Pardela 65

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Cagarra UMA VERDADEIRA AVE MARINHA P.32 As aves em revista NÚMERO 65 | OUTONO/INVERNO 2022 | SEMESTRAL | GRATUITA REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES Soluções PARA (SOBRE)VIVER NA ESCURIDÃO P.21 Poluição LUMINOSA, QUANDO A NOITE SE TORNA DIA P.17
DIRETORA : Joana Domingues | FOTO DE CAPA : © Carlos Mendes
1 Pin + 1 Livro de Atividaves ao fazer o upgrade para Sócio Familiar oferta super
Adira até 31 de dezembro em www.bit.ly/CampanhaFamilias

Editorial Breves

Descobertas Novidades do mundo da ciência

Estado das aves em Portugal Muito preocupante mas (ainda) reversível

Milhafre-real

Um visitante especial Desafio Procure estas pistas Sucesso Reserva Biológica do Corvo está a evoluir

Poluição luminosa Quando a noite se torna dia

Biologia Soluções para (sobre)viver na escuridão

Redes de custódia Há novos aliados na conservação da natureza

História(s) com aves O primeiro observador de aves Cagarra Uma verdadeira ave marinha Identificação de aves Escrevedeiras A SPEA responde Juvenis

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CAGARRA Uma verdadeira ave marinha
04 05 08 10 12 14 16 17 21 26 30 32 35 36 37 ÍNDICE 32 21 MILHAFRE-REAL Um
12 © Tânia Pipa © Ignacio Ferre © Ruben Jesus
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visitante especial
BIOLOGIA Soluções para (sobre)viver na escuridão
POLUIÇÃO LUMINOSA Quando a noite se torna dia

Trazer vida à noite

Bringing life to the night

Nesta edição, exploramos o tema da vida na noite. Para muitos animais, é só ao anoitecer que começa o seu tempo de ação. Se estivermos atentos, mesmo durante o dia, encontramos vestígios dessa atividade noturna (página 14). Para tirarem partido das oportunidades que surgem depois das horas crepusculares, aves, morcegos e insetos, entre outros seres vivos, adaptaram-se a essas condições (página 21). Contrariamente aos nossos antepassados que registavam as ocorrências astronómicas e mapearam o céu noturno, criando as suas múltiplas cosmovisões, as sociedades modernas têm produzido cada vez mais luminárias espalhadas pelos campos e cidades, quase apagando a luz natural da noite. Hoje, estamos perante uma enorme poluição luminosa, com uso energético agressivo, que ameaça toda a biodiversidade e nos causa problemas de saúde (página 17).

A SPEA tem vários projetos com a finalidade de contrariar esse problema. Precisamos que a noite volte a ter mais vida! Nesta época, que se diz ser de luzes, apelo a que possam fazer um donativo para voltarmos a captar a verdadeira luz da noite em prol de todos os seres vivos.

FICHA TÉCNICA

PARDELA N.º 65 | OUTONO/INVERNO 2022

DIRETORA: Joana Domingues | joana.domingues@spea.pt

COMISSÃO EDITORIAL: Ana Pedro, Hany Alonso, Hugo Sampaio, Joana Domingues, Mónica Costa, Rui Machado, Sonia Neves e Vanessa Oliveira

PARTICIPAÇÃO REGULAR: Helder Costa

FOTOGRAFIA DE CAPA: Cagarra Calonectris borealis © Carlos Mendes

ILUSTRAÇÕES: Frederico Arruda, Juan Varela e Mike Langman (www.rspb-images.com)

PAGINAÇÃO E GRAFISMO: Frederico Arruda

IMPRESSÃO: Grafisol - Rua das Maçarocas - Abrunheira Business Center nº03, Abrunheira 2710-056 Sintra

TIRAGEM: 1250 exemplares e digital

PERIODICIDADE: Semestral

ISSN: 0873-1124

DEPÓSITO LEGAL: 189 332/02

REGISTO DE PUBLICAÇÃO PERIÓDICA: n.º 127 000

ESTATUTO EDITORIAL: Disponível em www.spea.pt/pt/publicacoes/pardela

Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da SPEA. A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação das mesmas, tendo os autores das fotos utilizadas nesta publicação tomado as precauções necessárias para a minimizar.

A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações.

PROPRIEDADE / EDITOR / REDAÇÃO: Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Pessoa coletiva n.º 503091707. Instituição de Utilidade Pública.

CONTACTOS:

In this edition, we explore the topic of life at night. For many animals, action starts only at dusk. With a little attention, even during the day we can find traces of their night-time activity (page 14). To make the most of the opportunities that arise after sunset, birds, bats and insects, among other wildlife, have adapted to those conditions (page 21). Unlike our ancestors, who registered astronomical occurrences and mapped the night sky, creating their own cosmovisions, modern societies have produced ever more lights dotted around countryside and cities, almost turning off the night’s natural light. Today, we face an enormous light pollution, with agressive energy use, which threatens all biodiversity and causes us health problems (page 17).

SPEA has several projects aiming to conter the problem. We need the night to come back to life! In this season, said to be of light, I ask you to make a donation so we can recapture the night’s true light, for the benefit of all living beings.

Av. Columbano Bordalo Pinheiro, 87, 3.º Andar, 1070-062 Lisboa Tel. +351 213 220 430 | Fax. +351 213 220 439 spea@spea.pt | www.spea.pt

DIREÇÃO NACIONAL

Presidente: Graça Lima

Vice-presidente: Paulo Travassos

Tesoureiro: Peter Penning

Vogais: Alexandre Leitão e Martim Melo

A SPEA é uma organização não governamental de ambiente, sem fins lucrativos, que tem como missão o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações vindouras.

Faz parte da BirdLife International, organização internacional que atua em mais de 100 países. É instituição de utilidade pública e depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar a sua missão.

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EDITORIAL
Esta edição contou com o apoio publicitário de: Opticron Esta publicação foi impressa em papel Arena White Smooth com certificação FSC, a marca da gestão florestal responsável.

Um apagão para trazer vida à noite? Sim. Com a sua ajuda, vamos apagar as luzes da Madeira por uma noite, para mostrar o impacto da luz artificial excessiva. Por cada 10€ que angariarmos na campanha Noite com vida, os nossos municípios parceiros irão desligar um candeeiro de rua. Ajuda-nos a trazer a noite de volta a toda a ilha? Além deste apagão simbólico, o seu donativo irá a ajudar-nos a continuar a salvar centenas de cagarras e outras

Apagão por uma noite com vida Ambiente

aves marinhas que ficam encandeadas todos os anos, estudar o impacto da poluição luminosa nas áreas protegidas da Madeira e dos Açores e trabalhar com os municípios para implementar iluminação pública mais eficiente, mais adequada e mais bem direcionada.

CONTRIBUA PARA ESTA CAUSA

AGENDA EM DESTAQUE

EVENTOS E ATIVIDADES

Assembleia Geral SPEA Março (data a confirmar)

Visita às Canárias Fevereiro/março

Visita ao Sul de Salamanca e Águeda Internacional Junho

2023

O acesso a um meio ambiente limpo, saudável e sustentável passou este verão a ser considerado um direito humano universal, graças a uma histórica votação favorável da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) na sequência da petição #1Planet1Right, assinada por mais de 120 mil

pessoas,lançada pela BirdLife International a nível mundial e pela SPEA em Portugal.

Embora não seja juridicamente vinculativa, a Declaração Universal dos Direitos Humanos representa uma força de ação poderosa, agora também na luta pelo ambiente e pela natureza.

Visita a São Tomé e Príncipe Junho/julho

Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza

Vila do Bispo | 5 a 8 de outubro

Congresso SPEA Novembro

CENSOS DE AVES 2022/2023

Arenaria (CENSO DE AVES COSTEIRAS) Costa Portuguesa | 1 dezembro a 31 janeiro

Noctua (MONITORIZAÇÃO DE AVES NOTURNAS) Portugal continental | 1 dezembro a 15 junho

CANAN (CONTAGENS DE AVES NO NATAL E NO ANO NOVO) Portugal continental | 15 dezembro a 31 janeiro

Dias RAM (CONTAGENS DE AVES MARINHAS) Costa Portuguesa | 1.º sábado do mês

Censo Nacional de coruja-das-torres Portugal continental e Madeira | 1 jan. a 30 jun.

CAC (CENSO DE AVES COMUNS) Todo o país | 1 abril a 15 junho

Censo de Milhafres / Mantas Açores e Madeira | 1 a 2 de abril

Monitorização de aves que dão à costa Todo o país | Todo o ano

SAIBA MAIS EM www.spea.pt/como-ajudar/ voluntariado

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saudável consagrado como Direito Humano Universal
BREVES
SAIBA COMO EM www.noitecomvida.spea.pt
© Rúben Jesus

BREVES

O regresso do abutre-preto

Apagar luzes, salvar cagarras

No projeto LIFE Aegypius Return, financiado pelo programa LIFE da União Europeia e coordenado pela Vulture Conservation Foundation, até 2027, vamos trabalhar com mais 8 parceiros, para conservar e promover o aumento do abutre-preto, que já chegou a estar extinto em Portugal.

A BirdLife International, da qual somos o parceiro em Portugal, celebra em 2022 o seu 100.º aniversário. Fundada por um grupo de visionários que acreditavam que para fazer face às ameaças às aves seria necessário unir esforços entre vários países, a organização tem crescido mas os princípios mantêm-se.

Um século depois, a BirdLife International une parceiros de 117 países e é uma força para a conservação das aves e da Natureza a nível global. Longe de descansar sobre os resultados alcançados, o mote da celebração mostra como a missão da BirdLife continua tão crucial como sempre: “Está na hora”.

Pelo quarto ano consecutivo, a ilha do Corvo deu o exemplo e apagou a iluminação pública para salvar cagarros (ou cagarras, como são conhecidos no continente e na Madeira). Além desta iniciativa, que organizámos com a Câmara Municipal do Corvo, as equipas SPEA nos Açores e na Madeira organizaram também brigadas de voluntários que patrulharam as ilhas para procurar e salvar aves marinhas encandeadas.

Estas e outras ações de projetos como o LIFE Natura@night são especialmente importantes dado que cerca de 75% da população mundial de cagarras nidifica no arquipélago dos Açores, e que as estimativas indicam que todos os anos cerca de 1100 aves marinhas morrem devido à poluição luminosa na Macaronésia.

www.naturaatnight.spea.pt

Combate ao crime ambiental

No âmbito do projeto LIFE Nature Guardians, organizámos um encontro entre responsáveis governamentais de Portugal e Espanha, com o objetivo de estabelecer pontes de colaboração entre os dois países no combate ao crime ambiental. Nesta reunião foram apresentadas propostas como a criação de uma metodologia ibérica comum que permita

que as sanções para crimes contra a fauna sejam equiparáveis nos dois países. Importa agora passar das palavras à ação, até porque, numa sondagem da Marktest realizada em outubro no âmbito deste projeto, cerca de 87% dos inquiridos acredita que os crimes contra o meio ambiente são tão ou mais importantes que outro tipo de delitos.

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100 anos a proteger as aves do mundo
SAIBA MAIS EM © Adam Skalny © Pedro Marques

Metade das aves do mundo em declínio

O relatório State of the World’s Birds 2022 (Estado das Aves do Mundo 2022) pinta a imagem mais preocupante até agora do futuro das aves e de toda a vida na Terra. Quase metade de todas as espécies de aves estão em declínio, e muitas populações estão gravemente reduzidas. Segundo o relatório, publicado pela BirdLife International, uma em cada oito espécies de aves está atualmente ameaçada de extinção. E a situação no nosso país é igualmente preocupante (página 16).

“Uma das ações que este relatório identifica como mais urgentes é proteger as Áreas Importantes para as Aves e a Biodiversidade – áreas como o Estuário do Tejo, que é crucial para milhares de aves a nível internacional, e que está seriamente ameaçado pelo proposto aeroporto do Montijo”, diz Hany Alonso, técnico da SPEA e coordenador de alguns dos censos de aves que fornecem dados para este relatório.

Na Conferência dos Oceanos, Portugal comprometeu-se a desenvolver e aprovar um plano nacional de mitigação da captura acidental de espécies sensíveis nas pescas até ao fim de 2023. Congratulamos o governo por este compromisso, e continuamos disponíveis para colaborar neste trabalho urgente e necessário.

UE aprova abate de corvos-marinhos

Ignorando todas as bases científicas, o Parlamento Europeu votou em outubro a favor de matar corvos-marinhos por se alimentarem nas aquaculturas. Isto apesar de um estudo aprovado pela própria Comissão Europeia ter concluído que essa “gestão” não teria o efeito desejado: se um tanque for uma fonte de alimento apetecível, os poucos corvos-marinhos que sobrarem vão continuar a ir lá alimentar-se.

No projeto On the Wave, que pretende requalificar profissionais do setor marítimo de forma inovadora, vamos desenvolver módulos de formação de curta duração sobre temas relacionados com sustentabilidade marinha, como por exemplo as capturas acidentais de aves marinhas ou o lixo marinho, para capacitar todos aqueles que trabalham no mar. Coordenado pela INOVA+, o projeto tem como parceiros o FOR-MAR, a SIMSEA e a SPEA, e é financiado pelo Programa Crescimento Azul dos EEA Grants, cujo operador em Portugal é a Direção-Geral de Política do Mar.

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BREVES
© BirdLife
www.onthewave-project.eu SAIBA MAIS EM
© David Garcia
International
Formar para a sustentabilidade
Governo promete plano de mitigação para o bycatch
MUNDO 2022 © Luiz Lapa
bit.ly/EstadoAvesMundo ESTADO DAS AVES DO

CIÊNCIA DESCOBERTAS

Impacto do proposto Aeroporto do Montijo

Se implementado, o proposto aeroporto do Montijo poderá levar a uma perda de até 30% do valor de conservação do estuário do Tejo, só em termos de zonas de alimentação no intertidal para aves invernantes. É esta a conclusão de um estudo que salienta ainda que o impacto global será provavelmente maior tendo em conta os efeitos nas zonas de repouso acima da linha de maré e também nas espécies migradoras de passagem, e que estes impactos negativos terão repercussões a nível internacional.

Catry T et al. 2022. Bird Conservation International 32(2): 232-245.

DOI: 10.1017/S0959270921000125

Nova espécie e já criticamente ameaçada

Na ilha do Príncipe, em São Tomé e Príncipe, Martim Melo (membro da Direção Nacional da SPEA) e colegas

descreveram pela primeira vez para a ciência o mocho-do-príncipe (Otus bikegila). Num censo exaustivo em toda a ilha do Príncipe, os investigadores constataram que esta nova espécie apenas existe numa área de cerca de 15km2, no Parque Natural de Obô, pelo que propõem que seja considerada Criticamente Em Perigo.

Melo M et al. 2022. ZooKeys 1126: 1-54. DOI: 10.3897/zookeys.1126.87635

Freitas B et al. 2022. Bird Conservation International 1-10.

DOI: 10.1017/S0959270922000429

Outras novas espécies

Nos últimos meses, foram anunciadas as descobertas de várias novas espécies de aves em diferentes pontos do mundo. No Chile, cientistas descobriram o rabudinho-subantártico (Aphrastura subantarctica), um passeriforme que conseguiu colonizar uma ilha entre a América do Sul e a Antártida, mais tipicamente povoada

por aves como albatrozes. Em ilhas da Indonésia, outros investigadores identificaram várias novas espécies de aves da família dos Nectarinídeos (beija-flores: aves semelhantes a colibris, que também se alimentam de néctar), incluindo uma que vive na orla de vilas e aldeias movimentadas.

Rozzi R, Quilodrán CS et al. 2022. Sci Rep 12: 13957.

DOI: 10.1038/s41598-022-17985-4

Ó Marcaigh F et al. 2022. Zoological Journal of the Linnean Society zlac081.

DOI: 10.1093/zoolinnean/zlac081

Erradicar invasores resulta

Uma análise de 100 anos de trabalhos de erradicação de vertebrados invasores em ilhas demonstra que esta é uma ação crucial que tem contribuído para proteger a biodiversidade mundial.

Spatz DR et al. 2022. Scientific Reports 12: 13391.

DOI: 10.1038/s41598-022-14982-5

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© R. Rozzi © Pedro Geraldes © Martim Melo

Cérebro dos pica-paus

Os pica-paus têm uma zona especializada no cérebro que controla a sua capacidade de tamborilar, batendo repetidamente com o bico nos troncos das árvores. Segundo os cientistas que o descobriram, este conjunto de neurónios tem muitas semelhanças às partes do cérebro das aves canoras que lhes permitem aprender a cantar, levando a crer que, tal como as aves canoras aprendem a cantar, os pica-paus aprendem a tamborilar.

Schuppe ER et al. 2022. PLoS Biology DOI: 10.1371/journal.pbio.3001751

Florestas urbanas têm menos aves

Investigadores na Suécia constataram que, nas cidades, as florestas têm menor diversidade de aves. Comparadas com florestas fora de zonas urbanas, as florestas localiza-

das nas cidades suecas têm, em média, menos 25% de espécies de aves florestais, e metade das espécies de aves ameaçadas.

Sidemo-Holm W et al. 2022. Global Change Biology DOI: 10.1111/gcb.16350

Agricultura amiga das aves

Os pousios são a medida agro-ambiental mais eficaz para proteger as aves, mas apenas se forem mantidos durante pelo menos dois anos. Esta e outras conclusões de uma análise de 143 estudos europeus sobre a conservação de aves de zonas agrícolas são especialmente importantes no contexto da implementação da Política Agrícola Comum.

Sidemo-Holm W et al. 2022. Global Change Biology DOI: 10.1111/gcb.16350

Para aceder aos artigos, vá a www.doi.org e insira o respetivo código DOI.

CIÊNCIA

E ainda...

Aves marinhas reduzem o risco voando para o centro das tempestades

Lempidakis E et al. 2022. PNAS.

DOI: 10.1073/pnas.2212925119

O canto das aves alivia ansiedade e paranoia em pessoas saudáveis

Stobbe E et al. 2022. Sci Rep 12: 16414.

DOI: 10.1038/s41598-022-20841-0

Aves migradoras atraídas pela luz sofrem maior exposição a químicos nocivos

La Sorte FA et al. 2022. Global Change Biology DOI: 10.1111/gcb.16443

Poluição com mercúrio aumenta probabilidade de os patos contraírem gripe das aves

Teitelbaum CS et al. Proc Royal Soc B DOI: 10.1098/rspb.2022.1312

Milhafres nascidos em tempo de seca ficam em desvantagem a vida toda

Sergio F et al. 2022. Nat Commun 13: 5517.

DOI: 10.1038/s41467-022-33011-7

Nos EUA, 44 incêndios foram causados por eletrocussão de aves em linhas elétricas entre 2014 e 2018

Barnes TA et al. 2022. Wildlife Society Bulletin

DOI: 10.1002/wsb.1302

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DESCOBERTAS
© Claudney Neves © Wildmedia

Muito preocupante mas (ainda) reversível

Muitas aves estão a desaparecer a um ritmo alarmante dos nossos campos, bosques, estuários e praias, devido às atividades humanas. Esta é uma das conclusões do relatório O Estado das Aves em Portugal 2022, que publicámos em novembro. O relatório, que compila os resultados de 23 programas de monitorização e censos de aves a decorrer em Portugal, demonstra também o impacto positivo das ações de conservação da natureza.

“Para muitas espécies, o estado das suas populações em Portugal é preocupante, mas em muitos casos ainda reversível”, diz o nosso Diretor Executivo, Domingos Leitão. “Temos provas de que a conservação resulta, e ainda vamos a tempo, se houver vontade política para passar da exploração desmesurada à gestão sustentável.”

Uma das maiores ameaças às aves em Portugal é a intensificação da agricultura, que deixou espécies como o picanço-barreteiro (Lanius senator) ou o sisão (Tetrax tetrax) numa situação periclitante. Esta exploração exaustiva dos nossos campos, com recurso a pesticidas e outros contaminantes, sistemas de regadio que secam a re-

gião circundante, e monoculturas que esgotam a biodiversidade, terá sido uma das causas do declínio preocupante do carraceiro (ou garça-boieira, Bubulcus ibis), cuja população nidificante se reduziu em 77% em apenas 7 anos. Espécies mais comuns, como o peneireiro (Falco tinnunculus) ou a andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica), também têm visto os seus números regredir ao longo das últimas décadas.

Já as aves que fazem o ninho nas nossas praias poderão estar a sofrer com a perturbação das zonas costeiras, que inclui não só uma maior presença humana e de cães, mas também a limpeza mecânica das praias. É o caso do borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus): 3 censos

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PORTUGAL
ESTADO DAS AVES EM
Picanço-barreteiro José Luis Barros

diferentes apontam para um decréscimo muito preocupante desta espécie. Tanto o Arenaria (programa de monitorização de aves costeiras) como o Programa Nacional de Monitorização de Aves Aquáticas Invernantes detetaram reduções muito grandes no número de borrelhos-de-coleira-interrompida que passam o inverno no nosso país, enquanto o censo dirigido especificamente a esta espécie revela que a sua população nidificante diminuiu 46% nos últimos 19 anos.

Igualmente preocupante é a situação de espécies globalmente ameaçadas, como o britango (ou abutre-do-egito, Neophron percnopterus) e a pardela-balear (Puffinus mauretanicus) – a ave marinha mais ameaçada da Europa – que também em Portugal estão em declínio.

Mais encorajadora é a situação atual da gaivota-de-audouin (Larus audouinnii), cuja colónia de nidificação na ilha Deserta, no Algarve, se tornou nos últimos anos na mais importante para a espécie a nível global. O projeto LIFE Ilhas Barreira, coordenado pela SPEA, está desde 2019 no terreno a proteger este local importante e as diversas espécies que dele dependem.

Outro caso de sucesso evidente, reportado neste relatório, é o do grifo (Gyps fulvus), cuja população nidificante teve um crescimento muito importante: há hoje 5 vezes mais grifos a nidificar em Portugal do que há 20 anos, fruto também das muitas medidas de conservação que estiveram em curso ao longo desse período. Infelizmente, algumas ameaças continuam muito presentes, como o uso ilegal de venenos, que afeta os grifos, mas também muitas outras espécies de abutres e águias.

O Estado das Aves em Portugal, 2022 inclui ainda informação de novos censos dirigidos, que vêm trazer dados sobre espécies que não estavam a ser monitorizadas eficientemente nos últimos anos: gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis), gralha-de-nuca-

-cinzenta (Corvus monedula), periquito-de-colar (Psittacula krameri), borrelho-de-coleira-interrompida e coruja-do-nabal (Asio flammeus). No caso da gaivota-de-patas-amarelas, por exemplo, este censo veio mostrar que um terço da população de Portugal continental está a nidificar nos meios urbanos, o que tem conduzido a crescentes interações negativas com as pessoas em algumas cidades.

Os dados que incluídos neste rela tório foram, em grande parte, recolhi dos por centenas de voluntários que dedicaram o seu tempo a observar, contar e registar aves nos diferentes censos e programas de monitorização. Só no censo de milhafres ( rothschildi) nos Açores e de mantas (Buteo buteo harterti) na Madeira, que decorre anualmente sob coordenação da SPEA, já participaram mais de 2300 voluntários desde 2006.

“Temos sempre presente que sem a generosidade dos voluntários, muitos destes censos não seriam possíveis,” diz Domingos Leitão. “Os resultados mostram o poder da ciência-cidadã,

mas por outro lado é triste que não haja mais investimento do Estado na monitorização das espécies. Portugal tem a necessidade e a obrigação de acompanhar o estado da sua biodiversidade e de reportar esses dados à Comissão Europeia. Mas há muitas espécies para as quais há lacunas de informação e se não fossem os voluntários e o envolvimento de inúmeras organizações não-governamentais, para muitas espécies não haveria dados para reportar.”

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CONSULTE O RELATÓRIO bit.ly/EstadoAvesPT2022
Borrelho-de-coleira-interrompida Frank Vassen

Um visitante especial

Durante o inverno, centenas de milhafres-reais (Milvus milvus) escolhem Portugal para escapar às condições climatéricas desfavoráveis do centro e norte da Europa. Estas aves espalham-se pelo interior do nosso país, desde Trás-os-Montes até ao Algarve.

stima-se que entre 2000 e 2500 milhafres-reais passem o inverno no nosso país. Mas a espécie também se reproduz em Portugal, essencialmente nas zonas raianas, de Trás-os-Montes ao Alentejo, com uma população nidificante estimada de 50 a 100 indivíduos que está classificada como Criticamente em Perigo: o nível máximo de ameaça.

Estes milhafres juntam-se em bandos numerosos em torno de fontes de alimento e em dormitórios que podem chegar a ter várias dezenas ou até centenas de aves. Este seu comportamento gregário, aliado ao facto de ser uma

espécie que se alimenta, em parte, dos restos mortais de outros animais, deixa-a vulnerável a uma ameaça em particular: o uso de venenos.

Petiscos arriscados

Com dezenas de aves a alimentar-se de um mesmo cadáver, se esse cadáver estiver envenenado, pode pôr em risco parte substancial da população de uma assentada. Assim, o uso ilegal de venenos constitui uma séria ameaça não só para o milhafre-real mas também para outras espécies icónicas e com comportamento semelhante, como o britango (ou abutre-

-do-egito, Neophron percnopterus), o abutre-preto (Aegypius monachus) e a águia-imperial (Aquila adalberti). Foi o que aconteceu em Idanha-a-Nova, em 2003, quando 33 grifos (Gyps fulvus), 3 abutres-pretos e 3 milhafres-reais foram encontrados mortos por envenenamento, num episódio que ilustra as consequências nefastas desta prática ilegal na vida selvagem e que está longe de ser um caso isolado.

Todos os anos são detetados casos suspeitos de uso ilegal de veneno que resulta na morte de espécies protegidas. E, não são apenas as aves que são afetadas por esta ameaça.

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MILHAFRE-REAL
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E

Também espécies emblemáticas como o lince-ibérico e o lobo-ibérico morrem devido ao uso ilegal de veneno, em Portugal, colocando em causa os imensos esforços de conservação destas espécies. No âmbito do projeto LIFE Nature Guardians, na SPEA temos desenvolvido esforços para combater este e outros crimes contra o ambiente, através de ações com a GNR, com o Instituto para a Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e com o Ministério Público, mas também acompanhando em tribunal vários casos suspeitos de envenenamento de espécies selvagens, em colaboração com o projeto LIFE EuroKite. Vários destes casos dizem respeito à morte de milhafres-reais por uso ilegal de veneno, e são também acompanhados pelo recente Protocolo de Atuação do Programa Antídoto Portugal, que junta ICNF, GNR, Ministério Público e vários laboratórios de toxicologia e centros de necrópsia num esforço de deteção e atuação célere e eficaz que venha a resultar em sanções eficazes, dissuasoras e proporcionais sobre este tipo de crime.

Brigada de limpeza da natureza em risco

A morte de aves necrófagas não representa apenas uma perda ecológica: tem também um grande impacto na vida das populações humanas, uma vez que estas aves desempenham um papel essencial nos ecossistemas. Ao consumirem rapidamente as carcaças de animais que morram nos campos, aves como milhafres-reais, grifos e abutres contribuem para reduzir a transmissão de doenças e prevenir o aumento de pragas. Na Índia, quando na década de 1990 as populações de

abutres sofreram um declínio abrupto, devido a envenenamento por comerem carcaças tratadas com Diclofenac, as populações urbanas de ratos e de cães assilvestrados aumentaram a olhos vistos, com consequências diretas na saúde humana, por transmissão de doenças como a raiva.

Em 2016, cientistas estimaram que os animais necrófagos poupavam aos proprietários de terrenos na União Europeia entre 970 mil e 1,6 milhões de euros, todos os anos, em gastos relacionados com a recolha e incineração de carcaças para evitar problemas de saúde pública.

Não menos importante, e cada vez mais evidente também no nosso país, é a relevância destas espécies para a economia local e regional, através do interesse turístico que geram, atraindo pessoas interessadas em observá-las no seu habitat natural, simultaneamente gerando riqueza através dos seus gastos na hotelaria local e promovendo estes territórios como destinos de interesse.

Este inverno, se vir um bando de milhafres-reais, dê as boas-vindas a estes visitantes que zelam pela saúde dos nossos campos. E, se encontrar uma ave morta e com algum indício de envenenamento, como garras contraídas, ou proximidade a uma carcaça ou parte de carcaça, não lhe mexa (mas fotografias e a localização exata são úteis) e contacte imediatamente a Linha SOS Ambiente e Território, da GNR.

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Autores | Rui Machado e Sonia Neves SPEA Milhafre-real Freepik
A população nidificante está classificada como Criticamente em Perigo: o nível máximo de ameaça.

DESAFIO

Procure estas pistas

Muitos animais apenas estão ativos durante a noite, ou são tão esquivos que raramente os conseguimos observar. Mas, com algum trabalho de detetive, pode encontrar pistas sobre onde andam e o que fazem. Penas e pelos, pegadas e até dejetos podem contar uma história. No seu próximo passeio pela natureza, caminhe lentamente e procure estas pistas.

Preste atenção a zonas enlameadas, onde os animais podem deixar pegadas. Fotografar uma pegada com uma moeda ou uma chave ao lado pode ajudar a estimar o tamanho da pegada, que será útil para identificar quem a terá deixado. Se encontrar várias pegadas no mesmo local, repare em como estão posicionadas, e poderá obter informação sobre como o animal se mexe: animais que saltam, como coelhos deixam conjuntos de pegadas com as grandes marcas das patas traseiras à frente dos pequenos

pontos marcados pelas patas dianteiras.

Bolotas e outros frutos e sementes roídos podem dar pistas sobre quem os terá comido (ou armazenado). Outro indício que revela não só que animais vivem na zona mas também o que comem, são as fezes. Os dejetos de lontra, por exemplo, cheiram geralmente ao peixe e “marisco” que comem, contendo muitas vezes restos reconhecíveis dos mesmos. Tal como nas pegadas, além do habitat onde são encontrados, também o formato, tamanho e posicio-

namento dos dejetos ajuda a identificar quem os deixou.

No caso das penas caídas, além do formato e tamanho, também a cor e o padrão ajudam a identificar a quem pertenceram. Já uma casca de ovo pode indicar não só quem faz o ninho nas redondezas, mas também quem come esses ovos. Por outro lado, um punhado de pêlos presos numa vedação podem indicar que um texugo ou uma doninha se esgueirou ali por baixo. E uma árvore raspada pode ajudar a estimar a idade aproximada (através da altura) de um javali que ali deixou lama e pelos - vestígios que também podem ser úteis em estudos genéticos.

Encontradas as pistas, existe uma panóplia de recursos online e guias de campo que o podem ajudar a identificar os animais que fazem o turno da noite nos seus locais prediletos.

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Pena caída Diogo Oliveira

São Tomé e Príncipe

JUNHO | JULHO 2023

Venha deambular pelos trilhos de floresta, deslumbrar-se com paisagens intocadas, descobrir aves que não existem em mais nenhum local do mundo, deliciar-se com a gastronomia, o cacau, o café... e apaixonar-se por este povo.

n.º 65 pardela | 15 www.spea.pt MAIS INFORMAÇÃO BREVEMENTE EM
Um paraíso tropical repleto de espécies únicas

SUCESSOS

Reserva Biológica do Corvo está a evoluir

AReserva Biológica do Corvo está a ser requalificada e ampliada. Num projeto financiado pelo programa Mar2020 e liderado pela Câmara Municipal do Corvo, vamos remover a vedação anti-predadores deteriorada pelas intempéries, ampliar a área com vegetação nativa, instalar um sistema de afastamento de predadores por ultra-sons, substituir os ninhos artificiais de plástico por ninhos de material mais sustentável e resistente e criar um percurso interpretativo. O objetivo desta intervenção é criar um espaço verde de lazer para a população local e seus visitantes, onde as aves marinhas possam nidificar em segurança.

Esta reserva foi criada em 2012 no âmbito do nosso projeto LIFE Ilhas Santuário para as Aves Marinhas, para estabelecer uma área livre de preda-

dores introduzidos, onde as aves marinhas pudessem nidificar em segurança. Para este fim, foi instalada uma vedação anti-predadores já testada na Nova Zelândia e que se mostrou eficaz nos primeiros anos. Infelizmente, com o passar do tempo e devido às intempéries que assolam a ilha do Corvo, esta vedação, que estava muito próxima do mar, foi-se desgastando. Por isso, optámos agora por removê-la completamente, substituindo-a por uma delimitação em madeira complementada por um sistema de controlo de roedores através de armadilhas Good Nature (sem veneno) e por um sistema de ultra-sons para afastar os gatos da área.

Este projeto de requalificação permitirá também recuperar a área adjacente, outrora usada como local de

entulho, ampliando para 4.3 ha a área coberta por vegetação nativa.

Os ninhos artificiais para várias espécies de aves marinhas, instalados na reserva, serão também alvo de requalificação: estas estruturas de plástico serão substituídas por vasos de barro, já testados com sucesso no projeto LIFE IP Azores Natura.

Estamos também a criar um percurso interpretativo que conta a história da reserva e ajuda a identificar as suas espécies, para que as pessoas possam também desfrutar deste espaço.

SAIBA MAIS EM

www.spea.pt/reserva-biologicado-corvo-vai-ser-requalificadae-ampliada

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Ninhos artificiais na Reserva Biológica do Corvo Tânia Pipa Autora | Sonia Neves SPEA

POLUIÇÃO LUMINOSA

Quando a noite se torna dia

A luz elétrica é tida por muitos como uma das invenções que mais revolucionou a sociedade. Permitiu-nos conquistar a noite, aumentando o número de horas em que podemos estar ativos, tanto para trabalho como para diversão. Mas, este engenho brilhante trouxe-nos também riscos de saúde, e está a pôr em risco espécies e ecossistemas naturais, mesmo longe das grandes cidades.

No meio do Atlântico, nas ilhas e ilhéus da Madeira e dos Açores, aves marinhas como a cagarra (ou cagarro, Calonectris borealis) vêm a terra nas noites de verão, para se reproduzirem. Existem indícios de que estas aves adultas tendem a afas-

tar-se de zonas iluminadas, o que pode significar que, em colónias de nidificação com muita poluição luminosa, os adultos poderão ter de percorrer uma rota maior para irem ao ninho alimentar a cria, pondo em perigo a próxima geração da espécie. Para avaliar esse

possível impacto da poluição luminosa nas cagarras adultas, os técnicos da SPEA Açores colaboraram este verão num estudo pioneiro, em que a ilha do Corvo apagou a sua iluminação pública dia sim, dia não, nas horas mais críticas para estas aves.

A luz elétrica revolucionou as sociedades humanas, mas também trouxe riscos. Manuel Contreras

A atração da luz

Uns meses mais tarde, as luzes artificiais voltam a ter um impacto direto e notório nas aves marinhas juvenis. No outono, os juvenis saem dos ninhos e fazem-se ao mar, onde passarão a maior parte das suas vidas. No escuro da noite, emergem das tocas em que nasceram e procuram o brilho do mar no horizonte. Mas infelizmente, hoje em dia, os reflexos do mar não são o único brilho no Atlântico – nem o mais evidente. As luzes das nossas vilas e cidades iluminam os céus, e estes juvenis pouco experientes são atraídos para zonas humanizadas. Estas aves de hábitos noturnos têm olhos sensíveis à luz, por isso ficam muitas vezes encandeadas pela intensidade das luzes artificiais, acabando por chocar com edifícios, linhas elétricas e veículos. Algumas acabam por cair ao chão, podendo mesmo morrer devido aos ferimentos ou à incapacidade de voar.

Para ajudar estas aves, brigadas de voluntários das campanhas SOS Cagarro nos Açores, e Salve uma Ave Marinha na Madeira, percorrem as ilhas, recolhendo as aves desorientadas e libertando-as junto ao mar. Além da organização de algumas destas brigadas, a SPEA tem também vindo a trabalhar com os municípios para promover apagões durante os períodos mais críticos para as aves. Estas ações pontuais são importantes, mas a poluição luminosa é um problema que tem de ser combatido a longo prazo, pois tem impactes que vão muito para além das aves marinhas.

As tartarugas marinhas, por exemplo, sofrem do mesmo problema que as cagarras: quando as tartarugas bebés eclodem, confundem a iluminação artificial com o brilho do mar, acabando perdidas. Muitas aves migradoras, como os tordos e as toutinegras voam durante a noite, orientando-se pelas estrelas. As luzes artificiais podem fazê-las perder o rumo, atraindo-as para as cidades,

onde milhares morrem todos os anos, no mundo inteiro, por colidirem com edifícios. Mesmo as que escapam a essa sorte despendem muita energia perdidas nos ambientes urbanos, ficando cansadas e vulneráveis a predadores como gatos.

Também muitos insetos noturnos são atraídos pelas luzes, com repercussões que ecoam pelo ecossistema. Os morcegos, por exemplo, estão adaptados a caçar à noite, e evitam zonas iluminadas. Quando os insetos de que se alimentam são atraídos pela poluição luminosa, os morcegos ficam sem alimento. Por outro lado, quando são colocadas fontes de luz artificial junto dos seus dormitórios, esse “dia contínuo” pode fazer com que deixem de sair para se alimentar, acabando por morrer à fome.

Ritmos perigosos

Na verdade, a poluição luminosa afeta os ritmos de vida e comportamento de muitas espécies, incluindo o ser humano. 99% dos habitantes da Europa e dos EUA vivem sob céus noturnos mais brilhantes do que seriam naturalmente. Esta exposição contínua à luz afeta processos vitais como a produção da hormona melatonina: maior luminosidade à noite reduz a produção de melatonina, levando a problemas como privação de sono, fadiga, dores de cabeça, stress e ansiedade. Existem também indícios de que a redução na produção de melatonina devido à maior exposição à luz pode aumentar o risco de cancros com uma ligação hormonal, como o cancro da mama e o cancro da próstata.

A luz artificial altera não só os ritmos de vida humanos, mas também de outras espécies. Um estudo na

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A poluição luminosa está em rápido crescimento Rúben Jesus 99% dos habitantes da Europa e dos EUA vivem sob céus noturnos mais brilhantes do que seriam naturalmente Rúben Jesus
A poluição luminosa afeta os ritmos de vida e comportamento de muitas espécies, incluindo o ser humano.

Alemanha revelou que, por causa da luz artificial e do barulho do trânsito, os melros nas cidades acordam e começam a cantar até 5 horas mais cedo do que os de zonas rurais.

Um problema omnipresente

O impacto da poluição luminosa sente-se até debaixo de água. Estudos com perca-europeia (Perca fluviatilis) demonstraram que até pequenas intensidades luminosas interrompem a produção de melatonina nestes peixes. E quando cientistas colocaram painéis luminosos debaixo de água, junto à costa do país de Gales, constataram que menos animais filtradores colonizavam esses locais, o que poderá indicar que as luzes de plataformas petrolíferas, navios e portos podem estar a alterar os ecossistemas marinhos.

Muitos conservacionistas e investigadores consideram a poluição luminosa uma das formas de poluição em mais rápido crescimento e mais largamente espalhada pelo mundo. O Atlas Mundial do Brilho do Céu Noturno (World Atlas of Night Sky Brightness), um mapa gerado por computador em 2016, a partir de milhares de imagens de satélite, demonstra-o: apenas as zonas mais remotas do planeta (Sibéria, Sahara, Amazónia) permanecem em escuridão total. Em zonas urbanas e industrializadas, o problema é exacerbado pela poluição atmosférica: as partículas de poluentes no ar refletem e difundem a luz, aumentando ainda mais o brilho do céu envolvente.

As luzes das cidades não só impedem cagarras, toutinegras e tartarugas de encontrarem o seu caminho, mas também nos impedem a nós, humanos, de desfrutar do céu noturno. Em 1994, quando um terramoto cortou a

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No projeto LIFE Natura@night, estamos a estudar o impacto da poluição luminosa nas aves marinhas. Elodi Crepin
A luz artificial altera não só os ritmos de vida humanos, mas também de outras espécies.

eletricidade em Los Angeles, muitos habitantes da cidade contactaram os centros de emergência, preocupados com uma “nuvem prateada gigante” no céu noturno. Era a Via Láctea, que há anos estava encoberta pelo brilho urbano.

Não é realista pensar que vamos abandonar esta invenção que alterou tão profundamente os nossos hábitos e se tornou uma constante das nossas vidas, mas podemos fazer alterações para minimizar riscos para a nossa saúde e permitir que as noites continuem a ter vida natural. Nem todas as zonas poderão vir a ser Reservas Dark Sky (em Portugal temos duas), mas edifícios empresariais e públicos, hotéis, campos de futebol e monumentos podem desligar o máximo de luzes durante a noite, para minimizar a iluminação desnecessária. Podemos fechar os estores ou persianas, assegurar que os candeeiros de rua e outras fontes de iluminação apontam

a luz apenas para onde é necessária, para evitar dispersar luz. Podemos trocar a luz azul ou branca (mais nociva) por luz de tons mais quentes.

E, é claro, sempre que possível podemos desligar a luz. É uma exce-

Por uma noite com mais vida

No projeto LIFE Natura@night, estamos a estudar os efeitos da poluição luminosa na Macaronésia (Madeira, Açores e Canárias), especialmente nas zonas protegidas da Rede Natura 2000, e a implementar soluções para minimizar este problema, num esforço que envolve municípios, governos locais, empresas de iluminação e organizações de astronomia e conservação da natureza.

As luzes dificultam a vida aos animais que se orientam pelas estrelas, fazendo com que a Via Láctea seja uma visão cada vez mais rara

lente oportunidade de reduzir o consumo de energia, que tanto se fala atualmente, conciliando com uma melhoria de vida para a biodiversidade e para nós. Pelo menos nalgumas circunstâncias, talvez esteja na hora de abraçarmos a escuridão.

SAIBA MAIS EM www.naturaatnight.spea.pt

Autora | Sonia Neves SPEA

Ajude-nos, contribuindo para a nossa campanha de angariação de fundos: www.noitecomvida.spea.pt

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Soluções para (sobre)viver na escuridão

Estar ativo de noite pode permitir evitar predadores ou competidores, portanto talvez não seja surpreendente que muitos animais tenham evoluído para tirar partido desse horário vantajoso. Mas a vida depois do sol-posto traz os seus próprios desafios, que vários grupos de animais superam com adaptações que vão do óbvio ao obscuro.

Odesafio mais óbvio para os animais noturnos é, claro, o de ver no escuro. Aves noturnas como mochos, corujas e noitibós têm olhos que evoluíram para captar o máximo de luz possível. Os olhos destas aves são grandes - no caso das corujas e mochos, o enorme tamanho dos olhos, juntamente com o seu formato, mais achatado que o globo ocular humano, impedem-nos de virar; têm de girar a cabeça quase

toda, o que levou a que o seu pescoço se tornasse extremamente flexível, para poder rodar cerca de 270°. Ao nível celular, a sua retina tem uma maior concentração de bastonetes, as células especializadas em captar a luz.

E, atrás da retina, têm uma camada refletora chamada tapete lúcido, que reflete a luz de volta ao olho para tirar o máximo partido de cada fotão que lhes chega. Também muitos mamíferos de hábitos noturnos têm estas adaptações

– o tapete lúcido é o que faz com que os olhos dos gatos, por exemplo, pareçam brilhar na escuridão. Além disso, nos bastonetes dos mamíferos noturnos o ADN está organizado de forma a funcionar como uma micro-lente que foca ainda mais a luz. Já as rãs e sapos têm, nos seus olhos, dois tipos diferentes de bastonetes, que lhes permitem ter visão a cores mesmo na escuridão total, quando nós humanos não conseguimos ver absolutamente nada.

BIOLOGIA
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Também os insetos que estão mais ativos à noite têm uma excelente visão noturna, graças a adaptações não só dos olhos mas também do sistema nervoso, na forma como consegue integrar e processar a informação visual. Muitos destes insetos, em particular as traças e borboletas noturnas, são particularmente sensíveis à radiação ultravioleta, o que lhes permite detetar as flores de que se alimentam – muitas delas têm padrões ultravioleta, invisíveis aos nossos olhos mas facilmente detetados pelos insetos de que dependem para a polinização.

A importância do olfato

Outra forma de as traças e borbole tas noturnas encontrarem as flores de que se alimentam é detetando o dióxi do de carbono que as plantas emitem. A capacidade de detetar moléculas dispersas pelo ar é, aliás, extremamen te importante para estes insetos que estão ativos durante as horas de es curidão, pois permite-lhes comunicar entre si. As borboletas noturnas, por exemplo, têm geralmente as antenas (o órgão que usam para detetar esses odores) mais desenvolvidas do que as borboletas diurnas, com os machos a apresentarem antenas especialmen te vistosas, maiores e mais “peludas”, para detetarem as feromonas produzi das pelas fêmeas.

Em aves marinhas como as cagar ras, que estão também ativas durante o dia, as adaptações à vida noturna são menos extremas. Assim, embora os seus olhos sejam mais sensíveis à luz, com uma lente maior que ajuda à visão noturna (e as torna sensíveis à polui ção luminosa - ver página 17), para en contrar o seu ninho à noite recorrem a outro sentido: o olfato. Numa expe riência realizada na Selvagem Grande, no arquipélago da Madeira, cientistas demonstraram que cagarras às quais foi temporariamente bloqueado o ol facto não conseguiam regressar à co lónia de nidificação durante a noite, tendo de esperar pelo dia para pode rem usar pistas visuais para se orientar.

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As borboletas noturnas têm geralmente as antenas mais desenvolvidas Ben Sale As escamas de algumas espécies de traça absorvem as ondas sonoras emitidas pelos morcegos Sahil Muhammed

Ouvir e não ser ouvido

Outro sentido que os animais noturnos frequentemente têm bem desenvolvido é a audição. A típica cara arredondada de muitas corujas e mochos tem um rebordo de penas fininhas que funciona como uma parabólica, encaminhando as ondas de som para os ouvidos da ave, localizados na margem interior desse rebordo. Estas aves têm ainda um ouvido mais acima que o outro, o que lhes permite triangular com grande precisão a origem do som – essencial para capturar presas esquivas no escuro ou até debaixo

Já os morcegos são famosos por usar ativamente o som para penetrar a escuridão. Como o sonar de um barco, usam a ecolocalização, emitindo estalidos e guinchos e detetando os seus ecos para construir um mapa mental do que os rodeia. Estudos recentes mostram que, tal como nós conseguimos identificar a voz de familiares e amigos, os morcegos conseguem distinguir outros indivíduos da sua espécie, só pelas assinaturas dos seus chamamentos de ecolocalização. Esta capacidade de “ver” através do som permite a muitas espécies de morcegos alimentar-se de um recurso que os predadores diurnos não exploram: os insetos noturnos. Ao longo dos tempos, esses insetos foram também evoluindo, apresentando características e estratégias para escapar ao “sonar” dos morcegos. Esta corrida evolutiva é particularmente notória nas traças, muitas das quais desenvolveram ouvidos sensíveis aos chamamentos

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Outro sentido que os animais noturnos frequentemente têm bem desenvolvido é a audição.
No inverno, quando os insetos noturnos escasseiam, os morcegos hibernam Jodi Confer

de ecolocalização dos morcegos. Assim, conseguem detetar morcegos que se aproximem, e fugir ou esconder-se na vegetação. Algumas espécies de traça produzem elas próprias sons de alta frequência, que alertam os morcegos de que são tóxicas: os morcegos ouvem os sons e aprendem a associá-los a um mau gosto, parando de caçar aquela espécie. Outras espécies de traça foram ainda mais longe, produzindo sons que interferem com a orientação dos morcegos: os seus sons sobrepõem-se aos estalidos dos predadores, confundindo-os e dificultando-lhes a tarefa de encontrar a presa.

Mas algumas espécies de traça não têm ouvidos, portanto não conseguem ouvir os morcegos para tomar medidas evasivas. Para estas traças, a solução passou por modificar o seu próprio corpo. Nalgumas espécies, as minúsculas escamas que cobrem as asas e corpo das traças evoluíram de forma a absorver as ondas sonoras emitidas pelos morcegos, tornando-as invisíveis ao “sonar” destes predadores. Outras espécies de traças sem ouvidos desenvolveram estruturas retorcidas na ponta das asas, que refletem muito bem o som em muitos ângulos diferentes, tornando-se um chamariz para os morcegos. Estudos mostram que os morcegos têm tendência a atacar estas estruturas, deixando intactas as partes sensíveis do corpo da traça, que assim sobrevive mais uma noite.

um voo silencioso, graças às franjas nas penas das suas asas, que alteram a turbulência do ar, absorvendo o ruído que seria causado pelo bater das asas, e permitindo-lhes assim aproximar-se silenciosamente das suas presas.

Pelo menos uma espécie de aranha, a aranha-tarrafeira (ou aranha-cara-de-ogro, Deinopis spinosa), usa o som para detetar tanto predadores como presas, apesar de não ter ouvidos. Quando os pelos nas suas patas, que são sensíveis às vibrações, detetam o som de moscas, mosquitos ou traças a voar por perto, a aranha apanha-as com uma “rede” de teia estendida entre as 4 patas dianteiras. Se esses mesmos pelos detetarem sons de alta frequência, a aranha fica imóvel – talvez por os associar ao canto de aves que podem comê-la, dizem os cientistas.

conjunto de pelos especializados é um auxílio especialmente importante na escuridão: os bigodes ajudam-nos a encontrar alimento e a evitar obstáculos. Um estudo de 2020 indica que as penas semelhantes a bigodes que os noitibós têm em redor do bico podem ter também essas funções.

Quente e frio

Caçar insetos noturnos permite aos morcegos recorrer a uma fonte de alimento para a qual têm poucos competidores, mas quando as temperaturas começam a descer, esta estratégia traz um desafio: no inverno, os insetos noturnos são escassos. Para sobreviver a esse período de escassez alimentar, e evitar gastar imensa energia passando noites a voar em busca de presas quase inexistentes, os morcegos hibernam. Durante a hibernação, reduzem os gastos energéticos ao mínimo, baixando a sua temperatura corporal e reduzindo o batimenEsta

Esta corrida evolutiva entre morcegos e traças é a prova viva de que o segredo para sobreviver à noite está tanto em ouvir como em não ser ouvido. Mochos, corujas e noitibós têm

Também em muitos mamíferos noturnos, desde felinos a roedores, um

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corrida evolutiva entre morcegos e traças é a prova viva de que o segredo para sobreviver à noite está tanto em ouvir como em não ser ouvido.
Os noitibós, tal como os mochos e corujas, têm um voo silencioso Freepik

Os esquilos-terrestres-da-califórnia aumentam a temperatura da cauda para confundir as cascavéis

to cardíaco a 4 pulsações por minuto. Para além de migrarem para latitudes mais quentes no inverno, também alguns noitibós entram num estado de dormência, baixando a sua temperatura corporal quando as noites são particularmente frias ou há pouco alimento disponível.

Mas para outros seres noturnos, a temperatura fornece outra forma de “ver” na escuridão. Vários grupos de cobras conseguem detetar o calor emitido pelo corpo das suas presas, sob a forma de radiação infravermelha. E, à semelhança das traças que enganam os morcegos, também algumas presas usam estratégias para ludibriar este sexto sentido das cobras: os esquilos-terrestres-da-califórnia (Spermophilus beecheyi) usam um truque semelhante nas cascavéis: aumentam o fluxo de sangue para a cauda, para esta ficar à mesma temperatura que o resto do corpo, e agi-

tam-na veementemente. Assim, para a cobra parecem ter o dobro do tamanho e dar luta.

Perigos distintos

Os animais que se tornaram senhores da noite são afetados por fatores que não influenciam diretamente as espécies diurnas. É o caso das fases da lua e, no último século, da poluição luminosa. No nosso projeto LIFE Natura@night, estamos a estudar a vida noturna de insetos, aves marinhas e morcegos, e a forma como é afetada pela poluição luminosa nos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias.

www.naturaatnight.spea.pt

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SAIBA MAIS EM Autora | Sonia Neves SPEA Santonii Yurii

Há novos aliados na conservação da natureza

O aumento da consciencialização e dos esforços de conservação de algumas espécies tem levado à criação de estratégias inovadoras de atuação.

No terreno, as redes de custódia são um bom exemplo, com implementações de sucesso registadas na Península Ibérica (sobretudo em Espanha), e não só. A Xarxa per a la Conservació de la Natura (XCN), entidade catalã de utilidade pública, com que estamos a trabalhar no âmbito do projeto LIFE LxAquila, tem desenvolvido um trabalho pioneiro nesta abordagem que assenta na ligação com proprietários de terrenos privados, sobre o qual fomos saber mais, com Sandra Carrera e Anabel Cepas, respetivamente diretora e coordenadora de projetos na organização.

O que são e como funcionam as redes de custódia?

As redes de custódia correspondem a uma estratégia que envolve proprietários e utilizadores (agricultores, silvicultores, pastores, caçadores, pescadores, recreacionistas passivos)

na conservação da natureza e da paisagem, com o apoio de um conjunto alargado de grupos da sociedade civil. Visam manter e restaurar a integridade ecológica e os valores da paisagem, natureza e biodiversidade, através de acordos voluntários entre proprietários/utilizadores e organizações de gestão das terras.

O trabalho no terreno tem por base uma série de ferramentas com vista à conservação dos valores naturais, paisagísticos e culturais de áreas privadas, que por razões económicas ou políticas não estão sob proteção estrita, ou onde o objetivo é manter usos da terra que sejam benéficos para a natureza. Geralmente, estes métodos focam-se em incentivar os proprietários de terras e utilizadores a gerir áreas para proteger ou aprimorar esses valores, ou permitir que outros façam essa gestão da biodiversidade e herança natural.

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REDES DE CUSTÓDIA

No terreno, as redes de custódia são um bom exemplo, com implementações de sucesso registadas na Península Ibérica, e não só.

As redes de custódia ajudam a conservar a Natureza para além das áreas protegidas XCN

Em que medida são as redes de custódia diferentes das formas mais “tradicionais” de fazer a conservação da natureza?

A abordagem de custódia – que encoraja a responsabilidade individual e comunitária pelo uso sustentável dos recursos naturais – oferece um meio de estender as práticas de conservação além dos limites das áreas protegidas convencionais.

A custódia é um conceito especialmente útil nos muitos casos em que o objetivo é a gestão sustentável – em vez de proteção ou preservação absoluta – dos recursos naturais. Embora as ferramentas de custódia possam ser empregues para impedir o uso de áreas específicas, elas são mais frequentemente usadas para restringir certos usos (por exemplo, práticas agrícolas, florestais ou de caça intensivas) ou para manter ou restaurar outros (por exemplo, agricultura extensiva, uso de terras ecologicamente sensíveis).

Uma abordagem de custódia é frequentemente implementada onde uma abordagem de preservação da natureza estrita pode não ser adequada. À medida que as técnicas são introduzidas a uma gama mais ampla de atores e adaptadas para usos em novas regiões, a custódia pode oferecer novas maneiras de atingir os objetivos de conservação dentro e fora das áreas protegidas. É um complemento, não um substituto para essas outras abordagens.

Na Europa, a custódia pode tornar-se uma estratégia de gestão moderna e sólida de terras rurais de propriedade privada e local, relacionada com práticas agrícolas e florestais sustentáveis e ecológicas, com elementos de restauro e manutenção de habitats através de práticas inovadoras ou tradicionais.

tados a cada caso, sem que impliquem um ónus legal para o proprietário. No cenário de mudanças climáticas, a flexibilidade no cronograma de acordos e contratos de custódia pode ser uma vantagem para se adaptar às novas condições ambientais.

As oportunidades compartilhadas podem ser o ganho de visibilidade e reconhecimento público, a relação com redes de diversos atores ou a contribuição para a sustentabilidade a longo prazo de uma terra com valores ambientais.

Para as ONG, as redes de custódia contribuem para o estabelecimento de uma estrutura maior para atingir os objetivos de conservação de forma transparente e formalizada; promover a conservação ativa da natureza através de voluntários em novos espaços; envolver-se com projetos de investigação e financiamento para conservação da natureza nas propriedades sob tutela; expandir áreas naturais de alto valor sem compra de terras

de maneira económica para as ONG conservacionistas.

Existem desafios associados à gestão das redes de custódia?

Sim, existem vários desafios, sendo um dos mais representativos a falta de um suporte económico estrutural para a custódia. Mesmo que na maioria dos países exista reconhecimento legal da custódia, falta uma abordagem abrangente em toda a União Europeia (UE). As diferenças entre os sistemas jurídicos dos vários países podem implicar que as estruturas aplicadas num país não possam ser completamente apropriadas para outro. O ajuste exato dependerá do sistema legal de cada país. Muitas vezes as partes carecem de conhecimento jurídico para estabelecer um plano concreto sobre os compromissos de ambas e o procedimento em caso de rescisão antecipada do contrato. Existe também a necessidade de construir confiança entre as partes envolvidas, o que pode ser demorado…

Os contratos e acordos de custódia têm prazos flexíveis e podem ser adap-

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Que vantagens destacam na aplicação desta abordagem?
XCN
Esta abordagem combina práticas inovadoras e tradicionais para restaurar e manter habitats.

Podem partilhar algum caso de sucesso de implementação da abordagem?

Um exemplo claro de custódia bem sucedida é o caso das lagoas temporárias denominadas «La Gutina», dentro da propriedade de Mas Torres, na montanha Albera (Girona, Espanha).

Neste ecossistema tipicamente mediterrânico, há quatro lagoas temporárias. Estas lagoas caracterizam-se por uma diversidade florística e faunística elevada, sendo que as suas particularidades e composição de espécies tornam-nas num ecossistema frágil e ameaçado à escala da UE, enquadrado ao abrigo da Diretiva Habitats na Rede Natura 2000, com a classificação de Sítio Importância Comunitária.

Antes de 2015, haviam apenas duas lagoas temporárias na propriedade e grande parte do património natural e

de espécies não estavam presentes nas lagoas. A terceira lagoa, chamada Prat dels Rosers foi drenada no século XX e, através de um canal de irrigação, escoou a água para as vinhas próximas da propriedade. Assim, esta lagoa foi seca e passou por um processo de invasão de mato e arborização.

Como conseguiram passar dessa situação para um “final feliz” para a conservação?

A recuperação da lagoa Prat dels Rosers é uma história de sucesso para a organização de custódia Institució Alt Empordanesa per a la Defensa i Estudi de la Natura (IAEDEN ). Em 2011, a IAEDEN assinou um contrato de gestão com a propriedade, uma produtora de vinho ecológico, com o objetivo de preservar as duas lagoas iniciais e os seus valores naturais. Após conversas com os proprietários, percebeu-se que existia uma terceira lagoa e, por

isso, entre 2014 e 2015 foi iniciado um projeto de recuperação da terceira lagoa, com o apoio dos proprietários.

As ações realizadas consistiram em estudos hidrogeológicos para analisar e restaurar a lagoa, para evitar a drenagem para vinhedos próximos, nos quais também colaboraram voluntários. O projeto permitiu identificar uma quarta lagoa, na qual foram realizadas ações semelhantes.

O restauro destas duas lagoas aumentou a superfície de habitats raros e contribuiu para a viabilidade das metapopulações das lagoas. O estudo do banco de sementes e da composição florística permitiu determinar as espécies que estão associadas a estes habitats temporários. Assim, o projeto ofereceu uma solução vantajosa para os proprietários, pois a água drenada para os vinhedos próximos era um problema para a sua produção, e a IAEDEN conseguiu recuperar um habitat de interesse comunitário, com ações compatíveis com a produtividade da propriedade.

Rede de custódia pelas águias

Em Portugal, mais concretamente na região da Grande Lisboa, estamos a aplicar a abordagem das redes de custódia no nosso projeto LIFE LxAquila, no qual pretendemos criar uma rede composta por proprietários de terrenos privados e entidades públicas, que serão guardiões dos valores naturais da região, e em particular das águias-de-bonelli, para assim demonstrar que é possível compatibilizar a conservação de predadores de topo com as atividades humanas.

www.sosaguias.spea.pt

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Autora | Ana Pedro SPEA Entrevistadas | Sandra Carrera Diretora da Xarxa per a la Conservació de la Natura Anabel Cepas Consultora jurídica e coordenadora de projetos da Xarxa per a la Conservació de la Natura As redes de custódia envolvem ativamente os proprietários na conservação dos valores naturais XCN

HISTÓRIA(S) COM AVES

O primeiro observador de aves

Uma das representações mais antigas conhecidas de uma ave data de algures entre 30 000 a 33 000 anos atrás e está na parede da gruta Chauvet, em França, onde um artista desenhou com as mãos um mocho, provavelmente um bufo-real. A pintura foi decerto feita por motivos místicos, mas os detalhes não deixam dúvidas: já na pré-história existiam observadores de aves.

Com efeito, as pessoas desde sempre observaram aves, mas durante séculos isso era feito sobretudo por motivos práticos ou religiosos e não por motivos lúdicos ou científicos.

Saber quem foi o primeiro observador de aves, no sentido moderno do termo, pode parecer uma tarefa impossível mas, curiosamente, parece haver algum consenso acerca do assunto. Para encontrar a resposta é preciso recuar até à Inglaterra rural do século XVIII e à aldeia de Selborne, em Hampshire. Era aí que vivia o reverendo Gilbert White (1720-1793), que era o pároco local.

Observar aves no século XVIII devia ser um pesadelo. As deslocações eram difíceis, pois as estradas eram poucas e os meios de transporte quase inexis-

tentes. Não havia guias de campo nem binóculos. Não havia ninguém com quem falar sobre o assunto nem possibilidades de aprender. Sobretudo, não havia mentalidade. Andar sozinho pelo campo, sem motivo aparente, seria decerto considerado uma excentricidade. Na melhor das hipóteses, podia-se ser dado como louco. Na pior, podia-se ser acusado de bruxaria. Nenhum desses constrangimentos impediu Gilbert White de dar azo à sua paixão naturalista. Sendo o pároco da aldeia tinha liberdade de movimentos. Não só ninguém estranhava que andasse sozinho como até era suposto que o fizesse para visitar os seus paroquianos ou para meditar. Ele aproveitou.

Gilbert White era um observador meticuloso que, como era norma na altura, também colecionava espécimes de aves e não só. Gostava de procurar

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Pintura rupestre na gruta de Chauvet, França Claude Valette

diferenças entre espécies semelhantes e foi o primeiro a confirmar as suspeitas de que havia mais do que uma espécie de felosa nas ilhas Britânicas. Apesar de não lhes ter atribuído um nome científico, distinguiu três espécies: felosinha-comum (Phylloscopus collybita), felosa-musical (Phylloscopus trochilus) e felosa-assobiadeira (Phylloscopus sibilatrix). As suas descrições das aves, tirando os anacronismos da linguagem, são tão claras e concisas que poderiam perfeitamente fazer parte de um guia de campo moderno.

Gilbert White nunca saiu de Selborne e publicou as suas observações em 1789 naquele que é considerado um dos melhores livros de história natural alguma vez escritos: The Natural History of Selborne. Na altura, o livro foi bem aceite pela crítica mas não foi um sucesso comercial. Contudo, cerca de

200 anos depois continua a ser reeditado e vendido no Reino Unido, onde é considerado um clássico intemporal.

Não obstante a sua grande contribuição para o estudo e a observação das aves, Gilbert White era um homem deslocado no tempo e seria preciso esperar até aos finais do século XIX e inícios do século XX para que a observação de aves emergisse e se consolidasse como passatempo popular. A expressão «Bird Watching» foi usada pela primeira vez, em 1901, pelo ornitólogo e escritor inglês Edmond Selous no título de um dos seus livros, tendo sido adoptada desde aí para designar de forma abrangente a actividade lúdica que hoje se conhece e muitos praticam.

| Helder Costa

NOTA: Este autor não segue o acordo ortográfico

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Autor
Só em finais do século XIX e inícios do século XX é que a observação de aves emergiu e se consolidou como um passatempo popular.
Gilbert White, o primeiro “birdwatcher” Autor desconhecido

CAGARRA

Uma verdadeira ave marinha

Tão ágil no mar como desajeitada em terra, a cagarra (Calonectris borealis) é a mais abundante das aves marinhas que nidificam em Portugal.

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Cagarra Tânia Pipa

Facilmente observada a partir de cabos e promontórios junto à costa, esta ave tem um voo característico, com longos deslizes sobre a superfície da água. Se conseguir ver a cor do bico, não há que enganar: a cagarra é a única pardela com o bico amarelo, sendo também conhecida como pardela-de-bico-amarelo. A maior das pardelas da Europa, tem uma cabeça robusta e arredondada, é parda-acinzentada nas zonas superiores e branca na zona inferior. Ao contrário da pardela-de-barrete, uma espécie de tamanho similar, a cagarra não tem “barrete” escuro nem colar branco.

A cagarra é verdadeiramente uma ave marinha: passa praticamente toda a vida no mar, vindo a terra apenas para nidificar. A partir de março procura uma cavidade natural, como uma fenda nas rochas ou sob um amontoado de pedras, ou uma toca no solo, onde irá pôr o ovo. Nessa altura, quando estão no mar, as cagarras formam frequentemente “jangadas”: grandes grupos de aves pousadas na água, perto das colónias.

Em Portugal, a cagarra nidifica exclusivamente nos Açores, na Madeira e nas ilhas das Berlengas, situadas na

costa de Peniche. Cerca de 75% da população mundial nidifica no arquipélago dos Açores, onde todas as ilhas albergam cagarras, ou cagarros, como são conhecidos no arquipélago.

Esta espécie põe apenas um ovo, e não repõe a postura se acontecer algum percalço. Ambos os progenitores cuidam da cria, fazendo muitas vezes longas viagens pelo mar, em busca de alimento. Quando visitam as colónias de reprodução durante a noite (guiando-se pelo olfato – saiba mais na página 21), as cagarras emitem vocalizações características, que nos permitem distinguir os machos das fêmeas: as dos machos são mais agudas. Sob o cuidado dos pais, as crias de cagarra acumulam impressionantes reservas de gordura: chegam a ficar com o dobro do peso dos adultos! Estas reservas são essenciais para a sua sobrevivência, uma vez que os pais se ausentam frequentemente durante

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A cagarra é a única pardela com o bico amarelo Tânia Pipa
Cerca de 75% da população mundial nidifica no arquipélago dos Açores, onde todas as ilhas albergam cagarras.

Todos os anos, salvamos centenas de cagarras encandeadas pelas luzes

vários dias nas longas viagens em busca de alimento, e as crias necessitam de continuar a crescer. Essas reservas de gordura são também importantes na fase final do seu desenvolvimento, pois os progenitores abandonam o ninho e iniciam a migração para sul vários dias antes de a cria estar apta a sair do ninho. Na altura certa, a jovem cagarra abandona o ninho durante a noite. Se conseguir não ficar desnorteada ou encandeada pelas luzes de vilas e cidades (saiba mais na página 17), faz-se ao mar, onde irá juntar-se a outros juvenis da espécie e viver durante os sete a nove anos seguintes, até chegar à maturidade sexual, altura em que retornará à colónia onde nasceu.

Apesar de poder viver mais de 30 anos, o facto de por apenas um ovo por ano e de levar tanto tempo a atingir a idade reprodutora faz com que a

espécie seja muito vulnerável a ameaças como a predação por espécies invasoras (como o rato-preto ou os gatos) ou a capturas acidentais na pesca.

Ajude a salvar cagarras

Todos os outonos, procuramos voluntários para nos ajudarem a patrulhar a Madeira e os Açores, em busca de cagarras encandeadas para as ajudarmos a chegar ao mar em segurança. Esteja atento ao nosso site, newsletters, Facebook, Instagram e Twitter, e se puder junte-se a nós nas campanhas Salve uma Ave Marinha (Madeira) e SOS Cagarro (Açores).

Mas não precisa de esperar até ao próximo outono, nem sequer de sair de casa, para ajudar: contribua para a nossa campanha de angariação de fundos, e ajude-nos a perceber me-

lhor quais os impactos da poluição luminosa nesta e noutras espécies, e a mitigá-los. E depois de fazer o seu donativo, passe a palavra: se todos contribuirmos com o mínimo que seja, podemos fazer uma grande diferença.

www.noitecomvida.spea.pt

A cagarra e a SPEA

A cagarra foi a ave representada no nosso primeiro logotipo, e o outro nome comum pelo qual é conhecida (pardela-de-bico-amarelo) é a razão do título da nossa revista Pardela.

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Autora | SoniaNeves SPEA SAIBA COMO AJUDAR EM Sob o cuidado dos pais, a cria acumula reservas de gordura impressionantes Tânia Pipa Técnicos SPEA monitorizam regularmente as colónias desta espécie Tânia Pipa Carlos Mendes

IDENTIFICAÇÃO DE AVES

Escrevedeiras

Pertencente à grande família Emberizidae, as escrevedeiras possuem um bico triangular, óptimo para debicar pequenas sementes, o seu alimento favorito. O padrão da plumagem é bastante típico, normalmente com riscas alternadas de tons pretos, castanhos e cremes e característicos padrões faciais. Apresentamos as três espécies mais comuns desta família em Portugal, todas elas residentes. Não perca a próxima edição em que iremos falar das outras espécies, que apenas nos visitam no verão ou no inverno.

Escrevedeira

(ou escrevedeira-de-garganta-preta)

Emberiza cirlus

Distribui-se de norte a sul do país, em bosques e outras zonas arborizadas.

Trigueirão

Emberiza calandra

Prefere zonas de pastagem, searas, montados abertos e paisagens em mosaico.

Cia

Emberiza cia

Prefere habitats montanhosos, com matos e áreas rochosas

Cia

© Juan Varela

Dorso castanho-ferrugíneo com riscado preto

Listas pretas sobre cabeça cinzenta

| Mónica Costa e Rui Machado

Escrevedeira (macho)

Dorso malhado

Uropígio cinzento-esverdeado

Lista ocular e garganta pretas

comAlternam

barras amarelas

Escrevedeira

Cabeça com riscas menos contrastantes, castanho e amarelos

Trigueirão

© Mike Langman ( rspb.images.com)

Dorso com coloração castanha Grande e robustoo

Garganta cinzenta

Ventre castanho-ferrugíneo

Patas rosadas

(fêmea)

© Mike Langman ( rspb.images.com)

Dorso malhado

Uropígio cinzento-esverdeado

Bico grosso, com mandíbula inferior amarelada

Peito e ventre branco-amarelado com riscado preto

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Autores
SPEA

? A Spea responde

Vi uma ave com um “anel” na pata. O que é? Quem devo informar?

Ao observar uma ave, pode dar-se o caso de reparar que ela tem um ou vários “anéis” nas patas, com uns números ou letras. Tratam-se de anilhas: um identificador único que permite aos cientistas acompanhar aquela ave, estudar a espécie e obter dados que podem ser importantes para a sua conservação. E você pode ajudar.

A data e local da observação

O código da anilha

A cor da anilha e a cor das letras

Em que parte do corpo está a anilha (p.ex. pata esquerda, abaixo do “joelho”). Se conseguir tirar uma fotografia, tanto melhor.

Quando vir uma ave com uma anilha, anote: © DiogoOliveira

Munido desta informação, só tem de a enviar por email para o Centro de Estudos de Migrações e Proteção de Aves (CEMPA, cempa@icnf.pt). Em resposta receberá a informação detalhada sobre a ave que observou, incluindo onde foi anilhada, há quantos anos e onde já foi observada por outras pessoas.

Se preferir, pode também inserir a informação diretamente no site Euring: www.ring.ac.

E se a ave estiver morta?

Estas indicações são válidas também no caso de detetar uma anilha numa ave que encontre morta, mas nessa situação deverá também reportar à linha SOS Ambiente (808 200 520) se houver indícios de crime, ou preencher os nossos formulários online se a ave for encontrada na praia (bit.ly/ArrojamentosSPEA) ou junto a

uma linha ou poste de eletricidade (bit.ly/linhaseletricasSPEA). Para salvaguardar a sua saúde, evite tocar diretamente em qualquer ave morta. Se precisar mesmo de mexer numa ave morta (por exemplo para ver se tem anilha ou para permitir uma melhor identificação) use por exemplo um pequeno pau.

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Pássaro-Tempo 1

Esta jovem cagarra acaba de sair do ninho, e precisa de chegar ao mar sem ficar encandeada pelas luzes.

Consegues ajudá-la?

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Pássaro-Tempo 2

Cria uma nova espécie de ave! Lança um dado, consulta a grelha para saberes as características da tua espécie, e desenha-a. Não te esqueças de lhe dar um nome à altura, como flamingo-das-árvores-de-cabeça-verde. Envia o teu desenho até 15 de janeiro para spea@spea.pt, com o assunto Concurso Nova Espécie, e habilita-te a ganhar um exemplar do nosso novo Livro de AtividAves!

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BICO DE ÁGUIA BICO DE FLAMINGO BICO DE CEGONHA BICO DE PATO BICO GRANDE BICO PEQUENO DEDOS FINOS E COMPRIDOS, PARA SE AGARRAR BEM AOS RAMOS COM MEMBRANA INTERDIGITAL, É UMA EXCELENTE NADADORA GARRAS GRANDES E FORTES PARA APANHAR PRESAS VERDE CASTANHO
PRETO ROSA LARANJA cores bico patas (lança o dado uma vez para cada parte do corpo: cabeça, dorso, ventre e cauda)
AMARELO

10€ apagam um candeeiro e ajudam a salvar cagarras e outras espécies ameaçadas.

Ajude-nos a devolver a noite à Madeira www.noitecomvida.spea.pt

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O equipamento Opticron pode ser testado e adquirido na SPEA, o nosso representante exclusivo em Portugal. Para mais informações, por favor contacte 213 220 430 ou visite-nos online em www.spea.pt/loja Opticron, Unit 21, Titan Court, Laporte Way, Luton, Beds, LU4 8EF UK Tel: +44 1582 726522 Email: sales@opticron.co.uk Web: www.opticron.co.uk

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