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Humanitude e a construção de uma “civilização do amor”

Humanitude e a construção de uma “civilização do amor”.

No ano de 2018, encontrei-me com a encíclica ‘Populorum Progressio’, do Papa Paulo VI, sobre o desenvolvimento dos povos. “Educar para o humanismo Solidário” é o seu tema e desde então ao significado da minha vida acrescentei “Mãos à obra para um humanismo mais solidário. Ainda há esperança”.

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A encíclica datada de 2017, denomina-se de Educar ao Humanismo Solidário - Para construir uma “civilização do amor” - 50 anos após a ‘Populorum progressio’. Esta é dirigida em especial para educadores, professores, aplicando-se a todos nós que queremos viver diferente, viver solidário, viver em amor.

Vivíamos um período de grandes transformações com a tecnologia digital a absorver o nosso social e educação com novas situações que nos deixaram e deixam muitas vezes desnorteados e a colocar-nos diante de novos processos de quotidiano, seja no ser humano individual, como em família e em todas as outras relações sociais. A educação foi-se reinventando, infelizmente na sua maioria para o que os nossos olhos absorviam no digital, sendo muitas as vezes com uma conduta moral duvidosa, sem apreço à vida enquanto ser e a deixarmos de vivenciar os melhores momentos que o nosso mundo tem para nos oferecer.

A exigência económico-política, obrigam a deixar o nosso ser intelectual e comunitário à parte, convertendo-nos em humanos racionais mecanizados. O nosso comportamento ético-social tornou-nos em Humanos focados em “ter”, desvanecendo o nosso “ser”.

Com a pandemia que nos absorveu, nos últimos anos, e este acontecimento de guerra, em que vivemos ao segundo o sofrimento monstruoso de um povo civil e inocente, e também, por acontecer na Europa e com potencias económico-políticas mundiais que colocam em causa a subsistência do conforto que vivemos, despertou-nos para um Humanismo mais solidário. Claro é que deveriam promover ações semelhantes aos povos que vivem no resto do mundo, mas na minha opinião, sim há muito mais a fazer pelos povos de todo o mundo, mas não devemos ousar coloca-los à semelhança da nossa vida quotidiana. Há esperança para um Humanismo Solidário, para construirmos uma civilização de amor e paz, mas não para impormos o nosso paradigma de vida Europeu.

Na encíclica somos convocados a reflectir sobre a nossa vocação à solidariedade, às condições sobre a realidade humana e a guiar-nos para os desafios da convivência multicultural.

Neste processo individual de aprendizagem e doação ao próximo do meu tempo, da empatia e do abraço que nos conforta, rapidamente concluí que o que doamos, em dobro recebemos. Recebemos um sorriso entre lágrimas que conforta a o nosso “ser”, nos traz paz e que ainda há esperança.

Por altura no início da pandemia, 2020, a Humanitude despertou-me interesse, que palavra tão bela por todo o seu significado, para mim mais amplo e carregado de amor que o Humanismo.

A Humanitude é a nossa disponibilidade permanente ao Outro e deve ser o cerne das nossas relações de ser humano para ser humano.

Define uma relação permanente de solidariedade, de um impulso espontâneo de acolher o Outro, ou seja, a Humanitude torna possível “conectar humano com humano” – parafraseando uma bela expressão o poeta Aimé Césaire – “ é a base para uma cultura do “ser”, o oposto de uma cultura totalitária do “ter” que refletimos no humanismo, que leva a relações permanentemente conflituosas de aquisição abandonado o nosso ético individual e social.

Num simpósio denominado de Ubuntu, que decorreu em Genebra, na Suíça, em abril de 2003, Joseph Ki-Zerbo (historiador, político e escritor, 1922-2006) proferiu a visão de Humanitude como “o homem como remédio para o homem”.

Ubuntu é uma palavra de origem África Subsaariana. Nelson Mandela explicou esse ideal como, “Respeito. Cortesia. Compartilhamento. Comunidade. Generosidade. Confiança. Desprendimento. Uma palavra pode ter muitos significados. Tudo isso é o espírito de Ubuntu.”

Com alegria, deparo-me com a Humanitude como a aspiração e aplicabilidade nos serviços de saúde. A Humanitude a ser vivenciada pelos profissionais de saúde.

A Mestre Rita Araújo no seu trabalho de projeto apresentado para obtenção do grau de Mestre em Cuidados Continuados, em 2014, resume o conceito de Humanitude, como uma filosofia que cujo sentido se resume na prática à utilização permanente do “coração” na prestação do cuidar, que respeita e se preocupa com a pessoa e que denuncia e afasta a desumanização do cuidado. A Liga dos Amigos do Hospital Padre Américo em 2021, implementou o Prémio Humanitude que reconheceu aos serviços do HPA, a sua Humanitude e a constante necessidade de sensibilizar os profissionais de saúde do nosso Hospital para esta filosofia.

Termino, reconhecendo com humildade este meu conhecimento em autodidata, recorrendo a diversos textos do Vaticano, teses e projectos universitários para obtenção de grau, bem como ao trabalho da Humanitude Portugal.

Mãos à obra! Ainda há esperança!

Alexandra Bessa

Desafi ados

O tempo é de desafi o! Questiona-nos esta humanidade que nos precede, inclui e irmana. “A messe é grande…”* São, por isso, muitos os exaustos, assoberbados em tarefas mil, calendários e horários que fazem com que andemos sempre em cima da hora, em distanciamentos assépticos, mergulhados em máscaras e tantas, e necessárias, proteções… e quase não resta tempo para a esperança, para os gestos voluntários que nos tornam mais humanos, para a escuta que acolhe e nos comunica de modo mais verdadeiro.

O tempo é de desafi o! De procura desta autêntica humanidade… solidária, fraterna, terna, suave. “Mas os trabalhadores são poucos…” Precisamos de nos sentir mais convocados, mais impulsionados a sair de nós mesmos para encontrarmos os outros e, por eles, encontrarmo-nos a nós. Construir caminhos de felicidade partilhada, quantas vezes enquanto esse itinerário é verdadeiro “vale de lágrimas”, que torna essa comunhão lugar fraterno autêntico e fecundo de vida.

O tempo é de desafi o! O evangelho que com as nossas mãos, pés, inteligência e coração vamos hoje escrevendo nas nossas relações, faz presente aos nossos dias a Parábola do Bom Samaritano. D’Ele nos queremos apropriar sempre, fazer nosso esse olhar fraterno e compassivo de Jesus com que desejamos, também nós, olhar a realidade da doença e do serviço à fragilidade.

“Rogai, ao Senhor da messe…” Sustém-nos nestes desafi os o Venerável Padre Américo, que acolhemos como patrono, para vivermos a mesma liberdade e audácia que nos envia e compromete com a dignidade e a vida dos nossos irmãos, em especial os mais vulneráveis, e reclama a abundância da bênção e da graça de Deus para os nossos dias!

* Refl exão a partir do Evangelho de S. Lucas 10:2

Padre Hélder Barbosa

Cuidar de quem acolhe

“Os profi ssionais são na saúde a solução através da experiência e dedicação, sendo essenciais no associativismo voluntário”.

O último ano vivido pôs à prova, mais uma vez, a capacidade de resiliência e superação de todos os profi ssionais na saúde. Face à dimensão histórica e sem paralelo do desafi o que enfrentámos, os profi ssionais da saúde não se negaram, em áreas muito diversas e no contexto das difi culdades, a dar continuidade a um número variado de atividades de modo a cuidar dos utentes, sobretudo pessoas da nossa região - o Tâmega e Sousa.

Neste contexto ímpar, os profi ssionais da saúde responderam aos anseios e necessidades assistenciais com discrição, competência, rigor e efi ciência. Num momento de especial afl ição em contexto de extrema adversidade, os profi ssionais da saúde são garantia de experiência e dedicação impar. À Liga de Amigos e Voluntariado do Hospital Padre Américo, uma palavra de consideração pelo trabalho de serviço prestado nas mais diversas áreas.

Por fi m, uma palavra de confi ança para o futuro, certo que a experiência e dedicação dos profi ssionais, dos voluntários e do associativismo constituirão uma mais valia relevante na recuperação e afi rmação da saúde.

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