+55 Plano de Felicidade

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Paulo TOLENTINO

+55 Plano de FELICIDADE






+55 Plano de Felicidade

copyright © 2014 Paulo Tolentino EDIÇÃO

Enéas Guerra Valéria Pergentino PROJETO GRÁFICO E DESIGN

Valéria Pergentino Elaine Quirelli

FOTOGRAFIA DA CAPA

Kin Guerra

REVISÃO DE TEXTO

Maria José Bacelar Guimarães Texto revisado segundo o novo acordo ortográfico da língua portuguesa que entrou em vigor em 2009.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Tolentino, Paulo +55 plano de felicidade / Paulo Tolentino. -1. ed. -- Lauro de Freitas, BA : Solisluna Editora, 2014. ISBN 978-85-89059-61-9 1. Administradores - Autobiografia 2. Aposentadoria - Planejamento 3. Empresários Histórias de vida 4. Experiências de vida 5. Memórias autobiográficas 6. Tolentino, Paulo, 1946- I. Título.

14-08129

CDD-920.72

Índices para catálogo sistemático: 1. Homens : Histórias de vida : Autobiografia 920.72

Solisluna Design Editora Ltda 55 71 3379.6691 | 3369.2028 editora@solislunadesign.com.br www.solislunadesign.com.br www.solislunaeditora.com.br Contato com o autor: paulotolentinovieira@gmail.com amplopensar.blogspot.com


Agradecimentos

Esta obra é devida diretamente a Deus, que me iluminou e a todos os que participaram da sua criação e existência. O meu olhar agradecido se volta também para aqueles que: assinaram textos incluídos na obra; são citados como exemplos, além dos que me ajudaram a enriquecer as narrativas ou nelas figuram direta ou indiretamente; sem dúvida, àqueles que meu agradecimento está manifestado diretamente no texto;

meus queridos editores, sua maravilhosa equipe, além de outros de quem me aproximei por suas influências; meus mestres, líderes e outros que também desde muito cedo estiveram próximos, contribuindo, ainda que inconscientemente, na minha formação e estímulo;

meus parentes dos lados paterno e materno, especialmente minha mulher e sua família, nossos filhos e netos; aos apoiadores e companheiros das associações de classe nas quais atuei; meus leitores.

Que Ele abençoe a todos nós.

Paulo Tolentino



Sumário

9

Prefácio

11

Introdução

15

Transição para o pós-carreira

15

Experiência pessoal

20

Outras experiências

27

Rearranjo financeiro

33

Previdência pública brasileira

39

Modelos de planos de renda

50

Escolha do plano

56

Finanças e riscos

71

Planos empresariais de renda

79

Qualidade da vida +55

87

Ciclos naturais da vida

93

Aprendizado com exemplos

122

Recomendações



Prefácio

O

autor, utilizando uma linguagem simples, descreve, de modo claro, a sua transição de executivo de uma empresa multinacional brasileira para a condição de aposentado (pós-carreira). Transmite de forma livre que a passagem para o “pós-carreira” não é o fim, mas sim a possibilidade de um novo começo. Paulo Tolentino nos oferece neste livro uma parte de sua longa experiência como administrador de uma entidade privada de previdência complementar “Fundo de Pensão”, colocando o seu conhecimento e visão humanista a serviço de todos aqueles que militam na área de recursos humanos e têm o poder, sobre os seus comandados, de influenciar para que a passagem de trabalhador ativo para aposentado seja encarada como um bom momento e um prêmio pelos muitos anos de trabalho. A obra transita sobre a importância e algumas formas de acumulação financeira que possibilitam, para aquele que vai entrar no estágio “pós-carreira”, uma condição econômica próxima da que tinha enquanto em atividade. É uma obra que prende o leitor e estimula as reflexões sobre as ações possíveis para cada um “curtir” o “pós-carreira”. No final, o autor exemplifica casos de pessoas que, no “pós-carreira”, continuaram se destacando em suas novas atividades. Gerhard Dutzmann 9



Introdução

O

+55 é um chamamento à reflexão sobre a vida e sobre atitudes, atividades ou ações inovadoras. Destina-se, primordialmente, às pessoas que vivem o momento em torno dos cinquenta e cinco anos e estimula reflexões em mim, que vivi recentemente uma transição como a que é abordada neste livro. Para mim, foi um momento muito especial, pois, nos dezoito últimos anos da minha carreira, tive o dever de pensar e agir em torno do programa de administrar uma entidade privada cujo objetivo era viabilizar, para meus colegas e para mim, soluções econômicas e financeiras de apoio na sustentação da vida pós-carreira. A mensagem básica desta obra consiste na constatação da existência, no ser humano, de certas qualidades naturais advindas da maturidade, da experiência vivida e da manutenção da saúde, que o capacitam para assumir, nesse patamar da vida, uma atitude mais focada para a realização plena da felicidade. Não tem a pretensão de ser uma obra de autoajuda, pelo menos na concepção corriqueira. É, muito mais, uma sequência de pensamentos com a intenção de lhe convidar para um encontro com sua realização maior, plenamente factível e desejada, estando em suas mãos a oportunidade final e definitiva de fazê-lo. 11


Trata-se de uma visão realista de que, no otimismo, na aceitação do imutável, no inconformismo e na resistência para com as correntes contrárias a isto, e na manutenção da saúde física com bom condicionamento psíquico e emocional, todos podem encontrar a chave da felicidade – de certo modo, uma “fonte da juventude”. É também leitura útil para tantos que, ainda não tendo alcançado aquela idade sugerida mais ostensivamente pelo título, desejem meditar para planejar sua vida com propósitos verdadeiros. Em todo o livro, utilizo, sempre que não for prejudicial à clareza, a expressão “pós-carreira” para evitar o vocábulo “aposentadoria”, que se encontra carregado, tanto por sua interpretação etimológica e literal indutiva a “estar no aposento” ou “em estado de inatividade”, como de alguns outros preconceitos nocivos que sugerem algumas interpretações semelhantes, todas não passando de entendimentos ultrapassados ou equivocados. Esta obra, na verdade, é um convite a uma vida emocionalmente enriquecedora, feliz. Já no início, apresento o exemplo da minha experiência pessoal, seguida de comentários variados sobre preocupações do momento da “transição da carreira profissional para o pós-carreira”. Descrevo contextos, sensações e ações imediatas vividas por mim, para iniciar um novo programa para a vida e dar continuidade à busca da felicidade plena. Na sequência, exponho alguns pensamentos e informações sobre diferentes maneiras e sentimentos produtivos que naturalmente podem revestir esse momento de mudança na vida de cada um. Na seção seguinte, Rearranjo Financeiro, apresento caminhos alternativos e dicas que podem gerar soluções econômicas 12


e financeiras para dar viabilidade a um novo estilo de vida, em cada caso. Não poderia deixar passar sem comentários o caso da Previdência Pública Brasileira, título da terceira seção, pelas consequências diretas e indiretas que diversas mazelas originadas ao longo de sua história, por arranjos administrativos equivocados, que causaram a perda de seu objetivo e amplitude originais de proteção da velhice do trabalhador, para descambar, consequentemente, no descrédito originado na suspeita de que os motivos causadores dos problemas passados, não tendo sido eliminados, podem voltar a causar outros desarranjos no futuro, em que o segurado tem sido sempre o prejudicado. Logo após, a seção Modelos de Planos de Renda constitui uma digressão sobre diversos e diferentes modelos de planos existentes e sua maior ou menor adaptabilidade para os vários segmentos de pessoas a serem servidas. Na subseção seguinte, Escolha seu Plano, estão mais algumas características dos contratos para planos de renda, bem como vantagens e desvantagens relativamente a cada caso especificamente, assim como orientações sobre sua seleção e identificação. Na sequência, vem a subseção Finanças e Riscos, na qual são cotejados alguns aspectos importantes da administração financeira de fundos de renda, que devem ser acompanhados por todos os implicados, bem como outros assuntos relacionados com a segurança quanto ao recebimento da renda pelo participante no futuro. Na seção Planos Empresariais de Renda, suscito uma discussão sobre a oportunidade e as vantagens de empresas privadas disponibilizarem planos de renda de pós-carreira aos seus trabalhadores e em que condições são mais ou menos vantajosos. Começa, então, uma nova seção, Qualidade de Vida +55, que comenta sobre certos confortos que a humanidade vem 13


conquistando e que, de modo especial, facilitam a qualidade e extensão da vida, exatamente no período qualificado como pós-carreira. Sobre a questão da “Potencialização – Lei Natural”, proponho, na seção Ciclos Naturais da Vida, uma análise baseada em fatos naturais e comuns, buscando compreender o fenômeno evolutivo, tão presente nas leis naturais, em uma aplicação mais elaborada nas práticas sociais e, finalmente, sobre o momento cíclico por que passa o ser humano, em suas relações sociais, naturalmente com vistas à sobrevida após a carreira profissional. Dedico também uma seção, Aprendizado com Exemplos, a testemunhos de vida de algumas pessoas que mostraram um foco disciplinado sobre a transição. Finalmente, a título de fechamento da obra, vem a seção Recomendações, na qual algumas sugestões e “dicas” procuram amarrar diversos conceitos da obra e fixá-los, como aconselhamento. Assim, desejo uma leitura muito proveitosa para todas as idades.

14


Transição para o pós-carreira

Experiência pessoal

N

unca, durante a minha vida de Administrador de Empresas, cogitei escrever uma obra de literatura. Entretanto, ao ser acometido de grave doença e com prolongado tratamento de saúde, encontrei-me preso a um leito e, portanto, numa condição propícia ao hábito de fazer meditações e reflexões profundas. Eram, talvez, as únicas atividades produtivas possíveis, por se desenvolver unicamente no interior da minha mente. Resultou daí, posteriormente, meu interesse de “colocar em papel” todo o fruto obtido e que pudesse ser qualificado como ensinamento útil e aplicável. Seria uma atitude muito egoísta da minha parte mantê-lo somente para uso e proveito próprio. Veio-me, então, a ânsia de compartilhá-lo. Faltava apenas uma boa oportunidade. Acompanhando a minha mulher, em uma viagem a Bolonha, Itália, para uma feira de livros e negócios afins, tive o prazer de melhor conhecer e dialogar mais intensamente com os editores do livro que ela estava lançando, Valéria e Enéas, da Solisluna Design Editora,tanto no próprio estande deles como em alguns outros momentos de convívio e de lazer. Sabedores dessa experiência e inclinação para a escrita reflexiva, pediram-me um texto alusivo à feira e à cidade de Bolonha, para publicação no blog da editora, o que fiz com muito gosto. Após mais algumas conversas sobre coisas como possíveis 15


abordagens e meios de editoração, sugeriram publicação de um livro como este, que também, na visão deles, poderia ser útil a muitas pessoas, tendo possibilidades de ser bem aceito por grande número de leitores. Assim, ao voltar para casa, passei a escrever com mais afinco na produção desta obra. Assumir um prazo, mesmo que sem muito rigor, e uma perspectiva concreta e factível são, sem dúvida, ótimos motivadores e disciplinadores do fator tempo. No encerramento da minha carreira profissional, a primeira constatação foi que mudei de status. Não tinha mais como ser chamado de Paulo Tolentino da Odebrecht (como fora durante 38 anos), da Odeprev – durante 16 anos – ou da Associação dos Fundos de Pensão de Empresas Privadas (APEP) – durante 14 anos. Quando, eventualmente, vou ao meu antigo local de trabalho, confesso me sentir como visita, apesar de ser tratado por todos com muito carinho e urbanidade, o que é natural. Precisei me acostumar e me munir dos apoios que normalmente me eram dados como executivo de uma organização complexa, tais como secretária, assessorias especializadas, infraestrutura para viagens e deslocamentos, bases em outras cidades e outras facilidades à ação individual e coletiva. Agora readquiri, para todas as circunstâncias, minha própria representação pessoal, unicamente com o meu sobrenome original. Atualmente só reflito e, consequentemente, só falo e ajo em meu próprio nome. Isto me deixa com a sensação de ser o único responsável pelo suprimento dos apoios de que necessito e pelas próprias análises e opiniões, sem a obrigação de seguir certos padrões exigidos pela representação coletiva – empresas, associações profissionais, sindicatos etc. Que bom esta sensação de liberdade! Ela me reposiciona na vida, desatrelado do status que a formalidade profissional 16


impunha. Entretanto, isto é, de certo modo, assustador. Já estava acostumando com alguns confortos que não cabem mais – É uma realidade assustadora? Afinal, agora estaria sozinho? –, mas também reconheço o lado bom de quase tudo e que é possível, com boa vontade, superar as dificuldades. Há maior liberdade para adotar meus próprios padrões, como linguagem, vestuário, local, horário, estilo de trabalho e moradia, além de outros hábitos que foram se incorporando durante a vida e agora se torna necessário avaliar a manutenção ou o abandono de cada um. É preferível encarar esta realidade pelos seus efeitos benéficos. Um desafio à própria maturidade e à cultura que adquiri e quero que permaneçam em constante processo de acumulação e desenvolvimento. Desliguei-me da atividade profissional, padecendo de cirrose. Na minha interpretação, adquiri por conta de, não sabendo me posicionar perante sucessivas adversidades naturais do plano emocional, o fígado passou a ser atacado duplamente; pelo metabolismo interno do corpo humano, que, nessas situações, descarrega no órgão uma série de substâncias nocivas, forçando-o a trabalhar mais para eliminá-las ou atenuá-las, causando sobrecarga para sua estrutura e, em segundo plano, pelo efeito colateral de medicamentos normalmente consumidos nessas situações. Esclareço que este pós-diagnóstico, da minha própria autoria e inteira responsabilidade, foi alcançado após uma profunda análise retrospectiva. No momento que transitei da carreira profissional para o pós-carreira, tinha como objetivo principal e imediato livrar-me das consequências da degeneração cumulativa esperada como consequência dessa doença, para, saudavelmente, me reposicionar perante a coletividade e a vida. 17


Quanto ao tratamento físico, procurei me apoiar no que havia de melhor na medicina hepática da Bahia. Dr. Luiz Guilherme da Costa Lyra (infeliz, repentina e prematuramente falecido, enquanto esta obra se concretizava) e sua equipe, com destaque especial para o Dr. André Lyra, seu filho, ao cabo de algum tempo, me direcionaram para um transplante do fígado muito bem-sucedido. Graças a essa equipe, incluindo todos os abnegados que cuidaram de mim no Hospital São Rafael, ao meu doador (cuja identidade não pude conhecer) e principalmente a Deus, estou vivo e feliz. Quanto ao meu reposicionamento emocional, tratei de intensificar minha terapia com Dr. Romero Magalhães, com quem já vinha me trabalhando há mais de 15 anos, cujas palavras ajudaram a me colocar interiormente com mente mais aberta, para frequentar e viver ambientes onde meus conflitos interiores fossem eliminados, por processo de compreensão e aceitação do status quo, ou mesmo por transmigração para local onde minha índole melhor se ajustasse. Foi assim que passei a um programa, por meio do qual estou vivendo um antigo desejo de estar, por algum tempo, na Flórida, já tendo, inclusive, imóvel de moradia alternativa, adquirido há mais de seis anos. Já que estou dedicando alguns créditos, não poderia omitir a minha mulher, humanista e escritora Dora Ramos. Ela foi incansável e, até mais do que eu, enfrentou tudo, durante e após o transplante. Inclusive, me substituiu e se transformou em meus braços e pernas, e, por vezes, até em minha mente, quando a encefalopatia hepática me colocava eventualmente em momentos de lapsos de razão. Depois de passados aproximadamente dois anos de tratamento, o que me resta fazer com a saúde, o tempo livre, o conhecimento, a experiência e o pique que ainda disponho? 18


Essa vivência me mostrou que é preciso ficar de olhos bem abertos para as oportunidades que estiverem em torno, ou que surgirem, ou ainda que possam ser estimuladas. Este livro e a viagem a Bolonha, sem nenhuma dúvida, situaram-se, para mim, entre essas oportunidades. Não agir desse modo seria uma atitude muito passiva. Principalmente em situação de recolhimento ou isolamento, quando as chances são ainda mais escassas. Logo, é necessário buscar maior participação social, conhecer outras pessoas, seus hábitos, necessidades e desejos, em atividades religiosas ou institucionais e de lazer, observando maiores chances de servir ao próximo e a Deus. Escrever sobre reflexões íntimas, uma atividade à qual jamais me dedicara com a intensidade necessária para se tornar um hábito, passou a preencher o meu tempo. Precisava, no entanto, torná-la útil a todos. Quando escrevo, geralmente ignoro exatamente para quem o estou fazendo, mas o desejo de compartilhar pensamentos, com quem quer que lhes dê valor, já é um estímulo suficiente. De algum modo, o pensamento tornado matéria (no papel) permanece e pode ser reciclado – no bom sentido. Naquela viagem com a minha mulher para a feira de livros em Bolonha, o estopim foi aceso... Descobri que existem variados modos de passar o tempo sendo útil. Cabe a cada um de nós identificá-los, para, quando eles se apresentarem, mesmo que sutilmente, se coincidirem com nossas próprias aptidões, segurá-los, para torná-los realidade. Não devemos, no entanto, descuidar de afagos à própria alma, cultivando momentos de lazer descomprometido, dentro das possibilidades ao nosso alcance. É preciso sempre buscar novas oportunidades de realização genuína também por esse meio. 19


Outras experiências Algumas generalizações basearam-se na minha experiência como homem comum, porém em algo enriquecidas pela oportunidade de, nos últimos dezoito anos, ter exercido profissionalmente a função de administrador de um fundo de pensões privado, no qual atendi e dialoguei com colegas participantes que estavam às voltas com o replanejamento de suas vidas. Assim, engrandeceu a aprendizagem, também por exemplos bem-sucedidos que vi pela vida, especialmente nos anos mais recentes, quando meu foco sobre o assunto, por interesse pessoal e profissional, aguçou ainda mais. Antes do surgimento da ideia dos fundos de pensão, e mesmo mais recentemente – alguns casos ainda são vistos hoje –, a fábula da cigarra e da formiga de La Fontaine era sempre seguida por pessoas mais preocupadas com o dia de amanhã, quando não teria forças para prover o seu sustento com o fruto do seu trabalho. Em alguns casos, mesmo pessoas menos previdentes, no significado moderno da palavra, desenvolvem algum esforço de renunciar ao consumo imediato de toda a sua renda, poupando e canalizando uma parcela para investir em planos para o futuro, tais como constituir um patrimônio ou fazer investimentos financeiros. Lembremo-nos do enorme sucesso que eram as antigas cadernetas de poupança, “garantidas” pelo Governo, que davam ao trabalhador mais pobre a sensação de estar, de algum modo, construindo algo para seu futuro. Ora, um patrimônio formado, mesmo que intuitivamente, é um lastro a ser utilizado por seu detentor, em momentos de menor poder gerador de renda. A ideia, portanto, é muito antiga e, mesmo examinando cuidadosamente a história, dificilmente encontraríamos o seu descobridor, de tão longe que vai. 20


Existem muitas maneiras de cuidar para que o suprimento econômico se perpetue e continue provendo meios de vida para a pessoa no seu pós-carreira. A forma mais comum, sendo até obrigatória para quem tem emprego formal, é ingressar no plano de pensão da Previdência Social, administrado pelo governo, que resolve satisfatoriamente para as classes menos abastadas, mas cujo valor da proteção máxima é, na prática atual do Brasil, decrescente após ser concedida, por conta da inflação e da opção administrativa do governo, que adota mecanismos compensadores insuficientes. Neste ponto, chamo a atenção para o fato de poder não ser tão satisfatório para os que sobreviverem por mais tempo. Uma das explicações, em detalhe, é que a maioria dos aposentados brasileiros de classe média que conheço contribuiu durante a vida ativa numa proporção relacionada com o número de salários mínimos cujas elevações eram, durante muito tempo, eficazes indicadoras do nível de inflação da nossa moeda, recompondo, então, o padrão aquisitivo da renda. A partir de certo momento, portanto, ainda no meio do contrato, para aqueles que eram filiados há muitos anos, o órgão governamental administrador do sistema de aposentadorias, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), deixou de corrigir os proventos dos aposentados com base no aumento dos salários mínimos, como vigorava durante o período de contribuições (e enquanto era bom para este administrador do sistema), substituindo-o por indexador menor que, aparentemente, segundo a quase unanimidade dos aposentados antigos, não lhes proporciona, pela diminuição gradativa do valor real, um padrão de vida estável e minimamente representativo do valor real da média de suas contribuições. É comum ouvirmos de muitos: “Contribuí durante a maior parte da minha vida de trabalho produtivo, para 21


receber um provento de dez salários mínimos (outros, mais idosos, falavam até em vinte salários mínimos) e, no entanto, agora, aposentado, tenho que viver com renda menor que três ou quatro salários mínimos.” Ainda pelo sistema oficial brasileiro, outros mecanismos de cálculo (como o fator previdenciário) somente atuam no sentido redutor da renda merecida e almejada. Isso, a experiência repetida nos mostra. Portanto, para os mais jovens, a história comprova que não é prudente confiar totalmente e é preciso estar acompanhando permanentemente as mudanças, pelo menos para saber onde “está andando” e, se possível, adotar uma ação oportuna. Uma das principais regras que precisamos levar em conta e, mesmo, nos ocuparmos um pouco mais, é a que estabelece um valor teto máximo para o benefício a ser recebido, fixado, neste ano de 2014, em R$ 4.390,24, que corresponde a seis vezes o valor do salário mínimo. Esse valor de seis vezes, ainda em passado recente, já correspondeu a oito vezes. Vejamos, no Gráfico 1, como tudo se deteriora para o segurado que percebe mais de seis salários mínimos: Gráfico 1 - Valor do beneficio máximo do INSS relacionado com a média dos salários recebidos pelo trabalhador Base: 2014 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

1  3  5  7  9  11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63

Número de Salários Mínimos do valor da contribuição ativa – em média. Fonte: Autor.

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Como existe um teto predefinido, que é fixo, e os valores das rendas das pessoas variam, cada uma tem uma relação diferente com esse teto. Para aqueles que têm rendas situadas entre um e seis salários mínimos, a cobertura do INSS é igual ao valor da renda, o que indicaria não carecer, teoricamente, de maiores cuidados quanto a se suprir de um complemento adicional. À proporção que a renda vai se distanciando desse teto, para mais, a relação vai decrescendo acentuadamente, indicando, mais enfaticamente, a necessidade de um complemento para alcançar um nível de atendimento satisfatório das necessidades pessoais no pós-carreira. É quando surge a maior necessidade de se ter um plano de previdência complementar e de se planejar o valor da renda que propiciará o complemento adequado. Enfim, como regra geral, quem mais ganha menos pode esperar da Previdência Social e, portanto, necessita, em maior escala, de uma Previdência Complementar Privada. No gráfico e na sua interpretação acima, não levei em consideração o redutor do “fator previdenciário”, um artifício recente de legalidade basicamente duvidosa quanto ao seu espírito, que tenta desqualificar a previsão legal e tradicional da existência da aposentadoria por tempo de contribuição, “punindo” severamente aqueles que se aposentam mais precocemente por terem se iniciado na carreira com idade menor. Como este fator varia de idade para idade e de sexo para sexo, optei por desconsiderá-lo, mas alerto que é outra regra que deve merecer muita atenção e análise, em cada caso particular. Fica, assim, a preocupação de complementar a renda a receber do INSS relacionada ao tamanho das reais necessidades de cada um, as quais, por serem individuais, têm uma amplitude muito subjetiva. O valor que é suficiente para uns, nem sempre é o bastante para outros. 23


Atualmente, planos de pensão privados, abertos ou fechados, têm sido uma solução para muitos. Vemos o desenvolvimento de uma solução que começa a se confirmar, cada vez mais fortemente, pelos frutos das suas virtudes e dos resultados que já se concretizam abundantemente. Assim, cada vez mais, têm entusiasmado a muitos como solução complementar ao plano oficial. No caso da opção por um plano de pensão, nas diversas formas de contratos que um fundo de pensão pode fazer com participantes, as opções mais vantajosas para os contribuintes, naturalmente, são os planos patrocinados pelas empresas às quais os trabalhadores estão vinculados. Nestes, quase sempre a taxa administrativa é menor (por vezes inexistente, por que suportada pelo empregador). Comumente, a empresa faz uma contribuição juntamente com o trabalhador e a rentabilidade, junto com outros indicadores de desempenho financeiro e regras do plano, é acompanhada por um conselho constituído de representantes dos participantes e das empresas patrocinadoras. Para convencer novos participantes, eu costumava perguntar: Onde se vai encontrar um investimento, em que alguém coloca dinheiro na sua conta, toda vez que você o faz? A resposta é óbvia! Quem tem a felicidade (ou o merecimento) de trabalhar em empresas que patrocinem planos, não tem que “pestanejar”; é participar do fundo, na medida máxima de suas possibilidades. Em outros planos privados, abertos ao público, o esforço tende a ser maior para o mesmo resultado, mas, mesmo assim, insiste-se, pois ainda é muito útil e compensador. Pronto, chega a hora da verdade para aqueles que têm a felicidade de chegar a viver o suficiente para transitar da sua carreira profissional para o pós-carreira. Como, de agora em diante, ocupar o tempo que lhe parece que vai sobrar? Ouvimos de algumas pessoas coisa semelhante: “Não quero 24


mais fazer nada; o tempo agora é só meu, para ficar no ócio: uma praia, um botequim, o papo furado com amigos etc.” Nada mais justo que um tempo de “férias”, sem a preocupação de como vai ser quando tiver que voltar ao trabalho e de estar adquirindo o hábito de curtir melhor as noites e, consequentemente, acordando mais tarde. Depois de algum tempo, entretanto, vemos que as pessoas que foram acostumadas, por muitos anos, a desenvolver atividades produtivas, quando transcorre certo tempo, se sentem estabilizados e a saúde continua permitindo, acabam naturalmente se ocupando com algo inesperado. Ou vai ser síndico de seu condomínio, ou acaba ajudando na sua comunidade religiosa, ou simplesmente se vê ajudando alguém a tomar conta de crianças que brincam numa praça pública; enfim, acabam fazendo algo útil, mesmo sem ter planejado. Por que, então, devemos planejar uma atividade, incluindo a ressalva de uma margem importante de tempo para o nosso bel prazer? Isto é possível e dá à pessoa a possibilidade de, com antecedência, escolher e preparar-se para o que mais lhe motiva, considerando suas habilidades, gosto e inclinação. Algumas atividades podem preencher o tempo de pessoas maduras, aproximadamente o perfil de aposentados recentes, algumas delas com possibilidade de remuneração adicional, ao menos para cobrir os custos da própria atividade:  •  Algum tipo de serviço religioso à comunidade.  •  Ensino ou alfabetização de carentes, adultos ou não.  •  Pequeno comércio (banca de revistas, cantina escolar, barbearia ou academia de ginástica de bairro etc.).  •  Cuidados com o condomínio onde reside ou a vizinhança.  •  Cuidados com crianças ou animais domésticos.  •  Condução e transporte escolar. 25


•  Condução e transporte para idosos (para ir a médicos, festas, visitas etc.).  •  Aconselhamento de casais e jovens.  •  Aconselhamento ou consultoria profissional.  •  E um sem número de outras ocupações que a criatividade ou os exemplos instigarem. Claro que as opções dependem muito do perfil de personalidade e experiência, além de inclinação da pessoa. Trata-se de algo muito pessoal e deve ser feito com acuidade muito responsável, pois disso resultará o prazer no novo trabalho e a continuidade ou o aparecimento daquela sensação de estar realizando algo no caminho do bem-estar e da felicidade plena.

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