COMPO SIÇÕES PARA A DUNA performers UINIA CARVALHO E MARCELO DA COSTA
Projeto de SOFIA PORTO BAUCHWITZ
Natal, 11 de abril de 2021
Composições para a Duna é uma continuidade de Composições para Órgão, projeto de 2016 que realizei com o artista Mario Espliego para a exposição “Breathing Space”, no Museu de Arnhem. Na ocasião fomos provocados pela curadora Inez Piso a pensar o espaço-entre-corpos, e inventariamos alguns destes lugares abstratos que recebem nomes diversos como luvas, abraços, batidas de asas. Nesta segunda edição do projeto, Composições para a Duna, eu quis inventariar lugares daqui, dar espaço aos lugares que desaparecem e se inventam com o vento da cidade de Natal. Tentei traduzir para a música a instabilidade deste território afetivo onde nos movemos - esta identidade impermanente com que nos construimos quando saímos à rua, olhamos a paisagem, lembramos de como era e de como nunca foi. Do que mais é feita uma cidade? O pertencimento é uma invenção que tem movimento próprio, cheiro, gosto e sons. Todo inventário é uma invenção que implica em repetições de gestos de um corpo que lembra e se faz espaço. Para Composições para a Duna cataloguei 5 lugares afetivos de Natal: A Teimosia que o vento varre na Folha; O Tempo acumulado nos segundos da Chuva de Verão; A Infância guardada em uma Fachada que só existe na Palavra; Um Corpo Azul caído em uma Praça Qualquer; O Gosto de Mel que atravessa a Rua. Estes espaços foram criados e performados pelo meu corpo para virarem som. E os sons foram traduzidos à notação musical, partitura, para poderem ser tocados pelos músicos Uinia Carvalho (Violão e baixo) e Marcelo da Costa (teclado, baixo, violão e guitarra), que fizeram arranjos preciosos para cada uma das peças. Nesta edição tive a colaboração de Justino Neto, que ficou encarregado da cinematografia e da edição; Isack Rangel, encarregado da captação e edição de som; Maria Emilia Monteiro Porto, que narrrou os espaços, e Makson Alan, que tratou de nos dar um certo ar dunesco com suas costuras. As partituras de cada um dos espaços estão reunidas neste libreto para que possam ser tocadas por quem queira. Espero que gostem. Sofia P. Bauchwitz
Este projeto foi realizado com recursos da Lei Aldir Blanc Rio Grande do Norte por meio da Fundação José Augusto, Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal.
A Teimosia que o vento varre na Folha Sofia Porto Bauchwitz
Varrer as folhas para um lado e não para o outro, enquanto se espera que o vento não desfaça o feito. Não é questão de treino ou de hábito, é preciso uma dança para varrer mais rápido que a teimosia que o vento varre na folha.
O Tempo acumulado nos segundos da Chuva de Verão Sofia Porto Bauchwitz . =97
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A chuva é tão forte que pensamos, por um segundo, que não vai ter fim. Um segundo tão amplo, tão cheio de tudo, que podemos dizer que o tempo fica todo acumulado nesse espaço, pronto para explodir quando a chuva acabar.
A Infância guardada em uma fachada que só existe na palavra Sofia Porto Bauchwitz
Guardar na ponta da língua as descrições das ruas, das casas, dos ladrilhos e do pés de mamona. Saber que algo está faltando. Imaginações que ficaram no passado, numa infância guardada em uma fachada que só existe na palavra.
Um Corpo Azul caído em uma praça qualquer Sofia Porto Bauchwitz . =54
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Respeitar as quedas por igual. Quantos corpos azuis jazem caídos e esquecidos em uma praça qualquer? Até os anjos caem.
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O Gosto de Mel que atravessa a Rua Sofia Porto Bauchwitz . =116
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Uma rua que cheira a doce é um patrimônio. Atravessar o cheiro, então, como quem atravessa o tempo, como quem volta atrás. Fazer do passeio uma despedida.
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