Revista Rpesm 21

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FICHA TÉCNICA

TÍTULO | TITLE

Revista Portuguesa de Enfermagem em Saúde Mental | Portuguese Journal of Mental Health Nursing

PUBLICAÇÃO E PROPRIEDADE | PUBLISHING AND PROPERTY

A Sociedade Portuguesa de Enfermagem em Saúde Mental | The Portuguese Society of Mental Health Nursing

DIRETOR | MANAGING DIRECTOR

Carlos Sequeira, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal

COORDENADOR | COORDINATOR

Luís Sá, PhD - Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal

COORDENADOR DA COMISSÃO EDITORIAL | EDITORIAL BOARD COORDINATOR

Francisco Sampaio, MSc – Hospital de Braga, Portugal

COMISSÃO EDITORIAL | EDITORIAL BOARD

Analisa Candeias, MSc - Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho Bruno Santos, MSc - Irmãs Hospitaleiras, Braga Carlos Vilela, MSc - Escola Superior de Enfermagem do Porto Joana Coelho, MSc - Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho Lia Sousa, MSc - Centro Hospital de São João, Porto Lucília Vale de Nogueira, MSc – Centro Hospitalar do Porto Luís Silva, MSc - Hospital de Magalhães Lemos, Porto Regina Pires, MSc – Escola Superior de Enfermagem do Porto Rita Costa, MSc - Unidade Local de Saúde de Matosinhos, Porto Rosa Silva, MSc - Instituto de Ciências da Saúde – Universidade Católica Portuguesa, Porto Sónia Teixeira, MSc - Centro Hospitalar Conde de Ferreira

COMISSÃO CIENTÍFICA | SCIENTIFIC REVIEWERS

Agustín Simónelli Muñoz, PhD - Universidad Católica San Antonio, Múrcia, Espanha Aida Mendes, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Coimbra, Portugal Alexandre Marques Rodrigues, PhD - Escola Superior de Saúde de Aveiro, Aveiro, Portugal Amadeu Gonçalves, PhD - Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Viseu Ana Querido, PhD - Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria Beatriz Araújo, PhD - Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal Carlos Sequeira, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Carme Ferré Grau, PhD - Universitat Rovira i Virgili. Tarragona, Espanha Catarina Tomás, PhD - Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria Elaine Antunes Cortez, PhD - Escola de Enfermagem AAC - Universidade Federal Fluminense Elizabete Borges, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Francisca Manso, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, Portugal Geilsa Cavalcanti Valente, PhD - Escola de Enfermagem AAC - Universidade Federal Fluminense Guilherme Correa Barbosa, PhD – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Brasil Graça Pimenta, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Isilda Ribeiro, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal José Carlos Carvalho, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal José Carlos Gomes, PhD - Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria, Portugal José Carlos Santos, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal Juan Roldan Merino, PhD - Escuela de Enfermería Sant Joan de Déu (adstrita a la UB), Espanha Júlia Martinho, PhD - Escola Superior de Enfermagem do Porto, Portugal Luís Sá, PhD – Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal Margarida Sotto Mayor, PhD - Hospital de Magalhães Lemos, Porto, Portugal Maria José Nogueira, PhD - Escola Superior de Saúde Atlântica Mar Lleixà-Fortuno, PhD - Universitat Rovira i Virgili. Tarragona, Espanha Marluce Miguel de Siqueira, PhD - Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil Michell Araújo, PhD - Faculdade Católica Rainha do Sertão - Fortaleza e Hospital de M., Brasil Odete Araújo, PhD - Escola de Enfermagem da Universidade do Minho, Portugal Odete Pereira, PhD - Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, Brasil Olga Sousa Valentim, PhD - Escola Superior de Saúde Atlântica Paulo Seabra, PhD - Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa Raul Cordeiro, PhD – Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Portalegre, Portugal Teresa Barroso, PhD - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal Teresa Lluch-Canut, PhD – Escola Universitària d’Infermeria - Universitat de Barcelona, Espanha Zeyne Scherer, PhD – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, Brasil

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 2


Público-alvo:

Enfermeiros, médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e outras pessoas com interesse na área da saúde mental.

Objectivo:

Divulgação de evidências científicas sobre a promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento, reabilitação e reintegração das pessoas com doença mental ao longo da vida.

Âmbito:

Políticas e design dos cuidados de saúde; Avaliação, diagnóstico, intervenções e resultados de enfermagem; Sistemas de informação e indicadores em saúde mental; Direitos e deveres dos doentes mentais; Formação e investigação em enfermagem em saúde mental.

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Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 3


Índice

EDITORIAL CONVIDADO

1

A PSICOTERAPIA COMO COMPETÊNCIA ACRESCIDA AVANÇADA EM ENFERMAGEM ....... 6

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO

2

ADAPTAÇÃO DA ESCALA DE AVALIAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE EM MULHERES

GRÁVIDAS .................................................................................................................................. 9

3

SÍNDROME DE BURNOUT E ESTILO DE VIDA EM ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO ......... 19

4

O TRABALHO COMO ESTRATÉGIA DE REINSERÇÃO PSICOSSOCIAL DO DEPENDENTE

QUÍMICO SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA ........................................................................................ 27

5

ESTUDO DAS PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DA ESCALA DE BEM-ESTAR

PSICOLÓGICO DE 42 ITENS .................................................................................................... 34

6

LITERACIA EM SAÚDE MENTAL SOBRE DEPRESSÃO: UM ESTUDO COM ADOLESCENTES

PORTUGUESES

7

A SAÚDE MENTAL DOS ENFERMEIROS: UM ESTUDO PRELIMINAR

ARTIGOS DE REVISÃO

8

A VIOLÊNCIA E OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO .................... 58

9

DESENVOLVIMENTO DE UM CATÁLOGO CIPE® PARA O FOCO DE ENFERMAGEM

“AUTOESTIMA”: UMA SCOPING REVIEW ................................................................................... 65

...................................................................................................................... 43

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 4

................................ 51


Editorial Convidado

Disponível em http://dx.doi.org/ 10.19131/rpesm.0231

1

A PSICOTERAPIA COMO COMPETÊNCIA ACRESCIDA AVANÇADA EM ENFERMAGEM | Helena Quaresma1 |

O reconhecimento da Psicoterapia como competência acrescida avançada foi alcançado com a publicação do Regulamento n.º 387/2019, concretizando um objetivo traçado anteriormente por um grupo de enfermeiros especialistas em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica. Um pouco de história torna mais claro o percurso percorrido. Sobre esta matéria é importante referir o documento elaborado sobre as “Competências dos Profissionais de Saúde Mental nos Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental” pela Subcomissão dos Cuidados Integrados de Saúde Mental, criada pelo Conselho Nacional de Saúde Mental, que considera a psicoterapia como uma “competência partilhada relativa aos clientes (…) realizada por técnicos de Saúde Mental com formação pós-graduada numa das Sociedades de Psicoterapia reconhecidas para o efeito em Portugal” (Conselho Nacional de Saúde Mental, 2015). Este grupo de trabalho integrou representantes da Ordem dos Enfermeiros, Ordem dos Psicólogos e Ordem dos Médicos, tendo sido alcançado o consenso que, para estas três profissões de saúde, a Psicoterapia seja reconhecida de acordo com o sistema de reconhecimento profissional em vigor em cada Ordem. Este entendimento de que o ato psicoterapêutico não é pertença exclusiva de qualquer categoria profissional fundamenta-se, entre outros documentos, na Declaração de Strasbourg sobre Psicoterapia (de 1990), assinada por 14 países, sendo este ponto de vista corroborado pela Federação Portuguesa de Psicoterapia (FEPPSI) enquanto organização representativa de 17 Associações e outras Pessoas Coletivas de direito privado na área da Psicoterapia em Portugal. Podemos então concluir que o título de psicoterapeuta se aplica a todos os profissionais detentores de formação pós-graduada especializada em Psicoterapia (formação independente da Medicina, Psicologia, Enfermagem ou outras áreas académicas), dentro de um dos diferentes modelos e métodos psicoterapêuticos, que respeitem os critérios mínimos estabelecidos pela FEPPSI, que enquadre todos os princípios emanados pela European Association of Psychoterapy (EAP) nos diferentes componentes de formação nesta área da saúde:

formação teórico-prática, supervisão e desenvolvimento pessoal com supervisão da prática clínica. Impõe-se clarificar o termo psicoterapia. Psicoterapia abarca vários modelos teóricos e de intervenção, que vão desde a palavra à intervenção psicocorporal, num total de mais de 20 modelos que reúnem diversas perspetivas sobre o tratamento não farmacológico. É o processo mediado por um profissional especializado, como forma de tratamento de estados de sofrimento e perturbações psicossociais, psicossomáticas e comportamentais através de uma relação psicoterapêutica diferenciada, abrangente, consciente e planeada, recorrendo a técnicas não farmacológicas, alicerçada em diferentes modelos e métodos psicoterapêuticos, com o propósito de promover a mudança, o desenvolvimento e a saúde das pessoas que a ela recorrem (Regulamento n.º 387/2019). Segundo os dados disponibilizados pela FEPPSI, em Portugal, ao longo do tempo receberam formação e exercem legitimamente a Psicoterapia – reconhecidos pelas suas sociedades, associações ou escolas – médicos, psicólogos, enfermeiros, filósofos, sociólogos, assistentes sociais, pedagogos e outros provenientes das áreas das ciências exatas, ciências humanas e sociais, e artes. Tornava-se assim necessário enquadrar no exercício profissional de Enfermagem a psicoterapia como competência acrescida avançada. Centremo-nos então nos documentos normativos, enquadradores desta matéria, emanados pela Ordem dos Enfermeiros. À luz do Regulamento Geral das Áreas de Competência Acrescida (Regulamento n.º 556/2017) estas emergem da complexificação permanente dos conhecimentos e das práticas que ao longo do seu percurso profissional o enfermeiro vai adquirindo, potenciando progressivamente novos campos de atuação do exercício profissional autónomo do enfermeiro e do enfermeiro especialista. No sentido de abranger diferentes níveis de complexidade das intervenções de Enfermagem são instituídas as Competências acrescidas Diferenciadas e as Competências acrescidas Avançadas, onde se insere a Psicoterapia.

1 Enfermeira especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica; Doutora em Enfermagem e Saúde; Presidente da Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica da Ordem dos Enfermeiros; Professora Coordenadora na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal, quaresma@esenfc.pt Citação: Quaresma, H. (2019). A psicoterapia como competência acrescida avançada em enfermagem. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (21), 05-08. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 5


Ainda sobre este conceito, o regulamento acima referido, no art.º 2, alínea b), define competências acrescidas avançadas como sendo “conhecimentos, habilidades e atitudes que dão resposta às necessidades, nos diversos domínios de intervenção, acrescentando, às competências do enfermeiro especialista, a perícia fruto da complexidade permanente dos conhecimentos, práticas e contextos numa área de intervenção avançada, potenciando a promoção da qualidade da intervenção do enfermeiro especialista” (Regulamento n.º 556/2017, p. 23636). Por reconhecer a elevada especificidade e relevância do exercício da Enfermagem em Psicoterapia, a Ordem dos Enfermeiros publica o Regulamento n.º 387/2019, onde define o perfil do enfermeiro psicoterapeuta e os termos de Certificação da Competência Acrescida Avançada em Psicoterapia no âmbito do Exercício Profissional de Enfermagem. Então, quem pode requerer a certificação individual da competência acrescida avançada em psicoterapia? Os enfermeiros com título profissional de enfermeiro especialista, na área da especialidade em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica ou em Enfermagem Comunitária, atribuído pela Ordem, com exercício profissional efetivo de Enfermagem especializada de pelo menos três anos, e ser detentor de formação habilitante especializada em Psicoterapia realizada em entidade científica membro da Federação Portuguesa de Psicoterapia (FEPPSI) ou em entidade científica reconhecida por congénere internacional, que cumpra os critérios mínimos de formação de psicoterapeutas e tenha beneficiado de acreditação pela Ordem (art.º 7, Regulamento n.º 556/2019). O programa formativo para a atribuição da Competência Acrescida Avançada em Psicoterapia constitui-se como um referencial orientador da formação requerida, devendo integrar as áreas temáticas inscritas no Anexo II do Regulamento acima mencionado e cumprir um mínimo de 400 horas de formação teórico-prática, 250h de trabalho clínico sob supervisão, 150 horas de supervisão de casos de Psicoterapia e 175 horas de Psicoterapia ou desenvolvimento pessoal. O desempenho das competências inerentes às funções de Psicoterapia, no âmbito do exercício profissional de Enfermagem compete, exclusivamente, aos detentores de título de Enfermeiro Especialista nas áreas de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica e de Enfermagem Comunitária, com atribuição da Competência Acrescida Avançada em Psicoterapia, devidamente inscrita na cédula profissional. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 6

O perfil do Enfermeiro com Competência Acrescida Avançada em Psicoterapia integra, cumulativamente, as competências do Enfermeiro Especialista comuns e específicas, previamente adquiridas, com o desempenho das competências inerentes às funções de Psicoterapeuta. O enfermeiro psicoterapeuta “detém um conhecimento concreto e pensamento sistematizado, no domínio da disciplina, da profissão e da Psicoterapia, com competência efetiva e demonstrada do exercício profissional nesta área, e que intervém, através de uma relação psicoterapêutica diferenciada, consciente e planeada, com a pessoa/família/grupo; promove a mudança, o desenvolvimento e a saúde da pessoa que a ele se dirige, recorrendo aos diferentes modelos e métodos psicoterapêuticos. Desenvolve uma prática profissional, ética e legal, agindo de acordo com as normas legais, os princípios Éticos e a Deontologia Profissional, assegurando um exercício em Psicoterapia através de um processo de gestão de cuidados específicos, dinâmico e integral; formulando o contrato terapêutico e estabelecendo a relação psicoterapêutica ajustados à especificidade da situação; adotando as técnicas e as intervenções psicoterapêuticas adequadas; reconhecendo a importância da supervisão e intervisão no desenvolvimento da sua prática” (Regulamento n.º 387/2019, p. 13402). A comparação entre as competências do psicoterapeuta, The Core Competencies of a European Psychotherapist, estabelecidas em 2013 pela European Association of Psychotherapy (EAP), as competências comuns do Enfermeiro Especialista (Regulamento n.º 122/2011) e as do enfermeiro especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica põe em evidência uma concordância em matéria dos domínios da respetiva responsabilidade profissional, da melhoria contínua da qualidade da prestação de cuidados de saúde, da administração e gestão dos cuidados de saúde, e do desenvolvimento das aprendizagens profissionais. Trata-se por isso não de uma sobreposição de competências, mas de uma complementaridade de domínios, uma vez que que as competências comuns do Enfermeiro Especialista e as competências do Psicoterapeuta naqueles domínios se expressam diferentemente fruto das diferenças entre os respetivos contextos de exercício profissional e da articulação com o restante elenco de competências de cada um. Já no plano das competências específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental (Regulamento n.º 515/2018), em particular nas que se referem à detenção de um elevado conhecimento de si e à prestação de cuidados de âmbito psicoterapêutico,


socioterapêutico, psicossocial e psicoeducacional, as competências que a EAP estabelece para o Psicoterapeuta excedem as do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental, partindo delas mas acrescendo profundidade e complexidade, como se pode constatar no documento The Core Competencies of a European Psychotherapist (EAP, 2013). A formação de Psicoterapia, adicional à formação prévia de Enfermeiro de Cuidados Gerais e de Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, cria um “background” de compreensibilidade holística que permite que um Psicoterapeuta com esta matriz profissional esteja particularmente bem preparado para responder às necessidades em saúde mental dos indivíduos, famílias e grupos. A este propósito, importa referir ainda que são já vários os Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Saúde Mental (mas também de Enfermagem Comunitária) que fizeram formação como Psicoterapeuta numa das Associações, Sociedades Científicas nacionais ou Escolas acreditadas internacionalmente para o efeito. Neste sentido, a consideração da Psicoterapia como competência acrescida avançada não apenas legitima profissionalmente e interpares essa formação e desenvolvimento de competências profissionais, como oferece à população maior regulação, segurança e qualidade nos cuidados prestados. Esta matéria assume importância acrescida pois estamos perante a confirmação crescente da magnitude dos problemas de saúde mental, com a estimativa de que as perturbações depressivas serão a primeira causa mundial de carga global de doença (Organização Mundial da Saúde [OMS], 2013), em que na Europa as doenças mentais apresentam uma elevada prevalência e representam uma carga significativa para os indivíduos e para a sociedade, representando 22% da carga das incapacidades, medida em anos vividos com incapacidade. Os dados relativos a Portugal, extraídos do primeiro Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental (Almeida e Xavier, 2013), realizado no âmbito do World Mental Health Survey Initiative, de 2013, revelam que as perturbações mentais comuns apresentam valores preocupantes: 22,9% de prevalência anual, com predomínio para as perturbações da ansiedade (16,5%) e do humor (7,9%). Dos 34 países que integraram o survey da OMS, Portugal teve a quarta mais elevada taxa de prevalência anual. Acrescenta-se, ainda, que o relatório da ERS (Entidade Reguladora da Saúde, 2015) alerta para o consumo de psicofármacos, nomeadamente de benzodiazepinas,

que apresenta níveis quase duplos em comparação com a média dos restantes países europeus, sugerindo que a prescrição é uma opção terapêutica muito frequente no nosso país na abordagem das perturbações ansiosas e depressivas, o que eventualmente poderá ser motivado pela indisponibilidade de propostas não farmacológicas alternativas e mais efetivas. Face à necessidade de adequar as respostas dos países às necessidades crescentes das populações em matéria de saúde mental, a Organização Mundial de Saúde, de entre um conjunto de recomendações produzidas, aponta claramente, desde o virar do milénio (OMS, 2001), a necessidade de proporcionar atenção à comunidade, preparar recursos humanos e incrementar a investigação em saúde mental. Sendo que em matéria de tratamento das perturbações mentais e comportamentais se mantém a necessidade de “uma combinação equilibrada de três ingredientes fundamentais: “medicação (ou farmacoterapia), psicoterapia e reabilitação psicossocial” (p. 59), defende que a psicoterapia se considere um recurso terapêutico acessível e equilibradamente articulável com a farmacoterapia e a reabilitação psicossocial. A psicoterapia integrada no processo de cuidados é reconhecida como uma mais-valia terapêutica, frequentemente de primeira linha, capaz de assegurar uma atempada e especializada intervenção na área da saúde mental, com a obtenção de ganhos em saúde, por proporcionar um suporte efetivo e integral à pessoa, em qualquer fase do ciclo vital e em qualquer etapa do ciclo familiar. Por tudo isto, estamos certos que a Psicoterapia como Competência Acrescida Avançada em Enfermagem responde às necessidades dos cidadãos em saúde mental e em particular em cuidados de enfermagem especializados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, J. M. C., e Xavier, M. (2013). Estudo epidemiológico nacional de saúde mental: 1º relatório. Lisboa: Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa. Conselho Nacional de Saúde Mental. (2015). Competências dos profissionais de saúde mental nos cuidados continuados integrados de saúde mental. Lisboa: Conselho Nacional de Saúde Mental. Entidade Reguladora da Saúde. (2015). Acesso e qualidade nos cuidados de saúde mental. Porto: Entidade Reguladora da Saúde. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 7


Organização Mundial da Saúde. (2001). Relatório sobre a saúde no mundo. Saúde mental: Nova concepção. Genebra: Organização Mundial da Saúde. Organização Mundial da Saúde. (2013). Mental health action plan 2013-2020. Genebra: Organização Mundial da Saúde.

Regulamento n.º 122/2011 (2011). D.R. 2ª Série. N.º 35, 8648-8653. Regulamento n.º 556/2017 (2017). D.R. 2ª Série. N.º 200, 23636-23638. Regulamento n.º 515/2018 (2018). D.R. 2ª Série. N.º 151, 21427-21430. Regulamento n.º 387/2019 (2019). D.R. 2.ª Série. N.º 84, 13401-13405.

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Artigo de Investigação

2

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0232

ADAPTAÇÃO DA ESCALA DE AVALIAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE EM MULHERES GRÁVIDAS | Carolina Henriques1; Elisa Caceiro2; Maria Luísa Santos3; Sónia Ramalho4 |

RESUMO INTRODUÇÃO: Cada vez mais a espiritualidade tem vindo a integrar os cuidados de saúde, pela crescente necessidade de compreender o Ser Humano na sua globalidade. A espiritualidade é vista como um mecanismo de coping, favorecendo o seu suporte social e emocional. OBJETIVO: Conhecer as caraterísticas sociodemográficas e obstétricas das grávidas inscritas em instituições hospitalares portuguesas; avaliar o nível de espiritualidade das grávidas; proceder à adaptação da Escala de Avaliação da Espiritualidade em mulheres grávidas portuguesas. MÉTODOS: Desenvolveu-se uma pesquisa descritiva, procedendo-se simultaneamente à adaptação da Escala de Avaliação da Espiritualidade dirigida a uma amostra de mulheres grávidas portuguesas. RESULTADOS: Participaram 464 grávidas que possuíam uma média de idades 31,56 anos de idade (dp= 5,129), 74,5% eram casadas, 51,3% viviam em meio urbano, 38,4% tinham o ensino básico, 94,6% viviam com o pai do futuro filho, 80% referiram não ter dificuldades económicas e 89,6% eram católicas. Revelaram um nível de espiritualidade de 15,39 (dp= 2,88), acima do valor médio da escala (Xmed=12,5). Observou-se que o Kaiser-Meyer-Olkin indicou um índice de 0,683, e o teste de esfericidade de Bartlett’s foi amplamente significante (p<0.001). Obtivemos melhores resultados com uma matriz de um fator, em que a mesma explica cerca de 55,58% do fenómeno em estudo. O instrumento apresenta uma boa consistência interna (α de Cronbach de 0,799). CONCLUSÕES: O instrumento parece-nos fiável e válido para avaliar a dimensão espiritual numa população específica como as mulheres grávidas, sendo que estas revelam um nível de espiritualidade acima do valor médio da escala. PALAVRAS-CHAVE: Espiritualidade; Grávidas; Mulheres

RESUMEN

ABSTRACT

“Adaptación de la Escala de Espiritualidad para mujeres embarazadas”

“Adaptation of the Spirituality Rating Scale for pregnant women”

CONTEXTO: Cada vez más la espiritualidad ha venido a integrar la atención de salud, por la creciente necesidad de comprender al Ser Humano en su globalidad. La espiritualidad es vista como un mecanismo de coping, favoreciendo su apoyo social y emocional. OBJETIVOS: Conocer las características demográficas y obstétricas de las mujeres embarazadas inscritas en los hospitales portuguesas; Evaluar el nivel de espiritualidad de las embarazadas; Adaptar la Escala de Espiritualidad en mujeres embarazadas portuguesas. MÉTODOS: Un estudio descriptivo se llevó a cabo, procediendo al mismo tiempo la adaptación de la Escala de Espiritualidad dirigida a una muestra de mujeres embarazadas portuguesas. RESULTADOS: Participaron 464 embarazadas que poseían una media de edades 31,56 años de edad (dp = 5,129), el 74,5% estaban casadas, el 51,3% vivían en medio urbano, el 38,4% tenía la enseñanza básica, 94, El 6% vivía con el padre del futuro hijo, el 80% dijo que no tenía dificultades económicas y el 89,6% eran católicas. Revelaron un nivel de espiritualidad de 15,39 (dp = 2,88), por encima del valor medio de la escala (Xmed = 12,5). Se observó que el Kaiser-Meyer-Olkin indicó un índice de 0,683, y la prueba de esfericidad de Bartlett’s fue ampliamente significante (p <0.001). Hemos obtenido mejores resultados con una matriz de un factor, en la que la misma explica alrededor del 55,58% del fenómeno en estudio. El instrumento presenta una buena consistencia interna (α de Cronbach de 0,799). CONCLUSIONES: El cuestionario nos parece fiable y válido para evaluar la espiritualidad en una población tan específica como las mujeres embarazadas, siendo que estas revelan un nivel de espiritualidad por encima del valor medio de la escala.

DESCRIPTORES: Espiritualidad; Embarazadas; Mujeres

BACKGROUND: Increasingly, spirituality has been integrating health care through the growing need to understand the Human Being as a whole. Spirituality is seen as a mechanism of coping, favoring their social and emotional support. AIM: To know the sociodemographic and obstetric characteristics of pregnant women enrolled in Portuguese hospitals; Assess the level of spirituality of pregnant women; Adapt the Spirituality Assessment Scale in Portuguese pregnant women. METHODS: A descriptive research was developed, simultaneously adapting the Spirituality Assessment Scale directed to a sample of Portuguese pregnant women. RESULTS: 464 pregnant wome had a mean age of 31.56 years (dp = 5.129), 74.5% were married, 51.3% lived in an urban setting, 38.4% had basic education, 94, 6% lived with the father of the future child, 80% reported having no economic difficulties and 89.6% were Catholic. They revealed a level of spirituality of 15.39 (dp = 2.88), above the average value of the scale (Xmed = 12.5). It was observed that Kaiser-Meyer-Olkin indicated an index of 0.683, and Bartlett’s sphericity test was largely significant (p <0.001). We obtained better results with a one-factor matrix, in which it explains about 55.58% of the phenomenon under study. The instrument has good internal consistency (Cronbach’s α of 0.799). CONCLUSIONS: The questionnaire seems to be reliable and valid for assessing spirituality in a population as specific as pregnant women, which reveal a level of spirituality above the average value of the scale.

KEYWORDS: Spirituality; Pregnant women; Women Submetido em 31-12-2017 Aceite em 26-11-2018

1 Pós-doutorada em Ciências da Saúde; Professora Adjunta e Subdiretora no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, Leiria, carolina.henriques@ipleiria.pt 2 Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica; Professora Adjunta no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, Leiria, elisa.caceiro@ipleiria.pt 3 Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica; Professora Adjunta no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, Leiria, lsantos@ipleiria.pt 4 Doutorada em Psicologia; Professora Adjunta no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, Leiria, sonia.ramalho@ipleiria.pt Citação: Henriques, C., Caceiro, E., Santos, M. L., & Ramalho, S. (2019). Adaptação da Escala de Avaliação da Espiritualidade em mulheres grávidas. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (21), 09-xx. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 9


INTRODUÇÃO A espiritualidade está presente desde o período pré-natal (Burkhardt, 1991). É neste período que o indivíduo começa a formar a sua espiritualidade, desenvolvendo-a através da vida e da cultura em que está inserido. Assim sendo, a espiritualidade vai-se construindo consoante os contextos socioculturais e históricos, estruturando e atribuindo significado a valores, comportamentos e experiências humanas (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007). Uma vez que a definição de espiritualidade depende das experiências de cada um, é possível encontrar várias definições. Para Lucas (2011), a espiritualidade, sendo inerente ao ser humano, constitui um processo dinâmico que simboliza a relação do indivíduo com o mundo, com o outro e com ele próprio, influenciando assim, o modo como ele atribui significado aos eventos que ocorrem na sua vida. Já Pehler (1997), acerca da mesma temática, refere que ela envolve uma complexidade de sentimentos, pensamentos e atitudes acerca do lugar do indivíduo no mundo, incluindo a capacidade de ser responsável, compreender o significado de confiança, da existência, da possibilidade de ser melhor e de pensar nas consequências das ações. Se para algumas mulheres a gravidez é entendida como uma situação normalizadora do seu desenvolvimento enquanto mulher, para outras, a gravidez carrega consigo eventos geradores de stress, provocando diminuição do bem-estar mental. A depressão é um importante distúrbio de saúde mental, sendo que em mulheres grávidas a sintomatologia depressiva pode variar entre 5%-16% numa gravidez de baixo risco e entre 24%-27% nas mulheres com uma gravidez de alto risco (Dagklis et al., 2016). Alguns estudos apontam que a dimensão espiritual é utilizada para ajudar a lidar com situações limitadoras da vida do ser humano (Lucero, Pargament, Mahoney, & DeMaris, 2013; Puente, Morales & Monge, 2015), podendo melhorar a saúde física, bem-estar psicológico e qualidade de vida, no entanto, relativamente ao processo gravídico os estudos escasseiam. Panzini, Rocha, Bandeira e Fleck (2007), relativamente à espiritualidade, acrescentam que esta pode ser entendida como a busca do indivíduo por respostas compreensíveis para questões existenciais sobre a sua vida e o seu significado. No estudo elaborado por Price et al. (2007) intitulado “A experiência espiritual das mulheres com gravidez de alto risco” realizado com doze mulheres com gravidez de alto risco de uma unidade de cuidados pré-natais, Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 10

teve como objetivo descobrir as crenças espirituais e práticas religiosas das mulheres em situação de gravidez de alto risco. Ao longo do estudo os autores constataram que a gravidez de alto risco é um processo difícil de lidar, acarretando para a mulher e para a sua família sentimentos de angústia, desespero e medo. Price et al. (2007, p.66) refere “o que foi visto como uma experiência de reaproximação da família perante o nascimento de um filho tornou-se numa situação assustadora, fazendo-os sentir ansiosos e sozinhos”. No estudo de Henriques (2013) centrado na temática “Vinculação Pré-Natal e Espiritualidade em Grávidas Toxicodependentes” desenvolvido com uma amostra de 103 grávidas toxicodependentes que frequentavam as consultas de vigilância da gravidez em maternidades centrais de Lisboa e Coimbra e em grupamentos de centro de saúde, procurou entender o processo de vinculação pré-natal da grávida toxicodependente nomeadamente no que diz respeito aos fatores facilitadores e/ou inibidores deste processo. Com os dados obtidos, a autora concluiu que os fatores favoráveis ao processo de vinculação pré-natal da grávida toxicodependente com o seu bebé são: “o estado civil, as pessoas com quem as grávidas coabitam, o número de consultas de vigilância prénatal realizadas, o planeamento da gravidez, o desejo da gravidez, a frequência de aulas de preparação para o parto e, finalmente, a espiritualidade destas mulheres” (Henriques, 2013, p.4). Vitorino et al. (2018) mostranos que poucos são os estudos que se debruçam sobre o papel das estratégias espirituais/religiosas no bem-estar das grávidas, sendo que, a dimensão espiritual pode estar associada a melhores condições físicas e mentais dos indivíduos em geral. Desta forma, estes investigadores procuraram investigar o papel da dimensão espiritual sobre os sintomas depressivos em grávidas de alto e baixo risco, através de um estudo comparativo transversal. O estudo desenvolvido por estes investigadores incluiu 160 grávidas, em que 80 grávidas tinham uma gestação de baixo risco e 80 uma gestão de alto risco, utilizando para a colheita de dados um questionário estruturado sobre aspetos sociodemográficos e obstétricos, o Inventário de depressão de Beck e a escala abreviada de espiritualidade. A análise de regressão linear foi utilizada para identificar os fatores associados às estratégias positivas (ajudar as pessoas a lidar com problemas através da ajuda uma figura religiosa ou outra entidade, literatura espiritual; música) e estratégias negativas da espiritualidade (pode manifestar-se pelo questionamento do poder de Deus, punição e dúvidas religiosas) em ambos os grupos de grávidas.


Alterações fisiológicas e psicossociais relacionadas à gravidez podem afetar o corpo e causar sintomas que podem afetar a qualidade de vida. O estudo realizado por Farideh, Fatemeh e Nourossadat (2017) teve como objetivo explorar os fatores que afetam a qualidade de vida de mulheres grávidas através de um descritivo qualitativo com recurso à análise de conteúdo numa amostra intencional de dezasseis mulheres iranianas grávidas em Hamadan, Irão, entre maio e dezembro de 2015. Da análise dos dados resultaram três categorias principais (Farideh et al., 2017), nomeadamente, os efeitos da gravidez em diferentes aspetos da saúde física (desempenho de atividades diárias, imagem corporal perturbada, alterações nas relações sexuais, distúrbios físicos, alterações hábitos alimentares e regimes de tratamento), preocupações relacionadas à gravidez (em relação ao feto, problemas financeiros, parto, saúde e futuro) e lidar com a gravidez (por meio de estratégias como a espiritualidade, atitude positiva em relação à gravidez, distração e imaginação e suporte). Desta forma, pela análise destes resultados, salientamos que para estas mulheres grávidas a espiritualidade, enquanto dimensão impulsionadora de um sentido para a vida, é um recurso para lidar e ultrapassar dificuldades associadas ao processo gravídico. Sabendo que a espiritualidade sempre esteve presente na vida do ser humano, principalmente quando os indivíduos estão perante situações de vida complexas, tal como o processo de transição para a maternidade (Henriques, 2013), motivados pelo interesse neste domínio, pretendemos com a realização deste estudo, para além de conhecer as caraterísticas sociodemográficas e obstétricas das grávidas e avaliar o nível de espiritualidade destas, proceder à adaptação da Escala de Avaliação da Espiritualidade para uma população especifica como é o caso das mulheres grávidas. MÉTODOS Este estudo, inserido num projeto de investigação mais amplo, designado ‘Espiritualidade na Mulher Grávida – Impacto de uma Intervenção Complexa de Enfermagem’, procurou conhecer as caraterísticas sociodemográficas e obstétricas das grávidas inscritas em instituições hospitalares portuguesas, avaliar o nível de espiritualidade e proceder à adaptação da Escala de Avaliação da Espiritualidade em mulheres grávidas portuguesas, adaptando-a assim a um contexto diferente da versão original. No presente estudo recorremos a um instrumento de colheita de dados, composto

por duas partes distintas. A primeira parte relativa a questões sociodemográficas e obstétricas e a segunda parte integra a Escala de Avaliação da Espiritualidade de Pinto e Pais Ribeiro (2007). Segundo Pinto e Pais-Ribeiro (2007, p.47) “a espiritualidade constrói-se nos contextos socioculturais e históricos, estruturando e atribuindo significado a valores, comportamentos, experiências humanas e por vezes materializa-se na prática de um credo religioso específico”. Os mesmos autores referem que “a dimensão espiritual é uma dimensão importante da existência do ser humano, desde os primórdios da humanidade”. Estando a sua “relevância nos contextos de saúde relacionada com a preocupação crescente em compreender o Homem na sua globalidade” (Pinto e Pais-Ribeiro, 2007, p.47). A escala é constituída por cinco itens e cada item tem quatro possibilidades de resposta. “As respostas são dadas numa escala de Likert com quatro alternativas (de “1” a “4”), entre “não concordo” a “plenamente de acordo”. A escala pontua de 5 (Xmin.) a 20 (Xmax.), onde scores mais altos correspondem a uma maior espiritualidade. Na versão original, após rotação, o 1º fator integra os itens que traduzem a valorização das crenças espirituais / religiosas na atribuição de sentido à vida (itens 1 e 2). O fator 2 integra itens que correspondem a um sentido positivo da vida norteado pela perspetiva do futuro com esperança (item 3), e numa redefinição de valores de vida (itens 4 e 5). Os fatores foram denominados do seguinte modo: o primeiro fator “crenças”; o segundo fator “esperança / otimismo”. A utilização da referida escala foi obtida através do contacto entre o investigador coordenador deste estudo e o autor da mesma. Foram tidos em conta todos os procedimentos formais e éticos, nomeadamente a autorização para o desenvolvimento do estudo pela comissão nacional de proteção de dados (CNPD) e de cinco comissões de ética das instituições de cuidados de saúde parceiras onde este se realizou. Foi ainda elaborado e aplicado a todas as mulheres o termo de consentimento de participação voluntária na investigação. O estudo foi aplicado, numa amostra não probabilística de conveniência, a 464 mulheres grávidas nos diferentes trimestres de gravidez, que aceitaram participar voluntariamente na investigação, com uma faixa etária entre os 19 e os 45 anos de idade que soubessem ler e escrever em português, cumprindo assim os critérios de inclusão previamente definidos. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 11


O acesso a estas mulheres realizou-se em instituições hospitalares parceiras da região norte e centro de Portugal, através da recolha de dados nos serviços de urgência obstétrica, consulta externa de obstetrícia e cursos de preparação para o parto e parentalidade. RESULTADOS No nosso estudo participaram 464 grávidas, com uma média de idade 31,56 anos (dp= 5,129), 74,5% eram casadas, 51,3% viviam em meio urbano e 38,4% tinham o ensino básico. Tabela 1 - Distribuição das Puérperas em Função do Estado Civil, Área de Residência e Nível de Escolaridade Variável Estado civil

Área de residência Nível de escolaridade

%

Solteiro

87

18,7

União de facto/Casada

345

74,5

Separada/Divorciada

32

6,8

Meio rural

226

48,7

Meio urbano

238

51,3

Ensino Básico

178

38,4

Ensino Secundário

155

33,4

Ensino Superior

131

28,2

Quanto à religião, 89,2% eram católicas, 10,8% professavam outra religião e 2,4% referiram ser agnósticas. As grávidas eram 94,4% Portuguesas e 5,6% tinham outra nacionalidade (Guineense, Cabo Verdiana, Belga, Ucraniana, Moldava, Brasileira e Angolana), viviam com familiares 95,2% e 4,7% viviam sozinhas, 94,6% viviam com o pai do futuro filho, 80% referiram não ter dificuldades económicas e 2,6% usufruíam de subsídio social. Quanto à situação profissional, 60,6% estavam ativas, 17,8% estavam de baixa por doença e 21,6% desempregadas. Da amostra, 52,4% estiveram grávidas anteriormente e 16,8% apresentaram complicações na gravidez (préeclampsia, aborto, diabetes gestacional, hipertensão arterial e prematuridade), 4,7% fizeram tratamento de fertilidade e 76,5% planearam a gravidez. Realizaram a vigilância da gravidez 76,9% em contexto público, 9,9% em contexto privado e 13,2% em contexto público e privado. Evidenciaram um nível de espiritualidade de 15,39 (dp= 2,88), acima do valor médio da escala (Xmed=12,5), 35,8% concordavam bastante que as crenças espirituais/religiosas dão sentido à vida, 39,9% concordavam bastante que a fé e crenças lhes dão forças nos momentos difíceis, 46,6 % viam o futuro com esperança, 48,1% Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 12

concordavam bastante que a vida mudou para melhor e 54,3% concordavam plenamente que aprenderam a dar valor às pequenas coisas da vida. Tabela 2 - Distribuição da Amostra por Dimensão da Escala de Avaliação da Espiritualidade Dimensão Nº % 1. As minhas crenças espirituais/religiosas dão sentido à minha vida

Não concordo

2. A minha fé e crenças dão-me forças nos momentos difíceis

3. Vejo o futuro com esperança

4. Sinto que a minha vida mudou para melhor 5. Aprendi a dar valor às pequenas coisas da vida

33

7,1

Concordo um pouco

165

35,6

Concordo bastante

166

35,8

Plenamente de acordo

100

21,6

Não concordo

21

4,5

Concordo um pouco

128

27,6

Concordo bastante

185

39,9

Plenamente de acordo

130

28,0

Não concordo

9

1,9

Concordo um pouco

69

14,9

Concordo bastante

216

46,6

Plenamente de acordo

170

36,6

Não concordo

10

2,2

Concordo um pouco

76

16,4

Concordo bastante

223

48,1

Plenamente de acordo

155

33,4

Não concordo

3

0,6

Concordo um pouco

41

8,8

Concordo bastante

168

36,2

Plenamente de acordo

252

54,3

No que concerne à Escala de Avaliação da Espiritualidade para avaliar as suas qualidades psicométricas efetuou-se o estudo de fidelidade e de validade. A fidelidade é avaliada através de um coeficiente de correlação (r) variando numa escala de 0,00 (ausência de correlação) para 1,00 (correlação perfeita), caso o coeficiente se aproximar de 1,00, podemos referir que o instrumento gera poucos erros e é considerado altamente fiel (Henriques, Pereira & Sousa, 2012). Procedemos à determinação dos valores dos coeficientes de fidelidade estandardizados para toda a escala, incluindo os 5 itens, tendo obtido um alfa estandardizado de 0,799. Entendendo que a validade de um instrumento de medida diz respeito à possibilidade desse mesmo instrumento medir claramente o que se propõe medir, isto é, o grau de precisão desse instrumento (Henriques, Pereira & Sousa, 2012). Assim, procedemos à avaliação da validade de construto através da análise fatorial, identificando a existência de fatores no instrumento e de que forma cada um destes interfere para o todo do instrumento. Respeitados os critérios metodológicos, os 5 itens da escala foram incluídos na análise fatorial,


determinando-se o Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e o teste de esfericidade de Bartlett’s, medindo o nível de adequação dos dados para a análise fatorial. Tabela 3 - Matriz de Componente Principal após Rotação Varimax, dos 5 itens da Escala de Avaliação da Espiritualidade h2 F1 1. As minhas crenças espirituais/religiosas dão sentido à minha vida

,625

,791

2. A minha fé e crenças dão-me forças nos momentos difíceis

,643

,802

3. Vejo o futuro com esperança

,467

,683

4. Sinto que a minha vida mudou para melhor

,548

,740

5. Aprendi a dar valor às pequenas coisas da vida

,496

,704

% variância explicada

55,58%

Kaiser-Meyer-Olkin

,683

Bartlett's Test of Sphericity

910,288 p<0,001

Verifica-se que o Kaiser-Meyer-Olkin indicou um índice de 0.683, e o teste de esfericidade de Bartlett’s foi amplamente significante (p <0.001). Face a estes resultados, procedeu-se à análise fatorial em componentes principais com rotação ortogonal pelo método de Varimax. Pela análise efetuada, obtivemos melhores resultados com uma matriz de um fator, em que a mesma explica cerca de 55,58% do fenómeno em estudo. DISCUSSÃO Este estudo teve como objetivos conhecer as caraterísticas sociodemográficas e obstétricas das grávidas inscritas em instituições hospitalares portuguesas, avaliar o nível de espiritualidade e proceder à adaptação da Escala de Avaliação da Espiritualidade em mulheres grávidas portuguesas, adaptando-a assim a um contexto diferente da versão original. Participaram 464 mulheres grávidas nos diferentes trimestres de gravidez, com uma faixa etária entre os 19 e os 45 anos de idade inscritas nas instituições parceiras da região norte e centro de Portugal, dos serviços de urgência obstétrica, consulta externa de obstetrícia e cursos de preparação para o parto e parentalidade. As grávidas tinham uma média de idades de 31,56 anos de idade (dp= 5,129), 51,3% viviam em meio urbano, 94,6% viviam com o pai do futuro filho, 80% referiram não ter dificuldades económicas. Relativamente ao estado civil, nível de escolaridade e religião, 74,5% eram casadas, 38,4% tinham o ensino básico e 89,2% eram católicas.

No estudo de Vitorino et al. (2018), a média de idades das 80 participantes com uma gravidez de alto risco foi de 27,1 anos e de 25,7 anos para as mulheres com uma gravidez de baixo risco. No que concerne ao estado civil, em ambos os grupos de mulheres grávidas, a maioria eram casadas (63,8% nas mulheres com uma gravidez de alto risco e 76,3% nas mulheres com uma gravidez de baixo risco). Não existem dados neste estudo que nos permitam confrontar as variáveis relativas à escolaridade e religiosidade. Face à questão que estes autores colocaram em relação à perceção do estatuto social, 107 das 160 participantes, consideraram o seu estatuto social como bom, indicando ainda que possuíam um grande apoio por parte do companheiro (97,5% nas mulheres com uma gravidez de risco e 91,3% nas mulheres com uma gravidez de baixo risco), já em relação ao suporte social, 27 mulheres com uma gravidez de alto risco indicaram que não tinham suporte de amigos, em semelhança a 23 mulheres com uma gravidez de baixo risco. Na investigação de Puente, Morales e Monge (2015), participaram 285 mulheres espanholas, com idades compreendidas entre os 22 e 42 anos de idade (M = 31,31, DP = 4,09) anos, durante a primeira metade da gravidez (M = 14,41, DP = 2,08). 27,5% possuíam o ensino obrigatório e 27,1% ensino superior. A maioria das mulheres (65,1%) estava empregada no momento da colheita de dados. 50,5% eram primíparas, em 82,8% dos casos, a gravidez foi planeada e 27,7% das mulheres tiveram abortos prévios. No nosso estudo, as mulheres evidenciaram um nível de espiritualidade de 15,39 (dp= 2,88), acima do valor médio da escala (Xmed=12,5). Relativamente as dimensões da Escala de Avaliação de Espiritualidade de Pinto e Pais-Ribeiro (2007), observámos que 35,8% das mulheres grávidas concordavam bastante que as crenças espirituais/religiosas dão sentido à vida, 39,9% concordavam bastante que a fé e crenças lhes dão forças nos momentos difíceis, 48,1% concordavam bastante que a vida mudou para melhor. Na nossa amostra, 46,6 % concordavam bastante que veem o futuro com esperança, e 54,3% concordavam plenamente que aprenderam a dar valor às pequenas coisas da vida. Não nos é possível confrontar estes dados considerando o mesmo contexto específico que é o do processo gravídico, no entanto, no estudo de Vitorino et al. (2018) os resultados mostram que o uso de estratégias positivas da espiritualidade foi alto em mulheres grávidas, ao contrário da utilização de estratégias negativas, quer nas mulheres com uma gravidez de alto risco, quer Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 13


de baixo risco, sendo que o uso de estratégias negativas (questionamento do poder de Deus, punição e dúvidas religiosas) foi associado a sintomatologia depressiva nas mulheres com uma gravidez de alto risco. Para Puente, Morales e Monge (2015) parece que o coping espiritual não é uma estratégia comum na gravidez normal, pelo menos na amostra de grávidas espanhola estudada por estes autores, sendo que o locus de controle tem um papel mais influente na saúde mental das mulheres grávidas do que a espiritualidade. Relativamente ao estudo por nós realizado, em virtude do instrumento utilizado ainda não ter sido submetido a nenhum estudo psicométrico no contexto específico da gravidez, não nos é possível fazer comparações, no entanto, é possível verificar que os resultados indicam que este apresenta boas caraterísticas psicométricas, parecendo-nos fiável (alfa Cronbach = 0,799), e válido (Kaiser-Meyer-Olkin indicou um índice de 0.683, e o teste de esfericidade de Bartlett’s foi amplamente significante p <0.001), para avaliar a espiritualidade numa população tão específica como são as mulheres grávidas. Pinto e Pais-Ribeiro (2007), no estudo da fidelidade do instrumento obtiveram uma consistência interna para a dimensão das crenças de 0,92 e da esperança/otimismo de 0,69. A consistência interna para a escala global foi de 0,74, ligeiramente inferior à por nós obtida. Pela análise efetuada, obtivemos melhores resultados com uma matriz de um fator, em que a mesma explica cerca de 55,58% do fenómeno em estudo, ao contrário da versão original da escala, em que uma matriz de dois fatores (crenças; esperança/otimismo) explica 75,23 da variância total para os contextos de saúde. CONCLUSÃO Os estudos recentes salientam a importância da espiritualidade neste momento de transição na vida da mulher. Neste estudo, as mulheres revelaram um nível de espiritualidade acima do valor médio da escala. Observámos também que atribuíram um grande significado ‘às crenças espirituais/religiosas como dando sentido à vida’, que a ‘fé e crenças lhes deram forças nos momentos difíceis’, que ‘a vida mudou para melhor’ e que ‘viram o futuro com esperança’, concordando plenamente que aprenderam a dar valor às pequenas coisas da vida. Os resultados parecem indicar que o instrumento tem uma boa consistência interna, parecendo-nos fiável e válido para avaliar a espiritualidade em mulheres grávidas. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 14

A gravidez, sendo uma fase de transição na vida da mulher e família, constituindo-se como um período de imprevisibilidade e vulnerabilidade, as mulheres grávidas tendem a procurar mecanismos internos para se ajustarem e adaptarem ao processo gravídico. A avaliação dessas crenças e da dimensão espiritual pode ser útil para os enfermeiros obstetras e enfermeiros especialistas em saúde mental com vista ao desenvolvimento de intervenções de enfermagem integrativas do sentido positivo para a vida nestas mulheres. Por todas estas razões, pensamos que este instrumento poderá ser utilizado em novos estudos, já que a investigação neste domínio escasseia, enfatizando que a dimensão espiritual seja tida como foco de atenção da prática clínica em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica e de Saúde Mental. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Considerando estes aspetos, o cuidado de enfermagem surge voltado para uma maior sensibilização, consciencialização e humanização, identificando no cliente fatores que indiquem que a pessoa está a vivenciar um processo de transição, com a finalidade de facilitar estes eventos, para que esta seja mais saudável possível, emergindo assim, um cuidado de enfermagem transicional. O cuidado transicional de enfermagem conduz à busca de um modelo mais humanista, de totalidade do ser, de integralidade, de interdisciplinaridade, e só pelo seu conhecimento teremos capacidade para definir focos específicos de atenção dos enfermeiros, tal como o desenvolvimento de intervenções de enfermagem a implementar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Burkhardt, M. A. (1991). Spirituality and Children: Nursing Considerations. Journal of holistic nursing, 9 (1), 31-40. Doi: 10.1177/089801019100900204 Dagklis, T., Papazisis, G., Tsakiridis, I., Chouliara, F., Mamopoulos, A., & Rousso, D. (2016). Prevalence of antenatal depression and associated factors among pregnant women hospitalized in a high-risk pregnancy unit in Greece. Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology, 51(7), 1025–1031. Doi: 10.1007/s00127-0161230-7


Farideh K., Fatemeh N. & Nourossadat K. (2017). Exploring factors behind pregnant women’s quality of life in Iran: a qualitative study. Electronic Physician. 9(12), 5991-6001. Doi: 10.19082/5991 Henriques, C. (2013). Vinculação Pré-Natal e Espiritualidade em Mulheres Gravidas Toxicodependentes. Lisboa: Editora Bubok. Henriques, C., Pereira H. & Sousa J. (2012). Adaptação para a população portuguesa da escala - Perceptions of Empowerment in Midwifery Scale (PEMS). Medwave,12(9):e5532. Doi: 10.5867/medwave.2012.09.5532. Lucas, M.F. (2011). Cuidar da vertente espiritual em enfermagem: que sentido? Cadernos de Saúde, 4 (2), 15-24. Disponível em: http://www.cadernosdesaude. org/files/2011-CS4.2%282%29.pdf Lucero, S. M., Pargament, K. I., Mahoney, A., & DeMaris, A. (2013). Links between religious and spiritual coping and adjustment among fathers and mot hers during first pregnancy. Journal of Reproductive and Infant Psychology, 31(3), 309–322. Doi: 10.1080/02646838.2013.798864 Panzini, R., Rocha, N., Bandeira, D. & Fleck, M. (2007). Qualidade de vida e espiritualidade. Revista de Psiquiatria clínica, 34 (1), 105-115. Doi: 10.1590/S010160832007000700014

Pehler, S. (1997). Children’s Spiritual Response: Validation of the Nursing Diagnosis Spiritual Distress. International Journal of Nursing Terminologies and Classifications, 8, 55–66. Doi:10.1111/j.1744-618X.1997. tb00138.x Pinto, C. & Pais-Ribeiro, J. (2007). Construção de uma escala de avaliação da espiritualidade em contextos de saúde. Arquivos de Medicina, 21 (2), 47-53. Disponível em: https://jvilelas.webnode. pt/_files/200000095-65ec16669e/Escala%20de%20 Avalia%C3%A7%C3%A3o%20da%20Espiritualidade. pdf Price, S., Lake, M., Breen, G., Carson, G., Quinn, C. & O’Connor, T. (2007) The spiritual experience of highrisk pregnancy. Journal of Obstetric Gynecologic Neonatal Nursing, 36 (1), 63-70. Disponível em: https:// www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17238948 Puente, C. P., Morales, D. M., & Monge, F. J. C. (2015). Religious coping and locus of control in normal pregnancy: moderating effects between pregnancy worries and mental health. Journal of Religion and Health, 54(5), 1598–1611. Doi: 10.1007/s10943-014-9881-8 Vitorino, L. M., Chiaradia, R., Low, G., Preposi C. J., Pargament, K. I., Lucchetti, A. L. G. & Lucchetti, G. (2018). Association of spiritual/religious coping with depressive symptoms in high- and low-risk pregnant women. Journal of Clinical Nursing, 27(3/4), 635-642. Doi: 10.1111/jocn.14113.

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 15


Artigo de Investigação

3

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0233

SÍNDROME DE BURNOUT E ESTILO DE VIDA EM ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO | Anna Santos1; Henrique Mineiro2; Lucas Cruz3; Luiz Santos4; Marise Silveira5; Lucineia de Pinho6 |

RESUMO INTRODUÇÃO: Os estudantes do ensino médio vivenciam nesta fase experiências estressantes, como a escolha de qual profissão seguir e os preparativos para os exames admissionais, o que pode predispor ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout. OBJETIVO: Este estudo teve como objetivo analisar a relação entre a Síndrome de Burnout e o estilo de vida dos estudantes de ensino médio. MÉTODOS: Estudo transversal, quantitativo, realizado com estudantes do ensino médio. Para a coleta de dados foram utilizados o questionário “Estilo de Vida Fantástico” e o “Maslach Burnout Inventory – Student Survey (MBI-SS)”. Para estimar e testar a associação entre as dimensões da Síndrome de Burnout e estilo de vida entre os estudantes empregou-se o coeficiente de correlação de Pearson. RESULTADOS: Participaram do estudo 966 estudantes, com média de idade de 16,61 anos. Observou-se que 12,1% apresentaram indicativos de Síndrome de Burnout. Observou-se relação negativa entre exaustão emocional e sono, cinto de segurança, estresse e sexo seguro (-0,225; p<0,001); descrença e cigarro e drogas (-0,206; p<0,001); e positiva para eficácia profissional, família e amigos (0,224; p<0,001), sono, cinto de segurança, estresse e sexo seguro (0,282; p<0,001) e introspecção (0,245; p<0,001). CONCLUSÕES: Pode-se concluir que práticas saudáveis de vida adotadas pelos estudantes de ensino médio podem ser relacionadas a baixos índices de estresse nesta fase. DESCRIPTORES: Esgotamento profissional; Estudantes; Saúde pública

RESUMEN

ABSTRACT

“Síndrome de burnout y estilo de vida en estudiantes de enseñanza media”

“Burnout syndrome and lifestyle in high school students”

CONTEXTO: Los estudiantes de la enseñanza media experimentan en esta fase experiencias estresantes, como la elección de qué profesión seguir y los preparativos para los exámenes de admisión, lo que puede predisponer al desarrollo del Síndrome de Burnout. OBJETIVO: Este estudio tuvo como objetivo verificar la correlación entre el Síndrome de Burnout y el estilo de vida de los estudiantes de enseñanza media. MÉTODOS: Estudio transversal, cuantitativo, realizado con estudiantes de la enseñanza media. Para recoger los datos, se utilizaron el cuestionario “Estilo de Vida Fantástico” y el “Maslach Burnout Inventory”. Para estimar y probar la asociación entre las dimensiones de la Síndrome de Burnout y el estilo de vida entre los estudiantes, se empleó el coeficiente de correlación de Pearson. RESULTADOS: El estudio tuvo la participación de 966 estudiantes, con un promedio de edad de 16,61 años. Se observó que el 12,1% presentaba indicativos de Síndrome de Burnout. Se observó una relación negativa entre agotamiento emocional y sueño, cinturón de seguridad, estrés y sexo seguro (-0,225; p<0,001); incredulidad y el cigarrillo y las drogas (-0,206, p <0,001); y positiva para eficacia profesional, familia y amigos (0,224; p <0,001), sueño, cinturón de seguridad, estrés y sexo seguro (0,282; p <0,001) e introspección (0,245; p <0,001). CONCLUSIONES: Se puede concluir que las prácticas saludables de vida adoptadas por los estudiantes de la enseñanza media pueden estar relacionadas con los bajos índices de estrés en esta fase.

PALAVRAS-CHAVE: Agotamiento profesional; Estudiantes; Salud pública

BACKGROUND: High school students deal with stressful experiences at this stage, such as the choice of which profession to follow and the training for admission exams, which may predispose to the development of Burnout Syndrome. AIM: This study aimed to verify the correlation between Burnout Syndrome and the lifestyle of high school students. METHODS: This is a cross-sectional and quantitative study performed with high school students. In order to collect data, we used the questionnaire “Fantastic Lifestyle” and “Maslach Burnout Inventory”. In order to estimate and test the association between the dimensions of Burnout Syndrome and the lifestyle among students, we used the Pearson’s correlation coefficient. RESULTS: This study was attended by 966 students, with a mean age of 16.61 years. We observed that 12.1% presented signs of Burnout Syndrome. We observed a negative relationship among emotional exhaustion and sleep, seatbelt, stress and safe sex (-0.225; p <0.001); disbelief and cigarettes and drugs (-0.206; p <0.001); and positive for professional effectiveness, family and friends (0.224; p <0.001), sleep, seatbelt, stress and safe sex (0.282; p <0.001) and introspection (0.245; p <0.001). CONCLUSIONS: We can be conclude that healthy life practices adopted by high school students can be related to low stress indexes at this stage.

KEYWORDS: Burnout, professional; Students; Public health Submetido em 30-09-2018 Aceite em 04-12-2018

1 Académica em Medicina pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, 39408-007 Montes Claros (MG), Brasil, karolzinha_rfs@hotmail.com 2 Académico em Medicina pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, 39408-007 Montes Claros (MG), Brasil, henriquegmineiro@gmail.com 3 Académico em Medicina pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, 39408-007 Montes Claros (MG), Brasil, lucasperth2014@gmail.com 4 Académico em Medicina pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, 39408-007 Montes Claros (MG), Brasil, luizsantoz1@yahoo.com.br 5 Doutora em Ciências da Saúde; Docente na Universidade Estadual de Montes Claros, 39401-089 Montes Claros (MG), Brasil, ciaestatistica@yahoo.com.br 6 Doutora em Ciências da Saúde; Docente na Universidade Estadual de Montes Claros; Docente nas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, 39408-007 Montes Claros (MG), Brasil, lucineiapinho@hotmail.com Citação: Santos, A. K., Mineiro, H., Cruz, L., Santos, L., Silveira, M., & Pinho, P. (2019). Síndrome de burnout e estilo de vida em estudantes de ensino médio. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (21), 16-xx. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 16


INTRODUÇÃO A sociedade atual, caracterizada pelo progresso tecnológico, exige sucesso imediato, padronização de perfis intelectuais, culturais e corporais, o que gera uma alta demanda para o indivíduo. Na tentativa de se adaptar a esses padrões, há a possiblidade de um desequilíbrio ao considerar a capacidade individual e as exigências do ambiente, denominado estresse (Marques, Gasparotto, e Coelho, 2015). Devido às exigências mercadológicas e sociais, o estresse tem aumentado na vida das pessoas em diversos segmentos, incluindo o âmbito estudantil (Tuominen-Soini, & Salmela-Aro, 2014; Marques et al., 2015). O ensino médio constitui a última etapa da educação básica, sendo pré-requisito para o ingresso no ensino superior. Nessa etapa, os estudantes precisam decidir sobre qual profissão seguir e se prepararem para a realização dos exames admissionais. Esse preparo é considerado uma situação estressora ambiental duradoura, podendo gerar importantes efeitos psicopatológicos nos educandos. O momento de escolha profissional constitui período muito conflituoso para os jovens do ensino médio, já que além das próprias dificuldades da idade, bem como as mudanças físicas e psicológicas que experienciam, estes ainda devem considerar as implicações que suas escolhas trarão ao seu futuro (Faria, Weber, e Ton, 2012; Gonzaga, Silva, e Enumo, 2016). Por vivenciarem uma fase de transição, os estudantes de ensino médio estão sujeitos às novas experiências e, ao mesmo tempo, são compelidos a renunciar sua própria vida social em prol do acesso à instituição de ensino superior, assim, muitas vezes como efeito colateral emerge o estresse exaustivo - denominado como Síndrome de Burnout (SB) (Tuominen-Soini, & Salmela-Aro, 2014). Essa exaustão configura a primeira dimensão da síndrome, associando-se ao absenteísmo estudantil, fadiga, declínio das capacidades de memória e concentração (Galdino, Martins, Haddad, Robazzi, e Birolim, 2016). Surgem ainda outros sintomas, como nervosismo, sentimentos de desamparo, vazio, solidão e tristeza que, em longo prazo, tornam-se gatilhos para o desenvolvimento de outras patologias relacionadas ao humor deprimido e ansiedade (Ovchinnikov, Palchenkova, & Kalachev, 2015; Galván-Molina, Jiménez-Capdeville, Hernández-Mata, & Arellano-Cano, 2017).

Essas manifestações repercutem de forma negativa na estrutura familiar e pessoal do indivíduo, por conseguinte, refletindo na qualidade e desempenho das atividades realizadas (Tomaschewski-Barlem et al., 2014; Magri, Melchior, Jarina, Simonaggio, e Bataglion, 2016); Galván-Molina et al., 2017). Os indivíduos com SB, por vezes, também manifestam sintomas físicos, tais como cefaleia e insônia, seguidos de problemas musculoesqueléticos (Magri et al., 2016). Há, ainda, manifestação de problemas imunológicos, como aumento da frequência de reações alérgicas (Ovchinnikov et al., 2015). Nesse sentido, o objetivo da pesquisa foi verificar a correlação entre a Síndrome de Burnout e o estilo de vida dos estudantes de ensino médio. MÉTODOS O presente trabalho faz parte da pesquisa “Estudantes on line: uso e dependência da Internet”. A população foi constituída de estudantes de ensino médio, regularmente matriculados em escolas públicas e particulares, da 1ª a 3ª série da cidade de Montes Claros, Minas Gerais. O tamanho amostral foi definido considerando a prevalência do evento de 50%, nível de confiança de 95%, erro padrão de 5%. Foi adotada a correção para o efeito de delineamento (Deff=2,0) e estabeleceu-se também um acréscimo de 15% para compensar as possíveis não respostas e perdas. Estimou-se a participação de no mínimo 884 adolescentes. Utilizou-se como critério de inclusão ser estudante regularmente matriculado na instituição e na turma selecionada. Como critério de exclusão, considerou-se o fato de o estudante não estar presente no dia agendado para a coleta de dados ou não entregar o Termo de Assentimento e/ou Consentimento Livre e Esclarecido. Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se um questionário que contemplava as variáveis sociodemográficas (sexo, idade e classe econômica) e de formação (instituição de estudo, turno e série). Foram utilizados o questionário “Estilo de Vida Fantástico” e o “Maslach Burnout Inventory – Student Survey (MBI-SS)”. Para avaliação do estilo de vida dos adolescentes, aplicou-se o questionário validado “Estilo de Vida Fantástico” (Rodriguez Añez, Reis, e Petroski, 2008). Este questionário considera o comportamento dos estudantes no último mês. O instrumento compreende 25 questões distribuídas em nove domínios (23 em escala Likert de zero a quatro pontos e duas questões dicotômicas – não; zero e sim; quatro pontos). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 17


Foram considerados os domínios: família e amigos (2 itens); atividade física (2 itens); nutrição (3 itens); cigarro e drogas (4 itens); álcool (3 itens); sono, cinto de segurança, estresse e sexo seguro (5 itens); tipo de comportamento (2 itens); introspecção (3 itens) e trabalho (1 item). A soma de todos os pontos permite chegar a um escore total que classifica os indivíduos em cinco categorias que são: “Excelente” (85 a 100 pontos); “Muito bom” (70 a 84 pontos); “Bom” (55 a 69 pontos); “Regular” (35 a 54 pontos); e “Necessita melhorar” (0 a 34 pontos). Para cada um dos domínios também foi realizada a classificação em estilo de vida saudável e estilo de vida não saudável. Tal classificação foi realizada conforme a possibilidade de pontos possíveis em cada um dos domínios. Para o presente estudo, a categoria Necessita melhorar é a relatada como a que apresenta um estilo de vida não saudável ou inadequado. A fim de avaliar os sintomas da Síndrome de Burnout, utilizou-se o “Maslach Burnout Inventory – Student Survey (MBI-SS)” (Maroco, e Tecedeiro, 2009). O inventário é constituído por 15 itens subdivididos em três dimensões: exaustão emocional, descrença e eficácia profissional. Cada item deve ser avaliado em uma pontuação que vai de 0 a 6, sendo 0 nunca, 1 uma vez por ano ou menos, 2 uma vez por mês ou menos, 3 algumas vezes por mês, 4 uma vez por semana, 5 algumas vezes por semana e 6 todos os dias. De acordo com o MBI-SS, a dimensão exaustão emocional pode ser classificado em baixo (0–9), moderado (10–14) e alto (>14); a dimensão descrença classificado em baixo (0–1), moderado (2–6) e alto (>6); a dimensão eficácia profissional classificado em baixo (≤22), moderado (23–27) e alto (≥28).O indivíduo é considerado portador de Síndrome de Burnout quando sua pontuação atinge escore alto para exaustão (escore maior que 14), escore alto para descrença (escore maior do que 6) e escore baixo para eficácia profissional (escore menor que 23). A coleta dos dados foi realizada em sala de aula, entre o segundo semestre de 2016 e o primeiro semestre de 2017. O instrumento foi entregue, após autorização dos professores, sendo respondido pelos estudantes e recolhido, logo após, juntamente com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado pelos pais dos estudantes, juntamente com o termo de assentimento assinado pelos mesmos. Para análise dos dados, utilizou-se o software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 20.0. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 18

Os resultados referentes à amostra estudada foram obtidos por meio de estatística descritiva (frequência simples, percentual, média e desvio padrão). Utilizou-se o coeficiente de correlação de Pearson para estimar e testar a correlação linear entre as dimensões da SB e estilo de vida entre os estudantes. A significância estatística foi estabelecida em 5% (p<0,05). O coeficiente de correlação de Pearson de r≥0,2 ou ≤-0,2 foi considerado como associação adequada. Este estudo, cumprindo o recomendado da Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, e da Norma Operacional nº 001/2013, de 30 de setembro de 2013, do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Saúde, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob protocolo nº 1.520.173/2016. RESULTADOS Participaram desta pesquisa 966 estudantes do ensino médio, sendo 53% (n=516) do sexo feminino e 47% do sexo masculino (n=450). A média de idade foi de 16,61 (±1,26) anos. Entre os estudantes, 16,3% foram classificados na classe econômica A, 39,4% na classe econômica B, 38,5% na classe econômica C e 5,8% na classe econômica D/E. Quanto à série, observou-se que 42,9% cursavam o 1º ano do ensino médio, 33,1% o segundo ano e 24,0% o terceiro ano. A maioria dos estudantes frequentava as aulas no turno matutino (91,4%). Com relação à classificação da Síndrome de Burnout, identificou-se que 12,1% (n=117) dos estudantes a apresentaram. Na Tabela 1 são apresentadas as medidas descritivas para as dimensões exaustão emocional, descrença e eficácia profissional. Tabela 1 - Descrição dos Valores Médios e Desvio Padrão dos Domínios da Síndrome Burnout em Estudantes do Ensino Médio Domínios

Média (DP)

Exaustão emocional (EE)

2,35 ± 1,31

Descrença (DE)

1,70 ± 1,27

Eficácia profissional (EP)

3,45 ± 1,41

Na análise do estilo de vida dos estudantes, verificou-se que 102 (10,6%) foram classificados com estilo de vida excelente, 432 (44,7%) muito bom, 332 (34,4%) bom, 61 (6,3%) regular e 5 (0,5%) necessita melhorar. As medidas descritivas das dimensões do Estilo de Vida Fantástico (média e desvio padrão) estão apresentadas na Tabela 2.


Tabela 2 - Descrição dos Valores Médios e Desvio Padrão dos Domínios do Estilo de Vida em Estudantes do Ensino Médio Domínios

Média (DP)

Família e amigos

4,25 ± 1,70

Atividade física

2,60 ± 2,01

Nutrição

4,65 ± 2,19

Cigarro e drogas Álcool Sono, Cinto de Segurança, Estresse e Sexo Seguro Tipo de comportamento Introspecção Trabalho

12,04 ± 1,65 8,35 ± 1,67 11,20 ± 3,40 3,41 ± 1,49 6,33 ± 2,25 3,41 ± 1,12

Na Figura 1 foram apresentadas as prevalências do estilo de vida inadequado ao considerar a análise por domínios do instrumento utilizado. Entre os estudantes investigados, 46,2% dos entrevistados apresentaram inadequação para atividade física. Na sequência, o domínio mais prevalente foi o Tipo de comportamento, em que 24,0% dos estudantes estavam inadequados quanto a esse hábito de vida. Ainda, 20,3% e 18,9% dos estudantes relataram hábito de vida inadequado para nutrição e família e amigos, respetivamente.

profissional, família e amigos (0,224, p<0,001), sono, cinto de segurança, estresse e sexo seguro (0,282, p<0,001) e introspecção (0,245, p<0,001). Tabela 3 - Relação entre os Domínios da Síndrome Burnout e de Estilo de Vida dos Estudantes do Ensino Médio Domínios Exaustão p emocional

Descrença

p

Eficácia profissional

p

Família e amigos

-0,019

0,560

-0,123

<0,001 0,224

<0,001

Atividade física

-0,064

0,047

-0,010

0,755

0,137

<0,001

Nutrição

-0,142

<0,001 -0,123

<0,001 0,180

<0,001

Cigarro e drogas

-0,154

<0,001 -0,206

<0,001 0,136

<0,001

Álcool

-0,093

0,004

-0,132

<0,001 0,163

<0,001

Sono, Cinto de Segurança, Estresse e Sexo Seguro

-0,225

<0,001 -0,190

<0,001 0,282

<0,001

Tipo de -0,149 comportamento

<0,001 -0,136

<0,001 0,093

0,004

Introspecção

-0,161

<0,001 -0,178

<0,001 0,245

<0,001

Trabalho

-0,118

<0,001 -0,165

<0,001 0,156

<0,001

Coeficiente de correlação de Pearson

DISCUSSÃO

Figura 1 - Prevalência do estilo de vida inadequado para a classificação de acordo com os domínios do estilo de vida em estudantes de ensino médio.

Na análise de correlação entre as dimensões da SB e do estilo de vida dos estudantes, observaram-se correlações lineares significativas (p<0,05) para todos os itens das dimensões, exceto para as relações entre as dimensões descrença e atividade física, e entre as dimensões família e amigos e exaustão emocional (Tabela 3). A correlação foi fortemente negativa para as dimensões exaustão emocional e sono, cinto de segurança, estresse e sexo seguro (-0,225, p<0,001); descrença e cigarro e drogas (-0,206, p<0,001); e positiva para eficácia

Ao analisar o perfil dos estudantes do ensino médio, pode-se observar que a prevalência da síndrome de Burnout nesses estudantes se encontrava próxima àquela apresentada em estudo de coorte realizado por Tuominen-Soini, & Salmela-Aro (2014), no qual foi constatada a prevalência de síndrome de Burnout em 14% dos estudantes da educação finlandesa. Esses dados se aproximam de estudo com estudantes universitários no cenário nacional (Costa, Santos, Santos, Melo, & Andrade, 2012; Magri et al., 2016; Chagas, Moreira Junior, Cunha, Caixeta, e Fonseca, 2016). Entretanto, quando analisada de forma segmentada, no âmbito dos três domínios do instrumento utilizado, pode-se notar médias inferiores àquelas apresentadas em estudo com esse público (Tomaschewski-Barlem et al., 2014) Quanto ao estilo de vida desses estudantes, notou-se que uma parcela dos estudantes analisados apresentou baixos índices de adesão à prática de atividade física. Esse resultado representa uma tendência de sedentarismo mundial na população (Guerra, Farias Júnior, e Florindo, 2016). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 19


Outro ponto é que existe correlação na literatura entre a prevenção de SB e a realização de atividades físicas (Freitas, Carneseca, Paiva, e Paiva, 2014). Neste estudo, na análise do estilo de vida dos estudantes, observou-se frequência alta para a alteração na nutrição. A nutrição é um elemento importante para elaboração da saúde do indivíduo como um todo, incluindo a saúde mental. Estudo com universitários de medicina identificou que a Síndrome de Burnout foi associada ao comportamento alimentar de risco (GalvánMolina et al., 2017). Os resultados também demonstraram correlações negativas para as dimensões de exaustão emocional e descrença, e correlações positivas para eficácia profissional ao associar-se o estilo de vida desses estudantes à presença de SB, concordando, dessa forma, com a literatura. Isso pode estar associado ao estilo de vida fantástico propor variáveis que seriam ideais a um sujeito que leva uma vida saudável. Assim sendo, um estilo de vida adequado seria protetor para desenvolvimento da SB (Fernández Sánchez, Pérez Mármol, & Peralta Ramírez, 2017). As correlações de maior importância negativa estão identificadas entre o domínio da SB exaustão emocional e o grupo de estilo de vida, sono, cinto de segurança, estresse e sexo seguro. Acredita-se que os pontos mais importantes dessa correlação seja o estresse e o sono. A literatura entra em consenso sobre a importância do estresse na gênese da SB e de seus domínios, logo, justifica-se a relação negativa entre as fases. Da mesma maneira, encontra-se o sono como importante fator protetor ao surgimento da Síndrome de Burnout e, portanto, também justificando a correlação negativa (GalvánMolina et al., 2017). Outra correlação observada foi a do domínio descrença da SB e da variável do estilo de vida cigarro e drogas. A relação fortemente negativa entre esses grupos pode ser explicada devido ao despertar da descrença em jovens ser geralmente acompanhada do início no mundo das drogas. Isso é geralmente causado porque estes podem acreditar que as drogas podem oferecer força para enfrentar um quadro emocional grave que passam ou até mesmo fuga. A Pesquisa Nacional de Saúde da Escola do Adolescente realizada com uma amostra nacional de 109.104 estudantes observou que as características da saúde mental foram associadas ao uso de tabaco, álcool e drogas ilícitas (Malta et al., 2014). Também foram identificadas relações fortemente positivas para eficácia profissional e família e amigos, sono, cinto de segurança, estresse e sexo seguro. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 20

Essas relações contrariam a tendência das variáveis do estilo vida de se relacionarem negativamente com as variáveis da SB porque é a baixa eficácia profissional que determina a síndrome. Logo, esses fatores determinariam uma alta eficácia profissional. Isso se dá principalmente pelos elementos sono, proximidade com família e amigos e estresse, sendo esses fatores importantes para um bom desenvolvimento profissional (Fernández Sánchez et al., 2017; Galván-Molina et al., 2017). As limitações encontradas neste estudo foram identificadas principalmente, na característica principal do estudo, que se trata de um estudo transversal, o que permite uma avaliação pouco profunda da condição estudada, enquanto uma abordagem longitudinal seria ideal para elencar as causalidades de melhor forma. Além disso, foram observadas limitações quanto à aplicação do instrumento de coleta de dados em grupo, que não permitiu maior privacidade ao jovem ao responder, podendo causar sensação desconfortável e, assim, interferir na lisura das respostas durante a avaliação. Apesar de suas limitações, esta pesquisa foi positiva, uma vez que permitiu compreender a prevalência da SB em jovens e entender que fatores importantes acerca da vida cotidiana podem precipitar a síndrome e, por conseguinte, propiciar o abandono ou o baixo rendimento escolar. O estudo buscou também contribuir com a produção científica acerca do tema, bem como sensibilizar outros para a realização de mais pesquisas, além de subsidiar políticas para o desenvolvimento de estratégias que venham não apenas aplacar a desordem orgânica, mas visem incentivar a prática de atividade física, incentivo à alimentação equilibrada e ressaltar a importância do sono, todos demonstrados como fatores protetores contra a SB. CONCLUSÃO Neste estudo foi identificada uma prevalência da Síndrome de Burnout na amostra de estudantes do ensino médio. Pode-se inferir que uma boa relação familiar, prática de atividade física e nutrição saudável, a negação do uso de álcool, drogas e cigarro, bem como a realização de práticas saudáveis de convivência na sociedade, são elementos de um estilo de vida determinado como positivo correlacionados diretamente com a Síndrome de Burnout e/ou algum dos seus sintomas. Assim, a estimulação dessas práticas deve ser realizada rotineiramente.


Os resultados evidenciam a necessidade de ações de promoção de saúde e bem-estar dos estudantes com a participação de professores, profissionais de saúde e comunidade. A implementação de medidas que identifiquem precocemente sintomas de estresse e promovam controle das causas nessa população pode garantir a saúde mental no ambiente escolar, com impacto positivo na qualidade de vida e no desenvolvimento humano saudável. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Chagas, M. K. S., Moreira Junior, D. B., Cunha, G. N., Caixeta, R. P., e Fonseca, E. F. (2016). Ocorrência da Síndrome de Burnout em acadêmicos de medicina de instituição de ensino no interior de Minas Gerais. Revista de Medicina e Saúde de Brasília, 5(2), 234-245. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/ rmsbr/article/view/7241 Costa, E. F. O., Santos, S. A., Santos, A. T. R. A., Melo, E. V & Andrade, T. M. (2012). Burnout Syndrome and associated factors among medical students: a crosssectional study. Clinics, 67(6), 573-580. Doi: 10.6061/ clinics/2012(06)05 Faria, R. R., Weber, L. N. D., e Ton, C. T. (2012). O estresse entre vestibulandos e suas relações com a família e a escolha profissional. Psicologia Argumento, 30(68), 43-52.Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/psicologiaargumento/article/view/19893 Fernández Sánchez, J. C., Pérez Mármol, J. M., Peralta Ramírez, M. I. (2017). Influence of sociodemographic, occupational and life style factors on the levels of burnout in palliative care health professionals. Anales del Sistema Sanitario de Navarra, 40(3), 421-431. Doi: 10.23938/ASSN.0114. Freitas, A., Carneseca, E., Paiva, C., e Paiva, B. (2014). Impacto de um programa de atividade física sobre a ansiedade, depressão, estresse ocupacional e síndrome de Burnout dos profissionais de enfermagem no trabalho. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 22(2), 332-336. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/ v22n2/pt_0104-1169-rlae-22-02-00332.pdf

Galdino, M. J. Q., Martins, J. T., Haddad, M. C. F. L., Robazzi, M. L. C. C., e Birolim, M. M. (2016). Síndrome de Burnout entre mestrandos e doutorandos em enfermagem. Acta Paulista de Enfermagem, 29(1), 100-106. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ape/ v29n1/1982-0194-ape-29-01-0100.pdf Galván-Molina, J. F., Jiménez-Capdeville, M. E., Hernández-Mata, J. M., & Arellano-Cano, J. R. Psychopathology screening in medical school students. (2017). Gaceta Médica de México, 153(1), 75-87. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/9287/a252eac617cf7dc28d5cea92da4a4a37a641.pdf Gonzaga, L. R. V, Silva, A. M. B., e Enumo, S. R. F. (2016). Ansiedade de provas em estudantes do Ensino Médio. Psicologia Argumento, 34(84), 76-88. Doi: 10.7213/psicol.argum.34.084.AO07 Guerra, P. H., Farias Júnior, J. C., e Florindo, A. A. (2016). Comportamento sedentário em crianças e adolescentes brasileiros: revisão sistemática. Revista de Saúde Pública, 50(9), 1-15. Magri, L. V, Melchior, M. O., Jarina, L., Simonaggio, F. F., e Bataglion, C. (2016). Relação entre sinais e sintomas de disfunção temporomandibular e de síndrome de Burnout em estudantes de odontologia. Revista Dor, 17(3), 171-177. Doi: 10.5935/1806-0013.20160065 Malta, D. C., Oliveira-Campos, M., Prado R. R., Andrade, S. S., Mello, F. C., Dias, A. J., e Bomtempo, D. B. (2014). Psychoactive substance use, family context and mental health among Brazilian adolescents, National Adolescent School-based Health Survey (PeNSE 2012). Revista Brasileira de Epidemiologia, 17(Suppl 1), 46-61. Doi: 10.1590/1809-4503201400050005 Maroco, J., e Tecedeiro, M. (2009). Inventário de Burnout de Maslach para Estudantes Portugueses. Psicologia, Saúde e Doenças, 10(2), 227-235. Disponível em: http://repositorio.ispa.pt/handle/10400.12/1090 Marques, C. P., Gasparotto, G. S., e Coelho, R. W. (2015). Líquen plano oral: reconhecendo a doença e suas características básicas. Salusvita, 34(1), 99-108. Disponível em: https://secure.usc.br/static/biblioteca/salusvita/ salusvita_v34_n1_2015_art_06.pdf

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Rodriguez Añez, C. R., Reis, R. S., e Petroski, E. L. (2008). Versão brasileira do questionário “estilo de vida fantástico”: tradução e validação para adultos jovens. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 91(2), 102-109. Doi: 10.1590/S0066-782X2008001400006

Fonte de Financiamento

Tomaschewski-Barlem, J., Lunardi, V., Lunardi, G., Barlem, E., Silveira, R., e Vidal, D. (2014). Síndrome de Burnout entre estudantes de graduação em enfermagem de uma universidade pública. Revista LatinoAmericana de Enfermagem, 22(6), 934-941. Doi:: 10.1590/0104-1169.3254.2498

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Recursos financeiros e bolsas de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).


Artigo de Investigação

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Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0234

O TRABALHO COMO ESTRATÉGIA DE REINSERÇÃO PSICOSSOCIAL DO DEPENDENTE QUÍMICO SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA | Elias Barbosa de Oliveira1; Michele Borges dos Santos2; Olivia de Andrade Guerra3 |

RESUMO CONTEXTO: O estigma da dependência química e as recaídas são fatores que dificultam a inserção do indivíduo no mercado de trabalho. OBJETIVO: Analisar o entendimento da família acerca do trabalho como estratégia de reinserção psicossocial do dependente químico. MÉTODO: Estudo qualitativo descritivo. Utilizou-se a entrevista semiestruturada mediante um roteiro e no tratamento dos dados a análise de conteúdo. Participaram do estudo 10 famílias de uma unidade de internação psiquiátrica de um hospital universitário público situado no município do Rio de Janeiro (Brasil), em 2015. RESULTADOS: Na visão da família o trabalho é uma estratégia eficaz de reinserção psicossocial do dependente químico, pois através dele a pessoa exerce a sua criatividade e autonomia. No entanto a recaída afeta o desempenho devido a faltas, atrasos e conflitos no trabalho, culminando com o desemprego e as sobrecargas financeira, emocional e social da família. A pouca autonomia do dependente químico e os gastos com drogas propiciam um ambiente de conflitos e tensões no ambiente familiar e a codependência. CONCLUSÔES: As recaídas do dependente químico e as dificuldades de inserção no trabalho acarretam sobrecarga emocional, social e financeira a família, exigindo ações de cunho preventivo e terapêutico junto ao grupo por parte dos serviços de saúde mental. PALAVRAS-CHAVE: Relações familiares; Bebidas alcoólicas; Saúde mental; Saúde do trabalhador

RESUMEN

ABSTRACT

“El trabajo como estrategia de reinserción psicosocial del dependiente químico bajo la óptica de la familia“

“Work as a strategy of psychosocial reinsertion of the dependent chemist from the perspective of the family”

CONTEXTO: El estigma de la dependencia química y las recaídas son factores que dificultan la inserción del individuo en el mercado de trabajo. OBJETIVO: Analizar el entendimiento de la familia acerca del trabajo como estrategia de reinserción psicosocial del dependiente químico. MÉTODO: Estudio cualitativo descriptivo. Se utilizó la entrevista semiestructurada mediante un guión y en el tratamiento de los datos el análisis de contenido. Participaron del estudio 10 familias de una unidad de internación psiquiátrica de un hospital universitario público situado en el municipio de Río de Janeiro (Brazil), en 2015. RESULTADOS: En la visión de la familia el trabajo es una estrategia eficaz de reinserción psicosocial del dependiente químico, pues a través de él la persona ejerce su creatividad y autonomía. Sin embargo la recaída afecta el desempeño debido a las faltas, retrasos y conflictos en el trabajo, culminando con el desempleo y las sobrecargas financiera, emocional y social de la familia. La poca autonomía del dependiente químico y los gastos con drogas propician un ambiente de conflictos y tensiones en el ambiente familiar acarreando la codependencia de la familia. CONCLUSIONES: Las recaídas del dependiente químico y las dificultades de inserción en el trabajo acarrean sobrecargas emocional, social y financiera a la familia, exigiendo acciones de carácter preventivo y terapéutico junto al grupo por parte de los servicios de salud mental.

BACKGROUND: The stigma of chemical dependence and relapses are factors that hinder the insertion of the individual in the labor market. AIM: To analyze the family’s understanding of work as a strategy of psychosocial reinsertion of the chemical dependent. METHOD: Descriptive qualitative study. The semi-structured interview was used through a script and in the data treatment the content analysis. Ten families from a psychiatric inpatient unit of a public university hospital located in the city of Rio de Janeiro (Brazil), in 2015, participated in the study. RESULTS: In the family view, work is an effective strategy for the psychosocial reinsertion of the chemical dependent, because through him the person exercises his creativity and autonomy. However, relapse affects performance due to absences, delays and conflicts at work, culminating in unemployment, and financial, emotional and social overload of the family. The low autonomy of the chemical dependents and drug spending provide an environment of conflicts and tensions in the family environment, causing the codependency of the family. CONCLUSIONS: The relapses of the chemical dependents and the difficulties of insertion in the work lead to emotional, social and financial overload on the family, requiring preventive and therapeutic actions with the group by the mental health services.

DESCRIPTORES: Relaciones familiares; Bebidas alcohólicas; Salud mental; Salud del trabajador

KEYWORDS: Family relations; Alcoholic beverage; Mental health; Worker’s health Submetido em 30-09-2018 Aceite em 05-12-2018

1 Professor Associado de Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiatria na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem, Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgico, Boulevard 28 de Setembro, 157, 20551-030 Vila Isabel (RJ), Brasil, eliasbo@oi.com.br 2 Enfermeira especialista em Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental no Hospital Municipal Rocha Faria (SMS), Campo Grande (RJ), Brasil, miicheleborges@gmail.com 3 Enfermeira; Mestre em Enfermagem; Especialista em Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Centro de Atenção Psicossocial Álcool de Drogas Antônio Carlos Mussum, 22713-560 Jacarepaguá (RJ), Brasil, oliviaaguerra@gmail.com Citação: Oliveira, E., Santos, M., & Guerra, O. (2019). O trabalho como estratégia de reinserção psicossocial do dependente químico sob a ótica da família. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (21), 23-xx. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 23


INTRODUÇÃO O texto da reforma psiquiátrica no Brasil ratificou, de forma histórica, as diretrizes básicas que garantem aos indivíduos que sofrem de transtorno mental e daquele decorrente do consumo de álcool e outras drogas a desinstitucionalização e a universalidade de acesso e direito à assistência. Tais diretrizes devem ser executadas através da ampliação da rede ambulatorial e o fortalecimento de iniciativas que propiciem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) com a criação de equipamentos intensivos e intermediários entre o tratamento ambulatorial e a internação hospitalar, com ênfase nas ações de reabilitação psicossocial dos pacientes (Amarante, 2013). Em um contexto de mudanças econômicas, políticas e sociais, a reforma psiquiátrica surgiu como um movimento que tem entre seus propósitos a desinstitucionalização e a reabilitação psicossocial; entendida como um conjunto de ações que visam aumentar as habilidades da pessoa, diminuindo o dano causado pelo transtorno mental, as longas internações e envolvendo todos aqueles que fazem parte do processo saúde-doença, ou seja, usuários, familiares, profissionais e comunidade em geral. Consiste, portanto, em um processo de reconstrução da cidadania do sujeito, devendo contemplar os três vértices da vida humana: casa, lazer e trabalho (Saraceno, 2001). A reforma abriu o caminho para outras inciativas e/ ou políticas publicas em saúde mental como a Política Nacional Especifica para Álcool e Drogas, que assume o desafio de prevenir, tratar e reabilitar os usuários na amplitude de seu contexto social. Ao se prover a saúde pode-se reduzir o consumo e o abuso das drogas na realidade social, uma vez que promover a saúde é uma atitude que está de acordo com o modelo vigente de inclusão do sujeito em seu território. Portanto, o indivíduo com diagnóstico de dependência química deve receber tratamento em serviços especializados como os centros de atenção psicossocial álcool e drogas (CAPSad), com profissionais capacitados para o efetivo atendimento e participação da família (Ministério da Saúde, 2011). Assevera-se que a partir da legitimação do acesso universal à prevenção e tratamento da dependência química no país e, tendo em vista as inúmeras implicações decorrentes do consumo abusivo de álcool e outras drogas para o indivíduo e sociedade (Lima, Breda, & Albuquerque, 2013), há urgência de estratégias que deem suporte às famílias em sofrimento psíquico. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 24

As ações devem produzir acolhimento, diante das sobrecargas sofridas em seu dia a dia com os problemas decorrentes da dependência química. Portanto, as ações dirigidas ao grupo devem contemplar a perspectiva de rede de cuidados em saúde mental para a efetividade de terapêuticas e prevenção de recaídas. Uma das inciativas que tem contribuído para a reabilitação do indivíduo em sofrimento mental ou com problemas decorrentes do uso abusivo de álcool e drogas é a inclusão social pelo trabalho, que emergiu da parceria firmada entre a Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego com a Coordenação Nacional de Saúde Mental (MS). O Grupo de Trabalho tem como proposta a reabilitação psicossocial e econômica do individuo, através da inserção em oficinas de produção de trabalho e renda organizadas coletivamente. A economia solidaria baseia-se na construção de relações que oportunizam a reabilitação psicossocial e econômica de pessoas que estão à margem da sociedade, propiciando deste modo à inclusão social e maior autonomia, inclusive em relação à família (Amarante, 2013). A pessoa com transtorno mental segundo Volz et al, (2015) sofre com o estigma da doença e/ou identidade desacreditada, pois a discriminação causa outros danos como baixa autoestima, interferindo na confiança como cidadão e na qualidade de vida. Portanto, a inclusão social pelo trabalho exerce papel de suma importância no processo de redução do estigma social. Nesse sentido as cooperativas sociais e as oficinas de geração de trabalho e renda, propiciam um ambiente de troca de experiências e vivências, possibilitando aos sujeitos que compartilham da mesma problemática, construir conjuntamente um processo de autoafirmação e de redes sociais. Ao conceberem o grupo como uma “família” essas pessoas têm os sentimentos de medo e desvalorização visivelmente minimizados. Tendo em vista as mudanças ocorridas com a reforma psiquiátrica no país no que diz respeito à inclusão da família no tratamento, (Amaral & Bressen, 2015) os profissionais precisam estimular o protagonismo e o empoderamento dessas famílias com o intuito de superação de suas dificuldades e fragilidades, de modo que essas se percebam como parte do processo orientado pelos profissionais. O êxito das ações depende da postura adotada e da condução do trabalho, instigando a participação dos familiares e pacientes nas decisões, considerando o respeito às formas de organização das famílias, suas crenças, valores e cultura e os respectivos contextos em que se encontram.


O objetivo do estudo foi analisar o entendimento da família acerca do trabalho como estratégia de reinserção psicossocial do dependente químico. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de caráter descritivo com abordagem qualitativa (Minayo, 2013) que buscou compreender um problema na perspectiva dos sujeitos que o vivenciam, partindo de suas vidas diárias, satisfações, desapontamentos, surpresas e outras emoções. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/HUPE) e protocolado no Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (CAAE - 42605315.9.0000.5259) e parecer de número 999.078. O campo foi uma unidade de internação psiquiátrica de um hospital universitário situado no município do Rio de Janeiro. Esta unidade integra a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do município e destinada ao tratamento de um pequeno número de pacientes com transtornos mentais e dependentes químicos; cujo modelo de atendimento é a Comunidade Terapêutica. Como não possui serviço de emergência, os leitos são ocupados por pacientes matriciados pelos serviços substitutivos em saúde mental do Sistema Único de Saúde (SUS). O tempo de internação é breve, em torno de 15 dias, e o atendimento realizado por equipes multiprofissionais de saúde mental. A planta física é horizontal com seis casas geminadas, sendo cada casa composta por um quarto com dois leitos e um banheiro. A unidade possui também um posto de enfermagem, um refeitório, uma copa, um pequeno anfiteatro e salas destinadas à parte administrativa. Em atendimento à Resolução 466/12, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, participaram do estudo 10 familiares a partir dos seguintes critérios de inclusão: maior de dezoito anos, conviver no mesmo espaço domiciliar que o paciente, participar direta ou indiretamente do tratamento, não ter transtorno mental ou outro tipo de problema de saude que interferisse na qualidade dos depoimentos e se disponibilizar a participar do estudo. Excluídos os familiares menores de dezoito anos, aqueles que não convivessem sob o mesmo teto do paciente, que tivessem problemas de saude de qualquer natureza e que não concordassem em participar do estudo. Informou-se que a participação dos entrevistados seria voluntária e que teriam o direito de se retirar da pesquisa em qualquer fase, sem que isso trouxesse qualquer dano ou retaliação.

Garantiu-se o sigilo dos dados e ratificou-se que os resultados seriam apresentados em eventos científicos e publicados em revistas científicas. Na transcrição dos depoimentos foram adotadas as seguintes convenções: entrevistado (letra E) seguido de um número de acordo com a ordem de entrada no texto. As entrevistas foram coletadas no período de abril a junho de 2015, na própria unidade em local livre de interferências após agendamento e disponibilidade dos familiares, sendo gravadas em meio digital (gravador Mp3) e durado em torno de 40 minutos. Optou-se pela técnica de entrevista semiestruturada mediante um roteiro com questões abertas que contribuíram para esclarecer a problemática da investigação. Na realização das entrevistas, foi utilizado um roteiro contendo cinco questões abertas sobre o objeto de estudo de modo que os familiares falassem a respeito da problemática, sem nenhum tipo de interferência ou indução as respostas. Realizada a transcrição dos depoimentos na integra, sendo o corpus do texto analisado mediante a técnica de análise de conteúdo do tipo temática (Bardin, 2011), que consistiu em um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitiram a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. Em um último momento, utilizando os critérios de representatividade, homogeneidade, reclassificação e agregação dos elementos do conjunto, foram elaboradas as seguintes categorias: a difícil inserção psicossocial do dependente químico pelo trabalho devido a recaídas; sobrecarga financeira da família e conflitos; sofrimento e codependência da família; quando ainda há esperança: reinserção psicossocial através do trabalho. RESULTADOS A Difícil Inserção Psicossocial do Dependente Químico pelo Trabalho Devido a Recaídas Evidenciado no estudo que a reinserção psicossocial do dependente químico através do trabalho, em algumas circunstâncias é prejudicada, pelo fato de o consumo afetar o desempenho e demais atividades do dia a dia como lazer, trabalho e outras. Não se elimina a possibilidade de recaída, e/ou encontrar-se na fase de contemplação por achar que possui controle sobre o consumo da droga. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 25


Como referido pela família, o consumo de substancias psicoativas pelo indivíduo é denunciado em função de atitudes e/ou comportamentos que vão de encontro às normas estabelecidas no ambiente laboral devido a problemas como: faltas, quedas, embriaguez e até mesmo agressões contra os colegas. Ela foi demitida porque chegou alcoolizada e faltava muito (F6) Ela perdeu o último emprego por chegar ao trabalho drogada! Escorregou e caiu e o patrão viu (F7). Foi mandado embora porque chegou embriagado e agrediu um colega (F10). Sobrecarga Financeira da Família e Conflitos Identificou-se que a família se sente sobrecarregada financeiramente pelo fato de o dependente químico não contribuir com as despesas e, apesar de em algumas situações os familiares relatarem que o ente possui renda própria, os recursos financeiros advindos do trabalho não entram como parte da renda familiar, sendo consumidos com as drogas. Deste modo a família se ressente por ter que arcar com as despesas e as decorrentes do consumo de drogas; fatores que propiciam a quebra da confiança e desestabilizam o relacionamento no grupo. Ele não contribui com as despesas da casa. A gente não sabe pra onde vai o dinheiro dele (F2). Financeiramente eu tenho as rédeas! Estou me sobrecarregando (F3). Me prejudicou muito financeiramente porque tive que pegar empréstimo pra montar uma casa (F6). Quem segura o cartão do pagamento sou eu! O problema que eu tive foi de pagar as contas de bebida no bar! Quase mil reais de bebida (F4). Sofrimento e Codependência da Família Os relatos retratam os impactos emocionais e sociais que a dependência química acarreta aos familiares, em que se evidenciam sentimentos de impotência, tristeza, revolta e decepção em função das sucessivas recaídas por parte do familiar. Além do sofrimento psíquico identificou-se o agravamento de conflitos familiares existentes, contribuindo para a codependência familiar e as dificuldades em acolher o sofrimento do próprio dependente químico. Nós já estamos afetados há muitos anos por causa do uso de drogas! Emocionalmente eu morro de vergonha no meu trabalho e na vizinhança. Eu chorava muito! Foi muito difícil pra mim (F2). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 26

Minha pressão sobe e já tive paralisia facial (F3). Toda família ficou afetada! Todo mundo tinha expectativa nela em alguma coisa. Isso que foi dando minha depressão (F4). O filho dela ficou muito revoltado! Tentou suicídio. (F6). Quando Ainda Há Esperança: Reinserção Psicossocial através do Trabalho Apesar das dificuldades enfrentadas pela família no que diz respeito à reinserção psicossocial do dependente químico através do trabalho, principalmente na ocorrência de recaídas, houve relatos dos aspectos positivos que o trabalho propicia por contribuir com a organização das atividades cotidianas, a maior autonomia e a credibilidade frente a família. Há também os ganhos advindos do trabalho na medida em que a pessoa se mostra produtiva, exerce as suas potencialidades. Por outro lado, persiste a visão equivocada por parte dos familiares do trabalho como mera distração, desprovido de seu potencial terapêutico e psicossocial. Ele respeita o horário do serviço e não bebe (F2). Ele produz! E é inteligente! Criativo! Os anúncios (referindo-se ao trabalho de diagramador) têm conteúdo. Ele trabalha em casa (F3). Em algum momento ele vai ter que voltar a trabalhar, porque, lógico que contribui pra recuperação dele (F5). O trabalho ajuda porque tem sido forma de distração (F9). DISCUSSÃO O consumo de substâncias psicoativas por trabalhadores na acepção de Félix Junior et al, 2014 ainda é uma problemática pouco valorizada por empresas e instituições, tendo como consequência o medo do desemprego por parte do trabalhador. O consumo contribui para a redução da produtividade, aumento dos acidentes de trabalho e riscos para a vida do indivíduo e de outras pessoas. Há uma tendência por parte do empregador em culpar o trabalhador pelo uso de drogas, não tomando para si o problema e nem encaminhando para o tratamento. Pode ser que o empregado se veja culpado e assim se torne o único responsável pela sua recuperação. Pesquisas apontam que o trabalho em si não é o maior motivador para o consumo de substâncias psicoativas, mas as chances de consumo aumentam quando as condições laborais são desgastantes, estressantes e desmotivadoras para o trabalhador.


Portanto, há necessidade de suporte ao trabalhador com histórico de consumo de substancias psicoativas por parte das instituições empregadoras (Bessa & Pagliarini, 2013) diante dos riscos para a saúde e o desempenho. O afastamento pode ser necessário até que cessem os sintomas do consumo de drogas, sendo essencial garantir os direitos trabalhistas e a proteção social. Afinal a recaída leva ao consumo _ independente do vínculo empregatício e consequentemente a diminuição da capacidade e do rendimento laboral. Pensar a reinserção psicossocial do dependente sob o olhar da família (Salles & Barros, 2017) é também entender as dificuldades enfrentadas pelo grupo na sua inclusão social, como também o preconceito e a discriminação quando estas pessoas tentam participar de atividades de lazer em ambientes comunitários. Os centros de atenção psicossocial no país vêm ajudando a preencher este vazio, mas não tem sido efetivo no que diz respeito ao acolhimento por parte da comunidade, sendo indicativo da necessidade de expansão das atividades sociais para fora das instituições. Nas novas composições familiares (Amaral & Bressan, 2015), a família é entendida como uma instituição composta por pessoas ligadas por laços afetivos, consanguíneos e de afinidade. Possui a função de socialização, cuidado, proteção e sobrevivência de seus membros, mas também se caracteriza como um espaço de disputa e de conflitos entre seus entes. Portanto, o trabalho com famílias exige preparo profissional e conhecimentos, devendo-se ter o cuidado de não responsabilizar os familiares por recaídas e/ou insucesso do tratamento, pois nenhuma família encontra-se preparada para ter um membro doente; daí a importância de suporte ao grupo por parte dos profissionais. O depende químico no contexto social e familiar que não se apresenta produtivo em função das recaídas (Schein & Boeckel, 2012) tem diminuída a sua autonomia frente a família e sociedade, passando a sua vida e demais questões de fórum privado a ser controlada pela família. Devem-se considerar as limitações do dependente quanto à responsabilidade e o controle financeiro devido à própria dificuldade de administrar seus bens. Há uma preocupação das famílias com o futuro do ente adoecido em termos de inserção social, suporte financeiro (benefício ou aposentadoria) e de apoio social (ter alguém para amparar e cuidar). Neste sentido como nos mostram Bessa & Pagliarini (2013), apesar de algumas famílias que possuem em seu núcleo pessoas com transtorno mental receberem

auxilio do governo através do Programa “De Volta para Casa”, nem sempre este beneficio atende a demandas decorrentes da compra de medicamentos, reposição de material domiciliar (devidos a perdas em momentos de crise e agressividade). Há também as dificuldades de inserção da pessoa com transtorno mental no mercado de trabalho ou manutenção do emprego quando se encontra com a sintomatologia e em descontrole do tratamento. Diante da sobrecarga sofrida, a família pode assumir formas de enfrentamento singulares (Kalan et al, 2017), oscilando desde ações de vigilância, estabelecimento de limites, supervisão do autocuidado e até mesmo posturas apáticas em função do sofrimento gerado pelas demandas do familiar adoecido. Portanto, torna-se imprescindível facilitar a continuidade do apoio multidisciplinar oferecido aos familiares, como também manutenção de espaços de trocas cotidianas, momento em que essas pessoas falam dos seus problemas e anseios, aliviando deste modo a carga emocional e tornando-se mais aptas a lidar com o adoecimento do familiar. Deste modo, o cotidiano das famílias (Bessa & Pagliarini, 2013) é modificado com o advento da doença, que provoca alterações das atividades cotidianas como lazer, trabalho e convívio social. Há também o medo e a angústia dos familiares pela possibilidade de crise, por não poder deixar o paciente sozinho, pelo risco de sofrer agressões de toda natureza e ainda ter de enfrentar as perdas materiais. As modificações da rotina familiar acarretam sofrimento ao grupo, principalmente no período adaptativo ou após a alta hospitalar e remissão dos sintomas, devido à falta de preparo e orientação à assistência ao familiar doente. Deve-se também considerar a codependência da família (Diehl, Silva & Bosso, 2017) um transtorno emocional característico de pessoas que convivem constantemente com o usuário de álcool e outras drogas e desenvolvem um conjunto de pensamentos patológicos que se traduz em um intenso sofrimento psíquico. Diante da interferência da codependência na vida e no cumprimento das obrigações sociais, é indispensável oferecer assistência profissional no intuito de minimizar a sobrecarga e fortalecer os mecanismos protetores. A crise desencadeada pela recaída, pode favorecer um ambiente propício ao afeto negativo por parte do familiar que só aumenta a culpa do dependente químico e o consumo de álcool e outras drogas. O suporte as famílias pode ser realizado mediante oficinas e demais atividades grupais (Kalan et al, 2017) em que se observa progressivamente melhora na relação entre os membros. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 27


Igualmente são de grande importância os encontros ou consulta familiar que oportunizam a troca de experiências, a realização de técnicas de relaxamento e orientação junto as famílias das formas de acolhimento do individuo com transtorno mental. Estratégias, cujo potencial terapêutico e educativo melhoram a convivência e a harmonia no grupo, sendo imprescindível por apoiar os familiares e amenizar suas dificuldades e inseguranças. Na visão da família (Felix Junior et al, 2015) a reinserção psicossocial do dependente químico através do trabalho é uma estratégia essencial em sua recuperação, pelo fato de o indivíduo exercer a sua autonomia, ter disciplina em termos de horários, rotinas e também desenvolver a sua criatividade e / ou habilidades que se encontravam encobertas devido ao consumo de drogas. Portanto, a família deve ser entendida como eixo primário das relações que possibilitam a efetividade do tratamento e acompanhamento do dependente químico e não mais como a causa ou agente que leva ao uso da droga. Há necessidade de ações que promovam o fortalecimento do núcleo familiar como fator protetor na prevenção e atenção a questão da dependência de álcool e outras drogas. Sob este ponto de vista psicossocial, o trabalho (Fava, Silva & Silva, 2015) é parte das ações preventivas relacionadas ao uso de drogas e direcionadas ao desenvolvimento humano e que possibilita o acesso à educação para a vida saudável, aos bens culturais, à prática de esportes, à cultura e ao lazer. A socialização do conhecimento sobre drogas deve envolver a participação dos jovens através da escola, da família e da sociedade. O fato de estar casado e empregado ou estudar (Valentim, Santos, Ribeiro, 2015) são fatores protetores e promotores da resiliência familiar. E com o passar do tempo, parece que os familiares vão se adaptando ao problema do alcoolismo e desenvolvem mecanismos adaptativos capazes de proporcionar o apoio necessário que sustentar os sentimentos de autoestima e autoconfiança dos seus membros. Por outro lado, as pesquisas apontam (Amaral & Bresser, 2015) a tendência de os profissionais de saúde mental, ainda enxergarem somente a pobreza, a impotência e a impossibilidade da família. Tal posicionamento é um risco ou mesmo um equívoco, pois a família deve ser entendida como um grupo social capaz de reorganizar suas demandas e reconstruir vínculos ameaçados por meio do apoio dos serviços. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 28

Ressalta-se que diante da insuficiência de políticas públicas materializadas em serviços, outros atores como as organizações não governamentais, igrejas, entidades filantrópicas, fundações entre outras, têm assumido o apoio e o fortalecimento da família, como parte da rede de atenção psicossocial de modo a promover a autonomia e harmonia dos seus integrantes. CONCLUSÃO As famílias que participaram do estudo, por conviverem diariamente com pessoas com histórico de consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas, reconhecem e acreditam na importância do trabalho como estratégia de organização da vida social e da personalidade do indivíduo. No entanto, sofrem com as dificuldades de inserção do familiar no mundo do trabalho, devido às recaídas em que se evidenciaram sobrecargas emocional, social e financeira do grupo. Há necessidade de suporte às famílias por parte das instituições e profissionais de saúde mental com o intuito de promover o acolhimento e elaboração de estratégias que minimizem as sobrecargas relatadas. A participação do dependente químico em oficinas de trabalho e de geração de rendas nos serviços de saúde mental pode favorecer a autonomia, a criatividade e a credibilidade social com vistas à futura inserção em postos de trabalho e minimização do sofrimento do grupo. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA O presente estudo poderá contribuir com as reflexões e discussões junto às instituições, gestores, profissionais de saúde mental e de outras áreas sobre a importância de se conhecer as dificuldades enfrentadas pela família no que diz respeito à inserção do dependente químico no mercado de trabalho. Pelo próprio estigma da dependência química, essas pessoas são desacreditadas socialmente, sendo na maioria das vezes culpadas por não se manterem sóbrias. Há o medo do desemprego por parte da família e do usuário e quando ocorre a demissão, as instituições que não possuem programas de acolhimento do dependente químico, costumam transferir o problema para o indivíduo e a própria família. Neste contexto, as famílias se sentem sobrecarregadas e adoecem pelo fato de ter uma pessoa que não contribui com as despesas, como também se retraem socialmente em função do preconceito.


Portanto, cabem aos profissionais de saúde mental e, dentre eles, o enfermeiro, desenvolver projetos e estratégias de acolhimento dos familiares, no intuito de fornecer informações no que dizem respeito à dependência química e propiciar um espaço de elaboração do sofrimento, de modo a minimizar as crises na família e o afeto negativo. Deve-se incluir o dependente em atividades de produção de trabalho e de renda nas instituições como os CAPSad, propiciando assim a autonomia, a liberdade de expressão e a criatividade, fatores que podem diminuir as recaídas e as sobrecargas financeira, emocional e social da família.

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Volz, P. M., Tomasi, E.; Bruck, N. R. V.; Saes, M. O.; Nunes, B. P.; Duro, S. M. S.; & Facchin, L. A. (2015). A inclusão social pelo trabalho no processo de minimização do estigma social pela doença. Revista Saúde Sociedade, 24(3), 877-886. Doi: 10.1590/S010412902015130040


Artigo de Investigação

5

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0235

ESTUDO DAS PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DA ESCALA DE BEM-ESTAR PSICOLÓGICO DE 42 ITENS | Rosa Maria Freire1; Maria Rui Sousa2; Filipe Pereira3; Teresa Martins4 |

RESUMO CONTEXTO: O bem-estar psicológico é um constructo multidimensional que tem merecido atenção dos investigadores no âmbito da saúde mental positiva, na medida em que se relaciona com o desenvolvimento do potencial humano. OBJETIVO: Validar, para a população portuguesa, a versão reduzida de 42 itens da Escala de Bem-Estar Psicológico numa amostra de adultos e jovens adultos. METODOLOGIA: Recorremos à análise fatorial confirmatória e à validade de constructo numa amostra de 252 participantes recrutados a partir de uma instituição de ensino superior, sendo 48% estudantes e 52% docentes e não docentes, a maioria do sexo feminino com média de idade de 31,4 anos e uma escolaridade média de 15,5 anos. Os participantes preencheram um questionário através de uma plataforma informática. A Escala de Bem-Estar Psicológico é constituída por seis constructos teóricos medidos numa escala de resposta do tipo likert. RESULTADOS: A análise fatorial confirmatória mostra índices de ajustamento sofrível tendo, no entanto, melhorado com a eliminação de dois itens. As dimensões da escala apresentaram valores de coeficiente alfa de Cronbach com variação entre 0,71 e 0,82 e uma matriz de correlação que varia entre 0,31 a 0,73, com valores significativos ao nível de 0,01. Apenas a Autonomia se correlacionou com a dimensão Saúde Mental. CONCLUSÃO: A escala em estudo tem mostrado adequação para avaliar o bem-estar psicológico. Esta versão mostra ser discriminativa para a idade, género, escolaridade e condição de saúde mental e uma boa consistência interna. A estrutura fatorial da escala não mostra ser tão clara quanto o quadro teórico sugerido, requerendo novas investigações. PALAVRAS-CHAVE: Estudos de validação; Saúde mental; Avaliação de programas e instrumentos de pesquisa

RESUMEN

ABSTRACT

“Estudio de las propiedades psicométricas de la Escala de Bienestar Psicológico de 42 ítems”

“Psychometric properties of the Psychological Well-Being Scale of 42 items”

CONTEXTO: El bienestar psicológico es un constructo multidimensional que ha merecido la atención de los investigadores en el ámbito de la salud mental positiva en la medida en que se refiere al desarrollo del potencial humano. OBJETIVO: Validar para la populación portuguesa la versión reducida de 42 ítems de la Escala de Bienestar Psicológico. METODOLOGIA: Aprobemos al análisis factorial confirmatorio ya la validez de constructo en una muestra de 252 participantes reclutados a partir de una institución de enseñanza superior, siendo 48% estudiantes y 52% docentes y no docentes, la mayoría del sexo femenino con media de edad de 31, 4 años y una escolaridad promedio de 15,5 años. Los participantes llenaron un cuestionario a través de una plataforma informática. La Escala de Bienestar Psicológico está constituida por seis constructos teóricos medidos en una escala de respuesta del tipo likert. RESULTADOS: El análisis factorial confirmatorio muestra índices de ajuste sufrido, sin embargo, mejorado con la eliminación de dos ítems. Las dimensiones de la escala presentaron valores de coeficiente alfa de Cronbach con variación entre 0,71 y 0,82 y una matriz de correlación que varía entre 0,31 a 0,73, con valores significativos al nivel de 0,01. Sólo la Autonomía se correlacionó con la dimensión Salud Mental. CONCLUSIÓN: La escala en estudio ha mostrado adecuación para evaluar el bienestar psicológico. La versión en estudio muestra ser discriminatoria para la edad, género, escolaridad y condición de salud mental y una buena consistencia interna. La estructura factorial de la escala no muestra ser tan clara como el cuadro teórico sugerido, requiriendo nuevas investigaciones.

BACKGROUND: The psychological well-being is a multidimensional construct that has deserved the attention of researchers in the field of positive mental health as it relates to the development of human potential. AIM: To validate for Portuguese the reduced version of 42 items of the Psychological Well-Being Scale. METHODS: We used confirmatory factor analysis and construct validity in a sample of 252 participants recruited from a higher education institution, of which 48% were students and 52% were teachers and nonteachers, the majority are female, with a mean age of 31,4 years old and an average schooling of 15.5 years. Participants completed a questionnaire through a computer platform. The Psychological Welfare Scale consists of six theoretical constructs measured on a likert-type response scale. RESULTS: Confirmatory factorial analysis showed satisfactory adjustment indexes, however, improved with the elimination of two items. The scale dimensions presented values of Cronbach’s alpha coefficient ranging from 0.71 to 0.82 and a correlation matrix ranging from 0.31 to 0.73, with significant values at the 0.01 level. Autonomy alone correlated with the Mental Health dimension. CONCLUSION: The scale in study has shown adequacy to evaluate the psychological well-being. The study version shows to be discriminative for age, gender, schooling and mental health condition and a good internal consistency. The factorial structure of the scale does not show to be as clear as the theoretical framework suggested, requiring further investigations.

DESCRIPTORES: Estudios de validación; Salud mental; Evaluación de programas e instrumentos de investigación

KEYWORDS: Validation studies; Mental health; Evaluation of research programs and tools Submetido em 30-09-2018 Aceite em 24-11-2018

1 Doutoranda; Mestre; Professora Adjunta na Escola Superior de Enfermagem do Porto, 4200-072 Porto, Portugal, rosafreire@esenf.pt 2 Doutora; Investigadora Integrada no CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, grupo de investigação “NursID – Investigação e Desenvolvimento em Enfermagem”; Professora Adjunta na Escola Superior de Enfermagem do Porto, 4200-072 Porto, Portugal, mariarui@esenf.pt 3 Doutor; Professor Coordenador na Escola Superior de Enfermagem do Porto, 4200-072 Porto, Portugal, filipereira@esenf.pt 4 Doutora; Investigadora Integrada no CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, grupo de investigação “NursID – Investigação e Desenvolvimento em Enfermagem”; Professora Coordenadora na Escola Superior de Enfermagem do Porto, 4200-072 Porto, Portugal, teresam@esenf.pt Citação: Freire, R. M., Sousa, M., Pereira, F., & Martins, T. (2019). Estudo das propriedades psicométricas da Escala de Bem-Estar Psicológico de 42 itens. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (21), 31-xx Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 31


INTRODUÇÃO A definição de bem-estar tem evoluído ao longo dos tempos. A compreensão do bem-estar como “ausência de doença” foi sendo substituída por outros termos mais específicos que requerem distinção. O bem-estar subjetivo relaciona-se com duas dimensões: uma associada a satisfação com a vida, de cariz cognitivo, e outra que balanceia afetos positivos e negativos, de natureza afetiva (Ryff, 2014). O bem-estar subjetivo é imbuído em valores, necessidades, crenças e espectativas pessoais (Novo, 2005), tidos em conta quando se avalia o prazer e a felicidade. Esta perspetiva hedónica do bem-estar é considerada como bem-estar subjetivo. O bem-estar psicológico, com raízes na era aristotélica, aposta no alcance da felicidade com o desenvolvimento do primado da realização pessoal e é considerado como bem-estar eudaimónico (Malla, 2013). O interesse pelo estudo do bem-estar psicológico emergiu na década de 80 e teve o seu auge com um trabalho desenvolvido nos Estados Unidos (Ryff, 1989) que tem por base a perspetiva eudaimónica do bem-estar, ou seja, com enfoque no desenvolvimento do potencial humano. Neste âmbito, a autora relaciona a saúde mental positiva com o bem-estar psicológico, que inclui a avaliação que o indivíduo faz da sua vida no que se refere a sentimentos de satisfação e felicidade, condições da vida que detém na área relacional e social e realizações pessoais anteriores e expectativas futuras (Novo, 2003). O modelo de bem-estar psicológico inclui contributos teóricos de vários estudiosos da saúde mental positiva, nomeadamente de Maslow, Roggers, Jahoda, Erikson e Neugarten (Ryff, 1989). O modelo de Ryff é multifacetado e relaciona constructos teóricos como Autonomia, Aceitação de Si, Domínio do Meio, Objetivos de Vida, Relações Positivas com os Outros e Crescimento Pessoal. A Autonomia avalia a autodeterminação, a resistência a pressões sociais e padrões pessoais de resposta. A Aceitação de Si determina a atitude em relação a si próprio, a aceitação de boas e más qualidades e da vida passada. O Domínio do Meio caracteriza a competência para gerir o meio ambiente de forma a criar contextos adequados às necessidades e valores pessoais. Os Objetivos de Vida avaliam a posse de propósitos e metas que orientam e dão significado à vida. As Relações Positivas com os Outros qualificam os relacionamentos interpessoais. O Crescimento Pessoal considera o permanente desenvolvimento do potencial humano com a finalidade da sua maximização. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 32

Estes constructos são espelhados em seis escalas independentes e autónomas que, quando aplicadas conjuntamente, constituem um inventário único e enformam a Escala de Bem-estar Psicológico (EBEP). Inicialmente composta por 120 itens (20 por cada escala), foi progressivamente alterada e tomando dimensões mais reduzidas. Ryff propôs uma versão de 84 itens (14 itens por dimensão), sendo esta versão a mais utilizada pela autora e seus colaboradores em vários estudos (Novo, 2005). Existem versões com 54 itens (van Dierendonck, 2005), 42 itens (Boylan & Ryff, 2015) e 18 itens (Ryff & Keyes, 1995). Esta última versão é apenas recomendada para estudos de grandes dimensões, que requeiram brevidade e economia (Ryff & Keyes, 1995). Segundo Ryff (2014) a EBEP encontra-se traduzida para mais de 30 idiomas diferentes e conta com mais de 350 publicações, em mais de 150 revistas científicas. A adaptação da EBEP para a população portuguesa foi efetuada com a versão de 84 itens (Novo, 2003, 2005). Fernandes, Vasconcelos-Raposo e Teixeira (2010) e Fernandes, Vasconcelos-Raposo, Bertelli e Almeida (2011) estudaram as características psicométricas de uma versão portuguesa com 30 e com 18 itens (Fernandes et al., 2010; Fernandes et al., 2011). Porém, as versões mais curtas mostram-se pouco específicas e pouco robustas (Ryff, 2014; van Dierendonck, 2005). Com base nos resultados do projeto MIDUS (Morozink, Friedman, Coe, & Ryff, 2010) a autora sugere que o uso de uma versão reduzida seja efetuado com 42 itens. Esta medida utilizada em estudos recentes (Abbott, Ploubidis, Huppert, Kuh, & Courdace, 2010; Boylan & Ryff, 2015; Villarosa & Ganotice, 2018) mostra boas propriedades psicométricas. Porém, a sua inexistência, no contexto português, determina a necessidade de estudar as características psicométricas da versão de Boylan e Ryff (2015). METODOLOGIA Desenvolveu-se um estudo metodológico do tipo transversal. Não se efetuou a tradução e adaptação linguística da escala em estudo, uma vez que Novo (2003) apresentou este processo para a versão de 84 itens. Assim, os itens em análise foram selecionados a partir do seu trabalho. Participantes Os participantes em estudo foram selecionados segundo uma amostra de conveniência, tendo por base a comunidade educativa de uma escola superior de enfermagem do norte de Portugal (docentes, não docentes e estudantes).


Os critérios de inclusão aplicados foram: ter idade igual ou superior a 18 anos, ter um mail da instituição atribuído e participar voluntariamente no estudo. De entre os 1400 contactos elegíveis, 85,4% (1195) eram estudantes, 11,6% (163) eram docentes internos ou externos e 3% (42) pertencia ao grupo não docente. Responderam 544 participantes, tendo sido eliminados 292 questionários por não incluírem informação sociodemográfica e/ou por ter mais de oito itens da EBEP com valores omissos. A amostra final ficou constituída por 252 participantes, sendo 48% (121) estudantes e 52% (131) docentes e não docentes. Os participantes tinham uma média de idade de 31,38 anos (DP=12,88), tendo variado entre os 18 e os 68 anos. Cento e vinte e quatro participantes (49,2%) tinham idades inferiores ou igual a 25 anos, 13,5% (34) situava-se entre 26 e 32 anos e os restantes 37,3% (94) tinha 33 ou mais anos. A grande maioria dos participantes (81%) era do sexo feminino. Quanto ao estado civil, 63,1% (159) eram solteiros e 32,9% (83) casados. Apresentavam uma escolaridade média de 15,5 anos (DP=3,27; Med=15), variando entre os 4 e os 24 anos de formação académica. Material O presente estudo baseou-se na versão da EBEP de 42 itens, proposta por Boylan e Ryff (2015). A EBEP é um instrumento de autopreenchimento constituído por afirmações descritivas, que na sua apresentação surge com a mistura dos itens das diferentes dimensões. Tendo em consideração a dimensão a que pertencem, as afirmações são apresentadas de forma alternada e referem-se a aspetos favoráveis ou desfavoráveis ao bem-estar psicológico, medidos numa escala de resposta do tipo likert de seis pontos (de discordo completamente a concordo completamente). Cada dimensão tem metade dos itens enunciados de forma positiva e outra metade de forma negativa, para controlo de atitudes de resposta relacionadas com a tendência para a aquiescência. Para o cálculo da pontuação de cada dimensão procede-se ao somatório das pontuações dos itens que a compõe, antecedido da inversão dos itens apresentados de forma negativa, tal como sugerem os autores. Cada dimensão oscila entre 7 e 42 pontos; uma pontuação mais elevada sugere maior perceção de bemestar psicológico nesse domínio. Para além da EBEP utilizou-se um questionário sociodemográfico (sexo, idade, escolaridade e estado civil) e a versão portuguesa do SF36 que avalia a qualidade de vida (Ferreira, 2000).

Esta medida contempla 36 itens organizados em oito subescalas: Capacidade Funcional; Desempenho Físico; Desempenho Emocional; Dor Corporal; Saúde Mental; Funcionamento Social; Vitalidade e Estado Geral de Saúde. O SF36 contempla ainda um item que quantifica as alterações de saúde durante o último ano. Não existe um padrão único de mensuração dos itens desta escala, havendo possibilidades de resposta dicotómica, ou de escalas ordinais que variam de 1 a 3, de 1 a 5 ou de 1 a 6. Seguindo as indicações dos autores cada dimensão, após recodificação de itens assinalados varia entre 0 e 100; valores mais elevados correspondem a uma melhor qualidade de vida. Procedimentos A cada participante foi enviada uma mensagem eletrónica, a solicitar a participação no estudo e onde constava o link para aceder ao questionário. Para facilitar a tomada de decisão foi disponibilizada informação sobre a finalidade e os objetivos do estudo, o tempo previsto para o seu preenchimento (15 minutos) e assegurada a confidencialidade e o anonimato do participante. O questionário foi elaborado com recurso ao programa Qualtrics. O estudo teve apreciação favorável e anuência do concelho diretivo da instituição académica envolvida. Foram obtidas autorizações dos autores da versão original e da versão traduzida para português da EBEP e dos autores do SF36. Para o tratamento estatístico dos dados utilizou-se o programa IBM SPSS® versão 24.0 e estatística paramétrica. Numa primeira etapa, os dados foram explorados através de estatística descritiva. Foram utilizadas medidas de correlação, nomeadamente a correlação de Pearson, para estudar a força de associação entre variáveis contínuas. Na comparação de médias entre amostras independentes utilizou-se o teste t de Student, tendo sido previamente verificado os pressupostos para a sua utilização. A consistência interna foi determinada pelo coeficiente alfa de Cronbach. Dado a maioria dos estudos sugerir a estrutura hexagonal da EBEP (Ryff & Keyes 1995; Ryff & Singer, 2006; van Dierendonck, 2005), optamos por estudar a validade fatorial através da análise fatorial confirmatória (AFC), com recurso ao AMOS (versão 24, IBM SPSS). A existência de outliers foi avaliada pela distância quadrada de Mahalonobis e a normalidade avaliada pelo coeficiente de simetria e curtose uni e multivariada. Considerou-se como entrada a matriz de covariância, adotando-se o método da máxima verossimilhança de estimação. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 33


O ajustamento local foi avaliado pelos pesos fatoriais e pela fiabilidade individual dos itens. O ajustamento do modelo teve para além dos índices de modificação as considerações teóricas subjacentes e as recomendações de Kline (2010). Na avaliação dos modelos foram utilizadas medidas de ajuste que incluíram os índices de aderência Qui-quadrado normalizado (χ2/df), o RMR (root mean square residual), o GFI (goodness of fit index), o CFI (comparative fit index), o índice de parcimónia RMSEA (root mean square error of aproximation) e o ECVI (expected cross validation index). Na presença de menos de oito afirmações da EBEP com valores omissos, estes foram estimados através do método de imputação simples, via um modelo de regressão com estimativas baseadas em máxima verosimilhança. A análise da validade convergente da EBEP do modelo que demonstrou melhor ajustamento ao modelo teórico foi realizada com recurso ao SF36. RESULTADOS Através de uma análise exploratória (tabela 1) verificamos o total de 849 (8%) valores omissos, tendo o item 1 do Crescimento Pessoal registado a menor percentagem (2%) e o item 7 do Domínio do Meio a maior (17,9%). A taxa de não resposta foi superior a 10% em dez itens. De um modo geral os itens formulados com conteúdos negativos mostraram ter uma maior taxa de não resposta. Verificamos que nas afirmações com conteúdos positivos os participantes posicionaram-se, de um modo geral, nas pontuações mais elevadas de bem-estar, enquanto que nos itens com conteúdos negativos esta tendência não é tão visível. De forma global, a tendência de resposta situou-se acima do ponto médio da escala de medida. Em oito dos itens não se registou qualquer resposta na categoria mais baixa e em sete itens, mais de 40% das respostas, pontuaram na categoria mais elevada, mostrando um efeito de teto. Tabela 1 - Estatística Descritiva e Frequências das Categorias de Resposta da Escala do EBEP Categorias de resposta Item

1(%)

2(%)

3(%)

4(%)

5(%)

6(%)

Missing(%)

M*

DP

Simetria

Curtose

A1+(Q5)

0,8

3,6

6,0

26,6

34,9

22,2

6,0

4,40

1,52

-1,46

2,02

A2+(Q10)

1,2

7,1

13,1

25,4

31,0

12,7

9,5

3,87

1,69

-0,99

0,27

A3-(Q14)

3,6

15,1

29,8

10,7

17,5

12,7

10,7

3,29

1,77

-0,21

-0,70

A4-(Q22)

0,4

7,5

18,3

17,1

25,4

16,7

14,7

3,65

1,92

-0,70

-0,55

A5+(Q26)

0,0

2,0

4,8

33,7

34,1

17,9

7,5

4,31

1,52

-1,57

2,44

A6-(Q29)

2,4

9,1

19,4

17,9

23,0

21,4

6,7

3,94

1,72

-0,68

-0,24

A7+(Q41)

0,4

1,6

2,0

17,9

35,7

36,1

6,3

4,76

1,54

-1,92

3,48

DM1+(Q1)

4,0

2,0

2,8

11,9

45,2

31,7

2,4

4,81

1,39

-1,87

3,41

DM2-(Q6)

5,2

22,2

34,1

10,3

15,5

4,8

7,9

2,99

1,51

-0,03

-0,34

DM3-(Q11)

0,4

2,4

6,7

15,1

27,8

40,1

7,5

4,65

1,70

-1,57

1,82

DM4+(Q15)

0,4

0,4

5,2

20,6

48,0

22,2

3,2

4,73

1,21

-2,02

5,63

DM5-(Q18)

3,6

13,9

21,8

12,7

22,2

14,3

11,5

3,44

1,85

-0,39

-0,82

DM6-(Q38)

2,4

7,9

21,0

11,1

25,4

22,6

9,5

3,88

1,85

-0,69

-0,46

DM7+(Q42)

1,6

3,2

5,6

17,5

31,7

22,6

17,9

3,89

2,10

-0,94

-0,53

CP1-(Q2)

0,0

0,4

2,4

7,1

20,6

66,5

2,0

5,44

1,09

-3,02

11,16

CP2+(Q19)

0,0

1,2

1,2

17,1

38,1

35,3

7,1

4,77

1,56

-2,01

3,74

CP3-(Q23)

1,6

3,6

6,3

11,1

28,2

43,7

5,6

4,75

1,65

-1,60

1,87

CP4+(Q27)

1,6

0,4

2,4

20,6

34,5

35,3

5,2

4,77

1,48

-1,90

3,66

CP5-(Q30)

2,8

6,0

21,8

17,1

21,8

18,7

11,9

3,69

1,87

-0,64

-0,51

CP6+(Q34)

0,4

0,4

0,4

13,9

25,4

57,1

2,4

5,28

1,16

-2,63

8,77

CP7-(Q39)

0,8

2,8

3,6

12,7

24,6

48,0

7,5

4,79

1,73

-1,72

2,11

RP1+(Q3)

0,0

1,2

1,6

26,2

46,8

14,7

9,5

4,34

1,59

-1,80

2,63

RP2-(Q7)

1,6

3,2

10,7

11,9

26,6

34,5

11,5

4,28

1,95

-1,13

0,14

RP3-(Q12)

2,4

7,9

10,3

7,5

23,0

38,5

10,3

4,25

2,00

-0,98

-0,32

RP4+(Q16)

0,8

4,8

2,8

15,5

38,1

33,7

4,4

4,73

1,48

-1,73

2,83

RP5+(Q28)

0,4

1,2

1,6

24,6

38,1

23,8

10,3

4,39

1,72

-1,62

1,84

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 34


RP6-(Q31)

2,8

7,5

10,7

12,7

23,0

32,1

11,1

4,09

1,99

-0,87

-0,44

RP7+(Q37)

0,0

0,8

1,6

18,7

37,7

36,5

4,8

4,88

1,37

-2,16

5,35

AS1+(Q4)

0,0

4,8

9,5

28,6

38,5

11,9

6,7

4,16

1,49

1,82

4,40

AS2+(Q9)

0,0

5,2

7,9

21,8

37,3

21,0

6,7

4,34

1,57

-1,38

1,58

AS3-(Q13)

3,6

12,3

20,6

7,1

23,0

19,4

13,9

3,50

2,00

-0,40

-1,02

AS4+(Q21)

0,0

2,4

4,4

25,8

39,7

21,4

6,3

4,48

1,48

-1,70

2,96

AS5-(Q33)

9,1

13,9

15,9

8,7

18,7

25,0

8,7

3,63

2,00

-0,33

-1,17

AS6-(Q36)

6,3

8,7

17,5

10,3

21,8

26,2

9,1

3,84

1,95

-0,58

-0,83

AS7+(Q40)

1,6

2,4

3,6

18,3

34,5

29,8

9,9

4,41

1,80

-1,45

1,14

OV1-(Q8)

2,0

6,7

10,7

21,4

27,8

25,8

5,6

4,27

1,64

-1,05

0,54

OV2+(Q17)

0,4

1,2

3,2

25,8

35,3

31,0

3,2

4,78

1,27

-1,81

4,51

OV3-(Q20)

1,2

6,7

12,7

13,1

31,3

19,8

15,1

3,81

2,00

-0,82

-0,57

OV4-(Q24)

1,6

2,0

7,5

7,5

24,2

50,0

7,1

4,79

1,75

-1,65

1,79

OV5+(Q25)

0,0

2,0

1,6

19,8

33,7

34,9

7,9

4,66

1,63

-1,79

2,70

OV6+(Q32)

2,0

2,8

3,2

15,9

31,0

38,5

6,7

4,66

1,68

-1,62

1,92

OV7-(Q35)

2,0

1,6

5,6

7,5

20,6

57,9

4,8

5,03

1,59

-1,95

3,12

A Autonomia; DM Domínio do Meio; CP Crescimento Pessoal; RP Relações Positivas; AS Aceitação de Si; OV Objetivos de Vida Os itens com conteúdos positivos estão assinalados com +, nestes as categorias de resposta correspondem a: 1. Discordo completamente, 2. Discordo em grande parte, 3. Discordo parcialmente, 4. Concordo parcialmente, 5. Concordo em grande parte e 6. Concordo completamente Os itens com conteúdos negativos estão assinalados com –, nestes as categorias de resposta correspondem a: 1. Concordo completamente, 2. Concordo em grande parte, 3. Concordo parcialmente, 4. Discordo parcialmente, 5. Discordo em grande parte e 6. Discordo completamente * valor calculado sem a substituição dos valores omissos

As dimensões com pontuações médias mais baixas foram a Autonomia (M=30,90; DP=5,07), o Domínio do Meio (M=31,00; DP=4,90) e a Aceitação de Si (M=31,07; DP=6,53), enquanto as que obtiveram valores mais elevados foram as dimensões Crescimento Pessoal (M=35,71; DP=4,10), Objetivos de Vida (M=34,45; DP=4,64) e as Relações Positivas (M=33,95; DP=4,64). Para testar se o modelo teórico se adapta ao modelo empírico recorremos à AFC. Não se encontraram valores de assimetria < a |3| e de curtose < a |10|, aceitando-se a normalidade multivariada. Testamos dois modelos diferentes, o modelo 1, com seis fatores oblíquos correlacionados e o modelo 2, de seis fatores associados a um de ordem superior. Os resultados mostraram um ajustamento sofrível de ambos os modelos (tabela 2), todavia o primeiro mostrou melhores índices que o segundo, pelo que se optou por analisar os índices de modificação sugeridos para este modelo. A análise das estimativas dos parâmetros revelou que os fatores estavam altamente correlacionados e que todos os índices estandardizados saturaram no respetivo fator. O modelo 1 foi reespecificado com a correlação dos erros dos itens 1 e 4 do Domínio do Meio, tendo sido obtidos os índices de ajustamento correspondentes ao modelo 3 (tabela 2).

Como estes índices continuaram a mostrar um ajustamento sofrível, evoluiu-se com uma nova análise retirando dois itens com pesos fatoriais mais baixos (DM1=0,363 e OV1=0,344) e cujos resíduos da matriz estandardizada de covariâncias mostraram valores acima de 2,58. Embora os índices de ajustamento tenham melhorado (modelo 4) estes continuam a mostrar valores pouco aceitáveis sobretudo de CFI. Ao consultar os índices de modificação, verificámos que se correlacionarmos os erros dos itens RP1 e RP5; DM2 e DM5; OV2 e OV6 o modelo melhorava, tendo sido efetuada nova análise (modelo 5). Tabela 2 - Índices de Ajustamento aos Modelos Fatoriais Testados X2/gl

RMR

GFI

CFI

RMSEA

ECVI

Modelo 1 1,840

0,179

0,782

0,794

0,058

6,688

Modelo 2 1,976

0,190

0,758

0,756

0,062

7,117

Modelo 3 2,159

0,091

0,729

0,821

0,064

7,704

Modelo 4 2,184

0,088

0,735

0,821

0,069

7,065

Modelo 5 2,051

0,085

0,750

0,833

0,065

6,680

O modelo 5, adotado neste estudo encontra-se representado na Figura 1. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 35


Todas as correlações mostram valores significativos ao nível de 0,01. Os valores encontrados sugerem que as dimensões da EBEP estão relacionadas sem, contudo, haver redundância das medidas.

Figura 1 - Estrutura do modelo final em análise

Tabela 4 - Matriz de Correlação das Dimensões da EBEP Subes- A DM CP RP AS OV cala A

__

DM

0,55**

0,45**

0,31**

0,58**

0,45**

__

0,60**

0,52**

0,73**

0,63**

__

0,55**

0,61**

0,66**

__

0,52**

0,53**

__

0,62**

P RP AS Média (DP)

30,90

31,00

35,71

33,95

31.70

34,45

(5,07) (4,90)

(4,10)

(4,64)

(6,53)

(4,64)

A Autonomia; DM Domínio do Meio; CP Crescimento Pessoal; RP Relações Positivas; AS Aceitação de Si; OV Objetivos de Vida **p<0,001

Procedemos à análise do coeficiente alfa de Cronbach para cada dimensão, tendo sido obtidos valores que variam entre 0,71 e 0,82 sugestivos de uma razoável a boa consistência interna (tabela 3). As correlações item escala total corrigidas mostram valores superiores a 0,34, consideradas moderadas. Tabela 3 - Valores de Correlação Item Escala Total e Valores do Coeficiente Alfa de Cronbach Item*

Autonomia

Domínio Crescimeio mento pessoal

Relações Aceita- Objetipositivas ção de vos de Si vida

Item 1

0,44

___

0,39

0,45

0,55

___

Item 2

0,44

0,43

0,39

0,47

0,63

0,60

Item 3

0,46

0,35

0,41

0,42

0,45

0,58

Item 4

0,44

0,47

0,51

0,55

0,54

0,60

Item 5

0,54

0,62

0,39

0,34

0,60

0,65

Item 6

0,39

0,71

0,42

0,54

0,59

0,55

Item 7

0,34

0,57

0,50

0,44

0,57

0,39

a Cronbach

0,72

0,77

0,71

0,74

0,82

0,80

* a numeração apresentada somente assegura a ordem em que cada item aparece na escala global.

As dimensões da EBEP apresentam correlações moderadas a fortes que variam entre 0,31 e 0,73 (tabela 4).

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 36

Correlacionando as dimensões da EBEP com as do SF36, apenas se encontrou uma correlação estatisticamente significativa entre a Autonomia e a Saúde Mental (r=0,137; p=0,03). Não se registaram diferenças significativas na perceção da EBEP entre homens e mulheres, exceto na dimensão Domínio do Meio onde os homens apresentam valores mais elevados (M=30,69; DP=6,36) do que as mulheres (M=27,85; DP=7,02), sendo estas diferenças estatisticamente significativas (t(250)=2,56; p=0,011). Verificou-se uma correlação positiva fraca, mas significativa, entre a idade e a maioria das dimensões da EBEP. Em relação à escolaridade apenas se encontrou uma relação fraca entre esta e a Autonomia e entre a escolaridade e a Aceitação de Si (Tabela 5). Tabela 5 - Correlação entre as Dimensões da EBEP e as Variáveis Sociodemográficas Idade e Escolaridade Subescala

Autonomia

Domínio meio

Crescimento pessoal

Relações positivas

Aceitação de Si

Objetivos de vida

Idade

0,34**

0,23**

0,13*

0,11

0,24**

0,10

0,12

0,09

0,12

0,15**

0,06

Esco0,15* laridade

*p<0,05; **p<0,001

DISCUSSÃO Analisando o conteúdo das afirmações que reuniram maior percentagem de respostas omissas, constatamos que se reportam a aspetos nem sempre fáceis de responder por pessoas jovens (maioria da nossa amostra) com uma experiência de vida ainda limitada (p.e. “consegui construir um lar e um estilo de vida que é muito do meu agrado” e “sinto que muitas das pessoas que


conheço conseguiram tirar mais partido da vida do que eu”), ou porque os itens poderão integrar termos cujo significado desconhecem (“as minhas atividades diárias parecem-me frequentemente triviais e pouco importantes”), ou ainda serem muito gerais e difíceis de particularizar (“tenho tendência a ser influenciado por pessoas com opiniões firmes”). De forma global, a tendência de resposta no presente estudo situou-se acima do ponto médio, expressando que os participantes tendem a ter uma visão positiva acerca do seu bem-estar psicológico. Nos itens com conteúdo positivo as respostas aos níveis mais baixos de bem-estar incluíram uma percentagem baixa de respostas, fixando-se entre 1 a 3%, na sua maioria. Esta mesma tendência de resposta foi encontrada nos estudos portugueses (Novo, 2003), bem como nos estudos com a versão de 42 itens (Abbott et al., 2010; Boylan & Ryff, 2015). As dimensões Crescimento Pessoal e Objetivos de Vida, valorização de aspetos da afirmação pessoal, do individualismo e da independência, foram as que apresentaram valores mais elevados e as que apresentaram médias mais baixas foram as dimensões Autonomia e Domínio do Meio, sendo estes resultados concordantes com outros trabalhos de Ryff (Ryff et al., 1995; Boylan & Ryff, 2015) e com estudos realizados em Portugal (Novo, 2003, 2005). As correlações item escala total corrigidas mostram valores superiores a 0,34, consideradas moderadas, resultados sobreponíveis a Novo (2003). Os valores do coeficiente alfa de Cronbach encontrados variaram entre 0,71 (na dimensão Crescimento Pessoal) a 0,82 (na dimensão Aceitação de Si), sugerindo valores de uma razoável a boa consistência interna. O estudo de Boylan e Ryff (2015), com a mesma estrutura da EBEP em estudo, mostrou valores de consistência interna sobreponíveis. Através da AFC o modelo final adotado mostrou índices sofríveis. Parece haver alguma consistência nos resultados da AFC desta escala, mostrando índices de ajustamento, nomeadamente valores de CFI abaixo dos valores considerados aceitáveis (Chen, Jing, Hayes & Lee, 2013; Fernandes et al., 2010; Gao & McLellan, 2018; van Dierendonck, 2005). Verificamos que a idade se correlacionou de forma fraca, mas positiva e com significância estatística com a Autonomia, Domínio do Meio, Crescimento Pessoal e Aceitação de Si, sugerindo que os participantes experienciam melhor bem-estar psicológico nestes domínios, conforme vão avançando na idade.

Também Boylan e Ryff (2015) encontraram associações entre a idade e estas dimensões, mas com valores de correlação muito baixas (entre 0,06 e 0,24), bem como fraca significância estatística (p≤.05). Se estes domínios de bem-estar englobam aspetos como o autoconhecimento e uma atitude positiva em relação a si, a melhoria da autonomia, o controlo sobre o ambiente, bem como a possibilidade de crescimento pessoal, parece provável que a perceção de bem-estar nestas dimensões sofra alterações ao longo do ciclo de vida da pessoa. A nossa amostra contempla adultos jovens que se encontram numa fase de grande desenvolvimento pessoal, social e profissional, o que pode explicar a evolução positiva nestes domínios. Estes resultados podem sugerir que a autonomia, o domínio ambiental, as relações positivas com os outros e os reflexos de autoaceitação sejam domínios distintos do funcionamento psicológico positivo. Springer, Pudrovska e Hausen (2011) exploraram a variação da idade na EBEP em dois estudos e verificaram que as variações nas diferentes dimensões foram excecionalmente pequenas, encontrando inclusive inconsistências. No entanto, a amplitude da idade nestes estudos variou entre 32 e os 75 anos, diferindo da nossa que engloba adultos jovens e não inclui pessoas acima dos 68 anos. Também, estudos transversais e longitudinais efetuados sugerem que objetivos na vida, crescimento pessoal e outras dimensões existenciais de bem-estar tendem a diminuir desde a idade adulta média até a idade avançada (Ryff, 2014; Springer et al., 2011). Verificamos uma relação fraca, positiva e estatisticamente significativa entre a escolaridade e a Autonomia e a escolaridade e a Aceitação de Si. Boylan e Ryff (2015) também encontraram valores positivos de correlação, embora muito fracos, entre esta variável e as duas dimensões atrás descritas. A educação permite que a pessoa desenvolva um conjunto de competências que promove a capacidade de reflexão e a tomada de decisão autónoma, podendo assim tornar-se menos influenciável e mais resistente a pressões externas. Ajuda também a que, através de processos introspetivos, a pessoa possa desenvolver uma atitude mais positiva em relação a si, reconhecendo e aceitando as suas qualidades e defeitos. Vários estudos têm vindo a demonstrar uma associação positiva entre as várias dimensões da EBEP e o nível educacional, até porque a educação frequentemente é acompanhada por melhorias nas condições económicas e sociais (Novo, 2003; Novo, 2005) Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 37


Encontramos ainda a inexistência de diferenças significativas na perceção da EBEP entre homens e mulheres, exceto na dimensão Domínio do Meio, onde os homens apresentam valores mais elevados do que as mulheres. Uma possível explicação para os nossos resultados poderá estar relacionada com aspetos culturais ainda enraizados na sociedade portuguesa, onde a mulher poderá ter que despender um maior esforço no sentido de desenvolver uma participação ativa bem como ganhar mais domínio do ambiente envolvente. O facto de alguns estudos com a EBEP mostrarem diferenças entre géneros poderão estar relacionados com desigualdades a nível sociocultural na gestão de direitos e oportunidades de desenvolvimento entre países (Li, Kao, & Wu, 2015). CONCLUSÕES A EBEP tem sido utilizada em diferentes contextos e culturas mostrando a sua evidente adequação para avaliar o bem-estar psicológico. A versão reduzida em estudo mostrou que, se eliminássemos dois itens, a escala estaria melhor adaptada a uma amostra maioritariamente jovem. A EBEP mostra ser discriminativa para a idade, género, escolaridade e condição de saúde mental. O estudo da consistência interna mostrou que todas as dimensões apresentam valores psicométricos aceitáveis. Os resultados da AFC vêm realçar que a estrutura fatorial da escala não mostra ser tão clara quanto o quadro teórico sugerido, requerendo novas investigações. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA O bem-estar psicológico é um indicador emocional relevante com interesse clínico. As competências emocionais são cada vez mais alvo de atenção dos enfermeiros e de outros técnicos de saúde, na medida em que facilitam uma melhor adaptação e aceitação do estado e condição de saúde da pessoa. A aplicação deste instrumento permite assim uma melhor avaliação e monitorização deste construto. A EBEP é um instrumento que tem sido utilizado em muitos contextos culturais o que manifesta a sua boa aceitação e validade clínica.

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 38

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Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 39


Artigo de Investigação

6

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0236

LITERACIA EM SAÚDE MENTAL SOBRE DEPRESSÃO: UM ESTUDO COM ADOLESCENTES PORTUGUESES | Amorim Rosa1; Luís Loureiro2; Carlos Sequeira3 |

RESUMO CONTEXTO: Em todo o mundo, estima-se que 10% a 20% dos adolescentes vivenciem problemas de saúde mental. A esta suscetibilidade associa-se uma forte relutância e atrasos na procura de ajuda profissional. A depressão representa um problema de saúde global, e uma das principais causas de carga de doença em todo o mundo. A adolescência constitui um período crítico para o início da depressão, sendo também relevante o facto de que os adolescentes são o grupo que menos uso faz dos serviços de saúde, mesmo em situações graves de doença mental em que necessitam de ajuda especializada. OBJETIVO: Caraterizar a literacia em saúde mental sobre depressão em adolescentes. MÉTODO: Estudo exploratório descritivo. Foi aplicada a MentaHLiS-Depressão a uma amostra de 251 adolescentes (142 raparigas e 109 rapazes), com idades entre os 10 e os 18 anos (M=14,31 ± 2,18), estudantes do 2º, 3º ciclos e secundário, em escolas públicas do distrito de Coimbra. Calcularam-se as estatísticas resumo apropriadas e as frequências absolutas e percentuais. RESULTADOS: 33,5% dos participantes não reconheceram o problema apresentado na vinheta. Nos outros componentes, os níveis de literacia são modestos, verificando-se a preferência por fontes informais de ajuda e a opção pelo apoio social e encaminhamento passivo como estratégias de primeira ajuda em saúde mental. CONCLUSÕES: Verificaram-se défices significativos em alguns componentes da literacia sobre a depressão nos adolescentes, sendo necessária uma intervenção nesta área. PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização em saúde; Saúde mental; Adolescentes; Depressão

RESUMEN

ABSTRACT

“Alfabetización en salud mental sobre depresión: Un estudio con adolescentes portugueses”

“Mental health literacy on depression: A study with Portuguese adolescents”

CONTEXTO: En todo el mundo se estima que entre el 10% y el 20% de los adolescentes experimentan problemas de salud mental. A esta susceptibilidad se asocia una fuerte reticencia y retrasos en la demanda de ayuda profesional. La depresión representa un problema de salud global, y una de las principales causas de carga de enfermedad en todo el mundo. La adolescencia constituye un período crítico para el inicio de la depresión, siendo también relevante el hecho de que los adolescentes sean el grupo que menos uso hace de los servicios de salud, incluso en situaciones graves de enfermedad mental que necesitan ayuda especializada. OBJETIVO: Caracterizar la alfabetización en salud mental sobre depresión en adolescentes. METODOLOGÍA: Estudio exploratorio descriptivo. Se aplicó la MentaHLiS-Depresión a una muestra de 251 adolescentes (142 niñas y 109 niños), con edades entre los 10 y los 18 años (M=14.31 ± 2.18), estudiantes de 2º y 3º ciclos y secundario en escuelas públicas del distrito de Coimbra. Se calcularon las estadísticas resumidas apropiadas y las frecuencias absolutas y porcentuales. RESULTADOS: 33,5% de los participantes no reconoció el problema presentado en la viñeta. En los otros componentes, los niveles de alfabetización son modestos, verificándose la preferencia por fuentes informales de ayuda y la opción por el apoyo social y encaminamiento pasivo como estrategias de primera ayuda en salud mental. CONCLUSIONES: Se verificaron déficits significativos en algunos componentes de la alfabetización sobre la depresión en los adolescentes, siendo necesaria una intervención en esta área.

BACKGROUND: All around the world, it is estimated that 10% to 20% of adolescents experience mental health problems. This susceptibility is associated with a strong reluctance and delays in professional help seeking. Depression represents a global health problem, and one of the leading causes of burden of disease worldwide. Adolescence is a critical period for the onset of depression, and it is also relevant that adolescents are the group that uses health services less frequently, even in situation of severe mental illness, that require specialized help. AIM: Characterize mental health literacy on depression in adolescents. METHODS: Exploratory descriptive study. The MentaHLiS-Depression was applied to a sample of 251 adolescents (142 girls and 109 boys), aged between 10 and 18 years (M=14.31 ± 2.18), attending schools in the 2nd and 3rd cycle and secondary education in Coimbra. The appropriate summary statistics and the absolute and percentage frequencies were calculated. RESULTS: 33.5% of the participants did not recognize the problem presented in the vignette. In the other components, literacy levels are modest, with preference for informal sources of help and option for social support and passive referral, as firs aid strategies for mental health problems. CONCLUSIONS: Significant deficits were found in some components of depression literacy in adolescents, requiring intervention in this area.

DESCRIPTORES: Alfabetización en salud; Salud mental; Adolescentes; Depresión

Submetido em 31-12-2018 Aceite em 01-03-2019

KEYWORDS: Health literacy; Mental health; Adolescents; Depression

1 Doutor; Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Avenida Bissaya Barreto, Apartado 7001, 3046-851 Coimbra, Portugal, amorim@esenfc.pt 2 Doutor; Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, 3046-851 Coimbra, Portugal, lloureiro@esenfc.pt 3 Doutor; Professor Coordenador na Escola Superior de Enfermagem do Porto, 4200-072 Porto, Portugal, carlossequeira@esenf.pt Citação: Rosa, A., Loureiro, L., & Sequeira, C. (2019). Literacia em saúde mental sobre depressão: Um estudo com adolescentes portugueses. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (21), 40-xx Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 40


INTRODUÇÃO A adolescência é um período de primordial importância para o desenvolvimento humano, quer pelas alterações fisiológicas que ocorrem, quer pelo facto de implicar a aquisição, num período extremamente curto, das habilidades cognitivas, sociais e emocionais que permitam ao adolescente responder adequadamente às exigências futuras da sociedade (Minev, 2018). A adolescência é, neste sentido, um momento único e formativo, durante o qual a maioria dos adolescentes tem boa saúde mental (WHO, 2018), mas que pode envolver também uma ampla e profunda desestruturação, marcada por desequilíbrios e instabilidade, que podem tornar os adolescentes vulneráveis a problemas de saúde mental (Rosa, 2018). Em todo o mundo, estima-se que 10 a 20% dos adolescentes vivenciem problemas de saúde mental (Loureiro et al., 2013a; WHO, 2018), e que destes, cerca de metade venha a desenvolver uma perturbação com reflexo na idade adulta, com implicações na qualidade de vida e no aumento do consumo de cuidados. Contudo, os problemas de saúde mental na adolescência continuam a ser subdiagnosticados e subtratados, o que parece dever-se a fatores como a falta de conhecimento ou consciencialização sobre a saúde mental, ou o estigma que impede os adolescentes de procurar ajuda (WHO, 2018). Globalmente, a depressão é uma das principais causas de morbilidade e incapacidade entre os adolescentes, apresentando uma prevalência total de cerca de 6%, sendo responsável pela maior carga atribuível aos resultados de saúde não fatais, respondendo por 7,5% do total de anos vividos com incapacidade (WHO, 2017). Para além disso, é também um importante fator de risco para o suicídio (WHO, 2015 citada por Das et al., 2016). Dada a sobrecarga e o impacto da depressão nos adolescentes, e reconhecendo que estes são o grupo que menos uso faz dos serviços de saúde, mesmo em situações graves de doença mental em que necessitam de ajuda especializada (Loureiro, Sequeira, Rosa & Gomes, 2014), é essencial que se desenhem e implementem programas de intervenção no âmbito da educação para a saúde mental que permitam melhorar a capacidade de reconhecimento e os comportamentos de procura de ajuda e primeira ajuda em saúde mental. Estes programas deverão ancorar-se no conceito de literacia em saúde mental (LSM), partindo da avaliação dos seus componentes, de forma a promover um conhecimento voltado para a ação, em proveito da saúde do indivíduo ou dos seus pares (Jorm, 2012).

A LSM é definida como os conhecimentos e crenças acerca das perturbações mentais que facilitam o seu reconhecimento, prevenção e/ou gestão (Jorm, 2012). Este estudo tem como objetivo caraterizar a LSM sobre depressão em adolescentes, incidindo sobre os componentes: reconhecimento da perturbação, recursos e opções de ajuda e crenças e intenções para prestar a primeira ajuda. METODOLOGIA Participantes Estudo de nível exploratório-descritivo, realizado com uma amostra de 251 adolescentes, com idades compreendidas entre os 10 e os 18 anos, estudantes do 2º e 3º ciclos e secundário, em 11 escolas do distrito de Coimbra, selecionadas aleatoriamente através do software Random Integer Generator. Os questionários foram aplicados pelos professores diretores de turma, em sala de aula, em sessões coletivas, num período especificamente disponibilizado para o efeito. As turmas foram designadas pelos diretores das escolas, tendo por base critérios internos de acessibilidade. Instrumento de Colheita de Dados Utilizou-se a MentaHLiS-Depressão. Este instrumento, para além das questões de caraterização sociodemográfica (género, idade e escolaridade dos participantes e habilitações literárias dos pais), integra cinco subescalas com diferentes formatos de resposta, que permitem avaliar os componentes da LSM, a partir de uma vinheta clínica que retrata o caso de um/a adolescente (José/Inês) com critérios diagnóstico para depressão, segundo o DSM-IV-TR. A vinheta foi adaptada a partir da versão original do Survey of Mental Health Literacy in Young People – Interview Version (Jorm, 2000; Jorm et al., 1997). Das 5 subescalas que compõem a MentaHLiS-Depressão, só três avaliam componentes específicos relacionados com o problema apresentado na vinheta: I - ‘Reconhecimento do problema’; II - ‘Recursos e opções de ajuda’; e III - ‘Crenças e intenções para prestar a primeira ajuda’. As restantes 2 avaliam dimensões e atributos genéricos: IV - ‘Barreiras e facilitadores na procura de ajuda’; e V - ‘Estilos de vida e comportamentos de saúde’, pelo que não foram utilizadas neste estudo. A subescala ‘I’ avalia a capacidade dos adolescentes para reconhecer a depressão através da seleção de respostas numa escala de escolha múltipla, composta por 16 rótulos, com diferentes níveis de adequação à situação apresentada. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 41


Na subescala ‘II’, é solicitado aos participantes que pontuem numa escala de 1 (prejudicaria muito) a 5 (ajudaria muito), as oito opções de resposta à questão “Como consideras que cada uma das seguintes pessoas poderia ajudar o/a José/Inês?”. Por fim, a subescala ‘III’ inclui 7 opções de resposta à questão “O que farias para ajudar o/a José/Inês?” É pedido aos participantes que assinalem em que medida concordam com cada ação apresentada, utilizando uma escala de 1 (discordo muito) a 5 (concordo muito). O conteúdo da totalidade dos itens e a vinheta utilizada apresentam-se em detalhe no estudo de construção e validação do instrumento (Rosa, 2018). Aprovação Ética O estudo e o instrumento foram aprovados pela Direcção-Geral de Educação – Gabinete de Projetos Educativos do Ministério da Educação do Governo Português (n.º 0404700001) e pela Comissão de Ética da UICISA-E da ESEnfC (P187-10-2013). Dadas as caraterísticas dos participantes, para além da sua anuência, todos os encarregados de educação assinaram um termo de consentimento informado. Análise Estatística Os dados foram analisados com o software IBM SPSS22. De forma a dar resposta ao objetivo do estudo, calcularam-se as estatísticas resumo adequadas e as frequências absolutas e percentuais, utilizando-se tabelas de frequência simples e compostas. RESULTADOS Participaram no estudo 251 adolescentes, 109 (43,4%) do género masculino e 142 (56,6%) do género feminino, com idades compreendidas entre os 10 e os 18 anos (M = 14,31; DP = 2,18), sendo a classe modal a dos 1315 anos com 114 indivíduos, correspondendo a uma percentagem de 45,4%. A maioria dos adolescentes frequenta o 3º ciclo (53,4%), 33,9% frequentam o ensino secundário e 12,7%, o 2º ciclo. A escolaridade dos pais distribui-se sobretudo pelos quatro primeiros níveis de ensino (1º ciclo; 2º ciclo; 3º ciclo e ensino secundário), correspondendo a 86,0% dos pais e 79,3% das mães.

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Tabela 1 - Distribuição das Frequências Absolutas e Percentagens dos Participantes em Função das Variáveis de Caraterização Demográfica (N = 251) Variáveis Sexo Idade

Escolaridade

Escolaridade Pai

Escolaridade Mãe

N

%

Masculino

109

43,4

Feminino

142

56,6

10 – 12

53

21,1

13 – 15

114

45,4

16 – 18

84

33,3

2º Ciclo

32

12,7

3º Ciclo

134

53,4

Secundário

85

33,9

1º Ciclo

44

17,5

2º Ciclo

43

17,1

3º Ciclo

61

24,3

Secundário

68

27,1

Bacharelato/Licenciatura

22

8,8

Outro

13

5,2

1º Ciclo

24

9,6

2º Ciclo

44

17,5

3º Ciclo

45

17,9

Secundário

86

34,3

Bacharelato/Licenciatura

41

16,3

Outro

11

4,4

Reconhecimento do Problema No componente ‘Reconhecimento do problema’, a opção mais assinalada foi “Tem uma depressão” com 66,5%, seguida das opções “Anda nervoso/a e triste” com 55%, “Sofre de Stress”, com 49,4% e “Tem baixa autoestima”, com 44,6%. As restantes opções de resposta obtiveram percentagens de concordância mais baixas, variando entre 8% e 34,7%. É de salientar também que 33,5% dos participantes não foram capazes de identificar a depressão, mesmo perante os critérios claros descritos na vinheta.


Tabela 2 - Distribuição das Frequências Absolutas e Percentuais para as Categorias do Componente ‘Reconhecimento do Problema’ (N = 251) Reconhecimento do problema

Sim

Não

N

%

N

%

Tem uma depressão

167

66,5

84

33,5

Tem problemas com a bebida

23

9,2

228

90,8

Está cansado/a de viver

38

15,1

213

84,9

Tem baixa autoestima

112

44,6

139

55,4

Tem mau ambiente em casa

28

11,2

223

Sofre de Bulling

79

31,5

Tem um vício

20

Tem problemas afetivos

68

Sofre de ansiedade

Tabela 3 - Distribuição das Frequências Absolutas e Percentuais para as Categorias do Componente ‘Recursos e Opções de Ajuda’ (N = 251) Recursos e opções de ajuda

Prejudica Não ajuda Ajuda/ajuPrejudica nem preju- da muito muito dica N

%

N

%

N

%

Amigos de confiança

0

0,0

16

6.4

235

93,6

Familiares

2

0,8

8

3.2

241

96,0

Grupos de autoajuda

8

3,2

39

15.5

204

81,3

88,8

Psicólogo

5

2,0

24

9.6

222

88,4

Psiquiatra

7

2,8

56

22.3

188

74,9

172

68,5

Enfermeiro especialista 12

4,8

86

34.2

153

61,0

8,0

231

92,0

Médico de família

15

6,0

89

35.5

147

58,5

27,1

183

72,9

Professores

20

8,0

108

43.0

123

49,0

74

29,5

177

70,5

Tem uma doença do sistema nervoso

36

14,3

215

85,7

Tem um esgotamento

71

28,3

180

71,7

Sofre de stress

124

49,4

127

50,6

Tem falta de confiança

87

34,7

156

65,3

Anda nervoso/a e triste

138

55,0

113

45,0

Está revoltado/a

48

19,1

203

80,9

Está a reagir a uma perda

33

13,1

218

86,9

Recursos e Opções de Ajuda Na tabela 3 observamos a distribuição absoluta e percentual das respostas dos participantes à questão “Como consideras que cada uma das seguintes pessoas poderia ajudar o/a José/Inês?”. Verifica-se que os adolescentes consideram como ajudas mais úteis, os familiares (96%) e os amigos de confiança (93,6%), mas também alguns profissionais de saúde, destacando-se o psicólogo (88,4%) e o psiquiatra (74,9%). Salienta-se também a importância atribuída aos grupos de autoajuda (81,3%) e ao enfermeiro especialista (61%), mas, sobretudo, a ambivalência relativa à capacidade de ajuda do médico de família e dos professores, sendo até considerados prejudiciais por 6% e 8% dos adolescentes, respetivamente.

Crenças e Intenções para Prestar a Primeira Ajuda Na tabela 4 são apresentadas as percentagens de concordância com as diferentes estratégias de primeira ajuda em saúde mental. Verifica-se a concordância dos participantes, sobretudo com estratégias de apoio social e encaminhamento passivo, considerando mais útil dar apoio/animar (97,2%); ouvir e compreender (96,8%); e acompanhar/não abandonar (92,8%), com desvalorização das estratégias de encaminhamento ativo e envolvimento de adultos. Apesar de 84,1% dos participantes concordarem com o encaminhamento para um profissional de saúde especializado, só 59,3% encaminhariam para o médico de família. Verifica-se ainda que 11,6% dos participantes discordam do encaminhamento para um professor de confiança, traduzindo uma subvalorização dos professores enquanto recurso de ajuda útil. Tabela 4 - Distribuição das Frequências Absolutas e Percentuais para as Categorias do Componente ‘Crenças e Intenções para Prestar a Primeira Ajuda’ (N = 251) Crenças e intenções Discordo/ Não conConcordo/ para prestar a primeira Discordo cordo nem Concordo ajuda muito discordo muito N

%

N

%

N

%

Dar apoio/ animar

0

0,0

16

6.4

235

93,6

Ouvir e compreender

2

0,8

8

3.2

241

96,0

Encaminhar para prof. saúde especializado

8

3,2

39

15.5 204

81,3

Acompanhar à consulta/ 5 não abandonar

2,0

24

9.6

222

88,4

Falar com familiares/ mais atentos

2,8

56

22.3 188

74,9

Encaminhar para profes- 12 sor

4,8

86

34.2 153

61,0

Encaminhar para médico de família

6,0

89

35.5 147

58,5

7

15

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 43


DISCUSSÃO O conceito de LSM engloba cinco componentes: a) conhecimento de como prevenir as perturbações mentais; b) reconhecimento do despoletar da doença; c) conhecimento das opções de ajuda e tratamentos disponíveis; d) conhecimento de estratégias de autoajuda para os problemas menos graves; e e) competências para prestar a primeira ajuda, a outras pessoas em situação de crise ou em desenvolvimento de uma perturbação mental (Jorm, 2012). A capacidade de reconhecer o problema e o seu despoletar constitui um fator-chave, porque o reconhecimento precoce permite reduzir de forma significativa o intervalo de tempo que media entre o surgimento dos sintomas e o acesso ao tratamento, sendo que, para a depressão, a preferência por fontes de ajuda profissional (e.g. psicólogo, psiquiatra), está fortemente associada à capacidade de reconhecimento do problema (Picco et al., 2018). Os resultados deste estudo mostram que um terço dos adolescentes não reconheceram a situação apresentada na vinheta como depressão, apresentando respostas com diferentes níveis de adequação, num continuum que vai desde uma visão difusa até ao total desconhecimento da situação. Estes resultados podem considerarse expectáveis, relacionando-se de forma consistente com os resultados de outros estudos (e.g. Olsson & Kennedy, 2010; Rosa, Loureiro, & Sousa, 2014) que verificaram a existência de uma dificuldade significativa dos adolescentes para reconhecer e classificar a depressão. Também no estudo de desenvolvimento e validação da MentaHLiS-Depressão (Rosa, 2018), as três dimensões que emergiram da análise configuram predominantemente a existência de uma visão difusa da perturbação, com as respostas que apontam para a perceção do problema como ‘doença’ a explicarem unicamente 11,39% da variância. Relativamente ao componente ‘Recursos e opções de ajuda’, verifica-se uma preferência dos adolescentes por fontes de ajuda informais e alguma desvalorização das ajudas profissionais. Este dado poderá estar relacionado com as dificuldades de reconhecimento, já que, como sugerem alguns estudos, o reconhecimento das perturbações em vinhetas permite prever uma preferência pela procura de ajuda profissional, além de estar associada a uma menor preferência por fontes informais como a família e os amigos (Yap, Reavley, & Jorm, 2014). Contudo, é importante que não se desvalorizem as ajudas informais porque, muitas vezes, é pela sugestão de amigos e familiares que os adolescentes procuram ajuda (Loureiro et al., 2013b). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 44

Numa segunda linha de importância surgem as ajudas profissionais especializadas (psicólogo, psiquiatra e enfermeiro especialista em saúde mental e psiquiátrica, e o médico de família, que neste estudo vê o seu papel desvalorizado, à semelhança do que acontece em outros estudos (e.g. Jorm, Wright, & Morgan, 2007), apesar de constituir um recurso de ajuda próximo e acessível, desempenhando um papel fundamental na referenciação das situações para níveis mais diferenciados de cuidados. Só cerca de metade dos adolescentes reconhecem o professor como uma ajuda útil ou muito útil, e 8% consideram-no prejudicial. Apesar de existir algum reconhecimento de que os professores podem ajudar, sendo uma opção para muitos adolescentes que procuram apoio, devido às relações de longa data (O’Reilly et al., 2018), alguns adolescentes com problemas de saúde mental mais complexos, poderão não confiar nos professores, receando que os seus problemas possam ser conhecidos pelos pares, se for chamada a atenção para eles no ambiente escolar (Hart & O’Reilly, 2017). Para além das questões de confiança e confidencialidade, poderá existir também algum receio de que a partilha de problemas pessoais com os professores possa comprometer o desempenho e o aproveitamento escolar. Finalmente, no componente ‘Crenças e intenções para prestar a primeira ajuda’, os adolescentes realçam as estratégias de apoio social e encaminhamento passivo como as mais importantes, mas também o encaminhamento ativo com envolvimento de adultos (e.g. encaminhar para ajuda profissional), o que está de acordo com as principais linhas orientadoras dos programas de primeira ajuda em saúde mental (Loureiro et al., 2013b). Depreende-se, então, que défices de LSM, traduzidos na incapacidade de reconhecer os diferentes transtornos e as fontes de ajuda disponíveis, bem como crenças erradas sobre como ajudar os outros, conduzirão ao consequente adiamento da procura de ajuda. CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA

Os resultados deste estudo, o primeiro realizado com recurso a este instrumento, revelam que o nível de LSM dos adolescentes sobre depressão é modesto na generalidade dos componentes analisados. Este dado é preocupante porque sabemos que 50% das pessoas com doença mental diagnosticada (incluindo doentes com depressão) tiveram os primeiros episódios antes dos 18 anos de idade.


Assim, a LSM pode e deve ser melhorada, sobretudo tendo em conta que a depressão é uma das perturbações mais graves e de maior prevalência. É, pois, fundamental que se melhore a procura e o acesso a ajuda profissional, através da promoção da literacia e da implementação de programas de primeira ajuda em saúde mental, que empoderem os adolescentes para a tomada de decisão, tendo os enfermeiros um papel determinante neste processo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Das, S. K., Salam, R. A., Lassi, Z. S., Khan, M. N., Mahamood, W., Patel, V., & Bhutta, Z. A. (2016). Interventions for Adolescent Mental Health: An Overview of Systematic Reviews. The Journal of Adolescent Health, 59(4), 49-60. doi: 10.1016/j.jadohealth.2016.06.020 Hart, T., & O’Reilly, M. (2017). Written evidence for parliament: Mental health in schools. Disponível em http://data.parliament.uk/writtenevidence/committeeevidence.svc/evidencedocument/health-committee/ children-and-young-peoples-mental-healththe-roleof-education/written/45582.pdf Jorm A. F. (2000). Mental Health Literacy: Public Knowledge and beliefs about mental disorders. British Journal of Psychiatry, 177, 396-401. doi: 10.1192/ bjp.177.5.396 Jorm, A. F. (2012). Mental health literacy: Empowering the community to take action for better mental health. American Psychologist, 67, 231-243. doi: 10.1037/ a0025957 Jorm, A. F., Korten, A. E., Jacomb, P. A., Christensen, H., Rodgers, B., & Pollitt, P. (1997). “Mental health literacy”: a survey of the public’s ability to recognize mental disorders and their beliefs about the effectiveness of treatment. The Medical Journal of Australia, 166 (4), 182-186. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih. gov/pubmed/9066546 Jorm, A., Wright, A., & Morgan, A. (2007). Where to seek help for a mental disorder? National survey of the beliefs of Australian youth and their parents. The Medical Journal of Australia, 187(10), 556-560. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18021042

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Artigo de Investigação

7

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0237

A SAÚDE MENTAL DOS ENFERMEIROS: UM ESTUDO PRELIMINAR | Daniel de Carvalho1; Ana Querido2; Catarina Tomás3; João Gomes4; Marina Cordeiro5 |

RESUMO CONTEXTO: Os enfermeiros estão sujeitos a que o seu bem-estar e saúde mental possam ficar comprometidos. Dois terços dos enfermeiros apresenta uma perceção negativa da sua saúde mental. A manutenção e prevenção da saúde mental dos enfermeiros é fundamental para que se prestem cuidados eficazes e de qualidade. OBJETIVO(S):. Conhecer a saúde mental de um grupo de enfermeiros de um Centro Hospitalar da região centro de Portugal e correlacionar com as variáveis sociodemográficas MÉTODOS: Estudo quantitativo, descritivo-correlacional, transversal. A amostra, não probabilística de conveniência, foi composta por 83 enfermeiros. O questionário foi constituído por dados sociodemográficos e a versão portuguesa reduzida do Mental Health Inventory. Foram assegurados todos os princípios éticos e formais, recorrendo-se a software estatístico para análise estatística com testes não paramétricos. RESULTADOS: A saúde mental da amostra é considerada razoável, com valores acima do ponto de corte para a possível existência de sintomas moderados de sofrimento psicológico. A dimensão depressão é a mais bem cotada e a dimensão ansiedade aquela com menor cotação média. Ocorre a prevalência de sintomas graves de depressão em 20,5% da amostra. As mulheres apresentam níveis mais baixos de saúde mental do que os homens. Os enfermeiros que trabalham em serviços psiquiátricos evidenciam maiores níveis de saúde mental comparativamente aos que não trabalham em serviços de psiquiatria CONCLUSÕES: Os enfermeiros que constituíram a amostra apresentam níveis razoáveis de saúde mental, parecendo contudo ser importante o desenvolvimento de programas para a sua promoção no contexto ocupacional.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde Mental; Profissionais de enfermagem; Stresse psicológico

RESUMEN

ABSTRACT

“La salud mental de los enfermeros: Estudio preliminar”

“Mental health of nurses: A preliminary study”

CONTEXTO: Los enfermeros están sujetos a que su bienestar y salud mental puedan quedar comprometidos. Dos tercios de los enfermeros presentan una percepción negativa de salud mental. El mantenimiento y prevención de salud mental es fundamental para prestar cuidados de forma eficaz y de calidad. OBJETIVO(S): Conocer la salud mental de un grupo de enfermeras en un centro hospitalario de la región central de Portugal y correlacionarse con las variables socio-demográficas. METODOLOGÍA: Estudio cuantitativo, descriptivo correlacional, transversal. La muestra, no probabilística de conveniencia, es constituida por 83 enfermeros. Lo cuestionario con questiones demográficas y versión portuguesa del Inventario de Salud Mental. Asegurados todos los principios éticos y formales, habiéndose recurrido al software estadístico para análisis estadístico con pruebas no paramétricas. RESULTADOS: La salud mental de la muestra es considerada razonable, siendo por encima del punto de corte para la posible existencia de síntomas moderados de sufrimiento psicológico. La dimensión depresión es la más bien cotizada y la dimensión ansiedad aquella con menor cotización media. Prevalencia de síntomas graves de depresión en el 20,5% de la muestra. Las enfermeras presentan niveles más bajos de salud mental que los hombres. Los enfermeros que trabajan en servicios psiquiátricos evidencian mayores niveles de salud mental en comparación a los que no trabajan en servicios de psiquiatría. CONCLUSIONES: Los enfermeros que constituyen la muestra presentan niveles razonables de salud mental. Sin embargo, parece ser importante el desarrollo de programas de promoción de salud mental en el contexto ocupacional.

BACKGROUND: Nurses are subject to having their well-being and mental health compromised. Two-thirds of the nurses present a negative perception of their mental health. Maintenance and prevention of nurses mental health is fundamental to provide an effective and quality nursing care. AIM: To know the mental health of a group of nurses from a Hospital Center in the central region of Portugal and to correlate with sociodemographic variables. METHODS: A quantitative, descriptive, correlational, cross - sectional study. The sample, non-probabilistic of convenience, consist of 83 nurses. The questionnaire consists of sociodemographic questions and reduced Portuguese version of the Mental Health Inventory. All ethical and formal principles were assured, and the statistical software was used for statistical analysis using nonparametric tests. RESULTS: The mental health of the sample is considered reasonable, and the value is above the cutoff point for the possible existence of moderate symptoms of psychological distress. The dimension depression is the most well-quoted and the dimension anxiety is the one with the lowest average quotation. Prevalence of severe symptoms of depression in 20.5% of the sample. Female nurses demonstrated lower levels of mental health than male nurses. Nurses working in psychiatric services show higher levels of mental health compared to those who do not work in psychiatric services. CONCLUSIONS: The nurses in the sample had reasonable levels of mental health. However, it seems important to develop programs for mental health promotion in occupational context.

DESCRIPTORES: Salud Mental; Enfermeras practicantes; Estrés Psicológico

KEYWORDS: Mental Health; Nurse practitioners; Psychological stress Submetido em 31-12-2018 Aceite em 27-02-2019

1 Mestre em Enfermagem de Saúde Mental; Especialista em Enfermagem de Saúde Mental; Investigador no CINTESIS, grupo de investigação “NursID – Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem”; Assistente Convidado no Instituto Politécnico de Leiria, Enfermeiro no Centro Hospitalar de Leiria, Portugal, drscarvalho@gmail.com 2 Doutora em Enfermagem; Especialista em Enfermagem de Saúde Mental; Investigadora no CINTESIS, grupo de investigação “NursID – Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem”; Professora Adjunta no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, Leiria, Portugal, ana.querido@ipleiria.pt 3 Doutora em Enfermagem; Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Mental; Investigadora no CINTESIS, grupo de investigação “NursID – Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem”; Professora Adjunta no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde, Leiria, Portugal, catarina.tomas@ipleiria.pt 4 Mestre em Enfermagem de Saúde Mental; Especialista em Enfermagem de Saúde Mental; Assistente Convidado no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde; Enfermeiro com funções de chefia no Centro Hospitalar de Leiria, Hospital de Santo André, Santa Catarina da Serra, Portugal, joaomfg@gmail.com 5 Mestre em Enfermagem de Saúde Mental; Especialista em Enfermagem de Saúde Mental; Assistente Convidado no Instituto Politécnico de Leiria, Escola Superior de Saúde; Enfermeira no ACeS Pinhal Litoral, Leiria, Portugal, marinasscordeiro@gmail.com Citação: Carvalho, D., Querido, A., Tomás, C., Gomes, J., & Cordeiro, M. (2019). A saúde mental dos enfermeiros: Um estudo preliminar. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (21), 47-xx Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 47


INTRODUÇÃO A saúde mental (SM) é um estado de bem-estar em que o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e é capaz de contribuir para sua comunidade. (Bolier et al, 2014). Tendo em conta o alto grau de complexidade dos contextos de trabalho em ambiente hospitalar, os profissionais de saúde que aí trabalham estão sujeitos a que o seu bem-estar e SM possam ficar comprometidos, levando à ocorrência de problemas de SM (Martins, Campos, Duarte, Chaves & Silva, 2016). Um estudo realizado em 2017 com enfermeiros portugueses concluiu que cerca de dois terços dos inquiridos apresenta uma perceção negativa da sua SM (Seabra, Calado & Lopes, 2018), existindo mesmo uma incidência elevada de problema de SM, com prevalências por vezes mais elevadas quando comparado com a população adulta, como é o caso da depressão (Letvak, Ruhm & McCoy, 2012). As repercussões para a SM do enfermeiro são maiores quando estes são sujeitos a níveis mais elevados de espectativas, onde exista uma maior prevalência de violência no trabalho, onde seja frequente um maior conflito de papéis, onde são frequentes os conflitos com os médicos e em ambientes com elevadas taxas de mortalidade ou de ocorrência de eventos ou situações traumáticas (Perry, Lamont, Brunero, Gallagher & Duffield, 2014). Nos enfermeiros a manutenção e prevenção da sua própria SM reveste-se de grande importância, uma vez que esta é fundamental para que eles consigam ter as condições necessárias para uma prestação de cuidados eficaz e de qualidade (Cabral & Florentim, 2015; Gärtner, Nieuwenhuijsen, Dijk, & Sluiter, 2012). Situações em que exista um comprometimento da SM dos enfermeiros levam a um potenciamento de situações de ocorrência de erros de medicação, quase acidentes, interferindo também no próprio nível de satisfação dos utentes cuidados (Gärtner, Nieuwenhuijsen, Dijk, & Sluiter, 2010). Além disso, a SM do enfermeiro tem sérias implicações na produtividade (afetada por vários fatores, como o presentismo) e funcionamento do profissional de enfermagem no trabalho (Anderson, Jane-Llopis & Hosman, 2011; Borges, Abreu, Queirós, Mosteiro & Baptista, 2017). Este estudo teve como objetivo principal conhecer os níveis de SM dos enfermeiros que exercem funções numa unidade hospitalar do centro do país. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 48

Para além de analisar os resultados em termos de saúde mental da amostra estudada, pretendeu-se compreender a sua relação com variáveis clínicas e sociodemográficas. MÉTODOS Neste estudo, de caráter quantitativo, descritivo-correlacional, transversal, foi utilizada uma amostra de 83 enfermeiros a exercer funções numa Unidade Hospitalar da Região Centro de Portugal, amostra esta não probabilística de conveniência. Consideraram-se como critérios de inclusão aceitar participar no estudo, ser enfermeiro a trabalhar na Unidade Hospitalar definida e ler e escrever em português. Trabalhar há menos de dois anos foi critério de exclusão. Para a colheita de dados, com vista à concretização dos objetivos, foi solicitado o preenchimento de um questionário composto por: questões sociodemográficas e profissionais - género, idade, tempo de exercício profissional, habilitações académicas e profissionais; história de perturbação mental e contacto com pessoas portadoras de perturbação mental; uma questão sobre a perceção do conhecimento sobre SM e uma questão acerca da perceção do estigma em SM, ambas numa escala de 0 a 10, correspondendo à valoração respetivamente de 0=“Nenhum” a 10=“Excelente/Total”. Incluiu-se ainda o Inventário de Saúde Mental (MHI-5) de Veit e Ware, (1983). Para este estudo foi utilizada a versão portuguesa do Inventário de Pais Ribeiro (Ribeiro, 2011). Este inventário, apropriado para estudos de comparação de SM em população não psiquiátrica é recomendado para rastreio de perturbação mental (Ribeiro, 2001). Avalia os níveis de SM em quatro dimensões: ansiedade, depressão, perda de controlo emocionalcomportamental e bem-estar psicológico, dividindo estas dimensões em duas subescalas: o Distress e o Bemestar positivo). É constituído por 5 questões de resposta tipo Likert com 6 opções de resposta. Os itens relativos à ansiedade, depressão e perda de controlo emocional foram invertidos para efeitos de cotação, de modo a que valores mais altos correspondem a níveis mais elevados de SM. Os resultados foram transformados para uma pontuação total de 0 a 100. O ponto de corte para sintomas moderados foi de 60 pontos e para sintomas graves de 52 pontos (Ribeiro, 2011). Para a realização deste estudo consideraram-se todos os princípios éticos e formais inerentes à investigação.


Solicitou-se e obteve-se autorização da Comissão de Ética da referida Unidade Hospitalar para a realização do estudo, tendo sido posteriormente obtida a autorização do Conselho de Administração e de todos os enfermeiros chefes dos serviços envolvidos. Aos participantes, através da obtenção do consentimento informado, livre e esclarecido, foi garantido o anonimato, a possibilidade de desistência ou não-participação dos mesmos, a garantia de não divulgação de dados individualizados e a autorização para a divulgação dos resultados gerais do estudo para fins científicos. Para análise estatística dos dados recorreu-se ao SPSS®, versão 24.0 com recurso a medidas de estatística descritiva e a testes não paramétricos, assumindo a não normalidade dos grupos amostrais analisados. Em termos descritivos analisaram-se as frequências absolutas (n) e relativas (%), média, moda (Mo), mediana (Me), desvio padrão (DP), máximos e mínimos. Para análise inferencial utilizaram-se o teste U de Mann-Whitney (comparação de valores de duas amostras independentes), teste de Spearman (correlação) e o teste de Kruskal-Wallis (comparação de valores de mais de duas amostras independentes). Assumiu-se como nível de significância, p<0,05 para resultados significativos e p<0,01 para resultados muito significativos. A probabilidade máxima aceitável para a ocorrência de Erro Tipo I foi definida em 0,05. RESULTADOS Para este estudo contribuíram as respostas de 83 enfermeiros a exercer funções numa unidade hospitalar da região centro do país. A Tabela 1 indica as características sociodemográficas da amostra. A idade média dos participantes é de 41,27 anos (DP=10,150) e a maioria exerce enfermagem há mais de 16 anos (n=39). Dos enfermeiros que referiram ser detentores de Especialidade profissional, 9 são especialistas em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, 8 são especialistas em Enfermagem Médico-cirúrgica e 3 são especialistas em Enfermagem de Reabilitação. Considerando o diagnóstico de perturbação mental, dos 9 que responderam afirmativamente, 7 referem depressão e 1 refere ter o diagnóstico de ansiedade.

Tabela 1 - Variáveis Sociodemográficas e Caraterização da Amostra n

%

Masculino

21

25,3

Feminino

62

74,7

21

25,3

Não psiquiátrico

62

74,7

Bacharelato

1

1,2

Licenciatura

64

77,1

Mestrado

18

21,7

Grau profissional

20

24,1

Não especialista

63

75,9

Ter diagnóstico de perturba- Sim ção mental Não

9

10,8

74

89,2

Ter contacto com familiar/ amigo com diagnóstico de perturbação mental

Sim

40

48,2

Não

43

51,8

Ter contacto com pessoa Sim portadora de doença mental Não no hospital/serviço

63

75,9

20

24,1

Género

Serviço onde exerce funções Psiquiátrico Grau académico

Quando questionados acerca da perceção do nível de conhecimentos sobre a saúde/doença mental, as respostas variaram de 3 a 10, com uma média de 6,01 (DP=1,858; Mo=6; Me=5). À questão relacionada com a autoperceção acerca do seu nível de estigma em relação ao doente e doença mental, os valores obtidos variaram de 0 a 9, com uma média de 2,69 (DP=2,311), moda de 2 e mediana de 0. Os inquiridos foram também questionados sobre a sua SM, utilizando o MHI-5. A Tabela 2 indica as respostas obtidas em cada um dos itens do instrumento. Denotam-se níveis mais satisfatórios ao nível da depressão e menos positivos ao nível da ansiedade. Considerando os pontos de corte da escala, 20,5% (n=17) da amostra apresenta sintomas graves de depressão, 18,1% (n=15) apresenta sintomas moderados e 61,4% (n=51) não apresentam sintomas de depressão. Tabela 2 - Níveis de Saúde Mental da Amostra (MHI-5)

Ansiedade

Média

MeModa Desvio Míni- Máxdiana Padrão mo imo

4,35

4

4

0,876

1

6

Perda de contro- 4,61 lo emocionalcomportamental

5

4

0,839

1

6

Depressão

5

5

0,997

1

6

5,07

Subescalas: Distress

14,04 14

13

2,417

3

18

Bem-estar positivo

7,42

8

2,072

2

12

TOTAL

65,83 68

72

16,425

0

100

8

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 49


Considerando os níveis de SM obtidos, procurou perceber-se a sua relação com a idade, género, estado civil, diagnóstico de doença mental, serviço em que exerce funções, grau académico e tempo de serviço. Na Tabela 3 representam-se os valores significativos destas relações e as análises estatísticas comparativas. Em termos de género, percebem-se diferenças significativas no total da escala e em todas as dimensões (com exceção da ansiedade) e subescalas. As mulheres apresentam níveis mais baixos de SM do que os homens. Os enfermeiros que trabalham em serviços psiquiátricos evidenciam maiores níveis de SM no total da escala e em todas as suas dimensões comparativamente aos que não trabalham em serviços de psiquiatria, embora no que se refere ao bem-estar positivo essas diferenças não serem significativas. Tabela 3 - Níveis de Saúde Mental considerando o Género e o Serviço onde exercem Funções (Teste de Mann-Whitney)

Ansiedade

Perda de controlo emocional-comportamental

Depressão

Distress

Bem-estar positivo

Total

Média

Desvio Padrão

Mediana

Moda

Z

Feminino

4,27

0,926

4

4

-

Masculino

4,57

0,676

5

5

1,391

Serviço psiquiátrico

4,86

0,655

5

5

-

Serviço não psiquiátrico

4,18

0,878

4

4

3,250

Feminino

4,47

0,824

4

4

-

Masculino

5,05

0,740

5

5

2,788

Serviço psiquiátrico

5,10

0.768

5

5

-

Serviço não psiquiátrico

4,45

0,803

4

4

3,043

Feminino

4,94

1,038

5

5

-

Masculino

5,48

0,750

6

6

2,373

Serviço psiquiátrico

5,57

0,676

6

6

-

Serviço não psiquiátrico

4,90

1,036

5

5

2,932

Feminino

13,68

2,488

14

13

-

Masculino

15,09

1,868

15

14

2,617

Serviço psiquiátrico

15,52

1,806

16

16

-

Serviço não psiquiátrico

13,53

2,400

14

13

3,460

Feminino

7,06

1,982

7

8

-

Masculino

8,48

2,015

9

10

2,840

Serviço psiquiátrico

8,05

1,910

8

8

-

Serviço não psiquiátrico

7,21

2,097

7

8

1,802

Feminino

62,97

16,736

64

72

-

Masculino

74,28

12,301

72

72

2,940

Serviço psiquiátrico

74,28

11,563

76

80

-

Serviço não psiquiátrico

62,97

16,908

64

72

2,063

p 0,164 0,001** 0,005** 0,002** 0,018* 0,003** 0,009** 0,001** 0,005** 0,072 0,003** 0,039*

Legenda: * p<0,05; **p<0,01

Considerando o facto de ter diagnóstico de perturbação mental, não se encontraram diferenças estatisticamente significativas em relação aos níveis de saúde mental. Não se encontraram também diferenças considerando o estado civil dos enfermeiros, tempo de serviço e idade dos mesmos. Quando analisadas as diferenças dos níveis de SM tendo em conta o grau académico (Teste de Kruskal-Wallis), apenas se encontraram diferenças na perda de controlo emocional-comportamental (p=0,020) e distress (p=0,046), sendo os valores mais baixos nos enfermeiros licenciados (média de 4,48 e 13,70, respetivamente) e os valores mais elevados encontrados no enfermeiro com bacharelato (média de 5,00 e 17,00, respetivamente).

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 50


DISCUSSÃO Os enfermeiros que constituíram a amostra deste estudo apresentam níveis de SM satisfatórios, contudo, inferiores aos da população geral, tal como referem Mendes & Machadeiro (2014) e Anderson, Jane-Llopis, & Hosman (2011). Fatores de risco psicossociais relacionados ao trabalho, como exigências quantitativas (maior carga de trabalho), exigências emocionais, ritmo de trabalho e conflitos de papéis, tiveram relações positivas significativas com problemas de SM em enfermeiros na Estônia (Freimann & Merisalu, 2015), e podem contribuir para níveis elevados de estresse e ansiedade nos enfermeiros inquiridos. Avaliados os níveis de sintomas depressivos, percebe-se que mais de 20% da amostra apresenta sintomas graves de depressão e mais de 18%, sintomas moderados, tendo sido encontrados resultados igualmente negativos noutros estudos (Suzuki et al, 2004). Assim, pelo facto de se terem verificado diferenças estatisticamente significativas, pode afirmar-se que a SM dos enfermeiros varia em função do género, sendo mais positiva no género masculino. No que respeita a esta variável, verificou-se que, em ambas as dimensões e no resultado global da SM, as enfermeiras desta Unidade Hospitalar possuem situações menos favoráveis que os profissionais do género masculino, apresentando resultados mais deficitários a todos os níveis de SM. Um estudo idêntico realizado em 2015 com objetivos similares e utilizando o mesmo inventário de SM nos enfermeiros de um ACES da região centro evidenciou resultados antagónicos (Cabral & Florentim, 2015). As enfermeiras do ACES evidenciaram melhores níveis de SM nas dimensões de Distress e Bem-estar Psicológico, sem diferenças significativas para o sexo oposto. De salientar que os índices de SM nos enfermeiros do Centro Hospitalar estudado são muito inferiores aos evidenciados pelos enfermeiros do ACES (Cabral & Florentim, 2015). Contrariamente à evidência que salienta maior exposição dos enfermeiros de SM aos fatores de stress no local de trabalho (Itzhaki et al., 2015; Jacobowitz, 2013; Lamont et al., 2017; Letvak, Ruhm & McCoy, 2012), os enfermeiros que trabalham nos serviços de psiquiatria evidenciaram melhor SM comparativamente aos enfermeiros dos restantes serviços. Uma possível explicação pode estar relacionada com o trabalho de autoconhecimento e autoconsciencialização desenvolvido pelos enfermeiros de SM, em particular pelos especialistas de SM no uso de si próprio como instrumento terapêutico, e que pode, por si só, ser protetor e promotor de SM.

Por outro lado, este resultado coloca em evidência as diferenças na condição de SM face aos contextos de trabalho em saúde. Levantam-se questões relativas aos fatores associados às condições de trabalho e ao seu papel como determinantes da SM dos enfermeiros, nomeadamente o trabalho por turnos, o nível de dependência dos doentes, bem como o diferencial entre o número de horas de cuidados disponíveis e necessárias em cada serviço. Fatores como o trabalho por turnos, estar menos tempo sentado no local de trabalho, abusos e relações difíceis no local de trabalho e ter prolemas de SM são responsáveis pela maioria dos pedidos de licença para abandono do serviço (Lamont et al., 2017; Roelen et al., 2018), no entanto não demonstraram ser discriminadores face aos enfermeiros que trabalham em contextos de SM e psiquiatria. Por isso, sugerimos a realização de outros estudos que testem estes e outros fatores que possam ser determinantes de SM associados ao local de trabalho. CONCLUSÃO Os enfermeiros que constituem a amostra apresentam níveis razoáveis de SM. O tipo de amostragem constitui uma limitação para a generalização dos resultados. Não obstante, o estudo é inovador pelos resultados que evidenciam pior condição de SM nas enfermeiras comparativamente aos enfermeiros a trabalhar nos serviços não psiquiátricos. A avaliação das condições de trabalho pode ser um fator determinante da SM dos enfermeiros no contexto hospitalar que necessita ser estudado. Os resultados apontam para a necessidade de desenvolvimento de programas de promoção de SM no contexto ocupacional, bem como para a necessidade de capacitar os enfermeiros com estratégias para o autocontrole da ansiedade e promoção do bem-estar psicológico. A aposta nos programas de promoção de SM no trabalho deverão primordialmente ser dirigidos aos enfermeiros que exercem funções em serviços não psiquiátricos. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Os resultados obtidos com este estudo são um importante contributo para a prática clínica, em especial na área da enfermagem de SM. Conhecer a SM dos enfermeiros e as suas diferentes dimensões ajuda a caracterizar melhor a SM dos enfermeiros e a rastrear os problemas mentais nessa população. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 51


Os resultados poderão ser utilizados no desenvolvimento de programas de promoção de SM dirigidos às temáticas e populações específicas com vista à prevenção do aparecimento de problemas mentais e consequente melhoria da SM. É assim imperativo a identificação planeamento e execução de programas de intervenção que promovam SM dos enfermeiros no local de trabalho de forma sustentada e economicamente rentável e que, em simultâneo, promovam o desenvolvimento de fatores protetores de SM como a redução do presentismo e absentismo (Borges, et al, 2017; Noben et al., 2015).

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Artigo de Investigação

Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0238

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A VIOLÊNCIA E OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO | Claudia Monteiro1; Joanir Passos2 |

RESUMO CONTEXTO: A violência é um tema muito debatido atualmente em todo o mundo. Os trabalhadores da saúde estão entre os mais atingidos pelas agressões. As taxas de violência perpetradas pelos pacientes em relação aos profissionais de saúde são conhecidas por serem maiores em psiquiatria do que em outros campos. OBJETIVO: Identificar as produções disponíveis, on-line, na literatura científica sobre a violência sofrida por profissionais de saúde no hospital psiquiátrico. METODOLOGIA: Trata-se de revisão integrativa, com levantamento bibliográfico no mês de outubro de 2017, na Biblioteca Virtual de Saúde. Foram selecionados 09 artigos que atendiam ao critério de inclusão no período de 2007 a 2016. RESULTADOS: Foi sinalizada uma escassez de estudos na literatura, sobre o tema. Estudos internacionais apontam para taxas alarmantes de violência contra todos os profissionais da equipe de enfermagem que atuam em psiquiatria, além de estudos que abordam o assunto voltados para a prevenção da violência, característica das vítimas, tipos de agressão, atitudes e comportamentos que desencadeiam a violência. CONCLUSÃO: A violência sofrida impacta na saúde deste trabalhador, sendo necessários estudos que deem voz ao profissional de saúde de hospitais psiquiátricos, discutindo questões subjetivas, por vezes veladas, viabilizando conhecimento para conscientização da realidade da prática assistencial e possibilitando motivar e acionar este trabalhador para o cuidado de si próprio, assim como instrumentalizar a equipe dos serviços de saúde do trabalhador. PALAVRAS-CHAVE: Violência; Saúde do trabalhador; Hospitais psiquiátricos

RESUMEN

ABSTRACT

“La violencia y los profesionales de salud en el hospital psiquiátrico”

“Violence and health professionals at the psychiatric hospital”

CONTEXTO: La violencia es una temática muy debatida actualmente en todo el mundo. Aquellos que trabajan en el campo de la salud están entre los más afectados por agresiones. Las tasas de violencia cometidas por pacientes contra los profesionales de salud son conocidamente más grandes en el campo de la psiquiatría que en los demás. OBJETIVOS: Identificar los trabajos, disponibles en la literatura científica, acerca de la violencia sufrida por los profesionales de la salud en hospitales psiquiátricos. METODOLOGÍA: Este trabajo consiste en una revisión integrada, basada en una búsqueda bibliográfica realizada en octubre de 2017 en la Biblioteca Virtual de Salud. Fueron seleccionados nueve trabajos que atendían a los criterios de inclusión, publicados entre los años de 2007 y 2016. RESULTADOS: Se puede señalar una carencia de estudios sobre el tema en la literatura científica. Trabajos publicados en periódicos internacionales indican tasas alarmantes de actos de violencia practicados contra todos los profesionales del equipo de enfermería que actúan en el campo de la psiquiatría. Además, los trabajos revisados abordan la prevención de la violencia, características de las víctimas, el diferente tipo de agresiones y los comportamientos que desencadenan actos de violencia. CONCLUSIONES: La violencia sufrida genera impacto en la salud de los trabajadores, y se hacen necesarios nuevos estudios que lleven en cuenta la opinión del profesional de salud de los hospitales psiquiátricos, discutiendo cuestiones subjetivas, a veces veladas, que lleven a construcción de conocimiento y aumenten la consciencia en la práctica asistencial, lo que motivará y accionará estos trabajadores para que cuiden también de su propia salud. Estos estudios, además, crearán nuevas herramientas que podrán ser explotadas por la equipe de servicios de salud del trabajador.

DESCRIPTORES: Violencia; Salud laboral; Hospitales psiquiátricos

BACKGROUND: Violence is a much-debated theme worldwide. Health system workers are among the most frequently targeted by aggressions. The rate of violent acts committed by patients towards health-care professionals is known to be higher in the field of psychiatry when compared to other areas of treatment. AIM: Our goal was to identify the worms available in the scientific literature regarding violence suffered by health-care professionals in psychiatric hospitals. METHODS: This work comprises an integrative review, following bibliographic research carried out in October 2017 in the Virtual Health Library. We selected nine articles, published between 2007 and 2016 that matched our criteria. RESULTS: We detected a shortage of works addressing this particular matter. Internationally, several groups report alarming rates of violent acts over the entire psychiatric nursing team. In addition, the reviewed works address violence prevention, victims profiles, different forms of aggression and behaviors that lead to violence. CONCLUSION: The violence sustained by these professionals impacts their health, prompting the need for novel studies that discuss the ponintof-view of the psychiatric hospital health-care professional, debating subjective, often veiled matters, leading to the acquisition of knowledge and raising awareness to the healthcare practice. These studies would additionally motivate and enable these professionals to care for their own health and would also provide new tools to be harnessed by the workers’ healthcare team.

KEYWORDS: Violence; Occupational health; Hospitals, psychiatric Submetido em 31-03-2018 Aceite em 21-10-2018

1 Enfermeira; Doutoranda em Ciências na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (RJ), Brasil, claudia.ipub@gmail.com 2 Enfermeira; Doutora em Enfermagem; Docente de Enfermagem da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (RJ), Brasil, joppassos@hotmail.com Citação: Monteiro, C., & Passos, J. (2019). A violência e os profissionais de saúde no hospital psiquiátrico. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (21), 54-xx Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 54


INTRODUÇÃO No final da década de 1980 a violência no trabalho ganha visibilidade como um tema de grande relevância para a saúde dos trabalhadores, por representar um risco ocupacional crescente. Tem sido fator contributivo para o afastamento de trabalhadores, causando perdas significativas de força de trabalho (Campos & Pierantoni, 2010). A violência relacionada ao trabalho considera toda ação voluntária de um indivíduo ou grupo contra outro indivíduo ou grupo que venha a causar danos físicos ou psicológicos, ocorrida no ambiente de trabalho, ou que envolva relações estabelecidas no trabalho (Oliveira e Nunes, 2008). Os trabalhadores da saúde estão entre os mais atingidos pelas agressões, sendo este setor responsável por aproximadamente um quarto de toda a violência no trabalho (Silva, Aquino, e Pinto, 2014). As taxas de violência perpetradas pelos pacientes em relação aos profissionais de saúde são conhecidas por serem maiores em psiquiatria do que em outros campos (Drori, Guetta, Ben Natan, & Polakevich, 2017). Um estudo realizado sobre a temática aponta que as agressões de pacientes contra trabalhadores ocorrem em diversas localizações, sendo que destas, 41% ocorrem em unidades psiquiátricas e ainda que, entre 46 a 100% dos profissionais da equipe de enfermagem, psiquiatras e terapeutas de serviços de saúde mental experimentaram pelo menos uma agressão durante suas carreiras (Campos & Pierantoni, 2010). É preciso um olhar mais atento para os trabalhadores dos serviços de saúde, pois esses profissionais ao realizarem atividades assistenciais, além dos riscos ocupacionais comuns a que estão expostos em geral realizam tarefas em ambientes cercados pela elevada tensão emocional devido a imprevisibilidade do comportamento do paciente portador de transtorno mental (Tavares, Beck, Magnago, Zanini, & Lautert, 2012). Historicamente, em todas as culturas e em formas distintas, a violência esteve relacionada ao indivíduo com transtorno mental o qual tem sido considerado diferente, indesejado e perigoso para o convívio com outros, tendo, por consequência, exclusão social devido ao comportamento manifesto, advindo dos sinais e dos sintomas do transtorno (Maciel, Barros, Camino, Rízia, & De Melo, 2011). Trabalhar em psiquiatria é possuir sensibilidade para perceber além do mundo das palavras. É investir na subjetividade.

É ter como tarefa ajudar os pacientes a encontrar um significado para a sua experiência da doença. Isso ocorre através do estabelecimento de um relacionamento terapêutico para cumprir a finalidade do cuidado. O profissional de saúde pode ser afetado física ou psicologicamente pela violência manifestada por pacientes com transtornos mentais em crise. Este fato pode acarretar em adoecimento do trabalhador, que pode gerar queda da qualidade assistencial, afastamento do trabalho, dentre outras situações (Fernandes & Marziale, 2014). Com o intuito de aprofundar o conhecimento produzido sobre a temática para subsidiar a pratica no setor de assistência à saúde do trabalhador, este estudo teve por objetivo identificar as produções disponíveis, online, na literatura científica sobre a violência sofrida por profissionais de saúde no hospital psiquiátrico. A violência contra o trabalhador de saúde que atua em hospitais psiquiátricos é uma questão global, séria e que precisa ser verificada. Esta violência pode ser gerada no processo de trabalho, no âmbito das relações interpessoais dos trabalhadores, assim como pode estar relacionada ao cotidiano do cuidado de pacientes psiquiátricos com quadros agudizados. Esta violência impacta na saúde do trabalhador. Neste sentido, a contribuição deste estudo, para o contexto assistencial e gerencial, proporciona a possibilidade de discutir, por meio de uma revisão de literatura, as diferentes formas de violência a que o trabalhador da saúde em hospital psiquiátrico está exposto, permitindo que estes resultados possam ser utilizados para planejamento de intervenções na prática profissional. Na literatura, sobretudo a brasileira, existe uma escassez de estudos que abordam o tema. Na literatura internacional, estudos apontam para taxas alarmantes de violência contra todos os profissionais da equipe de enfermagem que atuam na psiquiatria, além de estudos que abordam o assunto voltados para a prevenção da violência, característica das vítimas de agressão, atitudes e comportamentos que desencadeiam a violência. Neste sentido, a contribuição deste estudo, é produzir e disseminar conhecimentos novos acerca da temática violência e trabalhador de saúde de hospital psiquiátrico. METODOLOGIA Trata-se de uma revisão integrativa, que tem a finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um delimitado tema, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado (Mendes, Silveira, & Galvão, 2008). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 55


A revisão integrativa é um método que proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática (Souza, Silva, & Carvalho, 2010) A escolha da metodologia teve como finalidade determinar o conhecimento atual sobre a temática específica, identificando, analisando e sintetizando resultados de estudos independentes sobre o mesmo assunto (Souza et al., 2010). Para a elaboração desta revisão foram definidas as seguintes etapas: a questão norteadora (o problema), os objetivos deste estudo, os critérios de inclusão e exclusão das publicações (seleção da amostra), levantamento de produção bibliográfica, analise e categorização dos estudos, apresentação e discussão dos resultados (Mendes et al., 2008). Para desenvolvimento do estudo formulou-se a seguinte questão: o que foi produzido na literatura científica sobre a violência sofrida pelo trabalhador de saúde em hospital psiquiátrico? Foi realizada em outubro de 2017 uma busca na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) que incluíam as publicações indexadas nas seguintes bases de dados: Base de Dados em Enfermagem (BDENF), Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e o portal Pub Med (National Library of Medicine), que alberga a Medical Literature Analisys and Retrieval System Online (MEDLINE). Para busca dos artigos utilizou-se os Descritores em Ciência da Saúde (DeCS): violência, hospitais psiquiátricos e saúde do trabalhador. Os critérios de inclusão foram pesquisas que abordassem a violência contra o profissional de saúde na psiquiatria, publicadas em inglês, português ou espanhol; em formato de artigos, no período compreendido entre os anos 2007 a 2016. Os critérios de exclusão utilizados foram estudos duplicados, ou seja, publicados em mais de uma base de dados; editorias; trabalhos publicados em anais; artigos de reflexão; livros, monografias; dissertações; teses; artigos na integra não disponíveis gratuitamente nas bases de dados. Para alcance dos objetivos foi elaborado um instrumento, contendo dados relacionados à identificação da pesquisa: título do artigo, ano de publicação, periódico, método utilizado e os principais resultados. A apresentação dos resultados e discussão dos dados obtidos será realizada em quadro sinóptico e de forma descritiva. A análise dos dados foi realizada por meio de análise temática de conteúdo. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 56

A análise de conteúdo deve organizar-se em torno de um processo de categorização, que tem como primeiro objetivo fornecer uma representação dos dados brutos, como a maioria dos procedimentos de análise (Bardin, 2011). Para o autor supra citado a categorização é um processo que comporta duas etapas: o inventário – isolar os elementos – e a classificação – procurar ou impor uma certa organização às mensagens (investigar o que cada um deles tem em comum com outros) –, ou seja, é uma operação de classificação de elementos que constituem um conjunto por diferenciação e, posteriormente, por reagrupamento segundo analogia, com critérios previamente definidos. RESULTADOS Os achados totalizaram 67 publicações, (64 MEDLINE e três LILACS) sendo 19 textos completos. Destes 19 textos completos foram excluídos 10 artigos por não atenderem os critérios de inclusão estabelecidos. Deste modo, nove artigos selecionados para análise do presente estudo, pois, abordavam o tema central da questão norteadora, conforme demonstrado na Figura 1. Figura 1 - Fluxo de identificação, seleção, elegibilidade e inclusão de publicações com base no PRISMA checklist.

No levantamento identificou-se que nos anos de 2007, 2008, 2010 não ocorreram publicações referentes ao estudo proposto. As publicações selecionadas foram publicadas nos anos de 2009 (três), 2011 (três), 2012 (dois), 2013 (um), 2014 (três), 2015 (três), 2016 (três), a maioria (84,2%, n=16) pertence a base de dados MEDLINE. Ressalta-se que dos artigos selecionados, cinco (55,6%) são americanos, dois (22,2%) são oriundos do Reino Unido, um (11,1) da China e um (11,1%) da Turquia.


No que tange ao tipo de estudo, todos são artigos originais sendo sete (77,8%) com método quantitativo, um (11,1%) com qualitativo e um (11,1%) com método quanti-qualitativo. Foi elaborado um quadro sinóptico contendo título do artigo, ano de publicação, periódico, método utilizado e os principais resultados das nove publicações analisadas (Quadro 1). Quadro 1 - Quadro Descritivo das Publicações Incluídas Título do Artigo

Periódico/ Ano

País de origem

Método

Principais Resultados

Identifying Key Factors Associated with Aggression on Acute Inpatient Psychiatric Wards

Issues in Mental Health Nursing

Inglaterra

Pesquisa Quantitativa

Imposição de restrições como portas de alas fechadas aos pacientes, exacerba o problema da violência bem como o consumo de álcool por parte de pacientes.

An Evaluation of Nurses’ Issues in Mental Interpersonal Styles and Their Health Nursing Experiences of Violence 2009

Turquia

Pesquisa Quantitativa

Estilos interpessoais dos enfermeiros podem contribuir para comportamentos agressivos de pacientes / parentes.

Physical assault by patients against physiotherapists working in mental health settings.

Physiotherapy

Reino Unido

Pesquisa Quantitativa

Os fisioterapeutas que trabalham em saúde mental estão em risco semelhante de agressão física por parte dos pacientes, como os seus colegas de enfermagem.

Frequency of assault and severity of injury of psychiatric nurses in relation to the nurses’ decision to restrain

Journal of Psychiatric and Mental Health Nursing

Characteristics of Assaultive Psychiatric Patients: 20-Year Analysis of the Assaultive Staff Action Program (ASAP)

Psychiatric Quarterly

Registered nurses’ and behavior health associates’ responses to violent inpatient interactions on behavioral health units

Journal of the American Psychiatric Nurses Association

A Change in Culture: Violence Prevention in an Acute Behavioral Health Setting

Journal of the American Psychiatric Nurses Association

2009

2009

Estados Unidos Pesquisa da América Quanti-qualitativa

Os locais de trabalho devem começar a assumir a responsabilidade de melhorar as condições de risco das enfermeiras empregadas na psiquiatria de cuidados intensivos.

Estados Unidos Pesquisa da América Quantitativa

As vítimas de violência tendem a ser mais jovens, menos formalmente educados, menos experientes e trabalhadores de saúde mental menos treinados, conselheiros de casas residenciais e estagiários de diferentes disciplinas.

2011

2011

2012

Estados Unidos Pesquisa Qual- Estimular discussões e sessões de educação da América itativa que abordem estratégias úteis para a equipe de enfermagem, de modo que os incidentes sejam evitados e a equipe seja apoiada após tais eventos perturbadores. Estados Unidos Pesquisa da América Quantitativa

O modelo proposto reduziu com sucesso o uso de restrições, o número de incidentes agressivos ao paciente e as agressões à equipe e provocou uma mudança de cultura.

Frequency and risk factors of Psychiatry Reworkplace violence on psychi- search atric nurses and its impact on their quality of life in China 2013

China

A violência no local de trabalho contra os enfermeiros psiquiátricos é muito comum, particularmente contra os enfermeiros do sexo masculino, aqueles que trabalham em turnos e com educação superior.

Measurable results: Reducing staff injuries on a specialty psychiatric unit for patients with developmental disabilities

Estados Unidos Pesquisa da América Quantitativa

2012

Work 2015

Pesquisa Quantitativa

Utilizou-se princípios de melhoria da qualidade do cuidado reduziu as lesões corporais em uma unidade psiquiátrica especializada em hospitalização.

E ainda, a partir das unidades de registro e significado esquematizou-se o quadro resumido em que são descritas as categorias identificadas nos artigos selecionados (Quadro 2).

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Quadro 2 - Quadro de Categorias Identificadas PREDISPOSIÇÃO A VIOLÊNCIA Facilitadores da violência; Perfil do trabalhador facilitador da violência

MOMENTO DA VIOLÊNCIA

PÓS-VIOLÊNCIA

Tipo de agressão; Gravidade da violência; Gênero mais acometido; Características das vítimas da violência

Imediato Consequências da violência Modos de enfrentamento e produtos de combate à violência

DISCUSSÃO A partir da leitura aprofundada dos dados, foi possível perceber uma temporalidade da violência, ou seja, os dos resultados emergiram momentos distintos em que a violência acontece. Foram identificadas três categorias: fatores que predispõem a violência, o momento da violência, propriamente dita, e o que ocorre posteriormente a violência. Notou-se, ainda, uma atemporalidade no que se refere a prevenção da violência, uma vez que uma instituição pode prevenir a violência de forma perene ou mesmo iniciar esta atividade a partir da ocorrência de um evento violento, embora não tenha sido objeto de estudo. A seguir serão discutidas as categorias identificadas, a saber: Categoria 1 - Predisposição a violência Nesta categoria foram observadas questões facilitadoras da violência e o perfil do trabalhador que favorecia esta violência. No que se refere às questões facilitadoras, um dos estudos afirma que quanto maior o número de funcionários de enfermagem, maior será o número de interações, portanto maior probabilidade de violência. E ainda que quanto maior o número de funcionários maior a probabilidade de pensamentos paranoides, consequentemente, mais agressão defensiva. Além disso, quanto mais funcionários em posição de “poder” maior o risco de desencadeamento de agressão. Imposições de restrições aos pacientes como portas de alas fechadas e quebra de regras também exacerbam o problema da violência (Bowers et al., 2009). Um estudo realizado na China mostra que a colaboração para a violência vem de hospitais superlotados e uma escassez de dispositivos extra hospitalares, tais como o ambulatório e a falta de força de trabalho especializada (Zeng et al., 2013). Em relação ao perfil dos trabalhadores de saúde facilitador da violência foram sinalizados aqueles que tem algum poder de tomada de decisão ou que estão aplicando alguma detenção ou restrição (Bowers et al., 2009). Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 58

Os estilos, atitudes e experiências interpessoais das equipes de enfermagem podem contribuir para a comportamentos agressivos e a violência. Quando integrantes destas equipes são menos sociais e menos tolerantes, mal-educados, insatisfeitos, com pouca habilidade interpessoal, intolerante, com uma visão rígida de certo e errado, incompreensíveis, pouco flexíveis ou que demostram falta de interesse ou de empatia, ficam mais expostos as agressões físicas de pacientes (Bilgin, 2009; Bowers et al., 2009; Zeng et al., 2013). Categoria 2 - Momento da violência Os tipos de agressão citados nos estudos foram a agressão física, em relação a objetos e contra o outro, a agressão verbal e a sexual. Um dos estudos aponta que a maioria dos entrevistados foram ameaçados de forma repetida e séria. Quase todos (88%) dos enfermeiros foram expostos a agressões verbais de pacientes durante a carreira. Embora a taxa de agressões físicas tenha sido menor do que as agressões verbais, verificou-se que mais de metade (61%) dos enfermeiros foram agredidos fisicamente durante a carreira (Bilgin, 2009). Uma iniciativa da redução de lesões corporais da equipe, nos Estados Unidos da América produziu resultados favoráveis. Em geral, as lesões reduziram-se de uma base, média de lesões brutas de 2,2 por semana a 0,77 por semana, o que representa uma redução de 65% (Hill, Lind, Tucker, Nelly, & Daraiseh, 2015). Os resultados de um estudo na China enfatizam que a violência no local de trabalho contra os enfermeiros psiquiátricos é muito comum, particularmente contra os enfermeiros do sexo masculino, aqueles que trabalham em turnos e com educação superior. No total, 82,4% de enfermeiros relataram ter experimentado pelo menos um tipo de evento violento nos últimos seis meses. A prevalência de agressão sexual, assédio físico e verbal foi de 18,6%, 61,5% e 78,6%, respectivamente (Zeng et al., 2013). No Reino Unido, fisioterapeutas que trabalham em saúde mental estão em risco semelhante de agressão física por parte dos pacientes, como os seus colegas de enfermagem. Foram agredidos 51% entrevistados por um paciente no trabalho durante a carreira e 24% relataram que foram agredidos por um paciente nos últimos 12 meses tendo como resultados atendimentos médico, licenças e até incapacidade permanente (Stubbs, Dickens, Soares, Thomsen, & Arnetz, 2009).


A taxa e a natureza das lesões nos para enfermeiros são realmente alarmantes e precisam de ser abordadas pelo sistema de saúde, pela administração das instituições e pela enfermagem. Os locais de trabalho devem começar a assumir a responsabilidade de melhorar as condições de risco das enfermeiras empregadas na psiquiatria. Dos 80% enfermeiros do estudo foram agredidos, 65% feridos e 26% gravemente feridos. As lesões incluíram fraturas, lesões oculares e incapacidade permanente. As lesões foram suficientemente graves para requerer tratamento médico imediato com seguimento médico continuado ou hospitalização e intervenção cirúrgica (Moylan & Cullinan, 2011). Nos estudos realizados nos Estados Unidos da América o gênero mais acometido pela violência foi o masculino com um percentual próximo de 15% maior (Flannery, Levitre, Rego, & Walker, 2011). Enquanto que na China em comparação com as enfermeiras femininas, os enfermeiros eram mais propensos a sofrer agressão sexual e violência física não-sexual, além de relatarem que se sentiam ameaçados (Zeng et al., 2013). Serem mais jovens, menos formalmente educados, menos experientes, e trabalhadores de saúde mental menos treinados, conselheiros de casas residenciais e estagiários de diferentes disciplinas eram as características das vítimas da violência (Flannery et al., 2011). Categoria 3 - Pós-violência Imediatamente após a violência surgem alguns sentimentos experimentados pelos profissionais tais como: ressentimento, frustação, necessidade de esconder o medo, sensação de violação, ansiedade, tristeza, raiva, irritabilidade, decepção, inercia, desapontamento e receio de não conseguir prestar cuidados de forma empática. Este stresse gera no trabalhador consequências psicológicas negativas (Hill et al., 2015; Moylan & Cullinan, 2011; Stubbs et al., 2009; Zeng et al., 2013; Zuzelo, Curran, & Zeserman, 2012). Esses sentimentos não se apresentam sozinhos, geralmente eles vem acompanhados de prejuízos como perdas de dias de trabalhos, licenças médicas, diagnósticos de Bournut e de depressão e intensão de deixar o cargo ou ser demitido (Bilgin, 2009; Bowers et al., 2009; Hill et al., 2015; Moylan & Cullinan, 2011; Zeng et al., 2013). Em quase todos os artigos foram encontrados modos de enfrentamento e estratégias para lidar com a violência. É preciso que aja o compartilhamento de informações sobre as agressões através de relatórios exatos.

Um sistema de relatórios fornecerá informações importantes sobre a eficácia dos esforços de melhoria e pode informar a política organizacional (Zeng et al., 2013; Zuzelo et al., 2012). O profissional deve ser capaz de sentir emoções após o a agressão, tais como a superação do medo e do rancor. É também necessário entender o ambiente de trabalho onde o comportamento dos pacientes é imprevisível, tendo a percepção que o risco de violência é inerente à atividade laboral. Isto pode estimular discussões e sessões de educação que abordem estratégias úteis para a equipe de enfermagem, de modo que os incidentes sejam evitados e a equipe seja apoiada após tais eventos perturbadores (Zuzelo et al., 2012). Um estudo nos Estados Unidos apontou para um modo de enfretamento indireto, através da criação de um modelo de intervenção em várias camadas de medidas de segurança focado no paciente, visando a redução das lesões do pessoal que atingiu o nível do inaceitável. Para o apoio este modelo, foi necessária a formação contínua de enfermagem em relação a conceitos relacionados à restrição e à reclusão. Este modelo, que envolveu gerenciamento de agressão, envolvimento de liderança, feedback de qualidade, orientação de recuperação, e avaliação de pacientes, reduziu com sucesso o uso de restrições, o número de incidentes agressivos ao paciente e as feridas do pessoal (Goetz & Taylor-Trujillo, 2012). Quatro dos nove autores dos textos estudados afirmam que oferecer apoio social e profissional à equipe é fundamental para o enfrentamento de agressões, tais como serviço de aconselhamento, encaminhamento para grupo de apoio, terapeutas particulares individuais e grupais e apoio informal dos colegas. Esses dispositivos de ajuda devem ser oferecidos ao pessoal que enfrenta violência no local de trabalho, devido ao efeito satisfatório e significativo da violência na saúde física e mental dos profissionais (Bilgin, 2009; Flannery, Levitre, et al., 2011; Moylan & Cullinan, 2011; Zeng et al., 2013). Prevenção da Violência Cabe destaque, embora não sendo o objeto de estudo, para prevenção da violência que pode ser feita de forma inesgotável ou mesmo iniciada a partir da ocorrência de um evento violento. Entretanto ela surge em todos os artigos como um cuidado que deve estar presente durante todo o cotidiano do trabalho. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 59


Alguns pontos podem ser observados com mais atenção no cotidiano do trabalho, como a identificação de influências antecedentes, informações sobre o tipo de paciente de alto risco, reconhecimento de padrões de comportamento; ou permanência em alerta; ou manutenção de distância segura, sinais precoces de perda iminente de controlo (Flannery, Levitre, et al., 2011; Zuzelo et al., 2012). Quando o profissional conhece o seu estilo interpessoal isso permite que ele auxilie na construção de uma melhor compreensão de si mesmo e de outros. Consequentemente, isto o leva a uma melhor comunicação e relacionamentos com os pacientes, ajudando a prever comportamento agressivo e preveni-lo ou gerenciá-lo de forma mais eficaz (Bilgin, 2009). A capacitação dos profissionais é quase unânime na anticoncepção da violência. Deste modo, se faz necessário o desenvolvimento de estratégias de gerenciamento de risco, educação contínua no tratamento de respostas emocionais e comportamentais de pacientes psiquiátricos, sistemas de relatórios efetivos para violência no local de trabalho, educação relativa à progressão da agressão, a previsão de violência e a intervenção adequada nas diferentes fases, a partir de conhecimento teórico para a identificação e o gerenciamento de cenários potencialmente violentos (Flannery, Farley, Tierney, & Walker, 2011; Hill et al., 2015; Moylan & Cullinan, 2011; Stubbs et al., 2009; Zeng et al., 2013; Zuzelo et al., 2012).

Deste modo, sugere-se novos estudos que possam identificar as barreiras organizacionais / ambientais com vista a uma avaliação de intervenções emergentes de prevenção da violência através de uma nova cultura. E ainda, configura-se como essencial para redução da violência em ambientes psiquiátricos, oferecer apoio social e profissional à equipe cuidadora, objetivando assegurar a saúde do trabalhador.

CONCLUSÃO

Drori, T., Guetta, H., Ben Natan, M., & Polakevich, Y. (2017). Patient Violence Toward Psychiatric Health Care Workers in Israel as Viewed Through Incident Reports. Journal of the American Psychiatric Nurses Association, 23(2), 143–148. doi:10.1177/1078390316687372

A violência contra o trabalhador de saúde em hospitais psiquiátricos é uma questão complexa, reconhecida como um importante problema de saúde relacionado ao trabalho e pode estar associada a interação de múltiplos fatores nos níveis micro e macrossocial. Pode-se destacar como fatores contributivos para a violência os organizacionais / ambientes, como políticas restritivas, abordagens terapêuticas, número de pessoal insuficiente, inexperiência ou falta de treinamento. Assim como, as características individuais dos pacientes, tais como psicopatologia, gênero, idade, história de violência, status social e econômico. Além disso, deve-se considerar o conflito de papéis dos profissionais que necessitam desenvolver uma relação terapêutica com paciente, entretanto, ao mesmo tempo, estabelecem limites, aplicam ações coercitivas determinadas pelas organizações. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 60

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Artigo de Revisão

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Disponível em http://dx.doi.org/10.19131/rpesm.0239

DESENVOLVIMENTO DE UM CATÁLOGO CIPE® PARA O FOCO DE ENFERMAGEM “AUTOESTIMA”: UMA SCOPING REVIEW | Ana Catarina Teixeira1; Francisco Sampaio2 |

RESUMO INTRODUÇÃO: A autoestima pode ser definida como a opinião que cada pessoa tem de si própria, a visão do seu mérito e capacidades; verbalização das crenças sobre si próprio; confiança em si; verbalização de autoaceitação e de autolimitação, desafiando as imagens negativas sobre si, aceitação do elogio e do encorajamento, bem como da crítica construtiva. Por influenciar a qualidade de vida esta merece uma abordagem estruturada, o que pode ser conseguido através da elaboração de um catálogo CIPE®. OBJETIVO: Contribuir para o desenvolvimento de um catálogo CIPE® para o foco de Enfermagem “Autoestima”. MÉTODOS: Scoping review, baseada na consulta de literatura cinzenta e na análise de artigos presentes na CINAHL e MEDLINE (2008-2018), relativa aos dados relevantes e intervenções de Enfermagem para o diagnóstico de “Baixa Autoestima”. Foram excluídos os artigos indisponíveis em full text e que não se encontrassem em português, inglês ou espanhol. Obtiveram-se um total de 259 artigos, sendo que destes apenas nove foram considerados na análise integral. RESULTADOS: A avaliação do comportamento, dos sentimentos de culpa, vergonha e impotência, e a monitorização da autoestima com recurso a escalas parecem essenciais para o diagnóstico/avaliação do foco “Autoestima”. As intervenções mais efetivas parecem passar por: planear/executar reestruturação cognitiva, planear/executar terapia pela reminiscência, de grupo e/ou aconselhamento; promover o exercício; assistir na modificação do comportamento e providenciar apoio emocional. CONCLUSÕES: A criação de um catálogo CIPE® permite aos enfermeiros a uniformização do diagnóstico, das intervenções e das atividades de avaliação. Salientam-se, contudo, as dificuldades encontradas para converter alguns termos presentes na literatura em linguagem classificada.

PALAVRAS-CHAVE: Autoimagem; Processo de enfermagem; Enfermagem; Sistemas de informação

RESUMEN

ABSTRACT

“Desarrollo de un catálogo CIPE® para el foco de enfermería “autoestima”: Una scoping review”

“Development of an ICNP® catalogue addressing the nursing focus “self esteem”: A scoping review”

CONTEXTO: La autoestima puede ser definida como la opinión de uno mismo y visión del propio valor y de las capacidades, verbalización de creencias sobre uno mismo, confianza en uno mismo, verbalización de autoaceptación y autolimitación, desafiando las imágenes negativas de uno mismo, aceptación de elogio, estímulo, así como de crítica constructiva. Por influenciar la calidad de vida, esta parece merecer una indicación estructurada, lo que se logra a través del desarrollo de un catálogo CIPE®. OBJETIVO: Desarrollar un catálogo CIPE® para el foco de Enfermería “Autoestima”. MÉTODOS: Una scoping review, con base en el análisis de artículos presentes en la CINAHL y MEDLINE (2008-2018), relativa a los datos relevantes e intervenciones de Enfermería para el diagnóstico de “Baja Autoestima”. Se excluyeron los artículos no disponibles en texto completo, portugués, inglés o español. Se obtuvieron un total de 259 artículos, siendo que de éstos sólo nueve fueron considerados para análisis integral. RESULTADOS: La evaluación del comportamiento, los sentimientos de culpa, la vergüenza y la impotencia, y la monitorización de la autoestima con escalas parecen esenciales para el diagnóstico/evaluación del foco “Autoestima”. Las intervenciones más efectivas pasan por: planear/ejecutar reestructuración cognitiva, planear/ejecutar terapia por la reminiscencia, de grupo y/o asesoramiento; promover el ejercicio; asistir en la modificación del comportamiento y proporcionar apoyo emocional. CONCLUSIONES: El desarrollo de un catálogo CIPE® permite a los enfermeros la uniformidad del diagnóstico, de las intervenciones y de las actividades de evaluación. Se destacan, sin embargo, las dificultades encontradas para convertir algunos términos presentes en la literatura en lenguaje estandarizado.

BACKGROUND: Self-esteem can be defined as the opinion each person has of himself, the vision of his merit and abilities; verbalisation of beliefs about oneself; trust in oneself; verbalisation of self-acceptance and self-limitation, challenging negative images about oneself, acceptance of praise and encouragement and constructive criticism. By influencing the quality of life, it deserves a structured approach, which can be achieved through the development of an ICNP® catalogue. AIM: To develop an ICNP® catalogue addressing the nursing focus “Self-esteem” METHODS: Scoping review, based on the consultation of grey literature and on the analysis of articles present in CINAHL and MEDLINE (2008-2018), concerning relevant data and nursing interventions addressing the diagnosis “Low Self Esteem”. Articles not available in full text and not in Portuguese, English or Spanish were excluded. A total of 259 articles were obtained, of which only nine were considered for full analysis. RESULTS: The evaluation of behaviour, feelings of guilt, shame and impotence and the monitoring of self-esteem using scales seem to be essential for the diagnosis/evaluation of the “Self Esteem” focus. The most effective interventions include: planning/implementing cognitive restructuring, planning/implementing reminiscence therapy, group therapy and/or counselling; promoting exercise; assisting in modifying behaviour and providing emotional support. CONCLUSIONS: The development of an ICNP® catalogue allows nurses to standardise diagnosis, interventions and evaluation activities. We highlight, however, the difficulties encountered in converting certain terms present in the literature into standardised language.

KEYWORDS: Self-image; Nursing process; Nursing; Information systems

DESCRIPTORES: Autoimagen; Proceso de enfermería; Enfermería; Sistemas de información

Submetido em 31-03-2018 Aceite em 19-07-2018

1 Enfermeira no Hospital de Cascais, Avenida Brigadeiro Victor Novais Gonçalves, 2755-009 Alcabideche, Portugal, anacatarina_teixeira@hotmail.com 2 Mestre em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria; Doutor em Ciências de Enfermagem; Investigador de Pós-Doutoramento na Universidade do Porto, Faculdade de Medicina; Investigador Doutorado Integrado no CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, grupo de investigação “NursID – Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem”; Professor Adjunto na Universidade Fernando Pessoa, Escola Superior de Saúde, 4200-253 Porto, Portugal, fsampaio@ufp.edu.pt Citação: Teixeira, A. C., & Sampaio, F. (2019). Desenvolvimento de um catálogo CIPE® para o foco de enfermagem “autoestima”: Uma scoping review. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental (21), 62-xx Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 62


INTRODUÇÃO A autoestima é definida pelo International Council of Nurses (ICN) (2017) como um domínio da autoimagem, sendo considerada a “opinião que cada pessoa tem de si própria, a visão do seu mérito e capacidades; verbalização das crenças sobre si próprio; confiança em si; verbalização de autoaceitação e de autolimitação, desafiando as imagens negativas sobre si, aceitação do elogio e do encorajamento, bem como da crítica construtiva”. A autoestima é um fenómeno psicológico que tem íntima relação com as dimensões emocionais e cognitivas da pessoa, influenciando diretamente a sua qualidade de vida. Segundo Tavares, Matias, Pegorari, Nascimento e Paiva (2016), elevados níveis de autoestima estão associados a uma melhor qualidade de vida e predizem uma boa saúde mental. De entre todos os focos de Enfermagem que poderiam ter sido escolhidos foi selecionada a “Autoestima”, em grande parte pelos dados epidemiológicos abaixo apresentados que dão conta dos reais problemas que envolvem baixos níveis de autoestima em diversas faixas etárias e em contextos distintos. Assim, diversos estudos indicam que, por exemplo, doentes oncológicos que sofrem cirurgias eletivas, doentes com patologias respiratórias, mulheres grávidas ou puérperas, adolescentes e doentes psiquiátricos apresentam frequentemente baixos níveis de autoestima. Segundo um estudo realizado por Maçola, Vale e Carmona (2010), mais de metade das 127 grávidas entrevistadas apresentavam baixos níveis de autoestima; já 6,8% dos doentes que sofrem patologias respiratórias manifestam também níveis pouco satisfatórios de autoestima, de acordo com um estudo conduzido por Monteiro e Belo (2016). Dada a grande abrangência deste foco, decidiu-se desenvolver um catálogo CIPE® para o mesmo, de forma a tornar mais fácil a documentação do plano assistencial de Enfermagem neste domínio. Dada a quantidade e a complexidade da informação produzida pelos enfermeiros no exercício da sua profissão parece imperativo o desenvolvimento dos sistemas de informação. O ICN salienta a necessidade da existência de padrões para a representação da prática de Enfermagem nos sistemas de informação de saúde e para o desenvolvimento de uma compreensão do trabalho de Enfermagem (ICN, 2008). A informação em saúde é essencial para a excelência dos cuidados prestados e a documentação, gestão e armazenamento da informação assume um papel preponderante no seio das organizações.

Os catálogos CIPE® permitem aos enfermeiros integrar mais facilmente a linguagem classificada na sua prática ao descreverem os diagnósticos, os resultados e as intervenções de Enfermagem mais apropriadas para uma área particular de cuidados, tornando a linguagem mais unificada (ICN, 2008). Estes constituem ainda uma referência de fácil acesso para os enfermeiros no seu contexto de cuidados, uma vez que apresentam subconjuntos da CIPE® já previamente selecionados e trabalhados. Um catálogo CIPE® não deve ser visto como uma tentativa de substituição do juízo e pensamento crítico dos enfermeiros, mas antes como uma ferramenta importante para a documentação da sua prática assistencial. Deste modo, e face a esta realidade, decidiu-se sumarizar o processo de Enfermagem relativo ao foco de Enfermagem “Autoestima” de modo a contribuir para o desenvolvimento de um catálogo CIPE® para o mesmo, tendo como fim último a otimização e maior sistematização da ação de Enfermagem neste domínio. MÉTODOS Sob o ponto de vista metodológico este trabalho alicerça-se numa scoping review, constituindo o seu cerne o foco de Enfermagem “Autoestima”. Foram seguidas as guidelines PRISMA-ScR (Trico et al., 2018) para reportar o processo realizado. Recorreu-se a bases de dados disponibilizadas pela EBSCO Host®, designadamente a MEDLINE e a CINAHL. Os artigos selecionados remetem-se ao período compreendido entre 2008 e 2018 e foram obtidos a partir do cruzamento de termos-chave: “self esteem” AND “nurs*” AND (“diagnos*” OR “intervention*”) NOT (“child*” OR “adolescen*”). Foram excluídos os artigos que envolviam crianças/adolescentes (dada a especificidade de intervenções nesta faixa etária), os artigos não disponíveis em português, inglês ou espanhol e aqueles que não se encontrassem em full text. Os termos de pesquisa foram utilizados única e exclusivamente para procurar dados relevantes para o diagnóstico de Enfermagem, assim como para rever as intervenções de Enfermagem propostas para este domínio. O processo de screening envolveu dois revisores (CT e FS), bem como o processo de extração de dados. O processo de extração de dados foi realizado de acordo com as recomendações de Arksey e O’Malley (2005), e de Levac, Colquhoun e O’Brien (2010). Tendo em conta que se pretendia obter o máximo de dados possível, não foi realizada avaliação da qualidade dos artigos. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 63


Por forma a otimizar a pesquisa, e uma vez que os resultados encontrados não permitiam sustentar de forma inequívoca a mesma, optou-se pela consulta/análise de livros (literatura cinzenta), garantido que a informação consultada se baseia na versão mais atual dos mesmos e excluindo versões anteriores a 2008. Na apresentação dos resultados optou-se por alocar o verbo de ação “avaliar” às atividades de diagnóstico e “vigiar” às atividades de avaliação porque, segundo o ICN (2017), o verbo “avaliar” está mais indicado quando existe a necessidade de estimar a dimensão, a qualidade ou o significado de alguma coisa; esta ação é utilizada num primeiro contacto com o utente, quando o enfermeiro não possui ainda dados sobre a sua condição. Por seu turno o “vigiar” é empregado nas atividades de avaliação, uma vez que pressupõe uma vigilância regular ao longo do tempo, após o enfermeiro ter já mantido algum tipo de contacto com o utente. Para a apresentação dos resultados optou-se pelo recurso à síntese narrativa. Toda a informação apresentada ao longo desta pesquisa, apesar de não ter sido obtida na sua totalidade com base na classificação proposta pelo ICN (2017), foi devidamente adaptada à mesma. RESULTADOS Tal como apresentado na Figura 1, a pesquisa identificou 259 artigos potencialmente relevantes. Destes, 137 foram excluídos pelo título, 68 foram excluídos pelo resumo e 16 por não se conseguir obter a sua versão integral. Obteve-se no final um total de 36 artigos para análise integral, dos quais apenas nove foram incluídos na scoping review. Figura 1 - Fluxograma PRISMA do processo de seleção dos artigos.

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A Tabela 1 procura fazer a relação dos artigos selecionados e expõe de forma resumida alguns dos principais achados. Os estudos selecionados reportam-se a várias regiões, nomeadamente Estados Unidos da América (n=2), Irão (n=2), Coreia do Sul (n=3), Brasil (n=1) e Japão (n=1). Tabela 1 - Apresentação dos Estudos Incluídos na Scoping Review Autores/Ano

Título

Objetivos

Participantes

Desenho

Avaliação dos resultados

Fernandes, Alves, Santos, Mota e Fernandes (2013)

Self-esteem in mastectomized women – application of Rosenberg’s scale

Identificar as variáveis que contribuem para melhorar a autoestima de mulheres submetidas a mastectomia

14 mulheres com média de idade de 59 anos pertencentes a um grupo de apoio para mulheres mastectomizadas

Estudo transversal exploratóriodescritivo

A participação em grupos de apoio é importante para mulheres mastectomizadas pois possibilita a troca de experiências, informações e orientações sobre a doença/ tratamentos. Melhora a autoimagem, a autoestima e a comunicação interpessoal

Buchanan (2013)

Translating research into practice: Targeting negative thinking as a modifiable risk factor for depression prevention in the college student population

Verificar os efeitos da intervenção cognitivocomportamental num grupo de estudantes universitários

12 estudantes universitários com média de idades de 24,8 anos

Desenho experimental: Estudo clínico com pré-teste e pós-teste

O estudo evidenciou que os participantes diminuíram os sintomas depressivos e o pensamento negativo e aumentaram a autoestima de T1 (antes da intervenção) para T2 (4 semanas após a intervenção)

Park, Han & Kang (2014)

Effects of exercise programs on depressive symptoms, quality of life, and self-esteem in older people: A systematic review of randomized controlled trials

O estudo procurou Pessoas com averiguar se os proidade superior gramas de exercício a 65 anos têm efeitos positivos na depressão, na qualidade de vida e autoestima dos idosos

Revisão sistemática de estudos clínicos randomizados

Constatou-se uma melhoria dos sintomas depressivos, da qualidade de vida e da autoestima dos idosos submetidos aos programas de exercício

Ebrahimi, Effect of supportive Navidian & nursing care on self Keykha (2014) esteem of patients receiving electroconvulsive therapy: A randomized controlled clinical trial

Determinar o efeito do suporte emocional prestado pelos enfermeiros no aumento dos níveis de autoestima de utentes com doença mental submetidos a eletroconvulsivoterapia

70 pessoas com doença mental submetidas a tratamento com eletroconvulsivoterapia

Desenho experimental – Ensaio Clínico com grupo de controlo

Verificou-se que o grupo ao qual foi prestado suporte emocional por parte dos enfermeiros obteve restados mais positivos ao nível da autoestima, comparativamente com o grupo de controlo

Kim et al. (2015)

The effects of laughter therapy on mood state and self-esteem in cancer patients undergoing radiation therapy: A randomized controlled trial

Verificar se a terapia do 62 pessoas com riso reduz os scores de cancro alterações do humor e se melhora os níveis de autoestima em utentes com cancro

Desenho experimental controlado e randomizado com grupo de controlo

Foram observadas melhorias significativas ao nível da autoestima dos utentes que participaram no programa de terapia de riso comparativamente com os utentes do grupo de controlo

Pishvaei, Moghanloo & Moghanloo (2015)

The efficacy of treatment reminders of life with emphasis on integrative reminiscence on selfesteem and anxiety in widowed old men

Perceber o papel da terapia pela reminiscência na autoestima e ansiedade de idosos viúvos

38 pessoas viúvas com idades compreendidas entre os 60-80 anos

Desenho experimental – Estudo clínico com pré-teste e pós teste

A terapia pela reminiscência permite aos idosos o controlo da sua história de vida, melhora a autoestima e a redução dos índices de ansiedade e depressão

Kunikata, Yoshinaga & Nakajima (2016)

Effect of cognitive behavioral group therapy for recovery of self-esteem on community-living individuals with mental illness: Non-randomized controlled trial

Verificar durante 12 meses se a terapia cognitivo-comportamental de grupo resultou em melhoria dos níveis de autoestima dos participantes

62 pessoas com doença mental, com idades compreendidas entre os 20-65 anos

Desenho experimental – estudo clínico controlado e não randomizado com grupo de controlo

O score de autoestima aumentou ao longo do tempo (T0- T3) no grupo sujeito à intervenção; o mesmo não foi verificado com o grupo de controlo que não foi sujeito à intervenção

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Tamura-Lis (2017)

Reminiscing – A tool for excellent elder care and improved quality of life

Perceber o papel da terapia pela reminiscência na autoestima e qualidade de vida dos idosos

Pessoas com Revisão idade > 65 anos

A terapia pela reminiscência melhora a sociabilidade e a comunicação dos idosos, além de melhorar a sua autoestima e satisfação com a vida

Jung, Park & Kim (2018)

The effects of a clientcentered leisure activity program in satisfaction, self-esteem, and depression in elderly residents of a long-term care facility

Verificar os efeitos de um programa de atividades de lazer centradas no utente sobre a sua satisfação, autoestima e depressão em idosos residentes num lar

12 idosos, com pelo menos 65 anos, residentes num lar de idosos

Foram observadas melhorias significativas no desempenho ocupacional, autoestima e depressão dos utentes que participaram no programa de atividades de lazer centradas no cliente

Desenho experimental – Estudo clínico com grupo de controlo

Após a análise da literatura selecionada e considerando a importância da utilização de instrumentos de avaliação na prática de Enfermagem como forma de obter diagnósticos rigorosos, constatou-se que a Escala de Avaliação da Autoestima de Rosenberg e o Inventário de Autoestima de Coopersmith parecem adequados para avaliar este foco de atenção. São ainda propostas outras atividades de diagnóstico relacionadas com a avaliação da autoestima, que se encontram apresentadas na Tabela 2. Tabela 2 - Atividades de Diagnóstico Associadas ao Foco de Enfermagem “Autoestima” ATIVIDADES DE DIAGNÓSTICO Monitorizar a autoestima [através de Escala de Rosenberg] (Santos e Maia, 2003) Monitorizar a autoestima [através de Inventário de Coopersmith] (Janeiro, 2008) Avaliar o comportamento (Carpenito-Moyet, 2011; Herdman & Kamitsuru, 2015) Avaliar [sentimentos] de culpa (Carpenito-Moyet, 2011; Herdman & Kamitsuru, 2015) Avaliar [sentimentos] de vergonha (Carpenito-Moyet, 2011; Herdman & Kamitsuru, 2015) Avaliar sentimentos de impotência (Carpenito-Moyet, 2011; Herdman & Kamitsuru, 2015)

No decurso da colheita de dados importa formular o diagnóstico que se adeque à situação em causa, sendo que as hipóteses diagnósticas identificadas na literatura se encontram descritas na Tabela 3. Tabela 3 - Diagnósticos de Enfermagem Associados ao Foco “Autoestima” DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM Baixa Autoestima Baixa Autoestima Crónica (ICN, 2017) Baixa Autoestima Situacional (ICN, 2017)

As intervenções propostas para fazer face a estas hipóteses diagnósticas encontram-se descritas na Tabela 4.

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Tabela 4 - Intervenções de Enfermagem Associadas ao Foco “Autoestima” INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM Promover a autoestima (Bulechek. Butcher, Dochterman, & Wagner, 2018) Encorajar o cliente a identificar as suas forças; (Bulechek et al., 2018) Reforçar as forças pessoais identificadas pelo cliente; (Bulechek et al., 2018) Encorajar o cliente a falar para si mesmo no dia a dia no sentido de verbalizar afirmações positivas; (Bulechek et al., 2018) Providenciar experiências que permitam aumentar a autonomia do cliente; (Bulechek et al., 2018) Assistir o cliente na identificação de respostas positivas por parte dos outros; (Bulechek et al., 2018) Assistir o cliente a lidar com o bullying ou as provocações; (Bulechek et al., 2018) Transmitir confiança na capacidade do cliente para lidar com a situação; (Bulechek et al., 2018) Assistir o cliente na definição de metas realistas que permitam aumentar a autoestima; (Bulechek et al., 2018) Assistir o cliente a reavaliar as perceções negativas sobre si; (Bulechek et al., 2018) Encorajar o aumento da responsabilidade por si; (Bulechek et al., 2018) Explorar sucessos prévios; (Bulechek et al., 2018) Encorajar o cliente a avaliar o seu próprio comportamento; (Bulechek et al., 2018) Encorajar o cliente a aceitar novos desafios; (Bulechek et al., 2018) Recompensar ou elogiar os progressos do cliente em direção às suas metas; (Bulechek et al., 2018) Facilitar um ambiente e o envolvimento em atividades que permitam aumentar a autoestima; (Bulechek et al., 2018; Jung et al., 2018) Realizar verbalizações positivas acerca do cliente (Bulechek et al., 2018) Providenciar apoio emocional (Ebrahimi et al., 2014) Planear [reestruturação cognitiva] (Buchanan, 2013; Johnson et al., 2013; Kunikata et al., 2016) Executar [reestruturação cognitiva] (Buchanan, 2013; Johnson et al., 2013; Kunikata et al., 2016) Assistir na [modificação] do comportamento (Buchanan, 2013; Kunikata et al., 2016) Planear [aconselhamento] (Johnson et al., 2013) Executar [aconselhamento] (Johnson et al., 2013) Planear terapia pela reminiscência (Pishvaei et al., 2015; Tamara-Lis, 2017) Executar terapia pela reminiscência (Pishvaei et al., 2015; Tamara-Lis, 2017) Incentivar o cliente a fazer exercício (Park et al., 2014) Planear terapia de grupo (Fernandes et al., 2013) Executar terapia de grupo (Fernandes et al., 2013) Orientar para terapia com grupo de apoio (Fernandes et al., 2013)

Quanto às atividades de avaliação, estas pretendem avaliar as respostas dos utentes face aos cuidados prestados e permitem verificar quais as intervenções que devem ser modificadas ou ajustadas. Estas encontram-se sugeridas na Tabela 5. Tabela 5 - Atividades de Avaliação para o Foco “Autoestima” ATIVIDADES DE AVALIAÇÃO Monitorizar a autoestima [através de Escala de Rosenberg] (Santos e Maia, 2003) Monitorizar a autoestima [através de Inventário de Coopersmith] (Janeiro, 2008) Vigiar o comportamento (Carpenito-Moyet, 2011; Herdman & Kamitsuru, 2015) Vigiar [sentimentos] de culpa (Carpenito-Moyet, 2011; Herdman & Kamitsuru, 2015) Vigiar [sentimentos] de vergonha (Carpenito-Moyet, 2011; Herdman & Kamitsuru, 2015) Vigiar sentimentos de impotência (Carpenito-Moyet, 2011; Herdman & Kamitsuru, 2015)

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Na fase final do processo importa elencar o resultado esperado e, relativamente a este aspeto, a proposta encontra-se descrita na Tabela 6 e pressupõe a obtenção de melhores níveis de autoestima. No entanto, esta elação só pode ser comprovada quando comparados os dados identificados na avaliação inicial e os dados recolhidos após a implementação das intervenções de Enfermagem. Tabela 6 - Resultados Esperados para o Foco “Autoestima”

RESULTADOS ESPERADOS Autoestima melhorada (ICN, 2017) DISCUSSÃO Analisando os resultados alcançados salienta-se, da pesquisa efetuada, a necessidade de se proceder a uma adequada recolha de dados, devendo o enfermeiro munir-se de competências comunicacionais que sejam facilitadoras da identificação diagnóstica. Na tentativa de objetivar o mais possível os dados recolhidos devem utilizar-se instrumentos psicométricos devidamente validados para a população portuguesa. A pesquisa efetuada sugere que a Escala de Avaliação da Autoestima de Rosenberg e o Inventário de Autoestima de Coopersmith são os instrumentos que parecem mais adequados para avaliar este foco de atenção. A Escala de Avaliação da Autoestima destaca-se pela sua brevidade de aplicação, contando com apenas 10 itens, os quais somados resultam numa pontuação que oscila entre 10 e 40, sendo que uma pontuação elevada traduz uma autoestima elevada (Santos e Maia, 2003). A versão portuguesa deste instrumento apresenta propriedades psicométricas amplamente verificadas, com valores elevados de consistência interna (α=0,86) (Santos e Maia, 2003). O Inventário de Autoestima de Coopersmith é um instrumento mais extenso, composto por 58 itens agrupados em quatro subescalas e uma boa consistência interna (α=0.83) (Coopersmith, 1981, cit. por Janeiro, 2008). A literatura consultada sublinha a importância de utilizar estes instrumentos antes de qualquer intervenção e posteriormente à mesma, de forma a comparar os resultados obtidos, pois só assim é possível constatar a eficácia das intervenções. Na visão de Carpenito-Moyet (2011) são consideradas caraterísticas definidoras major de baixos níveis de autoestima verbalizações autonegativas, enunciação de expressões de culpa e vergonha, sensação de ser incapaz de lidar com determinados acontecimentos, rejeição do Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 68

feedback positivo e valorização do negativo, hesitação em abraçar novas experiências, condições essas que são corroboradas por Herdman e Kamitsuru (2015). Salientam-se ainda como caraterísticas definidoras um comportamento pouco assertivo e indeciso, a necessidade de obter a constante aprovação dos outros, a presença de atitudes e comportamentos passivos e o fraco contacto visual (Herdman & Kamitsuru, 2015), pelo que é importante que se tenha em linha de conta estas manifestações na tentativa de se poder enunciar o diagnóstico de Baixa Autoestima Situacional ou Crónica (ICN, 2017). Para Herdman e Kamitsuru (2015), o diagnóstico “Baixa Autoestima Crónica” surge quando o sujeito evidencia uma avaliação negativa sobre si de forma prolongada e contínua ao longo do tempo. Já o diagnóstico “Baixa Autoestima Situacional” resulta de uma perceção negativa que o sujeito tem sobre o seu valor próprio, decorrente de uma situação atual. No que concerne às intervenções, a revisão realizada apontou para a importância de se abordar a autoestima sob o ponto de vista da intervenção de uma forma positiva (Mruk, 2013, cit. por Sampaio et al., 2017). De acordo com pesquisa efetuada, as intervenções mais eficazes parecem passar pela realização de intervenções cognitivo-comportamentais individuais e em grupo. Assim, a título de exemplo, foi conduzido um estudo por Buchanan (2013) que evidenciou que os participantes sujeitos a terapias cognitivo-comportamentais diminuíram significativamente os sintomas depressivos e o pensamento negativo e aumentaram significativamente a autoestima de T1 (antes da intervenção) para T2 (4 semanas após a intervenção). O mesmo foi verificado num estudo desenvolvido por Kunikata et al., em 2016, que demonstrou que após ter sido realizada terapia cognitivo-comportamental os participantes revelaram uma melhoria substancial nos níveis de autoestima comparativamente com o grupo de controlo, que não beneficiou da referida intervenção. Outros estudos apontam para a importância de fomentar a participação em grupos de apoio sendo que, por exemplo, segundo o estudo levado a cabo por Fernandes et al., (2013), a participação de mulheres mastectomizadas em grupos de apoio possibilitou-lhes um maior suporte social e uma partilha de experiências, o que revelou resultados positivos ao nível da autoestima. Também a terapia pela reminiscência parece ter resultados positivos quando se trata de aumentar a autoestima. Foram identificados dois estudos, conduzidos por Pishvaei et al. (2015) e Tamura-Lis (2017), cujos resultados são sobreponíveis.


Os resultados do primeiro estudo demonstraram que a terapia pela reminiscência permite aos idosos viúvos o controlo da sua história de vida, melhorar a sua autoestima e reduzir os índices de ansiedade e depressão desta população; por sua vez, o segundo estudo sugere que a terapia pela reminiscência melhora a sociabilidade e a comunicação dos idosos, além de melhorar a sua autoestima e satisfação com a vida. A prática de exercício físico é outra das intervenções que parece ter resultados positivos ao nível da autoestima. Em 2014, Park et al. realizaram um estudo que evidenciou uma melhoria dos sintomas depressivos, da qualidade de vida e da autoestima dos idosos submetidos a programas de exercício físico. O planeamento e execução de aconselhamento (Johnson et al., 2013) e apoio emocional prestado pelos enfermeiros a utentes com baixos níveis de autoestima também parecem ter resultados positivos. Assim, segundo um estudo conduzido por Ebrahimi et al. (2014), os utentes submetidos a eletroconvulsivoterapia e aos quais foi prestado apoio emocional por parte dos enfermeiros obtiveram níveis de autoestima mais satisfatórios comparativamente com os utentes que não usufruíram da mesma intervenção. Existem ainda outras intervenções que são apontadas por diversas fontes (Bulechek et al., 2018; Jung et al., 2018) como sendo eficazes para promover a autoestima, como por exemplo incentivar o envolvimento do utente em atividades que permitam aumentar a sua autoestima, dando especial importância a atividades de lazer centradas nas preferências do mesmo. Na visão de Bulechek et al. (2018) é importante encorajar o utente a identificar as suas forças e ao mesmo tempo reforçá-las; trabalhar a atitude de autoaceitação; encorajar o contacto ocular na comunicação interpessoal; encorajar o utente a falar sobre si na tentativa de verbalizar afirmações positivas; assistir na identificação de respostas positivas por parte dos outros; evitar a crítica negativa; assistir a lidar com as provocações; transmitir confiança na capacidade para lidar com as situações; assistir na definição de metas realistas que permitam aumentar a autoestima; assistir a reavaliar as perceções negativas sobre si; encorajar o aumento da responsabilidade; explorar sucessos prévios; encorajá-lo a avaliar o seu comportamento e a aceitar novos desafios; recompensar ou elogiar os progressos do utente em direção às suas metas e realizar afirmações positivas acerca do cliente, na tentativa de promover a autoestima.

As atividades de avaliação elencadas são sobreponíveis às atividades de diagnóstico, excetuando-se o verbo de ação, pois só assim se poderá fazer uma comparação entre o estado inicial e final, avaliando a eficácia das intervenções implementadas, com o objetivo último de se conseguir uma autoestima melhorada. A presente scoping review apresenta como limitação o reduzido número de artigos à qual se reporta, podendo estes não ser representativos da literatura científica existente no domínio da Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica. O facto dos artigos escolhidos se circunscreverem a populações muito específicas (mulheres mastectomizadas, idosos, doentes com perturbações mentais) pode limitar a generalização das intervenções a toda a população com baixos níveis de autoestima, pelo que é imprescindível a realização de mais estudos, no mesmo domínio, abrangendo diversas populações. CONCLUSÕES O objetivo desta scoping review passou por contribuir para o desenvolvimento de um catálogo CIPE® relativo ao foco de Enfermagem “Autoestima”. Fazendo a comparação entre os resultados alcançados e o principal objetivo da scoping review pode afirmar-se que o objetivo inicial foi atingido ainda que com algumas limitações. Efetivamente, o trabalho desenvolvido permitiu colocar em destaque algumas das principais atividades de diagnóstico e intervenções para fazer face ao diagnóstico “Baixa Autoestima”, apesar de serem necessários mais estudos para que se possa generalizar estas conclusões a diversas populações. IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA Este trabalho, embora circunscrevendo-se ao foco “Autoestima”, pode ser considerado relevante para a prática clínica na medida em que facilita o processo de tomada de decisão dos enfermeiros, a documentação dos cuidados prestados e a sustentação da prática clínica no âmbito da prestação de cuidados de Enfermagem a pessoas com baixos níveis de autoestima. Salienta-se neste trabalho a dificuldade em converter alguns termos em linguagem classificada, o que comprova a necessidade de um maior investimento nos sistemas de informação em Enfermagem, no sentido de tornar mais ténue a linha que separa a componente prática e teórica da profissão.

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12 NORMAS

DE PUBLICAÇÃO DA ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL

REVISTA

PORTUGUESA

DE

A Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental é publicada duas vezes por ano, em junho e dezembro, tratando-se de uma revista indexada em bases de dados nacionais e internacionais. A Revista apresenta, atualmente, as seguintes secções: Artigos de Investigação; Artigos de Revisão (Narrativa, Sistemática e Integrativa) da Literatura; Artigos de Boas Práticas/Reflexão. 1 – Procedimentos de Submissão do Artigo: 1.1 – Submissão eletrónica: os artigos devem ser sempre submetidos eletronicamente no sítio da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental: http://www.aspesm.org/. 1.2 – Para a submissão dos artigos, deverão sempre ser enviados os seguintes documentos: a) Artigo integral, obedecendo às normas da revista; b) Checklist de autoverificação, preenchida na totalidade c) Declaração de Cedência de Direitos de Autor e de Observação dos Princípios Éticos da Investigação, provando que os autores concordam que o artigo, uma vez aceite, fique da propriedade d’ ASPESM, não podendo, por isso, ser publicado noutra fonte, e que foram cumpridos todos os princípios éticos inerentes a um trabalho de investigação. Nota: a Direção da Revista reserva-se o direito de retirar um artigo do processo de revisão ou das bases de dados (no caso dos artigos publicados), sempre que se verifique que os autores publicaram uma versão idêntica noutra Revista. 2 – Processo de Revisão: Os artigos propostos são apreciados num processo Double Blinded (duplamente cego). Neste processo, o artigo é enviado por dois Peer Reviewers (Pares Revisores), os quais o examinam e arbitram sobre a sua qualidade, dando as recomendações que julgarem convenientes. Sempre que não se verifique acordo entre os dois revisores, o Diretor da Revista reserva-se o direito de indicar um terceiro revisor. A Direção da Revista enviará ao autor informação sobre a eventual aceitação definitiva, aceitação com alterações, ou não aceitação. No caso da aceitação com alterações, os autores receberão os pareceres e recomendações sugeridas pelos Peer Reviewers. O autor deve efetuar as alterações e reenviar o documento, via eletrónica, no tempo regulamentado. Nota: caso não se verifique o cumprimento rigoroso do tempo estipulado para correção do artigo, este pode ser excluído do processo de revisão. Cada artigo será, posteriormente, verificado pelo Diretor e Coordenador da Revista, que analisam a primeira versão do artigo e a versão corrigida, em função das recomendações dos Peer Reviewers. O processo de revisão será efetuado online. As fases do processo de revisão e recomendações encontram-se descritos no quadro abaixo: Fase Receção do Artigo Revisão Reformulação do Autor Verificação Redatorial Publicação

Procedimento Após o envio do artigo, este será submetido a um processo de revisão técnica (revisão dos aspetos formais e de normalização, de acordo com as normas de publicação da Revista). O artigo é enviado para 2 Peer Reviewers, que o examinam e arbitram sobre a sua qualidade, dando as recomendações convenientes. A Direção da Revista enviará ao autor informação sobre a aceitação definitiva, aceitação com alterações, ou não aceitação, bem como os pareceres e recomendações dos Peer Reviewers. As alterações a efetuar pelo autor deverão ir, rigorosamente, de acordo com as recomendações dos Peer Reviewers. Cada artigo deverá ser verificado pelo Diretor e pelo Coordenador da Revista, que analisam a primeira versão do artigo e a versão corrigida, em função das recomendações dos Peer Reviewers. A oportunidade de publicação é da inteira responsabilidade da Direção da Revista.

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3 – A decisão final acerca da oportunidade de publicação dos artigos é da responsabilidade do Diretor da Revista. 4 – O artigo: 4.1 – Tipo de artigo: devem ser artigos científicos originais e versarem temas de saúde mental, Enfermagem de saúde mental ou educação em saúde mental. O conteúdo dos artigos é da exclusiva responsabilidade dos seus autores, aos quais compete respeitar os princípios éticos da investigação e cumprir as normas da edição da Revista. A Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental poderá incluir artigos em língua portuguesa, espanhola, inglesa ou francesa, consoante a origem dos artigos. 4.2 – Estrutura do artigo 4.2.1 - Título: o artigo deverá incluir um título informativo (que vá de encontro ao âmbito do trabalho) e sucinto (em português, espanhol e inglês); máximo de 16 palavras, sem abreviaturas e sem a indicação da localização geográfica da investigação. 4.2.2 - Autores: os autores devem estar devidamente identificados, com o nome, habilitações académicas, categoria profissional, instituição onde exercem funções, contactos (morada, e-mail e telefone institucionais) e informação no caso de o artigo ser extraído de Dissertação ou Tese (indicando o título, ano e instituição onde foi apresentada). O nome e afiliação dos autores deve surgir imediatamente após o título em português. As afiliações devem estar por extenso (ex.: Local de Trabalho – Escola Superior de Enfermagem do Porto). Os endereços de correio eletrónico dos autores dos artigos devem estar com hiperligação (com link disponível). 4.2.3 - Resumo: o resumo do trabalho deve ser apresentado em português, espanhol e inglês, e não deve exceder as 250 palavras, devendo incluir a descrição do contexto, objetivo(s), metodologia, resultados e conclusões. 4.2.4 - Palavras-Chave: o artigo deve apresentar, no máximo, 4 palavras-chave, transcritas de acordo com os descritores MeSH (em português, ver DeCS), em português, espanhol e inglês. 4.2.5 - Corpo do artigo: O artigo (tratando-se de um trabalho de investigação) deve ser estruturado em secções, devendo incluir os seguintes capítulos: Introdução, Metodologia, Resultados, Discussão, Conclusão, e Implicações para a Prática Clínica). Os artigos de revisão e de boas práticas/reflexão não têm que obedecer, necessariamente, a esta divisão. 4.3 - Formato: • O texto deve ser apresentado em formato Word, letra Arial, tamanho 11, espaçamento 1,5, páginas em formato A4, em coluna única, evitando negritos e sublinhados, variação do tipo de letra, fundos de cor, etc.; • Todas as margens devem ter 2,5 cm.; • Não devem ser incluídas notas de rodapé. • O artigo não deve ultrapassar as 15 páginas incluindo resumo (em português, espanhol e inglês), referências, tabelas, quadro e figuras. • O artigo não deverá ser paginado. • Os parágrafos não devem ser indentados. • O artigo deve ser redigido de acordo com o Novo Acordo Ortográfico (caso não o seja, a Comissão Editorial reserva-se o direito de realizar a conversão). Nota: caso o(s) autor(es) se recuse(m) a redigir o artigo segundo o Novo Acordo Ortográfico devem, aquando do seu envio, manifestar essa posição de forma clara e inequívoca. • Na primeira utilização de uma sigla esta deve estar, primeiramente, por extenso, por exemplo: Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). • Quando se realizarem citações de três a cinco autores, todos os nomes devem ser mencionados na primeira vez que a citação é feita (ex.: Bradley, Ramirez, & Soo, 1999). Nas vezes seguintes, deve utilizar-se apenas o nome do primeiro autor seguido de “et al.” (ex.: Bradley et al., 1999). Caso a citação seja de seis ou mais autores, logo na primeira vez em que a citação é feita deve utilizar-se apenas o nome do primeiro autor seguido de “et al.”. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 74


• No corpo do artigo, ao citar autores coletivos, na primeira vez que a citação é feita, deve ser mencionado o nome por extenso (ex.: National Institute of Mental Health [NIMH], 2003). Nas vezes seguintes, pode ser utilizada a abreviatura (ex.: NIMH, 2003). • Os títulos dos capítulos devem seguir a seguinte estrutura: Nível do Título Formato 1 Centrado, Negrito, com Maiúsculas e Minúsculas 2 Alinhado à Esquerda, Negrito, com Maiúsculas e Minúsculas 3 Indentado, negrito, em minúsculas terminando com ponto final. 4 Indentado, negrito, itálico, em minúsculas terminando com ponto final. 5 Indentado, itálico, em minúsculas terminando com ponto final. 4.3.1 - Tabelas, quadros, gráficos e figuras: devem ser incluídos apenas os que sejam absolutamente essenciais para a compreensão do artigo e numerados por ordem de inclusão no texto, em função de cada tipo. As tabelas e quadros devem apresentar o título em cabeçalho e os gráficos e figuras devem apresentar o título por baixo. Para tabelas e quadros o tamanho da letra pode ser reduzido até um mínimo de 9 e sem espaçamentos. As tabelas, quadros, gráficos e figuras devem surgir imediatamente após o parágrafo em que é feita referência às mesmas. 4.3.2 - Citações: todos os autores citados no artigo devem constar da lista de referências bibliográficas. Exemplo: Sequeira (2006), (Sequeira, 2006), ou “Em 2006, Sequeira (...)”. Deve indicar-se o número de página, no caso de citação textual, tal como nos exemplos: Sequeira (2006, p. 32) ou (Sequeira, 2006, p. 32). Quando citar dois ou mais autores numa mesma paráfrase, deve ordená-los por ordem alfabética, tal como no exemplo: (Miller, 1999; Shafranske & Mahoney, 1998). Nota: utilizar o símbolo “&” apenas nas paráfrases em que os autores citados sejam de países em que o português não é uma língua oficial (ex.: EUA, Reino Unido, etc.). 4.3.3 - Referências Bibliográficas: • As referências selecionadas devem permitir evidenciar as publicações mais representativas do “estado da arte” da problemática em estudo (últimos 5 anos, extensíveis a 10 anos para problemáticas que tenham sido pouco estudadas), resultando da pesquisa de bases de dados de revistas indexadas nacionais e internacionais. • As referências bibliográficas devem estar elaboradas de acordo com as normas da 6ª Edição da American Psychological Association (APA). Todas elas deverão estar citadas no artigo. • Nas referências bibliográficas, independentemente do número de autores, estes devem ser todos referidos, não sendo permitido o uso de “et al.”. • O título das revistas nunca deve ser abreviado nas referências bibliográficas. Por exemplo, não se deve escrever “RPESM”, mas sim “Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental”. • Sempre que se inclua um site nas referências bibliográficas, a sua hiperligação deve estar presente e funcionante. Nota: as fontes devem ser alvo de seleção criteriosa, em função da sua pertinência, e não devem ultrapassar um total de 20 referências, organizadas por apelido do autor e ordenadas por ordem alfabética. APA 6ª Edição (Exemplos – consultar http://www.apastyle.org/) 4.3.3.1 Modelo de referências (indicar o nome de todos os autores – não usar “et al.”): Livros Shotton, M. A. (1989). Computer addiction? A study of computer dependency. London, England: Taylor & Francis. Trabalho académico (Dissertação/Tese) Healey, D. (2005). Attention deficit/hyperactivity disorder and creativity: An investigation into their relationship. Tese de Doutoramento, University of Canterbury, Christchurch, New Zealand. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 75


Trabalho académico (Dissertação/Tese) Healey, D. (2005). Attention deficit/hyperactivity disorder and creativity: An investigation into their relationship. Tese de Doutoramento, University of Canterbury, Christchurch, New Zealand. Editor literário Barkley, R. A. (Ed.) (2008). Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: Manual para diagnóstico e tratamento (3ª ed.). Porto Alegre: Artmed. Capítulos de livros Haybron, D. M. (2008). Philosofy and the science of subjective well-being. In M. Eid & R. J. Larsen (Eds.), The Science of subjective well-being (pp. 17-43). New York, NY: Guilford Press. Autor coletivo American Psychological Association. (2010). Publication manual of the American Psychological Association (6ª ed.). Washington, DC: Author. Artigos de publicações periódicas Com DOI Herbst-Damm, K. L. & Kulik, J. A. (2005). Volunteer support, marital status, and the survival times of terminally ill patients. Health Psychology, 24, 225-229. doi: 10.1037/0278-6133.24.2.225 Sem DOI Light, M. A. & Light, I. H. (2008). The geographic expansion of Mexican immigration in the United States and its implications for local law enforcement. Law Enforcement Executive Forum Journal, 8(1), 73-82. Documentos eletrónicos Livros Schiraldi, G. R. (2001). The post-traumatic stress disorder sourcebook: A guide to healing, recovery, and growth [Adobe Digital Editions version]. doi: 10.1036/10071393722 Artigos de publicações periódicas Wheeler, D. P. & Bragin, M. (2007). Bringing it all back home: Social work and the challenge of returning veterans. Health and Social Work, 32(1), 297-300. Acedido em http://www.naswpressonline.org Outros (póster, comunicação livre, etc.) Leclerc, C. M. & Hess, T. M. (2005, agosto). Age diferences in processing of affectively primed information. Póster apresentado na 113ª Annual Convention of the American Psychological Association, Washington, DC. Nota: no caso de os autores serem de países de língua oficial portuguesa, nas referências bibliográficas o “&” deve ser substituído por “e”. 5 – Formato Padrão do Artigo a submeter: Primeira Página • Título (em português, espanhol e inglês) • Nome dos autores (separados por ponto e vírgula); • Afiliações dos autores (uma afiliação por linha); • Indicação caso o artigo seja extraído de Dissertação/Tese. Nota: esta página, posteriormente, é retirada pelo Coordenador da Comissão Editorial, sendo atribuído um número codificado que identifica o artigo junto dos revisores Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Nº 21 (JUN.,2019) | 76


Segunda Página • Titulo (em português); • Resumo (em português); • Palavras-Chave (em português); • Título (em espanhol); • Resumen; • Descriptores; • Titulo (em inglês); • Abstract; • Keywords. Páginas Seguintes: • Introdução; • Metodologia; • Resultados; • Discussão; • Conclusões; • Referências bibliográficas; • Apêndices (se existentes), agradecimentos (se existentes), conflitos de interesses (se existentes), fontes de financiamento (se existentes), e contribuições dos autores (se aplicável).

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