ORIGEM | Soberana Magazine #5

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Editorial

A afirmação de um Portugal Maior

Portugal é um país inviável e aí, pelo menos, já temos nós, os portugueses, uma característica intrínseca de sucesso que nos distingue de todos os outros: somos o único povo capaz de tornar viável um país inviável e já o fazemos há 900 anos.

O recente reconhecimento internacional da Maçonaria Regular Portuguesa, como nesta edição da Soberana Magazine vai bem retratado, é mais um reflexo deste Portugal dos pequeninos que, perdoem-me a imodéstia, mais uma vez, se volta a afirmar maior no mundo. E “não veio, mas sim volta” é o termo certo, deixando-se aqui o desafio de algum historiador poder vir a estabelecer o friso ou o ciclo cronológico dos momentos mais ou menos impactantes do papel de Portugal no mundo e na História da Humanidade.

Na verdade, para os mais desatentos, esta realidade de afirmação de Portugal no mundo e muitas vezes em momentos determinantes da História da Humanidade parece uma miragem enaltecida por Camões. Mas, desde a tenacidade de Viriato à teimosia de D. Afonso Henriques – e aqui relembro o livro do professor Freitas do Amaral – que Portugal é um país inviável e aí, pelo menos, já temos nós, os portugueses, uma característica intrínseca de sucesso que nos distingue de todos os outros: somos o único povo capaz de tornar viável um país inviável e já o fazemos há 900 anos.

E Já não é só a nossa capacidade de afirmação lá fora e nos mais variados domínios, no desporto, na cultura, na ciência, seja onde for, como é também a nossa recetividade cá dentro, dentro de um país hospitaleiro, rico nas suas tradições, paisagens e costumes, rico nas suas gentes, o qual todos, de repente, parecem querer descobrir, experimentar ou escolher como destino para viver.

Talvez agora saibamos também dar mais valor aos milhares e milhares de emigrantes portugueses que, ao longo, de décadas tomaram este desígnio por seu - o orgulho de ser português - e aos milhares e milhares de luso-descentes que, espalhados pelos quatro cantos do mundo, com orgulho perpetuam esta herança, da Pátria e da diáspora portuguesa.

E por falar em Língua, a realidade também é avassaladora e somos nós próprios que, muitas vezes tendemos a menosprezar a afirmação da nossa cultura. O que significa hoje a língua portuguesa no mundo, sustentada em números: a 4ª língua mais falada (e a 1ª no hemisfério sul), com uma comunidade de 261 milhões, espalhada pelos cinco continentes e cujas estimativas apontam para 380 milhões de falantes em 2050.

E é nesta afirmação maior que hoje já ocupa lugar de destaque no universo maçónico o Rito Oficial da Grande Loja Soberana de Portugal, o Rito Português, constituindo assim uma importante via para a dignificação, expansão e engrandecimento da imagem e identidade diferenciadoras de Portugal dirigida não só aos nossos maçons, aos maçons na diáspora, mas a todos os maçons espalhados pelo mundo.

O Rito Português é o Rito da Língua Portuguesa pois como afirmava Fernando Pessoa: ”A minha Pátria é a língua Portuguesa”.

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Ficha Técnica

Origem - Soberana Magazine Edição Junho de 2022 Nº de Registo na ERC: 127460 www.glsp.pt

Estatuto Editorial Origem | Soberana Magazine (glsp.pt)

Diretor José Manuel Caria (CPTE-554)

Diretor Adjunto Fernando Correia (CPTE-809)

Editores Fotográficos Bruno Melão Tomás Arantes

Direcção de Arte, Design e Paginação Catarina Redol Creative Thinking Wrahiguer Rodríguez Miau Digital Agency Christian Höhn Miau Digital Agency

Departamento Comercial e Publicidade José Luis Teixeira +351 917 331 292

Redação

Av. João Crisóstomo, 77 B 1050-126 Lisboa

Edição impressa Junho de 2022

Tiragem: 600 Exemplares

Impressão: Imprimir com Arte - Cascais Villa Loja 2.08 2750-786 Cascais

Depósito legal: 474660/20 Distribuição nacional e internacional

Editor e Proprietário

João Pestana Dias Grande Loja Soberana de Portugal – Associação Av. João Crisóstomo, 77 B 1050-126 Lisboa NIF: 514 991 437

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ÍNDICE

A afirmação de um Portugal Maior | José Manuel Caria

A Grande Sessão do Equinócio da Primavera | Fernando Correia

O Silêncio | White Louis

Carta do Grão Mestre | Abílio Alagôa da Silva

A Nova Maçonaria Regular do Século XXI | Jõao Reis Soberana na Conference of Grand Masters of Masons in North America | Daniel Chambel

Celebrado Novo Tratado de Amizade | Miguel Arantes Remy, um ratinho que poderia ser Maçom | White Louis

Uma viagem pela marcha de companheiro | Justino Pereira Maçonaria fora do templo | Guilherme Ferreira

Do Esquadro ao Compasso e do Fio-de-prumo ao Nível | João Crispim

O Segredo da Vera Cruz | Daniel Chambel Revisitando José Saramago | Fernando Correia

A Percepção Invisível | Vasco Lima

Eunice Muños à Margem do Tempo | Fernando Correia

- 04 - 08 - 12 - 16 - 18 - 22 - 30 - 36 - 42 - 44 - 46 - 48 - 60 - 62 - 64

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“A Sessão da Grande Loja Soberana de Portugal, correspondente ao Equinócio da Primavera, realizou – se no Templo Portugal, no dia 20 de Março de 2022, com um período de formação, sobretudo para Aprendizes e Companheiros.”

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A Grande Sessão do Equinócio da Primavera

Desta feita e porque a Sessão se realizou a um Domingo, por exigências de calendário, não se realizou o habitual Ágape dedicado às senhoras, remetendo – se a grande festa dos sentidos para a Sessão do Solstício de Verão marcada para o mês de Junho.

Esta Sessão de Grande Loja, correspondente ao Equinócio da Primavera, decorreu exatamente no dia em que começou a Primavera, quando às 15H33

o Sol cruzou o plano do Equador terrestre.

E sendo um dia de renascimento da natureza, no início da época da fertilidade e da abundância, veio à tona das ideias não esquecer a sequência das “estações” do ano, dando azo a que se falasse muito na importância do Inverno que terminou e da Primavera que ensaiava os seus primeiros passos.

De facto, naquele dia 20 de Março, a natureza encomendou uma séria reflexão sobre a sequência da vida, numa espécie de programação, criteriosamente estudada, para que tudo possa existir em equilíbrio.

E a natureza é, sobretudo e antes de outra reflexão mais profunda, um ato contínuo e profundo de equilíbrio, assim saiba o Homem entender e agir de acordo com o estabelecido.

De resto, a Sessão de Grande Loja foi um reflexo desse equilíbrio, anunciado pela natureza, percebendo-se que todos os obreiros queriam deixar palavras e atos que revelassem, em si, a transformação proposta pela Primavera, o renascimento da natureza, a proposta florida do tempo novo.

Mas, para que o equilíbrio seja uma realidade, é fundamental entender o porquê da vida e a razão da morte e cumprir os ciclos sem contraposição que, de resto, seria escusada.

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O Homem olha para a natureza e entende a razão de ser das estações do ano; do Sol e da sombra; da chuva e do tempo seco; do frio e do calor; do vento e da calmaria; do azul e do cinzento; das sementes e das colheitas; da noite e do dia; da morte e do renascimento.

O Homem olha para dentro de si próprio e percebe a existência da dúvida, do anseio, da angústia, do prazer, do certo, do errado, da verdade, da mentira, do que deseja, do que mais ambiciona, do que detesta, do que julga saber, do ódio, do amor, da barbárie, da paz, da guerra, e dos sentimentos dos Seres Humanos bons que querem ser melhores e colocam a bandeira da humildade hasteada à janela da alma.

É neste equilíbrio, algumas vezes desequili brado pelas circunstâncias, que se desenvolve a existência humana.

Os Equinócios e os Solstícios servem exatamente para acordar os sentidos e para recordar que os Seres Humanos dependem da natureza.

Talvez fosse possível estudar mapas astrais; avaliar, ao pormenor, em que circunstâncias Platão e Marte influenciaram a Terra no mês do Equinócio da Primavera e encomendaram aos Humanos cuidados especiais, mas ao fazê-lo a conclusão seria sempre a mesma: se o Homem desprezar a natureza, tal como ela lhe é oferecida, tal como ela é, verdadeira, autêntica, tal como ela se apresenta em ciclos perfeitos, apenas apressará o seu fim.

Por isso, este Equinócio da Primavera ainda foi mais importante, porque terá servido para despertar consciências e apontar caminhos.

Só era necessário compreender a mensagem implícita no ato de transformação.

Adivinha – se um tempo diferente que aponta para uma ordem nova relativa à Humanidade.

E essa só pode ser a ordem do espírito que se contrapõe à luta desenfreada através da força, da morte, do negócio, do poder, a ordem da matéria apodrecida!

Já dizia isto Fernando Pessoa!

A natureza coloca nesta fase os dias iguais às noites, para que seja possível acordar para a realidade e dormir sobre a esperança em dias melhores, numa alvorada de paz e de união que faça sentido.

A vida espiritual também se contrapõe à visão da guerra, do comando, da força, do poder conseguido à custa seja do que for e pretende que se veja, sempre, o caminho da justiça.

E é através do espírito que o Ser Humano ganha espaço para viver em paz.

O Ser Humano só se conhece e percebe através de outro Ser Humano. Não fora isso e não teria capacidade consciente, nem saberia o significado de consciência.

Mas, ao confrontar – se com outras realidades, descobre a sua própria fundamentação de vida e tem capacidade para descodificar o certo e o errado, compartimentando – os.

E o certo e o errado acabam por ser conceitos discutíveis. Cabe ao Ser Humano interpretá-los.

A questão de agir através do pensamento ra cionaliza.

O problema está em saber se é esse o racionalismo desejável para a descoberta do caminho do espírito.

Aproveitem – se então as palavras, transfor mando – as em atos, já que o Ser Humano tem capacidade para o fazer. Mas sem influências nefastas. Sem se deixar inebriar por ideias, aparentemente maravilhosas, mas que são completamente artificiais ou de conveniência para grupos organizados que atuam em nome de ideais que tocam os extremos.

No Equinócio da Primavera, o sorriso foi es perançoso, tanto quanto a nova realidade que a Natureza revelou.

E a Sessão de Grande Loja da Soberana mostrou, uma vez mais, como é seguro o caminho da verdade e do bom senso, o caminho da fraternidade que pratica e da bondade que propõe.

Esta foi a grande mensagem transmitida pelo Grão Mestre, Abílio Alagoa da Silva, numa sessão participada por um significativo número de obreiros.

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Aproveitem o
Silêncio
para Escutar a vossa voz
interior,
ouvir o vosso íntimo, para Meditar –para onde quero ir? Qual é o meu caminho? Com quem quero estar?
entre colunas

O Silêncio O Tempo do Silêncio O Silêncio de um Mestre

Habitualmente costumo transmitir aos Aprendizes Maçons que eles têm o Direito do Silêncio, salientando que podem e devem usá-lo de uma forma útil no seu caminho maçónico.

Lembrem-se que têm dois ouvidos para Ouvir em Loja, ouvir a forma como Comuni camos, ouvir os Trabalhos/Pranchas apresen tadas, ouvir a Sabedoria do Venerável Mestre.

Têm também dois olhos para Observar toda a Ritualística em Loja, visualizar cada passo que se dá em Loja, ver o Comporta mento (e manejo da Espada /Bastão/Malhe te) de cada Irmão quando se encontra em de terminada função em Loja.

Mas, claro, apenas uma boca para falar, que podem usar logo após a saída do Templo, bem como no Ágape.

Aproveitem o Silêncio para Escutar a vossa voz interior, ouvir o vosso íntimo, para Meditar – para onde quero ir? Qual é o meu caminho? Com quem quero estar?

Todos nós, mestres, companheiros e aprendizes já sentimos a azáfama do dia-a-dia: reuniões, a pressão dos objectivos a cumprir, obstáculos que surgem, dificuldades que temos de ultrapassar rapidamente… tudo isto nos rouba tempo para nós próprios, deixamos de ter Tempo para estar connosco próprios! E isto pode levar a uma tristeza interior, originar uma Alma desgostosa e, no caso de ser levado ao extremo, a um desgaste total do Homem, um burnout.

Na Grécia antiga considerava-se que o Homem tinha três partes: a primeira o Corpo (físico), a segunda a Alma (emoções) e por fim o Espírito (algo Superior).

Quando falamos das duas primeiras, facilmente associamos aos termos cuidar/ controlar. Podemos lembrar-nos da imagem de São Jorge montado no seu cavalo branco e tomando o seu controlo (controlo do corpo emocional). Deste modo, sempre que sentirmos uma tristeza interior, devemos vê-la como um sinal vermelho ao qual temos que dar atenção – atenção a nós próprios!

Necessitamos de “falar com os nosso botões”.

É necessário ter Tempo para Fiscalizar “inspeccionar/monitorizar” a nossa vida, verificar/”investigar” se estamos a caminhar no sentido projetado inicialmente ou se, inconscientemente e por via das circunstâncias, nos estaremos a desviar?

Nós também somos Auditores de nós próprios. Lembrem-se que o Caminho é individual mas os nossos Irmãos estão ao nosso lado, caso haja necessidade de pedir ajuda - não hesitem!

Não há que ter vergonha! Vergonha deverá ter aquele que precisa e não pede ajuda! Sejamos humildes, principalmente nestes momentos.

A Vida e o Tempo são uns bons pro fessores. A Vida ensina-nos a aproveitar o Tempo que temos, a saborear cada momento, cada golo de água quando temos sede, cada garfada quando temos fome, cada abraço quando estamos carentes de afeto, cada raio de Luz quando não há sol cá dentro….e o Tempo ensina-nos o Valor da Vida.

A Reflexão torna-nos mais fortes.

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A Reflexão é uma ferramenta (nós Maçons usamos o malhete e o cinzel) e a Força é o resultado (a Sabedoria, a Luz). Todos temos de desbastar a pedra bruta, havendo sempre arestas por limar.

[Por isso, é preciso Tempo para a Calma interior]

Como afirmou o filósofo Rudolf Steiner: “a calma interior permite entrar na nossa Alma (no nosso íntimo/âmago) ”.

A Meditação (pensamento/concentração) é uma forma de nos conhecermos a nós próprios (outra ferramenta). Daí a afirmação de que a Concentração/Meditação permite aumentar a capacidade de Amar.

Voltando à Grécia antiga (parte II), divisão do Homem em Corpo/Alma/Espírito, - é com o Espírito que entramos em contacto com algo que é eterno, a Essência Superior.

Na Grécia, no Templo de Delfos, encon tra-se umas das mais conhecidas declarações: “conhece-te a ti mesmo”.

Usando a Meditação em conjunto com os nossos sentimentos, entramos em contacto com a Essência Espiritual.

Em Loja, já ouvi a seguinte expressão “O Homem é um Ser Espiritual num corpo físico”.

É por isso que Rudolf Steiner declara: “O nosso Corpo é um Templo” (cuidem-no!).

A frase que seleccionei para meditar é a seguinte: “A Sabedoria vive na Luz”. Como resultado, será a aquisição de mais Conheci mento que nos tornará capazes de “desatar os nós” que se deparam na Vida.

Um outro filósofo, chamado Gibran, refere que existem dois Tempos: o Tempo Real e o Tempo do relógio. O primeiro refere -se ao caminho de cada um de nós percorre com o Ideal Humano, ou seja, com os Valores, com as Virtudes, com a Sabedoria, uma vida consciente que trabalha para algo melhor.

O segundo, refere-se apenas ao Tempo de calendário percorrido mas sem trazer qualquer acrescento ao nosso íntimo.

Podemos tomar com exemplo aquela pessoa que conhecemos numa determinada época e, alguns anos depois, comparar a sua “evolução” no Ideal Humano, isto é, se acrescentou valores, se se tornou mais consciente ou, caso contrário, permanece “na mesma”. A diferença faz-se aqui.

Agora, um exemplo retirado da História Mundial para ilustrar o tema essencial que deu origem a esta reflexão:

Londres, 1937, o Primeiro-Ministro era o Sr. Chamberlain e cultivava-se na Europa (pelo menos pelos Aliados) uma Política de Paz.

Em 1938, acontece o Acordo de Munique, no qual os aliados permitiram que a Alemanha de Hitler controlasse parte da Checoslováquia, desde que fosse a sua última reivindicação territorial.

Mas, no ano seguinte, 1939, a Alemanha invade a Polónia. E a Inglaterra declara guerra à Alemanha.

Em 1940, Chamberlain demite-se do cargo de primeiro-ministro e escolhe o seu sucessor, Lord Halifax. Para nº2 convida Winston Churchill. Embora desejando ser primeiro ministro mas face ao esforço que Inglaterra necessitava para enfrentar a Guerra, Churchill aceita. Imediatamente, membros próximos de Churchill, aconselham-no a recusar o convite de Chamberlain, mas Churchill já tinha dado a sua palavra e não iria agora voltar atrás.

Então, foi-lhe dito que “quando Lord Halifax vier pessoalmente convidar-te para se res o nº2, ficas em SILÊNCIO durante tres mi nutos”.

E assim foi, o Lord Halifax faz o convite pessoalmente e Churchill ficou em silêncio …

Passou-se um minuto, dois minutos e Churchill permaneceu em silêncio.

Quase a terminar o 3º minuto de silêncio, Lord Halifax diz-lhe: “pronto, já sei que queres ser o primeiro-ministro de Inglaterra” – e assim aconteceu!

Em síntese: É necessário saber usar o Tempo do Silêncio com SABEDORIA.

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Carta do Grão Mestre

Meus queridos e ilustres irmãos

O período de dois anos como Grão Mestre e consequente gestão da nossa SOBERANA que honrosamente me conferiram está na sua parte final. Foi para mim um processo de grande aprendizagem e enriquecimento pessoal gerir e liderar essa insti tuição num período único da história recente da humanidade.

Para além da grave crise pandémica que atra vessou todo o meu mandato, mas que nunca nos fez parar, passámos também pela imensa dor de vermos prematuramente partirem para o oriente eterno 3 irmãos muito queridos da nossa ordem e agora esta guerra na Europa, que todos sabemos como e porque começou, mas ninguém sabe quando e como acabará. E escuso-me a mencionar demais atos perpetuados cobarde e traiçoeiramente contra a minha pessoa, contra outros irmãos e contra a nossa SOBERANA que cairão seguramente no esquecimento coletivo.

Mas o crescimento da nossa Obediência, que quase duplicará até Setembro, a qualidade dos obreiros que se juntaram a nós, o forte reconhecimento internacional e a obra feita durante estes 2 anos superam e em muito as adversidades.

Após o impedimento pandémico e do enorme sucesso das visitas online, recomeçámos as nos sas visitas de estudo presenciais, com um planea mento feito a um ano. Continuámos com os nossos PODCAST e com os vídeos  “SOBERANA TALKS”, muitos deles feitos na maior conferência mundial de Grão Mestres, realizada nos EUA, onde marcamos presença e dignificamos ao mais alto nível o nosso trabalho e a nossa Augusta Ordem.

Também o nosso Grande Hospitaleiro e Grande Esmoler estiveram sempre muito ativos e presentes, dentro e fora da nossa Ordem,  nestes anos particu larmente difíceis.

Assinámos diversos tratados de amizade com Obediências de relevância internacional, no seguimen to do que trabalho brilhantemente iniciado pelo meu antecessor, o último dos quais com o Diretório Nacional Retificado de França – Grande Diretório das Gálias, a principal potência maçónica do Rito Escocês Retificado a nível mundial. O seu Grão-Prior

e Sereníssimo Grão Mestre Jean-Marc Vivenza está em linhagem direta de Jean-Baptiste Willermoz, que foi o precursor do Rito Escocês Retificado – RER (Convento de Wilhelmsbad – 1782). Foi um momento histórico presenciado ao mais alto nível por delegações de toda a Europa.

Passámos dos 2 ritos, Português e Escocês Anti go e Aceite que estão presentes desde o nascimento da SOBERANA, para 3 ritos, com a inclusão do Rito de York. Até ao final deste ano teremos um 4º rito, oRito Escocês Retificado. E vamos iniciar os Altos Graus de Rito Português, que nos trarão um conhe cimento único sobre muitas temáticas e muito pres tigio na diáspora portuguesa por esse mundo fora.

Conseguimos ainda que a maior parte dos Grandes Oficiais organizassem as suas áreas de forma a se autonomizarem e prova disso é a forma brilhante como têm sido organizadas as sessões de Grande Loja, com a colaboração de todos, sem atropelos e com um espírito de grupo notável.

Estamos ainda na conceção, fundação e liderança de uma nova Organização Maçónica Internacional, da qual serei orgulhosamente o seu Presidente e Grão Mestre nos próximos 2 anos, consciente do muito trabalho que temos pela frente. Contarei com uma equipa de Grandes Oficiais da nossa Obediência que serão fundamentais no cumprimento deste desígnio.

Como consequência do tanto que está a acontecer e do nosso crescimento, estamos, também e desde já, a acautelar um novo templo para o futuro da SOBE RANA. A comissão está constituída e vamos começar a trabalhar para termos o templo que mereceremos.

Mudam as lideranças, mas permanecem imutáveis os nossos ideais, princípios e valores. Aconteceu no meu mandato relativamente ao meu antecessor, Past Grão Mestre João Pestana Dias, e segura mente acontecerá com o meu sucessor. É certo que, no entretanto, todos nós passaremos pela poeira da transição, mas sempre permanecerá o foco no essencial e o rumo para a nossa missão e assim se molda a grandeza da Nova Maçonaria Regular do nosso século.

Assegurarei uma passagem de testemunho célere e pacífica e estarei ao lado do novo Grão Mestre

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para o apoiar e para tudo o que necessitar nestes 2 anos tão desafiantes.

A SOBERANA terá pela primeira vez um Senado Maçónico ativo e vigilante, onde terão assento os Past Grão Mestres da SOBERANA, que terá a prerro gativa de intervir em casos muito excecionais, sempre a bem da nossa Augusta Ordem.

Encerra-se um ciclo, cumpre-se uma missão e neste momento de significativa reflexão sobre o percurso deste mandato que me foi outorgado, quero expressar a minha mais profunda gratidão pela confiança, o meu sincero agradecimento por todo apoio recebido e meu honesto pedido de desculpas por alguma falha cometida, que quero debitar na ânsia de nunca querer ficar inerte, ao desejo de atender as muitas procuras requeridas, mas principalmente às nossas inequívocas e insupe ráveis limitações humanas.

Faço aqui minha despedida como Grão Mestre desta instituição, função que muito me honrou e que a cada dia e momento procurei dignificar. Despeço-me com a tristeza de quem vê findar um momento maravilhoso na vida, mas também com a mais profunda alegria da consciência tranquila de quem fez tudo que os limites físicos e intelectuais permitiram.

Não é uma manifestação de adeus mas a despedida de uma função, pois desejo, enquanto o Grande Arquiteto do Universo permitir, continuar a servir esta instituição maravilhosa que fundei com muito empenho, dedicação, suor e até às vezes com prejuízo familiar e profissional.

De outra sorte, saio com a profunda certeza e tranquilidade de que deixo a Grande Loja em melhores mãos que as minhas e desejo, como último apelo nesta condição de Grão Mestre concitar todos os irmãos a cerrarem fileiras junto ao nosso novo líder e sempre com a inabalável certeza de que juntos sempre seremos mais fortes.

Parafraseando Pessoa,

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.

Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas senão uma despedida…

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.

Estou hoje dividido entre a lealdade que devo E a sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. Falhei em tudo.

Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.

O mundo é para quem nasce para o conquistar E não para quem sonha que pode conquistá-lo

Nem tudo são dias de sol, E a chuva, quando falta muito, pede-se. Por isso tomo a infelicidade com a felicidade Naturalmente, como quem não estranha Que haja montanhas e planícies E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo Na felicidade ou na infelicidade, Sentir como quem olha, Pensar como quem anda, E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, E que o poente é belo e é bela a noite que fica... Assim é e assim seja...

Que o Grande Arquiteto do Universo continue a abençoar a toda a família Maçônica, mas também e principalmente a nossa Grande Loja SOBERANA de PORTUGAL. Mantenhamos a nossa união e façamos a nossa História!    Disse!

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Destaque

Na Sessão de Grande Loja do dia 2 de Outubro – que decorreu na Penha Longa, em Sintra –estiveram presentes representantes das várias Grandes Lojas que fazem parte da OMI - Organização Maçónica Internacional, cujo Presidente é Abílio Alagoa da Silva, MRGM da Grande Loja Soberana de Portugal.

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A Nova Maçonaria Regular do Século XXI

A Organização Maçónica Internacional é uma organização sem fins lucrativos que reúne várias Grandes Potências/Obediências Maçónicas que se encontram distribuídas por todo o mundo e que decidiram fundar uma instituição inovadora.

No passado dia 18 de Março de 2022, a Organi zação Maçónica Internacional (OMI) formalizou a sua constituição. A Organização Maçónica Inter nacional é uma organização sem fins lucrativos que reúne várias Grandes Potências/Obediências Maçónicas que se encontram distribuídas por todo o mundo e que decidiram fundar uma instituição ino vadora, que cumpra todos os pontos de Regularidade Maçónica, mas que seja verdadeiramente universal e que não esteja condicionada por imperativos de política menor e onde exista Liberdade para todos, não existindo assim uma obediência maçónica que tenha hegemonia sobre as outras.

A Escritura realizou-se num Cartório Notarial em Lisboa, devidamente credenciado para o efeito. Estando formalmente constituída, a OMI está agora pronta para realizar o seu trabalho, marcando de forma harmoniosa e agregadora, mas também firme e integra a Nova Maçonaria Regular do Século XXI.

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«Nesta nova dinâmica agregadora, a OMI assume-se naturalmente como um “veículo” na aproximação dos povos e na busca pela universalidade e perserverança, condição primaz da Maçonaria.»

A Presidência para o primeiro biénio da sua existência ficará a cargo da Grande Loja Soberana de Portugal, na pessoa do seu Grão Mestre, Abílio Alagôa da Silva, tendo como seus Vices e responsáveis pelas diversas zonas territoriais os Grão Mestres das restantes Potências Regulares fundadoras.

Um dado curioso acerca da constituição oficial da OMI reposta à data dessa mesma formalização – 18 de Março – á que se trata de um dia de grande significado para o mundo maçónico, pois neste mes mo dia em 1314, o último Grão Mestre da Ordem dos Templários, Jacques DeMolay foi queimado vivo nas mãos de Filipe IV de França. A sua Morte dramática concedeu-lhe a Vida Eterna.

O mundo está em constante mudança e a Ma çonaria tem que se assumir cada vez mais como uma organização dinâmica de princípios e valores, aperfei çoando todos os irmãos e inspirando a humanidade.

Nesta dinâmica agregadora, a OMI assume-se naturalmente como um “veículo” na aproximação dos povos e na busca pela universalidade e perserverança, condição primaz da Maçonaria. A Maçonaria dada a sua génese e cânones no seguimento de um códi go de regras de Honra, tem nesta Era Z ao milési mo de segundo, ser a dita “bola colorida nas mãos de uma criança” num mundo que “pula e avança” de senfreado. Portanto, a OMI deve, além de elemen to base de agregação de maçons a nível mundial, pulando todas as fronteiras, muros e barreiras, ser também exemplo de elo de ligação e conversação mesmo entre as partes profanas, desmistificando assim a sua condição de organização sobranceira à sociedade. Pelo contrário, deve a OMI e a sua estru tura promover os seus valores em prol de uma dita sociedade mais humana e menos errática.

A primeira reunião da OMI, que precedeu a sua constituição formal, realizou-se na Sessão de Equinócio de Outono, a 2 de Outubro de 2021, com mais de uma dezena de Obediências representadas de todos os quadrantes do globo, América do Sul, Europa de Leste, Médio Oriente e Norte de África. Uma cerimónia única e marcante, onde o espírito fraterno se fez repercutir entre os irmãos, uma verdadeira Torre de Babel.

A energia da irmandade superou todo e qualquer obstáculo linguístico e o momento foi de uma extrema elevação, muito digno dos pergaminhos maçónicos.

São considerados membros fundadores da OMI as seguintes Obediências:

Brasil

Grande Oriente Independente de São Paulo Grande Oriente Independente da Amazónia Espanha

Grande Loja Marbella França

Grande Loge Maçons Libres de France Grande Loge de l’Europe et de la Méditerranée

Itália

Grande Loja Jerusalém Portugal Grande Loja Soberana de Portugal

Roménia Marea Loja Nationala Romana

EUA

Grande Loja Louisiana Distribuição de Áreas OMI:

Sem prejuízo do princípio integracionista e fraterno que está na base da OMI e com o único objetivo de tornar mais eficaz o trabalho em equipa para melhor cumprir as finalidades e objetivos da Organização, o território simbólico está dividido em 13 áreas terri toriais integradas pelas existentes. Grandes Lojas e Grandes Orientes, sendo regulares e reconhecidas pelas diferentes regiões:

Região 1: Europa Sul Região 2: Europa Central Região 3: Europa Norte Região 4: Europa Leste / Médio Oriente Região 5: Ásia Região Região 6: Norte África Região 7: África Central Região 8: África Austral e Oriental Região 9: América Norte Região 10: Caraíbas Região 11: América Central Região 12: América Sul Região 13: Oceânia / Pacifico

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A OMI deve obediência à mais estrita obser vância dos princípios e regras previstos nos Antigos Landmarks, nas Tradições e Obrigações da Ordem Maçónica Universal, no Regulamento Geral da OMI, nas Resoluções da OMI, nos Decretos da Direcção da OMI, de acordo com as orientações fixadas pelas Obediências da Maçonaria Regular e Universal, em geral, além dos princípios éticos que devem carate rizar a Honra e a condição de um Maçom, enquanto Homem Livre e de Bons Costumes. Esta será a sua demanda por um mundo melhor, mais fraterno e livre.

A Presidência para o primeiro biénio da sua existência ficará a cargo da Grande Loja Soberana de Portugal, na pessoa do seu Grão-Mestre, Abílio Alagôa da Silva, tendo como seus Vices e responsáveis pelas diversas zonas territoriais os Grão Mestres das restantes Potências Regulares fundadoras.

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A mais importante Conferência Maçónica Regular dos Estados Unidos

Soberana na Conference of Grand Masters of Masons in North America

A Grande Loja Soberana de Portugal, no âmbito do seu programa de afirma ção internacional junto das principais potências maçónicas mundiais, fez-se re centemente representar na Conferência dos Grão Mestres da Maçonaria Regular da América do Norte. O evento teve lugar ente os dias 19 e 22 de fevereiro, em Milwaukee, no Wisconsin.

A presença da Grande Loja Soberana de Portugal na mais importante Conferência Maçónica Regular do Continente Americano realizou-se ao mais alto nível na pessoa do seu Grão Mestre, Abílio Alagôa da Silva, o qual liderou uma comitiva integrando o Past Grão Mestre João Pestana Dias, o Chanceler das Relações Internacionais, Daniel Chambel e ainda o Vice Grande Tesoureiro, Pedro Pacheco.

Refira-se que esta conferência internacional é suposto realizar-se todos os anos na capital de um Estado norte-americano, tendo já igualmente tido lugar em Vancouver, na Província da Columbia Britânica no Canadá, mas por limitações de saúde

A maçonaria no Wisconsin é assim tão antiga quanto a fundação deste Estado – o 30° a ser integrado na União Federal em 1846

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pública decorrentes da epidemia da Covid-19, foram canceladas as edições de 2020 e 2021.

Em face desta descontinuidade forçada e da consequente lacuna relativa aos dois últimos anos, a expectativa gerada pela reunião dos Grão Mestres dos 50 Estados norte-americanos, mais as províncias do Canadá e Estados Federais Mexicanos era naturalmente muito elevada, pelo que a presença da Grande Loja Soberana de Portugal – única Potência Regular Maçónica do Rito Português a ter sido convidada e a fazer-se representar – assumiu uma importância extrema para o reforço do prestígio internacional da Nova Maçonaria Regular Portu guesa junto de todas as Potências participantes.

Milwaukee – Wisconsin

A muito aguardada edição de 2022 da Conference of Grand Masters of Masons in North America teve lugar no Estado de Wisconsin, cidade de Milwaukee. O Estado é conhecido pela sua dinâmica económica,

política e cultural – bem no coração do centro-oeste americano (Midwest) – e congrega uma fortíssima tradição maçónica, patente aliás no vigor colocado pela Grand Lodge of Free & Accepted Masons of Wisconsin na organização dos trabalhos e extensão do programa de atividades.

O Estado de Wisconsin foi sempre abolicionista desde a sua fundação em 1846 e foi também o único Estado da América a ousar proibir a aplicação da Lei Federal sobre os escravos fugitivos.

A Fugitive Slave Act, aprovada no Congresso Federal dos EUA, em 1850, foi um compromisso negociado entre os Estados abolicionistas e os Estados defensores da escravatura para se tentar evitar a Guerra Civil Americana. Esta lei obrigava os Estados abolicionistas a entregar os escravos - que fugiam para o Norte - aos seus donos escravocratas, no Sul).

Esta questão é especialmente importante porque a controvérsia gerada no Wisconsin levou a uma grande tensão entre o Movimento Abolicionista e os Estados defensores da escravatura, tendo inclusive provocado

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a constituição, em 1854, de um novo partido político nos Estados Unidos, o Partido Republicano, que teve como seu primeiro presidente Abraham Lincoln.

E foi após a sua eleição e consequente tomada de posse como presidente dos Estados Unidos, em Março de 1861, que teve inicio a Guerra Civil Americana. Lin coln liderou a União durante os 4 anos que durou a guerra civil, tendo abolido a escravatura, preservado a integridade territorial dos EUA e fortalecido o Governo Federal, sendo unanimemente considerado um dos melhores presidentes dos EUA.

A maçonaria no Wisconsin é assim tão antiga quanto a fundação deste Estado – o 30° a ser inte grado na União Federal em 1846 – e a Grande Loja do Wisconsin reúne hoje mais de 11 mil maçons, em inúmeras lojas distribuídas por todo o Estado e que funcionam, não apenas em Inglês, mas também em Alemão.

O Wisconsin é o Estado com maior percentagem

de população germânica nos EUA e a influência alemã está bem patente, quer em termos económicos, quer também em termos culturais.

Por esta razão, o Wisconsin é o Estado Federal Cervejeiro por excelência, albergando 5 das 10 fábricas de cerveja mais antigas da América – incluindo a sede histórica da Miller Brewing Company – uma das duas maiores cervejeiras do país. Na sua gastrono mia impera também a tradição alemã do “Bratwurst” e do “Eisbein” servido com chucrute.

O Clube de Baseball mais famoso são os Mil waukee Brewers – conhecidos como os Cervejeiros de Milwaukee – e um dos 15 únicos clubes a jogar na mais antiga Liga de Baseball Profissional da América.

A cidade de Milwaukee é também o berço de uma lenda industrial que fará 120 anos de história no próximo ano de 2023 e que dá pelo nome de Harley Davidson MotorCycles.

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Programa da Conferência – Hotel Pfister, Downtown Milwaukee

6ªfeira, 18 de Fevereiro Chegada das comitivas e registo junto do Secretario Executivo Masonic Market Place Harley Davidson Museum Tour Western Conference Midwest Conference

Sábado, 19 de Fevereiro George Washington Memorial Board Milwaukee Art Museum/Calatrava 2022 Planning Committee National Masonic Foundation for Children Welcome to Milwaukee Cocktail Reception Milwaukee German Dinner & Entertainment

Domingo, 20 de Fevereiro Conference of Grand Masters 2022 Conference Officers International Congress of DeMolay International George Washington Memorial Association Annual Meeting

National Masonic Foundation for Children Annual Meeting

2ªFeira, 21 de Fevereiro Conference of Grand Secretaries Conference of Grand Masters Coming out of COVID & Re-Engaging Membership Masonic Communities & Service Association Grand Masters Photo Session Masonic Model Student Assistance Program Cocktail & Conference Banquet

3ªFeira, 22 de Fevereiro Conference of Grand Secretaries

Conference of Grand Masters 33* Sovereign Supreme Council 2023 Future Conference Site Report 2023 Officers Meeting Cocktail & Ladies at the Table Banquet Conference Closing & Farewell

A presença da Grande Loja Soberana de Portugal

A comitiva da SOBERANA esteve presente em todos os eventos e grupos de trabalho acessíveis às Potências Estrangeiras presentes, tendo sido a única Potência a representar o Rito Português nesta importante conferência.

Logo no primeiro Jantar-Ágape realizado no dia 19 de Fevereiro, a Soberana foi objeto de uma saudação especial por parte do Chairman e restante Board da conferência, o que permitiu destacar a singularidade da nossa presença mas, ao mesmo tempo, também constatar a enorme curio sidade e interesse que o Rito Português gera junto da generalidade das Grandes Lojas representadas, nomeadamente junto das Grandes Lojas originárias de Estados onde existem importantes comunidades portuguesas, lusófonas ou de luso-descendentes. Foi assim possível estabelecer importantes contactos com os Grão Mestres e Grandes Oficiais de lojas como Massachusetts, Connecticut, New Jersey ou Rhode Island.

Especial relevo foi também atribuído aos contac tos com as mais altas autoridades maçónicas presentes, com destaque para as reuniões de trabalho mantidas pelo nosso GM, Abílio Alagôa da Silva e PGM, João Pes tana Dias, com o Chairman da conferência e Grão Mes tre do Missouri, MWB Ty Treutelaar.

O nosso Grão Mestre aproveitou aliás o ensejo para felicitar o MWB Ty Treutelaar pelo Bicente nário da fundação da Grande Loja do Missouri em 1821, o que muito sensibilizou o nosso interlocutor

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e anfitrião. Refira-se que a Grande Loja de Missouri é uma das mais antigas e prestigiadas GL do Midwest americano, sendo considerada a Loja Mãe do Oeste Americano, porque esteve na origem do estabeleci mento de Lojas Maçónicas nos Estados do Kansas, Nebraska, Wisconsin, Illinois, Iowa, New Mexico, Utah, Washington e Califórnia. A sua importância histórica na Maçonaria Regular Americana só é comparável à importância da Grande Loja da Virgínia, da Pensylvania, do Massachussets ou de New York, mas o seu presente prestígio honra cabalmente os pergaminhos da sua brilhante história passada.

De destacar também o encontro de trabalho com o presidente e o diretor do George Washington Ma sonic National Memorial Association, MWB e PGM de Maine, Claire V. Tusch e o MWB e PGM de Connecticut, Clifford “Chip” Stamm II, respetivamente.

Este encontro foi muito importante para pers petivar a presença futura da Soberana no próximo centenário da inauguração do Monumento Nacional Maçónico de Homenagem a George Washington, em 1923 – cuja organização é da exclusiva respon sabilidade desta Associação Maçónica liderada pelos

nossos interlocutores Claire e Chip – e que terá lugar em Fevereiro de 2023, em Alexandria, icónica cidade da Virgínia onde George Washington se iniciou como aprendiz em 1753 – com 21 anos de idade apenas e 23 anos antes da Independência dos EUA – portanto ainda no tempo da América Colónia.

A feliz coincidência desta reunião de trabalho ter sido realizada no exato dia em que se come moravam os 290 anos sobre o nascimento de George Washington, foi objeto de merecido e oportuno destaque pelo PGM João Pestana Dias e foi também celebrada a efeméride com um Brinde Ritual Português com Porto de Honra oferecido pelo GM Abílio Alagoa da Silva. Esta celebração calou fundo no espírito dos nossos Irmãos norte-americanos e contribuiu decisiva mente para consolidar os resultados práticos do nosso encontro com esta Instituição de referência da Maçonaria Regular Americana.

Importa também salientar a reunião mantida com o presidente da Fundação Maçónica da Criança – National Masonic Foundation for Children – o MWB PGM de Michigan e luso-descendente, Robert

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“Ted ” Praria – o qual partilhou connosco a sua valiosa experiência no domínio do apoio aos mais jovens. Numa nota mais pessoal e afetiva, Ted reconheceu com orgulho a sua ascendência portuguesa de muitas gerações e regozijou-se por encontrar compatriotas dos seus avós na conferência, tendo igualmente se mostrado muito bem impressionado pela existência de um Rito Português na Grande Loja Soberana de Portugal.

Todos os representantes das 3 entidades maçónicas acima referidas foram objeto de entrevistas conduzidas pelo nosso PGM João Pestana Dias - o que amplamente se justifica pela importância e atualidade dos temas, riqueza dos conteúdos disponibilizados e excelência dos entrevistados - encontrando-se os mesmos já disponíveis nas redes sociais da @Soberana.Portugal, para usufruto dos obreiros da SOBERANA, dos parceiros da OMI-Organização Maçónica Internacional, das demais Obediências Regulares Maçónicas e também para o público em geral, nomeadamente para aqueles que se interessam por melhor conhecer a realidade da Nova

Maçonaria Regular Portuguesa.

5 – Notas Finais

Os resultados alcançados pela presença da comitiva da Grande Loja Soberana de Portugal no mais importante evento anual da Maçonaria Regular Americana excederam largamente as melhores expectativas do Grão Mestre Abílio Alagôa da Silva, bem como do Past Grão Mestre João Pestana Dias, tendo igualmente sido criadas as condições para a afirmação Internacional da GLSP nos EUA e o reforço do nosso prestígio institucional junto de inúmeras outras Potências Estrangeiras que se fizeram repre sentar, originárias da Europa, América Latina, Ásia e Oceânia.

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Abílio Alagoa da Silva, Grão Mestre da SOBERANA; Nikolai Ivanov, Grand Secretary of Grand Lodge of Ancient and Accepted Scottish Rite of Bulgaria; James D. Cole, 33° Sovereign Grand Commander - Supreme Council, 33° | Scottish Rite of Freemasonry | USA e João Pestana Dias, Past Grão Mestre da SOBERANA
www.hobvolt.com

A Grande Loja Soberana de Portugal foi convidada a celebrar um novo Tratado de Amizade com o Diretório Nacional Rectificado de França – Grande Diretório das Gálias. Com a devida vénia transcreve-se a seguir para a nossa língua pátria a notícia dessa celebração, tal como pode ser lida em francês no site oficial daquela eminentíssima Obediência.

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Soberana e o Grande Diretório das Galias

Celebrado Novo Tratado de Amizade

“A Cerimónia decorreu no passado dia 2 de Abril, em Marselha – França, no decurso do Convento Anual Nacional, em Sessão de Grande Loja no Château de Saint-Antoine e no grande Templo da Grande Loja de França, perante perto de 160 Irmãos e mais de 17 delegações, representando as jurisdições e obediências amigas adiante relacionadas:

Grande Loja de França, Grande Priorado Retificado de Hispânia, Grande Priorado Retificado de Itália (IVª Província da Ordem),

Grandes Priorados Unidos de França, Ordem Escocesa dos Cavaleiros do Santo Templo de Jerusalém, Grande Loja Tradicional de França, Priorado de Província e do Hierosolymitani Deutschland,

Ordem Ilustre da Estrita Observância, Aliança Maçónica de França, Priorado da Nova França (Quebeque), Altos Graus do Rito Francês da Confederação Helvética.

Este Tratado inscreve-se numa vontade de reunir e aproximar as Potências signatárias, investidas da plenitude da transmissão iniciática, maçónica e cavaleiresca, que tinham das suas legitimidades respectivas, com o fim de desenvolver entre elas relações de amizade fraterna e de cooperação, trabalhando no reforço das suas relações e com o objectivo de prosseguir, por uma vontade comum, a

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Para a Grande Loja Soberana de Portugal este Tratado revela-se de suma importância no reconhecimento da nossa valia e desempenho em prol da Maçonaria Regular Universal.

Destaque

Chamados a reunir nos Passos Perdidos antes de entrar no Grande Templo, foi espectacular ver todos os maçons paramentados consoante a sua Obediência e o seu Rito, desde os Aprendizes aos Mestres, Grandes Oficiais e Altos Graus, e foram várias as delegações e irmãos que se quiseram fotografar junto à Delegação portuguesa que, no seu entender, ostentava as vestes mais ricas e vistosas de entre todas as outras que também nos fascinaram a nós.

sua obra de defesa, preservação e conservação dos princípios da maçonaria tradicional.

Durante esta Sessão de Grande Loja em Convento, que correspondia à renovação dos cargos, mandatos e funções de todos os Grandes Dignitários Nacionais do D.N.R.F. -G.D.D.G., por um novo período de quatro anos, a Grande Loja Soberana de Portugal, por intermédio do seu Grão Mestre Abílio Alagôa da Silva, também agraciou com o título de Grão Mestre Honorário o Sereníssimo Grão Mestre Nacional e Grande-Prior do D.N.R.F. -G.D.D.G. Jean-Marc Vivenza.”

O reconhecimento internacional

Naturalmente que para a Grande Loja Soberana de Portugal este Tratado revela-se de suma importância no reconhecimento da nossa valia e desempenho em prol da Maçonaria Regular Universal. A nossa missão ganha sentido ao alinhar-se com as preocupações e de safios da sociedade actual, como vem actuando.

Para além do Grão Mestre, a comitiva da Soberana integrou o Past Grão Mestre, o 1º Vice Grão Mestre, o Grande Secretário e os Grandes Oficiais Preceptor do Rito Por tuguês, Maestro, Hospitaleiro, Chanceler e ainda o Inspector do Rito Escocês Antigo e Aceite que também se pratica na nossa Obe diência, apesar de imperar o Rito Português.

Marselha - a mais velha e a segunda cidade mais populosa de França e também um importante centro de imigração e comércio desde que foi fundada pelos gregos por volta de 600 a.c. - é uma cidade muito atractiva da Provença, a região do sudeste do país, fazendo fronteira com a Riviera francesa. O seu porto marítimo, de cruzeiros, comercial e de recreio, é o 1º de França e o 4º do Mediterrâneo que banha a cidade.

Lá chegados numa 6ª Feira e partindo de lá no Domingo imediato, Marselha seduziu-nos pela sua feição autêntica, calorosa, algo agitada e em desordem mas isso faz parte do seu charme.

O aeroporto fica a perto de 30 km do centro da cidade e dali fomos todos de auto carro até ao Hotel localizado mesmo ao lado da Gare Saint-Charles. Esta gare, edificada

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em 1948 numa elevação a 49 metros de altura do mar, chegou a ser um ponto de ligação para o Médio-Oriente e a Ásia e continua a ser um ponto de passagem dos viajantes com destino à Córsega e a África. Do alto da zona onde se encontra, comunica-se com o centro da cidade por uma escadaria monu mental construída em 1925 e considerada monumento histórico.

Após o check-in no Hotel que ladeia a gare descemos a pé até ao Vieux-Port (Porto Velho) e circulámos à procura de um restaurante típico, não para turistas, mas perante a realidade, comum a todos, dos preços proibitivos da “bouillabaise”, acabámos numa churrasqueira muito acolhedora aonde os

irmãos da Delegação italiana se juntaram a nós. Estava um frio de rachar para nós portugueses, e escolhemos a mesa mais próxima de um espaço vidrado e reservado onde havia rente no muro de pedra, de alto abaixo, um enorme grelhador rolante de frangos que, para além da pólvora negra, também nos aqueceu. Apesar daquela visão, não comemos “poulet” e fomos todos para a “entrecôte grillée”! Um óptimo jantar e uma excelente companhia onde não faltaram temas de maçonaria, em particular sobre o Rito Escocês Retificado comparado com o Rito Português, e o avivar do Tratado de Amizade que une a Grande Loja Soberana de Portugal com o Gran Priorato Rettificato D’Italia desde 2020.

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Destaque

No final do repasto, no trajecto de regresso ao hotel, passámos frente à Ópera de esti lo Art-Déco e ali mesmo, no passeio, o Vice Grão Mestre interpretou à sua maneira “Nessun dorma”, a famosa ária do último ato da ópera Turandot criada por Giacomo Puccini. Foi muito curioso ver a quantidade de pessoas que ali se amontoaram para o ouvir, algumas delas buscando o chapéu pousado no chão para receber a oferta do óbolo, que obviamente não havia!

O dia seguinte era o mais ambicionado, o do Convento Nacional da Ordem anfitriã que se realizou no Château Saint Antoine,

em Marselha. Desde 2017 que é propriedade da Grande Loja de França, onde se reúnem as suas Lojas e se recebem também Obediências amigas. De tão vasto que é e bem aproveitado o seu espaço interior, sete Lojas podem ali se reunir ao mesmo tempo. Dispõe ainda de um grande Templo com 400 lugares, para as ocasiões especiais como esta do nosso en contro internacional.

Além de terraços aprazíveis e de jardins com parqueamento automóvel privativo, possui uma livraria de temática maçónica universal, um bar e um amplo restaurante onde almoçámos em são convívio fraterno informal.

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Chamados a reunir nos Passos Perdidos antes de entrar no Grande Templo, foi espectacular ver todos os maçons para mentados consoante a sua Obediência e o seu Rito, desde os Aprendizes aos Mestres, Grandes Oficiais e Altos Graus, e foram várias as delegações e irmãos que se quiseram fotografar junto à delegação portuguesa que, no seu entender, ostentava as vestes mais ricas e vistosas de entre todas as outras que também nos fascinaram a nós.

Entrando no interior do Templo foram convidados ao Oriente o Grão Mestre, o Past Grão Mestre, o Vice Grão Mestre, o Grande Secretário e ainda o Grande Pre ceptor da Grande Loja Soberana de Portugal, sentando-se os outros membros da comi tiva próximo deles, na Coluna que lhes foi destinada.

Abertos os Trabalhos, foi ouvida uma alocução do Sereníssimo Grão-Mestre Nacional e Grande-Prior do Directório Rectificado de França – Grande Directório das Gálias, sobre as orientações e os funda mentos da Refundação da Ordem que teve início em Dezembro de 2012. Seguiu-se uma impressionante Prancha do mesmo Jean-Marc Vivenza sobre “A imortalidade da alma, sua origem e reintegração segundo o Regime Escocês Rectificado”.

É possível fazer uma primeira aproxi mação a este assunto espiritual, escutando em parte uma conferência de 2019 daquele erudito no canal YouTube, na língua de Voltaire: https://www.youtube.com/wat ch?v=I1H8H681zac

Passava da meia-noite, hora a que os maçons encerram os seus trabalhos, não só simbolicamente como verdadeiramente, e foi difícil arranjar transporte para o Hotel. Uma parte da nossa delegação ficou apeada e pediu boleia a um automóvel que saía, por último, do Château. Encetámos conversa com o benévolo condutor, que presumíramos

ser nosso irmão maçon, e ficamos a saber que apenas era um dos empregados do restaurante!

Chegados ao hotel, plenos de boas energias positivas, uma noite descansada aguardava-nos para acordar bem dispostos no dia seguinte. Estava de facto um sol radioso, que aqueceu a temperatura daquela manhã que aproveitámos para ir visitar a Basílica de Notre-Dame-de-la-Garde. Trata-se de uma igreja católica de estilo românico-bizantino, construída sobre as fundações de um antigo forte no ponto natural mais alto de Marselha com 149 metros de altitude. Do seu alto é possível abranger uma panorâmica vista de 360º, com pontos de interesse em terra e no mar que, para nós, filhos de navegadores, mais captou o nosso olhar: as ilhas do Frioul e do Château d’If que o romance O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, tornou célebre. Havendo tempo sobrante para ir para o Aeroporto e despedir-nos de Marselha, descemos a pé da basílica ao porto e fomos almoçar num restaurante pitoresco no canto da Place Thiars, onde comemos ao ar livre.

E porque as despedidas são sempre tristes, a não ser por nos darem a ocasião de reen contros, acabamos esta notícia agradecendo ao Grão Prior e Sereníssimo Grão Mestre Jean-Marc Vivenza o modo reverente e afável com que recebeu a Grande Loja Soberana de Portugal, na pessoa do seu Grão Mestre Abílio Alagôa da Silva e dos membros da sua comitiva.

O convite para o recebermos em Portugal foi formulado, pelo que esperamos poder recebê-lo em breve.

Para mais informação:

Diretório Nacional Retificado de França –Grande Diretório das Gálias https://www.directoirerectifiedefrance.org/

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templo

Remy, um ratinho que poderia ser Maçom

por White Louis

Faz mais de 10 anos que vi este filme. Lembrei-me do Ratatui no seguimento de uma outra Prancha (sobre o Capuchinho Vermelho) e, verificando que já havia diversas leituras sobre este conto antigo (que surgiu na Idade Média e no século XIX foi adaptado pelos Irmãos Grimm), decidi optar por algo mais recente - o filme Ratatui - filme que foi lançado em 2007.

Comecei a “partir pedra” para apresentar esta Prancha é, pois, a minha leitura sobre este filme numa vertente diferente e num contexto que aborda os preceitos das Escolas Iniciáticas.

Resumo do filme:

O filme conta a história de um ratinho, Remy, que, tendo um sentido de olfato e paladar extremamente apurado, demonstra um talento muito especial para a cozinha. Apresenta-nos também a história de uma outra personagem, o rapaz Linguini e ambos são cúmplices de uma saborosa aventura.

Reconhecimentos:

Óscar de melhor filme de animação em 2008.

Logo no início do filme, presenciamos a separação dramática do pequeno rato da sua família, passando

por esgotos “escuros e húmidos” num ambiente assus tador (fazendo lembrar a Câmara de Reflexão).

Este lado “negro” que nos é apresentado ao contar a história de Remy, remete-nos para todos os obstáculos da Vida Real, com momentos duros, invejas, barreiras inesperadas que nos aparecem pela frente e que necessitamos de Ultrapassar e Superar (como também assim são retratados na Iniciação Maçónica, pois devem possuir uma envolvente desconfortável).

Mais dois outros exemplos no filme: quando o dono do restaurante persegue o ratinho ou a dureza na procura do Luinguini por uma profissão à qual se adapte (no final do filme, essa profissão é então revelada, como empregado do restaurante onde o rato Remy é o “chef”).

Ainda tendo como base esta “assustadora passagem” no esgoto, tal como um caminho pe las Trevas, vemos que o ratinho nunca larga o seu livro favorito, um livro de receitas de um famoso Chef recentemente falecido, Gusteau,

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interior

peo qual Remy tem uma admiração infinita.

É claro aqui o paralelismo com o nosso “Livro da Lei Sagrada” (ou Volume da Lei Sagrada), que assume diferentes interpretações conforme a opção religiosa (é a razão porque na Soberana temos: a Bíblia, a Tora, o Alcorão e o Bhagavad-Gita). É a forma de representar Respeito e Tolerância Reli giosos, através de um Livro Sagrado.

Na Maçonaria Regular, existem as “três Luzes da Maçonaria” (ou da Ordem): o Volume da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso, que estão sempre expostos durante os trabalhos da Loja. Prestamos os nossos juramentos sobre o Volume da Lei Sagrada, a fim de lhes atribuir um caráter solene e sagrado.

Quando falamos das “Luzes”, é fácil misturar dois tipos de Luzes: as Luzes da Maçonaria/Ordem com as Luzes da Loja/Oficina, estas últimas constituídas pelo VM, 1º e 2º Vigilante.

Remy no esgoto encontra-se sozinho, deso rientado, com fome e enfraquecido. E é aí que o ratinho tem a primeira “visão”, quando se vê com o falecido Chef, o seu mentor da cozinha. Gusteau fala com Remy e diz-lhe que ele tem de sair dali e ver o que se passa ao seu redor.

Do ponto de vista Maçónico, poderemos interpretar esta cena como o contacto ao GADU, uma voz que surge do nada (poderá ser mesmo uma voz de “dentro para fora” de nós próprios) e que nos dá as instruções: “vai e faz o Teu Caminho”.

A frase mais célebre do Chef Gusteau é: “Qualquer um pode cozinhar” (cozinhar bem, claro!).

Naturalmente, sabemos que esse alguém terá de possuir competências específicas, ter conhecimentos sólidos de culinária, um paladar e um olfato apu rados… O mesmo se poderá aplicar na Maçonaria, i.e. por analogia a frase será: “Qualquer um pode ser Maçom”. Naturalmente terá características diferenciadoras, ora vejamos, um Maçom poderá reconhecer num profano, alguém que é “livre e de

bons costumes”, crença num Deus, com virtudes e capaz de respeitar as tradições da Ordem, entre outros valores e convidá-lo a percorrer juntos o caminho.

Esta é uma das ideias transmitidas por Carl Jung, o pai da psiquiatria analítica, ao afirmar que: “Cada um de nós tem Algo para Realizar”. E o Chef Gusteau sublinha: “… o limite é a tua alma”.

Comparando esta estrutura do filme com a de um conto de fadas, o Chef Gusteau (falecido) assume o papel da personagem do “Rei morto” – o qual re presenta uma personagem com um “Poder invisível” sobre as restantes personagens.

O ratinho faz uma Parceria com o jovem tra palhão Linguini: o jovem que nada sabe de cozinha é o “rosto e o corpo” do ratinho e, através dele, consegue fazer o de realmente gosta – cozinhar.

Falamos aqui de duas forças opostas mas que se complementam (Ying-Yang).

Um dos cenários do filme é o restaurante (do Gusteau) – poderá ser visto como o Templo de Salomão.

Este é um símbolo de destaque para os Maçons, pois alegoricamente é o local onde se constrói o pró prio individuo ou o “templo vivo de Deus”, meditando, reflectindo e também convivendo.

Os Chefs constroem os seus pratos na cozinha do Restaurante – esse é o seu Templo. Regressando à estrutura do conto de fadas, o Restaurante representa o Castelo onde o Rei vive.

Numa outra passagem do filme podemos observar um cliente no restaurante. Ele faz um pedido, não para um prato que já conhece, mas para um prato “novo”, que lhe traga novidade, que lhe alimente a vontade e a motivação, pois todos os outros pratos que já conhece só o deixariam insatisfeito.

Em termos genéricos é importante ter isto em mente, quando pensamos nas sessões de Loja, com

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os Obreiros a poderem sentir-se envolvidos numa “rotina desmotivante” pela ausência de algo especial, algo que os faz chegar a casa e pensar “valeu a pena ir à Sessão, sim ou não?” São os desafios de uma Loja.

Devemos lembrar-nos que o maçom é um “Construtor”, não podemos estar parados, temos sempre algo a fazer, algo a construir.

Noutra das cenas do filme vemos o cozinheiro a ir ao mercado comprar alimentos frescos, os vegetais da época, que são o “ingrediente secreto” para a qualidade de um prato. Há pois aqui uma conexão com a Mãe Natureza - os produtos da Terra, os ciclos da fertilidade e do cultivo repre sentados na “Mãe”.

O mesmo podemos considerar na Maçonaria, quando se convidam elementos profanos para a nossa Ordem, também os escolhemos “sem vícios ou paixões”.

Também é abordada no filme a questão do fast food em contraponto com o slow food. Este paradoxo moderno e atual revela-nos uma sociedade que, cada vez mais, impressiona com o nível de evolução

tecnológica, mas, por outro lado onde e também cada vez mais, nos deparamos com a frase “não tenho tempo…” E o resultado de quando não se tem Tempo é dramático: não somos capazes de pensar em nós próprios, não conseguimos evoluir espiritualmente.

A simbologia da comida, com a sua cor, a sua apresentação, o seu cheiro e o seu paladar remete-nos para um contínuo fluir de sensações. A analogia com a Maçonaria também é válida: a Maçonaria é também uma Experiência Sensorial, com ênfase para a Cerimónia de Iniciação, mas também nas sessões ordinárias onde podemos encontrar uma Ritualística específica, sentir a Egrégora, a Força Espiritual Coletiva que nos eleva e a Fraternidade sentida no Ágape.

No final, a Humildade mereceu ao rato cozinheiro um reconhecimento como o melhor Chef da cidade de Paris. A Humildade é, também na Maçonaria, uma das importantes características (contrapondo a Vaidade, a qual é combatida) e é uma das lições no grau de Aprendiz (e que qualquer maçom independentemente do seu grau ou função

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nunca se deverá esquecer). Através da Humildade somos capazes de reconhecer a nossa Ignorância e abrir as portas ao “a ti mesmo”, alcançado a Sabedoria, a Força e a Beleza.

A cozinha é, pois, uma fonte de Criação e os Chefs são igualmente “Construtores”.

Num artigo profano que li fala-se na ligação dos grandes chefes franceses à Maçonaria e de um livro específico, “La cuisine des Francs-Maçons”, cujo prefácio foi escrito por um chef francês, Joel Robuchon, premiado em 1990. Este chef tinha já conquistado mais de trinta estrelas Michelin e o ficou célebre por trazer um prato simples – o puré de batata – para a alta cozinha, através de uma receita que criou. Este conceituado chef, que divertidamente vou apelidar de “MRGChef”, não escondeu a sua ligação à Maçonaria (da Grande Loge Nationale Francaise) e quando numa entrevista lhe perguntaram “o que lhe trouxe a Maçonaria?” respondeu: “eu era tímido e aprendi a expressar-me em público, a ouvir, a ter um melhor relaciona mento com as pessoas, a desenvolver-me e sempre a fazer melhor”.

É, portanto, na cozinha que se dá a Transfor mação, através da combinação de ingredientes específicos e onde resulta algo novo (tomando como exemplo um prato muito básico: juntamos alguns ingredientes e obtém-se uma sopa).

A analogia agora é relacionada com a Alquimia, não numa visão de transmutação de metais inferio res em superiores, mas numa leitura mais mística neste Processo.

Começando pelas viagens simbólicas da Maçonaria, pensemos na Cerimónia de Iniciação. Desta forma, é fácil compreender os 4 elementos Alquímicos (terra, água, ar, fogo): a Terra, de onde provém os ingredientes naturais para a gastronomia; à Água utilizada na confeção, adicionando-lhe o Fogo do modo de preparação (pelo fogão), obtemos a condensação, representada pelo Ar, libertado pelo fole na Cerimónia de Iniciação e que na cozinha é revelado pelo aroma da comida já cozinhada. O Fogo (pelo fogão) é o elemento que permite a transformação.

Ainda de referir que a comida tem outro sabor quando se adiciona o Sal, um dos três Princípios

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Alquímicos, uma representação da Vida, da pure za e da sabedoria, também presente na Câmara de Reflexões.

No filme, podemos observar o Processo de Trans formação dos ingredientes em comida confecionada.

Abordando a Alquímica Espiritual, o Processo de Transformação passa por três fases:

Nigredo (fase negra), Albedo (fase branca) e Rubedo (fase vermelha).

Significa que, no início, o que se vê é algo desagradável, a observação das Trevas, a observa ção das Sombras. Posteriormente acontecerá a Desagregação da Matéria, do “Eu” (em pequenas partes). Depois, surge a limpeza, uma purificação moral que, selecionando o máximo do sagrado, apenas sobram e permanecem a partes mais puras e límpidas. É a partir deste estado que se conseguirá compreender as Sombras, mas agora já não num processo de identificação e sim de evolução. A parcela que resulta dessa limpeza, irá dar origem a algo novo – do ponto de vista Iniciático, esta fase reflete-se no processo de Morte simbólica e o seu Renascimento.

Deste modo, é sempre possível continuar a fazer uma nova Desagregação da matéria com o objectivo de uma maior Purificação – é o chamado Desbastar constante e frequente da Pedra Bruta/Polida.

Por tudo isto, os Alquimistas afirmam  que o ouro que buscam não é o ouro vulgar, mas o ouro espiritual.

Há quem afirme que “A Alquimia Interior é o processo de autoconhecimento”.

Curiosidade: Maria “a Judia” foi, provavel mente, a primeira mulher Alquimista em tem pos AC. E qual foi a sua história? Ao manipular diversas substâncias descobriu que era possível

controlar melhor a temperatura através da água. Este processo ficou conhecido, até aos dias de hoje, como “banho Maria” (de acordo com o seu nome) uma forma de aquecer os ingredientes.

Regressando ao filme e à cena onde se vê o crítico gastronómico a saborear o Ratatui de legumes preparado pelo ratinho, a personagem viaja através da sua “memória afetiva” (que são as lembranças que temos de bons tempos da infância e juventude, e que pode ser despoletada com uma aroma, uma música, …).

É um verdadeiro flashback ao passado da infância, tempo onde eramos ingénuos, não tínha mos maldade, onde brincar era o mais importante, resumindo, éramos “puros”…

Com o processo natural de crescimento nesta Vida, vão sendo criadas armaduras invisíveis que usamos para combater as batalhas do dia-a-dia. E esses Tempos ficam esquecidos, regressando à tona quando estimulados.

Como afirma Platão: “ a Verdadeira Beleza não nos provoca Desejo, mas sim Nostalgia”.

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Uma viagem pela marcha de companheiro

Por Justino Pereira

Tanta pressa. Tanto esforço. Tanto querer.

Que busco eu, que esteja assim tão distante?

A Vida é preciosa! Estou certamente a ferir a sua grandiosidade ao tentar defini-la ou decifrá-la. Não ousarei mais fazê-lo! Apenas torná-la tão significativa quanto puder.

E assim se abrem os portais da minha transformação. Um sopro cósmico trouxe-me a oportunidade para renovar o meu Templo da consciência. Aquilo que tanto procurava, decidiu finalmente encontrar-me.

Caminho para cumprir a meta do meu aprimo ramento. Vou semeando com brio e zelo. Bem sei que a vindoura colheita é da minha inteira responsa bilidade. Vozes vindas de fora confundem-me. Não haverá certamente melhor momento para ouvir o meu silêncio interior.

Depois da noite escura, fria e profunda, o fogo aquece o meu peito, e a luz manifesta-se, revelando no meu rosto as cores que teimava esconder. Sigo em frente de mãos dadas com as minhas sombras, pois só assim a Luz caminhará a meu lado.

Os erros vão polindo a minha conduta. As quedas corrigem os meus passos, e os meus temores amadu recem a minha coragem. Renasço em cada morte, e assim é feita a minha reconciliação com a eternidade.

Tanta pressa. Tanto esforço. Tanto querer. Que busco eu, que esteja assim tão distante?

Dou um passo oblíquo e desvio-me do caminho. A dor manifesta-se de forma proporcional à minha rebeldia. Não é uma punição, mas sim uma medida de correção enviada pelo meu Eu superior, como que um convite para as asas que outrora recusaram voar livremente, um estímulo à tão necessária evolução.

O tédio da normalidade não me serve. Confronto os padrões que me sufocam, e liberto um pouco mais do meu mundo. Caminhar por estes lados inspiram, encantam por serem eles autênticos na sua essência.

As minhas virtudes divinas vão sendo lapidadas a cada instante, sob os infinitos dons que repousam dentro de mim. Enquanto não encontrar essas preciosas pedras no interior, que não me canse inutilmente, a procurar onde quer que seja.

Portanto, trabalharei. Sem pressa mas sem pausas. Trabalharei sem me preocupar com as imperfeições, pois só assim serei surpreendido pelo reencontro. Por todo o lado, ele acena àqueles que decidam fluir alegremente pelo caminho da

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naturalidade. As coisas realizam-se por elas mesmas.

Deixo-me trilhar o caminho da ascensão, no meu próprio e perfeito tempo. O despertar é uma escolha pessoal e intransmissível. Não sou o centro do Universo, mas o Universo resplandece dentro de mim. Aquele velho Eu que temia a fúria das ondas, fica agora maravilhado perante a beleza das tempestades que fazem as ondas dançar.

Ouço a razão e regresso, gota a gota, ao oceano do qual me afastei. Que bom é voltar a casa. Cami nhar para a frente, com os olhos no Oriente e os pés na terra. Sentir que estou a chegar às minhas origens, ao meu porto de abrigo.

Após querer tantas coisas que apenas me consumiam, quero hoje e agora, nutrir-me da beleza deslumbrante da Vida, pois sinto que ela me quer de volta. Abandono os excessos mil que escondem as minhas carências. Renuncio à ilusão de controlar todas as coisas. Não cedo mais à ânsia de querer saber tudo, pois uma mente esgotada pelo conhe cimento, não conseguirá escutar a voz silenciosa da sabedoria.

Danço na tempestade das minhas dores, que anunciam a fartura das minhas alegrias. Fico fas cinado com esta aventura a nós dedicada. Alcançar a Unidade no céu, evoluindo nos grandes mistérios da Vida. Por tudo em mim, eu agradeço. À Vida, ao Grande Arquiteto do Universo, ao novo Eu que chegou aqui dentro. Era apenas amor que me faltava. Depois do fim, é o recomeço.

Não me curvo a ninguém. De agora em diante me curvarei a todos. Reconheço em cada Mestre a minha humilde e sincera disposição de ser eterna mente um Aprendiz.

Meus Queridos Irmãos, seja qual for o nosso Grau ou qualidade, seja qual for o nosso nível de consciência, e o caminho que decidimos percorrer, apenas o conseguiremos saborear se estivermos no momento presente. E estar no momento presente, não significa esquecer o futuro. Significa estar com atenção plena no agora, com a mente e o coração, aproveitando cada lição, aproveitando o que sentimos e o que pensamos.

Termino com um excerto retirado do livro, Não há soluções, Há caminhos, escrito pelo Padre Vasco Pinto de Magalhães.

Reflitamos sobre ele... “Ser feliz é ter futuro e dar futuro. Todos pensamos ser felizes e acordamos todos os dias com esse desejo. Mas ser feliz não é uma sorte nem a ausência de problemas. É viver com sentido, com coragemconstruindo o futuro e dando futuro. Isso depende de mim. Era uma vez um homem que corria e corria pela vida... A vida era curta e necessitava de correr muito para gozar muito e ser feliz. E quanto mais corria mais necessitava de correr...! Descobria sempre mais lugares para visitar. Necessitava de encontrar tudo e gozar tudo. Até que um dia, cansado de tanto correr, parou. Então, a felicidade pôde alcançá-lo.”

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precioso: O seu Tempo. Se envolver com uma causa social de corpo e alma nos tempos que vivemos, faz parte da tal construção social que tanto falamos.

Em meio a tantos episódios de catástrofes naturais, pandemias, guerras e afins, ainda nos deparamos com o abandono e a fome de vulneráveis no nosso próprio país. Se você é maçom mas não tem tempo para tal, repense a sua vida e as suas escolhas por que certamente algo não tão importante está a tomar demasiadamente o seu tempo, talvez seja o EU.

Companheirismo – Talvez esse seja o ponto mais importante para que exista a maçonaria fora do templo, também podemos chamar de fraterni dade. Quantas vezes por semana você está com um irmão fora da loja? É sempre o mesmo irmão?

Você conhece seus irmãos na sua vida profana? Seus irmãos te conhecem, sabem o que você faz? Qual a integração que você já fez da sua família na maçonaria? Sua esposa conhece alguém da loja? É impossível excluir a sua vida profana da sua vida maçónica. Mesmo no limite o facto de não querer ser reconhecido publicamente como maçom não pode atrapalhar o seu convívio com os irmãos da

sua loja, não pode ser motivo para não comparecer em eventos de grande loja e não pode ser um impeditivo de você poder usufruir de tudo o que os seus irmãos têm para lhe oferecer.

Façamos uso da força de vontade para combater os vícios que nos mantém inoperantes fora do templo. A maçonaria não é para ser vivida de 15 em 15 dias para o cumprimento de ritualística e ali mento de egos de homens cheios de vaidade. Juntos, podemos crescer espiritualmente, como família e fazendo de facto uma sociedade mais justa e mais esclarecida a começar por nós mesmos.

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Dualidade Comparativa de Instrumentos

Do Esquadro ao Compasso e do Fio-de-prumo ao Nível

Por João Crispim

Sendo os instrumentos que aqui vou tratar muito utilizados durante a minha vida profissional, tomam uma simbologia especial, de desafio e apoio, nesta nova etapa da minha caminhada.

Ferramenta em forma de L, o esquadro é utilizado pelos obreiros para traçar, marcar eixos, medir ângulos retos, tirar perpendiculares, esqua drias, ligar dois perfis, duas peças ou duas superfícies de modo a manter invariável o ângulo de 90° que fazem entre si.

No esquadro, encontro o elemento positivo na visibilidade e rigidez do ângulo reto que nos convoca ao rigor dos atos e à clareza e perfeição do encaixe entre o que dizemos e o que fazemos. Pela comple mentaridade do terceiro lado, na invisibilidade e dimensão da hipotenusa, encontro o apelo a algo maior que eu, à superação, à entrega sem roupagens, à humildade de ser, estar e servir de modo simples e direto, plena do imaginário que reveste as ideias de uma forma apropriada, nos faz sonhar e evoluir.

Sobre a articulação e abrangência do compasso, ao criar a circunferência dá forma à visualização de uma das revoluções mais profundas que o homem conseguiu conceber e idealizar. Apesar de desenhar imagens redondas, perfeitas, que fez desenvolver a roda e todas as formas cilíndricas, esféricas, elípticas, espirais, na verdade, cria uma teoria im possível de materializar, ou seja, se analisarmos

cuidadosamente e pormenorizadamente, por mais elaborados que os instrumentos tecnológicos possam ser, não é possível realizar materialmente objetos redondos perfeitos – os olhos não vêm, nem os nossos sentidos detetam, mas encontram-se sempre ínfimos planos retos – estão lá.

Redondo ou poligonal, é dentro da abrangência do seu limite que o trabalho que se efetua, tendo em conta que a amplitude é desenhada à medida de cada um e do empenho que procuramos em cada momento. Semelhante aos conceitos do universo, o homem progride por vezes em espirais de duali dade através de rotações expansivas e regressivas, noutras em vetores de dois sentidos, tal como a luz que irradia e expande, mas simultaneamente se reflete para o centro na busca da sua origem.

No caso do fio-de-prumo, ao medir a inclinação de um pilar apenas se procura saber se a obra está ou não torta – qual o risco de cair?

Sei que o medo de cair não é de assunção fácil - já caí e seguramente que irei cair mais vezes. O que me preocupa é perceber se anteriormente alguém ali caiu, porquê, porque também caí e ter a força de me levantar. Não podendo haver lugar a

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improvisos, colagens inconsequentes ou qualquer facilitismo, o fio-de-prumo ajuda-me a verificar pela observação e estudo se os passos são corretos e o conhecimento necessário para expor com a profundidade exigida, que a estabilidade da obra está garantida.

Quanto à retidão do nível, a sua utilidade exerce-se na aferição da verificação do plano, seja ele qual for.

Pela experiência de vida, passei por diversos estágios e planos enquadrados em situações que criam perceções ilusórias de Poder - nível de posição hierárquica, intelectual ou outra. Mais tarde ou cedo, inesperadamente, tropecei numa ocorrên cia ou questão que me deixou sem palavras e me colocou onde deveria estar. Efetivamente, a força criadora do G:.A:.D:.U:. representada pelo princípio dos homens serem iguais perante as leis naturais e sociais, tem a sua aplicação prática e direta com quem nos no cruzamos, através da tolerância e demonstração dos valores morais que conduz ao serviço pela dádiva e pela entrega, numa atitude de fraternidade junto do homem nascido livre e de bons costumes, igualmente amigo do rico e do pobre, sendo pessoas de bem.

Em todos os instrumentos apresentados, apesar de simples e muito práticos, atribuo-lhes um significado de grande entrega e empenhamento, nas seguintes dualidades: pelo esquadro visualizo o campo dos princípios, valores e superação; no

compasso encontro a evocação do aperfeiçoamento espiritual por onde a luz se irradia. Em complemento, se o fio-de-prumo fornece a verticalidade intelectual, o nível, demostra a horizontalidade fraterna.

Deixe-me partilhar um pouco mais a minha passagem pela Câmara de Reflexão, onde em mer gulho de profundidade enfrentei seriamente factos escondidos, emoções, desculpas adiadas e o conforto de estar acomodado. Através do esforço de deixar para trás toda a carga supérflua e inútil que carregava, enfrentei a inquietação e, alicerçando-a tomei o propósito de melhorar, olhar todos de frente e como são, ouvir, buscar pontes, servir de forma franca e aberta, procurar observar e compreender como a beleza se reveste de luz, e a torna única.

É a desafiadora empreitada que tenho pela frente, que me transporta na busca da perfeição inatingível, no desafio permanente de colocar em prática o que aparentemente é claro e óbvio, mas ainda não vejo. Por necessitar de muito e cons tante trabalho sem desfalecimento, sozinho, não sou capaz. Perderia tempo a tatear muitas portas, ouvir muitos arautos, gastar os olhos em muitas as palavras, medir e medir paredes sem fim. Dou graças por estar convosco. Aqui, com o apoio dos irmãos, o vosso, tenho a certeza de ter encontrado os pilares que suportam o meu caminhar de cres cimento, em força, beleza e sabedoria.

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“Posto que o Capitão-Mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei também de dar disso a minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que, para o bem contar e falar, o saiba pior que todos fazer... Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje sexta-feira, primeiro dia de Maio de 1500.” – in Carta de Pero Vaz de Caminha a El Rei D. Manuel I.

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O Segredo da Vera Cruz

Dos fracos não reza a História

Pedro Álvares Cabral não terá sido o primeiro Português a desembarcar em terras do atual Brasil pois segundo rezam as crónicas, já em 1498, D. Manuel I terá mandatado Duarte Pacheco Pereira para efectuar uma viagem de reconhecimento a Sudoeste das Ilhas de Cabo Verde. “O Esmeraldo de Situ Orbis” é um raríssimo manuscrito de Cosmografia e Marinharia, com um total de 200 páginas e dividido em 5 partes. Apesar do título em latim, terá sido escrito em língua portu guesa, contendo as coordenadas de todos os portos conhecidos no seu tempo. O título parece significar “O Tratado dos novos lugares da terra, por Manuel e Duarte”. É um dos primeiros manuscritos portugueses a mencionar a costa do Brasil e a abundância do Pau-Brasil. Este manuscrito só veio a ser publicado em 1892, em Lisboa, pela Imprensa Nacional, as sinalando o IV Centenário da primeira viagem de Colombo, mas a sua data de conclusão terá sido 1506, o que indicia elevado sigilo no manuseamento destas

informações pelo Rei D. Manuel I. Parece também tratar-se, mais do que de um roteiro de viagens, de uma obra científica que reúne todos os conhecimentos náuticos acumulados pelos portugueses nos séculos XIV e XV. Razão esta pela qual Filipe II terá alega damente pago, em 1573, uma pequena fortuna para obter uma cópia clandestina desta obra mandatada por D. Manuel I. Nao obstante a sua devoção pelo seu avô materno português, estamos em crer que outras razões mais pragmáticas terão norteado esta ação de espionagem do Rei de Espanha.

A verdade é que a “Terra Brasilis” sempre exerceu um fascínio muito grande junto de outros povos Europeus, a acreditar nas teorias da histo grafia francesa e espanhola, ambas reivindicando para si a descoberta do Brasil. De acordo com os franceses, terá sido o navegador Jean Cousin a aportar cerca da foz do rio Amazonas em 1488.

Já da parte espanhola, a referência é o navegador Vicente Yañez Pinzon, o qual que terá comprova damente alcançado o Cabo de Santo Agostinho, a

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sul do Recife, entre finais de 1499 e Janeiro de 1500.

Também africanos e asiáticos reivindicam ter desembarcado na América Portuguesa muito tempo antes de Pedro Álvares Cabral. Fazendo fé nos relatos da viagem dos navios do rei do Máli por parte do his toriador Árabe Ibn Fadlallah Al-Ulami, estes teriam chegado à região onde hoje se situa o atual Estado de Pernambuco em 1312.

Já os chineses também reivindicam ter os seus navegadores, Zhon Man e Hong Bao, desembarcado na foz do rio Orinoco, na atual Venezuela, em 1421 e de seguida terem descido toda a atual costa do Brasil, Uruguai e Argentina ate ao estreito de Magalhães.

A avaliar pelo discurso de XI Jinping na abertura do Fórum sobre a nova Rota da Seda, em 2107, em Pequim, estas viagens são também inspiradoras da crescente afirmação da China no Mundo, nomeada mente no Atlântico Sul.

O historiador portugues Oliveira Martins segura mente recomendaria a “paz do esquecimento a todas estas quimeras pois dos fracos não reza a historia...”

A “Cruz verdadeira”.

“Posto que o Capitão-Mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei também de dar disso a minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que, para o bem contar e falar, o saiba pior que todos fazer... Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje sexta-feira, primeiro dia de Maio de 1500.” – in “Carta de Pero Vaz de Ca minha a El-Rei D. Manuel I”

Aos 21 dias de Abril, terça feira seguinte ao domingo de Páscoa e após cerca de 30 dias navegando para sudoeste das Ilhas de Cabo Verde, a armada de Pedro Álvares Cabral avista sinais de terra, “...os quais eram muitas quantidades de ervas compridas e ao terceiro dia seguinte ao Domingo de Páscoa houvem vista dum grande monte, ao qual monte o capitão põe o nome de Monte Pascoal e à Terra o nome de Vera Cruz.”

Na quinta-feira dia 22 de Abril finalmente Pedro Álvares Cabral autoriza uma primeira missão de

reconhecimento físico da Terra de Vera Cruz – “Cruz Verdadeira ou Cruz da Verdade” – tendo para este efeito encarregado Nicolau Coelho, navegador que tinha acabado de chegar há escassos 6 meses da Índia no comando da Caravela “Berrio”, integrado na frota de Vasco da Gama.

Conforme o relato de Pero Vaz de Caminha, Nicolau Coelho desembarca na Terra de Vera Cruz, estabelece o primeiro contacto com os nativos locais e participa na primeira visita realizada pelos indígenas a bordo da nau Capitânia. Ficará para a História como tendo sido o primeiro homem a visitar simultaneamente a África, Ásia e América, para além, claro está, do continente Europeu que o viu nascer. Foi também o único Capitão da História das Navegações Portuguesas a simultanea mente comandar embarcações nas armadas de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e Afonso de Albuquerque, as quais arribaram à Índia em 1498, 1500 e 1503, respetivamente. Junto consigo, o melhor piloto da época, Pero de Escolar, o qual já tinha sido seu piloto na nau “Berrio” a caminho de Calecut, em 1498.

A carta que Pero Vaz de Caminha escreve a Sua Majestade El-Rei D. Manuel I é um precioso testemunho, inexcedível de rigor científico e antropológico, mas igualmente dotado de grande conteúdo literário. É ainda hoje e já passados 522 anos do Achamento, uma singular testemunha viva do primeiro contacto entre Portugueses e nativos do Brasil. Não se compreende

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porquê esta obra, primogénita da literatura portuguesa de inspiração brasileira, não é ainda amplamente estu dada nas escolas do ensino secundário de Portugal.

Trata-se efectivamente de um precioso docu mento que se supõe ter-se mantido secreto durante mais de 300 anos – uma cópia terá viajado para o Rio de Janeiro em 1808 com D. João VI – pois a sua primeira publicação conhecida é apenas datada de 1817 pela Imprensa Régia no Rio de Janeiro, inserida na “Corografia Brazilica” do Padre Manuel Aires Casal.

A “Cruz maravilhosa”.

“Já descoberta tínhamos diante, lá no novo Hemisfério, nova estrela, Não vista de outra gente, que, ignorante, alguns tempos esteve incerta dela.

Vimos a parte menos rutilante e, por falta de Estrelas, menos Bela Do Polo Fixo, onde inda se não sabe, que outra terra comece ou mar acabe.”

Lusiadas, Canto V – Estrofe 14.

Outra das cartas escritas a El-Rei D. Manuel I no âmbito desta viagem à terra de Vera Cruz e que também chegou aos nossos dias é a carta escrita por Mestre João de Faras. Médico da corte portuguesa, o qual D. Manuel I convidou a integrar a Armada do

Brasil por ser também um competente astrónomo e físico, Mestre João era alegadamente de ascendência Sefardita e consta ter nascido na Galiza, tendo poste riormente se refugiado em Portugal.

Esta carta tem um conteúdo mais técnico e menos literário mas o seu contributo científico é muito relevante para a Humanidade na medida em que se trata da primeira documentação gráfica conhecida da constelação do Cruzeiro do Sul ou Crux, como Mestre João a terá apelidado.

O Cruzeiro do Sul é um conjunto de 5 estrelas e que podem ser inscritas numa Cruz, na qual a haste se encontra em duas estrelas, a “Mimosa” e a Pálida”. A “nova estrela” referenciada nos Lusíadas parece corresponder aquela denominada por “Sul” e corres ponde ao Pé do Cruzeiro do Sul, a qual é a mais próxima do Pólo Sul - sendo por isso conhecida por “Estrela de Magalhães ” - e é de todas a mais brilhante.

Na cabeça ou parte superior da Cruz, temos a “Rubídea”, pois possui uma coloração avermelhada. Em quinto e último lugar temos a “Intrometida” que recebe esta denominação por não integrar a cruz, sendo, no entanto, fundamental pois facilita a localização da constelação do Cruzeiro do Sul no meio das res tantes constelações.

O Cruzeiro Sul é também um excelente relógio, pois a linha formada por suas estrelas Rubídea e Magalhães gira em torno do Polo Sul, em aproxima damente 24 horas. Este braço mais extenso serve para identificar o Polo Sul, situado a 3,5 vezes a longitude da própria constelação.

O Cruzeiro do Sul é a formação estelar mais conhecida do Hemisfério Sul e a sua visualização só é possível a partir da linha do Equador. Pela sua beleza é também conhecida por “Cruz Maravilhosa” e pela sua importância histórica e significado simbólico foi adotada para figurar na bandeira do Brasil. Nomeia tambem a Ordem Militar Honorifica mais importante da Terra da Vera Cruz.

“Novo céu e novas estrelas”

“Quando tomares este Cruzeiro do Sul, fá-lo de o tomar quando ele estiver empinado... e tomarás a Es trela do Pé (Estrela do Sul ou Estrela de Magalhães) e

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olharás bem que esteja Norte-Sul com a outra (Rubí dea) e Leste-Oeste com os braços (Mimosa e Pálida).”

O Tratado da Agulha de Marear de João de Lisboa, 1514.

João de Lisboa (c.1470-1525) foi um piloto da carreira da Índia que se suspeita tenha também tomado parte na Armada de Pedro Álvares Cabral. Ainda que não existam documentos comprovativos da sua presença na tripulação – o que talvez se explique pela sua juventude, nessa altura, mas também pelo facto de apenas existirem referências à presença dos pilotos mais consagrados à época, como Afonso Lopes (Piloto da Nau Capitânia) ou Afonso Gonçalves e Pero Escolar (Pilotos que também já tinham inte grado a Frota de 1498/99 de Vasco da Gama) – sabemos contudo que ele acompanhou Tristão da Cunha, comandante da Armada que, em 1506, descobriu várias ilhas no Atlântico Sul, bem como explorou a costa do Rio da Prata, no atual Uruguai e Argentina.

Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878) –referência maior da Historiografia Brasileira - diz sobre ele que “...o piloto português João de Lisboa… já no Brasil havia estado antes …escreveu um livro sobre Marinharia, cujo aparecimento seria de trans cendente importância para a Historia da Geografia.”

In Historia Geral do Brazil (Rio de Janeiro 1854).

No Tratado da Agulha de Marear fica claro que já existia o entendimento de que haveria uma relação

entre a movimentação da agulha de marear (mais tarde designada de bússola) e a longitude dos sítios por onde passava.

João de Lisboa teria inclusive postulado o conceito de um “Meridiano Vero”, defendendo a existência de uma relação direta entre a variação da declinação magnética e a longitude.

Neste “Meridiano Vero” encontrar-se-ia a linha em que a declinação seria zero, o que permitiria calcular com algum rigor a longitude. Hoje sabemos que não é assim mas muitos pilotos da época continuaram a utilizar esta teoria, com bons resultados no Atlântico Sul, porque nesta travessia no sentido Oeste-Este - leia-se da costa Brasileira para o Cabo - verificava-se que a variação da declinação era muito regular, sendo os pontos obtidos por este processo bastante rigorosos.

Contudo, o grande contributo para a navegação oceânica no Atlântico Sul e em todo o hemisfério austral foi a constatação por parte de João de Lisboa do uso náutico do Cruzeiro do Sul.

De acordo com este Tratado, a simplicidade da uti lização do Cruzeiro do Sul reside no facto de a estrela do Pé (“Sul” ou “Estrela de Magalhães ”) e a estrela da Cabeça (“Rubídea ”) terem a mesma ascensão reta.

Por esta razão, quando o Pé passa pelo meridiano do lugar, o mesmo acontece à Cabeça ficando assim a haste na vertical. Neste momento mede-se a altura da estrela do Pé para calcular a latitude, não havendo

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necessidade de conhecer a hora da passagem das estrelas do Cruzeiro do Sul pelo meridiano.

Assim sendo e tendo os nossos navegadores deixado de poder contar com a Estrela Polar para navegar no hemisfério sul com algum rigor, a sua grande companheira para a navegação no hemisfério austral passou a ser a constelação do Cruzeiro do Sul.

Nas palavras do grande matemático e Cos mógrafo-Mor do Reino, Pedro Nunes, “...Os portu gueses ousaram cometer o grande Mar Oceano e fizeram o Mar tão chão que não há hoje quem ouse dizer que achasse novamente alguma pequena ilha, alguns baixios ou sequer algum penedo, que por nossas Navegações não seja descoberto. Entraram por ele sem nenhum receio. Descobriram novas ilhas; novas terras; novos mares; novos povos; e o que é mais; novo Céu e novas Estrelas”.

A “Santa Cruz” e os Lusíadas.

“Mas cá onde mais se alarga, ali tereis Parte também, com o pau-vermelho nota; De Santa Cruz o nome lhe poreis,

Descobri-la-á a primeira vossa frota. Ao Longo desta Costa, que tereis, Irá buscando a parte mais remota, O Magalhães, no feitio, com verdade, Português, porém não na lealdade.” Lusíadas. Canto X, Estancia 140

Luís de Camões terá nascido cerca de 24 anos após a viagem de Pedro Álvares Cabral. Aquando do seu nascimento, o Brasil representava uma terra cujas possibilidades de exploração e contornos geográficos eram desconhecidos. Por vários anos pensou-se que não passava de uma grande ilha com atrações exóticas – índios, papagaios, araras –mas sem grandes motivos particulares de interesse. De facto, o descobrimento do Brasil não provocou, nem de perto nem de longe, o entusiasmo des pertado pela chegada de Vasco da Gama à Índia e parece que o único motivo de interesse que gerou em Portugal foi a exploração da principal riqueza da terra – o Pau-Brasil.

Só assim se explica que Luís de Camões lhe tenha dedicado somente duas estrofes no final do

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último Canto (Canto X, Est. 63 e Est. 140), fazendo referência a Fernão de Magalhães, mas omitindo qualquer referência a Pedro Alvares Cabral, referindo apenas “...descobri-la-á a primeira vossa frota”, dando assim primazia à Armada do Brasil e considerando-a primeira – em oposição à frota de Vasco da Gama constituída por escassas 4 pequenas Caravelas contra os 14 navios da Armada do Brasil.

Considera também Camões mais oportuno qualificar Magalhães como desleal – por ter estado ao servico de Castela – do que relevar o magnífico serviço prestado por Pedro Álvares Cabral, ao descobrir o Brasil ao serviço de Portugal.

Referir-se-á uma vez mais ao feito de Fernão de Magalhães na estrofe 138 do mesmo Canto X – “...Dum Lusitano um feito inda vejais, que de seu Rei mostrando-se agravado, Caminho hás de fazer nunca cuidado.”

Já na estrofe 63 assinalou o Brasil de forma singular “... No Brasil, com vencer e castigar, O pirata Francês, ao mar usado...” refere-se a Martim Afonso de Souza e ao episódio da malograda França Antártica na Baía da Guanabara – ao qual dedica ainda mais algumas estrofes (64,65 e 66) e finaliza

com a 67, “Este será Martinho, que de Marte, o nome tem com as obras derivado, Tanto em armas ilustre em toda a parte, Quanto em conselho, sábio e bem cuidado.”

Martim Afonso de Souza, Capitão-Mor do Mar das Índias obteve inúmeras vitorias militares no Oceano Índico. Conquistou Damão, defendeu Diu contra Otomanos e Hindus e derrotou o Samorim de Calecut, mas a sua maior contribuição para a afirmação de Portugal no mundo foi ter sido o fundador da primeira povoação portuguesa nas Américas – a atual cidade de São Vicente (nome em homenagem ao Santo protetor de Lisboa) – bem como ter ficado intimamente ligado à fundação da maior cidade de língua portuguesa no mundo e primeira cidade não-litorânea a ter sido construída fora do velho continente por portugueses – a atual cidade de São Paulo.

Martim Afonso de Souza foi também o dona tário da Capitania do Rio de Janeiro, que combateu ativamente e logrou expulsar os franceses da Baia da Guanabara e de todo o litoral Fluminense, estando assim intimamente ligado à história da fundação da cidade Maravilhosa de São Sebastião.

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Martim Afonso de Souza é assim justamente homenageado por Luís de Camões em várias estrofes do Canto X mas apenas marginalmente por seus feitos no Brasil.

Quanto a Pedro Álvares Cabral e por razões que a História também explica, nem sequer é referido em todo o corpo dos Lusíadas, isto apesar de Luís de Camões ter viajado para a Índia na frota coman dada por Fernão Álvares Cabral, filho de Pedro Álvares Cabral.

Camões efetua também nos Lusíadas uma outra referência indireta à viagem de Pedro Álvares Ca bral, mas agora para destacar o infeliz passamento daquele a quem Fernando Pessoa considerou ser – na sua obra “Mensagem” – o “Capitao do Fim”.

“...E da primeira Armada que passagem fizer por estas ondas insofridas... Aqui espero tomar, se não me engano, de quem me descobriu suma vin gança” (Canto V, Estancias 43 e 44).

Refere-se a Bartolomeu Dias que, tendo sido o pri meiro a dobrar o Cabo, perdeu também aí a sua vida ao comando da sua nau, parte integrante da Armada do Brasil comandada por Pedro Álvares Cabral.

“Deus quis, o homem sonhou... e a obra nasceu!”

Memorial a Pedro Alvares Cabral, Parque do Ibirapuera, Cidade de São Paulo.

Presidente Tancredo Neves São João del-Rei, MG 04/03/1910 São Paulo, SP 21/04/1985

Uma das piadas de portugueses mais recorrentes que contam no Brasil relata o facto de Pedro Álva res Cabral não ter descoberto o Brasil, pois andaria perdido, tendo antes sido o Brasil a achar Cabral. Uma das respostas mais extarordinarias que alguma vez ouvi, por parte de patrício nosso vivendo há largas décadas no Brasil, foi de que Pedro Alvares

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“ A PORTUGAL DEVEMOS TUDO; O NOSSO SANGUE, A NOSSA HISTÓRIA, A ORIGEM DAS NOSSAS INSTITUICOES LIVRES, O ESPACO AMPLO QUE HABITAMOS”

Cabral não descobriu o Brasil pois não se pode achar algo que não existe. Melhor dizendo, algo que ainda não existe. De facto, quando Cabral arribou a terras de Santa Cruz de Cabrália, na actual Bahia, o Brasil não existia e se então não existia, a Armada do nosso Almirante nunca o poderia ter descoberto.

Pero Vaz de Caminha, na Carta do Achamento da Terra de Vera Cruz que escreve a D. Manuel I, também parece fazer uma distinção clara, ainda que subtil, entre Achamento e Descobrimento. Diz o escriba na fl.6 da sua Carta do Achamento: “E perguntou a todos se nos parecia ser bem mandar a nova do achamento desta terra a Vossa Alteza pelo navio de mantimentos, para melhor a mandar descobrir e saber dela mais do que nos agora podíamos, por irmos de nossa viagem”.

Tenho para mim assim que o que os portugueses encontraram em 1500 foi parte da orla atlântica do continente sul-americano, a qual chamaram Terras de Vera Cruz. Isto é que constitui o Achamento –Novas Terras, Novos Mares e Novos Povos – mas estas Terras de Vera Cruz não têm nenhuma outra relação com o Brasil actual, além de terem sido o

lugar onde Portugal e gerações de portugueses e luso-descendentes criaram sucessivamente as primeiras 15 Capitanias Donatárias da América Portuguesa, o Governo-Geral da Colónia do Brasil, o Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves e, finalmente, o Império Brasileiro, de onde resultou posteriormente esta magnífica e portentosa nação que é o Brasil.

Muitos autores, tanto portugueses quanto brasileiros, por incúria, má fé ou simplesmente por ignorância fazem uma deliberada confusão entre naturalidade e nacionalidade.

Ser brasileiro, até 7 de Setembro de 1822, era apenas a naturalidade de uns certos portugueses, daqueles que tinham nascido na América Portuguesa, como portugueses eram os nascidos em Portugal, fossem eles minhotos, alentejanos, algarvios, beirões ou transmontanos. Diga-se a propósito que o patriotismo dos brasileiros – portugueses naturais do Brasil Colónia – era tão acentuado e evidente que a maior festa brasileira hoje admirada em todo o mundo – o Carnaval do Rio de Janeiro – resultou da explosão de patriotismo dos portugueses cariocas quando lá chegou a notícia da Restauração da

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Independência de Portugal, como resultado da Revolta de Lisboa, a 1 de Dezembro de 1640.

E se é verdade que os portugueses do Brasil decidiram então, em 1640, manterem-se portugueses quando se ria mais fácil para eles continuarem subditos do Rei de Espanha – como os de Ceuta ou Olivença – também não é menos verdade que se assim não tivesse sido provavelmente não teriamos hoje um Portugal Europeu, pois só com o entusiasmo e o apoio dos portugueses do Brasil foi possível também expulsar franceses do Maranhão e holandeses do Pernambuco e de Angola e com isto criar sustentabilidade para garantir a nossa independência face a Espanha.

Assim sendo, não podemos tomar a Carta de Pero Vaz de Caminha como a Certidão de Baptismo do Brasil, mas apenas uma descrição, muito bem conseguida, ressalve-se, mas parcial porque apenas de uma infini ta parte do litoral baiano. Exatamente porque não foi o Brasil que Pedro Alvares Cabral descobriu na America do Sul, mas sim as Terras de Vera Cruz – esse lugar mágico, onde posteriormente a gesta lusitana criou, fomentou, defendeu, dilatou e preservou esse imenso e grandioso Brasil.

Eu, enquanto português que viveu alguns anos no Brasil, nunca me senti um estrangeiro nessa querida

e amada terra – pelo que só posso agradecer a genero sidade e hospitalidade dos nossos irmãos brasileiros. Também nunca tive qualquer tipo de dúvidas sobre a bondade da herança que Portugal legou aos nossos irmãos de além-mar. Também sempre me encho de felicidade quando ouço falarem português com aquele “cheirinho de açúcar”, seja em Portugal ou noutro terceiro país. Língua portuguesa e a cana do açúcar são afinal dois dos inúmeros legados lusos no Brasil. E amor, muito amor porque para construir uma grande nação como o Brasil não chegaria apenas o Sangue, Suor e Lágrimas. Fundamental ter existido também muita Força, Beleza e Sabedoria. É mesmo caso para dizer que “Deus quis, o Homem sonhou e a Obra nasceu !”.

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Revisitando José Saramago

por Fernando Correia

A imortalidade conquista – se pela diferença. A memória perpetua – se pelo conteúdo da vida.

José de Sousa Saramago foi um Ser Humano que lutou por si e pelos outros, através da palavra escrita, dos conteúdos corajosos, das lutas internas pela con quista da liberdade de expressão.

Por isso, pelo seu talento, pela prosa pensada e obtida no direito de ser diferente, pela coragem com que deu voz e sentido às palavras mudas, José Saramago foi distinguido em 1998 com o Prémio Nobel da Literatura, depois de ter recebido o Prémio Camões em 1995 e fez com que o menino nascido em Azinhaga do Ribatejo fosse crescido como serralheiro mecânico e adulto como um dos maiores escritores de sempre em língua portuguesa.

Cem anos passam sobre o seu nascimento em

1922 e nesta memória em que se revisita o jornalista, o poeta, o teatraólogo, o ficcionista e o romancista, caem dos sentidos, numa emoção descontrolada e sublime, títulos como: “Os poemas possíveis”, “A Noite”, “Manual de pintura e caligrafia”, “Memorial de Convento”, “ A jangada de pedra”, “O evangelho segundo Jesus Cristo”, “O ano da morte de Ricardo Reis”, ficando a paixão por Lanzarote como último recado da sua vida cheia de palavras, de mensagens, de sonhos, de premonições, de certezas e de esperança. Disse José Saramago: “ O espelho e os sonhos são coisas semelhantes. É como a imagem do homem diante de si próprio”.

E essa é a imagem de Saramago que resta para o futuro do tempo.

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A percepção Invisível

por Vasco Lima

Como já referi em artigos anteriores, a vibração da harmonia de que se compõem as estruturas musicais, permite por vezes alterações dos estados emocionais e meditativos, levando-nos a estados mais profundos de consciência.

Tudo o que existe no Universo está vivo e vibra.

Pertencemos a um macro mecanismo que funciona na perfeição e tem ritmo.

Se tem ritmo, tem uma cadência, uma frequência, uma ressonância, um padrão vibracional.

Para que se entenda tanto a Palavra (falada) quan to a Luz (iluminação) correspondem a vibrações.

O batimento do “coração” da galáxia ocorre a cada 25.000 anos aproximadamente e, neste mo mento, a humanidade tem a oportunidade de sentir este pulsar, tal como acontece com os batimentos do coração, mas a um ritmo bem mais rápido devido ao tamanho do corpo. Quanto maior for a dimensão do organismo, mais espaçado é o batimento cardíaco.

Por exemplo: o ritmo do batimento do coração de um rato é mais acelerado do que o nosso e o coração de uma barata tem um ritmo de batimento ainda mais rápido.

O coração do planeta é mais lento, o sol também

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pulsa, porém, de forma mais lenta, e Sirius é mais lento ainda.

O coração da via láctea, pulsa numa lentidão ainda maior e regida pelo tempo eterno.

Assim, esta pulsação que nos chega do centro da galáxia traz-nos frequências de Luz e Som invisíveis a nossa visão e audição. Como já referi, a Luz e o Som possuem frequências vibratórias.

O espectro luminoso visível limita-se às frequências localizadas entre o infravermelho e o ultravioleta, ou seja, imagens que têm frequências entre 4,3 THz até 7,5 THz.

O ouvido humano é capaz de detectar sons de frequências entre 20 Hz e 20.000 Hz.

O nosso universo é pura vibração e nós, como seres humanos, estamos limitados a um conjunto de frequências que se combinam entre si na relação entre a audição e a visão

Para termos a real consciência de percepção das frequências mais subtis, para entendermos o universo imperceptível aos 5 sentidos, basta aprender a alterar a frequência vibratória do átomo para conseguir dar ao chumbo a aparência do ouro.

As formas são apenas aparências emanadas pela vibração e materializam-se ou não em função da vibração dos átomos de todo o universo, mas o que é visível e auditivamente perceptível ao ser humano é refém das limitações físicas de audição e visão.

Tal como referiu Saint Exupéry na sua obra O Pequeno Príncipe: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”.

Acredito na intuição e na emoção da meditação como caminho para o entendimento e percepção das frequências não perceptíveis da vibração perpétua da energia, da luz e do som, e da nossa consciência, que é divina, eterna e imutável.

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IN MEMORIAM

Eunice Muñoz à margem do tempo

Nasceu na Amareleja no dia 30 de Julho de 1928, filha do Hernâni e da Mimi, eles também do espetáculo, numa espécie de premonição sanguínea que havia de dar frutos maduros, colhidos na árvore da eternidade.

Tinha apenas treze anos de idade quando se estreou no Teatro Nacional D. Maria II, com a peça, de Virgínia Vitorino, “Vendaval” , num outro sinal premonitório já que a própria Eunice iria ser um vendaval de palco, espalhando talento e arte em muitos teatros e afirmando – se no vasto mundo da

língua portuguesa de forma invulgar, mas justa, fazendo escola, dizendo aos jovens actores como se devem administrar os silêncios, tirando deles o mais completo sentido do que é a arte de representar, desde o gesto à palavra, passando pelas expressões e por essa tarefa hercúlea de fazer chorar na vastidão sentimental de um silêncio representado.

Eunice viveu à margem do tempo como quis, como desejou, como o público exigiu, como os seus colegas de palco lhe estenderam os braços, os sorrisos e os amores eternos.

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Mile Davis por XicoFran

Tributo a um dos nomes mais importantes do Jazz nas comemorações do seu nascimento. Um ícone, uma esfinge, um gênio.

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