande locomotiva para essa evolução foi a expansão do mercado interno brasileiro, graças a políticas
de inclusão social, o acesso ao crédito e a valorização do salário mínimo. Com isso, uma enorme parcela da população que estava à margem do consumo, passou também a movimentar a economia”, explica o economista Fernando Lima, responsável pela subseção do Dieese do Smetal. “Com isso, viu-se aumentar a necessidade de produção do setor metalúrgico para atender a demanda do mercado, aumentando a procura por mão de obra nas indústrias e, por conseqüência, a criação de novos postos de trabalho, não apenas em Sorocaba, mas em todo o Brasil”, conclui.
Foguinho
Nova era de crescimento
Pág. 43
Economia
Trabalhador e industria:
uma evolução conjunta MÃO DE OBRA QUALIFICADA E PROPOSITIVA DA CATEGORIA FORTALECE E SEDIMENTA O DESENVOLVIMENTO DO SETOR METALÚRGICO NA CIDADE
Foguinho
A vocação metalúrgica de Sorocaba se deve muito ao perfil do trabalhador local, que ao longo do tempo tem mostrado uma personalidade crítica e propositiva, que além de fomentar uma sociedade mais desenvolvida, auxilia a indústria a evoluir em processos e produtividade.“É uma característica do metalúrgico da nossa região ter essa postura, de buscar uma melhoria
Pág. 44
contínua para uma vida com mais qualidade dentro e fora de empresa, de estar atento a todo o processo em que está envolvido e encontrar soluções para as dificuldades enfrentadas”, explica o presidente do Sindicato, Ademilson Terto. Segundo o dirigente, essa condição faz parte também da política do SMetal. “Desde 1992, quando fizemos uma pesquisa para detectar as
demandas do mercado, iniciamos uma série de cursos de capacitação, que aumentam a cada ano devido ao interesse do trabalhador em aumentar seu conhecimento”, diz Terto, ao destacar que atualmente o sindicato busca parceria com universidades para oferecer cursos de graduação aos metalúrgicos. “As empresas querem esse tipo de funcionário, que não ficam estagnados, que sugerem melhorias, que pensam e dialogam amplamente“, ressalta o dirigente. Para o historiador Geraldo Bonadio, o desenvolvimento de Sorocaba se confunde com o setor metalúrgico pois além de ser o grande empregador, tem formado uma postura diferente do trabalhador em relação à vida pública, com a formação de lideranças políticas. “Isso fortalece a democracia participativa e mostra que há uma preocupação da categoria em como a cidade pode se desenvolver de forma sustentável, o que é importante para o setor industrial também”, afirma.
Movimentação econômica Responsáveis por 30% da massa salarial de Sorocaba, metalúrgicos fazem movimentar a economia da cidade com mais de R$ 120 milhões mensais O economista destaca, ainda, que neste estudo não são levados ainda em consideração os valores de PPR (Programa de Participação nos Resultados), o que faz aumentar ainda mais a relevância da categoria na economia local. “E hoje esse recuro aumentou, pois com a nova legislação só há cobrança de imposto sobre o PPR acima de R$ 6 mil”, explica o economista. Assim, quem comemora são os trabalhadores, como o operador de máquinas Jefferson Fernandes, e o comércio da cidade. Isso porque o metalúrgico de 27 anos, e que há cinco trabalha na Prysmian, pretende gastar a verba do PPR nas lojas de Sorocaba e Votorantim para realizar o sonho de se casar. “Com esse dinheiro já consegui dar entrada em um apartamento e este ano vou utilizar o recurso para organizar a minha festa de casamento”, conta.
“
Dos 203 mil trabalhadores registrados em Sorocaba, quase 34 mil são metalúrgicos
“
FERNANDO LIMA
Foguinho
Se o setor metalúrgico já é relevante em relação ao número de postos de trabalho gerados na região, é ainda mais importante quando se trata de injeção de recursos na economia local. Segundo relatório elaborado pelo Dieese do SMetal, referente ao mês de fevereiro deste ano, a categoria foi responsável por 30% da massa salarial de R$ 406,6 milhões gerada na cidade. Um número que representa mais de R$ 120 milhões que são gastos, principalmente, nas áreas de comércio e serviço locais. Segundo o economista da subseção do Dieese Fernando Lima, esse volume de dinheiro tem uma grande relevância pois mostra a importância da categoria para a economia. “Dos 203 mil trabalhadores registrados na cidade, quase 34 mil são metalúrgicos, o que representa 18% do total, porém, em relação à massa salarial, a categoria representa 30%, ou seja, tem uma representação ainda maior. Vale lembrar que um emprego metalúrgico gera outros quatro postos de trabalho em toda a cadeia da economia”, destaca Lima.
Pág. 45
Gabrielli Duarte
Perfil
Quem é e como vive o metalúrgico de hoje Com o objetivo de conhecer quem forma a categoria atualmente, o SMetal reúne estudos econômicos e sociais, realizados pela subseção do Dieese local e pela empresa Casa da Pesquisa, e traça um perfil do trabalhador que atua em Sorocaba e região
Pág. 46
Assim como a sociedade em geral, a categoria metalúrgica também enfrenta diversas transformações com o passar do tempo. Uma nova conjuntura social, as evoluções tecnológicas de equipamentos, processos e produtos, além da necessidade de se adequar a um mercado globalizado, fazem com que o trabalhador que hoje atua nas fábricas não seja igual àquele de 60 anos atrás. Por isso, o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região reuniu os resultados de estudos realizados pela subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e Casa da Pesquisa, para traçar um perfil do metalúr-
gico atual e projetar quais são as tendências futuras da categoria. De início, vê-se que os homens ainda são a maioria dentro das indústrias metalúrgicas. Segundo informações coletadas do Rais (Relatório Anual de Informações Sociais) de 2012, do Ministério do Trabalho e Emprego, 81% dos cerca de 43 mil trabalhadores registrados nas empresas de Sorocaba e região (formada por 14 municípios) são do sexo masculino e 19% mulheres. Já a faixa etária predominante na categoria entre 18 e 29 anos de idade, volume que corresponde a 39,83% do total metalúrgicos. Mais da metade do total de trabalhadores é casada (55%)
As conquistas acumuladas pela categoria, através de lutas históricas, se refletem no bolso dos metalúrgicos, que hoje podem se permitir re-
Pesquisa e Casa da Sorocaba ese Metal úrgicos de seção Die
Poder aquisitivo maior
alizar novos sonhos. Quando o tema é férias, por exemplo, a maioria dos trabalhadores afirma que hoje não dispensa a oportunidade para conhecer novos lugares. De acordo com a pesquisa, 65% aproveitam o período para viajar, sendo que 33% pretendem viajar nos próximos meses e 22%, dos que já costumam passear por aí, planejam melhorar o próximo roteiro. O aumento no gasto com viagens contribui para mostrar que o metalúrgico, além de ter conquistado um melhor poder aquisitivo, também já concretizou outros objetivos maiores. Isso porque 72% dos entrevistados já conseguiu comprar a casa própria, 70% possui um automóvel, 90% têm máquina de lavar, 67% contam com TV de Led/LCD e 62% são clientes de TV por assinatura. Desta forma, o trabalhador atual pode pensar em adquirir novos bens de conforto, sendo que na lista de principais desejos, além de viagens, estão home theater (34%), notebook (30%) e smartphone (28%).
Fonte: Sub
e segue a religião católica (62%). Em relação ao grau de escolaridade, prevalece o operário com formação de nível médio, que representa 63,31% da ocupação dos postos de trabalho. Porém, a perspectiva é que a escolaridade dos metalúrgicos aumente consideravelmente nos próximos anos, já que 13% dos trabalhadores ainda estão estudando e 57% afirmam que pretendem dar continuidade aos estudos. A vontade de ampliar o conhecimento se comprova com os dados sobre o uso da tecnologia. Segundo a pesquisa, 81% dos metalúrgicos têm computador em casa e 82% utilizam a internet, sendo que desse total de usuários 60% acessa a rede mundial de computadores todos os dias. Dentro do universo virtual, o Facebook encabeça a lista de redes sociais mais utilizadas pelos trabalhadores, com 59% da preferência. Além disso, 47% têm o costume de visitar o site do SMetal para buscar informações e se manterem atualizados sobre as notícias da categoria. Mesmo com a influência cada vez maior do computador, o metalúrgico não dispensa a prática das atividades física e cultural para se divertir. Como de costume, o futebol é o esporte mais praticado pela categoria, mobilizando 52% do total de trabalhadores. E o local mais utilizado para jogar bola são os espaços públicos (32%). Já a música é a atividade cultural que mais agrada o metalúrgico (62%), seguida da ida ao cinema (49%). Mas no tempo livre, o que o metalúrgico ainda prefere é assistir televisão, com a preferência de 47% dos entrevistados.
Pág. 47
Perfil
30% a menos... é o que recebe a mulher metalúrgica em comparação ao homem pela mesma atividade desenvolvida. A equiparação salarial segue como uma das principais lutas dos trabalhadores para combater à discriminação de gênero.
Preocupação social
O metalúrgico atual mostra uma compreensão maior da importância da organização e mobilização dos trabalhadores para buscar novas conquistas, não apenas por melhorias nas condições de trabalho, mas também por uma sociedade mais justa. De acordo com o estudo, 94% dos metalúrgicos consideram importante ter um sindicato que represente a categoria, e 86% entendem que esse mesmo sindicato deva se envolver em outras questões, como lutar por políticas públicas que envolvam temas como educação, saúde, habitação entre outras. As três maiores preocupações sociais do metalúrgicos são, na ordem decrescente: Saúde geral (87%), educação geral (70%) e segurança (34%). Por outro lado, 83% dos trabalhadores avaliam que o Brasil, em comparação com décadas anteriores, melhorou em relação ao desemprego, inflação e miséria.
Desigualdade
Quando se fala de remuneração Pág. 48
geral na categoria, a análise indica que 54,38% dos trabalhadores recebem até quatro salários mínimos. Porém, dentro das frações específicas, a maior quantidade de metalúrgicos (23,64%) se enquadra na faixa de 2,01 a 3 salários mínimos. Se por um lado a pesquisa do SMetal mostra a evolução da categoria metalúrgica, com um trabalhador interessado em ampliar a sua qualificação, atento a novos conhecimentos, com um poder aquisitivo melhor e preocupado com questões sociais, por outro apresenta um dado que tem sido motivo de luta constante da categoria: a busca pela igualdade salarial entre homens e mulheres. Segundo as informações coletadas, enquanto operários do sexo masculino ganham em média R$ 3.379,64, as mulheres recebem 30% a menos, ou seja, R$ 2.333,64, para desenvolverem a mesma função. Uma prova de que a luta metalúrgica, assim como a sociedade, ainda precisa avançar para conseguir que homens e mulheres tenham os mesmos direitos.
Depoimentos
Fotos: Foguinho
Memórias Sindicais “As várias lutas ocorridas na categoria metalúrgica, ainda em 1983, e, principalmente, na Campanha Salarial, em abril de 1984, trouxeram várias conquistas, entre elas: as “Comissões de Fábrica”. Era o resgate da credibilidade da entidade à frente das lutas dos metalúrgicos e era fundamental democratizar as instâncias de decisão. Os CSEs são a continuidade deste processo...”
Geraldo Titotto Filho Ex-presidente do SMetal e assessor de formação “O Sindicato marcou minha vida toda, porque era a paixão do Wilson. Convivi muito com a realidade que não era fácil, pegamos um período da ditadura, depois vieram as dificuldades financeiras também, mas tudo foi superado, porque a causa era justa”.
Lucília Rocha da Silva Esposa do ex-presidente do SMetal, Wilson (Bolinha) “Um dos momentos mais marcantes que vivi como militante sindical foi na greve geral de 1983, quando fizemos assembleia com milhares de trabalhadores de Sorocaba e região, na antiga Concha Acústica. Depois, descemos para Votorantim, porque a Splice não tinha parado. Os trabalhadores balançaram os portões da fábrica e a fábrica parou. Foi muito significativa”. Carlos Roberto de Gáspari Ex-presidente do SMetal e diretor do Ceadec
A história dos 60 anos do Sindicato só pode ser contada graças à dedicação e empenho de pessoas que têm em seus horizontes a perspectiva da transformação da sociedade. Seguem depoimentos de algumas dessas personalidades. “Na eleição do Sindicato de 1983, que tinha Bolinha como presidente, eu era tesoureiro e lembro que era final da ditadura, começava um período de democratização do país, com o início das grandes mobilizações populares. Nós do Sindicato participamos do primeiro ato das Diretas Já, na Praça Charles Miller, em São Paulo. Fomos o primeiro Sindicato que a CUT deu posse”. José Carlos Pereira, Peleguinho Assessor parlamentar e ex-diretor sindical “Esse Sindicato, desde a eleição de 1983, se revelou como um dos instrumentos de organização da classe trabalhadora de Sorocaba e região, com grande importância para a constituição da CUT. E contribuímos com outras categorias de trabalhadores, como os sindicatos dos têxteis, dos rodoviários, papeleiros, entre outros”.
Hamilton Pereira Ex-sindicalista metalúrgico e deputado estadual (PT)
“Para mim, um marco foi em 1992 com a votação e criação do Sindicato Cidadão. Havia duas chapas, uma que defendia a participação cidadã e a participação em políticas públicas e outra chapa mais voltada para o corporativismo. Nessa época, a sociedade estava desprovida de espaços de lazer, os bairros necessitavam de asfalto e outras lutas precisavam começar a ser feitas”.
Izídio de Brito Correia Ex-presidente do SMetal e vereador pelo PT Sorocaba
Pág. 49
Solidariedade
Banco de Alimentos
A missão de ser SOLIDÁRIO Mesmo tendo em sua base as questões sociais há 60 anos, o SMetal não se limitou apenas às lutas de portas de fábrica; foi além, proporcionando até os dias atuais ajuda solidária à população carente, a desabrigados, e à própria categoria metalúrgica
Em 2011 Sindicato ajudou 170 trabalhadores da Saturnia que estavam meses sem salário enquanto a empresa estava sem produção. Pág. 50
Em 2010 a campanha SOS Nordeste arrecadou doações e enviou uma carreta com 25 toneladas de donativos para vítimas das fortes chuvas em Alagoas e Pernambuco
Moradores fazem barreira contra polícia às vesperas do despejo no bairro Santo André 2
Há décadas a solidariedade é uma das marcas do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região. Ao ajudar o próximo, a entidade retrata o perfil da própria categoria profissional que representa. A solidariedade dos metalúrgicos se traduz de várias formas, seja colaborando com lutas sindicais de outros segmentos ou movimentos sociais, seja investindo em campanhas e organizações voltadas para a filantropia. Desde a década de 80, os metalúrgicos vêm participando como
apoio em ações voltadas à garantia de moradia, por exemplo. Foram esses os casos das lutas contra despejo de famílias, nos últimos anos, nos bairros Cruz de Ferro e Santo André 2. “A solidariedade entre a classe trabalhadora sempre foi, na História, um pré-requisito para o fortalecimento do segmento operário na sociedade e para difundir a fraternidade no modo da população organizar os movimentos sociais”, afirma Carlos Roberto de Gáspari, ex-presidente do Sindicato.
Também motivado pelo espírito de solidariedade, a entidade sindical presta ajuda a metalúrgicos que passam por necessidades devido à falta de compromisso de algumas empresas com os salários dos seus funcionários. Em caso de greves prolongadas, por exemplo, muitas vezes o Sindicato foi o responsável por fornecer cestas básicas para trabalhadores que tiveram a remuneração cortada devido a falta de disposição das empresas em negociar as reivindicações trabalhistas.
Em 2009 o Smetal apoiou os moradores do bairro Cruz de Ferro que estavam sob ameaça de despejo
Em 2011 Sindicato esteve ao lado de moradores do Santo André 2 que foram despejados de suas casas
320 famílias foram afetadas pelo despejo no Santo André 2, a pedido do empresário Luiz Ramires Pág. 51
Solidariedade
Em outros casos, como recentemente aconteceu na Meratec, em Sorocaba, o Sindicato forneceu alimentos para as famílias de metalúrgicos porque a empresa fechou as portas sem quitar as verbas trabalhistas dos funcionários. Nesse caso específico, a distribuição das cestas básicas foi realizada, dia 23 de abril, em frente à empresa Schaeffler, que contratava os serviços terceirizados da Meratec e que,por isso, é consi-
No final do mês de abril sindicato foi solidário aos trabalhadores da Meratech, terceirizada do Grupo Schaeffler, que fechou e deixou os funcionários sem receber salários e rescisões
derada pelo Smetal corresponsável pelo problema dos trabalhadores. “Muitas vezes a solidariedade tem que vir acompanhada de atitudes públicas que denunciem a situação causadora do problema. Nesse caso, a precarização da mão de obra, representada pela terceirização sem controle, levou os trabalhadores a passarem necessidades em suas casas”, denuncia o atual presidente do Sindicato, Ademilson Terto da Silva.
Sindicato entregou cerca de 60 cestas básicas aos trabalhadores da Meratec Pág. 52
COMBATE À FOME
Em relação às ações filantrópicas, os metalúrgicos participaram de iniciativas, nas últimas décadas, que tiveram grande repercussão regional. Foi o caso da campanha Natal Sem Fome de Sorocaba, que teve o Sindicato como um de seus fundadores e organizadores durante 19 anos (1994 a 2012). Todo final de ano a campanha arrecadava um mutirão de coleta de alimentos não perecíveis, que resultava em mais 2 mil cestas básicas,
Campanha Natal Sem Fome arrecada toneladas de alimentos para famílias carentes desde 1994. Em 2013 foram arrecadados também livros e brinquedos
distribuídas para famílias carentes por dezenas entidades assistenciais da cidade. Das campanhas Natal Sem Fome surgiu a iniciativa de implantar um Banco de Alimentos em Sorocaba. Inaugurado em dezembro de 2005, o “banco” hoje arrecada mais de 30 toneladas de alimentos por mês. Essas doações são distribuídas diariamente para mais de 200 instituições filantrópicas na cidade de Sorocaba e nas cidades da região, que atendem a mais de 20 mil pessoas carentes. Segundo Tiago Almeida do Nascimento, Presidente do Banco de Alimentos de Sorocaba e diretor do Sindicato, o papel que o Banco de Alimentos desempenha é fundamental para a população carente. “Agora queremos ampliar a nossa participação no processo educacio-
nal em prol da segurança alimentar, através de cursos e campanhas para a sociedade sorocabana. Esse é um dos nossos principais desafios”, afirma Tiago. Ainda na área de filantropia, o Sindicato tem participado, ao longo dos anos, de campanhas emergenciais para atender vítimas de enchentes em Sorocaba e outras cidades do País. Além de alimentos, essas campanhas recolhem doações em roupas, água, medicamentos e outros produtos necessários às vítimas de tragédias. Com o apoio da categoria, dos parceiros nessas iniciativas e da população, o Sindicato dos Metalúrgicos continua realizando campanhas de solidariedade nos municípios da região que compõem sua base de abrangência.
“
O conceito do sindicato cidadão proporcionou transformar a solidariedade da campanha Natal SemFome em uma política voltada a justiça social. O Banco de Alimentos é a efetivação desse “Muitas vezes a solidariedade tem que vir acompanhada de conceito, de uma prática voltada para a transformação atitudes públicas que denunciem a situação causadora do proda sociedade. blema. Nesse caso, a precarização da mão de obra, representada THIAGO ALMEIDA DO NASCIMENTO
“
pela terceirização sem controle, levou os trabalhadores a passarem necessidades em suas casas”,
Pág. 53
Comportamento
Entre as centenas de categorias de trabalhadores existentes na sociedade moderna, a metalúrgica vem ocupando um lugar de destaque e tomando partido em questões que direcionam o futuro do país como cultura, economia, educação e saúde. Isso por causa da voz ativa dos profissionais que tem como escudo um Sindicato organizado e preocupado com fatos que influenciam diretamente a vida dos trabalhadores. De acordo com o sociólogo e professor Ernesto Kenshi Carvalho Maeda, os metalúrgicos ocupam atualmente um papel de destaque na história dos movimentos social e operário. “Os metalúrgicos começaram a construção do seu poder nos movimentos sociais, a partir do início do capitalismo, com a primeira revolução industrial. A categoria ganhou conotação devido às condições do local e do tipo de trabalho. Desta forma, passou a se constituir como fator principal no processo de organização da classe operária”, explica. Maeda, que também é consultor no MEC (Ministério da Educação e Cultura), diz que o início da atuação da classe operária se deu quando o grande desenvolvimento da indústria automotiva e toda sua cadeia produtiva - a partir do início do século 20 Pág. 54
Arquivo/SMetal
Uma classe voltada à cultura, economia, educação e saúde
Wilson Bolinha e a esposa Lucília no dia da posse que inaugurou o novo sindicalismo na região, em setembro de 1983
– impulsionou o setor metalúrgico como protagonista deste novo século. “Na história do Brasil, o papel do setor metalúrgico vai ganhar importância a partir da segunda metade do século 20, acompanhando as mudanças em curso na sociedade brasileira. No entanto, como protagonista político foi a partir do papel desempenhado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema – que passou depois a ser designado como Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – e com o surgimento da figura do Lula
como liderança sindical. Ele passou a desempenhar um papel mais amplo de liderança política com a criação do Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980”, detalha. O sociólogo e professor diz ainda que os reflexos deste novo cenário extrapolaram as fronteiras do Brasil e se tornaram uma referência internacional. Em Sorocaba, continua, “a eleição da chapa encabeçada por Wilson Fernando da Silva, o Bolinha, em 1983, fortaleceu os movimentos sindical e social na região”.
Divulgação
Embora o papel de representante de classe seja o alicerce da categoria, o metalúrgico também deve ser evidenciado como produtor de riqueza, uma vez que o trabalho operário é umas das maiores engrenagens do Brasil. “Não se pode esquecer de que o homem é um ser produtivo e que, através da sua relação com o meio, transforma a natureza e também se transforma. A maneira como se caracteriza esta relação acaba definindo um determinado tipo de homem e de sociedade”, explica o sociólogo e professor Ernesto Kenshi Carvalho Maeda. Ainda segundo ele, atualmente estamos vivendo uma realidade mais atomizada, individualista e mais consumista. Além disso, os setores sociais, historicamente vinculados à classe operária, vêm encontrando dificuldades. “Para trabalhar esta nova realidade, é preciso reconhecer a capacidade do movimento sindical de entender essas transformações e construir saídas numa perspectiva de superação de uma sociedade que se assenta sobre a exploração.” De olho na realidade que desponta, o sociólogo e professor diz que o grande desafio da categoria é saber dialogar com este novo sujeito social e construir formas que apontem uma ação coletiva e organizada. “Os novos movimentos sociais, como os que vêm acontecendo desde junho de 2013 no Brasil e ao redor do mundo, traduzem, dentre outros fatores, um certo esgotamento das formas tradicionais da política. Traduzem também os limites de ações sociais que não se constituem sobre projetos construídos coletivamente.”
Jornalista e sociólogo João Negrão
Arquivo/PT
Uma das maiores engrenagens do país
Reunião nacional no Colégio Sion marca a fundação do Partido dos Trabalhadores em 1980
‘Não há sociedade sem trabalhador’ O jornalista, professor e doutor em ciências sociais, João José de Oliveira Negrão, afirma que a classe trabalhadora - onde se encaixam os metalúrgicos de Sorocaba e região - é a grande produtora das riquezas da nação. “É absolutamente possível imaginar uma sociedade em que não haja patrões, mas não em uma na qual não haja trabalhadores, pois seria o fim da humanidade. É o ser humano, com seu trabalho, que transforma a natureza e permite a nossa existência”, afirma. Ainda conforme ele, as lutas dos trabalhadores proporcionaram um país com ampla liberdade, com democracia e que combate a desigualdade. “Talvez não com a velocidade que gostaríamos, mas certamente de uma forma que não se tinha visto ainda no Brasil”, diz. “Nossas lutas ainda têm muito no que avançar, mas podemos olhar para o passado recente com orgulho”, complementa o professor que participou de movimentos sindicais atuando no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, como jornalista no Sindicato dos Bancários de São Paulo e na regional Grande São Paulo da CUT. Além disso, João Negrão também participou da fundação do PT na histórica assembleia realizada em 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion, em São Paulo. Pág. 55
Comportamento Combate à precarização do trabalho proteção individual), iam além desta pauta, apontando para a superação das condições que gerassem os acidentes, assim como outros fatores que vislumbrassem uma melhor condição de vida dos trabalhadores”, diz o sociólogo Maeda. “Com o tempo, empregadores perceberam que essas melhorias refletiam diretamente na qualidade da produção e da imagem da empresa.” Com tino para lutar pelas causas que afligem a categoria e capacidade organizativa, os metalúrgicos conquistaram destaque e, automaticamente, foram influenciando outros segmentos da classe trabalhadora.
“Um dos aspectos que colocou a categoria no centro de referência foi a adoção, pelo movimento cutista, da concepção de Sindicato Cidadão que busca ampliar a ação sindical para além do local de trabalho e intervir nos movimentos sociais e também na construção de espaços institucionais como os Fóruns e Conselhos”, ressalta o sociólogo e professor. “Apesar desta importante contribuição, pouca gente tem consciência desta história, cujos resultados são apresentados como obra natural da sociedade quando, na verdade, resulta da ação política deste importante sujeito social que é a classe operária.”
Foguinho
Devido ao alto risco de acidentes proporcionado pelas máquinas e equipamentos manuseados pelo setor produtivo da metalurgia, a categoria ganhou expressividade na área de saúde. A categoria foi desenvolvendo toda uma pauta de entendimento de condições de trabalho menos precárias. “Os empresários, tinham (na verdade esta luta ainda continua) uma compreensão totalmente preconceituosa quando o Sindicato apresentava sua pauta para melhoria das condições de trabalho, mas mesmo assim os representantes da categoria nunca limitaram o debate sobre o EPI (equipamento de
Manifestações da CUT em defesa do trabalhador: metalúrgicos influenciaram outros segmentos da classe operária por causa da sua capacidade em se organizar Pág. 56
Por uma sociedade mais humana e democrática
João Ferrador, personagem que se tornou símbolo dos metalúrgicos do ABC
A influência da categoria metalúrgica passeia ainda por temas como educação e cultura com os quais tem uma relação antiga. Desde a formação política dos movimentos socialistas, principalmente nos primórdios do movimento operário, quando havia todo um aparato mais profissional, era o próprio trabalhador, por meio de suas lideranças, que elaborava os boletins e os jornais que eram distribuídos e discutidos nos locais de trabalho. “Com o tempo, o próprio sindicalismo foi discutindo e experimentando um modelo de escola que não se limitasse à formação para o mercado de trabalho – uma formação tecnicista e tradicional – mas que abarcasse uma relação do saber com o trabalho e a formação do cidadão”, explica o sociólogo e professor Ernesto Kenshi Carvalho Maeda. Paralelo a isso, o movimento sindical desenvolveu ações no campo cultural, através de teatro e da criação de charges – um exemplo que entrou para a história foi a criação do personagem João Ferrador na Tribuna Metalúrgica do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema. As intervenções, acrescenta Maeda, refletem uma compreensão estratégica da educação e da cultura por parte do movimento sindical e dos movimentos sociais. “Isto vislumbra a construção de uma nova sociedade mais humana e democrática. Pelo alcance e pela importância do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região, suas ações neste campo contribuíram muito e continuam contribuindo para a transformação da sociedade.”
CADEIA PRODUTIVA
Do ponto de vista econômico, a importância da classe, apesar do crescimento do setor de serviços, continua destacada. Um dos fatores para esta importância é que o salário médio do setor metalúrgico é superior à média salarial na sociedade e, pelo efeito agregador que ele provoca na economia, afeta positivamente toda uma cadeia produtiva que gera empregos diretos e indiretos. “A consequência disso é o aumento da renda média e do consumo médio nos locais que possuem forte presença do setor metalúrgico, como é o caso de Sorocaba”, ressalta Maeda. “O Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região se preparou para esta realidade, trazendo para dentro da entidade uma subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos) que o assessora dando informações e fazendo análises que permitem uma ação mais efetiva com as empresas. Tudo isso sem perder seu compromisso de classe”, enfatiza. O Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região não contribui apenas para novos avanços no seio de sua categoria, mas também aponta caminhos para superação de uma sociedade cada vez mais marcada pelo individualismo, pelo excesso de pragmatismo e pelo consumismo exagerado, comenta Maeda. “Lembro que nossa sociedade consome mais do que a natureza pode oferecer, ao mesmo tempo que temos milhões de pessoas sem acesso às necessidades básicas. Assim, a saída para um mundo mais justo e sustentável deixa de ser uma simples opção para ser uma necessidade de sobrevivência do próprio homem e da natureza”, conclui.
Pág. 57
Diretoria - Gestão 2011-2014
Adailton Dias Santos Adalberto Aparecido de Oliveira Ademilson Terto da Silva Adenilton Alves Berto Adilson Faustino Agnaldo José Bastos Ailton da Silva Alessandro Marcelo Nunes Alessandro Pereira Oliveira Alex Sandro Basílio Alex Sandro Fogaça Camargo Alex Tadeu Antunes Alexandre dos Santos Bispo Anderson da Silva Antonio Carlos de Lima Antonio Carlos Martins Cunha Antonio Carlos Rodrigues Antonio Wanderlei dos Santos Antonio Wleber Filho Benedito Vanderlei Trindade Carlos Henrique Leme Célio Donizete dos Santos Celso Zalla Cicero Martins da Silva Claudinei Hader Claudio Ferreira Lopes Claudio Miguel Ribeiro Cleriston Cristovão A. dos Santos Clodoaldo Aparecido Garrote Clodoaldo Lisboa Cristiano Correa da Silva Djalma José de Amorim Eber de Campos Ferreira Edemauro Barros Gonçalves Edison Donizete Marciano Pág. 58
Evanildo Amancio Everaldo Garrido Everton da Silva Souza Fernando Rodrigues Nunes Flavio Augusto de Souza Francisco Germaine F. Santos Francisco Lucrécio J.Saldanha Geraldo Bertolazo Geraldo Pinto de Camargo Filho Gilberto Almeida Silva Izidio de Brito Correia Jair Aparecido Silva João Batista dos Santos João Batista Soares Bagatim João de Moraes Farani João Evangelista de Oliveira João José Martins da Silva Joel Américo de Oliveira Jorge Carlos de Oliveira José Carlos Andrade Oliveira José Divino Massoni José Pereira da Silva Filho José Roberto Nunes José Roberto Tarasca Joselito Mansinho da Silva Josiane Silva Josué Luiz Pereira dos Santos Jurandir Pereira de Souza Jurandir Pereira dos Santos Katia Silva Lucas Kelly Carmo da Silva Leandro Candido Soares Lisandro da Silva Luiz Otávio Ferreira Marcelino de Lara
Marcio José Leite de Oliveira Marcos Antonio Alves Costa Marcos Antonio Martins Costa Marcos Roberto Coelho Maria das Dores Castilho Mauro Aparecido de Souza Nelson Aparecido Navarro. Nelson Brilhante do Sol Gaino Nelson Gonçalves Neuton Moreira de Carvalho Odair Penitente Olicio Roberto Nogueira Osmar Branco de Camargo Ozéias Carlos Beltramo Paulo Cesar Sola Garcia Reginaldo Rodrigues de Almeida Ricardo Alexandre Camargo Rivan Moraes de Lima Roberto Carlos Reis Roque Medeiros de Sousa Samuel de Arruda Sandro Prado Sebastião Leite Cabral Sergio Almiron Sergio Luiz João Sidnei Morales Hernandes Silvio Luiz Ferreira da Silva Tiago Almeida do Nascimento Valdeci Henrique da Silva Valdenir Crespilho Vanderlei Rodrigues Vanildo Vieira da Silva Vicente Vitório Wilson Miranda Castilho Pinha
Pรกg. 59
Pรกg. 60