traço — 1 (SP-Arte 2019)

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traço —


Ministério da Cidadania, Governo do Estado de São Paulo, SP-Arte, Itaú, Vivo e Iguatemi São Paulo apresentam

Patrocínio Master

Patrocínio

Patrocínio cultural

Parceria de mídia online

Apoio

Realização

Patrocínio Talks

Global Art Insurance Partnership

Apoio cultural

Companhia aérea internacional oficial

Apoio Talks

Companhia aérea nacional oficial

Parceria de mídia

Hotel oficial


15º Festival Internacional de Arte de São Paulo

03–07 abril 2019 Pavilhão da Bienal





www.vivo.com.br

Parece que nos dias de hoje estamos quase sempre olhando para uma tela. Pequena, porém fascinante. Cabe na palma da mão e o mundo inteiro cabe dentro dela.

Mas já que falamos tanto sobre uma, hoje vamos falar de outra. A tela pendurada na parede à sua frente. Tão fascinante quanto.

A pequena tela de vidro é você quem toca.

A tela da arte toca você. Até mesmo quando não é uma tela.

Seus olhos podem tirar o melhor das duas. Afinal, tem hora pra tudo. Por isso, nunca deixe de se perguntar: por onde anda o seu olhar?

#temhorapratudo


O IGUATEMI SÃO PAULO ORGULHA-SE DE APOIAR E FAZER PARTE DA SP-ARTE 2019. CONFIRA O FESTIVAL DE ARTE MAIS IMPORTANTE DO BRASIL E VISITE NOSSO LOUNGE.


15 ª edição do Festival Internacional de A r te de S ão Paulo. iguatemisp.com.br

#iguatemisparte

#sparte2019



Apresentação 15 anos de arte e celebração

Há quinze anos, a SP-Arte dava início à sua trajetória com uma seleção que incluía 41 galerias no térreo do Pavilhão da Bienal. Na ocasião, apenas uma das galerias integrantes era estrangeira. Este ano, a Feira comemora seu 15º aniversário, e o crescimento e a internacionalização são inegáveis: além de ocupar todos os andares do Pavilhão, extrapola os limites do Parque Ibirapuera, entra para o seleto time dos mais importantes festivais de arte do mundo e faz da cidade de São Paulo parada obrigatória no roteiro global das artes. Nesta edição, o evento recebe mais de 160 expositores, atrai novidades do cenário artístico e reforça a parceria com galerias consagradas nacional e internacionalmente. Em 2019, paramos para refletir sobre os caminhos percorridos até aqui, e traçar conjuntamente o futuro que desejamos construir. Criada com a missão de profissionalizar o mercado brasileiro de arte, a Feira concentrou-se na ampliação do acesso ao conhecimento e na formação de um público especializado. Assim, ajudamos a formar uma base de colecionadores, estimulando o crescimento dos negócios e o fortalecimento das galerias brasileiras. Por ocasião de nosso aniversário, aproveitamos para renovar nosso compromisso com o estímulo da criação e da exibição da arte nacional, visando um cenário contemporâneo mais democrático e acessível não só ao público, mas também aos artistas e pensadores do ramo, lutando por um ambiente em que palavra de ordem seja multiplicidade. A Feira reforça a parceria educativa de residência artística com a Delfina Foundation, estabelecida em Londres, e a Fundação Marcos Amaro, baseada em São Paulo, no oferecimento de dois prêmios substanciais dedicados à criação da arte contemporânea, que promovem artistas nacionais e estabelecem redes de intercâmbio com o exterior. Ano após ano, procuramos fortalecer nosso papel como evento catalisador da arte, em um ambiente que estimula o encontro e o diálogo do público com grandes nomes da área. O Talks, ciclo de palestras que ocupa o auditório do Museu de Arte Moderna (mam), reforça o interesse do evento em discussões sobre o futuro, englobando novos formatos e papéis assumidos pelas instituições de arte e os potenciais desdobramentos de um mercado artístico em constante transformação, entre outros temas relevantes. A 15ª edição também marca o lançamento da revista traço —, com distribuição gratuita, resultado de nosso compromisso com a

elaboração de um conteúdo crítico de qualidade à disposição de todos. Além disso, continuamos ocupando a cidade através de uma agenda de eventos especial, promovida por galerias e instituições culturais parceiras, além do Gallery Night e do Circuito Ateliês Abertos. A América Latina será destaque no setor Solo, que ganha curadoria da chilena Alexia Tala. Marcos Gallon e Tiago Mesquita assinam, respectivamente, o projeto Performance SP-Arte e o setor Masters; e a grande novidade fica por conta do OpenSpace, ocupação de esculturas que abrangerá o Parque Ibirapuera e partes do Pavilhão, organizada através do olhar do curador Cauê Alves, do Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (mube). Como de costume, o Pavilhão também será movimentado por lançamentos editoriais, visitas guiadas gratuitas e programações especiais apresentadas pelas galerias. Visando o futuro, afirmamos nossa parceria com as galerias para além da semana do Festival, conectando os artistas por elas representados com o mundo. Para tanto, nosso site passou por uma intensa reformulação e agora conta com páginas dedicadas à apresentação de galerias, artistas e obras, além de uma programação de atividades artísticas por todo o país. Agradecemos a confiança das galerias estrangeiras que, a cada ano, enxergam o Brasil como plataforma de investigação e divulgação de seus artistas; igualmente, agradecemos às galerias nacionais que nos ajudaram a construir o que é hoje um Festival reconhecido internacionalmente, e damos as boas-vindas àquelas que desembarcam pela primeira vez em São Paulo. Um agradecimento à toda equipe da SP-Arte, assim como aos museus, artistas, curadores, colecionadores e, em especial, ao público, que nos prestigia e colabora para que o evento seja um sucesso de visitação. Nossos agradecimentos se estendem aos patrocinadores master Itaú, Vivo e Iguatemi São Paulo; aos patrocinadores Artefacto, Chandon, Sauer, Stella Artois e Volvo; ao apoio do Orfeu Cafés Especiais; à Prefeitura da Cidade de São Paulo e à Secretaria Municipal de Cultura; finalmente, ao Governo do Estado de São Paulo, representado pelas Secretarias da Cultura e da Fazenda, e ao Governo Federal, através do Ministério da Cidadania. Fernanda Feitosa Fundadora e diretora da SP-Arte



« ∙ Geral ∙ »  A Gentil Carioca ∙ Alexander Gray ∙ Almeida e Dale ∙ AM ∙ Amparo 60 ∙ Andrea Rehder ∙ Anita Schwartz ∙ Arte 57 ∙ Arte Hall ∙ Arteedições ∙ Athena ∙ Babel ∙ Baró ∙ Base ∙ Bergamin & Gomide ∙ BG27 ∙ Bianca Boeckel ∙ Bolsa de Arte ∙ Buenos Aires ∙ Carbono ∙ Caribé ∙ Casa Triângulo ∙ Casanova ∙ Cassia Bomeny ∙ Celma Albuquerque ∙ Centro Universitário Belas Artes ∙ Choque Cultural ∙ Continua ∙ Cravo ∙ Dan ∙ Dan Contemporânea ∙ Danielian ∙ David Zwirner ∙ de las Misiones ∙ Eduardo Fernandes ∙ El Museo ∙ Elba Benítez ∙ Emmathomas ∙ Estação ∙ Fernando Pradilla ∙ Fólio ∙ Formatto ∙ Fortes D’Aloia & Gabriel ∙ Franco Noero ∙ Frente ∙ Gabriel Wickbold ∙ Gaby Indio da Costa ∙ Gustavo Rebello ∙ Hilda Araujo ∙ Inox ∙ Ipanema ∙ Isabel Amado ∙ Jackie Shor ∙ Janaina Torres ∙ Karla Osorio ∙ Kubikgallery ∙ Leme/AD ∙ Lisson ∙ Luciana Brito ∙ Luciana Caravello ∙ Luis Maluf ∙ Luisa Strina ∙ Lume ∙ Lurixs: ∙ Mamute ∙ Manoel Macedo ∙ Mapa ∙ Marcia Barrozo do Amaral ∙ Marilia Razuk ∙ Mario Cohen ∙ Mendes Wood DM ∙ Millan ∙ Mul.ti.plo ∙ Murilo Castro ∙ Nara Roesler ∙ Neugerriemschneider ∙ OMA ∙ Opera ∙ Papel Assinado ∙ Paulo Darze ∙ Paulo Kuczynski ∙ Piero Atchugarry ∙ Pinakotheke ∙ Raquel Arnaud ∙ Referência ∙ Ricardo Camargo ∙ Roberto Alban ∙ Ronie Mesquita ∙ Room 8 ∙ Sergio Gonçalves ∙ Silvia Cintra + Box 4 ∙ SIM ∙ Simões de Assis ∙ SteinArt ∙ Steiner ∙ Sur ∙ Vermelho ∙ Verve ∙ Ybakatu ∙ Zipper « ∙ Solo ∙ » Babel ∙ Bendana-Pinel ∙ Die Ecke ∙ Espaivisor ∙ IK ∙ Oá ∙ Patricia Ready ∙ Periscópio ∙ Portas Vilaseca ∙ Sé ∙ Ultravioleta ∙ Walden « ∙ Masters ∙ » Almeida e Dale ∙ Aninat ∙ Berenice Arvani ∙ Bergamin & Gomide ∙ Cassia Bomeny ∙ Central ∙ Estação ∙ Fólio ∙ Jaqueline Martins ∙ Luciana Brito ∙ Marcelo Guarnieri ∙ Raquel Arnaud ∙ Superfície ∙ Zielinsky « ∙ Performance ∙ » Casa Triângulo ∙ Fortes D'Aloia & Gabriel ∙ Jaqueline Martins ∙ Leme/AD ∙ Portas Vilaseca ∙ Vermelho « ∙ OpenSpace ∙ » Arte 57 ∙ Bolsa de Arte ∙ Casanova ∙ Lume ∙ Lurixs: ∙ Marcelo Guarnieri ∙ Marilia Razuk ∙ Mendes Wood DM ∙ Nara Roesler ∙ Raquel Arnaud ∙ Vermelho ∙ Verve ∙ Ybakatu ∙ Zipper « ∙ Design ∙ » ,Ovo ∙ Alva ∙ Ana Neute ∙ Apartamento 61 ∙ Artemobilia ∙ Bancos Indígenas do Xingu ∙ Bergamin & Gomide ∙ Bianca Barbato ∙ Cristiane Musse ∙ Etel ∙ F Studio ∙ Gustavo Bittencourt ∙ Herança Cultural ∙ Homenco ∙ Hugo França ∙ Humberto da Mata ∙ Indio da Costa ∙ Jacqueline Terpins ∙ Konsepta ∙ Leandro Garcia ∙ Mameluca ∙ Maneco Quinderé ∙ Murilo Castro ∙ Nicole Tomazi ∙ Noemi Saga ∙ Passado Composto ∙ Paula Juchem ∙ Plantar Ideias ∙ Plataforma4 ∙ Rafael Moraes ∙ Rain ∙ Resplendor ∙ Ricardo Graham Ferreira ∙ Sandra & Marcio ∙ Sollos ∙ Teo ∙ Vera Odyn ∙ Verniz « ∙ Arquitetos ∙ » Arthur Casas ∙ Dado Castello Branco ∙ Jaime Lerner ∙ Lia Siqueira ∙ Pascali Semerdjian ∙ Paulo Mendes da Rocha ∙ Rodrigo Ohtake ∙ Triptyque « ∙ Revistas ∙ » Art Review ∙ Arte!Brasileiros ∙ ArtNexus ∙ Bravo! ∙ Flash Art ∙ Jacaranda ∙ Monolito ∙ Parque Lage ∙ Pop-se ∙ Select « ∙ Editoras ∙ » APC ∙ Banca Tatuí/Lote 42 ∙ BEĨ ∙ Capacete ∙ Cobogó ∙ Desapê ∙ Familia ∙ Fotô ∙ Ikrek ∙ Madalena ∙ Olhares ∙ Sesc ∙ Taschen/Paisagem ∙ Ubu « ∙ Museus ∙ » IAC ∙ Iberê Camargo ∙ Inhotim ∙ Lasar Segall ∙ MAM ∙ Mamam ∙ Masp ∙ MCB ∙ MuBE ∙ Pinacoteca ∙ Tomie Ohtake



Editorial O tempo que dividimos

Aniversários são, em si, momentos de reflexão. Ensejos para fazer um balanço do tempo que se esvaiu, do que foi construído e do que ainda se quer construir. No caso da SP-Arte, o aniversário de quinze anos também marca um nascimento: a traço —, revista da SP-Arte que surge repaginada na nova identidade da Feira, com design e conteúdos reestruturados, reforçando sua vontade e compromisso com a criação de materiais críticos que se debruçam sobre a arte e suas reverberações. A questão do tempo é uma dessas reverberações – muito mais sentida que racionalizada. Em um momento histórico de sobrecarga de informações, é necessário pensar o tempo investido no recebimento e no entendimento daquilo que chega até nós. Nesta edição da traço —, o curador e pesquisador Moacir dos Anjos analisa a escuta empreendida nos trabalhos do Coletivo Amò e de Graziela Kunsch em parceria com Daniel Guimarães, colocando o demorar-se na arte como ferramenta essencial para a inclusão de corpos excluídos do ambiente democrático e apontando como práticas artísticas prolongadas se veem ameaçadas dentro do espaço expositivo. Em parceria com o site de arte aarea, esta edição propõe um trabalho que se desdobra em objeto físico e em espaço virtual, de forma a explorar o ritmo particular de cada um desses meios. Nesse contexto, convidamos a artista Lais Myrrha a pensar um exercício que se propõe a esse fim. Breve cronografia dos desmanches, sequência de pesquisa iniciada em 2012, apresenta um catálogo de desmanches mapeados pela artista e espalhados por diferentes tempos e geografias, podendo ser folheado nestas páginas e com desdobramento no espaço expositivo virtual do aarea com nome de Diário de desmanches. Durante a Feira, Myrrha também realiza uma intervenção nas redes sociais da SP-Arte, expandindo sua prática a três diferentes módulos de expressão artística – o físico, o virtual prolongado e o virtual instantâneo. Ainda neste volume, a argentina Maria Angélica Melendi organiza uma retrospectiva histórica que discorre sobre a relação da produção artística no Brasil com o restante da América Latina, ponderando uma possível identidade artística latino-americana e o que o futuro nos reserva nesse sentido. Em outra comemoração, dessa vez o centenário do designer e arquiteto Zanine Caldas, Amanda Beatriz Palma de Carvalho traça um perfil do artista e destaca a importância da preocupação com a mortalidade da flora

brasileira – em especial na criação de objetos de durabilidade, como se observa a partir dos móveis-denúncia de Zanine. Por fim, Jayme Vargas discorre sobre o peso cultural do móvel moderno em relação ao movimento modernista nacional, considerando como a percepção dessas peças se adapta às subsequentes reedições do mobiliário. Esta edição espera apresentar ao leitor diferentes considerações que perpassam o tempo e a sua desaceleração como forma de repensar relações, sejam elas sociais, históricas, geográficas ou individuais. De nossa parte, é certo que a América Latina vive um constante processo de construção, contestação e ressignificação de suas memórias, que edifica novos caminhos e cria novas estratégias de existência e resistência. Convidamos todos a resgatar suas próprias memórias, não em um movimento singelo de saudosismo, mas em uma atitude de contemplação e vivência – e assim, passado o momento de pausa, começar a pensar o futuro que queremos. Barbara Mastrobuono Editora da traço —



Sumário traço —

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Outras imagens, outros gestos, outras formas de estar juntos

Moacir dos Anjos

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Zanine, o projeto para o desfrute

Amanda Beatriz Palma de Carvalho

56

Soy loco por ti, América... Glosas sobre colonialidade, arte, América Latina e Brasil

Maria Angélica Melendi

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Modernidade entrelaçada O mobiliário brasileiro do século 20

Jayme Vargas

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Texts in English


Outras imagens, outros gestos, outras formas de estar juntos Em uma época que incita a devoração simultânea de tudo, os trabalhos artísticos que pedem um tempo alongado de fruição ampliam as possibilidades de compreender o mundo de maneiras mais generosas. por Moacir dos Anjos

Não escapa aos visitantes mais assíduos que as exposições de arte tenham se tornado mais e mais extensas ao longo dos anos. Não, necessariamente, em termos espaciais, mas em relação ao tempo necessário para vê-las por completo. Mostras que abrigam não somente pinturas, desenhos, fotografias e esculturas, mas também instalações, as quais não raramente demandam interações demoradas para serem de fato fruídas, e ainda uma crescente quantidade de vídeos e filmes que duram de poucos minutos a horas ininterruptas. Exposições de arte que só podem ser integralmente visitadas se houver uma dedicação de longo tempo a elas. A dedicação de um tempo estendido, que várias instâncias da vida contemporânea – trabalho, estudo, relacionamentos – sugerem ser cada vez mais difícil de existir, tanto são os produtos, eventos e afetos que competem pela atenção desse consumidor de imagens, textos, sons e gestos imprecisamente chamado, pela indústria cultural, de espectador. A tensão resultante entre uma produção artística que solicita a desaceleração dos sentidos 18—


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Outras imagens, outros gestos, outras formas de estar juntos


e uma experiência do vivido que os excita de forma incessante por vezes frustra aqueles que, visitando exposições, não se permitem ou não conseguem se deixar afetar pela subversão temporal implicitamente proposta. Reação que faz com que trabalhos que demandem tempo para serem fruídos – por serem extensos e/ou complexos – sejam, por vezes, preteridos por aqueles que melhor aderem à temporalidade da vida ordinária. Temerosos de afastar dos espaços expositivos a parcela do público que se inquieta face a experiências que desorganizam modos assentados de ver e de pensar, até mesmo os responsáveis pela organização das mostras cedem e deixam de incluir esses trabalhos em suas programações. O perverso dessa solução conservadora é que esses são trabalhos que importam justamente por fraturar formas de perceber e de entender já estabilizadas, ampliando as possibilidades de apreender-se fatos do mundo de outras maneiras. Trabalhos que, independente da mídia de que fazem uso, potencialmente desordenam formas convencionais de relacionar-se com o tempo em que a vida se fabrica, abrindo-se a tudo o que, mesmo próximo, se situa além do alcance dos sentidos embotados pela pressa. Entre os muitos trabalhos que existem à contrapelo da aceleração do cotidiano comum, vão aqui mencionados dois, incluídos em projeto curatorial que tinha na dimensão utópica da arte seu articulador conceitual: a exposição Arte democracia utopia. Quem não luta tá morto, realizada entre setembro de 2018 e maio de 2019 no Museu de Arte do Rio (MAR).1 Na mostra, o conceito de utopia associava-se à invenção de outros arranjos de vida possíveis, mais inclusivos do ponto de vista de quem não é considerado como parte da comunidade que habita. Ideia devedora, portanto, das tantas lutas que desafiam e combatem desigualdades, injustiças e violências de ordem diversas, procurando refazer o mundo (imediato ou distante) em termos mais B

A Coletivo Amò ↩ Detalhe do trabalho Política pública, 2018 Arte democracia utopia. Quem não luta tá morto, MAR B Graziela Kunsch e Daniel Guimarães Escuta mútua, 20182019 Arte democracia utopia. Quem não luta tá morto, MAR 1 A exposição teve curadoria deste autor, com assistência de Fernanda Lopes. C

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Moacir dos Anjos


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A tensão entre uma produção artística que pede a desaceleração dos sentidos e uma vivência que estimula os sentidos de forma incessante é frustrante para aqueles que não se permitem afetar pela subversão temporal proposta pela exposição.

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igualitários, justos e pacíficos. Trabalhos que, a despeito das marcantes diferenças entre si, partilham a busca por uma relação com o outro que requer um tempo alongado. Trabalhos que desafiam as pressões por relações ligeiras, próprias de uma época que, ao incitar a devoração simultânea de tudo, desfavorece a atenção às frestas e aos rumores em que se gesta e se anuncia em trocas despretensiosas aquilo que difere de um presente acanhado frente a um futuro mais generoso e amplo. O primeiro desses trabalhos tem origem na experiência de implementar a Clínica Pública de Psicanálise no chamado canteiro aberto da Vila Itororó, em São Paulo. Tendo à frente a artista Graziela Kunsch e o psicanalista Daniel Guimarães, a clínica, iniciada em 2016 e ainda em funcionamento, surgiu para oferecer aos ex-moradores da Vila – dali removidos contra a vontade, quando o conjunto residencial foi desapropriado pelo Governo do Estado e pela Prefeitura de São Paulo para supostos “fins culturais” – a possibilidade de lidar, através de sessões de psicanálise, com o sofrimento associado às perdas materiais e afetivas

C Registro de um dos encontros dos grupos terapêuticos mediados pelos Escutadores durante a exposição Arte democracia utopia. Quem não luta tá morto, MAR D Graziela Kunsch e Daniel Guimarães Clínica Pública de Psicanálise no canteiro aberto da Vila Itororó, São Paulo, 2016 E Registro de um dos encontros dos grupos terapêuticos mediados por Escutadores. Lanchonete<> Lanchonete_ Ocupação Bar Delas, Gamboa, Rio de Janeiro, 2019

Outras imagens, outros gestos, outras formas de estar juntos


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espaço ocupado pela mostra, também disponíveis sofridas. Surge também, contudo, como proposta para uso por quem se dispusesse a estabelecer de trabalho que desafia as ideias convencionais um contato ou uma conversa de maneira mais de cultura e de arte, usufruindo de um espaço reservada. Mesmo quando as cadeiras não estavam que, mesmo em obras, já acolhia outras em uso efetivo, o fato de estarem arrumadas de atividades criativas – uma forma de resistência modo a potencialmente servir de amparo à troca às adversidades enfrentadas por aqueles que entre pessoas aludia à possibilidade de diferentes ali viviam. A experiência de implementar uma exercícios de fala e da escuta que a valida, sem clínica de “psicanálise popular” – ou seja, não depender da presença e da legitimação de um dependente de uma disposição monetária especialista. Por fim, o terceiro dos dispositivos para seu funcionamento – se tornou possível denominou-se Uma clínica pública no Rio de Janeiro: graças à participação de um crescente número grupo de trabalho. No início da exposição, Graziela de psicanalistas voluntários que, a partir de Kunsch e Daniel Guimarães se reuniram durante práticas e trocas com os moradores desalojados e dois dias na Escola do Olhar do MAR com um outros interessados contribuem, coletivamente, conjunto de profissionais e outros interessados para o desmanche de bordas claras entre em ações de atendimento psicanalítico público campos distintos de invenção de subjetividades. para partilhar conhecimentos e aprendizados Notadamente, através da construção conjunta sobre experiências de clínica social, tanto antigas entre analista e analisando do arranjo quanto atuais. Ao longo dos encontros, definiram psicanalítico mais adequado para o atendimento ações clínico-artísticas a serem realizadas durante de cada um que busque a clínica. Convidados para participar da exposição o período da mostra, não somente no museu mas também em seu entorno e em contextos Arte democracia utopia. Quem não luta tá morto, específicos da cidade, como a Favela da Maré e a Graziela Kunsch e Daniel Guimarães propuseram chamada Pequena África. Ações que configuraram, a instalação de três dispositivos artístico-clínicos ao longo dos meses que se seguiram à constituição diferentes articulados entre si, todos evocando, a desse grupo de trabalho, uma nova experiência partir de informação contextual disponibilizada de clínica pública no Rio de Janeiro, batizada de ao visitante, a experiência da Clínica Pública de Psicanálise. O primeiro deles foi chamado Lugar de “escutadores” pelos próprios integrantes. A necessidade de um tempo estendido escuta. Esse dispositivo consistia, em seu aspecto e incerto para que essas proposições constituam formal, em um arranjo circular de uma dúzia de sentido, bem como a demanda a um outro cadeiras, instaladas no meio da sala expositiva e indeterminado (os visitantes da mostra, nesse que seriam, eventualmente, ocupadas por grupos caso) para serem efetivamente ativadas (não específicos através da mediação dos educadores do havendo imposição, mas o convite a uma permuta museu ou de outros públicos que desejassem usáentre distintas singularidades), também se -las para atividades de escuta coletiva. O segundo, mostram presentes, ainda que de modo diverso, denominado Escuta mútua, era formado por pares de cadeiras arranjadas uma de frente (ou de costas) em outro trabalho presente na mesma exposição: Política pública, uma articulação do Coletivo Amò, para a outra, dispostos em cantos diversos do 22—

Moacir dos Anjos

F Logo Lugar de escuta G Vivência de construção de Abayomis, com Lena Martins, em parceria do Coletivo Amò com a Escola do Olhar, MAR, 2018


O projeto teve origem com a decisão das artistas, negrodescendentes e ativistas, de se contrapor ao apagamento e silenciamento de corpos que não se adequam a um “ideal universal”. integrado por Ana Lira, Marina Alves, Marta Supernova, Thais Rocha e Thais Rosa. O projeto teve origem com a decisão das artistas – todas negrodescendentes e ativistas – de se contrapor, valendo-se de meios inventados ou encontrados em disciplinas variadas, à dinâmica de apagamento e de silenciamento de corpos que, no Brasil, não se adequam aos contornos definidores de uma existência normatizada e legitimada por um “ideal universal”. Ideal que define, explícita ou implicitamente, critérios de raça, etnia, gênero e classe que justificam ou negam, socialmente, formas singulares de existir. Entre esses vários mecanismos de controle vital em curso, as artistas destacam aquele que, no limite, implica o extermínio de corpos “dissidentes”, como atesta o assassinato da vereadora Marielle Franco em 2018 e de muitas outras e outros que, antes e depois de seu brutal fim, também foram fisicamente eliminados. Mortos por serem negros, gays, lésbicas, transgêneros, pobres ou por se insurgirem contra os mecanismos institucionalizados que restringem o acesso a leis e a fundos públicos que se supõem aplicáveis e disponíveis igualmente a qualquer um ou a qualquer grupo.

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Em particular, interessou às integrantes do coletivo estabelecer atividades de escuta com moradores da região próxima ao Museu de Arte do Rio, objeto de recentes intervenções urbanísticas (incluindo a criação do próprio museu) que impactaram fortemente nos modos de vida daqueles que ali viviam. Região que abriga importantes marcos da presença da população negra no Rio de Janeiro, como o Cais do Valongo, por onde chegaram, entre 1811 e 1831, centenas de milhares de homens e mulheres negros escravizados, vindos de várias partes da África; e a Pedra do Sal, monumento que marca a presença negra naquela parte da cidade durante a escravidão (no século 17, ali havia um mercado de escravos) e que se tornou polo de convergência da população negra que vivia no Rio de Janeiro ou que para ali se dirigia nas décadas que se seguiram à abolição da escravatura, em fins do século 19. Não por acaso, esta era também a região onde se reuniam, nas primeiras décadas do século 20, muitos dos músicos e compositores que criaram e deram forma ao samba. A escuta empreendida pelo Coletivo Amò em termos individuais ou com pequenos grupos de moradores buscava abrir-se para narrativas que entrelaçam perdas e resistências, tanto materiais quanto simbólicas. Escuta que não podia e não queria ser desinteressada, posto que todas as artistas integrantes do coletivo partilham subjetivamente, com aqueles de quem ouviram histórias de apagamentos e maneiras de opor-se a eles, as marcas do enfrentamento a um modo de existir pretensamente universal que busca

Qual é o sentido de nomear como arte trabalhos que denunciam a falta de escuta na esfera do indivíduo e da coletividade?

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anular diferenças. Escuta que ativava, através da fala de um outro também silenciado por ações de governo estruturalmente racistas e classistas, o desejo comum de afirmar o que é singular e de rememorar ancestralidades, reconhecendo sua forte presença no mundo atual. A materialização desse processo de escuta – iniciado antes da data de abertura da mostra e desdobrado ao longo dos meses em que se manteve aberta – assumiu formatos diversos, sendo gradualmente trazida para o local de convívio criado no espaço de exposição. E, uma vez introduzidos no museu, os textos, áudios, vídeos, jogos, livros, desenhos, gestos e outros registros formais e informais das escutas feitas com os moradores da região passaram a funcionar como ativadores de outro tipo de escuta, acolhendo dessa vez a fala dos moradores de outras regiões da cidade em visita à exposição. Desdobrando-se em processos abertos e longos, além de inscrita em um território largo que tem no museu apenas um de seus lugares de Moacir dos Anjos

H Coletivo Amò Política pública, 2018 Ação Oficina de Máscaras, Lanchonete<> Lanchonete_ Ocupação Bar Delas, Rio de Janeiro I Coletivo Amò Política pública, 2018 Ação Oficina de Máscaras, Lanchonete<> Lanchonete_ Ocupação Bar Delas, Rio de Janeiro


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uma questão que atravessa muitas das proposições artísticas atuais: qual é, afinal, o sentido de nomear como arte trabalhos que, por meios próprios ou emprestados de outros campos, denunciam a falta de escuta (e ainda, calculados seus limites, a reparam) nos âmbitos do indivíduo e da coletividade? Um dos modos de responder a essa questão – embora não haja intenção de esgotar suas implicações – requer atentar para os modos como esses projetos fraturam consensos que ancoram políticas de saúde mental e várias das chamadas políticas sociais que, com frequência, servem para justificar exclusões e manter desigualdades crônicas. Consensos que, arbitrariamente naturalizados como universais ou únicos, estabelecem hierarquias, limites e modos de fazer que os trabalhos aqui comentados (e outros mais) desafiam e criticam, ao insistirem na possibilidade de inscrever no mundo, inclusive institucionalmente, outros gestos, outras imagens, e outras formas de estar juntos. Insistindo, ao fim e ao cabo, em uma estética que esteja à altura dos desafios de construir uma vida diferente.

efetivação, a Política pública proposta pelo Coletivo Amò procura deixar-se atravessar pelas vozes dissidentes e dissonantes que constituem o mundo e que são, a despeito dessa constitutiva presença, o tempo inteiro caladas pela imposição violenta – traduzida e contida em ações governamentais – de uma universalidade paradoxalmente excludente. Os trabalhos aqui comentados de modo — resumido compartilham uma temporalidade em Moacir dos Anjos é pesquisador da Fundação tudo diversa da aceleração que as várias esferas Joaquim Nabuco, onde desenvolve o projeto Política da vida requerem a todos. Ambos dependem, da Arte. Foi diretor do Museu de Arte Moderna para se constituir como proposição efetiva de Aloisio Magalhães – MAMAM (2001-2006), curador algo, de uma relação horizontal com um outro da 29a Bienal de São Paulo (2010) e das exposições que ultrapassa seu papel como audiência para se tornar partícipe implicado. Nesse sentido, os Cães sem Plumas (2014), A queda do céu (2015), dois projetos solicitam uma experiência artística Emergência - Travessias 5 (2017) e Arte democracia prolongada, tanto da parte dos artistas que a utopia - quem não luta tá morto (2018). É autor dos propõe quanto daqueles a quem, por fim, tal livros Local / Global. Arte em Trânsito (Zahar, 2005), experiência é não somente destinada, mas de quem ArteBra Crítica (WMF Martins Fontes, 2010) e ela igualmente depende para existir. Considerados Contraditório: arte, globalização e pertencimento em conjunto, esses trabalhos também impõem (Cobogó, 2017). 25—

J Coletivo Amò Política pública, 2018 Ação Oficina de Máscaras, Lanchonete<> Lanchonete_ Ocupação Bar Delas, Rio de Janeiro K Coletivo Amò Política pública, 2018 Ação Oficina de Máscaras, Lanchonete<> Lanchonete_ Ocupação Bar Delas, Rio de Janeiro

Outras imagens, outros gestos, outras formas de estar juntos


Zanine, o projeto para o desfrute Figura múltipla, inquieto e curioso, José Zanine Caldas desenvolveu projetos em diversas áreas e ficou conhecido pelas residências e móveis feitos em madeira. por Amanda Beatriz Palma de Carvalho

José Zanine Caldas (1919-2001) nasceu em Belmonte, pequena cidade no sul da Bahia, situada no interior de uma planície entre o rio Jequitinhonha, antigo rio Grande, e o oceano Atlântico. Desde menino, observando os construtores de sua cidade natal, ficava encantado pela mágica do fazer. Ele mesmo comenta que: « Com terra e madeira foram construídos os abrigos da humanidade. As casas de taipa e adobe de Belmonte, cobertas por telhas de barro cozido em fornos de barro com o calor da madeira no fogo. Foi por aí, exatamente, olhando o fazer, que aprendi a fazer, também. Sobretudo casas. » 1 Figura múltipla, inquieto e curioso, conhecido pelas residências e móveis feitos em madeira, Zanine desenvolveu projetos em diversas áreas: trabalhou como desenhista de placard, desenhista de arquitetura na empresa Severo & Villares, artesão, escultor, ceramista, maquetista, designer, paisagista, arquiteto, planejador de cidades e professor. Deslocou-se pelo Brasil e fora 26—

1 Depoimento de Zanine a Suely Ferreira da Silva. In: SILVA, Suely Ferreira da. Zanine: sentir e fazer. Rio de Janeiro: Agir, 1988.


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Zanine, o projeto para o desfrute


dele em busca de novas experiências de trabalho, aprendizado, ensino e vida. Para Zanine, importava o prazer de viver e, como parte dele, o prazer do fazer. Sempre com o desejo de realizar um trabalho benfeito, que respondesse à sua crítica e exigência pessoal, sua obra é vasta, diversa e de qualidade. O que motivava Zanine era a materialização de ideias, a mágica de transformar materiais encontrados na natureza em objetos que ajudassem o ser humano a desfrutar o seu dia a dia. O olhar curioso e livre, a partir do qual descobria as técnicas e os materiais usados por pessoas comuns, somado à inventividade, fê-lo obter resultados surpreendentes, diferentes do que era esperado dos arquitetos e designers da época, seja no uso de materiais de demolição e madeira para a construção das casas da Praia da Joatinga, no Rio de Janeiro, seja pelo aproveitamento de sobras de desmatamento para a construção de seus móveis-denúncia. Foi assim que, em 1941, inovou a forma de produção de maquetes de arquitetura ao abrir a fábrica Maquete Studio. Zanine inseriu o compensado na confecção de suas maquetes e usou películas transparentes como superfície para demarcar as esquadrias das portas e janelas, permitindo que o interior da obra passasse a ser visto. Com isso, transformou a maquete – antes uma representação volumétrica feita em gesso – numa representação fiel do projeto de arquitetura, despertando a atenção dos principais arquitetos do Brasil, entre os quais Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Oswaldo Bratke, Affonso Eduardo Reidy, Luís Saia e Alcides da Rocha Miranda. À época, Zanine produziu cerca de setecentas maquetes de arquitetura. Com o conhecimento adquirido no uso do compensado naval para a confecção de

O olhar curioso e livre trouxe à Zanine resultados surpreendentes, como o uso de materiais de demolição e madeira para a construção das casas da Joatinga.

A Detalhe de viga de ↩ madeira, Casa da Joatinga B Vista interna, Casa da Joatinga C Vista externa, Casa da Joatinga C

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Amanda Beatriz Palma de Carvalho


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maquetes, Zanine passou a desenhar diversos móveis para sua própria casa. Foi então que decidiu abrir a fábrica Móveis Artísticos Z.

O final da década de 1940 e início da década de 1950 foram marcados pela industrialização do Brasil, como consequência das Grandes Guerras Mundiais, do aumento da população urbana e, por conseguinte, do mercado consumidor nas cidades. Como resultado, houve uma crescente demanda por habitação, que virou importante tema de discussão entre os principais arquitetos do país. Os apartamentos residenciais surgiram como resposta à necessidade de adensar as cidades, o que significou uma mudança no modo de vida, exigindo a adaptação dos seus moradores a espaços menores.

Zanine, como importante maquetista dos arquitetos do período, participou das discussões vigentes sobre habitação. Pensar a habitação faz pensar o mobiliário. Ainda, a crescente demanda por moradia (e, consequentemente, por móveis), causada pelo crescimento populacional, punha em xeque as formas de produção moveleira: a produção nacional não supriria, a tempo, a quantidade necessária de peças. Todos esses questionamentos já estavam colocados pelos arquitetos modernos durante as décadas de 1930 e 1940, mas as experiências de industrialização do mobiliário eram raras. Foi nesse contexto que Zanine Caldas fundou, em sociedade com Sebastião Henrique da Cunha Pontes e Paulo Mello, a Móveis Artísticos Z, em São José dos Campos, São Paulo, no ano de 1949.2 Com a fábrica, Zanine se constituiu como um dos pioneiros do país no desenho e na produção

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Zanine, o projeto para o desfrute

Móveis Artísticos Z

D Maquete desenhada por Zanine Caldas 2 MELO, Alexandre Penedo Barbosa de. Móveis artísticos Z (1948-1961): O moderno autodidata e seus ressortes sinuosos. Dissertação de mestrado, departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2001.


de móveis manufaturados e na utilização de compensado naval em suas mobílias. Segundo a pesquisadora Maria Cecília Loschiavo dos Santos,3 a montagem de suas peças era extremamente simples, o que permitiu o uso de mão de obra não especializada nessa função. Unindo esse fator ao aproveitamento máximo da placa de compensado, a Móveis Artísticos Z conseguiu reduzir de 70% a 80% o preço da mobília em relação ao montante praticado com o uso da madeira comum. A fábrica tinha em torno de 150 funcionários e vendia muito: « Toda a linha de móveis era modulada e possibilitava a composição de arranjos de acordo com as necessidades do cliente. Os assentos utilizavam as molas nozague e estofamentos forrados com tecido sem costura – lona, lonita ou materiais plásticos coloridos em azul, amarelo, marrom ou listrados –, fixados por baixo com grampos ou tachinhas e uma placa de compensado para dar certo acabamento. Aliás, a presença da cor e da assimetria na composição dos móveis de Zanine é um aspecto inovador para a época, pois até então as superfícies dos móveis eram praticamente neutras, sóbrias e simétricas. » 4 As peças de Zanine utilizavam o compensado como estrutura, muitas vezes recortado em forma de Z ou em formato ameboide. Havia uma busca por leveza nos móveis, permitindo a sua mobilidade e flexibilidade no layout dos espaços. Zanine acreditava que a industrialização permitiria uma melhoria na qualidade de vida de grande parte da população. De certa forma, atingiu E

E Sofá, c. 1950 F Mesa (Móveis Artísticos Z), déc. 40 3 SANTOS, Maria Cecília Loschiavo dos. Tradição e modernidade no móvel brasileiro. Tese de doutoramento, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 1993. 4 Ibidem, p. 167. F

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Amanda Beatriz Palma de Carvalho


G

Zanine insistia na necessidade de desfrutar a vida e de viver bem, o que para ele dependia do convívio em harmonia com o meio ambiente.

Ao chegar em Nova Viçosa, uma cidade pequena ao sul da Bahia, Zanine conheceu uma grande madeireira e produtora de compensado laminado, a Elecunha, onde encontrou sobras de pedaços de tronco e raízes. Deparou-se, também, com habilidosos construtores de canoas, artesãos que sabiam esculpir barcos em troncos de árvore.

Ao perceber a quantidade de madeira desperdiçada, Zanine indignou-se com a falta de cuidado com a natureza, e com a possibilidade daquela prática levar toda a floresta à extinção. Decidiu usar as sobras de madeira na fabricação de móveis e, dessa forma, denunciar o desflorestamento: criou, assim, o móvel-denúncia. Segundo ele, a iniciativa provaria a existência dessas madeiras no futuro, quando provavelmente estariam extintas.5 Os móveis eram feitos em pequenas séries, a partir de maquetes produzidas pelo próprio Zanine, em escala 1:10. Segundo depoimento de carpinteiros que colaboraram com ele nesse período,6 ao utilizarem restos do desmatamento da floresta acabava que trabalhavam, não com uma madeira específica, mas com todas que encontravam. Zanine escolhia e separava a madeira que seria usada para cada móvel, instruía os carpinteiros e fazia as marcações necessárias. Por fim, o móvel era executado na escala 1:1 pelos carpinteiros. A peça Namoradeira, por exemplo, uma das produções desse período, pode ser encontrada em diversas residências. Percebem-se, no entanto, diferenças no desenho das primeiras e das últimas Namoradeiras, resultado de um desenvolvimento construtivo adquirido com o tempo. As primeiras

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Zanine, o projeto para o desfrute

seu objetivo: a redução do valor da mobília em comparação aos móveis antes desenvolvidos pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, e ainda em relação a outras fábricas de móveis modernos do período, fez com que os Móveis Z chegassem às casas de amplas camadas da população brasileira. Apesar dessa conquista, a experiência de Zanine com a fábrica durou pouco. Em 1953, teve desentendimentos com seus sócios, saiu da sociedade e queimou todos os desenhos dos móveis. É possível observar o pensamento humano presente em toda a obra de Zanine. O arquiteto insistia, com frequência, na necessidade de desfrutar a vida e de viver bem, o que para ele dependia do convívio em harmonia com o meio ambiente. Esse pensamento o fez experimentar outras técnicas de construção de móveis, agora na década de 1970, em Nova Viçosa, Bahia. O móvel-denúncia

G Poltrona (Móveis Artísticos Z), déc. 40 5 Ibidem. 6 Depoimento dos carpinteiros Benedito Batista (17 de agosto de 2017) e Tancredo Barros (19 de agosto de 2017) a Amanda Beatriz Palma de Carvalho, em Nova Viçosa.


Decidiu usar as sobras de madeira na fabricação de móveis e denunciar o desflorestamento: criou, assim, o móvel-denúncia.

H

peças eram feitas inteiras em um único tronco. Sua forma de produção mudou com o tempo: os braços passaram a ser esculpidos separadamente, em madeira distinta do corpo do móvel, e acrescentados ao final, tornando mais simples e rápida a construção da peça e otimizando a matéria-prima. Outra prioridade de Zanine era a busca por conforto: « O que ele sempre falava pra fazer era sentar pra sentir o conforto, porque muitas vezes a pessoa tem aquela curiosidade de fazer, mas não sabe o conforto que a pessoa senta. Você pode sentar, mas tem que ficar à vontade, num sofá desse de madeira, ele tem que ter o apoio certinho nas costas. » 7 Sobre o formato escultórico dos móveis desenvolvidos em Nova Viçosa, podemos notar as formas arredondadas caracteristicamente encontradas em canoas, resultado do uso do instrumento enxó. Em muitos casos, Zanine enfatizou essas formas em seus móveis, criando certo movimento. A madeira também foi utilizada

I

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em sua forma natural, como podemos perceber em muitas de suas mesas: em um determinado projeto, um tronco de ponta-cabeça, com as raízes voltadas para o céu, suporta um tampo de vidro; noutro, a fatia de um tronco transforma-se em tampo de mesa. Nos móveis-denúncia, Zanine desenvolveu um design associado ao conhecimento humano do local onde se trabalha. Trata-se de permitir que as técnicas regionais sejam valorizadas e desenvolvidas, ao invés de importar técnicas e máquinas de lugares industrializados. Amor e respeito pelo meio ambiente Zanine acreditava que a emoção era capaz de subverter a lógica da produção repetitiva, de fazer repensar as estruturas da economia, apontando para um futuro em que o ser humano e a natureza fossem partes de um todo. Em suas palavras: « A madeira é uma riqueza que a natureza dá ao homem, que não temos direito de destruir, nem de gastar. Quanto mais pessoas no mundo, mais teremos que aproveitar o máximo da madeira. » 8 Zanine Caldas foi um precursor no uso sustentável de matéria-prima para a construção de móveis e casas, além de um grande defensor das florestas brasileiras. Percorreu um extenso caminho, de maquetista à paisagista, de designer a arquiteto e urbanista. Foi perseguido por muitos arquitetos brasileiros por não ter diploma. Ainda assim, ganhou, das mãos de Lúcio Costa, grande admirador de seu trabalho, o título de Arquiteto Honorário, atribuído pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, no ano de 1991. Da mesma forma, fora do país também teve seu trabalho reconhecido. Na França, em 1989, foi homenageado na exposição Zanine – L’Architecture et la forêt, no Musée des Arts Amanda Beatriz Palma de Carvalho

H Poltrona pilão Móvel-denúncia, 1978 I

Pé de mesa quadrado Móvel-denúncia, 1980

7 Depoimento do carpinteiro Benedito Batista (Nova Viçosa, 12 de setembro de 2017) a Teodório Cardoso, para curta-metragem realizado pela autora, para a 11a Bienal de Arquitetura de São Paulo, em 2017. 8 GALLOT, Claude. Zanine L’Architecte du Nouveau Monde. Paris: Rede Globo/ Antenne 2, 1978 (50 min).


J

Décoratifs do Musée du Louvre, e premiado com a Medalha de Prata do Collège d’Architectes. Celebrar o centenário de seu nascimento, em tempos de mudanças climáticas, poluição atmosférica, poluição dos rios e desflorestamento, é lembrar que nossa vida é condicionada pelo ambiente onde vivemos e transformamos. Para enfrentarmos esse problema, teremos de repensar a forma de construir cidades e objetos, de nos locomover, reconsiderar o uso de determinados materiais e aprender outras formas de viver. Retomar o pensamento de Zanine, brasileiro pioneiro no cuidado com a natureza, pode contribuir nessa busca, resgatando outras formas de projetar e produzir, e ajudar a encontrar novas soluções para os problemas atuais. — K

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Amanda Beatriz Palma de Carvalho é doutoranda no programa de pós-graduação em Design da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, orientada pela Professora Titular Maria Cecília Loschiavo dos Santos. Zanine, o projeto para o desfrute

J Namoradeira, déc. 1980 K Escultura oval Móvel-denúncia, 1982




FÁBRICA DE ARTE MARCOS AMARO


B re ve c ro n o g ra f i a dos DESMANCHES EDIÇÃO 2012/ 2019


BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

D ES MA NCH E DE ACE SS O Muitos creem que o desmanche de acesso consiste em erguer muros, restringir ou destruir canais de comunicação e comércio, criar leis de barreiras, fronteiras, identificações, inimigos. Porém, ao cair da noite, quando nos entregamos ao sono ou baixamos a guarda dando espaço à imaginação, sonhamos com grandes aventuras que os espaços inacessíveis guardam. Estimulados pelos rumores que correm à boca miúda e pelas notícias mal contadas que nos instigam, desejamos ardentemente pular cercas, escalar os muros, quebrar barreiras com canhões evanescentes; nos dedicamos a desenhar estratégias, mapas, fazer projetos e escrever histórias; travamos lutas contra piratas, contornando os limites terrestres com ajuda de barcos, nos apaixonamos pelo que nos é insondável, desconhecido, incompreensível. Enquanto isso, dentro da casa, a família cultiva seu doce e precioso cotidiano, cuidando de perpetrar seus costumes, seus papéis, de conservar sua segurança. Proclamando, incessantemente, sua autoverdade, exerce com a mão firme e responsável sua violência maldisfarçada de benevolência. Assim, seus membros ficam presos à textura suave e impregnante da seda doméstica, como insetos imobilizados à mercê apenas da fome da aranha. Homens da ciência dizem que se o fio da seda fosse da espessura de um lápis poderia parar um avião em pleno voo.

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BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

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BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

D ES MA NCH E DE E XCLUS IVIDA DE Esse tipo de desmanche talvez seja, entre todos os outros tipos, o mais admirável e o único considerado impreterível, embora seja dos mais arriscados. De modo geral é tratado como um desmanche excepcional, excêntrico, radical e, por essa razão, como exemplo, torna-se indesejável, controverso e pouco cultivado. Para alguns, o risco de excluir a exclusividade consiste em gerar com isso um tipo de exclusão na qual todos se veem incluídos. Para outros, o perigo desse desmanche é a inclusão dos excluídos excluir a possibilidade de exclusividade.

40 | desmanche de exclusividade


BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

D E S M AN CHE D E O R IEN TAÇ ÃO Algum dia, situar-se queria dizer posicionar-se em relação ao oriente. Mas, quando o polo magnético norte se tornou a referência principal, deixamos de nos orientar e passamos a nortearmo-nos. Assim, começaram desorientações de toda sorte e muitos, perdidos entre o lado direito e o esquerdo do mundo, sem conseguir mirar o que está acima e o que está abaixo, nunca mais conseguiram regressar a casa.

desmanche de orientação 41


BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

D ES MA NCH E DE NE U T RA L IDA DE De acordo com um conhecido dicionário da língua brasileira, a palavra causalidade em sua segunda acepção significa ligação entre causa e efeito. Em seguida, um exemplo à guisa de definição sentencia: Há um padrão de c. entre pobreza econômica e nível cultural. Mas, como o dicionário pretende ser algo impessoal, neutro, não ideológico, ele deve contemplar os sentidos mais diversos. Por isso traz o sentido filosófico do termo como uma subacepção da anterior visando ampliá-la: (2.1) relação entre dois acontecimentos ou estados de coisas, fatos ou objetos, observada quando o surgimento do primeiro induz, origina ou condiciona a ocorrência do segundo. A subdefinição seguinte, a 2.2, é jurídica. É o elo perdido, o sentido fulgurante que diz do nexo material que liga o fato ao seu autor. Esta alínea desmancha qualquer pretensão de neutralidade porque, se encararmos como nexo material o exemplo que coloca em relação de causalidade a pobreza econômica e o nível cultural, o que aparece como fato é a existência de um juízo de valor e seu autor que distribui, pelos seus inocentes modelos gramaticais, pequenas e eficazes doses de veneno.

42 | desmanche de neutralidade


BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

desmanche de neutralidade 43


BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

D ES MA NCH E DE O RIG E M

Entre os métodos utilizados pelos colonizadores de todos os tempos, além dos genocídios de povos nativos, escravidão e outras abominações grosseiras, há alguns mais sutis. Um deles consiste em subtrair os mais ricos e inesperados elementos culturais das regiões invadidas e apropriar-se deles até que o local de onde vieram seja esquecido ou menosprezado. É um método tão eficaz, vicioso e duradouro que hoje o chocolate é suíço, a batata, inglesa e os tomates vocês sabem. Como paga por tais delícias deixaram suas leis e seu deus crucificado. Entretanto, em algumas regiões tal imagem, apesar da popularidade, parecia não cair bem e era especialmente incômoda nos dias de calor. Então construíram um cristo redentor sobre o morro, de braços livres e abertos sobre a baía em sinal de proteção. Um cristo generoso, afável, monumental como um rei deve ser. Em vão tentaram repatriá-lo, como o que aconteceu com o antigo xocolatl, que, ao adquirir em outras terras uma doçura e uma presença inigualáveis, ninguém mais pôde duvidar de sua origem. Seja por fé, blasfêmia ou cinismo, não há quem negue a Deus, à banana e à cana o direito à naturalidade brasileira.

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BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

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BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

D ES MA NCH E DE O P O S IÇÃO Nem sempre é possível determinar de fato o que é defesa e o que é ataque. Mais difícil ainda é saber, sem sombra de dúvida, de qual lado o perigo está. Às vezes vemos armas, instrumentos ou dedos apontar em direções aparentemente opostas ou, simplesmente, para pontos não coincidentes com a nossa posição. Isso nos conforta. Entretanto, por uma razão desconhecida pela ciência, um misterioso desvio faz com que todos esses apontadores, ainda que ocupando tempos e espaços diversos, acertem o mesmo alvo. Somente assim percebemos quão próximos estávamos dele.

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BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

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BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

D ES MA NCH E DE P RE S U NÇÃO DE INO CÊ NCIA [M .Q . DE S M A NCH E ( IN ) VO LU NTÁ RIO DO LO S O ] A sabedoria popular diz que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. O problema é a espera. E, como hoje em dia ninguém quer perder tempo, criam-se atalhos para acelerar processos e descartamse rapidamente as demoras e, já que a água dura não é tão resistente, partiu-se para algo mais factível e eficiente: a pedra mole. Um tipo de pedra artificial, de pedra armada que, como os primeiros organismos anaeróbicos, foi - e ainda é - vítima constante e preferencial da Catástrofe do oxigênio.

48 | desmanche de presunção de inocência


BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

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BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

D ES MA NCH E DE NE CE SS IDA DE Aqui e acolá vimos e continuamos a ver vias, acessos, redes de transmissão e indústrias ser inauguradas. Com elas, novas possibilidades de trabalho, negócios, ou a esperança de uma nova vida, surgem. Como o tempo é implacável, passadas algumas décadas vê-se que nem tudo são flores. Ouvimos alarmados a notícias de uma fábrica que contaminou o solo e o lençol freático da região, da antena instalada pela companhia telefônica que pode provocar uma terrível doença, que a obra para a construção da estrada trouxe perigo e danos irreparáveis ao povo local e sobre o surgimento de uma nova cidade fantasma, depois da última renascente ter partido desta vida. Era uma mulher centenária que resistiu à mudança mesmo depois de quase toda a população ter deixado o vilarejo em busca de novas oportunidades, como havia resistido antes quando deixou de ser necessário que os trens tivessem pontos de apoio de trinta em trinta quilômetros e os telégrafos, onde trabalhou, caíram em desuso. Escutando o noticiário recente, ficamos estarrecidos quando anunciaram, em tom grave, o sucedido: até aquela data, os trabalhadores de uma certa companhia continuaram exercendo normalmente suas atividades e fazendo suas refeições bem debaixo de algo que acreditavam ser uma bomba-relógio desativada. O problema foi desconhecerem o principal, o relógio foi desativado, mas a bomba nunca foi desarmada.

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BREVE CRONOGRAFIA DOS DESMANCHES

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Foto: Salvador Cordaro

ARTEFACTO EDITION 2019 por Patricia Anastassiadis

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BRASIL

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Soy loco por ti, América... Glosas sobre colonialidade, arte, América Latina e Brasil por Maria Angélica Melendi

(…) habrá un momento para todos nosotros en el que no seremos ni Peruanos, ni Bolivianos, ni Argentinos, ni Dominicanos, ni Haitianos, ni Uruguayos, ni Venezolanos, ni Ecuatorianos, ni Colombianos, ni Centroamericanos… seremos todos latino-americanos! José María Torres Caicedo 1 Meu sangue latino/minh’alma cativa... João Ricardo e Paulinho Mendonça Sob o mesmo sol Em 1987, Times Square, o centro turístico de Nova York, era um bairro de teatros pornô, prostitutas e viciados. Naquele local, em um grande painel instalado logo acima da longa faixa que transmite as notícias da bolsa de valores, luzes amarelas atravessam o contorno de um mapa dos Estados Unidos e anunciavam: This Is Not America [Isto não é América]. This Is Not America’s Flag [Isto não é a bandeira americana] lia-se em seguida sobre a luminosa imagem da bandeira 56—

1 CAICEDO, José María Torres Apud: ROJAS, Daniel Emilio. Los latinoamericanos de París en el cambio de siglo. Sobre Die Hauptstadt Lateinamerikas (2013), de Jens Streckert. In: Colombia International, Bogotá, n. 6, 1.5.2016. Disponível em: <http:// dx.doi.org/10.7440/ colombiaint87.2016.10>. Acesso em: 12.2.2018. Fragmento de discurso pronunciado por Caicedo, em 29 de janeiro de 1879, durante a fundação da Union LatinoAméricaine, em Paris.


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Soy loco por ti, América...


estadunidense. Finalmente, a palavra “América” surgia e, em seu centro, o mapa do continente americano. De autoria do artista chileno Alfredo Jaar, o trabalho A Logo for America [Um logo para a América], uma animação sobre painel luminoso, exibido pela primeira vez naquele ano, foi remontado no Times Square em 2014. Em 2016, a obra também iluminou o Piccadilly Circus, em Londres, Reino Unido, como parte da exposição de arte latino-americana contemporânea Under the Same Sun [Sob o mesmo sol], promovida pela South London Gallery, e em 2018 integrou o Faena Festival como intervenção pública. A Logo for America remete à pintura do artista belga René Magritte, La trahison des images (Ceci n’est pas une pipe) [A traição das imagens (Isto não é um cachimbo)] (1929), mas transforma a afirmação contida no quadro em comentário político. Apesar do que pensam a maioria dos estadunidenses, os Estados Unidos não são a América, porque América é o nome de um continente, não de uma nação. Um continente onde se multiplicam várias Américas, onde habitam os sobreviventes dos povos originários e os descendentes dos africanos escravizados, dos conquistadores espanhóis e portugueses e das levas migratórias do século 20. Patria Grande, Nuestra América, Indo-América O conceito de América Latina teria se forjado na França, durante o século 19, como um derivado da ideia de “latinidade” e com o objetivo de se opor à persistente expansão dos Estados Unidos em direção ao sul do continente.2 O estudioso Walter Mignolo afirma que a América Latina é um projeto político das elites “criollas”3 e mestiças: « A “ideia” de América Latina é a triste celebração por parte das elites “criollas” de sua inclusão na modernidade, quando em realidade se afundaram cada vez mais na lógica da colonialidade. (...) A palavra “latinidade” englobava uma ideologia na qual se incluía a identidade das antigas colônias espanholas e portuguesas na nova ordem de um mundo moderno / colonial, tanto para os europeus como para os americanos. » 4 Na última metade do século 19 (e até pouco tempo), na América do Sul e no Caribe, latinidade identificava uma sociedade civil instruída que, além do espanhol ou do português, falava também o francês, pois, culturalmente, voltava-se para a França e ignorava a Península Ibérica. Ainda, a ideia de integração dos povos latino-americanos para além das fronteiras de seus países esteve presente no projeto do venezuelano Simón Bolívar – projeto que acabou derrotado. Na sequência, durante os séculos 19 e 20, o conceito torna-se uma ideia menos prática do que lírica: às denominações Patria Grande e Nuestra América, soma-se a de Indo-América, criada pelo peruano Víctor Raúl Haya de la Torre que retoma as ideias de Bolívar para construir seu ideal de defesa continental frente ao imperialismo. 58—

A ↩

Joaquín Torres Garcia América Invertida, 1943 Tinta sobre papel 19 x 21 cm

2 A expressão “América Latina” foi utilizada pela primeira vez em 1856 pelo filósofo chileno Francisco Bilbao; no mesmo ano, o escritor colombiano José María Torres Caicedo também cunhou tal expressão. Foi aproveitada, igualmente, pelo imperador francês Napoleão III, durante invasão da França no México. Uma das primeiras obras impressas em Paris, talvez a primeira, a utilizar o conceito de América Latina foi a do diplomata argentino Carlos Calvo, em seus Annales Historiques de la révolution de l'Amérique latine, publicados em cinco volumes, entre os anos de 1864 e 1875.

Maria Angélica Melendi


A América na verdade são várias Américas, onde vivem os sobreviventes dos povos originários e os descendentes dos escravos, dos conquistadores espanhóis e portugueses e das levas migratórias do século 20.

B

B Alfredo Jaar A Logo for America, 1987/2018 Intervenção pública realizada no Faena Festival, 2018 C Antonio Manuel
 – Soy loco por ti, 1969
 D Madeira, pano, plástico, palha, corda
 220 x 163 x 210 cm 3 Nas colônias espanholas, a palavra “criollo” era utilizada para denominar os descendentes de espanhóis nascidos na América – de acordo com a legislação do período, eles não podiam desempenhar cargos públicos. Sobre o asunto, ver MIGNOLO, Walter. La idea de América Latina. La herida colonial y la opción decolonial. Barcelona: Gedisa, 2007, p. 83. 4 Ibidem, pp. 81, 82. C–D

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Soy loco por ti, América...


E

O litoral do Pacífico, prensado pela cordilheira, teve um desenvolvimento diferente: por muito tempo, a América Latina buscou na Europa seu espelho invertido. Inmensa luna, cielo al revés...

E Ofelia Rodriguez Hemisferios en la boca del precificio, 1993 Técnica mista sobre papel 93 x 117 cm

Se pensarmos na conformação física da América Latina, percebemos o aspecto triangular e ístmico de seu traçado. Uma imponente cadeia montanhosa, a cordilheira dos Andes acompanha o oceano Pacífico da Venezuela ao estreito de Magalhães como uma longa muralha seguindo em direção ao sul. Segundo o historiador francês Pierre Chaunu, tal característica contribuiria para a “vocação atlântica” dessas nações e para sua “dificuldade de se realizar como um todo”.5 Dessa forma, a verticalidade alongada percebida em Nuestra América acentuaria os vínculos com a Europa e seria um dos motivos do isolamento entre os países que a constituem. A “vocação atlântica” de que falamos também foi determinante para as formas de população do continente, que viu grandes cidades 60—

F Nicolás García Uriburu Latinoamérica, Reservas Naturales del futuro. Unida a Sometida, 1973 Óleo sobre tela Coleção Azul García Uriburu 5 CHAUNU, Pierre Apud: ROUQUIÉ, Alain. América Latina. Introducción al extremo occidente. México: Siglo XXI editores, 1994, p. 43.

Maria Angélica Melendi


crescerem e prosperarem ao longo do litoral, deixando o interior quase deserto. Nem a aventura modernista de Brasília, afastada de tudo e de todos, conseguiu reparar essa falha de origem. O litoral do Pacífico, por sua vez, prensado pela cordilheira, teve um desenvolvimento diferente: por muito tempo, a América Latina buscou na Europa seu espelho invertido. Nós sempre tivemos Paris (ou Nova York ou Berlim...) Durante o período colonial, o esplendor das artes barrocas, impulsionado pela Espanha e por Portugal, expandiu-se nos vice-reinados do México e do Peru (e em menor escala em Guatemala, Equador e Brasil). Os artistas e arquitetos oriundos das metrópoles formaram novos mestres, agora nativos, que contaminaram o barroco europeu com os traços da cultura local. Criaram, assim, um novo barroco – um barroco-outro –, que definiria um momento histórico-estrutural heterogêneo na estrutura complexa do mundo moderno / colonial.6 Depois da expulsão dos jesuítas do império espanhol no ano de 1767, fundou-se no México, em 1781, a Academia de San Carlos, que nasceu como Academia de las Tres Nobles Artes de San Carlos: arquitectura, pintura y escultura de la Nueva España e seguia o modelo das academias europeias. No Brasil, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, ativa entre 1816 e 1822, e que se tornaria, posteriormente, a Academia Imperial das Belas Artes, até 1989, foi fundada por um decreto de Dom Joao VI, sob orientação da Missão Francesa.7 À época, os vice-reinados mais ricos da América Hispânica receberam academias de artes antes dos domínios pecuários do sul do continente. Já no século 19, bolsistas passavam temporadas em Paris ou em Roma, onde treinavam técnicas para pintar as telas fundacionais de suas novas nações. Mais tarde, os modernistas latino-americanos também desfrutaram longos períodos em Paris. Durante estadia na capital francesa, o mexicano Diego Rivera e a brasileira Tarsila do Amaral estavam sempre rodeados de outros pintores e artistas latino-americanos, como o chileno Manuel Ortiz de Zárate e os mexicanos Gerardo Murillo e Roberto Montenegro. Rivera frequentou os círculos artísticos de Montmartre e Montparnasse, onde conheceu Amedeo Modigliani, Piet Mondrian e Pablo Picasso; também em Paris, o pintor teve contato com imigrantes russos, daí sua amizade com Leon Trótski, Ígor Stravinski e Ilya Ehrenburg. O ateliê de Tarsila de Amaral, na rua Hégésippe Moreau,8 era o ponto de encontro da vanguarda europeia e latino-americana. Supõe-se que foi durante esses encontros que Tarsila e Oswald de Andrade conheceram o indigenismo que impulsava a criação literária e pictórica de muitos artistas latino-americanos à época.9 O trânsito para a França continuaria: em 1926, o pintor uruguaio Joaquín Torres García mudou-se para Paris, onde conheceu o neerlandês Theo van Doesburg e os membros do grupo De Stijl, entre eles Mondrian. Em 1929, 61—

F

G Rubens Gerchman A nova geografia. Homenagem à Torres Garcia, 1971 Acrílico, metal e madeira recortada 153 x 159 x 16 cm 6 MIGNOLO, Walter. Op. cit., p. 90. 7 Conhece-se por essa denominação um grupo de artistas franceses que aportaram no Rio de Janeiro em 1816. Certas versões do acontecimento contam que a Missão veio por solicitação do rei; outras, que os integrantes da Missão vieram oferecer seus serviços à corte portuguesa por iniciativa própria. 8 Paul Signac também teve um ateliê nessa mesma rua; depois, o espaço foi ocupado por Jules Pascin e Hermine David. Lá, também morava o pintor, gravador e músico Louis Huvey. 9 ROJAS, Daniel Emilio. Op. cit.

Soy loco por ti, América...


De certa forma, também contribuíram para confirmar um lugar-comum: o de que os artistas latino-americanos nunca se encontravam em seus países de origem.

Torres García fundou, ao lado desses artistas e de Michel Seuphor, o grupo Cercle et Carré, que teve publicação de mesmo título em periódico. De 2 de fevereiro de 1953 a 2 de fevereiro de 1954, como consta em sua carte de séjour [autorização de residência na França], o argentino Edgardo Antonio Vigo também morou em Paris, como estudante-bolsista. Lá, Vigo conviveu com o grupo de intelectuais, músicos e artistas liderado pelo venezuelano Jesús Rafael Soto. Naqueles anos, Soto ganhava a vida como concertista de violão em um cabaré de Paris, onde, entre uma atuação e outra, ele e seus companheiros discutiam arte e música: “Os cafés de Paris, como as universidades, são algo real. Não íamos à Grand Chaumière, nem à École des Beaux-Arts, nem a nenhum lugar desses”.10 Era o tempo da música dodecafônica e das primeiras experiências do Groupe de Recherche de Musique Concrète e da Elektronische Musik, que Soto acompanhava, e através dos quais aliava o conceito do dodecafonismo a uma escritura plástica. León Ferrari, Alberto Greco, Martha Boto – argentinos –, Cícero Dias, Arthur Luiz Piza, Lygia Clark – brasileiros –, Wifredo Lam – cubano –, Roberto Matta – chileno –, Rufino Tamayo – mexicano –, Carlos Cruz-Diez – venezuelano –, e muitos outros, contribuíram para a construção de uma imagem peculiar: a do artista latino-americano em Paris. De certa forma, também contribuíram para confirmar um lugar-comum: o de que os latino-americanos nunca se encontravam em seus países de origem, sempre na capital da França. Em poucos anos, a capital europeia deixaria de ser o centro de atração intelectual. A partir dos anos 1960, os artistas partiriam para a cidade de Nova York, que, após o fim da Segunda Guerra Mundial, roubou de Paris o conceito de arte moderna, conforme afirma o historiador de arte Serge Guilbault.11 A ação conjunta do Itamaraty e das fundações Guggenheim e Rockefeller atraíram para os Estados Unidos artistas como Luis Camnitzer, Liliana Porter, Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Abdias Nascimento e muitos outros.12 O historiador Daniel Emilio Rojas destaca, porém, a existência de uma distinção secular entre o Brasil e o resto das nações latino-americanas, no que se refere ao trânsito cultural: « Salvo pelos casos do periódico Le Brésil13 ou da pintora Tarsila do Amaral, a cisão entre uma América hispânica e outra portuguesa continuou tendo um peso considerável e seria um erro pensar que o credo continental lograria

superá-la. Os contatos esporádicos entre brasileiros e hispano-americanos não foram suficientes para acreditar que houve um diálogo e uma compenetração efetivos. »14 Ao longo dos anos, essa distinção transformou-se em uma relação tensa, porém, produtiva. O acadêmico Robert Patrick Newcomb afirma que a relação entre o Brasil e a América Hispânica pode ser definida, por um lado, pela forte projeção da ideia de união – a Nuestra América – e, por outro, pela afirmação brasileira de uma singularidade nacional. Enquanto intelectuais hispano-americanos como José Enrique Rodó e Alfonso Reyes ressaltaram a unidade do Brasil com o restante dos países latino-americanos, os brasileiros Joaquim Nabuco e Sérgio Buarque enfatizaram as peculiaridades do país. A coexistência entre as duas tradições culturais persiste, e é impregnada por ideias falsas, contradições e mal-entendidos.15 Foi provavelmente nas décadas de 1960 e 1970 que as artes brasileiras se identificaram mais profundamente com o restante da América Latina. O trabalho A Nova Geografia / Homenagem a Torres García (1971), de Rubens Gerchman, reconduz a questão identitária latino-americana aos debates da segunda metade do século, como também o faz

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Maria Angélica Melendi

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10 Edgardo Antonio Vigo em entrevista concedida à autora, no ano de 1997. 11 GUILBAUT, Serge. Comment New York Vola l’idée d’art moderne?. 12 Para mais informações sobre os intercâmbios artísticos patrocinados por instituições culturais estadunidenses, e sua prática como ferramenta na guerra fria cultural vigente na época, conferir o ensaio de Dária Jaremtchuk, "Políticas norte-americanas e arte brasileira nos anos 1960 e 1970", no catálogo Vanguardas brasileiras dos anos 1960 (Pinacoteca de São Paulo, 2017) [N.E.]


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H Ana Bella Geiger O pão nosso de cada dia, 1978 Papel de saco de pão e seis cartões postais 93 x 72 cm

Antonio Manuel, na instalação Soy loco por ti [Sou louco por ti] (1969), e Claudio Tozzi, em suas várias pinturas que aludem à situação do continente. A música popular também entoa a raiz comum da latinidade16 ou mistura o português ao espanhol – “antes que a definitiva noite se espalhe em Latino-América”.17

13 O periódico Le Brésil – Courrier de l’Amérique du Sud foi publicado em Paris entre 1881 e 1922, com notável tiragem.

Em algum lugar entre l’Extrême-Occident e the Global South

14 ROJAS, Daniel Emilio. Ibidem.

O diplomata e acadêmico Alain Rouquié subtitula seu livro sobre a América Latina de Introducción al extremo occidente [Introdução ao Extremo Ocidente] (1987). No entanto, com relação aos estudos de história da arte, a arte que se produz na América Latina é nomeada por vários intelectuais deste campo como a non western art [arte não ocidental]. A arte ocidental (e também a história da arte) é uma invenção europeia. A exposição Westkunst. Zeitgenössische Kunst seit 1939 [Arte Ocidental, arte contemporânea desde 1939], montada em 1981, em Colônia, na Alemanha, se propunha a agrupar a arte produzida depois de 1939, ao reivindicar a existência de uma “modernidade não esgotada” durante a Segunda Guerra Mundial. Na mostra, os curadores Laszlo 63—

15 Sobre o assunto, ver NEWCOMB, Robert. Nossa and Nuestra América: InterAmerican Dialogues. Indiana: Purdue University Press, 2012. 16 Como é o caso da canção “Sangue latino” (1973), de João Ricardo e Paulinho Mendonça, que serve de epígrafe para este ensaio. 17 “Soy loco por ti, America” (1968), música de Gilberto Gil e José Carlos Capinan.

Soy loco por ti, América...


Apesar de interrompida durante o regime nazista, a modernidade universal floresceu na América do Norte a partir das mãos de artistas emigrados.

I

Glozer e Kasper König invocaram a continuidade de uma modernidade universal. Apesar de interrompida durante o regime nazista, tal modernidade teria florescido na América do Norte, a partir das mãos de artistas emigrados. De acordo com o historiador de arte alemão Hans Belting, a exposição teria representado o marco em que a “modernidade suspensa” europeia se completaria com a participação dos Estados Unidos, país cujas criações se integram, assim, à arte ocidental.18 As tardias modernidades latino-americanas (modernidades sem modernização), trazidas da Europa ou dos Estados Unidos pelos artistas do sul ou pelos mesmos modernistas europeus – lembremos as viagens de Marinetti pelas Américas ou as de Blaise Cendrars ao Brasil –, pretendiam introduzir o imaginário moderno-industrial em países ainda extrativistas. A Bienal de São Paulo é outra mostra reveladora desse propósito: durante muito tempo, a produção das metrópoles era destaque. Já em 1984, a primeira Bienal de La Habana limitou seu campo de pesquisa aos artistas da América Latina, incluindo o Caribe. Desde sua

segunda edição, em 1986, o foco ampliou-se e artistas da África, Ásia e do Oriente Médio passaram a integrar o programa, com o qual se afirmou um lugar de encontro para artistas “não ocidentais”. Assim, a atenção concentrou-se, de maneira inédita, nos artistas do sul, cujos trabalhos apresentam situações e conflitos comuns à cada região. É possível afirmar que, a partir dessa Bienal, o Ocidente começa a olhar para além de seus limites: um olhar para o que hoje conhecemos como o Sul Global.19 Há de se acrescentar a multiplicação das grandes exposições que – de Veneza a Berlim – abriram as portas para a non western art.

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Maria Angélica Melendi

Brasil é ¡América Latina! O artista uruguaio Joaquín Torres García produziu uma imagem desnaturalizada do continente americano em seu desenho-manifesto Mapa invertido (1943). De acordo com Walter Mignolo, traçar o mapa da América do Sul com o sul apontando para o topo da página, como o fez Torres García, é um começo importante, mas não é suficiente: a representação muda o

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Ivens Machado Mapa mudo, 1979 Concreto armado e vidro

18 BELTING, Hans. O fim da história da arte. São Paulo: Cosac Naify, 1995, p. 59 e ss. 19 Denominam-se, assim, as regiões do sul onde persiste uma história de colonialismo e neocolonialismo, cuja estrutura social e econômica lida com grandes desigualdades.


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lugar de enunciação, mas persistem os termos do diálogo que ainda se mantém entre um sul e um norte mesmo que deslocados e os vazios gerados pela perda da cartografia indígena e da afro-americana.20 Em Mapa invertido, incluía-se o Brasil; já em A Logo for América, de Jaar – trabalho com o qual inauguramos esta discussão –, o país foi excluído, assim como o restante da América Latina e do Caribe. Se para os latino-americanos que falam o espanhol, o Brasil sempre fez parte da latinidade, esta é uma realidade refutada pela maioria dos brasileiros. Nesse contexto, uma dificuldade inaugural seria a língua; outra, o afastamento histórico, iniciado no processo de independência do estado brasileiro em relação aos países latino-americanos, para que as ideias republicanas permanecessem distantes do território nacional. Em 2018, o jovem artista mineiro Randolpho Lamonier apresentou na exposição MitoMotim, realizada no galpão do Videobrasil, o trabalho Profecias, uma série de painéis de tecidos coloridos, ao modo de estandartes, nos quais revelavam-se irônicos presságios que oscilam 65—

entre o desejo e a fantasia utópica. Em um deles, em letras garrafais, sobre um fundo multicor em que se juntavam flores, armas, caveiras, cobras, guias de umbanda e símbolos cristãos, lia-se: EM 2050 DESCOBRIMOS: BRASIL É ¡AMÉRICA LATINA!. O trabalho de Lamonier é a resposta irônica a um debate que parece se alongar através dos séculos. Teremos que esperar até 2050 para lograr essa unidade tão adiada? Entre perguntas, propostas e presságios o território do sul desliza: cartografia de um desejo, espaço de projeção, margem, fronteira, norte. — Maria Angélica Melendi é pesquisadora e professora do programa de pós-graduação em Artes da Escola de Belas Artes (UFMG). Investiga as relações entre arte visual, memória, violência e política na América Latina. É autora de Lorenzato (C/Arte, 2011); Estratégias da arte em uma era de catástrofes (Cobogó, 2017), finalista do Prêmio Jabuti (2018); e organizadora de Diálogos entre linguagens (C/Arte, 2009), entre outros. Soy loco por ti, América...

J Randolpho Lamonier Em 2050 descobrimos: Brasil é ¡América Latina!, 2018 Da série Profecias Costura e bordado em tecido 155 x 185 cm 20 MIGNOLO, Walter. Op. cit.


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Modernidade entrelaçada O mobiliário brasileiro do século 20 A fundação de Brasília, em 1960, assinalou a consolidação da linguagem modernista no imaginário nacional. A década que então se iniciava marcou também a fase de apogeu do móvel moderno brasileiro. por Jayme Vargas

O século 20 representou um período de importantes transformações estruturais para o Brasil. Uma crescente diferenciação da atividade econômica associou-se, naquela época, a um contínuo processo de expansão urbana e de diversificação do tecido social; e mais, no decorrer de uma trajetória política muitas vezes instável e turbulenta, manifestou-se uma busca persistente por maior representatividade. Tais processos trouxeram, como consequência, a urgente aspiração por novas formas de apreensão e de expressão da realidade para a produção cultural e intelectual brasileira. Como resultado, ocorreu uma participação ativa do país no projeto modernista – então em curso no cenário internacional –, dando origem a uma interessante vertente do movimento, que se estendeu por quase todo o século. A criação do mobiliário brasileiro seguiu o mesmo princípio de inserção na linguagem modernista do período, incorporando ainda alguns temas específicos ao país, como a busca de uma identidade nacional e a consequente oposição a 70—

Jayme Vargas


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Modernidade entrelaçada


estilos e proposições passadistas, identificados como acadêmicos, artificiais e não representativos das realidades locais. Tal conjunto de elementos deu-se, ainda, em estreita relação com outras áreas da produção cultural. Um mercado então incipiente para o design e a ausência de formação específica para o setor fizeram com que, não raro, os pioneiros do móvel moderno no Brasil exercessem outras atividades simultaneamente, em particular as práticas da arquitetura e das artes visuais. É a partir do final dos anos 1920 e no curso da década seguinte que o mobiliário moderno começa a se manifestar de maneira mais constante no país. As criações de John Graz, Gregori Warchavchik e Lasar Segall são reveladoras de uma produção nacional ainda próxima às influências europeias, como o art déco francês e as proposições da escola alemã Bauhaus. Com a década de 1940, dá-se início à atuação de Joaquim Tenreiro, designer e artista português, radicado ainda jovem no Brasil. Seu trabalho propôs algumas das questões que, mais tarde, se tornaram centrais para o desenvolvimento do móvel moderno nacional. Tenreiro buscou a utilização de materiais construtivos adequados ao clima local, em oposição aos pesados estilos e modelos de revestimentos que predominavam no gosto da época: em seu ofício, os grossos tecidos de veludo foram substituídos pela leveza da combinação entre o jacarandá e a palhinha – leveza essa que se afirmaria sobretudo no aspecto formal de suas peças, e que caracterizaria boa parte da produção nacional subsequente. Na fabricação de sua mobília, o designer empregou a produção artesanal e a semiartesanal, o que resultou em peças de execução apurada, destinadas a consumidores de alto poder aquisitivo. Apesar do caráter pouco mecanizado de seu trabalho, Tenreiro manifestou a intenção de adotar a produção industrial para promover a popularização de seus produtos. Esse objetivo nunca chegou a ser realizado. A industrialização na produção do mobiliário brasileiro foi alcançada de forma consistente somente a partir do final dos anos 1950, por criadores como Percival Lafer, Michel Arnoult e Geraldo de Barros. A fundação de Brasília, em 1960, assinalou a consolidação da linguagem modernista no imaginário nacional. A década que então se iniciava marcou ainda a fase de apogeu do móvel moderno brasileiro, que passara a contar com uma multiplicidade de propostas autorais e de empresas dedicadas ao setor, que atendiam a um público consumidor consideravelmente ampliado. A partir da década de 1970, é possível observar um processo de esgotamento das proposições modernistas – tanto no Brasil quanto no exterior –, não mais consideradas renovadoras ou pertinentes ao período. No âmbito cultural, tal produção permaneceu em geral reconhecida como um importante legado e uma referência para as novas gerações que a partir dali se afirmavam – circunstância que não se estendeu ao mobiliário moderno brasileiro, que experimentou a partir 72—

A criação do mobiliário brasileiro seguiu o mesmo princípio da linguagem modernista, incorporando temas como a busca de uma identidade nacional.

A Joaquim Tenreiro ↩ Detalhe Cadeira com braços, c. 1960 B Lasar Segall Cadeira com braços, 1932

Jayme Vargas


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desse momento um processo de quase total esquecimento e passou a ser visto apenas como um modismo ultrapassado. Esse ostracismo só seria revertido tempos depois, já nos anos 1990, quando, acompanhando a tendência internacional de revalorização do design do século 20, se inicia um movimento de redescoberta do que aqui havia sido criado naquele período. Constatou-se, com surpresa, uma vigorosa e múltipla produção de alta qualidade que, apesar das limitações técnicas das empresas nacionais da época, alcançou rara maturidade formal. A partir desse ponto, novas camadas de significado agregaram-se ao móvel moderno brasileiro: este passa a ser percebido não apenas como objeto utilitário, mas também como possuidor de relevância histórica e da capacidade de incorporar a fruição estética e a prática do colecionismo. Assim, um novo público consumidor começa a se formar: de início restrito, o grupo amplia-se significativamente ao longo do tempo. O renovado interesse pela mobília moderna no país, 73—

E

C John Graz Living da residência de Roberto Simonsen, c. 1925 D John Graz Sem título, s.d. Guache E John Graz Sem título, s.d. Guache 70 x 100 cm

Modernidade entrelaçada


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que agora compreendia a busca pelo conhecimento de sua trajetória histórica e o estudo de seus autores, acabou por criar um mercado vigoroso para os seus exemplares remanescentes, que passaram a ser comercializados por galerias especializadas, semelhantes em muitos aspectos às galerias dedicadas ao mercado de arte. E mais, esta evolução motivou ainda a iniciativa de reedição das peças mais significativas desta produção. Vale notar que, neste ensaio, serão consideradas apenas as reedições chamadas “autorizadas”; isto é, peças realizadas com a permissão e o acompanhamento dos autores de seus projetos originais, de seus representantes ou ainda das instituições responsáveis pela administração e pela salvaguarda da obra desses autores. As demais reedições ou réplicas se situam em uma área de incerteza e imprevisibilidade que dificulta, em grande medida, a melhor compreensão das condições e das circunstâncias em que são realizadas. As reedições autorizadas são executadas a partir dos projetos criados para as peças originais de época ou, na ausência delas – o que é frequente –, utiliza-se como modelo um exemplar original, similar ao item a ser reeditado. Embora as reedições compartilhem com as peças de época as mesmas características e sejam presumivelmente suas cópias fiéis, elas acabam estabelecendo uma dinâmica de identificação e diferenciação – ou de aproximação e distanciamento – entre as duas versões. Essa dinâmica abrange diversos aspectos, como os processos de produção, os materiais utilizados, as formas de circulação e distribuição no mercado e os modos de apropriação pelos usuários.

A ideia de “autenticidade” comporta certa fluidez, uma dificuldade intrínseca à definição do alcance e da extensão de seus significados e de seus significantes.

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Jayme Vargas

F Jean Gillon Poltrona Jangada em jacarandá, 1968 G Jean Gillon Poltrona Jangada em jacarandá, 1968 H Jean Gillon Poltrona Jangada com cunhas em jacarandá, 1968


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A relevância atribuída ao conceito de autenticidade pode ser compreendida como um ponto de convergência entre as reedições e as peças de época. A ideia de “autenticidade” comporta, sempre, certa fluidez, uma dificuldade intrínseca à definição do alcance e da extensão de seus significados. Aqui, essa ideia pode ser entendida como a busca pela aderência às características originais do projeto de um determinado item de mobiliário ou pela reprodução, a mais íntegra possível, de sua proposta autoral. Nas peças de época, essa busca decorria habitualmente da intervenção pessoal do autor – que muitas vezes também exercia a função de proprietário da empresa moveleira –, e de seu interesse em assegurar a reprodução fidedigna de suas criações. Nas reedições, por sua vez, verifica-se um processo similar, conduzido também pelo autor dos projetos originais (quando em vida), por seus representantes e herdeiros ou pelas instituições responsáveis pela qualificação dos exemplares reeditados. Na ausência do autor, se estabelece uma mediação e uma complexidade adicionais aos procedimentos que buscam autenticidade. Para a realização das reedições, um dos frequentes entraves é a virtual impossibilidade de se obter, hoje, os mesmos materiais empregados no momento de fabricação das peças de época. As madeiras mais utilizadas ao longo daquele período se encontram atualmente extintas ou em processo de extinção, como é o caso do jacarandá, madeira emblemática do móvel brasileiro. Da mesma forma, diversos produtos e componentes industrializados empregados anteriormente tiveram a sua produção 75—

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Jean Gillon Poltrona Jangada em madeira louro-freijó natural, 2018

J Jean Gillon Poltrona Jangada em madeira louro-freijó natural, 2018

Modernidade entrelaçada


interrompida ou seus processos de fabricação significativamente alterados. Este foi, entre outros, o caso dos tubos de aço de que Lina Bo Bardi fez uso em sua Cadeira Tripé, ou das placas de madeira compensada, também muito utilizadas por Bo Bardi e José Zanine Caldas nos anos 1950. A confecção das reedições se faz predominantemente com o uso de materiais equivalentes disponíveis. Uma dificuldade semelhante ocorre na tentativa de reconstituição dos processos produtivos originais: em sua maioria, eles se tornaram inviáveis em virtude de questões tecnológicas e econômicas, ou, ainda, dadas as restrições de determinadas leis ambientais. Da mesma forma, as reedições no Brasil são habitualmente feitas em quantidades reduzidas, o que de certa forma reaproxima as suas técnicas de produção àquelas da feitura das peças de época. De início, o móvel moderno trouxe não apenas uma renovada concepção de estilo, mas também a proposta de um novo modo de viver e de morar. Naquele instante, no entanto, predominava ainda o seu caráter utilitário ou funcional. Hoje, os seus exemplares remanescentes e as suas reedições passaram a incorporar a perspectiva histórica que foi associada a eles ao longo do tempo, mas preservaram em sua maior parte a funcionalidade como aspecto central. As reedições são sobretudo adquiridas em função de seus atributos utilitários, embora esta seja uma aquisição que pode envolver o entendimento de questões históricas pertinentes e particularidades de autoria. As peças de 76—

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época se situam em uma condição análoga, são essencialmente vistas como autorais e portadoras de valor histórico, mas também utilitárias. Uma parcela dessas peças tem, no entanto, uma finalidade de natureza distinta: são percebidas como colecionáveis, destinadas a pertencer a uma coleção. O filósofo e ensaísta alemão Walter Benjamin menciona, em sua obra Passagens (1982), a transição para um círculo mágico dos objetos que passam a integrar uma coleção. Eles se imobilizam enquanto percorrem um último estremecimento ao serem adquiridos, libertando-se da servidão de serem úteis. Para o móvel moderno, essa libertação se relativiza: antes, ele materializa um estado de ambiguidade, fazendo-se fronteiriço, parte objeto funcional, parte motivo de fruição estética e contemplação.

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De início, o móvel moderno trouxe não apenas uma renovada concepção de estilo, mas também a proposta de um novo modo de viver e de morar.

K Lina Bo Bardi Cadeira Tripé, s.d.

Jayme Vargas é curador independente e historiador formado pela Universidade de São Paulo. Por vinte anos tem pesquisado o mobiliário moderno brasileiro, tendo realizado palestras, textos e curadorias. É coautor, com o fotógrafo Ruy Teixeira, do livro Desenho da utopia: mobiliário moderno brasileiro (Editora Olhares, 2016), para o qual escreveu textos e atuou como organizador; o título foi vencedor do Prêmio Design Museu da Casa Brasileira (2017) e finalista do Prêmio Jabuti (2017) na categoria Arquitetura, Urbanismo, Artes e Fotografia. É autor do livro Percival Lafer: design, indústria e mercado (Editora Olhares, 2018). 77—

L José Zanine Caldas Cadeira (Móveis Artísticos Z), déc. 40 M Joaquim Tenreiro Cadeira de três pés em cinco madeiras, 1947 N Joaquim Tenreiro Detalhe do selo da Cadeira de três pés em cinco madeiras, 1947

Modernidade entrelaçada


Texts in English

Foreword [p. 11] Fifteen years ago, SP-Arte began its trajectory with a selection of 41 galleries exhibiting on the ground floor of the Biennial Pavilion in São Paulo. At the time, only one participating gallery was from overseas. This year, the art fair celebrates its 15th anniversary, and its expansion and internationalisation are undeniable. As well as occupying the entire Pavilion building at Ibirapuera Park, it reaches beyond its grounds, and has become part of a select group of major art festivals in the world, turning São Paulo into a mandatory stop on the international art circuit. For this year’s edition, the event welcomes more than 160 galleries, attracting the freshest content in the international art scene and strengthening the partnership with long-standing national and international galleries. 2019 marks a moment of reflection for us, both looking back, at our path thus far, and forwards, collectively tracing the future we wish to build. Created with the mission of professionalising the Brazilian art market, SP-Arte has broadened access to knowledge and fomented the formation of a specialised public. We have helped to establish a base of collectors, stimulating business growth and consolidating Brazilian galleries. To celebrate our anniversary, we have taken this opportunity to renew our commitment with the promotion, creation and exhibition of national art, striving for a contemporary art scene that is more democratic and accessible not only for the public but also for the artists and thinkers working in the field. Our motto is multiplicity. This year the fair is bolstering its education partnership and residency programmes with the Delfina Foundation in London, and Fundação Marcos Amaro, in São Paulo, by offering two substantial contemporary art prizes that promote national artists and build exchange networks abroad. Year after year, we have aimed to strengthen our role as a catalyst for art, nurturing an environment that fosters encounters and dialogues between the public and the greatest names in the field. Our Talks – a series of lectures that take place in the auditorium of Museu de Arte Moderna (mam) – asserts our interest in art institutions and the potential ramifications of a constantly changing art market, amongst other relevant themes. The 15th edition also marks 78—


the re-launch of the magazine traço —. The free publication attests to our commitment to the creation of quality critique available to everyone. Additionally, we continue to occupy the city of São Paulo with a special programme of events promoted by partner galleries and cultural institutions, as well as the initiatives Gallery Night and Open Studio Circuit. Latin America is the highlight of the Solo section, curated by Alexia Tala from Chile. Brazilians Marcos Gallon and Tiago Mesquita curated the project Performance SP-Arte and Masters section, respectively. The biggest innovation this year is OpenSpace, a sculpture exhibition at Ibirapuera Park and parts of the Pavilion, under the curatorship of Cauê Alves, from Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (mube). As usual, the Pavilion will be bursting with editorial launches, free guided tours and special programmes presented by the galleries. Looking to the future, we are endorsing our partnership with galleries beyond the week of the festival, connecting their represented artists with the art world. With this in mind, our site has been revamped with the addition of sections dedicated to the presentation of galleries, artists and artworks, as well as a programme of art events across the country. We are extremely grateful to the international galleries that have shown confidence in us, year after year, and recognise Brazil as a strong platform for research and promotion of their artists. We are equally grateful to the national galleries that have helped us build what is today an internationally renowned art fair. We would also like to welcome the galleries landing in São Paulo for the first time. We are indebted to our public who have supported us by guaranteeing that our event is a success in terms of visitor numbers. We would like to thank our master sponsors Itaú, Vivo and Iguatemi São Paulo; our sponsors Artefacto, Chandon, Sauer, Stella Artois and Volvo; our supporter Orfeu Cafés Especiais; the São Paulo Mayor and the Municipal Secretary of Culture; the State Government of São Paulo, represented by the Secretaries of Culture and Finance; and the Federal Government of Brazil, represented by the Ministry of Citizenship.

the democratic landscape, underlining how prolonged artistic practices are currently under threat within exhibition spaces. In partnership with the art website aarea, this edition proposes an artwork that unfolds both as physical object and a virtual space, as a way of exploring the individual rhythm of each medium. We have invited artist Lais Myrrha to come up with an exercise that responds to this. Breve cronografia dos desmanches [Brief Chronology of Dismantling], a research series that started in 2012, presents a catalogue of examples of dismantling mapped by the artist and spread across different times and geographies. These can be read on the magazine pages. It will be possible to follow the work’s unfolding, Diário dos desmanches [Dismanteling Diaries], in aarea’s virtual exhibition space. During the art fair, Myrrha is also intervening in SP-Arte’s social media, expanding her practice to three different modes of artistic expression. Also in this edition, Argentinian Maria Angélica Melendi puts together a historical retrospective that examines the relationship between art production in Brazil and the rest of Latin America, considering a possible Latin American artistic identity and pondering what the future holds for us in this sense. To celebrate the centenary of designer and architect Zanine Caldas, Amanda Beatriz Palma de Carvalho presents the artist’s profile and highlights his concern with Brazilian fauna and flora, particularly in the creation of durable objects such as his ‘denunciation furniture’. Finally, Jayme Vargas writes about the cultural weight of modern furniture in relation to the national modernist movement, considering how the perception of these furniture pieces has been adapted to their subsequent re-editions. This publication aims to introduce to the reader different considerations that see time, and the deceleration of time, as a form of resistance. It is true that Latin America has experienced a constant process of construction, contestation and re-dimensioning of its memories, building new paths and creating new strategies for existing and resisting. We invite everyone to revisit their memories, not as plain nostalgia but as a way of contemplating and experiencing so, after this moment of pause, we can start to think about the future we wish for.

Fernanda Feitosa SP-Arte Founder and Director

Barbara Mastrobuono Editor of traço —

Editorial

Other Images, Other Gestures, Other Ways of Being Together

[p. 15] Anniversaries offer a moment for reflection. A moment to assess time that has passed, to appraise what has been built and consider what is yet to be built. In the case of SP-Arte, its 15th anniversary also marks a birth: traço —, the SP-Arte magazine, has been revamped in line with the art fair’s new identity. It introduces fresh design and revised content, consolidating its passion and commitment with the creation of critical material that elaborates on topics of art and its ramifications. One of these ramifications is the issue of time – which is more sensed than rationalised. In a historical era of information overload, it is paramount to think about the time we invest in understanding and receiving the information that comes to us. In this edition of traço —, curator and researcher Moacir dos Anjos analyses the works of Graziela Kunsch and Coletivo Amò. He argues that taking time in art is a fundamental tool for the inclusion of bodies excluded from 79—

[pp. 18-25] To the regular visitor, it hasn’t gone unnoticed that, over the years, art exhibitions have become more numerous and larger, not necessarily in spatial terms, but in relation to the time required to visit them fully. Exhibitions that display not only paintings, drawings, photos and sculptures, but also installations, which often demand prolonged interaction in order to be wholly appreciated, as well as a growing number of videos and films that can last from a few minutes to uninterrupted hours. Art exhibitions that can only be comprehended in their entirety if an extended period of time is dedicated to digesting them. This is the same extended period of time that so many instances of contemporary life – such as work, study and relationships – suggest no longer exists, with so many products, events and affections competing for the attention of the consumers of image, text, sounds and gestures, inaccurately referred to as ‘the


spectator’ by the cultural industry. The resulting tension between an artistic production that requires a deceleration of the senses and the everyday experience that incessantly incites these same senses can frustrate those who, when visiting exhibitions, do not allow themselves, or perhaps are not able, to be affected by the temporal subversion that is implicitly proposed. This reaction means that the works that demand time – because of their size and/or complexity – are often overlooked by those who are more adept to the temporality of ordinary life. Fearful of pushing away a portion of the public that feels unsettled in the face of experiences that disrupt established ways of seeing and thinking, those in charge of exhibitions often give in and omit these works from the programme. The perverse side of this conservative solution is that these are often artworks that matter precisely because they challenge existing ways of perceiving and understanding, expanding the potential to understand the facts of the world in multiple ways. Works that – independently of the media they use – can upset conventional ways of relating to time, opening up to everything that, despite being so close to us, is in fact beyond the reach of our senses impaired by the pace of contemporary life. Amongst the many works that go against the acceleration of everyday life, I would like to mention two artworks that were included in a curatorial project in which the conceptual directive was the utopic dimension of art: the exhibition Arte democracia utopia. Quem não luta tá morto [Art Democracy Utopia. If You Don’t Fight You Die], which took place from September 2018 to May 2019 at Museu de Arte do Rio (MAR).1 In the show, the concept of utopia was associated with the invention of other possible life arrangements that could be more inclusive of those who are not considered part of the communities where they live. The show reflected on the various struggles that challenge a multitude of inequalities, injustices and violence in an attempt to transform our (immediate or distant) world into a more equal, fair and peaceful place. Artworks that, despite the many marked differences between them, share a search for a relationship with the other that requires a protracted period of time. Artworks that challenge the pressures that force brevity on relations, which are typical of an era that incites the simultaneous devouring of everything, whilst discouraging reflection on the interstices and murmurs that unpretentiously conjure and announce a more generous and ample future against a narrow present. The first artwork emerged from the experience of implementing a psychoanalysis clinic called Clínica Pública de Psicanálise [Public Pychoanalysis Clinic] at Vila Itororó, a historical building in São Paulo currently under restoration. Headed by artist Graziela Kunsch and psychoanalyst Daniel Guimarães, the clinic, which opened in 2016 and is still in operation, was founded to offer former residents – who were unwillingly removed from their homes when the residential complex was expropriated by the State Government and the São Paulo Mayor for ‘cultural purposes’ – the chance to use psychoanalysis to deal with the suffering resulting from their material and emotional losses. It also came to light as a project that challenges conventional ideas of culture and art, occupying a space that, although under construction, was already welcoming other creative activities: a way of resisting the adversities experienced by those who once lived there. The idea of implementing a community psychoanalysis clinic, that is, a clinic that was not dependent on its clients’ financial disposition to operate, was made possible thanks to the participation of a large number of volunteer psychoanalysts, 80—

whose practices and exchanges with the displaced residents and other interested parties have collectively contributed to the blurring of the edges that separate different fields of subjectivity, including a joint effort between the analyst and the analysand to develop the psychoanalytic arrangement most suited to each individual. Invited to participate in the exhibition Arte democracia utopia. Quem não luta tá morto, Kunsch and Guimarães proposed the installation of three interconnected artistic-clinical apparatuses, which evoked the experience of the clinic by making available some contextual information to the visitor. The first installation was called Lugar de escuta [Place of Listening]. Formally, the apparatus consisted of a dozen chairs displayed in a circle in the middle of the exhibition room, which could be occupied by specific groups mediated by the museum education staff or other public groups that wished to use them for the purpose of collective listening activities. The second installation, titled Escuta mútua [Mutual Listening], was made up of pairs of chairs placed in front of each other (or with their backs to each other), which were scattered around the exhibition space. These were also available to be used by individuals willing to make contact or have a more reserved chat. Even when the chairs were not being used, the fact that they were arranged in a way that could potentially support an exchange between any two people suggested the possibility of different speaking and listening exercises that were valid without the presence and legitimation of a ‘specialist’. And, finally, the third installation was called Uma clínica pública no Rio de Janeiro: grupo de trabalho [A Public Clinic in Rio de Janeiro: Work Group]. At the beginning of the show, Kunsch and Guimarães held a two-day meeting at Escola do Olhar [School of Looking] at MAR – with a group of professionals and individuals interested in public psychoanalytical initiatives – aimed at sharing knowledge and experience on social clinical practices, both past and present. During the exchange, they defined artistic-clinical actions to be performed for the duration of the show, not only in the museum but also in its surrounding areas and in specific contexts, such as Favela da Maré and the so-called Little Africa. In the months that followed the constitution of the work group, these actions became a new experience of community clinical practice in Rio de Janeiro, which was named ‘listeners’ (escutadores in Portuguese) by the participants themselves. The extended and uncertain period of time necessary for these propositions to make sense, as well as the need for an unspecified other (in this case, the exhibition visitors) for their effective activation (without an imposition but an invitation to exchange multiple singularities), is also present, from a different perspective, in another work showcased in the same exhibition: Política pública [Public Policy] produced by the collective Amò, made-up of Ana Lira, Marina Alves, Marta Supernova, Thais Rocha and Thais Rosa. The project arose from the decision by the artists – all Black-descendent female activists – to use invented means, or borrowed from varied disciplines, to counter the dynamics of obliteration and silencing of bodies that, in Brazil, do not fit the defining outlines of a normalised existence legitimised by a ‘universal ideal’. This ideal defines, explicitly or implicitly, criteria of race, ethnicity, gender and class that socially justify or negate unique ways of existing. Amongst the several life control mechanisms in place today, the artists highlighted the most extreme: the extermination of ‘dissident’ bodies, as attested by the murder of City Councillor Marielle Franco in 2018 and of many others who, before and after their brutal


end, were physically eliminated. Killed for being Black, gay, lesbian, transgender, poor or for challenging institutionalised mechanisms that restrict access to the law and public funding, which are supposedly equally applicable and available to anyone or any group. In particular, the art collective was interested in establishing listening activities with the residents of the area surrounding Museu de Arte do Rio, which has been the object of recent urban interventions (including the creation of the museum itself) that have strongly impacted the way of life of those who used to live in the region. This is an area that holds important landmarks for the Black population in Rio de Janeiro, such as the Valongo Wharf, which was, between 1811 and 1831, the arrival point for hundreds of thousands of enslaved Black men and women coming from different parts of Africa; and Pedra do Sal [Salt Stone], a monument that marks the presence of Black people in that part of town during slavery (in the 17th century the site was used as a slave market) and a meeting point for Black people who lived in Rio or moved there in the decades that followed the abolition of slavery at the end of the 19th century. It is no coincidence that this was also the place where, in the first decades of the 20th century, several musicians and composers gathered to create samba. The acts of listening performed by Amò – individually and in small groups of residents – were an attempt to open up to narratives that intertwine loss and resistance, both material and symbolic. A type of listening that could not and would not be neutral, given that the artists subjectively have something in common with those who were telling them stories of obliteration: the marks of enduring an allegedly universal way of existing that seeks to annul differences. Through the speech of someone else who was also silenced by structurally racist and classist governmental action, this act of listening activated a common desire to affirm the singular and revisit the ancestral, acknowledging its strong presence in the contemporary world. The materialisation of this process of listening – which began before the opening of the show and evolved throughout its duration – undertook multiple formats and was gradually brought to a social gathering space created inside the exhibition site. And once the texts, audios, videos, books, games, drawings, gestures and other formal and informal records of the listening exercise with local residents were introduced, they began to function as triggers of another type of listening, which now welcomes the voices of residents from other parts of the city who visit the exhibition. Unfolding into a long and open process – and inscribed in a vast territory where the museum is only one of it effectuation sites – this Política pública [Public Policy] proposed by collective Amò sought to percolate the dissident and dissonant voices that constitute the world and that are, despite their constitutive presence, constantly shut down by the violent imposition – translated and contained in governmental actions – of a paradoxically excluding universality. The works briefly examined here share a temporality that is completely distinct from the acceleration that the several spheres of life currently require from us all. To be materialised into an effective proposition, both artworks rely on a horizontal relationship with someone else that goes beyond their role as audience to become an engaged party. In this sense, both projects demand an extended artistic experience, both in terms of the artists who propose them and the people who are ultimately targeted by the project but whose participation is fundamental for its existence. Considered as a set, these artworks also evoke 81—

a question that overarches a number of current artistic propositions: why, after all, do we call art those works that, by their own means or borrowing from other fields, denounce the lack of listening (proposing even, within its limits, to redress it) in the individual and collective realms? One way of answering this question – without the intention of exhausting its possibilities – requires attention to the way these projects fracture some of the consensuses that inform mental health policies and many of the so-called social policies that often serve to justify exclusions and maintain chronic inequalities. Consensuses that arbitrarily naturalise as ‘universal’ or ‘uniform’ established hierarchies, limits and ways of making that the artworks here (and many others) challenge and criticise by insisting on the possibility of inscribing in the world – including institutionally – different gestures, different images and different ways of being together. Ultimately insisting on a type of aesthetics that can rise to the challenge of building a different life. Moacir dos Anjos is a researcher at Fundação Joaquim Nabuco, where he is currently working on a project titled ‘The Politics of Art’. From 2001 to 2006, he was Director of Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (MAMAM). He curated the 29th São Paulo Biennial (2010) and the exhibitions Cães sem Plumas (2014), A queda do céu (2015), Emergência - Travessias 5 (2017) and Arte democracia utopia - quem não luta tá morto (2018). He is the author of: Logal/Global. Arte em Trânsito (Zahar, 2005), ArteBra Crítica (WMF Martins Fontes, 2010) and Contraditório: arte, globalização e pertencimento (Cobogó, 2017). 1 The exhibition was curated by the author, assisted by Fernanda Lopes.

Zanine: A Project for Enjoyment [pp. 26-33] José Zanine Caldas (1919–2001) was born in Belmonte, a small town in southern Bahia, situated on an inland plain between the Jequitinhonha River and the Atlantic Ocean. From a young age, watching builders working in his hometown fascinated him: they were performing the magic of making. He says: « Mud and wood have always been used to build humanity’s shelter. Belmonte’s houses are made of rammed earth and adobe, covered by terracotta tiles made in clay ovens powered by burning wood. It was exactly there, by looking at the process of making – mostly houses – that I also learned the practice of making. »1 As an inquisitive, curious and multifaceted artist – known for his houses and wooden furniture – Zanine worked across multiple fields: as placard designer, architectural draftsman for the firm Severo & Villares, craftsman, sculptor, ceramicist, model-maker, designer, landscaper, architect, city planner and teacher. He travelled across Brazil and abroad in search of new experiences in his work, education and life. For Zanine, what mattered most was the joy of life and, in it, the joy of making. A man of extremely high personal standards, he was constantly striving to achieve his best. His body of work is vast, multiple and of exceptional quality. Zanine’s motivation was the materialisation of ideas: the magic of transforming materials found in nature into objects that would help human beings enjoy their everyday experience. His curious and free outlook – which made him a keen learner of techniques and materials used by common people –, paired with his inventiveness, led to extraordinary


outcomes. His production was very different from that expected of architects and designers of his time. Examples of this are his houses in Joatinga, Rio de Janeiro, and the recycling of deforestation waste in the construction of his “móvel denúncia” [“denunciation-furniture”]. In 1941, he innovated the production of architectural models by opening a model factory called Maquete Studio. Zanine added plywood to the creation of his models and used transparent film to distinguish door and window frames, allowing the viewer to see inside the work. With this technique, he transformed model making: from a volumetric representation made of plaster to a faithful representation of an architectural project. This triggered interest from the most prominent Brazilian architects of the time, including Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Oswaldo Bratke, Affonso Eduardo Reidy, Luís Saia and Alcides da Rocha Miranda. During this period, Zanine produced approximately 700 models. With the knowledge he acquired through the use of marine plywood for model making, Zanine began designing furniture for his own house. It was at this point that he decided to open the furniture factory Móveis Artísticos Z. Móveis Artísticos Z The end of the 1940s and the beginning of the 1950s were marked by the industrialisation of Brazil as a consequence of the two Great Wars and the increase in urban population, which led to the expansion of urban consumer markets. As a result, there was an increased demand for housing, which became the focus of discussion among major Brazilian architects. Residential apartments emerged as a response to expanding cities and led to a transformation in urban life, as city dwellers had to adapt to smaller spaces. Zanine – as an important model maker for the leading architects of the time – was part of the housing discussion. Thinking about housing led him to think about furniture. The upsurge in the demand for housing (and, consequently, furniture), provoked by population growth, challenged traditional furniture manufacturing methods, as national production was no longer able to meet the increasing demand. Even though these issues were already present in the modern architectural debate of the 1930s and 1940s, innovations in terms of furniture industrialisation were very rare. It was in this context that in 1949 Zanine founded – in partnership with Sebastião Henrique da Cunha Pontes and Paulo Mello – Móveis Artísticos Z, in São José dos Campos, São Paulo.2 This enterprise turned Zanine into one of the pioneers of furniture design and production and in the use of marine plywood in furniture in Brazil. According to researcher Maria Cecília Loschiavo dos Santos,3 the assembling of his pieces was extremely simple, which allowed him to use a nonspecialised labour force. Both this aspect and the optimal use of plywood meant that Móveis Artísticos Z achieved a reduction of 70-80% in the price of furniture in relation to the same production using standard wood. The factory employed around 150 people and sales were high: « Every line of furniture was modular and allowed an arrangement to suit the client’s needs. Seats used zigzag springs and the upholstery was covered with seamless fabric – canvas or plastic materials incorporating blue, yellow, brown or stripes. They were secured from below with staples or pins roughly covered with a piece of plywood. The presence of colour and asymmetry 82—

in the composition of Zanine’s furniture pieces was innovative for the time, as up to that point, surfaces were mainly neutral, sombre and symmetric. »4 The structure of Zanine’s pieces consisted of plywood, which was often cut into a Z or amoeba-like shape. He sought lightness in the furniture, allowing for its mobility and flexibility in the space layout. Zanine believed that industrialisation would foster an improvement in quality of life for the majority of people. To some extent he achieved his goal: to reduce the cost of furniture in comparison to the furniture produced by the School of Arts and Crafts of São Paulo and other modern furniture factories of that period. His work meant that Móveis Z reached vast numbers of people in Brazil. Despite this achievement, Zanine’s experience with the factory did not last long. In 1953, he fell out with his partners, left the business and burned all his drawings. We can perceive Zanine’s line of thought throughout his whole career. The architect insisted on the need to enjoy life and live well, which for him depended on a harmonious coexistence with the environment. This concept led him to experiment with other furniture making techniques in the 1970s in Nova Viçosa, Bahia. Denunciation-Furniture When Zanine arrived in Nova Viçosa, a small town in southern Bahia, he came into contact with a large timber and laminated plywood producer – Elecunha – where he found forestry waste such as tree trunks and roots. He also met highly skilful canoe builders: craftsmen who knew how to sculpt a canoe from a tree trunk. When he noticed the large quantity of wood that was wasted, Zanine was appalled by the lack of care for nature and the possibility that the industry could eventually drive the whole forest into extinction. He decided to use leftover wood products in the manufacture of furniture as a way of denouncing deforestation: he created his “denunciation-furniture”. According to Zanine, the initiative would preserve the existence of discarded wood that was likely to become extinct in the future.5 The furniture was produced in small runs, from 1:10-scale models made by Zanine himself. According to the carpenters who worked with him at the tim,6 the fact that they used the remnants of deforestation meant that instead of working with one specific type of timber, they handled any type of wood they could find. Zanine chose and sorted the wood that would be used for each piece of furniture. The architect was in charge of making the necessary markings and instructing his carpenters, who eventually produced each item on a 1:1 scale. His tête-à-tête rocker Namoradeira – a piece from this period – can be found in several homes. However, there are differences in the design of the earlier and later Namoradeiras that are the result of a gradual technical development. The first pieces were made from a single tree trunk. Over time, the production changed: the arms were sculpted separately, using different timber from the rest of the chair, and attached to the main piece at the end. Production was simpler and faster, while at the same time optimising the use of raw material. Zanine also prioritised comfort: « He always asked us to sit down and check if it was comfortable because people are often keen to produce but don’t understand how comfortable it is for the person sitting on it. You need to sit down and feel comfortable on a wooden sofa like this. It needs


to have the right shape to support your back. »7 With regards to the sculptural form of the furniture developed in Nova Viçosa, it is worth noting the rounded forms typically found in canoes made with a tool called an enxó (a local type of adze). In many cases, Zanine emphasised these forms in his furniture, creating movement. Timber was also used in its natural form, as we can see in many of his tables. In one piece, an upside-down tree trunk with the root facing up is used to support a glass panel. In another, the slice of a tree trunk becomes a table-top. With his “denunciation-furniture”, Zanine developed a design connected to local knowledge as an effort to value and preserve regional techniques, rather than importing procedures and machines from industrialised places. Love and Respect for the Environment Zanine believed that emotion was able to subvert logic in mass production, to make us rethink the structures of economy, pointing to a future where human beings and nature would be part of a whole. In his own words: « Wood is part of the wealth that nature gives to men. We do not have the right to destroy or waste it. The more people there are in the world, the more we will have to make the most out of wood. »8 Zanine was at the forefront of the sustainable use of raw materials in the construction of furniture and houses. He was also a great defender of Brazilian forests. He had a comprehensive career: from model maker to landscaper, from designer to architect and urban planner. He was rejected by many Brazilian architects for not having a diploma. But despite it all, in 1991, Zanine was awarded the title of Honorary Architect by the Institute of Architects of Brazil. The prize was delivered by Lúcio Costa, a great admirer of his work. His contribution was also acknowledged outside Brazil. In France, in 1989, his body of work was celebrated with the exhibition Zanine – L’Architecture et la forêt at Musée des Arts Décoratifs of Musée du Louvre. He was also awarded a Silver Medal by Collège d’Architectes. To commemorate the centenary of Zanine’s birth in an era of climate change, atmospheric and water pollution and deforestation, is to remind us that life is conditioned by the environment we live in and which we transform. In order to overcome environmental issues, we must rethink the way we build cities and objects and the way we move around; we must reconsider the use of certain materials and learn a different way of living. To revisit Zanine’s ideals – a Brazilian pioneer in caring for nature – can contribute towards this goal, reviving other ways of designing and producing and developing new solutions for our current challenges. Amanda Beatriz Palma de Carvalho is a PhD student at the PostGraduation Design Programme of Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, under the supervision of Maria Cecília Loschiavo dos Santos. 1 Zanine’s statement to Suely Ferreira da Silva, in: SILVA, Suely Ferreira da. Zanine: sentir e fazer. Rio de Janeiro: Agir, 1988. 2 MELO, Alexandre Penedo Barbosa de. Móveis artísticos Z (1948-1961): o moderno autodidata e seus ressortes sinuosos. Masters dissertation, Department of Architecture and Urbanism at Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2001. 3 SANTOS, Maria Cecília Loschiavo dos. Tradição e modernidade no móvel brasileiro. PhD thesis, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 1993. 4 Ibidem, p. 167. 5 Ibidem.

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6 Statements from carpenters Benedito Batista (17 August 2017) and Tancredo Barros (19 August 2017) to Amanda Beatriz Palma de Carvalho, in Nova Viçosa. 7 Statements from carpenters Benedito Batista (Nova Viçosa, 12 September 2017) to Teodório Cardoso for a short film produced by the author for the 11th São Paulo Architecture Biennial, in 2017. 8 GALLOT, Claude. Zanine L’Architecte du Nouveau Monde. Paris: Rede Globo/ Antenne 2, 1978 (50 min).

Soy loco por ti América...Notes on Coloniality, Art, Latin America and Brazil [pp. 56-65] “(…) There will be a time when we will no longer be Peruvian, Bolivian, Argentinian, Dominican, Haitian, Uruguayan, Venezuelan, Ecuadorian, Colombian or Central American… We are all going to be Latin American!” José María Torres Caicedo1 “My Latin blood/my captive soul...” João Ricardo and Paulinho Mendonça Under the Same Sun In 1987 New York’s tourist centre Times Square was a hub for porn-theatres, prostitutes and junkies. On a large billboard above the long strip that broadcasts stock market news, yellow lights stretched across the outline of a map of the USA announcing, ‘This is Not America’. This was followed by the sentence ‘This is Not America’s Flag’, over a glowing image of the flag of the USA. Finally, the word ‘America’ appeared over a map of the American continent. A Logo for America: an animation work on an electronic billboard created by Chilean artist Alfredo Jaar and exhibited for the first time that year, was later reproduced in Times Square in 2014. In 2016, the work also appeared in Piccadilly Circus, London, as part of Under the Same Sun, an exhibition of Latin American contemporary art at South London Gallery. A Logo for America evokes La trahison des images (Ceci n’est pas une pipe) [The Treachery of Images (This is Not a Pipe)] (1929) by Belgian artist René Magritte. Jaar’s animation turns its statement into political commentary. Despite what most people in the United States think, the USA is not America because America is the name of a continent, not a nation. A continent where several Americas are multiplied: the home of innumerable survivors of the original populations and descendants of enslaved Africans, of Spanish and Portuguese colonisers and of the many waves of immigration that occurred in the 20th century. Patria Grande, Nuestra América, Indo-América It is understood that the concept of Latin America was created in France in the 19th century as a complement to the idea of ‘Latinity’. This was in opposition to the persistent expansion of the United States towards the south of the continent.2 However, scholar Walter Mignolo argues that Latin America is the political project of the local creole3 and mestizo elites: « The idea of ‘Latin America’ was the sad way the creole elites found to celebrate their inclusion in modernity, when in fact they were becoming even


more entrenched in the colonial rationale. (…) The word ‘Latinity’ encompassed an ideology that incorporated the identity of former Spanish and Portuguese colonies into the new order of a modern/ colonial world, for both Europeans and Americans. »4 In the last half of the 19th century (and until recently), in South America and the Caribbean, Latinity came to identify an educated section of society that, as well as speaking Spanish or Portuguese, was also fluent in French and always looked to France culturally whilst ignoring the Iberian Peninsula. The idea of integrating Latin American peoples beyond national frontiers was also present in Venezuelan Simón Bolívar’s project, which was ultimately unsuccessful. Later, in the 19th and 20th centuries, the concept became more lyrical than practical: expressions such as Patria Grande and Nuestra America were complemented by the term Indo-America, created by Peruvian theorist Víctor Raúl Haya de la Torre, who revisited Bolívar’s concept of a united continental force against imperialism. Inmensa luna, cielo al revés... The physical configuration of Latin America is marked by its triangular and isthmic shape. An imposing mountain range, the Andes, straddles the continent from Venezuela’s Pacific Ocean all the way down to the Strait of Magellan, like a long wall extending toward the South. According to French historian Pierre Chaunu, this configuration contributed to the ‘Atlantic vocation’ of these nations and their ‘difficulty in becoming fulfilled as a whole’.5 As such, the elongated verticality accentuated the links with Europe and was one of the reasons behind the isolation of its countries. This same ‘Atlantic vocation’ played a key role in the way the continent was populated: large and prosperous coastal cities in contrast to almost deserted inland areas. Not even Brasília’s modernist enterprise – geographically distanced from everything and everyone – managed to solve this original problem. In turn, the Pacific coast, sandwiched by the Andes, experienced a different type of development. For a long time, Latin America sought in Europe its inverted mirror. We’ve Always Had Paris (or New York or Berlin...) During the colonial period, the splendour of the baroque expanded in the Viceroyalty of Mexico and Peru (and on a smaller scale, Guatemala, Ecuador and Brazil) boosted by Spain and Portugal. Artists and architects from Europe trained new local masters that ‘contaminated’ the European baroque with traces of local culture, creating a new baroque: an-other-baroque, which would come to define a heterogeneous historical-structural moment in the complex formation of the modern/colonial world.6 Following the expulsion of the Jesuits from the Spanish Empire in 1767, the Academy of San Carlos was founded in Mexico in 1781. In line with the European model of academies, its original name was Academy of the Three Noble Arts of San Carlos, emphasising architecture, painting and sculpture from New Spain. In Brazil, the Royal School of Sciences, Arts and Crafts – which was active between 1816 and 1822 and would later become the Imperial Academy of Fine Arts that operated until 1989 – was founded by a decree signed by the Portuguese King Dom João VI, under the auspices of the French Mission.7 At the time, the wealthiest Viceroyalties of the Hispanic Americas established art academies before the livestock-based strongholds of the south of the continent. 84—

As early as the 19th century, scholarship holders spent time in Paris or Rome, where they studied painting techniques that were used to produce their nations’ foundational paintings. Later, Latin-American modernists also enjoyed extensive periods of time in Paris. During their stay in the French capital, Mexican artist Diego Rivera and Brazilian painter Tarsila do Amaral were always surrounded by other Latin-American painters and artists, including Chilean Manuel Ortiz de Zárate and the Mexicans Gerardo Murillo and Roberto Montenegro. Rivera frequented the artistic milieu of Montmartre and Montparnasse, where he met Amedeo Modigliani, Piet Mondrian and Pablo Picasso. During his time in Paris, the painter also had contact with Russian immigrants, which explains his friendships with Leon Trotsky, Igor Stravinsky and Ilya Ehrenburg. Tarsila de Amaral’s studio, on Rue Hégésippe Moreau,8 was the meeting point for European and Latin America avant-gardes. It is believed that it was during these meetings that Tarsila and Oswald de Andrade got to know the concept of Indigenism that propelled the literary and pictorial production of many Latin American artists at the time.9 Movement toward France continued. In 1926, Uruguayan painter Joaquín Torres García moved to Paris, where he met Dutch artist Theo van Doesburg and members of the De Stijl movement, including Piet Mondrian. In 1929, in collaboration with these artists and Michel Seuphor, Torres García founded the group Cercle et Carré, which published a journal of the same name. According to his carte de séjour [French residency card], from 2nd February 1953 to 2nd February 1954, Argentinian Edgardo Antonio Vigo also lived in Paris as a scholarship student. In the French capital, Vigo met a group of intellectuals, musicians and artists led by Venezuelan artist Jesús Rafael Soto. In those years, Soto made a living as a guitar player in a Parisian cabaret where, in between performances, he discussed art and music with his colleagues: ‘the cafés in Paris, like universities, were real. We didn't have to attend the Grand Chaumière or the École des Beaux-Arts, or any of these places’.10 It was the era of dodecaphonic music, the Groupe de Recherche de Musique Concrète and Elektronische Musik, which Soto followed closely, aligning the concept of twelve-tone music with his plastic language. The Argentinians León Ferrari, Alberto Greco and Martha Boto; the Brazilians Cícero Dias, Arthur Luiz Piza, Lygia Clark; Cuban Wifredo Lam; Chilean Roberto Matta; Mexican Rufino Tamayo; Venezuelan Carlos Cruz-Diez and many others contributed to the construction of the unique image of the Latin American artist in Paris. To some extent, they also helped to establish a familiar landscape: Latin American artists were never in their homelands but always in Paris. However, a few years later, the French capital would no longer be the place where the intellectual classes converged. From the 1960s, artists started to move to New York City, where – as noted by art historian Serge Guilbault – the idea of modern art was stolen from Paris after the Second World War. 11 The combined efforts of the Brazilian Ministry of International Affairs and the Guggenheim and Rockefeller Foundations attracted to the United States artists such as Luis Camnitzer, Liliana Porter, Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Abdias Nascimento, and many others.12 However, historian Daniel Emilio Rojas points out the existence of a secular distinction between Brazil and the remaining Latin American nations as far as cultural movement is concerned: « Except for the journal Le Brésil13 and the painter Tarsila do Amaral, the split between Hispanic and


Portuguese Americas is still considerable and it would be a mistake to think that continental conviction would be enough to overcome it. The sporadic contact between Brazilians and Hispanic Americans has not been sufficient to conclude that there has been effective dialogue and interpenetration. »14 Throughout the years, this distinction became a tense yet productive relationship. Robert Patrick Newcomb argues that the relationship between Brazil and Hispanic America can be defined, on the one hand, by the strong projection of the idea of union – Nuestra / Our America –, and on the other hand, by the Brazilian affirmation of national singularity. While Hispanic American intellectuals, such as José Enrique Rodó and Alfonso Reyes, stressed the unity between Brazil and other Latin American countries, the Brazilian writers Joaquim Nabuco and Sérgio Buarque emphasised the peculiarities of their home country. Both cultural traditions still persist, often impregnated by false ideas, contradictions and misunderstandings.15 It was probably in the 1960s and 70s that Brazilian art identified more meaningfully with the rest of Latin America. Rubens Gerchman’s artwork A Nova Geografia / Homenagem a Torres García [New Geography/Homage to Torres García] (1971) reintroduces issues of Latin American identity to debates of the second half of the 20th century. The same can be said of Antonio Manuel’s installation Soy loco por ti [I’m Crazy for You] (1969) and several of Claudio Tozzi’s paintings that allude to the continent’s situation. Popular music also emphasises common roots,16 often combining Portuguese and Spanish.17 Somewhere between l'Extrême-Occident and the Global South Diplomat and scholar Alain Rouquié decided to give his book about Latin America the subtitle Introduction à l'Extrême-Occident [Introduction to the Far West] (1987). However, in the field of art history, art produced in Latin America is often referred to as ‘non-western art’. Western art (and the history of art) is a European invention. The exhibition Westkunst. Zeitgenössische Kunst seit 1939 [Western Art, Contemporary Art since 1939] shown in Cologne in 1981, proposed to bring together art produced after 1939 and claimed the existence of a ‘non-exhausted’ modernity during the Second World War. In this exhibition, curators Laszlo Glozer and Kasper König called upon the continuity of a universal modernity. Despite its interruption during the Nazi regime, such modernity flowered in North America in the hands of immigrating artists. According to German art historian Hans Belting, the exhibition represents the moment when European ‘suspended modernity’ was complemented by the participation of the United States, whose art production was consequently integrated into the Western art canon.18 Latin America’s late modernity (modernity with no modernisation), whose ideas were brought from Europe and the United States by returning artists or European modernists (such as Marinetti, through his travels across the American continent, and Blaise Cendrars, through his trip to Brazil), introduced an industrial-modern imaginary to countries that still relied on the extractive industry. The Bienal de São Paulo is another telling example of this, as for a long time it highlighted the art production of European countries. In 1984, however, the first Bienal de La Habana 85—

concentrated its research on artists from Latin America, including the Caribbean. Since its second edition in 1986, the focus has been expanded to artists from Africa, Asia and the Middle East. Its programme became a meeting point for ‘non-Western artists’. For the first time, the emphasis was on artists from the South, whose works present situations and conflicts that are common to these regions. We could argue that, after this biennial, the West began to look beyond its frontiers, toward what we understand today as the Global South.19 We should also mention here the proliferation of large-scale exhibitions – from Venice to Berlin – which opened the door to non-western art. Brazil is ¡Latin America! In his drawing-manifesto Mapa invertido [Inverted Map] (1943), Uruguayan artist Joaquín Torres García produced an atypical image of the American continent. According to Walter Mignolo, to represent an upside-down map of South America with the south placed at the top was a good start but not enough: the updated representation changes the place of enunciation, but the terms of the dialogue between south and north and the gaps generated by the loss of indigenous and Afro-American cartography still persist.20 In Mapa invertido, Brazil was included; whilst in Jaar’s A Logo for America – the artwork that launched this discussion –, the country was excluded, along with the rest of Latin America and the Caribbean. Even though for Spanish-speaking Latin Americans, Brazil has always been a part of Latinity, most Brazilians would disagree. The difference in language can be explained as a critical barrier, as well as a deliberate historical distancing from Latin American neighbours that began during the process of Brazilian independence in an effort to curb Republican aspirations. In 2018, young artist from Minas Gerais Randolpho Lamonier presented Profecias [Prophecies] in the exhibition MitoMotim [MythMutiny] hosted by Videobrasil. The artwork consists of a series of panels made of colourful fabric in the shape of banners that reveal ironic presages that oscillate between desire and utopic fantasy. In one of them, huge letters on a multi-coloured background with flowers, weapons, skulls, snakes, Umbanda necklaces and Christian symbols read: IN 2050 WE DISCOVERED: BRAZIL IS ¡LATIN AMERICA! Lamonier’s work is an ironic response to a debate that seems to have lasted centuries. Do we really need to wait until 2050 to achieve a long-overdue unity? Between questions, propositions and premonitions, the southern territory continues to drift: the cartography of a desire, a space of projection, margin, frontier and orientation. Maria Angélica Melendi is a researcher and lecturer at the PostGraduation Art Programme at Escola de Belas Artes (UFMG). She investigates the relationship between visual art, memory, violence and politics in Latin America. She is the author of Lorenzato (C/Arte, 2011) and Estratégias da arte em uma era de catástrofes (Cobogó, 2017), which was shortlisted for Prêmio Jabuti (2018); and organised Diálogos entre linguagens (C/Arte, 2009), amongst others. 1 CAICEDO, José María Torres Apud: ROJAS, Daniel Emilio. Los latinoamericanos de París en el cambio de siglo. Sobre Die Hauptstadt Lateinamerikas (2013), de Jens Streckert. In: Colombia International, Bogota, #6, 01/05/2016. Available: <http://dx.doi.org/10.7440/ colombiaint87.2016.10>. Last access: 12/02/2018. Excerpt from Caicedo’s discourse on 29th January 1879 at the launch of Union LatinoAméricaine, in Paris.


2 The expression ‘Latin America’ was used for the first time in 1856 by Chilean philosopher Francisco Bilbao. In the same year, Colombian author José María Torres Caicedo applied the expression. French Emperor Napoleon III also used it during the French invasion of Mexico. One of the first published works in France, perhaps even the first, to use the concept of Latin America was Annales Historiques de la révolution de l'Amérique latine by Argentinian diplomat Carlos Calvo, whose five volumes were published between 1864 and 1875. 3 In the Spanish colonies, the word creole (criollo) was used to describe Spanish descendants born in America (under the legislation at the time, they were not allowed to hold public office). On this topic see MIGNOLO, Walter. La idea de América Latina. La herida colonial y la opción decolonial. Barcelona: Gedisa, 2007, p. 83. 4 Ibidem, pp. 81, 82. 5 CHAUNU, Pierre Apud: ROUQUIÉ, Alain. América Latina. Introducción al extremo occidente. México: Siglo XXI editores, 1994, p. 43. 6 MIGNOLO, Walter. Op. cit., p. 90. 7 The French Mission is the term given to a group of French artists who disembarked from Rio de Janeiro in 1816. Some versions of the event describe that the Mission was a request from the King, while others argue that Mission members went to Brazil to offer their services to the Portuguese Crown on their own accord. 8 Paul Signac also had a studio on the same street. The space was later occupied by Jules Pascin and Hermine David. The painter, print maker and musician Louis Huvey also lived there. 9 ROJAS, Daniel Emilio. Op. cit. 10 Edgardo Antonio Vigo interviewed by the author in 1997. 11 GUILBAUT, Serge. Comment New York Vola l’idée d’art moderne? Expressionnisme abstrait, liberté et guerre froide. Nîmes: J. Chambon, 1998. 12 To learn more about the cultural exchanges and artistic residencies sponsored by cultural institutions of the United States to latin-american artists, and the role this practice played in the cultural cold war of the time, see the essay "North American Politics and Brazilian Art in the 1960s and 1970s", by Dária Jaremtchuk in Vanguarda brasileira nos anos 1960 (Pinacoteca de São Paulo, 2017) [E.N.] 13 The journal Le Brésil – Courrier de l’Amérique du Sud was published in Paris between 1881 and 1922 with an impressive circulation. 14 ROJAS, Daniel Emilio. Ibidem. 15 On this subject see NEWCOMB, Robert. Nossa and Nuestra América: Inter-American Dialogues. Indiana: Purdue University Press, 2012. 16 One example is the song Sangue latino [Latin Blood] (1973) by João Ricardo and Paulinho Mendonça, used as epigraph for this essay. 17 “Soy loco por ti, America” (1968), song by Gilberto Gil and José Carlos Capinan. 18 BELTING, Hans. O fim da história da arte. São Paulo: Cosac Naify, 1995, p. 59 e ss. 19 Global South are the southern regions of the globe that share a history of colonialism and neo-colonialism, whose social and economic structure is marked by high levels of inequality. 20 MIGNOLO, Walter. Op. cit.

Intertwined Modernity Brazilian Furniture in the 20th Century [pp. 70-77] The 20th century was a period of significant structural transformation in Brazil. An increasingly varied economic activity was combined with an ongoing process of urban expansion and diversification of the social fabric. In addition, a persistent search for more representativeness emerged from the often unstable and turbulent political landscape. These processes triggered an urgent desire for new ways of understanding and expressing reality within Brazilian cultural and intellectual production. As a result, the country embraced an active participation in the modernist project – which was also underway abroad –, giving way to an interesting strand of the movement, which lasted for almost the whole century. Brazilian design furniture also followed and absorbed the modernist language of the time, incorporating themes that were specific to the country, such as the search for a national identity that contrasted to old-fashioned styles and propositions, which were deemed too academic, artificial and non-representative of local realities. This set of elements was closely linked to other areas of cultural production. A 86—

weak design market and the lack of formal training in the sector meant that the pioneers of modern furniture in Brazil had to concomitantly pursue other activities, particularly in the fields of architecture and visual arts. It was only from the end of the 1920s and in the following decade that modern furniture began to emerge in a more consistent way in Brazil. The creations of John Graz, Gregori Warchavchik and Lasar Segall reveal a national production still attached to European influences such as French art deco and German Bauhaus. In the 1940s, we see the emergence of Joaquim Tenreiro, a Portuguese designer and artist who moved to Brazil at a young age. His work introduced some of the issues that would later become central to Brazilian modern furniture. Tenreiro sought the use of building materials that suited the local climate in response to heavy styles and upholstery trends that were then the prevailing taste. In his designs, thick velvet fabrics were replaced with the lightness of jacaranda wood and straw. This sense of lightness was confirmed by the formal aspect of his pieces, and it would become commonplace in the subsequent national production. Tenreiro used artisanal and semi-artisanal techniques in the fabrication of his furniture, which resulted in finely executed pieces that targeted wealthy consumers. Despite the non-mechanised nature of his work, the designer expressed the intention of incorporating industrial procedures to promote the popularisation of his products. However, this goal was never met. The industrialisation of furniture manufacturing in Brazil was only consistently implemented at the end of the 1950s, by designers such as Percival Lafer, Michel Arnoult and Geraldo de Barros. The foundation of Brasília, in 1960, reflected the national consolidation of a modernist language. The new decade also marked the pinnacle of Brazilian modern furniture, which began to encompass a multitude of individual and corporate propositions that catered for a considerably broader consumer base. However, from the 1970s, we see the exhaustion of modernist propositions – both in Brazil and abroad –, which were no longer considered fresh or relevant to the period. Culturally, this production continued to be perceived, in general terms, as an important legacy and as reference to the new generations. However, this was not extended to Brazilian modern furniture, which, after this period, went through a process of almost complete oblivion and began to be seen as simply out-dated. This period of ostracism was only reversed some time later, in the 1990s, with a movement of rediscovery of 20th century design influenced by a similar international trend. Surprisingly, that decade saw the emergence of a vigorous, diverse and high-quality production that, despite the technical limitations faced by national companies at the time, reached a rare degree of formal maturity. From then on, new layers of meaning were added to Brazilian modern furniture, which began to be seen not only as utilitarian objects but also as something invested with historical significance, incorporating aesthetical fruition and collectible value. Therefore, we see the emergence of a new consumer public: from a restricted group to an increasingly broader class of consumers. The renewed interest in modern furniture in the country, which now included the search for knowledge about its history and the study of its proponents, led to the rise of a strong market for its remaining original items, which began to be traded by specialist design galleries in many ways similar to galleries devoted to the art market. This encouraged the re-edition of its most emblematic pieces.


It is worth noting that this essay is considering only the so-called ‘official’ re-editions, that is, items manufactured with the authorisation and follow-up of the original designers, their representatives or the estates in charge of managing and preserving their work. ‘Unauthorised’ re-editions or replicas are surrounded by uncertainty and unpredictability that hinders, to a great extent, the optimal understanding of the conditions and circumstances in which they are made. Official re-editions are produced based on the original pieces’ design. If the original written design is not available – which is common – an original similar item is used as model. Even though re-editions – which are presumably faithful copies – and the original pieces share the same characteristics, there is also a dynamics of identification and differentiation – or approximation and distancing – between the two versions. This dynamics encompasses several different aspects, such as production processes, materials used, market circulation and distribution models and modes of appropriation by their users. The significance attributed to the concept of authenticity is a point of convergence between re-editions and original pieces. The idea of ‘authenticity’ is always fluid, posing a problem that is intrinsic to the definition of its scope and magnitude. Here, the idea of authenticity can be understood as the effort to adhere to the project’s original features or to replicate – as faithfully as possible – its original proposition. In the original pieces this effort was typically guaranteed by the personal intervention of the designer – who was often also the owner of the furniture company – and his or her interest in ensuring a faithful reproduction of their creations. In the re-editions, we see a similar process carried out by the designer (if still alive), their representatives and heirs or the estates responsible for the certification of the new editions. If the designer is absent, mediation and, therefore, complexity are added to the procedures that seek authenticity. In the process of re-editing an original piece, a common obstacle is the fact that it is almost impossible to obtain the same materials used originally. Most of the timber used at the time is currently in extinction or almost extinct, such as the case of jacaranda: the iconic wood of Brazilian furniture. Similarly, several industrialised products and components previously used have had their production discontinued or their manufacturing processes have been significantly modified. This is the case of the steel tubes that Lina Bo Bardi used in her Tripod Chair, or the hardwood boards widely used by both Bo Bardi and José Zanine Caldas in the 1950s. Re-editions are made with the most equivalent material that is available. A similar challenge is the reconstitution of original production processes, as most of them have become unfeasible due to technological and economic reasons or restrictions imposed by environmental laws. Consequently, the re-editions made in Brazil typically have limited numbers, which to a certain extent replicates the practice used at the time of their original making. From the start, modern furniture introduced not only a renewed concept of style but also the proposition of a new way of living. At that point, its utilitarian or functional character was paramount. Today, the remaining original items and their re-editions have incorporated their historical perspective without abandoning functionality as its key aspect. Even though current purchasing decisions involve an appreciation of relevant historical issues and the singularities of each designer, re-editions are mostly 87—

purchased because of their utilitarian attributes. Original pieces share a similar position: they are essentially seen as unique and historically valuable, but they are also practical. However, some of these items have gained a different purpose: they are seen as collectible objects. In Arcades Project (1982), German philosopher Walter Benjamin talks about the transition to a magic circle of items that have become part of a collection. Their acquisition frees them from the servitude of being useful. For modern furniture, this freedom is relative. The transition materialises a state of ambiguity: part functional item, part object of aesthetic fruition and contemplation. Jayme Vargas is an independent curator. He holds a History Degree from Universidade de São Paulo. For the last 20 years, he has researched Brazilian modern furniture, producing texts, lectures and exhibitions. He is the co-author of Desenho da utopia: mobiliário moderno brasileiro (Editora Olhares, 2016), with photographer Ruy Teixeira, and was responsible for the texts and curatorship. The book was the winner of the Design Prize awarded by Museu da Casa Brasileira (2017) and shortlisted for Prêmio Jabuti (2017) in the category ‘Architecture, Urbanism, Art and Photography’. He is also the author of Percival Lafer: design, indústria e mercado (Editora Olhares, 2018).


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SP—ARTE

SP—ARTE 2019

Direção geral Fernanda Feitosa

Comitê consultivo Akio Aoki (Vermelho) Burkhard Riemschneider (Neugerriemschneider) Daniel Roesler (Galeria Nara Roesler) Luciana Brito (Luciana Brito Galeria) Ulisses Cohn (Dan Galeria) Verusca Piazzesi (Galleria Continua)

Direção de produção Felipe Feitosa Planejamento e controle Leonardo Steil Sophia Haaland Arquitetura Micaela Vendrasco Tatiana Kuchar Design Felipe Chodin Alexandre Drobac Júlia Kaffka Comunicação e conteúdo Yasmin Abdalla Felipe Molitor

Projetos curados Masters Tiago Mesquita OpenSpace Cauê Alves Performance SP-Arte Marcos Gallon Solo Alexia Tala

Comunicação institucional e imprensa Florencia Azcune

Visitas guiadas Ana Beatriz Soares de Almeida Bianca Leite Ferreira Gustavo Colombini Isabella Lenzi Livia Debbané Paola Fabres

Marketing digital Caio Blanco

Foto Jéssica Mangaba

Relações institucionais e receptivo Marina Dias Teixeira

Vídeo Planal.to Daniela Lima

Coordenação editorial e conteúdo Barbara Mastrobuono Thierry Freitas

Relações internacionais Ines Coelho

traço —

Programação e produção Marina Bergamo

Editora Barbara Mastrobuono

Assistente geral Erika Okada

Projeto gráfico Felipe Chodin Alexandre Drobac

Apoio jurídico Olivieri Advogados Associados Assessoria de imprensa nacional A4 Comunicação Assessoria de imprensa internacional Rhiannon Pickles PR SP-Arte Eventos Culturais Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 900 – 7º andar 04531-003 São Paulo, SP sp-arte.com

Edição de texto Juliana Bitelli

Soy loco por ti, América [pp. 56-65] Fotos C, D Romulo Fialdini H Bruno Leão I Vicente de Mello J Victor Galvão Créditos das imagens A Cortesia Espólio Joaquín Torres-García e Cecilia de Torres LTD / Courtesy of the Estate of Joaquín Torres-García and Cecilia de Torres LTD. B Cortesia do artista e da Galeria Luisa Strina C, D Cortesia Cassia Bomeny Galeria E Cortesia da artista e do Instituto de Visión F © Nicolás García Uriburu, reprodução autorizada / Nicolás García Uriburu, reproduced by permission G Imagem licenciada pelo Instituto Rubens Gerchman H Cortesia da Mendes Wood DM, São Paulo, Bruxelas, Nova York / Copyright da artista I Cortesia do Acervo Ivens Machado J Cortesia do artista Modernidade entrelaçada [pp. 70-77] Fotos A, B Ruy Teixeira D Sergio Campos F, G, H, M, N Carol Quintanilha I, J Mariana Chama L André Nazareth Créditos das imagens B Acervo Museu Lasar Segall / Foto publicada em Desenho da utopia (Editora Olhares, 2017) C, D, E Cortesia Instituto John Graz F, G, H, I, J, M, N Cortesia Passado Composto K Cortesia Instituto Bardi / Casa de Vidro, São Paulo L Cortesia Editora Olhares / Imagem a ser publicada no livro José Zanine Caldas (Editora Olhares, 2019) Capa Lugar de escuta Graziela Kunsch e Daniel Guimarães, 2018-2019 Foto: Daniela Paoliello Agradecimentos Andrey Koens, Fábio Tremonte, Instituto John Graz, Lívia Benedetti, Marilia Borges, Marcela Vieira, Otávio Nazareth e Ruy Teixeira.

Revisão Thierry Freitas Tradução Adriana Francisco Outras imagens, outros gestos, outras formas de estar juntos [pp. 18-25] Fotos A, B Daniela Paoliello C Roberta Campos D Graziela Kunsch E, J Thelma Villas Boas G, H Ana Lira I, K Thais Rosa Créditos das imagens A, B, C, G Museu de Arte do Rio (MAR) F Desenho Daniel Guimarães Zanine, o projeto para o desfrute [pp. 26-33] Fotos A, B, C, D, F, G André Nazareth E, J Ruy Teixeira Créditos das imagens A, B, C, D, F, G Cortesia Editora Olhares / Imagens a serem publicadas no livro José Zanine Caldas (Editora Olhares, 2019) E, J Imagens cedidas por Ruy Teixeira, originalmente publicadas em Desenho da utopia (Editora Olhares, 2017) H, I, K Cortesia Arteedições Galeria

— entretraço — Inserção na traço — feita por Lais Myrrha, em ação de parceria entre SP-Arte e a plataforma aarea. Aarea Lívia Benedetti Marcela Vieira www.aarea.co Breve cronografia dos Desmanches Breve cronografia dos Desmanches começou em 2012, com publicação realizada por meio do apoio da Bolsa de estimulo à produção em Artes Visuais (2012), Funarte. A versão incluída na traço — é uma ampliação desta pesquisa. Os novos desmanches serão exibidos em sua íntegra na Bienal de Havana (2019), e contam com apoio da Usina de Arte. O trabalho também tem desdobramento no site aarea, com o nome Diário de Desmanches. Fotos Lais Myrrha [p. 51] Germano Dushá Agradecimentos Usina de Arte, nas pessoas de Ricardo Pessôa de Queiroz e Bruna Simões Pessôa de Queiroz.


CIP – Catalogação na Publicação Elaborada pela bibliotecária Gabriela Lopes (CRB7-6643)

978-85-67856-11-7

R454

Revista SP-Arte / 2019 / Moacir dos Anjos [et al.]; [Organização: Barbara Mastrobuono] – 1. ed. – São Paulo : Edição SP-Arte, 2019 92 p. : il. color. ; 20,8 x 27 cm.

ISBN 978-85-67856-11-7 15ª Festival Internacional de Arte de São Paulo, realizada no Pavilhão Ciccillio Matarazzo [Parque Ibirapuera], de 03 a 07 de abril de 2019.

1. Feira de Arte – Brasil. 2. Artes plásticas – Brasil. 3. Arte Brasileira. Ⅰ Anjos, Moacir dos. Ⅱ. Mastrobuono, Barbara. Ⅲ Feira Internacional de Arte de São Paulo.

CDD – 709.81

Impressão IPSIS Gráfica e Editora Tiragem 10.000 Capa Chambril Book 180g/m2 Miolo Munken Print Cream 80g/m2 Tipografia Circular e Noé

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