Os novos moldes do jornalismo

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Os​ ​novos​ ​moldes​ ​do​ ​jornalismo Conheça​ ​startups​ ​que​ ​vêm​ ​revolucionando​ ​o​ ​jornalismo,​ ​produzindo​ ​trabalhos​ ​que​ ​dialogam com​ ​o​ ​leitor​ ​através​ ​de​ ​novas​ ​linguagens Texto:​​ ​Mia​ ​Sodré​ ​(2º​ ​sem.)​ ​e​ ​Sofia​ ​Lungui​ ​(2º​ ​sem.) Pequenas equipes, publicação estritamente digital, fontes de recursos alternativas e objetivos claros e bem definidos. Estas são as principais características das empresas e startups de jornalismo que estão surgindo no Brasil. Por meio destas experiências, o jornalismo ganha uma nova forma, e os jornalistas deparam com um cenário diferente. Os avanços da tecnologia e das plataformas digitais possibilitaram maior abertura para iniciativas deste tipo, que foram abordadas em suas diversas formatações nesta reportagem. Tornou-se mais fácil empreender, novas funções surgiram, novos debates foram levantados. Nos últimos três meses, o Editorial J mergulhou neste tema. Para compreender que mudanças são estas, quem as está protagonizando e que caminho pretendem seguir, foram selecionadas e investigadas oito iniciativas de jornalismo fora dos eixos tradicionais. Os critérios balizadores da escolha: plataformas não ligadas a organizações ou grupos e grau de notoriedade e relevância. Foram realizadas​ ​entrevistas​ ​com​ ​fundadores,​ ​diretores,​ ​editores​ ​e​ ​repórteres​ ​das​ ​empresas. Com dificuldade para competir com os grandes veículos, já estabelecidos no cenário de mídia, estes novos empreendimentos possuem necessidade de inovar, utilizar abordagens diferentes. Por essa razão, cada iniciativa construiu seu próprio perfil, com temáticas e rotinas de produção próprias. Nas palavras de Felipe Seligman, co-fundador do ​Jota Jurídico​, veículo empenhado em cobrir o setor Judiciário do país, “estamos em um momento de extrema produção de conteúdo e aumentar somente a quantidade de informação sobre qualquer assunto seria um equívoco”. O jornalista disse acreditar que o que destacou a empreitada foi o fato de realizarem uma cobertura diferenciada, mais técnica e para um público específico. “Não​ ​é​ ​preciso​ ​inventar​ ​a​ ​roda,​ ​mas​ ​sim​ ​reinventar​ ​o​ ​que​ ​já​ ​existe”,​ ​explicou. O jornalismo independente, sobretudo, pode ser tomado como uma consequência da crise de modelo de negócio pela qual o jornalismo tradicional vem passando. Cada vez mais jornalistas altamente capacitados estão sendo demitidos das grandes empresas de


comunicação. “Essa crise da imprensa tradicional, de certa maneira, permitiu que jornalistas, um pouco por falta de opção, começassem a tentar apostar em projetos independentes” afirmou​ ​a​ ​jornalista​ ​Ana​ ​Magalhães,​ ​da​ ​revista​ ​digital​ ​de​ ​jornalismo​ ​narrativo​ ​Calle2​. A pesquisa do Editorial J utilizou como modelos o ​Mapa do Jornalismo Independente​, da Agência Pública, e um dos principais estudos acerca das iniciativas digitais de jornalismo no país, de ​Sergio Lüdtke​. O mapa da ​Agência Pública​, empresa responsável por algunas iniciativas de reportagem investigativa no Brasil, agrega as mais notórias iniciativas independentes do país. Já a pesquisa de Lüdtke, jornalista e diretor do Interatores.com, elucidou a forma como se dá o jornalismo nessas plataformas, obtendo resultados relevantes. Constatou, por exemplo, a facilidade que há para os jornalistas, nos dias de hoje, de abrirem startups sem muito investimento, com a ausência de barreiras financeiras no mercado de conteúdo digital. Lüdtke revelou também o elevado número de empreendimentos que fazem uso de newsletter: metade dos 200 participantes da pesquisa. Os resultados de ambos os levantamentos, em termos gerais, coincidem com os encontrados pelo Editorial J. Abaixo, conheça​ ​mais​ ​sobre​ ​a​ ​realidade​ ​dos​ ​novos​ ​empreendimentos​ ​jornalísticos​ ​brasileiros.


Narrativas​ ​latino-americanas Flertando com o jornalismo literário, a Calle 2 é uma revista digital que acredita no poder de contar uma boa história não importando o número de caracteres que forem necessários. Suas reportagens mostram uma América Latina que não é encontrada no cotidiano dos veículos de grande porte. O projeto surgiu em 2014, mas a revista só foi lançada em novembro de 2015, contando com uma equipe de 4 pessoas: 3 jornalistas e 1 designer-programador; isso sem contar​ ​os​ ​mais​ ​de​ ​20​ ​freelancers​ ​que​ ​colaboram​ ​com​ ​a​ ​Calle. Tendo por inspiração o escritor colombiano Gabriel García Márquez, autor do clássico ​Cem Anos de Solidão e também jornalista, a revista segue os passos da narrativa envolvente de


Gabo, com suas histórias sobre uma América Latina real, palpável, com um olhar voltado a pessoas​ ​que​ ​geralmente​ ​não​ ​são​ ​vistas,​ ​que​ ​são​ ​escondidas​ ​dos​ ​noticiários. A equipe é estimulada a não se deter apenas em reportagens sobre o Brasil, mas sim a diversificar seu conteúdo, abrangendo todos os países latinos. Ana Magalhães, idealizadora da Calle 2, afirmou que o objetivo é fazer com “que o brasileiro conheça melhor a América Latina​ ​e​ ​a​ ​riqueza​ ​da​ ​região​ ​latino-americana”. O nome da revista foi escolhido por ser o nome de uma rua que se encontra no ponto mais ao norte da América Latina, num povoado chamado Los Algodones, divisa do México com os Estados Unidos. Para Ana, essa é a representação da essência do projeto: “Porque as fronteiras não separam; elas unem. As fronteiras são muito mais pontos de encontro do que de​ ​separação.​ ​A​ ​revista​ ​Calle​ ​2​ ​quer​ ​chegar​ ​onde​ ​outros​ ​não​ ​chegam”,​ ​disse. Com reuniões de pauta feitas de casa, via internet, e reuniões mensais feitas presencialmente, sem uma sede fixa, a revista vai crescendo sempre com o objetivo de contar boas histórias sobre a diversidade de uma América tão pouco explorada. Fundada com recursos dos próprios colaboradores, a Calle 2 aposta num ​projeto de crowdfunding​, uma campanha virtual e​ ​em,​ ​futuramente,​ ​ter​ ​um​ ​suporte​ ​financeiro​ ​com​ ​anúncios​ ​e​ ​venda​ ​de​ ​conteúdo.


Jornalismo​ ​de​ ​dados​ ​ecológico Nascida como projeto da ONG Associação da Ecologia Digital e com o objetivo de informar e informar bem, o ​InfoAmazonia vem reunindo notícias e fazendo reportagens sobre a Amazônia desde 2012. Não se focando apenas na Amazônia do Brasil, o projeto abrange os nove​ ​países​ ​em​ ​que​ ​se​ ​encontra​ ​a​ ​floresta​ ​tropical. Apesar da sede ser em São Paulo, sua equipe é completamente descentralizada, tendo integrantes em Rondônia e também no Pará, além de vários colaboradores em diversos locais. Com o melhor do jornalismo de dados, o InfoAmazonia vem mostrando um ótimo trabalho sobre​ ​um​ ​eixo​ ​nem​ ​tão​ ​falado​ ​no​ ​meio​ ​jornalístico. Utilizando mapas, softwares e geolocalização para informar as pessoas sobre as questões da Amazônia, o projeto se preocupa em alcançar o maior número de pessoas e contribuir para


haver uma melhoria em suas vidas, levando um jornalismo ambiental acessivo até elas. “A gente tem um projeto focado na qualidade de vida no meio urbano em que as pessoas escrevem conteúdos sobre como mapear ciclovias, como compartilhar dados, sobre a cidade, dados abertos das metrópoles brasileiras, então é esse o tipo de projeto que a gente está fazendo​ ​na​ ​ONG”,​ ​garantiu​ ​Gustavo​ ​Faleiros,​ ​coordenador​ ​do​ ​InfoAmazonia.

Profundidade​ ​e​ ​contexto Com apenas nove meses, o ​Nexo já alcançou um lugar de destaque dentro do cenário do jornalismo independente no Brasil. Dispondo de uma plataforma completamente digital, aposta num jornalismo de contexto, sempre com o objetivo de fazer com que o leitor tenha subsídios​ ​para​ ​formar​ ​sua​ ​opinião. Sendo um jornal criado para dar ao leitor uma oportunidade de conhecer todos os lados de uma matéria, sua equipe conta com os mais variados profissionais, de diversas áreas, não se restringindo apenas a jornalistas. Apostando numa abordagem interativa, o Nexo trabalha com infográficos, vídeos e recursos que aproximam o leitor da notícia. “Acreditamos que o


uso de tais recursos e formatos é essencial para atrair, não somente o público acostumado a ler notícias da mídia tradicional, mas também um público mais jovem, seja aquele com sede de informações ou aquele que não necessariamente estava acostumado a consumir notícias com frequência, mas que mostra interesse pelo debate público atual”, disse Maia Fortes, Coordenadora​ ​de​ ​Gestão​ ​e​ ​Desenvolvimento​ ​Institucional. Aberto com investimentos próprios de seus sócios fundadores, para se sustentar o Nexo tem um sistema de assinaturas, mas também oferta cursos diversos (nas áreas de gastronomia, cinema,​ ​arte,​ ​filosofia​ ​etc.)​ ​em​ ​sua​ ​sede,​ ​em​ ​São​ ​Paulo.

Histórias​ ​de​ ​fôlego


Cinco repórteres. Coordenadas geográficas diferentes. Apenas uma coisa em comum: a vontade de contar histórias aprofundadas. Esse é o ​Brio​, um site que faz o famoso textão, mas com​ ​base​ ​jornalística,​ ​muita​ ​contextualização​ ​e​ ​sem​ ​data​ ​marcada​ ​para​ ​encerrar​ ​a​ ​matéria. Fazendo uso do jornalismo longform, o projeto não possui sede e sobrevive com investimentos pessoais e de investidores, mas sua equipe faz reuniões via internet e se preocupa em produzir um conteúdo de qualidade para o leitor que quer se informar não apenas​ ​do​ ​lide,​ ​mas​ ​dos​ ​detalhes.

O​ ​dia​ ​a​ ​dia​ ​de​ ​Brasília A proposta inicial do ​Congresso em Foco (CEF) era aproximar as pessoas da realidade do Congresso Nacional, mostrando de perto quem são aquelas pessoas, o que fazem e como o fazem. Fundada em 2004, a plataforma foi responsável por divulgar, de forma mais


difundida, como funciona o Congresso e como é feita a política no Brasil, o que, segundo o próprio Congresso em Foco, fez com que os demais veículos o praticassem também. Dessa maneira, possibilitou que os cidadãos avaliassem os parlamentares e se posicionassem mais facilmente, com mais informações. “O Supremo era muito fechado em relação a isso, divulgava muito pouco. Até mesmo a existência de processos era uma informação sonegada da sociedade. Antes a visão era mais distante e imprecisa. Se um parlamentar fazia algo errado, todo o Congresso era meio que responsabilizado, se tornava agente daquela notícia. Como hoje as informações fornecidas pelos veículos são mais ricas, e o CEF está entre esses, a​ ​população​ ​passou​ ​a​ ​ficar​ ​mais​ ​atenta”​ ​explicou​ ​Sylvio​ ​Costa,​ ​jornalista​ ​e​ ​fundador​ ​do​ ​CEF. Atualmente, o veículo não se restringe à cobertura do Supremo e de política, mas também se empenha em fornecer informações completas sobre qualquer assunto relevante para a sociedade, de interesse público, contribuindo para transformar o Brasil em país melhor. Lançaram então, a partir de 2009, o slogan “Jornalismo para mudar”. Já neste ano, no final do primeiro semestre, o CEF adotou um novo slogan no site: “Respeitamos a diferença”, juntamente com uma bandeira do movimento LGBT. Costa defende que todos são bem vindos​ ​no​ ​CEF,​ ​exceto​ ​os​ ​intolerantes. Com a produção dividida entre o site e a revista bimestral, os 12 integrantes do veículo trabalham em uma redação em Brasília, num espaço alugado, próximo ao Congresso. A rotina de produção é intensa, e conta com um sistema de plantão, para que haja publicações nos feriados, inclusive. O sustento financeiro se baseia em publicidade, assinaturas e vendas da​ ​revista,​ ​além​ ​da​ ​receita​ ​gerada​ ​pela​ ​hospedagem​ ​no​ ​site​ ​da​ ​UOL.


Dados​ ​para​ ​todos Diferentemente das demais iniciativas, o ​Volt Data Lab constitui uma agência de notícias, fazendo serviços como a produção de reportagens para veículos e instituições. A ideia surgiu de um blog pessoal de Sergio Spagnuolo, fundador da agência, que escrevia sobre jornalismo de dados, ramificação do jornalismo que vem crescendo no Brasil. Spagnuolo percebeu que o jornalismo de dados era muito incipiente no país, ao mesmo tempo em que notou que não havia dados agregados e precisos sobre as demissões de jornalistas nas redações brasileiras em 2015. Ele foi atrás destes dados e fez um grande levantamento, fazendo com que o Volt ganhasse popularidade. “Muitas pautas estão na Internet, escondidas atrás de dados e informações que você não consegue ler, e não vai conseguir no cartório. Todo jornalista tem


de ir para a rua, mas todo jornalista deveria também saber conceitos de programação”, avaliou​ ​Spagnuolo. O principal desafio do Volt é tornar estes dados acessíveis e agradáveis para o leitor, reduzindo a complexidade. “O desafio está tanto para o jornalista quanto no sentido da educação no geral. Nem todo gráfico comporta linhas. Às vezes colocamos gráficos que retêm a informação de uma maneira mais precisa e simples”, explicou Spagnuolo. O jornalista participou neste ano de um programa de treinamento de jornalistas para desenvolvimento de startups de mídia, do ​Tow-Knight Center for Entrepreneurial Journalism​, em​ ​Nova​ ​York. O Volt oferece diversos serviços. Entre eles, está um que envolve a produção de quatro reportagens por mês, lançado recentemente. Além disso, possui parcerias com universidades e outras instituições, e uma newsletter. Dessa maneira, desde seu lançamento em 2014 até hoje, tem se mantido sustentável financeiramente. Como forma alternativa de fonte de recursos e para desenvolver o jornalismo de dados no país, Spagnuolo pretende ministrar cursos de jornalismo de dados nos próximos meses. A equipe do Volt é enxuta, com cinco membros, entre eles um jornalista, um responsável por administração e marketing, um consultor de desenvolvimento Web, além de um designer gráfico, que colabora com frequência. Os profissionais trabalham de casa, preferindo não investir em um escritório próprio.


Judiciário​ ​transparente O Jota Jurídico surgiu como uma alternativa à cobertura tradicional do Poder Judiciário, especializando-se nesse nicho e, assim, promovendo um serviço para seus leitores. De acordo com Felipe Seligman, jornalista e co-fundador do Jota, o modelo de cobertura jurídica que os demais veículos seguiam havia se tornado obsoleto, insuficiente. “Existia um paradoxo da


cobertura. Precisava tratar de um tema técnico, cujo verdadeiro interessado era um público mais específico, como os advogados, mas ao mesmo tempo o meu texto precisava ser acessível a outras pessoas que não tivessem interesse na área. O problema é que o assunto jurídico muitas vezes não gera interesse, a não ser que seja algo que impacta diretamente na vida das pessoas. Percebia que era difícil conciliar os dois públicos. A gente encarava aquilo como uma espécie de desafio”, afirmou Seligman. Ele e outros colegas jornalistas perceberam, então, que aquele negócio poderia ser promissor, e decidiram largar seus empregos e apostar tudo no Jota. A iniciativa tomou forma em setembro de 2014, mas o projeto​ ​surgiu​ ​ainda​ ​em​ ​2013. Após definir um público específico e mergulhar na cobertura jurídica, o Jota acabou se tornando um dos principais responsáveis por pautar outros temas, ligados a leis e decisões tomadas pelo Judiciário. Com isso, o veículo se expandiu e hoje informa pessoas de diferentes classes, não se limitando a juristas. “O Supremo, por exemplo, é um órgão que cada vez mais participa do debate nacional sobre todos os assuntos. Então cobre do impeachment ao casamento gay. Isso acabou trazendo para o nosso público pessoas de fora desse​ ​nicho”,​ ​contou​ ​Seligman. Através de um jornalismo especializado, o Jota Jurídico, hospedado no site da UOL, leva informações de Brasília para o restante do país. Embora seja abrangente, o veículo possui uma equipe não muito grande. Há 20 profissionais fulltime, entre eles jornalistas, um engenheiro de telecomunicações, além do apoio de alguns colaboradores. Os integrantes do setor jurídico dividem-se entre editorias, como a do Supremo Tribunal Federal (STF) e a do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Há também o setor de cobertura de mercado, de análise de cobertura do mercado, o chamado lifestyle, as notas, o Jota S.A. e algumas colunas dos membros. O grupo está distribuído entre São Paulo e Brasília, trabalhando em escritórios de coworking dentro de outros espaços, sobretudo. Na maior sala de redação cabem 12 pessoas, segundo Seligman. As matérias e trabalhos são publicadas em diversos canais além do portal, entre eles as redes sociais. Quanto às fontes de recursos financeiros, observa-se variedade. Além de publicidade, o Jota é sustentado por serviços e produtos que oferece, como as assinaturas corporativas ou premium, a da newsletter, e as coberturas customizáveis, em que o​ ​próprio​ ​consumidor​ ​escolhe​ ​quais​ ​temas​ ​cobertos​ ​quer​ ​receber.


Para Felipe Seligman, o trabalho que realizam é fundamental. “Estamos cobrindo uma área de um poder que é cada vez mais atuante, e que define os rumos do Brasil tanto nos assuntos políticos e econômicos quanto de costumes. A prática do jornalismo e a livre circulação de informações públicas é um dos principais termômetros da democracia”, afirmou. O Jota Jurídico vem contribuindo, portanto, para a construção de uma sociedade mais democrática e justa.

Para​ ​combater​ ​o​ ​trabalho​ ​escravo Através de um jornalismo cuidadoso e aprofundado, a Repórter Brasil se tornou responsável, ao longo de 15 anos de existência, por pautar sobretudo o trabalho escravo na imprensa brasileira. Essa questão, que praticamente não era abordada anteriormente, está agora em uma posição mais central na agenda política brasileira. Além disso, a ONG tem se envolvido na


cobertura de impactos socioambientais. Em ambos os eixos, o trabalho é focado em produzir grandes reportagens. Embora a plataforma seja exclusivamente digital, a Repórter Brasil trabalha atualmente com diversas linguagens: desde vídeos e documentários até desenvolvimento de apps para celular. “Apresentamos as coisas de outra maneira que não aquele texto corrido, burocrático” afirmou Piero Locatelli, o repórter da frente de Jornalismo da ONG. Desenvolveram, por exemplo, um app para que as pessoas vejam como cada marca de roupa lida com trabalho escravo, ​o aplicativo “Moda Livre”​, que hoje monitora 77 grifes e varejistas. “Temos mais tempo para apurar e uma agenda muito clara, por estarmos no terceiro setor. Além disso, temos uma postura diferente da maior parte da imprensa brasileira, mais aberta. Somos contra o trabalho escravo, por exemplo”, ressaltou Piero. A organização é segmentada em 3 frentes: pesquisa, educação e jornalismo. A equipe é composta por coordenadores e secretários dos diferentes setores, além de uma analista financeira, uma educadora e um repórter. A Repórter Brasil sofreu diversas mudanças ao longo do tempo, se adequando às novas tecnologias que foram surgindo. Deixaram de produzir matérias diárias, trocando o processo de hard news por uma rotina de produção mais livre e espaçada, com maior investimento na edição das reportagens. “Quando acusam uma empresa de algo, por exemplo, a empresa em questão possui várias semanas para responder” explicou Piero. A organização é mantida por parcerias, patrocínio, apoio e doações, principalmente. Uma das apoiadoras da Repórter Brasil é a Organização Internacional do Trabalho (OIT), representando uma das maiores fontes de recursos. Recebem também doações de pessoas físicas. É possível obter mais informações ​no site da ONG​, em que há um setor de transparência, onde constam as contas e atividades da organização em cada ano desde 2011, quando começaram a publicá-lo. Ao longo dos anos, a Repórter Brasil também recebeu diversos prêmios, como o Prêmio Nacional​ ​de​ ​Direitos​ ​Humanos,​ ​em​ ​2008.


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