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Desafi ados
Recentemente foi-me solicitado que desse o meu contributo para a revista que a Liga dos Amigos do Hospital Padre Américo. Foi com imensa satisfação que recebi este honroso convite, depois de uma experiência hospitalar, que tive no período pandémico, que nos últimos três anos afetaram o nosso país e o mundo.
Como português, e cidadão que vive no Tâmega e Sousa sinto-me na obrigação de partilhar, como sobrevivi a este maldito vírus e ao que ele trouxe de novo à minha vida, até porque a maioria dos portugueses são “massacrados”, nos órgãos de comunicação social, com estatísticas de mortos e infetados, e este vírus é muito mais do que isso. Além disso, como disse um dia um Amigo meu, nestes anos da pandemia só ouvimos falar em número de mortos e de infetados, e pouquíssimas vezes se falou de quem sobreviveu.
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Quando testei positivo à COVID 19, foram dias de muita angústia, tudo era novidade para mim. Nunca tinha passado por algo igual. As imagens televisivas, era a única coisa que me mantinha distraído era uma constante a falar do mesmo, o COVID era o centro das atenções. Tudo andava à volta deste ser invisível que começava a dar volta às nossas vidas. Mais uma vez realço a excelência do trabalho desenvolvido por todos os profi ssionais de Saúde 24 que diariamente me contactavam para saber o meu estado de saúde. As imagens que íamos vendo na TV era dos hospitais cheios, e em especial o meu hospital de referência, o CHTS, Hospital Padre Américo. Os sintomas foram-se generalizando, até que na manhã do dia 25 de novembro, quando me levantei para ir tomar o pequeno-almoço, queria caminhar e o ar faltava. Fui levado de urgência para o CHEDV – Hospital São Sebastião, onde entrei diretamente para os cuidados intensivos, aí fi quei uns dias. Depois recebi alta no dia 30 de novembro, ao fi nal do dia, regressando a casa transportado pelos Bombeiros de Castelo de Paiva.
Pela meia-noite e meia, do dia 2 de dezembro, sou levado de novo à urgência hospitalar, desta vez, ao CHTS – Hospital Padre Américo. Chegamos à urgência do hospital, em Penafi el, após uma viagem na EN 106, feita numa estrada cheia de buracos e com tampas de saneamento, abaixo da cota da estrada. Uma via que espera há mais de duas décadas pela construção do IC35.
Após a chegada ao hospital, e a saída da ambulância e a triagem, não demorou mais de dez minutos a minha chegada ao serviço de urgência. Entro no hospital com um diagnóstico de dispneia, dor torácica de características pleuríticas e com tosse seca. Ao mesmo tempo sentia uma dor no membro inferior esquerdo. Passo a noite na urgência a fazer exames e a ser vigiado pelos excelentes profi ssionais de saúde ali em serviço. Cerca das duas horas da manhã a médica de serviço comunica-me que eu tinha tido uma trombose venosa profunda, seguida de uma embolia pulmonar, vulgo infarto pulmonar.
Nos dois primeiros dias, as dores eram muitas e mal conseguia falar, tendo recebido doses de morfi na, para as dores, e injeções para tornar o sangue mais fl uído, de modo a fazer desaparecer o coágulo que entretanto se tinha formado no fi nal da perna esquerda.
Os cerca de sete dias que estive internado, no CHTS, foram dias em que também não podia receber visitas da família (mas contrariamente ao primeiro internamento, neste já não tinha COVID) e em que levei com quarenta e seis injeções na barriga, fui sujeito a imensos exames, fi z três TAC’s, muitas análises e exames ao coração (ecocardiograma). Fui realmente muito bem acompanhado por toda a equipa médica, de enfermagem e pessoal operacional, e dia após dia ia melhorando, apesar de a dor na perna só ter passado na ante -véspera da minha alta hospitalar e a dor no peito progressivamente também foi desaparecendo. Na panóplia de exames que efetuei no CHTS foi-me identifi cado um aneurisma na artéria ilíaca.
Esta situação que nada tem a ver com o COVID 19, tem levado a um maior acompanhamento e precaução da minha parte, junto do SNS- Serviço Nacional de Saúde.
Nos últimos dois anos, tenho percorrido os corredores do Hospital Padre Américo e tenho sentido quanto é valioso o serviço dos profi ssionais que ali trabalham nas diversas áreas e dos voluntários que lhes dão apoio. E aqui chegados não posso deixar de saudar a existência da Liga dos Amigos do Hospital pois fazem um trabalho notável de acompanhamento com os voluntários que compõem esta Liga e que, graciosamente, disponibilizam algumas horas das suas vidas para ajudar todos aqueles que têm necessidade de recorrer ao hospital. O Voluntariado deve ser algo a não perder, e quanto foi importante no apoio à pandemia que nos afetou.
O COVID 19 trouxe-nos ensinamentos que devemos refl etir e procurar no futuro elevar ainda mais o SNS.
Castelo de Paiva, 6 de agosto de 2022
Paulo Ramalheira Teixeira Jurista/Consultor de Empresas