As aves em revista
REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES NÚMERO 61 | OUTONO/INVERNO 2020 | SEMESTRAL | GRATUITA
Pilrito-das-praias MENSAGEIRO DO ÁRTICO
DIRETORA:
Joana Domingues | FOTO DE CAPA: © Frank Vassen
P.17
Fotografia COMO TIRAR BOAS FOTOS SEM PERTURBAR AS AVES P.21
10 Dicas PARA ESCOLHER OS BINÓCULOS CERTOS P.10
Aeroporto. Crime ambiental. Efeitos da COVID19. Dê-nos força para enfrentar os desafios de 2021. Pague a quota com débito direto*, e nós tratamos do resto. * O débito direto é sempre feito com pré-aviso, podendo desistir a qualquer momento.
www.spea.pt
ÍNDICE
COVID-19
Em tempos difíceis, olhe para a natureza como uma aliada
04
16
Editorial
05
Breves
08
Descobertas Novidades do mundo da ciência
10
Dicas 10 dicas para escolher os binóculos certos
12
Biologia
© Imran Shah (CC BY-NC-ND 2.0)
27 Anos pela conservação da Natureza
Porque é que os animais marinhos vêm dar à costa?
14
CONSERVAÇÃO
Fique de olho nestas 11 aves exóticas
Europa
26
O que esperamos da Presidência Portuguesa da União Europeia
16
Covid-19 Em tempos difíceis, olhe para a natureza como uma aliada
17
Entrevista
Fotografia Como tirar boas fotos sem perturbar as aves
26
© Andrew Hardacre
21
© George Gentry
Pilrito-das-praias: Mensageiro do Ártico
AVES EM PERIGO
Apagar as luzes pelas aves marinhas
Conservação
32
Fique de olho nestas 11 aves exóticas
30
História(s) com aves A origem do termo «twitcher»
32
Aves em perigo Apagar as luzes pelas aves marinhas
Identificação de aves Pilritos – miríade de plumagens
36
A SPEA responde
37
Juvenis
© Diogo Oliveira
35
FOTOGRAFIA
Como tirar boas fotos sem perturbar as aves
21 n.º 61 pardela | 3
EDITORIAL
27 Anos pela conservação da Natureza Graça Lima Presidente da Direção Nacional da SPEA
27 years of nature conservation
FICHA TÉCNICA
PARDELA N.º 61 | OUTONO/INVERNO 2020 DIRETORA: Joana Domingues | joana.domingues@spea.pt COMISSÃO EDITORIAL: Joana Domingues, Mónica Costa, Rui Machado, Sonia Neves, Vanessa Oliveira PARTICIPAÇÃO REGULAR: Helder Costa FOTOGRAFIA DE CAPA: Pilrito-das-praias Calidris alba © Frank Vassen ILUSTRAÇÕES: Frederico Arruda e Mike Langman (rspb-images.com) PAGINAÇÃO E GRAFISMO: Frederico Arruda
A SPEA completa em 2020 vinte e sete anos de existência e, até hoje, o seu papel tem sido fundamental como organização que orienta o seu campo de ação para o estudo das aves e a sua conservação em Portugal.
IMPRESSÃO: Printipo – Global Printing Alto da Bela Vista, Est. Paço de Arcos, n.º 77, Pav. 20 2735-308 Cacém TIRAGEM: 1300 exemplares e digital
Reconhecida por isso mesmo, a SPEA não deixa, no entanto, de ser uma organização de causas, muitas delas fraturantes, que põem em causa a habitual inércia das instituições governamentais e os interesses vinculados a medidas agressivas de desenvolvimento de carácter privado ou semi-privado que não salvaguardam o interesse da causa pública. Nesse sentido, as aves e a luta pela conservação dos seus habitats são o veículo preferencial para criar regras em defesa do ambiente, na proteção de sistemas ricos em biodiversidade, na alteração de métodos de agricultura intensiva e a respectiva degradação de recursos, na recuperação do próprio tecido social afecto a uma forma de vida sustentável. Ser sócio da SPEA não é só ter um carinho especial por aves mas também entender a respiração do mundo. Inspire e... junte a sua inspiração à nossa.
In 2020, SPEA celebrates its 27th anniversary. Throughout these 27 years, SPEA has played an essential role as an institution focused on studying and protecting birds in Portugal. Recognised for this focus, SPEA is nevertheless an institution which has fought for causes - many of them contentious - questioning the usual inercia of government institutions and the vested interests of agressive private or semi-private endeavours which do not safeguard public interest. Birds and the fight to protect their habitats have been a driver to create rules to defend the environment, protect biodiversity-rich systems, move away from intensive agriculture and the attending resource degradation, and recover our social fabric through a sustainable way of life. To be a member of SPEA is not only to have a special affection for birds, but also to understand the world’s pulse. Join us, and let your heart beat in time with ours.
4 | pardela n.º 61
PERIODICIDADE: Semestral ISSN: 0873-1124 DEPÓSITO LEGAL: 189 332/02 REGISTO DE PUBLICAÇÃO PERIÓDICA: n.º 127 000 ESTATUTO EDITORIAL: Disponível em www.spea.pt/publicacoes/publicacao/revista-pardela Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da SPEA. A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação das mesmas, tendo os autores das fotos utilizadas nesta publicação tomado as precauções necessárias para a minimizar. A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações. PROPRIEDADE / EDITOR / REDAÇÃO: Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Pessoa coletiva n.º 503091707. Instituição de Utilidade Pública. CONTACTOS: Av. Columbano Bordalo Pinheiro, 87, 3.º Andar, 1070-062 Lisboa Tel. +351 213 220 430 | Fax. +351 213 220 439 spea@spea.pt | www.spea.pt
DIREÇÃO NACIONAL Presidente: Graça Lima Vice-presidente: Paulo Travassos Tesoureiro: Peter Penning Vogais: Alexandre Leitão e Martim Melo A SPEA é uma organização não governamental de ambiente, sem fins lucrativos, que tem como missão o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações vindouras. Faz parte da BirdLife International, organização internacional que atua em mais de 100 países. É instituição de utilidade pública e depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar a sua missão.
Esta publicação foi impressa em papel reciclado Oikos com certificação FSC, a marca da gestão florestal responsável.
Esta edição contou com o apoio publicitário de: Opticron e Turismo do Alentejo
BREVES
Um bom ano para as as calhandras-do-raso
AGENDA EM DESTAQUE VISITAS DE ESTUDO ORNITOLÓGICAS SPEA 2021 Canárias - Fuerteventura e Tenerife 28 de fevereiro a 7 de março
Estuário do Mondego 13 e 14 de março
Tejo Internacional 14 a 18 de abril
Madeira e Ilhas Desertas 2 a 6 de junho © Joana Bores
Na ilha de Santa Luzia, em Cabo Verde, as calhandras-do-raso estão a crescer a olhos vistos, graças à chuva que tem caído nos últimos meses. Este ano, já nasceram pelo menos 13 crias na ilha: um reforço considerável para uma espécie que em 2018 estava confinada ao Ilhéu Raso e um excelente sinal de que a população, que se translocou para Santa Luzia nesse ano, está a prosperar.
Juntamente com os nossos parceiros da Biosfera 1, em Cabo Verde, vamos continuar a acompanhar estes pequenotes que esperamos que ajudem a aumentar as chances de sobrevivência da espécie: se um desastre natural ou calamidade dizimar a população do ilhéu Raso, esperamos que a espécie continue a existir neste outro reduto. SAIBA MAIS EM
bit.ly/SPEAcalhandras
Novos binóculos com selo SPEA Pela primeira vez, lançamos uns binóculos SPEA. Produzidos pela Opticron, os novos binóculos com o selo SPEA vêm em duas ampliações (8x33 e 10x33), ambas dando imagens nítidas e luminosas e com um campo de visão alargado (para saber mais sobre o que estas características significam, veja as nossas dicas na página 10). Leves, compactos e ergonómicos, estes binóculos são confortáveis para observadores a partir dos 7 anos de idade.
Parque Natural da Serra da Estrela 10 a 13 de junho
Montesinho e Sanábria 8 a 11 de julho
EVENTOS E ATIVIDADES 2021 Sábados com Aves Área da Grande Lisboa | 6 de fevereiro, 6 de março, 10 de abril, 8 de maio
CENSOS DE AVES 2019/2020 Arenaria (censo de aves costeiras) Costa portuguesa | 1 dezembro a 31 janeiro Noctua (monitorização de aves noturnas) Portugal continental | 1 dezembro a 15 junho Contagens de Aves no Natal e no Ano Novo (CANAN) Portugal continental | 15 dezembro a 31 janeiro IV Atlas do Priolo S. Miguel, Açores | 28 de junho a 2 de julho
ENCOMENDE EM
www.spea.pt/novos-binoculos-com-selo-spea
n.º 61 pardela | 5
BREVES
Lagoa Pequena bate recorde
Política Agrícola Comum ignora ambiente
Em agosto, o Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena atingiu o número máximo de visitas mensais. Pela primeira vez foram ultrapassados os quatro dígitos, alcançando-se os 1063 visitantes!
Atividades SPEA com selo Clean & Safe
© LIFE Rupis
Queremos assegurar aos nossos participantes toda a segurança e higiene nas nossas atividades, por isso assinámos o protocolo Clean & Safe, que assegurou a formação dos nossos técnicos e um plano de contingência.
Em outubro, foi votada no Parlamento Europeu uma proposta para a Política Agrícola Comum (PAC) que, mais uma vez, ignorou os cidadãos, cientistas e ambientalistas, deitando por terra as aspirações da Comissão Europeia para uma PAC sustentável, que responda aos desafios do clima, da biodiversidade e da saúde pública. Numa época em que se fala tanto de ambiente, não se compreende que os eurodeputados queiram investir mais
de 400 mil milhões de euros dos contribuintes em políticas agrícolas sem contrapartidas ambientais. Seria importante zelar pelos interesses dos nossos agricultores, que produzem, com práticas ambientalmente corretas, alimentos saudáveis de variedades e raças autóctones, em áreas de Rede Natura 2000, que sustentam as pessoas e a natureza em muitos locais esquecidos pelas políticas.
SAIBA MAIS EM
bit.ly/CleanSafeSPEA
Levámos o Aeroporto do Montijo a tribunal Apagão no Corvo Todas as noites, de 26 a 30 de outubro, o Corvo apagou a iluminação pública. O objetivo foi proteger as aves marinhas, sensibilizar para a problemática da poluição luminosa e dar o exemplo a outros municípios da região. SAIBA MAIS EM
bit.ly/ApagaoCorvo 6 | pardela n.º 61
Juntamente com outras sete organizações não-governamentais de ambiente levámos o governo português a tribunal, de modo a impedir o avanço do projeto de construção do Aeroporto do Montijo. Com o apoio da ONG internacional de direito ambiental ClientEarth, apresentámos uma ação administrativa no Tribunal Administrativo do círculo de Lisboa para a anulação da Declaração de Impacto Ambiental favorável emitida
pela Agência Portuguesa do Ambiente. Na ação argumentamos que as autoridades portuguesas não ponderaram devidamente os impactos que o proposto Aeroporto do Montijo teria no Estuário do Tejo, uma área natural protegida a nível nacional e internacional, e nas populações envolventes. SAIBA MAIS EM
bit.ly/aeroporto-tribunal
BREVES
Inação do ICNF resulta em morte lenta de aves
© Joaquim Teodósio
Águias, garças e outras aves, incluindo espécies ameaçadas, passam horas em sofrimento e acabam por morrer, presas em redes autorizadas pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). As redes são usadas para impedir que as aves se alimentem dos peixes das aquaculturas, e os empresários do setor mostram-se dispostos a procurar soluções. Mas o ICNF tem ignorado o problema.
Imagens recolhidas pelos nossos técnicos, numa visita a aquaculturas no estuário do Mondego, ilustram de forma chocante o que continua a acontecer em vários pontos do país enquanto as autoridades nada fazem, num processo que se arrasta desde as primeiras reuniões sobre assunto, no início do ano.
O Parlamento Europeu votou para proibir o uso de munição de chumbo nas zonas húmidas em toda a União Europeia. Depois de aprovação final pelos Estados Membros, a UE pode finalmente remover o chumbo destas zonas; uma decisão que irá salvar milhares de aves selvagens de uma morte lenta e dolorosa e salvaguardar a saúde pública. No prazo de 24 meses, toda a munição usada em zonas húmidas não pode conter chumbo. Este metal pesado é usado há décadas em munições de caça e chumbos de pesca, apesar de ser cada vez mais abundante a informação sobre os terríveis impactos que tem nas pessoas, na vida selvagem e na natureza. SAIBA MAIS EM
www.spea.pt/ue-proibechumbo/
SAIBA MAIS EM
bit.ly/MorteLentaAquaculturas
Ilha Deserta de Faro mais limpa Em outubro, decorreu na ilha Deserta a primeira limpeza de praia do LIFE Ilhas Barreira. Em poucas horas, 36 voluntários apanharam 1973 itens de diferentes tipos de resíduos, num total de 631 kg. Desses destacaram-se garrafas e pedaços de plástico, tampas, cordas, redes/linhas de pesca e esferovite. Juntamente com os nossos parceiros neste projeto iremos continuar a trabalhar para preservar estas ilhas sem as quais a Ria Formosa não seria como a conhecemos.
Proibição de munições com chumbo nas zonas húmidas
Concurso Escolar: “Sou um Guardião da Natureza!” Se é professor, desafie os seus alunos do 3.º ao 9.º anos do ensino básico, a participar no concurso “Sou um Guardião da Natureza!”. O LIFE Nature Guardian procura os melhores cartazes e histórias, que ajudem a sensibilizar para o crime ambiental. Submissão dos trabalhos até 10 de abril de 2021. SAIBA MAIS EM
bit.ly/ConcursoGuardiao n.º 61 pardela | 7
DESCOBERTAS
CIÊNCIA
© Pierre Dalous
© Tânia Pipa
© Michael Harvey (rspb-images.com)
Sisão perde habitat
Ameaças às aves marinhas de Cabo Verde
Papagaio afugentador: solução económica e eficaz
O sisão (Tetrax tetrax) tem falta de habitat de qualidade, segundo um estudo para o qual contribuiu o nosso técnico Hugo Sampaio, e que constatou que as populações desta espécie sofreram declínios mais acentuados em zonas dominadas pela criação de gado bovino e com mais linhas elétricas. Estes resultados estão de acordo com outro estudo que sugere que, no Alentejo, a Rede Natura 2000 não confere a proteção que poderia, devido à fraca aplicação da legislação, aos incentivos insuficientes para garantir a cooperação dos agricultores e ao foco em medidas de curto prazo. Marques AT et al. 2020. Scientific Reports 10, 15150. DOI: 10.1038/s41598-02072154-9 Gameiro J et al. 2020. Biological Conservation 248, 108681. DOI: 10.1016/j. biocon.2020.108681
As principais ameaças às aves marinhas de Cabo Verde são os predadores introduzidos, a alteração ou destruição do habitat, e nalguns casos a perseguição humana. É esta a conclusão de um estudo que contou com a ajuda do nosso técnico Pedro Geraldes. Semedo G et al. 2020. Bird Conservation International. DOI: 10.1017/ S0959270920000428
Nova subespécie nas Canárias? O fura-bucho-do-atlântico (ou estapagado ou patagarro, Puffinus puffinus) das Canárias poderá ser uma subespécie à parte. É esta a conclusão de um estudo para o qual contribuíram os nossos técnicos Tânia Pipa, João Nunes, Carlos Silva e Pedro Geraldes. Rodriguez A et al. 2020. Journal of Avian Biology. DOI: 10.1111/jav.02633
8 | pardela n.º 61
Um grupo de investigadores portugueses, incluindo os nossos técnicos Ana Almeida e Nuno Oliveira, constataram que o palangre é a arte de pesca responsável pela captura acidental de mais aves marinhas na zona das Berlengas: estimaram que todos os anos mata 20 mil alcatrazes (Morus bassanus) nesta região. Mas num outro estudo, estes e outros investigadores da SPEA descobriram que existe uma medida económica e bem-aceite pelos pescadores que diminui a probabilidade de as aves ficarem presas nos anzóis e linhas: um “papagaio afugentador” que simula a presença de uma ave de rapina, e que as aves marinhas evitam. Calado JG et al. 2020. Ocean & Coastal Management 105306. DOI: 10.1016/j. ocecoaman.2020.105306 Oliveira N et al. 2020. Bird Conservation International. DOI: 10.1017/ S0959270920000489
DESCOBERTAS
CIÊNCIA
E ainda... Novo método ajuda a distinguir machos e fêmeas de gaivota Gheorghiu AR et al. 2020. Airo 27, 20-26 https://www.airospea.com/
Precisa-se resposta rápida para travar periquitos-de-colar na Madeira Rocha R et al. 2020. Management of Biological Invasions 11(3), 576–587. DOI: 10.3391/mbi.2020.11.3.15
© VJ Anderson
© Patrício Quesada
Pequenos mas tenazes
Predadores nos Açores
Dois estudos recentes mostram as capacidades impressionantes dos pequenos colibris (ou beija-flor). Para sobreviver às noites frias nos Andes, várias espécies de colibri conseguem baixar drasticamente a sua temperatura corporal, chegando a arrefecer 30 graus: uma das aves estudadas chegou a ter 3,3ºC de temperatura durante a noite. E pelo menos uma espécie (o “Rufous hummingbird”, Selasphorus rufus) consegue contar, e, quando confrontado com uma sequência de flores, lembrar-se de qual era a que tinha néctar.
Os predadores introduzidos são a principal causa de insucesso reprodutor para o pombo-dos-açores (Columba palumbus azorica) nas ilhas Terceira e do Pico, segundo um estudo recente. Em São Miguel, um outro estudo descobriu que o restauro ecológico, para além de beneficiar espécies autóctones ameaçadas, pode também ser benéfico para um destes predadores introduzidos: em zonas de floresta de Laurissilva restaurada, a abundância de rato-preto, e consequente predação de ninhos de aves nativas, aumentou.
Wolf BO, McKechnie AE et al. 2020. Biol. Lett. 16, 20200428 DOI: 10.1098/ rsbl.2020.0428
Santos SF et al. 2020. Journal for Nature Conservation 56, 125869 DOI: 10.1016/j. jnc.2020.125869
Vámos TIS et al. 2020. Proc. R. Soc. B. 287, 20201269 DOI: 10.1098/rspb.2020.1269
Aves urbanas cantaram melhor durante o confinamento Derryberry EC et al. 2020. Science DOI: 10.1126/science. abd5777
Estudo prova que os abutres ajudam a saúde pública Plaza PI et al. 2020 Ibis 162, 1109–1124. DOI: 10.1111/ ibi.12865
Incas: os primeiros humanos a implementar medidas de conservação Rodrigues, P & Micael J 2020 Ibis. DOI: 10.1111/ibi.12867
Borrelhos mais perturbados por cães do que por turistas Goméz-Serrano MA 2020. Ibis DOI: 10.1111/ibi.12879
Inteligência Artificial permite identificar aves individuais sem anilhar Ferreira AC et al. 2020. Methods in Ecology & Evolution 11 (9), 1072-1085. DOI: 10.1111/2041210X.13436
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DICAS
10 dicas para escolher os binóculos certos Com tantos tipos, tamanhos e especificações de binóculos no mercado, torna-se difícil saber qual escolher. Marta Leocádio, da loja SPEA, deixa-lhe 10 dicas para ajudar na decisão.
01
Estabeleça o orçamento e qual o uso que vai dar aos seus binóculos
Se souber quanto está realmente disposto a pagar pelos seus binóculos, isso irá ajudá-lo a identificar as opções disponíveis, para as poder comparar. É também importante ter presente a regularidade e o tipo de uso que vai dar aos binóculos. Vão ser um instrumento de trabalho diário, ou são para usar aos fins de semana? E vai querer observar apenas aves, ou também insetos e flores? Vai usá-los ao amanhecer e anoitecer? Com isto em mente, vai conseguir identificar as características mais relevantes e assim escolher o modelo mais adequado às suas necessidades.
02
Experimente os binóculos antes de comprar
Seja numa loja, numa feira ou evento, ou pedindo emprestados aos amigos, é fundamental experimentar vários binóculos antes de tomar a sua decisão. Pegue nos binóculos e observe os mesmos objetos com cada par: um objeto relativamente próximo de si, e um mais distante. Quando estiver a experimentá-los, analise a sensação de conforto na sua utilização, ao nível dos olhos/ visão, mas também se lhe permitem uma posição confortável, relaxada, e se são confortáveis às mãos. Outro aspeto muito importante é o peso: lembre-se que num cenário ideal vai passar várias horas com os binóculos ao pescoço!
03
Saiba o significado dos números nos seus binóculos
Há dois números que geralmente vêm indicados nos próprios binóculos, por exemplo 8x42. O primeiro número refere-se à ampliação (8x), e o segundo ao diâmetro da objetiva (42 mm). Quanto maior a ampliação, mais perto a ave parece. E quanto maior o diâmetro da objetiva, mais luz entra nos binóculos e por conseguinte maior nitidez tem a imagem e melhor se consegue ver em situações de lusco-fusco. Mas atenção: mais não é sempre melhor! Quanto maior for a objetiva, maiores e mais pesados serão os binóculos. Se ainda tiver dúvidas, veja o exemplo em baixo.
06 OLHO NÚ
10 | pardela n.º 61
AMPLIAÇÃO 8x
AMPLIAÇÃO 10x
AMPLIAÇÃO 12x
olhos) e as objetivas (as da outra ponta dos binóculos) estão alinhadas, e os prisma Porro, a configuração “clássica” em que as lentes oculares estão mais próximas uma da outra, e as objetivas mais afastadas. Estas configurações têm a ver com o posicionamento dos prismas que direcionam a luz no interior dos binóculos; nenhuma é inerentemente melhor que a outra, em termos de qualidade da imagem. No entanto, os binóculos Porro são geralmente mais baratos, mas são mais pesados e maiores, e por isso muitos utilizadores acham-nos menos confortáveis.
Acessórios úteis Um arnês permite-lhe ter os binóculos pendurados ao peito sem forçar o pescoço.
04
Tenha muito cuidado com a ampliação
Geralmente os binóculos têm ampliações entre 7 e 12, o que significa que permitem ver um objeto 7 a 12x maior do que ele é. No entanto, quanto maior a ampliação menor será o campo de visão, o que significa que mais facilmente pode deixar de ver a ave, e que qualquer ligeiro tremor das mãos pode fazer desfocar a imagem. Para a maior parte das situações convencionais de observação de aves, 8x ou 10x é perfeitamente adequado. Se estiver particularmente interessado em observar rapinas, aí sim é aconselhável optar por 10x ou mais, dado que em geral são avistadas mais longe. Acima de 12x, vale a pena pensar em investir em binóculos com estabilização de imagem.
05
Saiba a diferença entre o prisma Porro e o prisma Roof
Existem dois formatos de binóculos: os prisma Roof, em que as lentes oculares (encostadas aos nossos
Um monopé ou um tripé pode ajudar a estabilizar a imagem se precisar de binóculos com uma grande ampliação.
06
Invista em vidro e revestimentos de qualidade
O tipo de vidro utilizado para fabricar as lentes dos binóculos tem um grande impacto na qualidade da imagem. Os vidros FL (“Fluoride Glass”) e ED (“Extra-low dispersion”) garantem imagens mais luminosas e com cores mais reais. Existem também revestimentos para o vidro das lentes e prismas, que ajudam a obter imagens mais nítidas: procure a indicação PC (“Phase Correction”) junto ao nome dos binóculos.
07
procurar binóculos a partir de 13 mm de conforto ocular.
08
Prefira binóculos com proteção de oculares e objetivas
Porque os binóculos são sobretudo para andar no campo, onde há chuva e pó, convém que tenham algum grau de proteção. Assim, recomendamos binóculos com “tampas” de proteção tanto para as lentes oculares como para as objetivas, e se possível à prova de água. Contudo, fica um alerta: à prova de água não significa apto para mergulho!
09
Se possível, evite comprar os binóculos mais baratos
Todos gostamos de pagar o mínimo possível, mas a verdade é que a qualidade e o conforto também se pagam. Um investimento extra pode significar binóculos mais leves, lentes de melhor qualidade e com melhores acabamentos, e materiais mais resistentes que se refletem, por exemplo, em mais anos de garantia.
10
Lembre-se de estimar sempre os seus binóculos
Mantenha-os no estojo quando não estiver a usá-los, não os deixe ao sol, ou num local quente, como o carro, evite deixá-los cair e limpe-os com cuidado depois de os usar. Quanto mais estimar os seus binóculos, maior será o tempo de vida deles.
Vá às compras Não menospreze a importância do conforto ocular
Esta medida (eye relief em inglês) refere-se à distância máxima que deve separar o seu olho da lente ocular para poder observar toda a largura da imagem, sem o efeito de túnel. Quanto maior este número melhor será a sua experiência de utilização: o ideal será
Escolha os seus próximos binóculos na loja SPEA – descubra a nossa gama incluindo os novos binóculos com o selo SPEA (mais na página 5) em: https://bit.ly/SPEAloja
Autora | Marta Leocádio SPEA
n.º 61 pardela | 11
BIOLOGIA
Porque é que os animais marinhos vêm dar à costa? Os dados que recolhemos desde 2011 apontam para que derrames de petróleo, captura acidental em artes (apetrechos) de pesca e a ingestão ou interação com lixo marinho estejam entre as principais causas do arrojamento de aves no nosso país.
E
m Portugal continental, é relativamente frequente encontrarem-se arrojamentos: aves e outros animais marinhos que “deram à costa”, quer sozinhos quer em grupos, na sua maioria já sem vida. No entanto, as razões que levam a que tais eventos ocorram estão ainda pouco estudadas.
Alcatraz arrojado Elisabete Silva
12 | pardela n.º 61
Uma explicação possível é o mau tempo: com condições meteorológicas adversas é frequente muitos animais não resistirem, sendo encontrados arrojados nas praias. Contudo, existem também causas não-naturais, como derrames de petróleo, captura acidental em redes, anzóis ou outras artes de pesca, e a ingestão ou interação com
lixo marinho. Dependendo do estado em que o animal é encontrado, nem sempre é fácil aferir as causas de mortalidade. Desde 2011, que a SPEA tem procedido à recolha de dados de arrojamentos, de forma mais sistemática, em Peniche, o que tem permitido perceber um pouco melhor algumas razões que levam ao arrojamento de aves.
Aves mais afetadas
A torda-mergulheira, cuja população mundial está em declínio, foi a espécie que mais arrojou na costa portuguesa.
Torda-mergulheira © Mike Langman www.rspb-images.com
Entre 2011 e 2019, inicialmente com o projeto FAME, englobando uma cobertura nacional, passando pelo LIFE Berlengas e atualmente com o MedAves, com o foco mais em Peniche, os técnicos e voluntários da SPEA encontraram quase 500 aves arrojadas, nas 326 visitas costeiras que fizeram ao longo da costa portuguesa. Foram contabilizadas 43 espécies diferentes (474 aves marinhas, 2 aves limícolas e 18 aves terrestres). Foram ainda contabilizados outros animais marinhos tais como 15 cetáceos e 3 tartarugas. A torda-mergulheira (Alca torda), cuja população mundial está em declínio, foi a espécie que mais arrojou na costa portuguesa, mantendo a tendência já referida em estudos da década de 1990. Outra das espécies que mais vezes foram encontradas na nossa costa foi o alcatraz (ou ganso-patola, Morus bassanus), que já no âmbito do nosso projeto LIFE Berlengas verificámos ser capturado frequentemente durante a pesca em Portugal.
Ameaças O inverno foi a estação do ano com maior número de aves arrojadas, o que faz sentido dadas as condições adversas do mar. Na nossa análise, percebe-se que há mais arrojamentos nos dias a seguir ao mau tempo.
Também no inverno registámos alguns arrojamentos de elevado número de tordas-mergulheiras, em que alguns indivíduos apresentavam indícios de interação com redes de pesca. Infelizmente, é comum a utilização de redes de pesca ilegais (redes de superfície, de malha reduzida) e são vários os relatos que levam a crer que estas redes levam à morte de várias centenas de tordas-mergulheiras e airos, todos os anos. Esperamos que estes dados sirvam também para sensibilizar as entidades competentes e levar a uma maior fiscalização. Para além da interação com artes de pesca, nalguns casos identificámos uma outra causa antropogénica para os arrojamentos: a contaminação por hidrocarbonetos. Esta contaminação resulta geralmente de derrames de petróleo ou lavagem de tanques de combustível a bordo.
As interações com as artes de pesca afetaram sobretudo as espécies de torda-mergulheira, alcatraz, gaivota e cagarra, pela presença de restos de redes ou anzóis onde as aves se encontravam emaranhadas. Estes resultados apontam para a necessidade de implementação de medidas de minimização de capturas acidentais em artes de pesca como uma das prioridades de conservação, tal como tem vindo a ser feito com os projetos LIFE Berlengas e MedAves Pesca e uma monitorização sistemática destes episódios ao longo da faixa costeira. Uma das medidas que revelou alguma eficácia, foi o uso de um “papagaio” nos barcos de pesca. O movimento deste “papagaio”, que se encontra a esvoaçar sobre a embarcação, afasta as aves marinhas que dela se aproximam de uma forma segura para todos. As aves são excelentes indicadores do estado de saúde dos ecossistemas marinhos e podem servir como sistema de deteção precoce de alterações nas condições do oceano.
Número de aves marinhas vítimas de interações com artes de pesca
18
Dados importantes
Dados de 2011 e 2019 15
Autora | Elisabete Silva
12
SPEA
9
Encontrei um animal morto na praia. E agora?
6 3
Se vir uma ave ou animal marinho morto na praia, registe-o no nosso formulário online.
0
Tordamergulheira Alca Torda
Alcatraz Morus bassanus
Corvomarinho Phalacrocorax carbo
Cagarra Calonectris borealis
Gaivotade-patasamarelas
Gaivota-deasa-escura
bit.ly/arrojamentosSPEA
Larus fuscus
Larus michahellis
n.º 61 pardela | 13
EUROPA
O que esperamos da Presidência Portuguesa da União Europeia
P
ortugal vai presidir, pela 4ª vez, ao Conselho da União Europeia no primeiro semestre de 2021. Será uma boa oportunidade para liderar o rumo europeu por um futuro mais sustentável, mas o otimismo dilui-se quando olhamos para decisões recentes.
Neste mandato, será importante Portugal assumir uma liderança forte na proteção da biodiversidade, para bem do futuro do país e da Europa. Neste momento, o cenário é claro: vamos viver um agravamento dramático da crise ambiental e perda de biodiversidade. Ao contrário do que anunciava a Comissão Europeia com o seu Pacto Ecológico, ainda antes da pandemia, as políticas setoriais europeias parecem ir agora no sentido de
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agravar ainda mais o declínio de espécies e habitats, contribuindo para a degradação da nossa qualidade de vida e para um futuro cada vez mais insustentável.
veio também agravar o problema do plástico descartável: o seu consumo aumentou exponencialmente, quando o rumo era o de travar aquela que é a maior fonte de poluição marinha.
Basta ver o exemplo da Política Agrícola Comum, uma ferramenta que podia ser uma forte aliada para salvaguardar a proteção da natureza e da biodiversidade, mas cujas medidas acabam por ter um impacto negativo sobre a natureza, a saúde e a sociedade. O resultado é a perda de valores naturais e o agravamento de injustiças sociais. No setor das pescas, verifica-se também que prevalecem as vontades dos governos dos Estados Membros e continuam os subsídios prejudiciais que têm um profundo impacto nos ecossistemas. A pandemia
Face a estas pressões, a Presidência Portuguesa deve defender a relevância do país na proteção dos recursos naturais da Europa, refletindo a nossa grande riqueza de espécies e habitats. Deve proteger recursos como a água e o solo, uma vez que se prevê que Portugal seja dos primeiros países da Europa a sofrer diretamente com a escassez de água. E deve assumir-se como líder europeu na sustentabilidade dos oceanos, pela sua extensa Zona Económica Exclusiva, pelos seus recursos marinhos e pela sua forte ligação histórica ao mar.
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COVID-19
Em tempos difíceis, olhe para a natureza como uma aliada A pandemia veio mudar o nosso dia a dia, afetando sobretudo a nossa vertente social. Mas nem tudo tem de ser mau. Deixamos-lhe cinco ideias para usufruir da companhia da Natureza e relaxar, de uma forma segura.
01
Nestes últimos meses assistimos a uma explosão de iniciativas online. No nosso VIMEO e no canal de Youtube do Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza encontra alguns dos webinares que realizámos recentemente. Para acompanhar palestras em direto, esteja atento à nossa agenda. bit.ly/FestivalnoYoutube
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Faça passeios na natureza sozinho ou acompanhado por membros do seu agregado familiar, e observe com outros olhos o que o rodeia. Pode usar a aplicação BirdNet para o ajudar a identificar os cantos que ouve... mas primeiro tente adivinhar!
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Aproveite o tempo em casa para ver (ou rever) docu-
A natureza está sempre ao nosso alcance Ben Andrew (rspb-images.com)
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mentários sobre o mundo natural. Perca-se por uns minutos com o fascínio de Terra ou Birders - o Caminho das Aves, passe pelo O Nosso Planeta, ou usufrua da companhia única de David Attenborough em Uma Vida no Nosso Planeta. Estão disponíveis no Netflix Portugal, que pode experimentar gratuitamente por 30 dias.
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Faça um comedouro para ajudar as aves a ultrapassar o inverno, e usufrua de momentos “National Geographic” a partir da sua janela. Aproveite embalagens usadas, garrafas de plástico, cascas de laranja... ou até peças de loiça que já não use. Se precisar de instruções detalhadas, pode consultar o Guia de Educação Ambiental da SPEA, disponível no nosso site. bit.ly/guia-ed-ambiental-SPEA
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Pense nas pequenas mudanças que pode fazer nos seus hábitos de consumo. Tire tempo para ler rótulos e elimine da sua lista de compras produtos com óleo de palma, azeite de produção intensiva e microplásticos, por exemplo. Antes de comprar, pondere ainda outras opções, como reutilizar ou mesmo recusar produtos dos quais na verdade não necessita. A natureza pode ser, sem dúvida, uma forte aliada para ultrapassarmos estes tempos de incerteza. Tire o máximo partido dela. Autora | Joana Domingues SPEA
ENTREVISTA
Pilrito-das-praias: Mensageiro do Ártico
O pilrito-das-praias alimenta-se na orla da rebentação © Jean Jaqcques Boujot
“São icónicos, são símbolo das nossas praias, permitem-nos dar uma espreitadela no que se passa no Ártico, e permitem-nos sonhar com viagens incríveis.” Paulo Catry, investigador do MARE – Marine and Environmental Sciences Centre, ISPA – Instituto Universitário, Coordenador do Projeto Arenaria e autor do nosso Guia das Aves Comuns de Portugal, conta-nos porque tem um fascínio especial pelos pilritos-das-praias (Calidris alba).
Como é que se identifica um pilrito-das-praias? Na maior parte das nossas praias são relativamente inconfundíveis. São pequeninos, e correm muito depressa, sobretudo quando estão a alimentar-se na rebentação. Quando a onda se afasta eles vão atrás, a onda vem e eles fogem,
a onda vai e eles vão outra vez atrás, andam nesse vaivém... isto mais nas zonas de areia. Nas zonas de rocha, que eles também frequentam, esse padrão não é tão regular. Mas tendem a ser muito pequeninos e muito brancos, sobretudo de inverno. Têm bico e patas pretas, o bico não é muito comprido. Na minha opinião suspeita, são muito bonitos.
E veem-se facilmente no nosso país? O pilrito-das-praias é uma das espécies mais abundantes nas praias de Portugal, a par da rola-do-mar, de entre as que pelo menos durante uma parte do ano fazem todas as suas funções principais na praia. n.º 61 pardela | 17
Quer dizer que o pilrito-das-praias não está cá todo o ano? Não; esta é uma das aves do planeta que é, como eu costumo dizer, mais radicalmente do norte. Por exemplo, o Norte da Escandinávia já é muito a sul para eles: eles são mesmo do alto Ártico. Os pilritos-das-praias são mesmo polares, tratam os ursos-polares por tu, digamos assim. Nascem em fins de junho, início de julho, no norte da Gronelândia, ou na ilha Ellesmere ali ao lado, e passado dois meses ou menos, em finais de agosto, já cá estão a chegar: são animais absolutamente fabulosos. Alguns podem ficar cá e passar cá o inverno, mas muitos, muitos vão continuar por aí fora, pelas costas de África, e alguns vão incrivelmente chegar à África do Sul. 18 | pardela n.º 61
As alterações climáticas estão a ser muito mais acentuadas nas zonas árticas do que no resto do planeta...
algumas ideias sobre o que se passa nessa região tão importante do planeta, olhando para estas aves que vêm de lá.
O que é que podemos aprender com essas viagens épicas?
Em Portugal, há 10 anos que acompanhamos as aves das nossas praias no projeto Arenaria, que é um projeto de ciência-cidadã em que voluntários fazem contagens destas aves nas praias de todo o país, no inverno. Ao longo dos anos já centenas de pessoas se envolveram neste projeto. Este é daqueles projetos que só são possíveis graças aos voluntários que vão fazer as contagens, aliás como a maioria dos esquemas de monitorização de aves pelo mundo.
As alterações climáticas estão a ser muito mais acentuadas nas zonas árticas do que no resto do planeta... Mas não existe muita informação sobre o que se passa no alto Ártico; existem estudos a decorrer lá mas não são assim tantos, porque são regiões relativamente inacessíveis. Mas nós podemos aqui, à nossa porta, ter
Como é que se obtêm esses dados?
Em Portugal, há 10 anos que acompanhamos as aves das nossas praias no projeto Arenaria, que é um projeto de ciência-cidadã em que voluntários fazem contagens destas aves nas praias de todo o país, no inverno. Paulo Catry Investigador do MARE
Todos os anos, voluntários fazem contagens de aves ao longo da costa © Ana Almeida
Qual a situação destas aves em Portugal? Há um ano, quando se publicou o Relatório Estado das Aves em Portugal, o pilrito-das-praias parecia estar em declínio, mas entretanto já recolhemos mais um ano de dados, e neste momento a indicação é que poderão estar estáveis em Portugal. Neste momento, as tendências que temos indicam que existem quatro espécies que estão em decréscimo nas nossas praias durante o inverno: a rola-do-mar (Arenaria interpres), o borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus), o ostraceiro (Haematopus ostralegus) e o garajau-de-bico-preto (Thalasseus sandvicensis). Várias destas espécies não estão a diminuir de uma forma mais geral na Europa. Eu acho que
provavelmente um fator relevante nas nossas praias é que há uma tendência a haver cada vez mais perturbação humana: as pessoas vão cada vez mais à praia, e levam os seus cães a passear na praia...
Como é que a presença de cães nas praias afeta as aves? O problema é a perturbação frequente. Uma praia não é um habitat uniforme; existem sítios bons, onde elas encontram alimento, e sítios onde existe menos alimento. Nós podemos pensar “Ah, elas voaram, mas foram para ali para o fundo, está tudo bem”, mas se calhar o sítio para onde foram não é o sítio mais favorável. Para os nossos olhos pode ser tudo igual, mas aos olhos delas não. Se não houver
perturbação, elas tendem a estar frequentemente nos mesmos sítios; não andam de forma aleatória. Outra questão é que estas aves só se podem alimentar durante a maré-baixa, portanto já têm uma janela temporal relativamente estreita em que podem encontrar alimento. Se durante essa janela elas estiverem constantemente a ser perturbadas, se calhar não vão conseguir encontrar tanto alimento, porque não têm tempo. Além disso, andar a voar de um lado para o outro consome energia, o que implica que necessitem de comer mais...
Existem quatro espécies que estão em decréscimo nas nossas praias durante o inverno. n.º 61 pardela | 19
Rola-do-mar Faísca
Pilrito-das-praias
Borrelho-de-coleira-interrompida
Corine Bliek
E esse alimento vai ser muito importante, não é? Claro. Em primeiro lugar, porque elas precisam de sobreviver ao inverno. E depois quando chega a primavera, têm de comer mesmo muito. Elas chegam quase, quase a duplicar de peso antes de partir, porque vão fazer voos inacreditáveis – estas aves podem passar 4 ou 5 dias e noites a voar sem parar! Elas comem, comem, comem, partem por exemplo do Algarve, e são capazes de só parar na Islândia! Fazem estes voos de milhares de quilómetros num só salto. E depois chegam lá e têm de parar durante uns dias para comer, comer, comer, engordar muito, e depois dar outra vez um grande salto até por exemplo ao norte da Gronelândia. 20 | pardela n.º 61
Frank Vassen
Portanto se houver perturbações pelo caminho, os efeitos vão-se acumulando... Se as perturbações forem frequentes, tornam mais difícil o engordar o suficiente para conseguir chegar a tempo, porque depois a janela temporal no ártico é muito estreitinha: uma ave que se atrase 2 semanas relativamente ao início da primavera já não vai ter a possibilidade de se reproduzir. Aquilo é chegar e naquele espaço muito curto de poucos dias todas elas vão nidificar, para dar tempo à cria crescer. Em agosto, no alto ártico já está um tempo horrível, e têm de estar prontas a voltar para sul. Os pilritos que conseguiram criar antes de o inverno se abater sobre o
Ártico já estão nas nossas praias, bem como os voluntários que os contam. Se quiser juntar-se a eles, Paulo Catry deixa o convite: “é contactar o coordenador regional para a sua região. Mesmo que uma pessoa não tenha experiência, é uma coisa fácil de fazer e de aprender. São todos bem-vindos!”
Participe PROJETO ARENARIA - Contagens de aves em zonas costeiras 1 dezembro a 31 janeiro www.spea.pt/censos/arenaria
Entrevista por | Sonia Neves SPEA
FOTOGRAFIA
Como tirar boas fotos sem perturbar as aves Pedimos a quatro fotógrafos de natureza que nos contassem como conseguem as melhores fotos sem incomodar as aves. Aqui ficam as dicas que partilharam.
Conheça os seus modelos Não tem de ser biólogo, mas tudo o que puder aprender sobre os animais vai ajudá-lo a fotografá-los melhor, e sem incomodar os seus modelos. Ricardo Lourenço, cujo interesse é captar o comportamento dos animais selvagens, realça que estudar a situação com antecedência também lhe permite tomar decisões que aumentem a probabilidade de tirar “aquela foto”: “Normalmente eu quando vou fazer um trabalho, já tenho na cabeça a fotografia que quero. Por exemplo,
eu já sei que quero fazer uma fotografia do guarda-rios, em contra-luz, nas primeiras horas da manhã, e então tive que procurar no Google Earth ribeiras que estejam orientadas na direção do nascer do Sol nesta altura do ano, e onde haja pouca vegetação nas margens durante uns 50 metros, para que o guarda-rios use os poleiros que eu colocar sobre a água.” Se quiser fotografar em áreas protegidas ou onde haja espécies sensíveis, esta planificação inclui pedir autorizações ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Lem-
bre-se também que mesmo que vá fotografar uma espécie pouco sensível e fora de períodos críticos do seu ciclo de vida, pode haver outras espécies no local que sejam sensíveis à perturbação.
Passe despercebido Usar roupa discreta, ser silencioso, e não fazer movimentos bruscos podem parecer conselhos banais, mas no momento em que a ave aparece, após horas de espera, ou em que apanha uma presa, o entusiasmo pode resultar numa oportunidade perdida – e numa ave desnecessariamente perturbada.
Abrigo flutuante Ricardo Lourenço
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Para além destes cuidados essenciais, há equipamentos que podem ajudá-lo a tornar-se parte do cenário.
Abrigos Em sítios como a Lagoa Pequena, em Sesimbra, pode usufruir de abrigos inseridos na paisagem há anos. “Estes locais são amplamente tolerados pelas aves”, diz Luís Quinta, que divide o seu tempo entre fotografia e documentários de natureza. “Para quem não tem tempo, conhecimento, equipamentos, os esconderijos edificados por empresas [ou outras entidades] são a melhor opção para se fotografar aves de forma eficaz”, refere: “A pessoa paga por um serviço [no caso dos espaços com entradas pagas ou que aceitam donativos] e numa manhã faz um conjunto de imagens que, de outra forma, levariam semanas para conseguir”.
Em sítios como a Lagoa Pequena, em Sesimbra, pode usufruir de abrigos inseridos na paisagem há anos. O único senão, aponta Ricardo Lourenço, é que se perde alguma da originalidade ao fotografar no mesmo local que muitas outras pessoas. Para ter as vantagens de um abrigo sem perder margem criativa, pode investir num abrigo portátil: essencialmente, uma pequena tenda. Além de aconselharem a montar o abrigo num local pouco conspícuo, que não perturbe a ave, os profissionais referem que a montagem deve ser feita às horas a que as aves estão menos ativas, e relembram que é preciso dar tempo para que as aves se habituem à presença do abrigo. Aproveite os primeiros 30 a 40 minutos no abrigo para estudar o comportamento das aves, perceber os circuitos que fazem, os poleiros que usam, e como reagem a perturbações como a passagem de outras pessoas.
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E nos últimos anos, um desenvolvimento tecnológico em particular trouxe uma benesse considerável aos fotógrafos de natureza: o aparecimento das máquinas “mirrorless”. Com esta nova geração de aparelhos, o típico som da máquina a disparar passou a ser coisa do passado. “Acho que muitos fotógrafos já tiveram esta experiência com um estorninho: a gente vê o estorninho, a gente aponta a máquina, a gente foca, e depois quase que fecha os olhos para tirar a fotografia, porque a gente sabe que quando aquilo fizer o barulho, ele vai-se embora”, diz Diogo Oliveira imitando a careta de medo suscitada pela situação. “E realmente, poder fotografá-los sem que eles tenham essa reação, para mim foi... deu-me vontade de voltar a estar mais tempo no campo.”
Dê-lhes algo em troca Feito o trabalho de casa, montado o equipamento, resta esperar que as aves apareçam. Nalgumas situações, um pequeno incentivo pode ajudar.
Comedouros e bebedouros Tanto os comedouros como os bebedouros podem ser um reforço bem-vindo para as aves, e proporcionar verdadeiros “momentos Kodak”. Ao fotografar, esteja atento ao comportamento das aves Diogo Oliveira
Se estiver interessado em fotografar aves aquáticas, um “hydrohide”, ou abrigo flutuante, pode ser uma opção interessante. Estes abrigos cobrem a cabeça, ombros e tronco do fotógrafo enquanto caminha dentro de água. Diogo Oliveira, que para além de fotografar também dá workshops de fotografia de natureza, conta como usou um hydrohide para obter fotos bem próximas de uma garça: “Foram 20 minutos para fazer se calhar 2 ou 3 metros dentro de água, em que eu estava não só a tentar fotografar mas também a tentar perceber se ela estava a ter um
comportamento normal ou não. E depois estive se calhar mais 20 minutos à espera que ela se fosse embora, porque eu para sair tinha que passar por ali.” Em locais como a Lezíria do Tejo ou Doñana, fotografar a partir do carro pode ser uma boa opção, sugere Carla Cruz.
Máquina Uma boa máquina não faz uma boa foto, mas claro que há aspetos em que pode ser uma grande ajuda. Uma objetiva com uma grande distância focal permite-lhe captar detalhes sem ter de se aproximar tanto das aves, por exemplo.
Para que as aves mantenham os seus comportamentos naturais, e não fiquem dependentes desta nova fonte de alimento, Diogo Oliveira aconselha alguma aleatoriedade no abastecimento do comedouro. Em situações de uso prolongado, convém não deixar o bebedouro vazio numa altura crítica, lembra Ricardo Lourenço: “Se eu criar um bebedouro aqui no Alentejo, onde há zonas com muita falta de água, e depois deixar secar aquele ponto passado algum tempo, torna-se mais complicado para a ave procurar água: é diferente a ave começar a procurar em maio, quando num raio de 5 ou 10 km não há água, do que em agosto, em que pode ter que fazer 50 km para encontrar água.”
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Poleiros Para espécies como o guarda-rios, um poleiro colocado num sítio estratégico pode ser um convite irresistível. “A ideia é colocar um tronco num local em que eu veja que tem presas para ele, que tenha uma certa profundidade para ele conseguir capturar os peixes”, diz Diogo Oliveira.
Por vezes a perturbação torna-se demasiada pela insistência de uma ação. Com algum tempo e paciência, e um abrigo estrategicamente montado, esta estratégia pode permitir fotografias bem próximas, diz Ricardo Lourenço: “se eu quero fazer uma fotografia muito aproximada, vou começar a fazer fotografias primeiro a 20m do animal, depois vou começar a aproximar os poleiros à medida que ele se vai acostumando de dia para dia: vou aproximando o poleiro 2 metros, 2 metros, e se calhar passado duas semanas estou a fotografá-lo a 8 metros, e o animal até acaba a poisar em cima da objetiva”, sorri.
Antes de partilhar Por vezes, uma foto tirada com o máximo respeito pelos animais pode inadvertidamente incentivar a comportamentos indesejáveis. Uma fotografia de ovos ou crias num ninho que até estava num quintal em plena cidade, era de uma espécie muito tolerante e de um casal habituadíssimo à presença humana, pode levar uma pessoa menos conhecedora a tentar fazer o mesmo num bosque, com uma espécie mais sensível, que poderá até abandonar o ninho devido à perturbação. Da mesma forma, uma foto de uma ave a ser manuseada num centro de recuperação pode despertar a vontade de tocar em animais selvagens na natureza. Para evitar este tipo de repercussões, os fotógrafos com quem falámos foram unânimes: pense bem antes de partilhar uma foto, e sempre que partilhar fotos deste género deixe bem claro o contexto em que foram tiradas.
Saiba quando parar “Por vezes a perturbação torna-se demasiada pela insistência de uma ação,” diz Luís Quinta. “Tirar um par de fotos numa situação desconfortável para uma ave pode não ter grande significado, é um episódio que pode atrasar uns instantes na vida de uma ave. Insistir em tentar fazer melhores imagens, melhores poses, melhor luz, etc., estando a ave sempre em “desconforto”, aí a situação pode ter outros contornos.” Esse desconforto prolongado pode ter repercussões ainda mais graves no caso de aves migradoras pouco comuns. A chegada de uma ave que raramente se vê leva muitas vezes a verdadeiras migrações de observadores e fotógrafos ansiosos por “apanhá-la” antes que parta de volta aos seus destinos mais habituais. “É uma pressão muito grande, e pode comprometer a sobrevivência daquele indivíduo”, que já está a ter que se adaptar a um local diferente, com diferentes fontes de alimento e predadores, por exemplo, relembra Diogo Oliveira. O mesmo acontece com os ninhos. Ver um ninho quando se vai na estrada, encostar na berma (em segurança), tirar uma ou duas fotos para registo e seguir viagem não será problemático. Mas passar horas ali parado já poderá perturbar os progenitores, que estarão em alerta constante; já para não falar no impacto de ir para perto do ninho, sobretudo em zonas com pouca presença humana.
Procure situações que facilitem Quem fotografa a natureza nos tempos livres nem sempre pode dedicar semanas ou meses para obter uma foto, ou investir milhares de euros em equipamento. Nesses casos, a solução pode passar por uma mudança de perspetiva. Luís Quinta sugere “acompanhar uma sessão de anilhagem, visitar um centro de recuperação de aves, ou algo semelhante: locais onde as aves estejam próximas da objetiva.”
Com preparação e cuidado, podem-se captar momentos íntimos de algumas espécies Ricardo Lourenço
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Outra hipótese pode ser contactar equipas que estejam a trabalhar no terreno para estudar ou proteger determinada espécie, e pedir se pode acompanhá-las no trabalho de campo. Em muitos casos, verá que têm todo o gosto em guiá-lo, sobretudo se puderem ficar com umas boas fotos para divulgar o trabalho que fazem.
Lembre-se que não está sozinho Se está agora a iniciar-se na fotografia de aves, pondere a hipótese de participar em cursos e workshops, e se possível acompanhe outros fotógrafos mais experientes. Verá resultados nas suas fotos! Outra boa fonte de informação é o site da Associação Espanhola de Fotógrafos de Natureza (AEFONA), que além de tutoriais, dicas e recursos tem disponível o seu código de ética. MAIS INFORMAÇÃO
www.aefona.org
OS FOTÓGRAFOS
Ricardo Lourenço www.ricardolourencophotography. com
Luís Quinta facebook.com/ LuisQuintaPhotography instagram.com/ luisquinta65
Diogo Oliveira
Carla Cruz
www.dophotography.net
www.birdwatchingsagres.com/exposicao
Autora | Sonia Neves SPEA
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Periquito-rabijunco Frank Vassen
BIOLOGIA
Fique de olho nestas 11 aves exóticas Elas andam por aí e são preocupantes: o nosso técnico Hany Alonso descreveu à Wilder quais são as aves com carácter invasor que mais preocupam os conservacionistas.
Este artigo foi publicado originalmente na revista Wilder - rewilding your days www.wilder.pt
01
Bico-de-lacre (Estrilda astrild) Com origem na África subsaariana, o bico-de-lacre terá sido introduzido na natureza de forma acidental, fugido de cativeiro. Hany Alonso lembra que esta ave “ocorre em liberdade desde os anos 60, tendo-se expandido de forma notável por grande parte do território continental”. Foi também “introduzida nos arquipélagos da Madeira e Açores (São Miguel)”. “Prefere vegetação associada a zonas húmidas e pode ser encontrado em toda a faixa litoral e de forma mais abundante nos vales do Tejo, do Mondego e do Vouga”, descreve também.
Bico-de-lacre Juan Emilio
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Possíveis impactos? Compete com espécies autóctones por locais de nidificação e alimento e pode afetar culturas agrícolas.
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Mainato-de-crista (Acridotheres cristatellus)
Originário do Sudeste asiático, à semelhança de outras aves, o mainato-de-crista fugiu de cativeiro. Os primeiros registos já datam da década de 90, aponta Hany Alonso, que recorda que “durante algum tempo foi evidente a existência de dois núcleos populacionais, em Oeiras e Corroios”. “Neste momento a espécie estará em expansão, havendo registos regulares de bandos nos concelhos limítrofes (por exemplo, Alcochete, Lisboa, Setúbal) e observações regulares noutros pontos do país, como Bombarral e Benavente.” Pode ser observado mais facilmente no Forte de São Julião da Barra (Oeiras) e no Moinho de Maré de Corroios. Possíveis impactos? Competição com espécies autóctones por locais de nidificação, como é o caso dos estorninhos, e também por alimento.
Mainato-de-crista
03
Laitche
Ganso-do-egito (Alopochen aegyptiacus)
Tal como o bico-de-lacre, o ganso-do-Egipto é nativo da África subsaariana. Considera-se que a introdução na natureza foi acidental, fruto de fugas de cativeiro ou mesmo da dispersão natural em colecções privadas e parques zoológicos. “Em Portugal é uma espécie cuja expansão é muito recente e rápida. Não estava incluída no II Atlas das Aves Nidificantes, e agora existem registos de nidificação em mais de 50 quadrículas de 10 por 10km”, aponta o responsável da SPEA. “Nidifica em jardins e parques das grandes cidades, assim como em corpos de água do interior, sobretudo no Alentejo.”
Ganso-do-Egipto
Possíveis impactos: competição com espécies autóctones por locais de nidificação e alimento; comportamento agressivo.
Andreas Trepte
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04
Periquito-rabijunco ou periquito-de-colar (Psittacula krameri) Nativos da África subsaariana e Índia, estes periquitos também foram introduzidos fora dos países de origem por acidente, “por fugas de cativeiro ou de parques zoológicos”. Em Portugal, indica Hany Alonso, “há registos de indivíduos em liberdade desde o final dos anos 70”. “Em 2015, a população em Lisboa atingiu cerca de 650 indivíduos. Hoje está em expansão, com núcleos reprodutores e dormitórios nos concelhos limítrofes de Lisboa e em diversas cidades do país”, explica, lembrando que em Espanha o censo nacional contabilizou 3000 periquitos. Encontra-se em jardins e parques das grandes cidades (Lisboa, Porto, Coimbra) e também em pequenos núcleos (por exemplo, Caldas da Rainha, Funchal, Ponta Delgada) Possíveis impactos? Competição com espécies autóctones por locais de nidificação (e.g., morcegos, rapinas noturnas e pica-paus) e alimento (e.g., melro, toutinegras), mas também pode afetar culturas agrícolas e é um possível disseminador de doenças.
05
Periquito-rabijunco Martha de Jong-Lantink
Tecelão-de-cabeça-preta (Ploceus melanocephalus)
Nativo da África subsaariana, onde ocorre desde a Mauritânia e Sudão até à Zâmbia, a sul, esta é outra ave que terá sido introduzida na natureza em Portugal ao fugir de gaiolas. Em território português, “foi detectado nos anos 90 no estuário do Tejo e em Vilamoura (Loulé), foi desde cedo confirmada a sua reprodução”. “Associado a zonas húmidas e com nidificação colonial, tem estado algo limitada às áreas iniciais de colonização, como o estuário do Tejo e a zona central do Algarve, assim como no paúl da Tornada. Mais recentemente, tem sido registo regular na Barrinha de Esmoriz, Aveiro”, detalha o responsável da SPEA. Onde pode ser observado? Por exemplo na Barroca de Alva (estuário do Tejo), paúl da Tornada e Lagoa dos Salgados (centro do Algarve).
Tecelão-de-cabeça-preta Linda De Volder
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Possíveis impactos: Competição com espécies autóctones por locais de nidificação (por exemplo, rouxinol-grande-dos-caniços, rouxinol-pequeno-dos-caniços) e alimento; afetam a estrutura do ecossistema.
06
Arcebispo ou bispo-de-coroa-amarela (Euplectes afer) Nativo da África subsaariana, esta ave de penugem preta e amarela foi introduzida na natureza em Portugal de forma acidental, por fuga de cativeiro. Em Portugal, o bispo-de-coroa-amarela “foi detectado nos anos 80, no Algarve”, lembra o ornitólogo. “Distribuiu-se inicialmente de uma forma algo dispersa por zonas húmidas ao longo da faixa costeira, mas tem tido uma forte expansão nos últimos 20 anos, ocupando algumas das principais zonas húmidas do centro do país: estuários do Tejo e do Sado e ria de Aveiro.” Possíveis impactos: competição com espécies autóctones por locais de nidificação e alimento; afetam a estrutura do ecossistema.
Arcebispo Mike’s Birds
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Codorniz-japonesa (Coturnix japonica)
Como o nome indica, esta codorniz é proveniente da Ásia oriental. Mas ao contrário de muitas aves invasoras a introdução na natureza foi intencional, para uso em áreas de caça.
Codorniz-japonesa
Em Portugal a situação é “desconhecida” e desconhece-se exactamente onde é que ocorre, mas é uma espécie que pode colocar em risco a codorniz autóctone (Coturnix coturnix), com a qual hibrida, avisa Hany Alonso.
Juan Emilio
Outras aves que também preocupam Há outras quatro aves que já têm provocado problemas noutros países da Europa, e poderão fazer o mesmo em Portugal: a caturrita ou periquito-monge (Myiopsitta monachus), o peri-
quitão-de-cabeça-azul (Thectocercus acuticaudatus), o pato-de-rabo-alçado-americano (Oxyura jamaicensis) e a íbis-sagrada (Threskiornis aethiopicus). Agora é a sua vez. Observou alguma destas aves? Faça o registo para ajudar a descobrir por onde andam, no
portal eBird ou em BioDiversity4All. Se tiver uma fotografia, pode também enviar para o consultório “Que Espécie é Esta”, da Wilder, através do email geral@wilder.pt. Autora | Inês Sequeira
REVISTA WILDER
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HISTÓRIA(S) COM AVES
A origem do termo «twitcher»
O
termo «twitcher» provém do jargão ornitológico britânico e é uma daquelas palavras que não tem tradução directa para português. Basicamente, um «twitcher» é alguém que procura juntar o maior número possível de espécies de aves à sua lista vitalícia de uma determinada área geográfica. Para isso, está preparado a largar tudo e viajar para onde for preciso, se isso significar adicionar uma espécie que ainda lhe falte ver e que por acidente tenha aparecido na «sua região».
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Quem observa aves há algum tempo já ouviu decerto o termo «twitcher» aplicado para designar, muitas vezes de forma algo pejorativa, alguém que «coleciona» espécies de aves de forma quase obcecada.
Essa forma de encarar a observação de aves, embora hoje seja mais ou menos comum, é relativamente recente. Com efeito, até meados do século passado ir procurar uma ave acidental que alguém tivesse descoberto era uma coisa quase impensável para a maioria dos observadores dos países onde o passatempo era mais popular. As deslocações não eram fáceis e a informação demorava bastante tempo a fluir, pelo que, na maior parte das vezes, só se sabia da ocorrência de uma ave rara muito
tempo depois de esta ter sido avistada. Basicamente, quem quisesse ver raridades o melhor que tinha a fazer era encontrá-las sozinho. No Reino Unido, onde a observação de aves estava há muito enraizada, os poucos que se dedicavam a «caçar» as aves que apareciam fora da sua área normal de distribuição eram conhecidos como «pot-hunters» ou «tally-hunters». No início dos anos 1950 a designação refinou-se passando a aplicar-se «tick-
“Twitchers” em ação David Irving
-hunter» ou simplesmente «ticker», ambos os termos com conotações mais ou menos depreciativas, aos que procuravam apenas adicionar um «visto» na sua lista vitalícia de espécies observadas.
O termo «twitcher», que hoje se conhece, e que é de uso quase universal, só apareceu em meados da década de 1950. O termo «twitcher», que hoje se conhece, e que é de uso quase universal, só apareceu em meados da década de 1950 e foi cunhado por dois jovens observadores de aves britânicos de nomes John Izzard e Bob Emmett. Segundo consta, a designação terá sido inspirada no comportamento de um dos seus companheiros de aventuras ornitológicas, chamado Howard Medhurst. Foi o
próprio Bob Emmett quem, numa carta dirigida à revista British Birds publicada em 1983 no volume 76, explicou como tudo aconteceu. Nesses tempos, não existiam as facilidades de deslocação que hoje existem e por isso o pequeno grupo de amigos formado por John Izzard, a sua namorada, Bob Emmet e Howard Medhurst utilizava motas nas suas «expedições» ornitológicas pelo país. John Izzard e a namorada partilhavam uma Lambretta ao passo que Bob Emmet costumava levar Howard Medhurst como pendura na sua Matchless. Os tripulantes da Lambretta transportavam normalmente o seu cão encaixado entre eles e o calor do animal aquecia-os até chegarem ao destino. Os ocupantes da Matchless não tinham essa comodidade e passavam frio. Sempre que chegavam a um qualquer local, muitas vezes distante, Howard invariavelmente saltava da mota enregelado e treme-
licando tentava acender um cigarro. Na brincadeira, John Izzard e Bob Emmett começaram a imitar os seus gestos. Achavam tanta piada à coisa que esse comportamento acabou por se transformar numa espécie de ritual que invariavelmente praticavam quando saíam, pois associavam-no a boas observações. De facto, tornou-se tão normal que Bob e Jonh começaram a usar a palavra «twitch», que significa algo como tremelicar, sempre que iam em busca de uma qualquer raridade, dizendo que estavam num «twitch». Aos poucos, outros observadores de aves com quem privavam foram conhecendo a história e começaram também a usar o termo. Com o tempo, o seu uso generalizou-se e globalizou-se, mantendo-se até aos nossos dias. Autor | Helder Costa NOTA: Este autor não segue o acordo ortográfico
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Aves marinhas caem por terra, encandeadas pelas luzes artificiais. Cátia Gouveia
AVES EM PERIGO
Apagar as luzes pelas aves marinhas Desde tempos imemoriais que a iluminação fez o ser humano sentir-se seguro e protegido, e nos tempos que correm ligar a luz tornou-se um gesto rotineiro. No entanto, o excesso de luz artificial trouxe efeitos negativos para a biodiversidade e também para nós, humanos.
A
s importantes colónias de aves marinhas que nidificam na Macaronésia (arquipélagos dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde), por exemplo, são drasticamente afetadas pela poluição luminosa. Os seus olhos sensíveis são atingidos pela luz direta de candeeiros, projetores e outras fontes de luz po-
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tentes e mal direcionadas, cujo efeito nefasto é ampliado ao longo de quilómetros pelo brilho refletido nas nuvens. Os juvenis inexperientes, ao saírem pela primeira vez do seu ninho, são encandeados pelas luzes dos centros urbanos e acabam por cair por terra. Alguns morrem com o impacto, e os que sobrevivem tornam-se uma
presa fácil para cães e gatos ou, simplesmente, não conseguem levantar voo e regressar ao mar. Numa ajuda imediata a estas ocorrências, todos os anos centenas de voluntários patrulham a costa das ilhas da Madeira, Açores e Canárias, tentando resgatar juvenis de cagarra
(Calonectris borealis), mas também de espécies mais pequenas (e muito mais ameaçadas), como o frulho (Puffinus lherminieri, conhecido por pintainho na Madeira), a pardela-do-atlântico (ou fura-bucho-do-atlântico, Puffinus puffinus, conhecido como estapagado nos Açores e patagarro na Madeira), painhos e freiras. Estas aves dependem das ilhas macaronésicas para se reproduzirem com sucesso e a ajuda destes voluntários tem sido crucial para ajudar a salvá-las.
projeto LuMinAves permitiu trabalhar de uma forma integrada para aumentar a rede de recolha e salvamento de aves e sobretudo reduzir a ameaça que é a poluição luminosa.
Conhecer, proteger e salvar as aves marinhas
Estas aves dependem das ilhas macaronésicas para se reproduzirem com sucesso.
Quando o LuMinAves começou, em 2017, a informação sobre as aves marinhas nas ilhas macaronésicas era muito reduzida. Nos Açores, os últimos censos datavam do final dos anos 90. Na Madeira, faltavam dados de distribuição e abundância das várias espécies. E nas Canárias, muitas colónias e índices reprodutores eram ainda desconhecidos.
A SPEA trabalha há mais de 15 anos pela conservação das aves marinhas nos Açores e na Madeira. Além do restauro de habitats, controlo de espécies invasoras e aumento do conhecimento sobre a ecologia das várias espécies nidificantes, temos contribuído para a redução do impacte da poluição luminosa. Ao longo dos últimos 4 anos, o
Com este projeto, pudemos canalizar esforços para estudar a ecologia reprodutiva de uma dezena de espécies, e identificar novas colónias de cagarra, alma-negra (Bulweria bulwerii) e roque-de-castro (Hydrobates castro, conhecido como painho-da-madeira nos Açores). Monitorizámos perto de 1300 ninhos de várias espécies e ani-
lhámos mais de 1000 crias antes do seu primeiro voo. Obtivemos ainda dados importantes sobre ameaças como a predação de ovos e juvenis por ratos e murganhos, e até a caça ilegal de juvenis na Madeira; algo que pensávamos ser coisa do passado! Reforçámos as campanhas de salvamento de aves, e sensibilizámos tanto as populações locais como os visitantes sobre como proceder ao deparar-se com uma ave encadeada. As pessoas responderam com entusiasmo, aderindo cada vez mais às campanhas de salvamento de aves e contribuindo para o sucesso do projeto, salvando milhares de aves todos os anos. Graças a este projeto pudemos também partilhar experiências entre arquipélagos, produzir material informativo e criar brigadas científicas que permitiram, de uma forma mais rigorosa, caracterizar o impacto da luz nas aves e estudar dados de mais de 20 anos de campanhas, identificando áreas críticas onde deverá ser prioritária a alteração da iluminação.
No LuMinAves estudámos e protegemos as aves marinhas Tânia Pipa
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Todos os anos, dezenas de voluntários ajudam cagarras a regressar ao mar Andreia Amaral
No projeto LuMinAves desenvolvemos ainda uma Estratégia Macaronésica para a Poluição Luminosa. Apagar para salvar! Mas como podemos evitar que continuem a “cair” aves marinhas? A solução passa, necessariamente, por reduzir a poluição luminosa. Pode parecer tão simples como desligar a luz, mas na realidade é um pouco mais difícil… São várias as entidades envolvidas, são muitas as opções de iluminação, e é preciso haver vontade política. São ainda necessárias muitas alterações para reduzirmos a poluição luminosa nas ilhas da Macaronésia, no entanto assistimos a várias iniciativas que mostram estarmos no bom caminho. Na Madeira, dois municípios elaboraram planos diretores para regulamentar a iluminação pública e outros três assumiram o compromisso de reduzir as fontes de luz durante a época em que os juvenis saem 34 | pardela n.º 61
A próxima geração está pronta para salvar as aves Tânia Pipa
dos ninhos. Na ilha do Corvo, graças ao apoio da Câmara Municipal, este ano, durante uma semana, apagaram-se as luzes todas as noites para que as cagarras pudessem voar em direção ao mar sem serem “desviadas” pela iluminação. Resultado: menos cagarras foram encontradas desorientadas. Iniciativas como estas estão a catalisar a mudança. No projeto LuMinAves desenvolvemos ainda uma Estratégia Macaronésica para a Poluição Luminosa, cuja implementação esperamos que continue a contribuir com soluções que ajudem a mitigar este pro-
blema. Há ainda um longo caminho a percorrer, mas esperamos que, a cada ano que passa, menos aves tenham de ser salvas. Autoras | Cátia Gouveia & Azucena de la Cruz SPEA
LuMinAves Coordenado pela SEO/BirdLife Canárias, o projeto LuMinAves foi financiado pelo programa INTERREG da União Europeia. www.luminaves.com
IDENTIFICAÇÃO DE AVES
Pilritos – miríade de plumagens Ao passear pela praia já se deve ter cruzado com as aves que correm à beira-mar, num vaivém frenético. Em busca de alimento, muitos pilritos aproveitam para se alimentar dos pequenos bivalves que se escondem na areia. Os pilritos constituem um autêntico desafio de identificação, pela mudança de plumagens entre estações e durante o ciclo de vida. Em Portugal, vemo-los durante quase todo o ano: sendo espécies invernantes, muitas começam a chegar em julho, ainda com a plumagem de transição.
Pilrito-de-bico-comprido Calidris ferruginea
Pilrito-de-bico-comprido © Mike Langman (rspb-images.com)
Cabeça cinzenta com lista branca sobre o olho bem definida Bico comprido e curvado Patas compridas, o que torna a ave mais alta
Pilrito-pequeno © Mike Langman (rspb-images.com)
Partes superiores cinzentas com tons malhados
Observado entre julho e outubro Observa-se em plumagem de transição e de inverno, dos tons ferrugíneo para o branco
Mais pequeno
Ocorre em estuários e zonas húmidas costeiras, mais raramente também no interior
No inverno apresenta plumagem mais pálida que as outras espécies
Pilrito-pequeno Calidris minuta Ocorre em maior número entre agosto e maio A plumagem de inverno é a mais frequente Existe tanto na costa como nas zonas húmidas de interior
Pilrito-das-praias Calidris alba
Pilrito-das-praias © Mike Langman (rspb-images.com)
Cabeça cinzenta com parte da frente branca
Mais comum na plumagem de inverno Aparece em meados de julho e começa a diminuir em março
Maior e mais rechonchudo
Bico grosso
Ausência de polegar
Comum ao longo de toda a costa, nas praias e em zonas húmidas costeiras
Pilrito-de-peito-preto Calidris alpina Aparece em meados de julho e ocorre até ao início da primavera
Pilrito-de-peito-preto © Mike Langman (rspb-images.com)
É o único pilrito que tem barriga preta na plumagem de transição/verão Existe tanto na costa como nas zonas húmidas de interior
Dorso cinzento uniforme
(plumagem inverno) Autores | Mónica Costa e Rui Machado SPEA
Cabeça cinzenta lisa, sobrancelha indefinida e difusa Bico preto, comprido e curvo
(mais curto que pilrito-de-bico-comprido)
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A Spea responde Autora | Vanessa Oliveira SPEA
Gostava de fazer voluntariado na SPEA. Em que atividades posso participar?
Uma hipótese é contribuir para um dos censos de aves que dinamizamos. Se for um observador de aves mais experiente, pode participar em censos que são realizados em autonomia, como o Censo de Aves Comuns. Para os menos experientes, projetos como os Dias RAM (contagens de aves marinhas), em que há um observador responsável mais experiente, ou o Noc-
Somos contactados regularmente sobre oportunidades de voluntariado, mas também de estágios. Desde contar aves a ajudar a protegê-las, há muitas formas de ajudar.
tua (censo de aves nocturnas), em que o elenco de espécies é relativamente fácil de aprender, ou o Atlas do Priolo, em S. Miguel, dirigido a uma única espécie endémica, de 4 em 4 anos, podem ser boas oportunidades. Há outras ações em que se pode juntar à equipa da SPEA: nos trabalhos de conservação, no apoio a atividades para o público ou nos nossos centros ambientais. Pontualmente, organizamos ações de voluntariado para grupos, para o público ou com empresas ou outras entidades. No nosso site encontra sempre informação atualizada sobre as oportunidades abertas.
É possível fazer o meu estágio ou tese de mestrado na SPEA? E o meu amigo que vive em Espanha? Sim, principalmente nas áreas da Biologia e afins, e todos os anos divulgamos os principais temas científicos disponíveis para estágios ou teses de mestrado (ou de outros níveis de ensino), para alunos de todos os países.
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As oportunidades de estágios profissionalizantes (com bolsa Erasmus
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ou equivalente), dependerão das possibilidades de acolhimento no âmbito dos vários projetos da SPEA no período pretendido. Temos ainda projetos de voluntariado de longa duração, ao abrigo do Corpo Europeu de Solidariedade, estando previstas as próximas candidaturas para julho/agosto 2021.
INFORMAÇÕES CENSOS DE AVES
www.spea.pt/o-que-fazemos/censos OPORTUNIDADES DE VOLUNTARIADO ATUAIS
www.spea.pt/como-ajudar/voluntariado CONTACTO
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VANESSA OLIVEIRA
vanessa.oliveira@spea.pt
Pássaro-Tempo 1
Esta é a gaivota-de-audouin, uma gaivota que apenas nos visita na primavera, para fazer os ninhos. A única colónia que existe em Portugal encontra-se na Ria Formosa, e por isso estamos a protegê-la no projeto LIFE Ilhas Barreira. Apesar de ser quase toda branquinha, desafiamos-te a dar asas à tua imaginação e pintares a imagem abaixo. Por Mónica Costa (texto) e Frederico Arruda (ilustração)
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Pássaro-Tempo 2
Este inverno, ofereça um pouco de energia extra às aves das redondezas, fazendo este comedouro inspirado no Natal. Por Sonia Neves (texto) e Frederico Arruda (ilustração)
Vais precisar de: Cordel
Pinha
1 Começa por atar um pedaço de cordel ao topo da pinha.
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Agarra no topo e na base da pinha e mergulha-a numa taça com sementes.
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Faca
Manteiga de amendoim
2 Depois dá 2 nós de maneira a juntares as pontas do cordel, formando uma argola.
Taça
Sementes
3 Com uma faca barra a manteiga de amendoim na pinha de maneira a ficar bem coberta.
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Vai rodando a pinha até a manteiga de amendoim ficar coberta de sementes.
Agora é só pendurares o teu comedouro num sítio onde possas observar as aves.
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