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Unidade 3

O SIGNIFICADO DO TRABALHO E RELAÇÕES HUMANAS Ana Céli Pavão

Objetivos de aprendizagem: Nesta Unidade, você será levado a refletir temas relevantes sobre o significado do trabalho para o homem, enquanto ser singular e social, bem como as transformações ocorridas no mundo do trabalho, que estão diretamente relacionadas à construção da subjetividade humana. Além disso, você conhecerá os aspectos do desenvolvimento humano, compreendendo a importância do estabelecimento das relações humanas para a constituição do homem em sociedade. Por fim, você será estimulado a refletir sobre as contribuições da Psicologia Social enquanto importante área do conhecimento.

Seção 1 • O Significado do Trabalho para o ser humano em sua individualidade e coletividade Esta seção traz a importância do trabalho no processo de criação do próprio homem e da constituição de sua história,


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sendo este fenômeno considerado fonte de significados e papel fundamental na constituição da identidade, bem como na produção da subjetividade humana. Perceba o quanto as transformações sociais e culturais e o novo formato de sociedade baseada no consumo impactaram na concepção, organização e gestão do trabalho.

Seção 2 • Relações Humanas, aspectos do desenvolvimento humano e interação Nesta

seção,

verificaremos

que

a

compreensão

do

desenvolvimento humano pode contribuir para entender o comportamento das pessoas, por isso, conheceremos alguns aspectos do desenvolvimento humano e os fatores que interferem neste processo. Logo após, analisaremos a complexidade e dinamicidade das relações humanas, refletindo sobre algumas das aptidões necessárias para viver com os outros e, ainda, as táticas de influência social. Ao final da seção, discutiremos a ciência Psicologia e as contribuições valiosas da Psicologia Social, que nos ajuda a compreender o homem em sua dimensão social e histórica.

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Introdução à unidade

Olhe para você! Provavelmente, um aluno do curso de Sociologia que tem uma história de vida, que viveu experiências passadas que marcaram seu desenvolvimento, que estabeleceu relações ao longo de sua existência, enfim, um ser humano! Certamente, você sabe que a experiência humana só pode ser realizada através dos nossos semelhantes, em contato com as outras pessoas; apenas na interação com o outro é possível nos construirmos como humanos de fato. E há muitos fenômenos próprios da condição humana que precisam ser compreendidos para que se possa refletir a respeito do próprio humano, como o trabalho, as relações humanas e o processo de interação. Também há meios adequados para se adquirir este conhecimento, como os diferentes campos da ciência, destacando-se a Psicologia. Convido você a refletir sobre essas questões a partir de agora. Iniciaremos essa unidade, portanto, com a Seção 1, intitulada “O significado do trabalho para o ser humano em sua individualidade e coletividade”, por meio da qual refletiremos a busca do significado do trabalho e sua relevância na construção da subjetividade humana, bem como os impactos individuais e sociais das transformações no mundo do trabalho e da nova configuração de sociedade, a qual estamos vivendo nos dias atuais. Na Seção 2, “Relações Humanas, aspectos do desenvolvimento humano e interação”, por sua vez, conheceremos brevemente os aspectos do desenvolvimento humano e também os fatores que interferem neste processo. Em seguida, analisaremos a importância das relações humanas e as aptidões necessárias para compreender o outro e conviver com ele.

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Além disso, refletiremos a respeito do fenômeno da influência social e, por fim, discutiremos as contribuições da Psicologia Social e seu olhar sobre o humano em sua individualidade e coletividade. Ao final da unidade, você poderá validar seu aprendizado através das atividades disponíveis. Espero que goste do conteúdo que será apresentado! Boa leitura!

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Seção 1 O significado do trabalho para o ser humano em sua individualidade e coletividade Certamente, você está lendo este livro com o objetivo de aprofundar seu conhecimento para aplicá-lo em seu trabalho, seja ele qual for. O trabalho está presente em nossa vida desde a tenra idade, no cotidiano de nossa família e amigos, nas instituições as quais fazemos parte e/ou conhecemos, nos meios de comunicação, enfim, em todo lugar. Isso nos leva a refletir que a constituição da humanidade se deu, em grande parte, pela existência do trabalho.

Você já parou para pensar sobre a importância que o trabalho exerce na sua vida e na sociedade como um todo?

Antunes (2004), ao citar um texto de Friedrich Engels (um importante teórico colaborador de Karl Marx), publicado em 1896, relata que o trabalho foi responsável por criar o próprio homem. Para entendermos melhor esta relação entre humanidade e trabalho, não podemos negar a extraordinária contribuição dos pensamentos de Karl Marx (1818-1883).

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Sant’ Anna (1997), organizador de um livro sobre a vida e obra de Marx, conta-nos que o núcleo de seus pensamentos é sua interpretação do homem, cujo início é marcado pela necessidade humana. A história da humanidade, portanto, começa com o próprio homem que luta com a natureza para buscar satisfazer suas necessidades e, nesse movimento, descobre-se como ser ativo e produtivo, passando a ter consciência de si mesmo e do mundo à sua volta. Assim, “a história é o processo de criação do homem pelo trabalho humano” (p. 26, grifo nosso).

Vamos conhecer um pouco a respeito deste grande pensador: Heinrich Karl Marx nasceu em Tréveris, no Renânia alemã, no dia 5 de maio de 1818. Ele era o mais velho dos filhos varões e o segundo nascido na numerosa família. Já na juventude foi possível reconhecer seus extraordinários dotes mentais, que os pais procuraram estimular. Na fase adulta, Marx conheceu, em Paris, Friedrich Engels que, dois anos mais jovem do que ele, se converteu em discípulo, colaborador e, mais tarde, em editor de sua obra póstuma (SANT’ANNA, 1997).

Segundo Antunes (2004), a transição do macaco em homem, dentre tantos processos graduais de evolução, consistiu na adaptação das mãos, cujas funções, durante os milhares e milhares de anos, só puderam ser, a princípio, funções sumamente simples.

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Mas já havia sido dado o passo decisivo: a mão era livre e podia agora adquirir cada vez mais destreza e habilidade; e essa maior flexibilidade

adquirida

transmitia-se

por

herança e aumentava de geração em geração. Vemos, pois, que a mão não é apenas o órgão do trabalho; é também produto dele. Unicamente pelo trabalho, pela adaptação a novas e novas funções,

pela

transmissão

hereditária

do

aperfeiçoamento especial assim adquirido pelos músculos e ligamentos e, num período mais amplo, também pelos ossos; unicamente pela aplicação sempre renovada dessas habilidades transmitidas a funções novas e cada vez mais complexas foi que a mão do homem atingiu esse grau de perfeição que pôde dar vida, como por artes de magia, aos quadros de Rafael, às estátuas de Thorwaldsen e à música de Paganini (ANTUNES, 2004, p. 13-14).

Para conferir o encanto de uma das obras de Rafael, acesse o link: <http://virusdaarte.net/rafael-sanzio-madona-sistina/> (acesso em: 07 nov. 2014). Você verá a “Madona Sistina” e conhecerá um pouco da história desta bela obra de arte, concebida no ato do trabalho.

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É claro que as mãos não são parte isolada do corpo humano e todas as funções do nosso corpo apresentam uma conectividade e formam um organismo extremamente complexo; em todos esses processos de evolução, o homem foi se transformando e se desenvolvendo de forma constante. Por meio do trabalho, conforme Antunes (2004), o homem foi capaz de ampliar seus horizontes, o que o levou a descobrir continuamente em cada objeto que manuseava novos elementos que, até aquele momento, eram desconhecidos, estimulando assim sua capacidade de criar, produzir, simbolizar. Diante disso, um dos fatores que diferencia o homem dos outros animais é que ele é dotado de consciência, uma vez que concebe de forma simbólica o desenho e a forma que quer dar ao objeto de seu trabalho. O autor traz uma ilustração de Marx para explicar o quão relevante e admirável é essa constatação:

Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de sua colmeia. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho, obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador e, portanto, idealmente (ANTUNES, 2004, p. 30).

É possível perceber, a partir destas reflexões, que o trabalho é uma atividade essencialmente humana. O trabalho não proporcionou apenas a criação de

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instrumentos que visavam satisfazer as necessidades dos homens e, num grau mais elevado, proporcionar o estímulo dos sentidos por meio da arte; o trabalho produziu relações humanas! Pense, neste momento, nas pessoas que estão ao seu redor e o quanto elas contribuem todos os dias para o seu desenvolvimento enquanto pessoa e para o seu aprendizado. Para Antunes (2004), o trabalho é essencial na vida humana, pois é condição para sua existência social e, ao refletir Marx, afirma que:

[…] ao mesmo tempo em que os indivíduos transformam a natureza externa, tem também alterada sua própria natureza humana, num processo de transformação recíproca que converte o trabalho social num elemento central do desenvolvimento da sociabilidade humana (ANTUNES, 2004, p. 08).

Também Netto (1994), ao contribuir para o esclarecimento de alguns pressupostos do marxismo, aponta este mesmo pensamento de que, para Marx, o ser humano é um ser social, que produz a si mesmo através das suas objetivações, sendo o trabalho a mais privilegiada delas, ao passo que organiza as suas relações com os outros homens e com a natureza, reproduzindo-se a si mesmo. Sendo assim, no processo de evolução, o desenvolvimento das ações de trabalho culminou na ajuda mútua entre os seres humanos, revelando as vantagens destas ações realizadas no coletivo, o que contribuiu para agrupálos ainda mais. E todo esse processo proporcionou o desenvolvimento de

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uma das ferramentas mais importantes para a vida humana: a linguagem (ANTUNES, 2004; BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

Conheça um pouco mais a respeito da concepção de trabalho na perspectiva filosófica, em especial em Marx. Acesse o link abaixo: <http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/42/ trabalho-como-conceito-filosofico-nas-paginas-dos-manuscritoseconomico-filosoficos-290788-1.asp>. Acesso em: 07 nov. 2014.

Confira, por meio da explicação de Antunes (2004), o avanço que o aparecimento da palavra, vinculada ao trabalho, promoveu para o nosso desenvolvimento:

Primeiro o trabalho e, depois dele e com ele, a palavra articulada, foram os dois estímulos principais sob cuja influência o cérebro do macaco foi se transformando gradualmente em cérebro humano – que, apesar de toda sua semelhança, supera-o consideravelmente em tamanho e em perfeição. E à medida que se desenvolvia o cérebro, desenvolviam-se também seus instrumentos mais imediatos: os órgãos dos sentidos. Da mesma maneira que o desenvolvimento gradual da linguagem está necessariamente acompanhado do correspondente aperfeiçoamento do órgão do ouvido, assim também o desenvolvimento geral do cérebro está ligado ao aperfeiçoamento de todos os órgãos dos sentidos (ANTUNES, 2004, p. 16).

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Continua o autor sobre o desenvolvimento humano:

O desenvolvimento do cérebro e dos sentidos a seu serviço, a crescente clareza de consciência, a capacidade de abstração e de discernimento cada vez maiores, reagiram por sua vez sobre o trabalho e a palavra, estimulando mais e mais o seu desenvolvimento (ANTUNES, 2004, p. 17, grifos nossos).

Desse modo, Bock, Furtado e Teixeira (2008), guiados pela perspectiva da Psicologia sócio-histórica, asseguram que a linguagem facilitou muito a vida coletiva do ser humano, o que contribuiu sobremaneira para o surgimento da sociedade, este conjunto de relações do qual fazemos parte hoje. Em conformidade com esta perspectiva, o trabalho só pode acontecer em sociedade, caracterizando-se como um processo pelo qual o homem estabelece relação com a natureza e, ao mesmo tempo, com outros homens, sendo a linguagem o instrumento básico para que essa relação aconteça. Isso nos leva a crer que “(…) o trabalho só pode ser entendido dentro de relações sociais determinadas” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 79). Estes mesmos autores nos fazem pensar que, com o passar do tempo, o trabalho foi sendo constituído como fator preponderante para o desenvolvimento intelectual e emocional dos seres humanos, sendo considerado extremamente relevante na vida das pessoas e de fundamental importância na formação da identidade. No que diz respeito ao conceito de identidade, podemos reconhecê-lo quando uma pessoa se aproxima de outra e, ao buscar saber mais a respeito dela, possivelmente pergunte o nome,

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a formação, a profissão e a atividade laboral que desenvolve. O que se busca é a identificação do outro, ou seja, diferenciá-lo dos demais, personalizálo. Assim, entendemos que a identidade é formada por um conjunto de características próprias e exclusivas, um único exemplar de um determinado indivíduo, o que o torna um ser ímpar. Além disso, o que identifica a pessoa em nossa sociedade, geralmente está ligado às atividades que desempenha ao longo de sua história de vida (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). A identidade permite tomar consciência de si mesmo e diferenciar-se do outro, possibilitando que o indivíduo se perceba como ser único. “Assim, o termo identidade aplica-se à delimitação que permite a distinção de uma unidade e a relação com os outros, propiciando o reconhecimento de si” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 208). Trata-se, portanto, da denominação dada às representações e sentimentos que o indivíduo desenvolve a respeito de si mesmo, a partir do conjunto de suas vivências e experiências. Neste sentido, a relação do indivíduo com o seu trabalho e o papel que exerce em sua atividade profissional também é considerado fator essencial na constituição da identidade, uma vez que o trabalho ocupa posição central na vida de qualquer ser humano, além de ser um instrumento de sobrevivência pessoal, é uma atividade que se compõe no substrato da identidade pessoal e que vai contribuindo para modelar um jeito próprio de ser (ONESTI; MARCHI, 2001). A partir de uma ótica social, é possível dizer que o trabalho é o principal regulador da vida humana, pois ele orienta os horários, os hábitos, os grupos ao qual o indivíduo pertence e, até mesmo, as atividades pessoais. Isso fica ainda mais evidente quando pensamos nas pessoas que perderam seus empregos; quantas delas se viram numa situação de desorientação, sentindo-se inúteis, potencializando, dessa forma, o adoecimento, ou ainda

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o enfrentamento, fazendo com que passem a procurar outras coisas para preencher o espaço antes ocupado pelo trabalho. Codo (apud JACQUES, 2003, p. 108) afirma que o trabalho “[…] constitui-se como principal fonte de significados na constituição na vida de todos. As pessoas articulam-se ao redor das atividades laborativas” e, apesar das dificuldades e barreiras que todos os profissionais encontram no cotidiano do trabalho, seja qual for a área de atuação, segmento ou posição hierárquica, é notório que o trabalho tem um valor de construção social na vida do indivíduo.

Pense no trabalho que você realiza todos os dias (não precisa ser um trabalho formal, pode ser uma atividade que você desempenhe com regularidade): qual o significado que este trabalho representa na sua vida?

Em uma tentativa de definir o que é trabalho, o psicólogo Wanderley Codo (2006) busca na filosofia e na economia a ajuda de importantes teóricos, como Henri Bergson, que traz a seguinte definição: “O trabalho humano consiste em criar utilidade” (FRIEDMAN et al., 1962 apud CODO, 2006, p. 80), e também Karl Marx, cujo conceito de trabalho já refletimos. Por meio de suas pesquisas, Codo (2006) faz uma análise da dimensão do trabalho e chega à seguinte conclusão: “Trabalho é uma relação de dupla transformação entre o homem e a natureza, geradora de significado” (p. 80, grifo nosso). Perceba que esta definição vem ao encontro da linha de pensamento de Marx de que não só o homem transforma a natureza à sua volta por meio do trabalho, mas ele também é transformado nesta ação. E

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não para por aí! Para que esta ação seja considerada trabalho, deve se abrir para uma nova perspectiva: a de gerar significado. Gerar significado é transcender, é algo que se torna eterno, é levar a ação para além de si, uma vez que o trabalho a imortaliza. Assim, podemos pensar em tantos exemplos, como no caso do professor que ensina um novo tema ao seu aluno, fazendo-o refletir e aprender; ou, até mesmo, o marceneiro que produz um novo móvel para um jovem casal que acabara de se mudar para sua nova casa; são ações que geram significado, transcendem àquele que produz e permanece mesmo que o produtor não esteja mais presente. Retomamos a reflexão: qual o significado que o seu trabalho gera? Você já parou para pensar sobre isto? Qual o sentido que a atividade que você realiza todos os dias produz na sua vida e na vida das pessoas que estão à sua volta? Ao relacionar trabalho e o conceito de identidade, o mesmo autor afirma que o trabalho é uma atividade humana por excelência, agora entendida como o modo pelo qual transmitimos significado à natureza; a identidade demanda significados para se estabelecer, comparecendo o trabalho, então, como um dos elementos essenciais na constituição da identidade, embora não seja o único. De acordo com essa lógica, o processo de gerar significado torna o trabalho um ato de prazer e, consequentemente, quando esse processo é quebrado, ou seja, quando o circuito que gera significado é rompido, o resultado pode ser o oposto: gerar sofrimento, que pode acarretar em adoecimento e consequências negativas para o indivíduo. Para tornarmos nossa reflexão mais completa, vamos acrescentar um tema bastante importante, que é considerado o objeto de estudo da ciência Psicologia: a Subjetividade. Você já ouviu falar a respeito deste conceito? Para começar a decifrá-lo, utilizaremos o pensamento de Faye (1991),

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citado por Davel e Vergara (2001 apud RAMPAZZO; RICIERI, 2009), que afirma ser a subjetividade a interioridade das pessoas, a espontaneidade do eu, ou seja, tudo aquilo que constitui a singularidade humana e que sedimenta todo e qualquer conhecimento possível. Assim, a Subjetividade diz respeito ao homem em todas as suas manifestações e expressões, tanto as visíveis, que é o próprio comportamento, quanto as invisíveis, como os pensamentos, os sentimentos, as emoções e os afetos; também se refere às expressões singulares, o porquê de sermos quem somos (incluindo a identidade), e as genéricas, o porquê das semelhanças entre os indivíduos. O termo subjetividade, portanto, sintetiza o todo do ser humano, inclusive sua relação com o trabalho (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Os autores explicam a subjetividade como sendo,

[…] a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural; é uma síntese que de um lado nos identifica, por ser única; e de outro nos iguala, na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividade social (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 22-23).

Utilizando ainda as reflexões dos mesmos autores, podemos definir a subjetividade como a maneira de sentir, amar, fantasiar, pensar, comportar-se, sonhar de cada um de nós, constituindo o nosso jeito de ser. É o mundo de

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ideias, sentidos, significados e emoções que é construído internamente pelo ser humano a partir de suas vivências, relações sociais e também de sua constituição biológica; é a fonte de suas expressões e manifestações, tanto afetivas quanto comportamentais. Neste sentido, é por meio do mundo social e cultural, experienciado por cada um de nós, que se torna possível a construção de um mundo muito pessoal e particular. Essas experiências vão fazendo sentido para nossas vidas e, assim, vamos nos constituindo a cada dia. Estas definições nos levam a entender que a subjetividade é constantemente construída e essa construção depende da relação que estabelecemos com os outros. Assim, há um ponto fundamental neste conceito: a subjetividade é instituída socialmente, ou seja, é constituída na sociedade, da mesma forma que a linguagem, as regras de parentesco, os valores ou os métodos de trabalho. Toda sociedade, para sobreviver, necessita produzir modos de aculturação eficazes, capazes de transformar os homens em membros daquele grupo, aptos a funcionar segundo suas regras e, posteriormente, transmiti-las às gerações seguintes, institucionalizandoas e mantendo a sociedade em funcionamento. Assim sendo, o homem constrói a subjetividade aos poucos, na medida em se apropria do material do mundo social e cultural, sendo ativo em sua construção (MEZAN, 2002; BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Neste sentido, a subjetividade não é inata, ou seja, não nasce com o indivíduo, mas é construída aos poucos, conforme o indivíduo vai se apropriando dos dados do mundo social e cultural. Esse movimento é dinâmico, pois, ao mesmo tempo em que o indivíduo recebe informações do mundo externo, ele também contribui e transforma esse mundo, e assim, ele constrói e transforma a sua subjetividade. Além disso, estudiosos do tema, como Codo (2006), mostram que a

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subjetividade não se reconhece somente como um “eu” singular, mas também em um “nós” e em uma intersubjetividade, entendendo que é somente por meio das relações que estabelecemos ao longo da vida que a subjetividade pode se constituir. González Rey (2005) traz uma definição de subjetividade que completa todas as nossas reflexões. Segundo ele, a subjetividade é um processo em constante desenvolvimento, plurideterminado e sensível à qualidade de seus momentos atuais, sendo que a subjetividade individual é determinada no social, por meio de um processo de constituição que integra, simultaneamente, as subjetividades individual e social. Seguindo esta linha de pensamento, podemos dizer que buscar desvendar a subjetividade nos tempos de hoje é tentar compreender a produção de novos modos de ser, não esquecendo que a produção dessas subjetividades é social, cultural e histórica. Entender essas novas subjetividades é revelar “[...] as relações do cultural, do político, do econômico e do histórico na produção do mais íntimo e do mais observável no ser humano – aquilo que o captura, submete ou mobiliza para pensar e agir sobre os efeitos das formas de submissão da subjetividade” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 23). Por fim, compreendendo que o trabalho exerce papel fundamental na vida do ser humano, conforme discutimos no início desta seção, podemos afirmar que este fenômeno influencia significativamente na construção da subjetividade, ao mesmo tempo que ela é constituída pelas relações que são criadas no interior do espaço de trabalho.

1.1 Trabalho e sociedade no cenário atual Ao responder à pergunta “o que é trabalho?”, Codo (2006) apresenta um exemplo interessante que nos faz refletir sobre o trabalho e o contexto que o envolve:

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Imaginem uma dona de casa, daquelas que orgulhavam nossas avós e humilham nossos coetâneos. Levanta-se da cama muito cedo, prepara o café da manhã para os filhos e o marido; assim que eles saem trata do almoço, da roupa, da limpeza, das compras. É uma usina inteira concentrada em uma pessoa só, cada milímetro do seu corpo, do seu cérebro, do seu afeto realiza funções que ocupariam toda uma empresa com vários especialistas; caso algum aluno de um curso de administração resolvesse planejá-la, pobre da suposta empresa, dificilmente conseguiria os níveis de competência da “dona Maria”, esposa de fulano e mãe de dois ou três sicraninhos. Nossa dona de casa trabalha. E muito. Se alguém perguntar a Dona Maria qual é sua profissão, provavelmente a resposta seria: “eu não trabalho”. Se perguntarmos ao seu marido, a resposta certamente será a mesma (CODO, 2006, p. 76, grifo do autor).

E você, também acredita que a Dona Maria, personagem do exemplo do autor, não trabalha? E por que a tendência é considerarmos que esta dona de casa, como qualquer outra dona de casa que conhecemos, que realiza tantas atividades durante o seu dia, não é considerada trabalhadora? O próprio autor nos explica: “Nossa ‘dona Maria’ não é considerada

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trabalhadora porque não produz nenhuma mercadoria vendável no mercado, não recebe salário, não contribui com a previdência, não assina carteira” (CODO, 2006, p. 76). Certamente, como nos orienta o autor, é preciso compreender a existência do homem, em toda sua historicidade, ou seja, em todas as épocas, nações, sistemas sociais e culturais para definir e diferenciar o que é trabalho em cada um desses momentos. Para analisarmos a concepção do trabalho nos dias de hoje, faz-se necessário recorrermos a alguns aspectos da história, sendo um dos marcos na história do desenvolvimento do trabalho o surgimento e consolidação do sistema capitalista; sistema que rege nossa economia até hoje. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 249), “o sistema capitalista revolucionou as relações de trabalho, quando comparado aos modos de produção anteriores, porque transformou o próprio trabalho em mercadoria”.

O Capitalismo é um sistema econômico, cujo objetivo maior é a obtenção do lucro e no qual os meios de produção e distribuição são de propriedade privada. Este sistema é dominante no mundo ocidental desde o fim do sistema feudalista. A lógica do capitalismo é a de que seu pleno funcionamento se dá quando há meios sociais e tecnológicos para garantir o consumo das pessoas e acumular cada vez mais capital.

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Com o advento do capitalismo, surgiu uma nova relação de trabalho: o dono do capital (a burguesia) versus o trabalhador (o proletariado); este último, detentor de um único bem, sua força de trabalho. Assim, “o trabalhador vende sua força de trabalho a um proprietário dos bens de produção” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 249). A teoria social de Marx traz uma análise profunda dos efeitos de um mundo novo que despontava, como nos explica Netto (1994, p. 11):

Um

mundo

absolutamente

novo:

ele

engendra uma cultura inédita e uma arte peculiar; confere ao conhecimento científico da natureza funções outrora desconhecidas, relacionando-o

estreitamente

à

produção.

Sobretudo, nele a economia e a sociedade são organizadas de modo particular, submetidas ambas a uma estratégia global (a da burguesia) e a uma lógica específica (a da valorização do capital). Configura-se assim um novo padrão de vida social, aquele centralizado na civilização urbano-industrial.

Marx (apud BORGES; YAMAMOTO, 2004) entendia a lógica do sistema capitalista como favorecedora da exploração do trabalhador em prol dos rendimentos do detentor do capital. “Assim, a exploração, antes de ser uma distorção do capitalismo, é uma característica inerente a ele” (BORGES; YAMAMOTO, 2004, p. 33).

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Estes autores, Borges e Yamamoto (2004), importantes nomes da Psicologia Social e dos temas relacionados ao trabalho, lembram-nos que o século XIX é marcado por um conjunto de fatos socioeconômicos e políticos que acaba por favorecer novas formas de gerenciar o trabalho e as organizações pautadas na sustentação científica. Daí advém o modelo conhecido como taylorismo, criado por Frederick Taylor (1856-1915), cujo objetivo era obter dos trabalhadores a máxima eficiência e produtividade. Os próprios autores explicam:

Taylor propõe assim a substituição dos métodos tradicionais […] pelos científicos, com a adoção do

método

dos

tempos

e

movimentos

para

eliminar movimentos desnecessários e substituir os movimentos lentos e ineficientes por rápidos. Acredita que há sempre um método mais rápido e um instrumento melhor. Para tanto, é necessária a máxima decomposição de cada tarefa em suas operações mínimas e a cronometragem de cada movimento do operário na execução das operações (BORGES; YAMAMOTO, 2004, p. 35).

Com este pensamento, Taylor propôs a separação entre o planejamento do trabalho e a sua execução, deixando a cargo dos gerentes a concepção do trabalho e eximindo o trabalhador de qualquer necessidade de pensar para que pudesse executar o trabalho de forma cada vez mais veloz. Assim, a visão taylorista levava em consideração os objetivos da produção e o ser humano era concebido como uma peça da engrenagem industrial. Seus

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princípios estavam organizados no planejamento, preparação dos trabalhadores, controle e execução (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 250). Outro movimento que surgiu de forma paralela e independente da administração de Taylor, mas que manteve a mesma linha de pensamento, foi o fordismo, liderado por Henry Ford (1863-1947). Neste modelo, considerouse que houve um avanço ao ser inserida no processo de produção a linha de montagem, estabelecendo o controle do ritmo do trabalho pelo compasso da máquina. Para Neto (1989), o fordismo deve ser entendido como desenvolvimento da proposta taylorista, pois busca o auxílio de elementos objetivos do processo de trabalho, no caso a esteira rolante, para objetivar e padronizar cada vez mais o trabalho humano.

Um filme clássico, que ilustra de forma magnífica e bem humorada o movimento repetitivo das máquinas e a consequência deste modelo de gestão e organização do trabalho para o trabalhador, é Tempos Modernos, de Charles Chaplin. Vale a pena assistir uma de suas cenas. Acesse o link: <https://www.youtube.com/ watch?v=XFXg7nEa7vQ>

Numa reflexão mais profunda sobre estes modelos de administração do trabalho, segundo Borges e Yamamoto (2004), seus pressupostos acabam por favorecer e até intensificar o processo de exploração do trabalhador, pois, entre outros fatores, radicaliza a monotonia e a cisão entre o planejamento (pensamento sobre o trabalho) e a simples execução, reafirmando a concepção capitalista tradicional do trabalho, negando os antagonismos de classe que a análise fundada nas obras de Marx indicava.

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Numa reflexão mais profunda sobre estes modelos de administração do trabalho, segundo Borges e Yamamoto (2004), seus pressupostos acabam por favorecer e até intensificar o processo de exploração do trabalhador, pois, entre outros fatores, radicaliza a monotonia e a cisão entre o planejamento (pensamento sobre o trabalho) e a simples execução, reafirmando a concepção capitalista tradicional do trabalho, negando os antagonismos de classe que a análise fundada nas obras de Marx indicava.

E nos dias de hoje? Como está estruturado o trabalho? Quais mudanças percebemos no atual mundo do trabalho?

Com as acentuadas transformações que marcaram o mundo do trabalho, o modelo taylorista-fordista demonstrou esgotamento. Estas transformações evidenciaram-se nas condições materiais e na estruturação social das organizações, além de aspectos da situação socioeconômica que se articularam ao intenso dinamismo do mercado de trabalho. Dentre as mudanças de maior impacto, podemos listar a adoção de novas tecnologias, o surgimento de novos estilos de gestão nas organizações e a revolução nos meios de comunicação (BORGES; YAMAMOTO, 2004). Bock, Furtado e Teixeira (2008) recordam o advento de um novo modelo de gestão do trabalho: o toyotismo, criado por Taiichi Ohno (1912-1990), que se iniciou no Japão, sendo disseminado para o Ocidente na década de 1970. A premissa deste novo modelo é o aumento da produtividade e eficiência, evitando ao máximo o desperdício, como o tempo de espera, a superprodução, os gargalos de transporte etc. O termo just-in-time, que quer dizer “no tempo

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exato”, refere-se justamente a este objetivo, cujo controle do sistema de produção se realiza durante o próprio processo e não no final dele. Com esse novo formato, as exigências com relação ao perfil do trabalhador passaram a ser outras. Agora, o trabalhador precisa ser flexível, possuir conhecimentos mais genéricos e também conhecer e saber operar equipamentos mais sofisticados. Vejamos a explicação dos próprios autores com relação ao toyotismo:

O

toyotismo

se

tornou

possível

pelas

características já mencionadas: equipamentos informatizados, trabalhador mais qualificado, flexibilidade na operação do equipamento e possibilidade de mudança rápida do que é produzido. Do ponto de vista da logística da produção, o sistema de fornecimento também foi alterado […]. Essa logística é necessária porque, agora, a produção passa a ser feita a partir da demanda do consumidor (just-in-time) evitando a estocagem. O trabalhador utiliza mais sua capacidade criativa, na medida em que não será mais mera extensão da máquina, mas alguém que planeja o que será produzido por ele (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 255).

O que parece é que o trabalhador agora será mais valorizado e poderá resgatar o sentido do seu trabalho, pois começa a participar do planejamento

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de suas atividades e não mais apenas de sua execução. No entanto, os mesmos autores alertam que o sistema toyotista, embora tenha sido considerado um grande avanço em relação ao modelo taylorista-fordista, manteve inalterada a tensão entre capital e trabalho, que passou a ser mais complexa e mais diluída. Este novo cenário, segundo os autores, traz novas consequências ao trabalhador. “Do ponto de vista psicológico, a pressão subjetiva exercida pelo novo sistema origina efeito danoso à saúde do trabalhador, e passamos a conviver com termos como Síndrome de Burnout, LER, Dort e assédio moral” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 255). Sendo assim, nos dias de hoje, impulsionada pela globalização e pelo avanço cada vez mais crescente de tecnologias, uma nova dinâmica emerge fazendo com que as organizações e as pessoas precisem se adaptar. Na sociedade atual, vemos uma forte competitividade nos negócios, tornando os ambientes mais instáveis e a experiência do trabalho se tornou mais complexa, pois deixa de estar alocada em um ambiente estável e visível, cujo controle era mais presente, para ser transferida para qualquer lugar onde o trabalhador esteja (de preferência, com seu notebook à mão) e no qual o controle passa a ser internalizado, ou seja, o próprio trabalhador passa a se autocontrolar. “Se o controle é exercido pelo próprio trabalhador e pelos seus colegas, isso produzirá consequências para aqueles que se sentirem mais exigidos. O controle deixa de ser objetivo e ganha forma subjetiva” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 256). Além disso, exige-se do trabalhador que utilize muito mais seu domínio cognitivo frente às tarefas múltiplas e aos contextos diferenciados. Dessa forma, percebemos que o mundo do trabalho é gerido num ambiente de ambiguidades, imprevisibilidades e incertezas.

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A Síndrome de Burnout refere-se ao esgotamento nervoso, em geral produzido pelo estresse, e que pode levar à depressão. A LER (lesão causada pelo esforço repetitivo) e a Dort (distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho) acarretam uma série de sintomas de que são acometidos trabalhadores obrigados a realizar esforços repetitivos. Já o assédio moral não é considerado uma doença ocupacional, mas é uma forma de pressão que passa a ser exercida, em geral, por aqueles que ocupam cargos de hierarquia mais alta (ex.: um superior que passa a assediar seu funcionário, desautorizando-o publicamente, ridicularizando-o por características físicas ou psicológicas etc.). São inúmeras as formas de desgaste que sofrem os trabalhadores acuados pelo assédio moral e as consequências podem ser devastadoras (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

Um fenômeno que tem contribuído significativamente para o avanço e disseminação de todas estas mudanças no mundo do trabalho é a globalização. Mas você sabe o que ela significa e qual o seu impacto para o trabalho e os trabalhadores? Malvezzi (2000 apud BORGES; YAMAMOTO, 2004) identifica alguns postoschave desse impacto: alta circulação do capital financeiro e tecnológico, aumentando significativamente e ampliando em nível global a competição entre as empresas, e aumento da imprevisibilidade dos acontecimentos tanto políticos quanto sociais e culturais, tornando mais difícil a atividade de planejamento das empresas. O autor destaca, ainda, que o processo de internacionalização

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das empresas se intensifica e com ele, a diversidade cultural presente nas organizações. A essa nova era globalizada que estamos vivendo alguns autores dão o nome de pós-modernidade; outros ainda mantêm o termo modernidade. Seja um ou outro termo, o fato é que há um novo modelo de sociedade, com novas características, novas condições e até mesmo novos valores, que têm influenciado as organizações e a forma de se conceber o trabalho. A partir de agora, iremos trazer as contribuições de um sociólogo da atualidade que nos faz refletir de forma analítica e bastante crítica a respeito desse novo panorama a que estamos submetidos nos dias de hoje: Zygmunt Bauman.

Zygmunt Bauman é um grande pensador da modernidade e perspicaz analista dos fatos cotidianos. Ele nasceu na Polônia, no ano de 1925, e mora na Inglaterra desde 1971. Atualmente, é professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia e tem, aproximadamente, trinta livros publicados no Brasil com grande sucesso de público.

Para Bauman (1999), a globalização é a bola da vez! É uma palavra que está na moda e que tem acarretado efeitos bastante alarmantes, mas que não conseguimos definir exatamente o que é. O fato é que a globalização é o destino inevitável do mundo e é um processo que afeta a todos nós.

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O alerta do autor é o de que o fenômeno da globalização traz elementos que, muitas vezes, não conseguimos enxergar a olho nu e, portanto, precisamos de uma análise crítica e cuidadosa para conseguirmos compreender seus resultados no mundo e suas consequências na sociedade. “O significado mais profundo transmitido pela ideia da globalização é o do caráter indeterminado, indisciplinado e de autopropulsão dos assuntos mundiais; a ausência de um centro, de um painel de controle […]” (BAUMAN, 1999, p. 67). De acordo com Bauman (1999), com o fenômeno da globalização, a tarefa do Estado de promover e assegurar o bem-estar da população está cada vez mais enfraquecida, o que favorece a livre circulação do capital, representada pelos mercados mundiais e grandes empresas privadas. Nas palavras do autor:

Devido à total e inexorável disseminação das regras de livre mercado e, sobretudo, ao livre movimento do capital e das finanças, a “economia” é progressivamente isentada do controle político; com efeito, o significado primordial do termo “economia” é o de “área não política”. O que quer que restou da política, espera-se, deve ser tratado pelo Estado […], mas o Estado não deve tocar em coisa alguma relacionada

à

vida

econômica:

qualquer

tentativa nesse sentido enfrentaria imediata e furiosa punição dos mercados mundiais (BAUMAN, 1999, p. 74).

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As palavras que descrevem este atual momento global, para o autor, são: liberalização, desregulamentação, flexibilidade, fluidez. Esta nova condição causa um sentimento de ansiedade provocada pela dolorosa experiência da incerteza. “A incerteza e a angústia […] são produtos básicos da globalização” (BAUMAN, 2005, p. 84). Você já deve ter percebido que a forma de pensar deste autor é bem enérgica e radical, com mensagens éticas fortes, fazendo-nos refletir sobre fatores que, muitas vezes, estão ocultos e camuflados, e por isso não percebemos, mas que induzem nossos pensamentos e ações, e interferem na sociedade e nas condições de trabalho. Em suas obras, Bauman (1999; 2001; 2005) utiliza o termo “líquido” para designar o estado atual da sociedade, no qual tudo é efêmero, temporário, fluido. Vamos entender essa metáfora do autor: convido você a imaginar um recipiente vazio prestes a ser preenchido com líquido. Seja qual for o formato deste recipiente, o líquido toma a sua forma e, ao ser esvaziado, o líquido logo se vai, sem deixar qualquer vestígio. É esta a metáfora que, para o autor, explica a condição da sociedade nesta nova era.

‘Fluidez’ é a qualidade de líquidos e gases. O que os distingue dos sólidos […] é que eles ‘não podem suportar uma força tangencial ou deformante quando imóveis’ e assim ‘sofrem uma constante mudança de forma quando submetidos a tal tensão’ (BAUMAN, 2001, p. 07).

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Em uma entrevista com Bauman, Pallares-Burke (2004) relata as mensagens do próprio sociólogo de que, diferente da sociedade moderna de antigamente, chamada por ele de “modernidade sólida”, hoje estamos vivendo uma “modernidade líquida”, na qual tudo está sendo permanentemente desmontado e sem perspectiva de permanência; em que tudo é temporário, comparandose ao líquido por caracterizar-se pela incapacidade de manter a forma. Nesta lógica, as instituições das quais fazemos parte, os quadros de referência, os estilos de vida, as crenças, os valores e as convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades. Uma das características marcantes dessa sociedade moderna (ou pósmoderna) é a sua relação com o consumo. Fontenelle (2008) relata que Bauman, ao tentar definir a atual sociedade, explica que se trata de uma sociedade de consumo em um sentido bastante especial, uma vez que esta sociedade molda seus membros para exercerem o papel de consumidores.

Você já parou para pensar quantos shoppings existem na sua região, em seu Estado? Também já analisou a estrutura dos shoppings (lojas, praças de alimentação, áreas de lazer)? Pense em uma experiência que viveu ao ir ao shopping.

De acordo com Santos (1993), o shopping é o templo desta nova sociedade. Perceba que toda estrutura e funcionamento dos shoppings são próprios para o consumo, e as pessoas que lá frequentam são, antes de tudo, consumidores.

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Isso não quer dizer que antigamente não havia consumo. É claro que havia! O consumo de antigamente, do início da era moderna, porém, referia-se à satisfação das necessidades humanas, ou seja, comer para não ter fome, vestir para se proteger do frio e para cumprir as normas da vida em sociedade, os sapatos para não machucar os pés, a casa para dar segurança, entre outros exemplos. Nos dias atuais, segundo Bauman (2001), o consumo é guiado pelo “querer”, pelo desejo de possuir, que se tornaram estimulantes poderosos no ato de comprar. Os produtos que são ofertados hoje atendem os mais variados tipos de públicos e são personalizados. Pense, por exemplo, em quantas marcas diferentes de shampoo encontramos nas prateleiras dos supermercados e estabelecimentos comerciais; uma marca para cada tipo específico de cabelo. Ou ainda, em quantos tipos de sapatos, roupas, acessórios temos à disposição. Os eletroeletrônicos, por sua vez, são destaque em inovação por oferecer funções cada vez mais diversificadas em aparelhos cada vez menores. Automóveis, cujos novos modelos, cada vez mais sofisticados e funcionais, são lançados ano a ano. Para modelar o desejo dos consumidores, estratégias de marketing são criadas, tornando a imagem e a fantasia mais interessantes do que a própria realidade. Com isso, percebemos que “[…] as campanhas de marketing […] reforçam o nível e a intensidade dos ambientes e do comportamento individual de consumo, em qualquer tempo e o tempo todo” (FONTENELLE, 2008, p. 86).

Uma das características marcantes dessa sociedade moderna (ou pós-moderna) é a sua relação com o consumo O significado do trabalho e relações humanas

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Vamos assistir a um comercial de TV, entre tantos outros, cuja finalidade não é apenas a venda de um produto para satisfazer uma necessidade, mas sim transmitir a imagem de beleza, encantamento, felicidade e sonho. Acesso o link: <https://www.youtube.com/watch?v=BAAKj8FtvpQ>

Assim como analisa Bauman (2001), a vida organizada em torno do consumo é orientada pela sedução, por desejos sempre crescentes e quereres inconstantes, reforçando ainda mais a ideia por ele introduzida de liquidez e fluidez. Estas novas demandas sociais e estes novos estilos de vida na sociedade atual também interferem no significado do trabalho e no seu formato de gestão dentro das organizações. Por isso, o trabalho deve ser compreendido em todo seu entorno, não sendo considerado um fator isolado, mas sim um fenômeno que recebe influências dos aspectos sociais, econômicos e culturais, que também atuam sobre este cenário.

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1. Qual a relação do conceito de Subjetividade com o Trabalho, considerando o novo cenário social no qual estamos vivendo?

2. O sociólogo Zygmunt Bauman utiliza em suas obras o termo “líquido” para se referir às condições da sociedade na atualidade. De acordo com as contribuições deste autor, o que quer dizer o termo “líquido”? e culturais, que também atuam sobre este cenário.

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Seção 2 Relações humanas, aspectos do desenvolvimento humano e interação. Somos seres humanos e convivemos com os nossos semelhantes desde a mais tenra idade e durante todo o tempo. Sabemos que as relações que estabelecemos com as pessoas com as quais compartilhamos os momentos de nossas vidas são cruciais para nos construirmos enquanto humanos de fato. Além disso, as relações humanas estão emaranhadas no processo de desenvolvimento humano. Mas, como nos desenvolvemos? Você já parou para analisar o quanto a compreensão do desenvolvimento humano pode nos ajudar a entender os comportamentos das crianças, dos jovens e dos adultos? A Psicologia é um campo do conhecimento que estuda o desenvolvimento humano, apresentando várias perspectivas teóricas sobre o tema, que foram construídas com base em observações, pesquisas com indivíduos de diversas faixas etárias e culturas, estudos de casos clínicos, entre outras técnicas (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Contaremos com esta importante ciência para nos auxiliar a compreender um pouco a respeito deste assunto tão complexo e relevante.

Você se recorda da sua infância? O que vem à sua memória? Que aspectos da sua infância você mantém até hoje na idade adulta?

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Para Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 116),

O desenvolvimento é um processo contínuo e ininterrupto em que os aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais se interconectam, se

influenciam

reciprocamente,

produzindo

indivíduos com um modo de pensar, sentir e estar no mundo absolutamente singulares e únicos.

Os mesmos autores afirmam que estudar o desenvolvimento humano é compreender o crescimento orgânico e também o desenvolvimento gradativo de estruturas mentais, o que permite conhecer as características comuns de cada faixa etária, reconhecendo as singularidades e aquilo que nos torna mais aptos para observar e interpretar os comportamentos humanos. Vamos aprender, através do quadro abaixo, quais são os fatores que, de forma interconectada e em constante interação, afetam os aspectos do desenvolvimento humano:

Além disso, as relações humanas estão emaranhadas no processo de desenvolvimento humano. Mas, como nos desenvolvemos? 36

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Quadro 3.1 | Fatores que interferem no desenvolvimento humano Hereditariedade

Crescimento orgânico

Carga genética que estabelece o potencial do indivíduo, podendo se desenvolver ou não.

Diz respeito ao aspecto físico. O aumento de altura e a estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo comportamentos e também um domínio de mundo. Imagine uma criança que engatinha e depois começa a andar, quantas possibilidades de descoberta.

Maturação neurofisiológica

Torna possível determinado padrão de comportamento, como a alfabetização das crianças.

Meio

Conjunto de influências e estímulos ambientais que altera os padrões de comportamento do indivíduo, como uma criança de 3 anos que recebe estimulação verbal intensa e apresenta um repertório verbal muito maior do que a média das crianças de sua idade.

Fonte: Adaptado de Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 117-118)

No que diz respeito aos aspectos do desenvolvimento humano, os autores alertam que eles devem ser entendidos de forma global e não isolada, pois todos os aspectos se relacionam permanentemente. No entanto, para fins didáticos, conheceremos, separadamente, quatro aspectos básicos do desenvolvimento humano, utilizando as explicações de Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 118-119, grifos dos autores):

• Aspecto físico-motor – refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo. Exemplo: uma criança leva a chupeta à boca ou consegue tomar a mamadeira sozinha, por volta dos 7 meses, porque já coordena os movimentos das mãos.

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• Aspecto intelectual – é a capacidade de pensamento, raciocínio. Por exemplo, uma criança de 2 anos que usa um cabo de vassoura para puxar um brinquedo que está embaixo de um móvel ou um jovem que planeja seus gastos a partir de sua mesada ou salário. • Aspecto afetivo-emocional – é o modo particular de o indivíduo integrar as suas experiências. É o sentir. A sexualidade faz parte desse aspecto. Exemplos: a vergonha que sentimos em algumas situações, o medo em outras, a alegria de rever um amigo querido. • Aspecto social – é a maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas. Por exemplo, em um grupo de crianças, no parque, é possível observar que algumas buscam espontaneamente outras para brincar, enquanto algumas permanecem sozinhas. Dentre as teorias do desenvolvimento humano, há uma que apresenta um enfoque bastante interessante, contribuindo com proposições inovadoras para a psicologia. Trata-se do enfoque interacionista proposto por Vygotsky.

Lev Semenovich Vygotsky nasceu no ano de 1896, na Bielorrússia, e faleceu muito jovem, aos 37 anos, vítima de tuberculose. Ele foi ignorado no Ocidente e na ex-União Soviética, e a publicação de suas obras foi suspensa entre 1936 e 1956. Atualmente, seu trabalho vem sendo estudado e reconhecido em todo o mundo (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

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Vygotsky foi um dos primeiros nomes da Psicologia a pensar dialeticamente fatores que antes eram divididos, como sociedade e indivíduo, corpo e mente, afetivo e cognitivo. Apoiou-se no materialismo dialético e nos pensamentos de Marx, acreditando que o homem é um ser histórico e social que transforma o mundo à sua volta, sendo também ativo neste processo. Para isso, as relações sociais são determinantes na vida humana. Para Bock, Furtado e Teixeira (2008), um pressuposto básico da obra de Vygotsky é que as origens das formas superiores de comportamento consciente, chamadas por ele de funções complexas superiores (pensamento, memória, atenção, linguagem etc.) devem ser buscadas nas relações sociais estabelecidas pelos homens. Assim, sua teoria do desenvolvimento infantil é compreendida a partir de três aspectos. Vamos conhecê-los? O primeiro é o aspecto instrumental, que diz respeito à natureza mediadora das funções psicológicas complexas, como quando amarramos uma fita no dedo para lembrarmos de fazer algo. Este laço no dedo adquire um sentido para o homem por causa de sua função mediadora. O segundo é o aspecto cultural, que se refere aos meios socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza as atividades da criança, sendo um dos instrumentos básicos criados pela humanidade e de fundamental importância, a linguagem. O último é o aspecto histórico que se funde com o cultural, uma vez que os instrumentos criados ao longo da história da humanidade pelos homens para dominar seu ambiente e seu comportamento foram sendo modificados no decorrer desta história. Os instrumentos culturais expandiram os poderes dos homens e estruturaram seu pensamento (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Como nos explica os mesmos autores, de acordo com a teoria de Vygotsky, primeiro os processos são interpsíquicos, ou seja, funcionam externamente, durante a interação da criança com o adulto. Em um momento da etapa

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do desenvolvimento humano, pensamento e linguagem se unem e os processos tornam-se intrapsíquicos, ou seja, acontecem dentro da própria criança, como a fala interior, que apresenta a função de organizar e planejar nossas ações. Sendo assim, Vygotsky considera as relações sociais como constitutivas das funções complexas superiores.

Você consegue identificar os elementos da cultura do lugar onde você está inserido? Consegue fazer a relação destes elementos com aspectos da história do seu próprio desenvolvimento?

Refletimos que as relações estabelecidas ao longo da vida são essenciais para o desenvolvimento humano. Agora é a vez de falarmos das relações humanas, propriamente ditas. Minicucci (2008) ensina-nos que o relacionamento entre as pessoas, chamado relacionamento interpessoal, diz respeito às relações humanas. Esse relacionamento pode ocorrer de várias maneiras: uma pessoa e outra, como no caso de marido e mulher, professor e aluno; entre membros de um grupo, como pessoas na família, pessoas na organização, pessoas em uma sala de aula; entre grupos em uma organização ou instituição, como os grupos de estudo em uma classe e os grupos de trabalho em uma empresa. As relações humanas também se referem ao diálogo que estabelecemos conosco, evento que chamamos de relação intrapessoal.

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Ao nos relacionarmos com as outras pessoas, é necessário que haja certas habilidades em compreender as necessidades do outro e também as nossas próprias necessidades. A compreensão dos outros é a aptidão para nos colocarmos no lugar do outro e tentarmos fazer o exercício de sentir o que os outros estão sentindo. Essa aptidão é chamada por Minicucci (2008) de empatia ou sensibilidade social. Vamos conhecer as ideias do próprio autor:

Entenda-se que empatia é diferente de simpatia, de antipatia ou de apatia. Simpatia você sente em relação ao outro, junto a ele. Se tenho simpatia por Maria, sinto-me alegre se ela está alegre, triste se está triste e vibro com seus sucessos. Na

atitude

empática

(sensibilidade

social),

compreendo como Maria se sente (alegre ou triste) e sua maneira de agir em função desses sentimentos, mas não me envolvo neles. Sou capaz de compreendêla, mas não de sentir o que ela sente (simpatia) (MINICUCCI, 2008, p. 31, grifo do autor).

Na mesma linha de pensamento, Del Prette e Del Prette (2013) ressalta que as habilidades empáticas são exercidas como reação a demandas caracterizadas por uma necessidade afetiva do outro, sendo que tais demandas ocorrem quando a pessoa experiencia sentimentos negativos ou positivos e espera o compartilhamento solidário daqueles que lhe são próximos. A empatia é, portanto, a capacidade de compreender e sentir o que outra pessoa pensa e sente em uma situação cuja demanda é afetiva, comunicando-lhe de forma adequada tal compreensão e sentimento.

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Para este autor, a definição de empatia considera três componentes. Vejamos quais são eles:

• a) o cognitivo (adotar a perspectiva do interlocutor, ou seja, interpretar e compreender seus sentimentos e pensamentos); • b) o afetivo (experienciar a emoção do outro, mantendo controle sobre ela); • c) o comportamental (expressar compreensão e sentimentos relacionados às dificuldades ou êxito do interlocutor) (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2013, p. 86).

Dessa forma, desenvolver a habilidade empática pode favorecer de muitas maneiras a condução das relações humanas em nosso dia e dia. Outra habilidade que precisamos desenvolver no trato com o outro é a flexibilidade de comportamento que, em concordância com Minicucci (2008), é a condução apropriada de determinada situação, com determinada pessoa. Para isso, é necessário analisar caso a caso e agir adequadamente, utilizando a empatia, para que os resultados de nossas atitudes possam ser os mais positivos possíveis. “Isso significa que devo ter um repertório de condutas que varia conforme a situação e a pessoa” (MINICUCCI, 2008, p. 33, grifo nosso). Um esquema bem interessante, desenhado pelo autor, mostra-nos esta dinamicidade das relações humanas:

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Figura 3.1 | Dinamicidade das relações humanas

Fonte: Adaptado de Minicucci (2008, p. 33).

O vídeo que você vai assistir agora é emocionante! Você irá se deparar com um ambiente cheio de pessoas e perceberá o quão importante é a empatia e a flexibilidade de comportamento com cada uma delas. Assista e faça esse importante exercício mental de relacionar-se com outros seres humanos. Acesse: <https://www.youtube.com/ watch?v=gPASDkS3F98>

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Ao pensarmos na vida em sociedade, sabemos que o tempo todo somos influenciados pelos outros e também exercemos sobre esta influência. A influência social constitui, então, um dos fenômenos mais presentes no relacionamento interpessoal. Rodrigues, Assmar e Jablonski (1999, p. 179) afirmam que “quando falamos em influência social, estamos nos referindo ao fato de uma pessoa induzir outra a um determinado comportamento”. Estes autores apontam um trabalho de Robert Cialdini (1993 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999) em que é apresentada uma série de táticas utilizadas para influenciar pessoas. Vamos conhecer algumas dessas táticas:

→ A primeira tática mencionada pelos autores é a tática ou técnica do “um pé na porta”, que se caracteriza por qualquer forma de atrair a pessoa que se quer influenciar a fim de permitir que o influenciador inicie sua tentativa de influência, como vendedores que oferecem presentes aos consumidores com o intuito de que estes os aceitem e os deixem falar sobre seus produtos. → Outra tática apresentada pelos autores é a chamada tática ou técnica da “bola baixa”, ou seja, uma técnica em que o influenciador começa solicitando algo que leve a uma adesão fácil por parte daquele que está sendo influenciado, passando depois para a apresentação de outras ações que se seguem à adesão do início. Isto pode acontecer quando se omite o aspecto desagradável de propósito, só revelando posteriormente, quando o influenciado já se sente envolvido e, portanto, com dificuldade de recusar, face ao compromisso assumido antes de saber a característica negativa. → A próxima tática que os autores trazem é a tática ou técnica da “porta na cara”, que consiste em pedir inicialmente algo que certamente será negado,

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para se chegar no pedido de algo que realmente se deseja, o qual terá grandes chances de ser aceito. Os próprios autores dão um exemplo:

Por exemplo: um menino, que precisa de dois reais para comprar balas, pede à sua mãe 50 reais para comprar balas. Sua mãe obviamente lhe nega. Ele então diz: “Está bem, 50 é muito mesmo; será que você pode me dar então dois reais?”. Esta técnica tem a sutileza de mostrar que a pessoa que quer influenciar a outra (no caso do exemplo, o menino) é compreensiva e flexível, portanto, aceita a negativa inicial; isto, por sua vez, pressiona a pessoa-alvo da influência (no caso em pauta, a mãe) a mostrar a mesma compreensão (e até a se sentir culpada se disser que não) e não lhe negar agora um pedido razoável (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 188).

→ Agora, a tática é a do contraste perceptivo. Os autores afirmam que esta tática é utilizada como influência social quando um vendedor, por exemplo, interessado em vender determinado produto, apresenta ao cliente vários outros produtos inferiores antes de mostrar o produto que de fato quer vender. Os produtos anteriormente apresentados, que foram inferiores, serviram como fundo para que o produto que de fato deveria ser vendido assumisse, aos olhos da pessoa-alvo da influência, características muito mais atraentes do que realmente poderia ter. → A reciprocidade é outra tática que os autores abordam e se refere

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ao direito da pessoa em solicitar da outra pessoa favor igual no futuro. “Por exemplo, se eu ajudo um amigo a trocar um pneu furado, caso eu venha a ter um pneu furado e ele esteja perto eu posso dizer: ‘ajude-me a trocar o pneu porque eu lhe ajudei em outra ocasião’” (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 189).

Você já exerceu influência sobre alguém ou algum grupo de pessoas? Consegue identificar qual ou quais dessas táticas você já utilizou?

Outra forma de exercer potencial influência sobre o outro é por meio do poder. Sabemos que o poder é a capacidade de domínio ou autoridade sobre uma pessoa, um grupo de pessoas ou até sobre uma nação. No que diz respeito às bases do poder social, os autores French e Raven (1959 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999) apresentaram uma classificação de tipos de base de poder: o poder de recompensa, o poder de coerção, o poder de legitimidade, o poder de referência e o poder de conhecimento. A partir de agora, conheceremos cada um destes tipos de poder, de acordo com estes autores: →

O poder de recompensa, conforme explicam os autores, está

diretamente relacionado ao reconhecimento por parte da pessoa sobre quem a influência é exercida, ou seja, da capacidade do influenciador de mediar

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recompensas. Assim, quando uma mãe diz a um filho que, se ele cumprir determinada atividade receberá uma recompensa, a influência que se apresenta é baseada no poder de recompensa, que será bem-sucedida se a recompensa é desejada pela pessoa e este reconhece no outro a capacidade para oferecê-la. → Segundos os autores, o poder de coerção é definido “quando A é capaz de influenciar B em virtude da possibilidade que A tem de infligir castigos a B, caso este não obedeça, a base de influência exercida é o poder de coerção” (FRENCH; RAVEN, 1959 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 192). Assim, este tipo de influência é operado quando a pessoa-alvo da influência reconhece que o influenciador tem a possibilidade de aplicar-lhe punições caso ela não ceda à influência exercida. Isto pode acontecer, por exemplo, em uma situação de trabalho, na qual o chefe pode exercer poder de coerção sob seu subordinado. → Já o poder de legitimidade acontece quando “[…] A emite comportamento desejado por B, em virtude do reconhecimento da legitimidade de B prescrever tal comportamento, estamos diante da influência baseada em poder legítimo” (FRENCH; RAVEN, 1959 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 193). Isto significa que no cotidiano a propriedade ou impropriedade de emitir determinados comportamentos numa dada situação pode advir da tradição, dos valores, das crenças ou, até mesmo, das normas sociais, conforme nos explicam os autores. Portanto, numa equipe de trabalho, por exemplo, tradicionalmente se obedece às determinações do líder da equipe, sendo reconhecida como legítima a prescrição de determinados comportamentos por parte deste líder. → No que diz respeito ao poder de referência, de acordo com os autores, as pessoas podem desempenhar o papel de referência tanto positiva quanto negativa em relação a outras. “Quando a influência exercida por A sobre B

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decorre do fato de B ter A como ponto de referência (positiva ou negativa), a base da influência exercida é o poder de referência” (FRENCH; RAVEN, 1959 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 193). Com isso, percebemos que há pessoas com quem nos identificamos e que exercem sobre nós algum tipo de referência. → O poder de conhecimento ocorre em virtude da aceitação do conhecimento de uma pessoa à outra. Um médico, por exemplo, reconhecido por nós como especialista em determinado assunto, quando recomenda um tratamento ou receita algum medicamento, nós acatamos. Este poder exercido pelo médico tem como base o reconhecimento por parte dos seus méritos profissionais. “Diz-se que A tem poder de conhecimento sobre B, quando B segue as prescrições determinadas por A em virtude da aceitação do conhecimento abalizado por A” (FRENCH; RAVEN, 1959 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 193). Além destes cinco tipos de poder, Raven (1965 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999) acrescentou outra base de poder denominada poder de informação: → O poder de informação acontece quando a pessoa-alvo muda sua atitude em função de uma reorganização cognitiva provocada pelo conteúdo de uma influência efetuada por outra pessoa (a que influencia), e não por causa de alguma característica especificamente associada a esta pessoa. Vamos entender a partir do exemplo do próprio autor:

Sabemos que o poder é a capacidade de domínio ou autoridade sobre uma pessoa. 48

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Um vendedor, por exemplo, pode fazer com que o comprador veja por si mesmo as vantagens de comprar a mercadoria que lhe está sendo oferecida. Se a argumentação do vendedor gerou no comprador novos insights que o levaram a decidir-se pela propriedade de adquirir a mercadoria, a influência exercida pelo vendedor se enquadra no tipo de poder social aqui descrito. Tal não seria o caso, por exemplo, se o comprador adquirisse a mercadoria porque um especialista na matéria lhe havia recomendado a compra do artigo (RAVEN, 1965 apud RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 194, grifo dos autores).

Os autores explicam que um exemplo claro em que o poder de informação é utilizado é a resolução de charadas ou enigmas.

Utilize seu poder de informação e resolva as charadas propostas, acessando o link: <http://charadaslegais.com.br/melhores.htm>

É interessante percebermos quantos elementos constituem a complexidade e dinamicidade das relações humanas. Por isso, é importante que sempre tenhamos cuidado ao lidar com pessoas, grupos e/ou instituições, conhecendo

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suas reais necessidades, seu histórico, suas vivências, desempenhando nossas habilidades de empatia e exercitando nossa capacidade de análise crítica diante de cada situação.

2.1 As contribuições da Psicologia Social Até agora discutimos temas bastante relevantes para a construção do ser humano. Falamos do trabalho e de seu significado, também refletimos o conceito de subjetividade, passeamos pelo mundo do trabalho e suas transformações até chegar nos dias atuais e analisamos a importância das relações humanas, considerando a presença da influência social nesta dinâmica. Diante de todos estes temas, foi possível perceber que o ser humano se faz em contato com o seu semelhante, ou seja, nos construímos enquanto humanos de fato por meio do olhar do outro, nas infinitas relações que são estabelecidas ao longo de nossa existência. Portanto, somos seres que “[…] vivemos em constante processo de dependência e interdependência em relação a nossos semelhantes” (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 21). Para compreendermos estes fenômenos tão presentes na vida humana e fundamentais para o seu funcionamento, contamos com a ciência Psicologia, neste caso, mais especificamente, a Psicologia Social, cujo objetivo é investigar a influência recíproca entre as pessoas – a interação social – e o processo cognitivo gerado por esta interação, o chamado pensamento social. Assim, a interação humana e seus efeitos comportamentais e cognitivos constituem o objeto de estudo da Psicologia Social (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999). O Psicólogo Social, por sua vez, deve estar muito atento às variáveis, muitas vezes complexas e dinâmicas, que interferem na interação humana, isto é,

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considerar que os fatores longitudinais (aspectos da personalidade, história de vida, experiências passadas, fatores hereditários, etc.) interatuam com fatores situacionais (do contexto, do ambiente), caracterizando, assim, o aspecto social do comportamento (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999). Vamos refletir, então, o que é Psicologia Social a partir da definição dos próprios autores:

[…] Psicologia Social é o estudo científico de manifestações comportamentais de caráter situacional suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas ou pela mera expectativa de tal interação, bem como dos processos cognitivos suscitados pelo processo de interação social (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 1999, p. 24, grifos dos autores).

A Psicologia Social e a Sociologia são dois campos do conhecimento que, algumas vezes, se confundem. Mesmo que haja uma ligação entre ambas as áreas, é preciso identificar as particularidades de cada uma delas. De acordo com Rodrigues, Assmar e Jablonski (1999), a Psicologia Social e a Sociologia têm, no mínimo, um objeto formal distinto, no entanto, reconhecem a existência de uma área de interseção bastante nítida em seu objeto de estudo. Vamos verificar, por meio da figura abaixo, alguns dos muitos fenômenos sociais que apresentam interconexão entre os dois campos do conhecimento:

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Figura 3.2 | Exemplos de objetos de estudo da Psicologia Social e da Sociologia e a interseção entre ambas.

Fonte: Adaptado de Minicucci (2008, p. 33).

Uma diferença importante entre estes dois campos, ressaltada pelos autores, está na forma com que a Psicologia Social e a Sociologia estudam o seu objeto de estudo (que muitas vezes é idêntico ou quase idêntico), e também nas perguntas e questionamentos que os respectivos pesquisadores dessas áreas formulam em suas pesquisas. É impossível negar, porém, a contribuição que uma área possibilita a outra. Com relação à história da construção da Psicologia Social enquanto campo do conhecimento, González Rey (2005) esclarece que antes a Psicologia Social esteve atrelada a uma plataforma individualista, que se apoiou em uma visão do homem como agente e não como sujeito do comportamento, contribuindo para a dicotomia entre o social e o individual, cuja perspectiva

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esteve presente na psicologia até os dias de hoje. Em oposição a essa ideia de dicotomia, na qual o indivíduo e a sociedade seriam instâncias separadas e deveriam ser compreendidas da mesma forma, Lane (2001), importante nome na história da Psicologia Social no Brasil, nos ensina:

Porém o homem fala, pensa, aprende e ensina, transforma a natureza; o homem é cultura, é história. Este homem biológico não sobrevive por si e nem é uma espécie que se reproduz tal e qual, com variações decorrentes de clima, alimentação, etc. O seu organismo é uma infraestrutura que permite o desenvolvimento de uma superestrutura que é social e, portanto, histórica. Esta desconsideração

da

Psicologia

em geral, do ser humano como produto histórico-social, é que a torna, se não inócua, uma ciência que

reproduziu

a

ideologia

dominante de uma sociedade […] (LANE, 2001, p. 12).

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Sílvia Lane nasceu em 1933, em São Paulo e, em 1956, formou-se em Filosofia pela USP-SP. Em seguida, começou sua pesquisa em Psicologia Social. Faleceu em abril de 2006, vítima de câncer. Para ela, a ciência não tinha qualquer valor se não estivesse diretamente relacionada à realidade do mundo, cujo objetivo era o de buscar soluções para os problemas sociais vividos pela maioria da população. Fundou a ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia Social), entidade bastante atuante até hoje. Lane publicou livros em Psicologia Social, tendo sido grande referência nesta área e na Psicologia Social Comunitária, que veio a se desenvolver no Brasil em meado dos anos de 1980.

Lane (2001) defende a impossibilidade de delimitarmos conhecimentos em áreas que constituiriam o conjunto das ciências humanas, como a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, a Economia, a História etc.; áreas que teriam uma postura impermeável, restrita. Para ela, estes campos do conhecimento são enfoques a partir dos quais todas as áreas devem colaborar para o conhecimento profundo e concreto do homem, ampliando o conhecimento do ser humano tanto individualmente quanto em grupo e na sociedade como um todo. Veja, nas palavras da própria autora, as consequências de uma ciência que não olha o ser humano em todas as suas dimensões, como um ser social, dinâmico e agente de sua própria história:

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Se a Psicologia apenas descrever o que é observado ou enfocar o Indivíduo como causa e efeito de sua individualidade, ela terá uma ação conservadora, estatizante – ideológica – quaisquer que sejam as práticas decorrentes. Se o homem não for visto como produto e produtor, não só de sua história pessoal mas da história de sua sociedade, a Psicologia estará apenas reproduzindo as condições necessárias para impedir a emergência das contradições e a transformação social (LANE, 2001, p. 15).

Diante de todas essas reflexões, podemos concluir que o conhecimento científico tem nos ajudado, no decorrer dos anos, a produzir novas coisas, a criar novos significados e valores e a transformar a realidade. Em concordância com Lane (2001), os vários campos do conhecimento científico, entre eles a Psicologia e a Sociologia, não podem estar a serviço da redução e simplificação de suas práticas e de seus olhares, mas sim assumir, em primeiro lugar, dentro de cada prática e de cada especificidade, o principal motivo de se fazer ciência: desenvolver a humanidade que seja para todos. Para isso, é imprescindível reconhecer o homem enquanto sujeito histórico e social, que se faz em meio ao conjunto de relações sociais que o transforma constantemente, ao mesmo tempo em que contribui para o desenvolvimento de seu espaço e de seu mundo social.

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1. Com relação às táticas utilizadas para influenciar pessoas, escolha uma das táticas descritas e dê um exemplo prático de acordo com suas experiências de vida.

2. Na sua opinião, qual é o papel do Cientista Social?

Nesta Unidade, você aprendeu: A importância do trabalho para a constituição do ser humano e os impactos das transformações sociais e culturais na concepção do trabalho e na produção da subjetividade humana. Os aspectos básicos do desenvolvimento humano e os fatores que interferem no processo de desenvolvimento humano. A reflexão sobre as relações humanas e a habilidade de viver com os nossos semelhantes. As contribuições da Psicologia Social.

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Você terá a missão de utilizar este conhecimento adquirido para o seu desenvolvimento pessoal e para o bem das pessoas que estão ao seu redor! Para isso, em primeiro lugar, é preciso enxergar e reconhecer o humano como um ser dotado de múltiplas dimensões; um ser que é, ao mesmo tempo, singular, social, cultural e histórico, e que está em constante processo de construção. É importante mencionar que o propósito desta unidade não foi fazer você encontrar respostas, mas sim fazê-lo questionar-se cada vez mais sobre sua realidade, a fim de colaborar para sua aprendizagem e para a conquista de um mundo com mais significado e ações em prol do coletivo.

1.

O conceito de Subjetividade é fundamental para

buscarmos compreender o ser humano, inclusive em sua relação com o trabalho. Sendo assim, com relação à Subjetividade, coloque V para Verdadeiro e F para Falso: ( ) A Subjetividade diz respeito ao homem em todas as suas manifestações e expressões, as visíveis e as invisíveis; também se refere às expressões singulares e às genéricas.

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( ) A Subjetividade nasce com o ser humano, portanto, ela é inata; além disso, é inteiramente constituída até a primeira fase da idade adulta. ( ) A Subjetividade é um processo em constante desenvolvimento; é a condição natural de interioridade humana que permite apreender o mundo e construir-se a si mesmo. Escolha a alternativa que preenche corretamente os espaços (de cima para baixo): a) V – F – F. b) V – V – V. c) F – F – V. d) V – F – V.

2.

O psicólogo Wanderley Codo (2006) define Trabalho

como uma relação de dupla transformação entre o homem e a natureza “geradora de significado”. Neste sentido, o que quer dizer gerar significado?

3.

Vimos que Zygmunt Bauman (1999; 2001; 2005) é

um grande pensador contemporâneo; suas palavras nos fazem refletir sobre os fatos cotidianos e a condição da vida humana na atual sociedade de consumo. Um dos conceitos desenvolvidos por Bauman em suas obras é o de Globalização. Sob esta ótica, explique Globalização.

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4.

Estudar o desenvolvimento humano é compreender

o crescimento orgânico e também o desenvolvimento gradativo de estruturas mentais do ser humano. No que diz respeito aos fatores que afetam os aspectos do desenvolvimento humano, relacione a coluna da esquerda com a coluna da direita:

(1) Hereditariedade

( ) Torna possível determinado padrão de comportamento, como a alfabetização das crianças.

(2) Crescimento orgânico

( ) Conjunto de influências e estímulos ambientais que altera os padrões de comportamento do indivíduo, como uma criança de 3 anos que recebe estimulação verbal intensa e apresenta um repertório verbal muito maior do que a média das crianças de sua idade.

(3) Maturação neurofisiológica

( ) Carga genética que estabelece o potencial do indivíduo, podendo se desenvolver ou não.

(4) Meio

( ) Diz respeito ao aspecto físico. O aumento de altura e a estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo comportamentos e também um domínio de mundo. Imagine uma criança que engatinha e depois começa a andar, quantas possibilidades de descoberta.

A coluna da direita, portanto, estará corretamente preenchida na seguinte ordem (de cima para baixo): a) 1 – 2 – 3 – 4. b) 4 – 3 – 2 – 1. c) 3 – 4 – 1 – 2. d) 2 – 1 – 3 – 4.

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5.

De acordo com as reflexões estudadas, quais as

contribuições da Psicologia Social para as questões do homem e sociedade?

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Referências

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