Antonino Peregrino

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O livro tem uma escrita feita de ventos e de caminhos. Vento aracati rio Quixeramobim adentro e caminhos feitos de palavras peregrinas que se enveredam por entre suas páginas. As cores e as linhas dos desenhos de Luci são de uma delicadeza – ao mesmo tempo vibrante – que nos faz imaginar que ela ilustrou o livro enquanto dormia e sonhava com a história. Que coisa mais linda, Luci!

Chuva de poesia e cores ue livro tão cheio de boniteza e de sertão! Desses livros de a gente abraçar ao final de sua leitura. Abraçar o personagem – Antônio Conselheiro – e abraçar os autores: Osvaldo Costa, que o escreveu, e Luci Sacoleira, que o ilustrou.

Osvaldo Costa escreve como se espalhasse e regasse sementes no sertão, na esperança de chuvas com tudo o que elas fazem brotar. Por alguns instantes, escreve como se tomado fosse por um Guimarães Rosa ou um Manoel de Barros. Mas num é não. Ele escreve como Osvaldo Costa mesmo, com suas metáforas e imagens de pensamento que nos fazem peregrinar pela paisagem nordestina e pela vida de Antônio Conselheiro.

O texto é assim, uma peregrinação por entre a vida e as paragens por onde nasceu, andou e se encantou o Antônio Conselheiro. Aliás, Antônio é o narrador da história. Osvaldo escreveu de um jeito que a gente chega a ouvir e sentir a voz e a presença do Conselheiro, como se ele narrasse ao nosso lado sua saga nordestina e cristã, repleta de espinhos e rosas, de estiagem e chuvas, de injustiças e amores, de revoltas e solidariedade.

Ao final, depois de tanta poesia, os autores desejam mesmo é compartilhar entre os leitores de todas as idades um bocadinho da vida de nosso Antônio Conselheiro, que nasceu no sertão de Quixeramobim para peregrinar na paisagem nordestina até fazer morada na Bahia e de lá sair para entrar na história do Brasil, com a comunidade solidária do Belo Monte, que atravessa o tempo e as páginas deste livro tão forte e tão bonito, como uma chuva no sertão.

Fabiano dos Santos Piúba

9 inha chegança se deu no sertão, no pedaço de um campo maior chamado Quixeramobim. Lá, a cor do mundo se derrama diferente, o sol grita luz e as sombras das árvores são afagos que a natureza faz nas gentes. Eu não sabia o que um dia eu seria, era apenas um Antônio que começava a existir; por descobrir, ainda, que a vida é um eterno peregrinar.

Minha mãe tinha por nome Maria e meu pai, Vicente. Eu e minhas duas irmãs já havíamos chegado quando eles se casaram. Mas, logo em seguida, ela adoeceu e morreu. Ele ficou sem sua Maria, e nós, sozinhos de mãe, que mãe existe mesmo é apenas uma.

Já outras tantas eram alegrias. Meu pai fazia gosto que eu me preparasse e um dia fosse padre. Por isso, estudei muito com o professor Ferreira. E disso eu gostava. Aprender era como esticar meu sertão. Danação que eu tinha muito era a de andar sem destino. Apreciava. Estando triste ou alegre, andava. Desaparecia nos aceiros do rio Quixeramobim e ia brincar de ser curioso. Quando era tempo de chuva, era também de banhos nas poças e de cheirar vento verde. Ficava horas e horas sozinho. No verão, a natureza em amarelo, a sozinhez era ainda maior. Um dia, aprendi que o nome disso é exílio. Gostava era de me exilar. Você sabe o que é exílio? Exílio é um ficar fora e sentir bem grande o que está dentro da gente.

pai não era bom de solidão. Um ano e meio depois de ficar viúvo, casou-se novamente. Madrasta não foi coisa que ganhei, antes perdi: ela me maltratava tanto que parte da minha infância foi um sofrer.

Meu10

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