:DIRETORA DominguesJoana | :CAPADEFOTO WinfieldColby© As aves em revista NÚMERO 64 | PRIMAVERA/VERÃO 2022 | SEMESTRAL | GRATUITA Lagoa Pequena ESTÂNCIA DE FÉRIAS PARA AVES BycatchP.16 CAPTURAS ACIDENTAIS NA PESCA – PERIGOS SUBMERSOS SucessosP.21 GANHÁMOS O PRÉMIO NATURA 2000 P.34 REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES
Mas com a sua ajuda, podemos evitá-lo. Faça um donativo e ajude-nos a implementar medidas que reduzem a captura acidental de aves na pesca. Todos os anos, 200.000 aves marinhas morrem presas em artes de pesca nas águas europeias. www.stopbycatch.spea.pt
SAIBA COMO AJUDAR
EM
n.º 64 pardela | 3 PARDELA-BALEAR A ave marinha mais ameaçada da Europa DescobertasBrevesEditorial Novidades do mundo da ciência Estreito de Gibraltar Ex-libris da migração Pardela-balear A ave marinha mais ameaçada da Europa Biodiversidade Relvados e biodiversidade Lagoa Pequena Estância de férias para aves Bycatch Capturas acidentais na pesca - perigos submersos Birdwatching Porque cantam as aves? Origens Dinossauros entre nós Açores Nove relíquias de natureza no Atlântico História(s) com aves Guias de campo, uma (muito) breve história Sucessos Ganhámos o Prémio Natura 2000 Identificação de aves Andorinhas A SPEA Juvenisresponde08040510121416212426303234353637 ÍNDICE 2612ESTREITO DE GIBRALTAR Ex-libris da migração 10BirdlifeSEO|ArcosPep©©FernandoParedesMurillo©AdamMathieu ORIGENS Dinossauros entre nós 24BIRDWATCHING Porque cantam as aves?
FOTOGRAFIA DE CAPA: Garça-real-americana Ardea herodias © Colby Winfield
E salientamos o poder de trabalhar com as comunidades, exemplifica do pelo nosso trabalho com pescadores, para evitar que as aves marinhas sejam capturadas acidentalmente (pág. 34).
IMPRESSÃO: Grafisol - Rua das Maçarocas - Abrunheira Business Center nº03, Abrunheira 2710-056 Sintra
CONTACTOS: Av. Columbano Bordalo Pinheiro, 87, 3.º Andar, 1070-062 Lisboa Tel. +351 213 220 430 | Fax. +351 213 220 439 spea@spea.pt | www.spea.pt DIREÇÃO NACIONAL
Este é um ponto fulcral da nossa visão para a SPEA: as ideias, em prol da conservação, observação e entendimento científico da natureza, po dem mudar o mundo para melhor, se lutarmos por elas. Contamos com o apoio de todos nesta luta.
Presidente: Graça Lima Vice-presidente: Paulo Travassos Tesoureiro: Peter Penning Vogais: Alexandre Leitão e Martim Melo A SPEA é uma organização não governamental de ambiente, sem fins lucrativos, que tem como missão o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações vindouras. Faz parte da BirdLife International, organização internacional que atua em mais de 100 países. É instituição de utilidade pública e depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar a sua missão.
EDITORIAL No que concerne ao mundo das aves, o seu registo fóssil manteve-se relativamente escasso, contribuindo para várias teses sobre a evolução e a sua história genealógica. A constatação de que muitos dinossauros teriam penas parecia, há uns anos, uma noção radical, tão profundo era o seu efeito no nosso imaginário coletivo. Atualmente, não subsiste qual quer dúvida sobre a descendência das aves de um ramo de dinossau ros, prevalecendo a investigação pela metodologia clássica de anatomia comparada, o que alterou como, hoje, vemos as aves (pág. 26). Nesta edição da Pardela, celebramos o poder dessas ideias transformadoras.
Lembramos como, há dez anos, a ideia de tornar a Lagoa Pequena não só numa área protegida, mas num espaço de visitação por excelência criou aquele que é hoje um ex-libris da observação de aves (pág. 16).
And we highlight the value of working with communities, exemplified in our work with fishermen to prevent seabirds from getting accidentally caught in fishing gear (page 34).
PARTICIPAÇÃO REGULAR: Helder Costa
The power of ideas
PAGINAÇÃO E GRAFISMO: Frederico Arruda
4 | pardela n.º 64
We recall how, 10 years ago, the idea of making Lagoa Pequena not just a protected area but an excellent visitor-welcoming space, created what is now a landmark of birdwatching in Portugal (page 16).
Esta publicação foi impressa em papel reciclado Oikos com certificação FSC, a marca da gestão florestal responsável.
Esta edição contou com o apoio publicitário de: Opticron
DA DIREÇÃO NACIONAL DA SPEA
FICHA TÉCNICA PARDELA N.º 64 | PRIMAVERA/VERÃO 2022
ILUSTRAÇÕES: Emily Willoughby, Frederico Arruda, Juan Varela e Martí Franch
Regarding the world of birds, the fossil record has remained sparse, spawning several theses about evolution and birds’ genealogy. A few years ago, the realisation that many dinosaurs had feathers seemed a radical no tion, so profound was itseffect on our collective imagination. Nowadays, no doubt remains that birds descended from a branch of dinosaurs; a triumph of the classical method of comparative anatomy which changed how we see birds today (page 26). In this edition of Pardela, we celebrate the power of such transformative ideas.
This is a crucial point of our vision for SPEA: ideas, in service of conser vation, observation and a scientific understanding of Nature, can change the world for the better, if we fight for them. We count on your support in this fight. Graça Lima PRESIDENTE
O poder das ideias
ESTATUTO EDITORIAL: Disponível em www.spea.pt/pt/publicacoes/pardela Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da SPEA. A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação das mesmas, tendo os autores das fotos utilizadas nesta publicação tomado as precauções necessárias para a minimizar. A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações.
TIRAGEM: 1400 exemplares e digital
PERIODICIDADE: Semestral ISSN: 0873-1124 DEPÓSITO LEGAL: 189 332/02 REGISTO DE PUBLICAÇÃO PERIÓDICA: n.º 127 000
PROPRIEDADE / EDITOR / REDAÇÃO: Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Pessoa coletiva n.º 503091707. Instituição de Utilidade Pública.
DIRETORA: Joana Domingues | joana.domingues@spea.pt COMISSÃO EDITORIAL: Ana Pedro, Joana Domingues, Mónica Costa, Rui Machado, Sonia Neves e Vanessa Oliveira
MAIS ATIVIDADES
EMAGENDADESTAQUEBREVES
CIÊNCIA VIVA NO VERÃO: Aves da Ria Formosa 6 de agosto e 10 de setembro Visita ao Estreito de Gibraltar 8 a 11 de setembro SÁBADO COM AVES: Centro Desportivo Nacional do Jamor 17 de setembro Visita à Ria de Aveiro 24 e 25 de setembro Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza Sagres | 1 a 5 de outubro Visita às Salinas de Aveiro 15 de outubro Visita ao Estuário do Mondego 5 de novembro CENSOS DE AVES 2021/2022 Inspeções costeiras Nazaré, Figueira da Foz, Aveiro, Peniche, Faro Noctua (MONITORIZAÇÃO DE AVES NOTURNAS) Portugal continental | 1 dezembro a 15 junho Dieta do periquito-de-colar Todo o país | Todo o ano Dias RAM (CONTAGENS DE AVES MARINHAS) Aveiro, Faro, Leiria, Lisboa, Setúbal, Madeira, Açores | 1.º sábado do mês
EVENTOS E ATIVIDADES 2022 LIFE na SPEA Ciclo de webinares 30, 20, 10 Julho a dezembro
Chama-se STOP Bycatch e vai ajudar-nos a amplificar, junto das comunidades pisca tórias, o uso de “papagaios-afugentadores” que evitam a captura acidental de aves du rante a pesca. A nova campanha de angariação de do nativos já está a decorrer e visa salvaguar dar a conservação das aves marinhas mais ameaçadas. Os detalhes da iniciativa estão disponíveis na página www.stopbycatch. spea.pt e os donativos podem ser feitos por MBWay, transferência bancária ou PayPal. Ajude-nos a salvar as aves marinhas!
SAIBA MAIS life-naturanight/www.spea.pt/projetos/EM
DiasTiago©
SAIBAwww.spea.pt/agendaEMMAISEMwww.spea.pt/como-ajudar/voluntariado
Nova campanha em prol das aves marinhas
USE O QR CODE PARA VER O VÍDEO DA CAMPANHA
Reduzir a poluição luminosa com o LIFE Natura@night
n.º 64 pardela | 5 Aproveitando a celebração do Dia Internacional da Luz, a 16 de Maio, apresentámos na Casa da Luz, no Fun chal, o nosso mais recente projeto de conservação da natureza, o LIFE Na tura@night. Nas semanas seguintes, o projeto foi também apresentado na Graciosa e nas Canárias. Sob o mote “Por uma noite com mais vida”, este projeto ambicioso que envolve 12 entidades da Madeira, Aço res e Canárias, visa reduzir o impacte da luz em 27 áreas protegidas, travar a perda de biodiversidade e apoiar a re gulamentação da iluminação pública. Nos próximos quatro anos, o LIFE Natura@night vai permitir a articula ção e esforço conjunto de autarquias locais, instituições de investigação, governos regionais, organizações sem fins lucrativos e empresas.
6 | pardela n.º 64 BREVES
LabEnergyRenewableNational©VeronesiFarancesco©
À luz das metas definidas pela União Europeia no Quadro de Atuação Clima e Energia 2030, perspetiva-se um aumen to da quota renovável para 32% do con sumo final de energia, sendo a energia eólica, com infraestruturas de rede em alto mar, uma das mais potenciadas. A este respeito, emitimos um documento O LIFE IberianAgrosteppes vai, até 2026, ajudar a conservar as aves este párias em Portugal e Espanha. Coor denado pela SEO/BirdLife, o projeto visa melhorar a conservação do sisão, da abetarda e da águia-caçadeira, bem como dos seus habitats, contan do com a SPEA entre os parceiros em Portugal. de posição no qual nos manifestámos favoráveis às renováveis no combate à crise climática, mas contra a instalação de infraestruturas de rede de eletricida de dentro de Áreas Marinhas Protegidas.
As alterações climáticas, uma amea ça para pessoas e toda a biodiversidade, têm nas energias renováveis uma das soluções. Mas é fundamental que a ur gência na sua implementação não leve a maiores danos ambientais.
Energias renováveis e biodiversidade
LIFE IberianAgrosteppes em curso
E, juntamente com os restantes mem bros da Coligação C6, mostrámos tam bém a nossa preocupação perante a nova legislação publicada pelo Governo para simplificação dos procedimentos de licenciamento do setor, que remove salvaguardas ambientais e aporta riscos contrários às metas de segurança ener gética e descarbonização.
Na Assembleia Geral de dia 30 de março, os sócios da SPEA elege ram os Órgãos Associativos para o triénio 2022-2025. A lista A - “Asas pela Natureza” foi eleita com um programa que “pretende reforçar o relacionamento dos sócios com a equipa da SPEA e valorizar os esfor ços desenvolvidos por todos e cada um para que a SPEA continue a ser uma referência na área da conser vação da natureza em geral e da ornitologia, em particular”. Foram, assim, eleitos Graça Lima como Presidente da Direção Nacional, Jorge Palmeirim como Presidente da Mesa da Assembleia e António Araújo como Presidente do Conse lho Fiscal.
Novos AssociativosÓrgãos
A Laurissilva da Madeira conti nua sob ameaça. Unimos esforços com outras ONG para travar o pro jeto de construção de uma estrada que atravessa o coração desta área protegida. Após dois Estudos de Im pacte Ambiental com inúmeras fa lhas científicas, e uma participação pública massiva a opor-se à cons trução, lamentavelmente a Declara ção de Impacte Ambiental foi favo rável e o projeto segue. Mas não desistimos: a avançar, esta construção terá um efeito de vastador na fragmentação do ha bitat, na propagação de espécies invasoras e no aumento do risco de incêndios. Por isso, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para a travar, e contamos com o seu apoio! Madeira: atentado à Laurissilva continua
SPEA Açores recebe Prémio Espírito Verde Torne-se um Embaixador das Águias
VillarroyaAlba©
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únicasProtegeraRenovámoslojaonlineavesdaMadeira
As ameaças à freira-da-madeira (Pterodroma madeira) e à freira -do-bugio (Pterodroma deserta) deram o mote para o projeto LIFE Pterodromas4Future, uma inicia tiva de conservação destas aves marinhas que apenas existem no arquipélago da Madeira. A introdução de predadores, a degradação e perda de habitat de nidificação, a poluição luminosa junto às colónias de nidificação e as alterações climáticas são al gumas das razões que explicam a necessidade deste projeto. Entre as ações a implementar, destaque para o investimento em sistemas não invasivos de monitorização, o mapeamento de áreas de nidi ficação e o controlo de espécies invasoras.ASPEA é um dos parceiros des te projeto coordenado pelo Insti tuto das Florestas e Conservação da Natureza, da Madeira. O nosso projeto LIFE Terras do Prio lo e o Censo de Milhafres foram reco nhecidos nos Prémios Espírito Verde do Governo dos Açores. Estes prémios outorgados pela Direção Regional das Alterações Climáticas reconhecem ini ciativas que contribuem para melhorar o ambiente da região. O LIFE Terras do Priolo recebeu o prémio na categoria “Recursos Natu rais e Qualidade Ambiental” - um reco nhecimento do impacto positivo deste projeto, que contribuiu para o restauro ecológico da floresta Laurissilva dos Açores e para o desenvolvimento de técnicas de restauro da biodiversidade açoriana, assim como para o envol vimento da comunidade na conser vação de uma ave que se tornou um símbolo do território: o priolo.
O nosso projeto LIFE LxAquila tem um novo desafio para todos os cida dãos sob o mote “Seja um Embaixador das Águias”! É simples: no site www. sosaguias.spea.pt, basta fazer um ju ramento de bandeira, comprometen do-se a ajudar a proteger a ameaçada águia-de-bonelli.OsEmbaixadores das Águias com prometem-se a não divulgar a locali zação de ninhos, a manter a distân
cia para não perturbar estas aves, a denunciar se detetarem algum crime contra o ambiente, e, a ser embaixa dores da espécie junto dos seus ami gos, colegas e familiares. Premiando esta dedicação, receberão, por email, novidades dos “bastidores” do proje to, informação sobre as águias, e di cas e conselhos para salvaguardar as águias e o ambiente do qual todos dependemos.
BREVES
n.º 64 pardela | 7
Olimpi EM et al. 2022. Journal of Applied Ecology. DOI: 10.1111/1365-2664.14124
Noack F et al. 2021. American Journal of Agricultural Economics DOI: 10.1111/ajae.12274
O impacto do chumbo
CIÊNCIADESCOBERTAS ©
Cientistas que estudaram o su cesso reprodutor de papa-moscas -preto (Ficedula hypoleuca) consta taram que, contrariamente ao que se poderia esperar, nalgumas situações os machos com a plumagem mais vistosa não são os mais bem-suce didos.Um outro estudo, focado nos cor vídeos, demonstra que, a par da sua Markel Olano Radovan VáclavLa Cruz
© Juan
As populações de muitas aves de rapina da Europa são substancial mente mais pequenas do que deve riam ser, devido ao envenenamento por caçarem ou se alimentarem de animais alvejados por caçadores com munições de chumbo, segundo o primeiro estudo a calcular esse im pacto a nível europeu.
Green RE, Pain DJ & Krone O. 2022. Science of The Total Environment 823: 154017 DOI: 10.1016/j.scitotenv.2022.154017
8 | pardela n.º 64 Campos com Natureza são mais produtivos Na Alemanha, cientistas compa raram a diversidade de aves em ex plorações agrícolas dos dois lados da antiga Cortina de Ferro. No lado Este, onde o regime de coletivização le vou à formação de grandes explora ções de monoculturas, a diversidade de aves é 15% menor, evidenciando a importância de manter um mosaico de habitats para sustentar a biodiver sidade.Um outro estudo, na Califórnia, demonstrou a importância de man ter habitats naturais na periferia dos campos agrícolas, ao constatar que, em campos com Natureza na perife ria, é menos provável as aves serem portadoras de agentes patogénicos (como a bactéria E. coli, que causa intoxicações alimentares) e menos provável as aves alimentarem-se dos cultivos. O estudo refere ainda que campos com zonas naturais supor tam uma diversidade de aves maior, incluindo mais aves insetívoras, que reduzem potenciais pragas.
Os segredos do sucesso
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Grãos de café são maiores e denumerososmaisnapresençaaveseabelhas
Martínez-Salinas A, ChainGuadarrama A et al. 2022. Proceedings of the National Academy of Sciences 119 (15) e2119959119. DOI: 10.1073/pnas.2119959119 Aves de maisreproduzem-seChicagocedodevido às alterações climáticas Bates JM et al. 2022. Journal of Animal Ecology. DOI: 10.1111/1365-2656.13683
Identificados locais onde turbinas eólicas e linhas elétricas serão mais perigosas para aves migradoras Gauld JG et al. 2022. Journal of Applied Ecology. DOI: 10.1111/1365-2664.14160
Aves migradoras têm penas mais claras para sobreaquecimentoevitarem Delhey K et al. 2021. Current Biology 31 (23): R1511. DOI: 10.1016/j.cub.2021.10.048
© Jason Blackeye © Jozsef Szabo Para aceder aos artigos, vá a www.doi.org e insira o respetivo código DOI.
n.º 64 pardela | 9 grande capacidade de voo, os seus grandes corpos e grandes cérebros foram fundamentais para se adapta rem a novos ambientes.
Morales-Mata JI et al. 2022. J Evol Biol. 35:610–620. DOI: 10.1111/jeb.13993
Novo método para estudar a vegetação dunar No âmbito do nosso projeto LIFE Ilhas Barreira, investigadores do CIMA/Universidade do Algarve de senvolveram um método novo para caracterizar a vegetação das dunas, com base em imagens a cores, como fotografias de drones ou do Google Earth. O novo método permite ava liar o estado da vegetação dunar, ajudando a identificar fontes de per turbação e permitindo, assim, aplicar medidas de conservação adequadas. Talavera L, Costas S & Ferreira O. 2022. Ecological Indicators 137: 108770. DOI: 10.1016/j.ecolind.2022.108770
Garcia-Porta J et al. 2022. Nature Communications 13 (1) DOI: 10.1038/s41467-022-29707-5
E ainda...
Musaranhos cortam a relva para poderem ver aves predadoras Zhong Z et al. 2022. Current Biology. DOI: 10.1016/j.cub.2022.02.074
DESCOBERTASCIÊNCIA
Para quem quer desfrutar do espe táculo da migração, é quase obrigató ria uma paragem nos observatórios El Algarrobo (a norte de Tarifa) e Cazalla (a sudoeste de Algeciras). Aqui, se tiver a sorte de apanhar um dia bom, com o vento de feição, poderá observar dezenas de milhares de aves. Para os observadores mais experientes, vale a pena estar atento à hipótese de avistar espécies mais raras, como o grifo-pe drês (Gyps rueppelli) e a águia-da-po merânia (Clanga pomarina).
Tão movimentado quanto os grandes aeroportos internacionais, o Estreito de Gibraltar é um corredor aéreo para os milhares de aves que, duas vezes por ano, viajam entre África e a Europa. Em setembro, terminada a época de reprodução e antes que cheguem o frio e as intempéries, muitas espécies rumam a sul. O ponto óbvio para atravessarem o Mediterrâneo, na zona mais ocidental da Europa, é no Estreito de Gibraltar, onde a travessia se reduz a 14 km. etembro é, então, o mês de excelência para visitar Gi braltar. A partir de meio da manhã, com a subida da temperatura, elevam-se as aves de rapina e outras planadoras. Cegonha-preta (Ciconia nigra) e cegonha-branca (Ciconia ci conia), bútio-vespeiro (Pernis apivorus), águia-calçada (Hieraaetus pennatus) e águia-cobreira (Circaetus gallicus) estão no auge nesta altura, e veem -se também números consideráveis de milhafre-preto (Milvus migrans), águia-caçadeira (ou tartaranhão-ca çador, Circus pygargus), águia-sapeira (ou tartaranhão-ruivo-dos-pauis, Cir cus aeruginosus), britango ( Neophron percnopterus), grifo (Gyps fulvus), pe neireiro-das-torres (Falco naumanni), ógea (Falco subbuteo), falcão-peregri no (Falco peregrinus), gavião (Accipi ter nisus) e águia-pesqueira (Pandion haliaetus). Todos se congregam neste ponto de passagem, de tal forma que mais do que identificar espécies, o pra zer passa por deixar-se deslumbrar pela força dos números. Presenciar a passa gem de dezenas de milhares de aves é um espetáculo sem par. O desconforto no pescoço ao fim de um dia de cara
10 | pardela n.º 64 ESTREITO DE GIBRALTAR daEx-librismigração
virada para o céu é, de longe, compen sado pelo sorriso e brilho nos olhos.
Mas a magia ornitológica desta re gião não se esgota no fluxo impressio nante de aves planadoras. A proximida de a África significa também que aqui existe a oportunidade de ver aves típicas desse continente. Exemplo disso são o andorinhão-cafre (Apus caffer), iden tificável pelo uropígio branco e cauda comprida, e o engole-malagueta (Pyc nonotus barbatus), que colonizou re centemente o Sul de Espanha. Também aqui poderá encontrar as inconfundíveis íbis-peladas (Geronticus eremita), com S
n.º 64 pardela
Quando
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Autoras | Lara Broom e Sonia Neves SPEA visitar Setembro Como chegar Aeroporto de Gibraltar Observatórios El Algarrobo e Cazalla Próxima Visita Ornitológica SPEA a Gibraltar 08 a 11 de setembro Andrew
os seus reflexos metálicos verdes e ro xos, e o seu típico aspeto despenteado, graças às longas penas pretas levanta das na cabeça, que contrastam com a face vermelha, sem penas. Esta espécie encontra-se “Criticamente em perigo”, estando hoje restrita essencialmente ao Norte de África e Médio Oriente. A pequena população no Sul de Espa nha é proveniente de um programa de criação em cativeiro que reintroduziu indivíduos marcados e permitiu que a espécie se voltasse a estabelecer em Espanha, onde estava extinta.
Vale ainda a pena fazer uma saída de barco para ver cetáceos, como ba leia-piloto e golfinhos, e aves marinhas, como pardela-balear, cagarra, alcatraz, moleiros e painhos. Gibraltar: onde milhares de aves cruzam o oceano Klaudia Piaskowska
Na praia de Los Lances, e em La Jan da, que já foi a maior lagoa da Península Ibérica, mas que agora se encontra seca e convertida à cultura agrícola, poderá observar diversas aves aquáticas, tanto migradoras como residentes, como li mícolas e garajaus.
Íbis-pelada
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Pequena e de aspeto “barrigudo”, mas muito ágil e capaz de enfrentar condições climatéricas adversas, a pardela-balear é uma ave marinha frequentemente observada na costa portuguesa, em bandos de dimensão considerável. O seu voo rápido e o bater de asas enérgico alternam com momentos de voo planado.
PARDELA-BALEAR A ave marinha mais ameaçada da Europa Pardela-balear Pep Arcos SEO BirdLife 12 | pardela n.º 64
Posição das patas em voo Na pardela-balear as patas estão visí veis e projetadas para lá da cauda. Na pardela-do-atlântico as patas não são visíveis. A daimportâncianossacosta
De facto, a costa portuguesa é a mais importante zona de invernada desta espécie a nível mundial e pra ticamente toda a população utiliza as nossas águas em algum momento do seu ciclo de vida: aqui encontram o local ideal para recuperar energia an tes de iniciarem uma nova e exigente época de reprodução.
Como o seu nome indica, a parde la-balear reproduz-se nas Ilhas Balea res, em Espanha, onde faz o ninho em cavidades de falésias costeiras. Após a época de reprodução, atravessam o Estreito de Gibraltar em direção ao Atlântico, e mesmo durante estes mo vimentos de migração, estas aves não se afastam muito da costa.
Como a protegemos Com menos de 3200 casais repro dutores e cerca de 20 a 25 mil indiví duos, esta é considerada a ave marinha mais ameaçada da Europa, principal mente devido à captura acidental em artes de pesca e aos predadores intro duzidos nas colónias de reprodução (gatos e Juntamenteroedores).com a Sociedad Es pañola de Ornitologia (SEO/BirdLife), a SPEA é o BirdLife Species Guardian para a pardela-balear, pelo que te mos responsabilidade acrescida na conservação desta espécie. Atual mente temos dois projetos a decor rer com os quais pretendemos me lhorar o conhecimento, proteção e conservação da espécie: o LIFE Ilhas Barreira, no Algarve, e o LIFE PanPu ffinus! na Zona de Proteção Especial Aveiro-Nazaré. Autora | Inês Araújo SPEA Pardela-balear Martí Franch Pardela-balear Pep Arcos SEO BirdLife MAIS SOBRE O www.lifepanpuffinus.orgPROJETO
Com menos de 3200 casais reprodutores e cerca de 20 a 25 mil indivíduos, esta é considerada a ave marinha mais ameaçada da Europa.
n.º 64 pardela | om o dorso castanho-acin zentado e o ventre branco-a castanhado,o que leva a que tenham um contraste menos marca do do que outras espécies, para ob servadores menos experientes, esta pardela pode ser difícil de distinguir da pardela-do-atlântico (ou fura-bu cho-do-atlântico, conhecido na Ma deira por patagarro e nos Açores por estapagado), mas há características que pode procurar: Coloração A pardela-balear apresenta uma mu dança gradual de coloração, do dor so castanho-acinzentado até ao abdómen notoriamente mais claro, enquanto que a pardela-do-atlântico tem um contraste elevado entre a par te superior preta e a inferior branca. Tamanho A pardela-balear é ligeiramente maior.
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Esta espécie frequenta a nossa costa durante todo o ano. No verão, da foz do Douro até à foz do Tejo são conhecidas zonas de concentra ção de adultos e juvenis. No entan to, o melhor período para observar a pardela-balear em Portugal é entre setembro e janeiro, quando uma par te significativa da população mundial passa pela costa.
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BIODIVERSIDADE Os relvados e a biodiversidade Os relvados são um ponto fulcral de muitos jardins - apesar do seu aspeto aberto e relativamente estéril, são um habitat importante para as aves e podem constituir pequenos oásis, quando a diversidade domina.
Autor | José Pedro Tavares
Nos jardins maiores pode inclusiva mente criar pequenas áreas com er vas e gramíneas mais altas, exclusiva mente para abrigo de biodiversidade. Nestas, semeie uma mistura de várias sementes de diferentes flores de pri mavera típicas de áreas abertas. Basta uma pequena quantidade para obter uma verdadeira pradaria florida, muito campestre - mas verifique que a mis tura de sementes é compatível com o tipo de solo, e que a composição de espécies é a que cresce naturalmen te na sua área, não favorecendo, sem querer, a expansão de plantas exóticas. Design e estética que potenciam a biodiversidade Se está a planear plantar um relvado novo, evite um desenho geométrico. Se o seu relvado terminar numa forma irregular, cria-se um efeito de margem muito maior com o restante jardim, que geralmente beneficia insetoslogo, toda a restante biodiversidade. É uma delícia observar, num qual quer jardim, os movimentos de um melro em busca de alimento, ou a so freguidão de um pisco-de-peito-ruivo a tentar desenterrar uma minhoca. Quando quiser fazer algo ao seu relva do, pense neles!
s relvados servem de abri go a muitos insetos e outros invertebrados de que diver sas espécies de aves se alimentam. Relvados ricos em matéria orgânica têm geralmente um bom número de minhocas - um alimento muito pro curado no inverno e na primavera pelo melro (Turdus merula), estorninho -preto (Sturnus unicolor), e pisco-de -peito-ruivo (Erithacus rubecula), aves comuns nos jardins de Portugal. Os relvados podem também pro duzir quantidades importantes de se mentes, particularmente se tiverem plantas do género Poa ou da espécie Ranunculus bulbosus, bem como os tão conhecidos dentes-de-leão (gé nero Taraxacum). Relvados apetitosos para as aves Evite o uso de químicos sintéticos ou de fertilizantes artificiais contra as chamadas ervas daninhas. O ideal é criar micro-habitats ao longo do rel vado, com uma área de relva curta, favorável à procura de alimento por parte das aves e, um outro local com a erva mais alta, que forneça um habitat convidativo para insetos.
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Pardal-montês Nagara Oyodo O 14 | pardela n.º
n.º 64 pardela | 15 www.spea.pt/agenda SAIBA MAIS EM Assista à passagem de milhares de aves rumo ao sul, num espetáculo de cortar a respiração. E aproveite para observar aves típicas do continente africano, sem sair da Europa. 8 A 11 DE SETEMBRO 2022 dacomDeslumbre-seoespetáculomigração
No ano em que comemoramos o 10.º aniversário do Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena, (re)descubra o local que se tornou num dos pontos de referência para a observação de aves em Portugal, através dos olhos de alguns dos seus amantes. LAGOA PEQUENA A Estância de férias para aves Garça-branca-grande David Clode Em apenas dez anos, a paraSesimbra,Pequena,Lagoaementrouoroteirodosobservadoresdeaves. 16 | pardela n.º 64
n.º 64 pardela
Domingos Leitão, Diretor Executivo da SPEA Câmara Municipal de Sesimbra
Uma visita que desperta sentidos
Em apenas dez anos, a Lagoa Peque na, ligada à conhecida Lagoa de Albu feira (ou Lagoa Grande), em Sesimbra, entrou para o roteiro dos observadores de aves. Uns vêm para observar, outros para fotografar ou desenhar e muitas famílias para passear. Nos primeiros tempos, as visitas não ultrapassavam a média anual das duas mil. Em 2020, mesmo estando três meses encerrado devido à pandemia, o Espaço Interpre tativo da Lagoa Pequena (EILP) recebeu mais de 5 mil visitantes. O desconfina mento levou ao aumento da procura, com uma visível valorização das ativi dades ao ar livre.
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No EILP, os alunos testemunham ao vivo como funcionam os ecossis temas, recolhem insetos e observam aves, aprendem o que é a anilhagem, constroem ninhos e comedouros. «Uma coisa é aprender no manual, outra completamente diferente é ver in situ. Não há manual escolar ou ví deo que consiga ultrapassar o efeito que isto tem nas crianças», reforça Domingos Leitão. O responsável da SPEA, que é também um ornitólogo e promotor de turismo de natureza ex periente, garante que uma manhã na Lagoa Pequena permite ver aves que não se encontram noutros locais. Com a vantagem de haver sempre novida des ao longo do ano, pois os prota gonistas vão-se renovando, de acordo com o calendário de migrações. «Se viermos na primavera, encontramos a garça-vermelha, o garçote, os rou xinóis-dos-caniços, espécies migra doras que só cá estão na primavera e verão e nidificam nas zonas com cani ço. É um atrativo especial. No inverno temos um leque diferente. As espécies estivais já migraram para África, mas recebemos os que chegam do Nor te da Europa em dezembro e janeiro quando o frio, a neve e gelo as empur ram para sul e temos aqui mais patos, como o colhereiro, a marrequinha ou o zarro», detalha, em modo de convite para uma visita. «É também um dos sítios onde se observam aves de rapina difíceis de ver noutros locais, como o açor, o gavião, a ógea (espécie de falcão que cria nos ninhos das gralhas e vem aqui caçar pássaros pequenos ou libélulas), a águia-sapeira ou águia-pesqueira», acrescenta.
O sucesso destes 10 anos prende -se com a beleza natural do local, que integra duplamente a Rede Natura 2000 da Europa (é Zona de Proteção Especial para Aves e Sítio Classificado, ao abrigo das Diretivas Aves e Habitats, respetivamente), mas também com a dinamização feita pela SPEA, baseada num protocolo firmado com a autar quia local em 2016. «Temos um leque de atividades que não se esgota na observação e moni torização da fauna e da flora», explica Domingos Leitão, Diretor Executivo da SPEA. A educação ambiental é uma das áreas de excelência. «A curiosida de funciona extraordinariamente com a população escolar. Os miúdos vivem vidas enfiados em caixinhas, compu tadores, smartphones, Internet, mas um dia passado na Lagoa desperta a curiosidade e os sentidos», destaca o responsável. «É muito importante o trabalho que fazemos com as escolas aqui, porque lança a semente para que, no futuro, como adultos, estas crianças se preocupem com a natureza, com a proteção das espécies e dos ecossis temas. Se não tivermos noção de que vivemos inseridos num meio que tem de funcionar, com funções que de pendem das várias espécies, vamos ser adultos incompletos», conclui.
Ao fim de um dia de voluntariado na Lagoa Pequena, todos partilham um sentimento: terem contribuído para a conservação da natureza e para cuidar deste espaço, tornando o EILP um pouco seu.
Quem visita a Lagoa Pequena numa sexta-feira à tarde vai cruzar -se com Regina Urban, uma simpá tica professora reformada que veio da Alemanha para Portugal há cerca de 40 anos e, nos últimos cinco, tem dedicado umas horas por semana ao voluntariado.Docentede alemão no Goethe -Institut, decidiu investir parte do seu tempo numa área diferente da sua ati vidade profissional e escolheu a Lagoa Pequena pela «beleza do espaço». Envergando o seu colete com o mote “Cidadania pela Natureza”, Regina as segura várias tarefas, desde recolher o lixo a receber as pessoas, acompanhar as escolas ou até «pintar alguma da si nalética», elenca com orgulho. Diz ter aprendido muito com esta experiên cia, principalmente sobre as aves que gosta de observar, mas também de escutar, com os conhecimentos que adquiriu no workshop «À Descoberta do Fantástico Mundo do Canto das Aves», promovido pela SPEA. Munida do seu guia de aves, escri to em alemão, já consegue identificar algumas espécies que sobrevoam e habitam a Lagoa Pequena, como as aves de rapina, as suas preferidas, ou o camão, «que já tive a sorte de obser var, e é um espetáculo, com as suas cores vibrantes e a forma diferente de andar».Regina Urban inscreveu-se na Bol sa Local de Voluntariado, mas não é a única a participar ativamente na ma nutenção e preservação da Lagoa Pe quena. Ao longo de uma década têm sido centenas as pessoas que partici pam em ações de voluntariado. Con tribuem para a manutenção do espa ço, contagem de aves, remoção de flora infestante, participam no Dia do Biscateiro (que como o nome indica, permite assegurar pequenas repara ções), integram ações de teambuil ding para empresas ou vêm em família construir caixas-ninho que são colo cadas emárvores no local.
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Voluntária pela natureza
Camão, o residente que é já símbolo da Lagoa Humberto Matos Regina Urban, voluntária Câmara Municipal de Sesimbra
João Conceição, vigilante da natureza do ICNF Câmara Municipal de Sesimbra
n.º 64 pardela | 19 O sempre vigilante Quem tem na memória os principais momentos da história deste local, e de todos os passos para a sua transfor mação, é José Conceição. A sua vida confunde-se com a história da Lagoa Pequena, mesmo muito antes da cria ção do Espaço Interpretativo, há dez anos. Com 26 anos integrou, como guarda-florestal, o agora designado Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Começou a trabalhar na Lagoa Pequena e nunca mais saiu. «Aqui na Lagoa de Albufeira casei, aqui vivi durante anos, ali ao fundo, junto daqueles salgueirais e na Lagoa Peque na passo sempre os meus aniversários, a 4 de maio, dia de Sesimbra», diz com um sorriso proporcionado pelas boas recordações destes últimos 30 anos.
Houve tempos em que o caminho que se faz entre a Lagoa Pequena e a Lagoa da Estacada, a terceira lagoa do conjunto, estava completamente ala gado e em que parte da Estacada, onde atualmente nidificam muitas espécies protegidas, era zona de pastagem para gado. «Isto estava tudo cheio de água, da Lagoa Grande até à Ribeira da Apos tiça. Já nessa altura havia aqui muitos galeirões».Jáhaviam observatórios improvi sados para vigilância e monitorização da fauna, mas o primeiro “observatório para visitas” foi o da torre, na margem norte da Lagoa Pequena, que não era mais do que o aproveitamento de um farol de madeira com cerca de seis metros, construído para o stand do en tão Instituto da Conservação da Natu reza na Expo 98. «Tudo o que aqui está fui prati camente eu que fiz», recorda com o orgulho de quem encontrou um sítio cheio de caniços e silvados que o co briam por completo e que foi abrindo até se tornarem nos percursos que hoje encaminham os visitantes, tran
quilamente, até aos observatórios de madeira. É o caso do passadiço que dá acesso ao Observatório da Lontra, em frente à Lagoa da Estacada. Ia andan do, guiado pelo vale junto da Ribeira da Ferraria, sem plano desenhado, mas com meta definida. Ia avançan do, e quando olhava para trás não via nada», recorda. O resultado é o passa diço serpenteante que permite apre ciar o percurso e escutar as aves até chegar ao destino, com a calma que o localMelhorouinspira. as condições para os visitantes, mas principalmente para os seus habitantes, com manutenção permanente. Um trabalho feito com todo o empenho de quem tem pai xão genuína pela natureza. Quando lhe perguntam do que mais gosta na Lagoa Pequena, só tem uma respos ta: «Tudo! Tenho casa, mas é só para dormir, porque é na Lagoa Pequena que me sinto bem, mesmo em dias de folga venho para cá».
O seu sonho é vir a ser biólogo, e já é sócio da SPEA. No último Natal pe diu aos pais um guia de anfíbios, que apenas existia na versão inglesa, o que para o interessado Vasco não consti tuiu qualquer problema. Muitas vezes prepara apresentações com as suas fotografias e pesquisas para levar para a sala de aula e mostrar aos colegas do 6.º ano. No futuro, gostava muito de ir à Papua Nova Guiné, a maior ilha tropical do mundo, para ver a ave-do -paraíso ao vivo, no seu habitat. Por cá, quando estava a chegar ao fim desta visita guiada que nos fez à La goa Pequena, teve uma das suas gran des alegrias. Foi presenteado com o “raio azul” desenhado no ar pelo rápido guarda-rios, no canal que liga a Lagoa Pequena à Lagoa da Estacada. Mais um momento de grande felicidade para este amante da natureza, que reagiu como qualquer criança da sua idade, aos pulos e com um sorriso de orelha a orelha, a festejar abraçado à mãe e ao irmão Diogo. Excerto da reportagem Espaço Interpretativo, 10 Anos Lagoa Pequena, A Estância de Férias para Aves, publicada na Revista Sesimbra, N.º1, Edição da Câmara Municipal de Sesimbra, abril 2022.
Tem apenas mais um ano do que o Espaço Interpretativo da Lagoa Pe quena. Juntamente com a sua famí lia, pais e o irmão de cinco anos, é carinhosamente tratado como «es pécie endémica» da Lagoa. Foi aqui que festejou os 11 anos, com mais duas dezenas de amigos e amigas, a quem tenta passar a paixão pela na tureza. Uma festa de anos na qual a observação de aves foi a “brincadei ra” favorita. O desafio foi identificar espécies e, rapidamente, Vasco teve que passar ao nível de dificuldade se guinte.
VISITE A LAGOA bit.ly/LagoaPequenaSPEAPEQUENA Vasco Fonseca, um dos mais jovens e assíduos visitantes Câmara Municipal de Sesimbra
Mais novo, mas nem por isso menos apaixonado por este local, Vasco Fonseca é um verdadeiro naturalista em crescimento .
«Venho sempre uns minutos antes das atividades começarem, dou uma cor rida até ao Observatório do Galeirão, que fica mais perto da receção, e ainda consigo ver algumas aves».
A família é presença assídua nas ati vidades organizadas na Lagoa Peque na, seja para sessões sobre libélulas, workshops sobre o canto das aves, de borboletas ou observações noturnas.
20 | pardela n.º 64 O naturalista Mais novo, mas nem por isso me nos apaixonado por este local, Vasco Fonseca é um verdadeiro naturalista em crescimento, uma espécie de pe queno David Attenborough. De má quina fotográfica ao pescoço, com uma lente que serve também de bi nóculo para ver as aves que sobre voam a Lagoa Pequena, tem a visão e a audição bem treinadas para detetar aves, pequenos insetos ou até cogu melos que encontra num caminho que já percorreu inúmeras vezes.
Já avistou bandos de estorninhos, patos-colhereiros, camões, marre quinhas, galinhas-d’água, patos-reais, garças-vermelhas «quase em extin ção», alerta, enquanto vai elencando espécies, entre nomes científicos que vai traduzindo para nomes comuns.
No dia em que visitámos o EILP confessou que gostaria muito de ver um guarda-rios, que apesar de ser uma espécie residente é tão pequeno e rá pido nos seus voos rasantes que lhe tem escapado. Já no verão, o desejo é ver o quase exótico abelharuco.
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BYCATCHpesca.Capturas acidentais na pesca –submersosperigos airando sobre as ondas, as aves marinhas passam grande parte do seu ciclo de vida no mar, a alimentar-se ou a explorar novos terri tórios. Viajantes natas, estão extrema mente adaptadas à vida em alto mar - o corpo fusiforme e aerodinâmico per mite-lhes voar agilmente entre ondas, confere-lhes uma vantagem enorme para mergulhar e, assim, se alimenta rem; utilizam o vento de uma forma que lhes permite voar com poucos gastos de energia; penas impermeáveis; patas com membranas interdigitais, permitin do-lhes nadar. São verdadeiras ‘máqui nas’ a superar os rigores do mar, sobre tudo durante os períodos de migração, em que num só dia podem viajar até centenas de quilómetros. As aves marinhas vivem dezenas de anos, mas, até atingirem a maturidade sexual podem demorar entre quatro a sete anos, dependendo das espécies.
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As aves marinhas são o grupo de aves mais ameaçado do mundo, enfrentando perigos tanto nas colónias em que nidificam, como no mar, onde passam grande parte da vida. Na SPEA, temos trabalhado de forma próxima com os pescadores para percebermos de que forma podemos minimizar o impacto de uma das ameaças que enfrentam – as capturas acidentais na
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Muitas delas reproduzem-se apenas uma vez por ano e põem apenas um ovo. Para espécies como estas, com uma vida longa, baixa fecundidade e maturidade sexual tardia, as ameaças com maior impacto na espécie são as que afetam a sobrevivência dos adul tos - precisamente o caso da captura acidental. Torda-mergulheira Aidan McCormick rspb-images.com
Os pescadores têm um papel fundamental na resolução deste problema RSPB | rspb-images.com
Todos os dias perdemos a oportunidade de salvar mais aves marinhas RSPB | rspb-images.com
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Ameaças no mar Apesar de voarem livremente pelo mar, sem grandes predadores, nem tudo é fácil quando chega a altura das aves marinhas se alimentarem. Tal como os pescadores, estas aves des locam-se para os locais onde há mais peixe - os pescadores até as vêem como um aliado na altura de pescar. Mas as redes e anzóis, quando sub mersos tornam-se uma ameaça que pode ser fatal. No caso das redes, quando sub mersas são invisíveis não só para as aves, mas também para mamíferos e répteis marinhos, que ao irem ao en contro do manancial de peixe, podem acabar por ficar presos ou enredados, sem escapatória possível. Já no caso dos anzóis, o problema não é serem invisíveis, mas sim, terem algo (peixe) que as atrai. Em Portugal, começámos a traba lhar nesta problemática em 2010, atra vés do projeto LIFE+ MarPro, tentando perceber o impacto das pescas na par dela-balear.Entre2014 e 2019, com o projeto LIFE Berlengas, recolheu-se informa ção abrangente sobre este problema na Zona de Proteção Especial (ZPE) das Ilhas Berlengas, percebendo-se quais as espécies mais prejudicadas e que artes constituíam um perigo maior para elas. Demos continuidade a estes trabalhos através do projeto MedAves Pesca, implementado algu mas medidas de mitigação na ZPE das Berlengas. Aliados pelo mar Projetos como estes só são possí veis graças à colaboração estreita com os atores principais deste enredo: os pescadores. Na verdade, eles são os primeiros a reconhecerem o proble ma, que tem impacto sobre a sua ati vidade, e têm-se mostrado abertos e cooperantes para testarem soluções que lhes permitam continuar a pescar, sem causarem danos a outros animais. Desde 2012, a SPEA tem vindo a im plementar um sistema de observado res a bordo, através do qual técnicos experientes acompanham os embar ques de pesca e registam as interações das aves marinhas com as pescarias. Esta é uma das formas para melhor se perceber o problema, mas não a úni ca. Através de inquéritos aos mestres de pesca, tem sido possível conhecer melhor a dimensão desta ameaça, em alturas em que não é possível acom panhar os embarques. Graças a este trabalho conjunto, sabemos hoje que as artes de pesca com maior impacto nas populações de aves marinhas são as redes de emalhar, palangres e redes de cerco. E é nesta colaboração que, pescadores e cientistas, em diálogos e partilhas, conseguem perceber o que pode atrair mais aves e que soluções implementar. Soluções simples As medidas de mitigação da captu ra acidental devem ser eficazes na re dução da captura acidental de aves e, ao mesmo tempo, ser práticas e fáceis de implementar, não devendo provo car perdas nas capturas de pescado. O que se pretende com uma medida de mitigação é que ela reduza a atração pelas redes e anzóis ou afaste as aves da imediação das embarcações. No projeto MedAves Pesca propusemo -nos testar algumas formas para evi tar que as aves fossem capturadas nas redes e anzóis, e os resultados foram animadores. Todos os anos, mais de 200 000 aves são capturadas acidentalmente em águas da UE. 20 000
portuguesas,capturadosalcatrazesemáguasempalangredemersaleredesdeemalhar.
Autora | Mónica Costa SPEA SAIBA MAIS www.stopbycatch.spea.ptEM O CODE VER O
Todos os anos morrem mais de 20 000 alcatrazes em águas portuguesas Katie Nethercoat | rspb-images.com
VÍDEO DA CAMPANHA
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Atraídas pelo isco, aves como a cagarra ficam presas nos anzóis David Garcia
Primeiro, testámos luzes LED, que ajudam a sinalizar as redes, permitindo torná-las mais visíveis para as aves ma rinhas. Outra medida utilizada foi o pa pagaio-afugentador, uma espécie de papagaio de papel em forma de ave de rapina - este, ao mover-se no ar, asse melha-se a um predador, afastando as aves das Apesarembarcações.deasluzesnão terem apre sentado resultados promissores, o pa pagaio-afugentador revelou-se uma medida que, além de ser eficaz, é tam bém fácil de implementar e financeira mente acessível. Próximos passos Para continuarmos este trabalho de cooperação tão importante, precisa mos de aumentar a capacidade de tra balhar com mais pescadores e expan dir a implementação destas medidas a outras áreas do país. Lançamos recen temente a campanha STOP Bycatch e estamos a apelar aos vossos genero sos contributos - para que a pesca em Portugal seja uma pesca mais susten tável e com futuro, ajudando as aves marinhas.
USE
QR
PARA
24 | pardela n.º 64 Marcar território Aves como o melro, a carriça ou a toutinegra-de-barrete usam um can to elaborado para sinalizarem que o território já está ocupado. A duração, tom e frequência do canto indicam aos rivais que o “proprietário” é enér gico, saudável e forte. Embora usem chamamentos com menor comple xidade musical, também os mochos, corujas, bufos e noitibós usam o som para proclamarem e defenderem o seu território; tarefa que cabe tanto aos machos como às fêmeas. Também os piscos-de-peito-rui vo, macho e fêmea, defendem o seu território e anunciam-no através do canto. Mas, em muitas espécies, esta defesa do território é feita sobretudo pelos machos, que juntam essa res ponsabilidade à necessidade de atrair uma parceira.
Imitar Algumas aves têm a capacidade de imitar sons, juntando-os ao seu reportório. Ao incorporarem essa va riedade de sons no seu “concerto”, as Um passeio de manhã cedo ou ao entardecer tem, invariavelmente, as aves como banda sonora.
Atrair fêmeas Quando um macho canta para marcar o território, está, simultanea mente, a indicar às fêmeas que é sau dável, capaz de defender o local, e que será um bom pai para os seus filhos.
Soar o alarme Em situações de perigo, como a presença de um predador, muitas aves emitem uma vocalização de alarme, simples e estridente. O melro, por exemplo, emite uma série de “pli-pli -pli-pli-…” metálicos e agudos quando avista predadores como gatos, aves de rapina ou pessoas.
As aves produzem uma variedade de sons incrível, desde simples chamamentos a cantos elaborados.
BIRDWATCHING Por que cantam as aves?
A carriça é dona de um canto melodioso e possante, que não lhe faz jus ao tamanho Melethril
Um exemplo extremo desta prova de esforço é o rouxinol-comum, cujo macho canta incessantemente, noite e dia, durante a época de reprodução.
Mas com que objetivos?
Autores | Jaime Sousa e Sonia Neves SPEA O estorninho-preto imita vocalizações de predadores para defender o seu ninho A calhandrinha traz de África vocalizações que não existem na Europa Imran Shah
redonda ou mochos, mantém outras avesPorafastadas.vezes,as aves podem aprender sons “acidentalmente”, apenas por es tarem muito expostas aos mesmos. Em meios urbanos, podem aprender sons de alarmes de carros ou de maquinaria, por exemplo, sem que isso lhes traga, aparentemente, vantagens claras.
n.º 64 pardela | 25 aves demonstram inteligência, saúde e adaptabilidade, características que podem ajudar a atrair um parceiro ou a deter competidores. Um dos imitadores mais famosos da nossa avifauna é o estorninho-preto, que engana facilmente os observadores de aves menos experientes com vo calizações de tarlidadeimitadorcoruja-do-matoáguia-d’-asa-redonda,oupapa-figos.Esteexímiopodeusarasuahabiparadefenderoninho:aoimipredadorescomoáguias-d’-asa-
Por outro lado, algumas aves imi tadoras trazem-nos sons de outras paragens. É o caso da calhandrinha, que passa o inverno em África: quando vem a Portugal reproduzir-se, permi te-nos ouvir vocalizações de aves que não existem na Europa.
As crias fazem chamamentos seme lhantes a gemidos, para chamarem os pais quando eles se aproximam do ninho. Comunicar Além destas funções específicas, as aves usam o som para comunicarem muitas outras coisas, como manter o contacto entre indivíduos ou avisar sobre uma nova fonte de alimento.
Nestes casos, geralmente, usam cha mamentos simples com uma ou duas sílabas.No seu próximo passeio, desafia mo-lo a tentar descortinar a motivação por detrás dos diferentes sons de ave que ouvir.
Chamar os progenitores
ORIGENS
entreDinossaurosnós
Fóssil de Archaeopteryx, considerada a espécie de transição mais próxima da origem das aves Wolfgang Sauber As aves são mesmo dinossauros? O debate persiste? Na verdade, já não existem dúvidas de que as aves são um tipo de dinossauro. Atualmente, o debate é sobre por menores. As evidências não vêm só de ossos fossilizados e de semelhanças no esqueleto, mas de tecidos moles fossilizados, espe cialmente penas. Muitos dinos sauros tinham realmente pe nas como as das aves. O Shuvuuia deserti temmaisquecaracterísticasocolocampróximodasavesdoquedosdinossauros
O
Michael B. H.
26 | pardela n.º 64 mais recente artigo científico do Prof. Roger Ben son centra-se num dinossauro do tamanho de uma galinha, com penas, que parece ter tido uma capacidade auditiva comparável à de uma coruja-das-torres, um predador noturno especializado. Shuvuuia deserti não é o que se poderia esperar de um dinossauro. Este é o tipo de descobertas fósseis que, nas últimas décadas, têm mudado a forma como vemos hoje as aves. Roger Benson estuda a evolução dos dinossauros, incluindo a origem das aves. Ele explica porque é que “dinossauro” é mais “ave incrível” do que “lagarto terrível”...
Ponha de parte as ideias pré-concebidas sobre dinossauros, que provavelmente são centradas em répteis e distorcidas por Spielberg; os verdadeiros dinossauros chilreiam lá fora. Sim, as aves são dinossauros, como explicou o Professor Roger Benson nesta entrevista à revista BirdLife Magazine.
Alguns fósseis raros também nos dão vislumbres do comportamento de dinossauros semelhantes a aves, como Mei long, um pequeno dinos sauro bípede, do tamanho de um pato, do período Cretáceo. Foi encontrado preservado em cinzas vulcânicas (simi lares às de Pompeia), enrolado numa posição muito semelhante àquela em que muitas aves dormem atualmente.
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As aves pertencem ao grupo dos dinossauros terópodes, que inclui o T. rex. Os terópodes são todos bípe des e alguns têm mais características de ave do que outros. Archaeopteryx, descoberto em 1861, foi durante muito tempo o único dinossauro conhecido verdadeiramente semelhante a uma ave. É do período Jurássico Superior (há 150 milhões de anos), tal como outros dinossauros que começamos a encontrar, claramente semelhantes a aves - nomeadamente fósseis recentes na China, preservados em sedimentos de grão fino do fundo de lagos. Tais como...? Anchiornis é um dinossauro alado do Jurássico Superior, com grandes arranjos de penas nas pernas. Fósseis como este sugerem a possibilidade in trigante de que as aves evoluíram de um antepassado planador que efetiva mente tinha quatro asas. Também Yi qi foi descoberto nos últimos anos; tem preservados tecidos moles, com uma membrana alar do tipo morcego.
Fóssil de Mei Long Mick Ellison
Se as penas evoluíram nos dinossauros, quando se deu a origem das aves?
Através do registo fóssil, sabemos que os animais terrestres de grandes dimensões foram muito afetados. Só os mais pequenos sobreviveram. Os dinossauros mais leves pesavam cerca de 500 gramas, mas para sobrevive rem como os mamíferos terrestres te riam de pesar menos de 50 gramas, e mesmo aí as hipóteses eram bastante baixas. Muitos grupos de aves também se extinguiram. Foram sugeridas várias razões, como alimentarem-se de se mentes ou peixe (depois da colisão do meteorito de 10 km de diâmetro, hou ve falta de sol por causa do pó, e os ecossistemas de água doce tornaram -se um refúgio). Alguns locais terão sido menos terríveis do que outros; claramente a proximidade à zona de impacto no México terá sido a pior, mas houve efeitos globais.
Representação de Yi gi Emily Willoughby
Então o voo é a chave para a origem das aves?
Os paleontologistas perguntam “o que faz do Archaeopteryx um fóssil de ave e não outro dinossauro pare cido com uma ave?”, - é a capacidade de voar. A configuração das penas das asas é muito mais parecida à das aves modernas. Mas quanto mais sabemos sobre os dinossauros semelhantes a aves, mais nos apercebemos que as características específicas das aves têm uma origem mais antiga. Andar sobre duas patas, ter penas, pôr ovos, ser de “sangue quente”, são apenas características herdadas dos dinossau ros. Os bicos também evoluíram inde pendentemente em vários grupos.
Conseguiam voar?
Nem todos concordam, mas mui tos pensam que começou com ani mais que trepavam às árvores. Eu pen so que o voo evoluiu a partir dos seus “saltos” das árvores para baixo. De uma perspetiva aerodinâmica é mais fácil ver como isso funcionaria. Para o voo surgir a partir do solo (ou seja, contra riando a gravidade), a evolução teria que ter rapidamente inúmeros aspe tos diferentes de controlo e propulsão.
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Nem todos os dinossauros paren tes próximos das aves conseguiam voar. Mas os que conseguiam voavam de formas diferentes, sugerindo que terão existido várias experiências evo lutivas de voo, sendo as aves a expe riência com maior sucesso, que per siste até ao presente.
Como é que o voo começou nos dinossauros semelhantes a aves?
Teria sido mais difícil. Agora, quando é que os dinossauros aprenderam a tre par às árvores? Isso, gostávamos nós de saber! Porque é que as aves foram os únicos dinossauros que sobreviveram à extinção em massa no final do Cretáceo?
Gosto de as observar porque gosto de animais e as aves são dos mais visíveis. Podemos dizer que a pata de um pombo é semelhante à de um dinossauro; as aves herdaram muito dos dinossauros, mas também são muito distintas. Eu respeito isso e vejoas a fazer algo fundamentalmente diferente do que os dinossauros teriam feito. Usam os recursos de uma forma que os animais que andam sobre o solo não podem. Provavelmente nunca terá havido mais do que cerca de 1.000 espécies de dinossauros na Terra em simultâneo, enquanto que as aves pegaram no que herdaram dos dinossauros e fizeram muito mais, dando origem a uma diversidade enorme de quase 11 mil espécies. As pessoas adoram dinossauros e as pessoas adoram aves. O que poderia ser mais interessante? Autor | Shaun Hurrell Tradução | Sonia Neves SPEA Este artigo foi originalmente publicado na revista BirdLife Magazine de julhosetembro 2021. Representação de dinossauro paraviano do Jurássico Superior Emily Willoughby
A outra coisa que este registo nos diz é que a biosfera irá recuperar, mas não durante as nossas vidas; apenas em escalas de tempo que não são mensu ráveis à sociedade humana. É aterrador, mas só se continuar. Temos algum con trolo sobre isto, se as pessoas agirem. Qual a sua ave favorita?
O registo fóssil mostra-nos que as extinções em massa acontecem, mas cada uma tem uma causa e padrão di ferentes. Portanto, não conseguimos prever o que irá acontecer a seguir com base em extinções em massa passadas. Monitorizar as aves é uma das coisas mais importantes que podemos fazer para conhecer espécies antes que se percam sem sabermos. A extinção dos dinossauros foi a mais abrupta: pode ter acontecido num único ano. Mas a extinção em massa atual parece muito mais rápida do que alguns dos outros eventos de extinção em massa, quan to à taxa de declínio de abundância e à taxa de perda de espécies.
Gosto muito da franga-d’água -da-inacessível (Laterallus rogersi, da família dos ralídeos, como a galinha -d’agua), a ave mais pequena que não voa, vivendo precariamente numa ilha minúscula. Como é que pode ser tão pequena? Tem certamente algo para nos contar sobre a evolução. Nenhum dinossauro foi, alguma vez, assim tão pequeno. As ilhas são fascinantes para um biólogo que estuda a evolução, e não podemos correr o risco de perder esta informação da ciência, do conhe cimento humano. Esta é apenas uma razão pela qual o trabalho da BirdLife em proteger as aves que habitam ilhas, das espécies invasoras, é tão impor tante.
Dada a sua especialidade, como se sente quando olha para as aves atuais?
n.º 64 pardela | 29 Então, só os animais pequenos irão sobreviver à sexta extinção em massa?
açorianas albergam um manancialdeaves Martin Munk
AÇORES Nove relíquias de natureza no AtlânticoAspaisagens
Marcado por fenómenos geológicos, vulcanismo, diversidade de habitats, fauna e flora, o arquipélago dos Açores está repleto de uma riqueza natural enorme.
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té o nome deste arquipéla go poderá estar relaciona do com aves: há quem diga que na origem estará uma confusão na identificação dos milhafres (Buteo buteo rothschildi) encontrados, que se julgava serem açores (Accipiter gen tilis), embora os historiadores não se jam unânimes. Certo é que o milhafre é uma ave emblemática do arquipélago e a única rapina diurna nestas ilhas. Tam bém a cagarra (Calonectris borealis) é das mais emblemáticas e o seu canto noturno, misterioso, é inconfundível. Há uma grande abundância de aves que pode conhecer nestas ilhas, in cluindo uma subespécie de tentilhão (Fringilla coelebs moreletti),, priolos (Pyrrhula murina) e painhos-de-mon teiro (Hydrobates monteiroi), que só existem aqui. Venha daí! A
zonas costeiras tente distinguir o borrelho-grande-de-coleira (Chara drius hiaticula) do borrelho-semipal mado (Charadrius semipalmatus) - é um bom treino para aguçar o olho! Apesar de algumas semelhanças, o borrelho-grande-de-coleira é maior e tem uma coleira escura mais exube rante do que o seu primo ‘americano’. Este último aparece com alguma regu laridade no arquipélago e é a única es pécie da avifauna americana que se en contra nos Açores durante todo o ano.
Até sem binóculos ou telescópio pode observar o garajau-comum (Sterna hi rundo) com relativa facilidade: repare nas suas asas pontiagudas, cauda bi furcada e bico vermelho.
Não precisará de muito mais do que uma semana para fazer este roteiro entre as várias ilhas, até porque a liga ção entre elas é rápida e cómoda.
Autora | Inês Araújo SPEA COMO CHEGAR Voos diretos do Continente para S. Miguel, Terceira e Faial; e da Madeira para S. Miguel.
Fica já aqui ao lado
Dê um passeio a pé e observe aves neárticas como a mariposa-azul (Pas serina cyanea) e o picoteiro-america no (Bombycilla cedrorum).
PASSEAR ENTRE ILHAS Ligações internas de avião e ferry. QUANDO IR O ano inteiro. Estrelinha-de-poupa Frank Vassen Mariposa-azul Judy Gallagher
Passe pela Baía das Contendas, uma Área Importante para Aves e Bio diversidade, e deixe-se envolver pela cacofonia das colónias de garajaus.
Grupo Oriental Aproveite não só para marear e ver baleias e golfinhos, mas também para observar aves como o maçarico -galego (Numenius phaeopus) de bico recurvado para baixo e a rola-do-mar (Arenaria interpres) de patas curtas e cor-de-laranja, contrastantes com o castanho escuro da cabeça, dorso e asas.Entre as densas florestas e matos naturais preste atenção à ave mais pe quena da Europa: a curiosa estrelinha -de-poupa (Regulus regulus), com o seu sibilar constante. Visite a ilha de Santa Maria e observe a subespécie sanctae-mariae, exclusiva da ilha. Na ilha de São Miguel, visite o Cen tro Ambiental do Priolo e vá conhecer o priolo, ave que só conseguirá ob servar aqui! Outrora considerada uma praga, por se alimentar das flores das laranjeiras, esteve quase extinta. Gra ças ao nosso trabalho ao longo das úl timas duas décadas, hoje a população está estável. Grupo Central Na ilha Terceira procure pela subes pécie de pombo-torcaz que só existe nos Açores (Columba palumbus azo rica). Faça uma paragem no Paul do Cabo da Praia, atualmente considerado o melhor local da Europa para observar aves costeiras tipicamente americanas: aqui pode avistar o encorpado pilrito -de-colete (Calidris melanotos), Pode rá ainda encontrar alguns borrelhos e, com sorte, um bando de tarambolas -cinzentas (Pluvialis squatarola) a bailar no Nascéu.
Aproveite a distância curta a que se encontram estas paisagens deslum brantes e a riqueza de biodiversidade, e parta à descoberta de aves únicas.
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Grupo Ocidental A pequena ilha do Corvo, por estar já relativamente perto do continente Americano, é o local de eleição para a observação de raridades americanas.
HISTÓRIA(S) COM AVES Guias de campo, uma breve(muito)história
Existem, actualmente, disponíveis no mercado muitos guias de campo que, no seu conjunto, abarcam a maior parte das espécies de aves e cobrem quase todas as regiões do globo. Com efeito, este tipo de livro é hoje um instrumento indispensável e familiar a qualquer observador de aves ou amante da natureza. Histoire Naturelle George-Louis Leclerc (1770-1783)
Aquela que, porventura, foi a pri meira obra que se assemelhava vaga mente a um guia de campo foi produ zida por um botânico e zoólogo inglês de nome Thomas Nuttal que em 1832 publicou o primeiro volume de A Ma nual of the Ornithology of the United States and Canada, a que se seguiu um segundo volume, publicado em 1834.
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Este manual combinava textos densos com ilustrações e, apesar de ter dois volumes e cerca de 800 páginas, po dia-se dizer que era compacto. Não obstante este avanço, foi ainda preciso esperar alguns anos até surgir aquele que é considerado por muitos como o protótipo dos guias de campo modernos. Curiosamente, tendo em conta o contexto social da época, foi elaborado por uma mulher. Em 1888, Florence Merriam Bailey produziu um livro de pequeno formato, com ilus trações, estilo informal e focado na identificação das aves no campo a que chamou Birds Through an Opera Glass A partir daí houve uma série de pe quenos desenvolvimentos que foram melhorando o conceito de guia de campo até que, em 1933, um jovem nova-iorquino de ascendência sueca de nome Roger Tory Peterson teve a visão de produzir um livro de aves ino vador. Chamou-lhe A Field Guide to the Birds e, para marcar bem a diferença, fez questão de acrescentar o subtítulo A Bird Book in a New Plan. A ideia era produzir um livro de pequeno formato, com textos concisos, agrupando espé cies semelhantes em pranchas de ilus trações com pequenas setas, salientan do os pontos-chave essenciais para a
32 | pardela n.º 64 té meados do século XIX, a maior parte dos (poucos) li vros que se publicavam sobre a identificação de aves incluía, sobre tudo, chaves dicotómicas complexas e difíceis de utilizar. É certo que alguns tinham também ilustrações e entre estes cabe salientar os nove volumes sobre aves incluídos na obra enciclo pédica Histoire Naturelle escrita em grande parte por George-Louis Le clerc, conde de Buffon, publicados entre 1770 e 1783, ou o magnífico The Birds of America, de John James Au dubon, originalmente publicado como uma série em secções entre 1827 e 1838. Contudo, estes não eram livros para levar para o campo pois, para além de não existirem observadores de aves, a dimensão de muitos deles nem sequer o permitiria. Eram, sim, para usar nos museus e instituições científicas da época por aqueles que se dedicavam a classificar os exempla res obtidos pelos colectores.
Autor | Helder Costa NOTA: Este autor não segue o acordo ortográfico
Birds Through an Opera Glass Florence Merriam Bailey (1888) A Field Guide to the Birds Roger Tory Peterson (1933)
A Manual of the Ornithology of the United States and Canada Thomas Nuttal (1832-1834)
Contra todas as expectativas, o livro foi um sucesso imediato e esgotou numa semana. O resto é história. Com vá rias revisões e actualizações, continua a vender-se até aos nossos dias e os conceitos que estiveram na sua base perduram ainda na produção dos guias de campo modernos. Roger Tory Peterson pode não ter inventado os guias de campo, mas não é exagero dizer que foi ele quem os moldou, tornando-os naquilo que co nhecemos hoje.
n.º 64 pardela | 33 identificação e dando preferência à uti lidade das ilustrações, mesmo que com sacrifício da sua qualidade artística. Os tempos eram difíceis, pois a América vivia ainda sob os efeitos da Grande Depressão, e encontrar uma editora não foi fácil. A primeira meia -dúzia abordada rejeitou o projecto. Peterson não desanimou e, após algum esforço, conseguiu que a Houghton Mifflin, cujo editor era ele próprio um observador de aves, aceitasse publicar o livro. Ainda pouco convencida da via bilidade da obra, a editora optou por uma abordagem cautelosa e fez uma edição reduzida de 200 exemplares dos quais apenas se comprometeu a pagar royalties sobre as vendas de 100.
The Birds of America John James Audubon (1827-1838)
O
Autora | Ana Pedro SAIBA COMO AJUDAR www.stopbycatch.spea.ptEM
O nosso projeto MedAves Pesca, que trabalhou de perto com pescadores para proteger as aves marinhas, foi condecorado com o Prémio Europeu Natura 2000, na categoria de Conservação Marinha.
Um marco importante no trabalho da SPEA na proteção das aves marinhas
SUCESSOS
Uma vez acoplados às embarcações de pesca, estes engenhos semelhantes a papa gaios de papel oscilam face à ação do vento e simulam a presença de um predador, tendo um efeito dissuasor e evitando que as aves marinhas fiquem presas nas redes, linhas e anzóis; uma ameaça que todos os anos causa a morte de cerca de 200 mil aves em águas europeias.
NaturaoGanhámosPrémio2000
34 | pardela n.º 64 projeto agora distinguido teve como objetivo a miti gação da captura acidental de aves marinhas em artes de pes ca - como redes de emalhar, linhas e anzóis -, através da utilização de “papagaios-afugentadores”.
O Prémio Europeu Natura 2000, uma iniciativa da Comissão Europeia, acontece anualmente e visa reconhe cer a excelência na gestão dos sítios Natura e as conquistas ao nível da con servação, não esquecendo o destaque ao valor acrescentado da rede de áreas de proteção da natureza da União Eu ropeia para as economias locais.
Ajude-nos a levar este trabalho ain da mais longe. Contribua para a nossa campanha #STOP Bycatch.
De acordo com Ana Almeida, Téc nica de Conservação Marinha da SPEA, “é com uma enorme satisfação que re cebemos a notícia desta distinção, não apenas pelo que o projeto MedAves Pesca representa para a preservação das aves marinhas, mas, principalmen te por se tratar de um trabalho desen volvido em cooperação estreita com a comunidade piscatória”. Ainda para esta responsável, “este prémio vai ser um bom contributo para a continuida de do nosso trabalho de sensibilização e implementação, já que é urgente que Portugal implemente um plano de ação para reduzir as capturas de espé cies sensíveis e ameaçadas”, conclui.
Os seus voos acrobáticos e chamamentos estri dentes enchem os céus a partir de fevereiro, depois das longas migrações desde os locais onde inver nam. E, antes de migrarem novamente para sul, no outono, são também interessantes as grandes con centrações de andorinhas em zonas húmidas, por exemplo, onde encontram alimento.
Delichon urbicum
-das-rochasAndorinhaVarela
Presente todo o ano Mais comum no interior centro e norte, em habitats rochosos e escarpados, e também em habitat urbano durante o inverno
© Juan
Andorinha-das-rochas
Andorinha-dáurica ©
© Juan
© Juan
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Ptyonoprogne rupestris
Andorinha-das-chaminés
-dos-beiraisAndorinhaVarela -das-barreirasAndorinhaVarela
Hirundo rustica
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Andorinha-das-chaminés Juan Varela Juan Varela
IDENTIFICAÇÃO DE AVES Andorinhas,sinaisdeprimavera Autores | Mónica Costa e Rui Machado SPEA Dorso preto comreflexos azulados Cauda longa emuito(dourados)emPartebifurcadainferiortonscremes Cauda curta e forcadaligeiramente pequenamaisAndorinha vermelho-escuraGargantaacinzentadocastanho-DorsocomcolarpretoDorso pretocom alaranjadouropígio brancoUropígio nocastanhoColarpeito Cauda curta e quadrada compintas brancas Ventre branco Partebranco-amareladoouinferiordacaudaescuraGargantaeventrebrancos Caudacurta Partes Caudaesbranquiçadascastanho-inferioresmuitobifurcadaPartessuperiorespretasPartes castanhassuperioreseparteinferiorclaraAndorinhagrande
Ocorre entre fevereiro e outubro, mas alguns indivíduos são invernantes
Presente ao longo de Portugal Continental, em zonas humanizadas Ocorre entre fevereiro e outubro Andorinha-dáurica Cecropis daurica Pouco abundante e mais comum no Sul e metade leste do país Ocorre entre março e outubro Andorinha-dos-beirais
Comum, geralmente perto de zonas húmidas. Nidifica em cavidades em barreiras de terra ou de estruturas humanas, como tubos de escoamento de água em paredes.
Abundante de Norte a Sul do país Ocorre entre fevereiro e outubro, mas alguns indivíduos são invernantes Andorinha-das-barreiras
Riparia riparia
Sentimos que a primavera chega quando vemos as primeiras andorinhas.
36 | pardela n.º 64 No nosso país, as temperaturas amenas significam que, mesmo no inverno, não faltam fontes naturais de alimento para as espécies de aves que geralmente visitam comedouros. Ain da assim, se quiser, pode proporcionar um reforço às aves da sua região. Os melhores alimentos para lá co locar são sementes: as que se vendem nos supermercados, “para canários”, são apreciadas por muitas aves de jar dim. Evite dar-lhes pão: para as aves, o pão é como a nossa “junk food”enche-as, sem lhes providenciar os nutrientes de que necessitam. A maior ajuda que pode dar às aves da sua zona é fornecer-lhes uma fonte de água, sobretudo nos dias de maior calor. Um bebedouro onde possam não só matar a sede, como banhar-se, é uma dádiva, e será certamente re compensado com observações sim páticas dos seus visitantes alados. Lembre-se de limpar regularmente o bebedouro e comedouro, para que não acumulem fungos e microorga nismos que possam transmitir doen ças às aves. Encontre mais dicas para ajudar as aves no nosso site:
Autora | Joana Domingues SPEA É frequente sermos contactados por pessoas que querem instalar um comedouro para aves no seu jardim, varanda ou terraço, e procuram saber quais os melhores alimentos a disponibilizar.
A respondeSpea
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Deixamos aqui algumas sugestões, frisando que, em Portugal, a maior dádiva que pode dar às aves é providenciar-lhes água. Que comida devo pôr no meu comedouro para aves?
https://spea.pt/como-ajudar/ajudar-as-aves/ © VidarNordli-Mathi
n.º 64 pardela | 37 Pássaro-Tempo 1 Uma das melhores coisas que podes fazer pelas aves da vizinhança é oferecer-lhes água, sobretudo nos dias de calor. Coloca o teu bebedouro num sítio alto, onde não cheguem gatos nem outros predadores, e não te esqueças de mudar a água e lavá-lo pelo menos uma vez por semana, para não acumular bolores. Por Sonia Neves (texto) e Frederico Arruda (ilustração) Começa por virar o vaso ao contrário. Em seguida aplica cola à volta da base. Coloca as pedras num dos lados. Agora é só veres quem vem visitar o bebedouro.teu Enche o pires com água. Cola o pires à base do teu vaso. 1 2 3 54 6 precisarprecisarVaisde:Vaisde: 1 paraPiresvasos1 Vaso 1 Tubo de cola 3 ou pedras4
38 | pardela n.º 64 Pássaro-Tempo 2 SOLUÇÃO:Ocaminhocertoéocaminho“A” Esta águia está rabugenta de tanta fome e anda à procura de comida. No entanto, tem de ter muito cuidado para não cair numa armadilha ou ficar envenenada! Consegues ajudá-la a encontrar um caminho seguro? Por Sonia Neves (texto) e Frederico Arruda (ilustração) Ui, quefome que tenho!!!eu A b C
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