Revista APDA #22- 3º trimestre 2021

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REVISTA

EDIçãO 22 3º TRIMESTRE

2021 ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS

GESTÃO DE ATIVOS


Edição APDA

Projeto Gráfico OT Comunicação

Diretor Sérgio Hora Lopes

Diretora Criativa Sandra Souza

Conselho Editorial Paulo Nico Pedro Béraud Pedro Laginha

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Coordenação Ana Antão Colaboração Especial Eduardo Paulino

ÓRGÃOS SOCIAIS DA APDA ASSEMBLEIA GERAL Presidente: Francisco Silvestre de Oliveira Secretário: Francisco Marques Secretário: Gertrudes Rodrigues

EDITORIAL

# FICHA TÉCNICA

CONSELHO DIRETIVO Presidente: Rui Godinho Vice-Presidente: Frederico Fernandes Vice-Presidente: Joana Felício Vice-Presidente: J. Henrique Salgado Zenha Vice-Presidente: Nuno Campilho Vice-Presidente: Rui Marreiros Vice-Presidente: Susana Ferreira CONSELHO FISCAL Presidente: Carlos Pinto de Sá Secretário: Carlos Silva Secretário: Jorge Nemésio

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte pode ser reproduzida, no todo ou em parte, por qualquer meio, sem indicação da respetiva fonte. Revista APDA é uma publicação trimestral. Para mais informações sobre publicidade ou informações gerais, Tel.: (+351) 218 551 359 ou E-mail: geral@apda.pt APDA - Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas Av. de Berlim, 15 - 1800-031 Lisboa - Portugal • Tel.: (+351) 218 551 359 • E-mail: geral@apda.pt


Gestão de Ativos: O "Mundo Novo” num setor em mudança

importância e um reconhecimento crescente no nosso setor.

“Infelizmente, as pessoas costumam estar preparadas... para o desastre anterior”.

Esta crescente importância é igualmente o resultado da existência de novos desafios com que nos defrontamos. A resposta à mudança climática, a urgência da sustentabilidade, a redescoberta do conceito e das práticas da economia circular e o crescente peso dos ativos “virtuais”, são desafios que temos de resolver. Estes novos reptos implicam a que para além da atenção com os ativos construídos, o ativo patrimonial contabilístico, as EG têm de “gerir” os seus cada vez mais importantes ativos naturais, dada a escassez de recursos naturais, assim como os não tangíveis, cada vez mais presentes na sua atividade produtiva, ligados à digitalização e, em geral, à desmaterialização dos ativos empresariais. É um mundo novo num setor normalmente considerado como conservador.

Maarten van Aalst,1

Entre as várias caraterísticas da indústria da água existem duas, ligadas ao investimento em capital fixo, que sobressaem: a de ser capital intensiva com longos períodos de vida útil e a de esse capital investido ter extensos períodos de retorno financeiro. O setor possui uma infraestrutura (condutas, coletores, edifícios, equipamentos, etc.) disseminada pelo território, significativamente pesada traduzindo-se numa relação “Capex”/”Opex” elevada e, dada a grande longevidade das infraestruturas, com vidas úteis de décadas, algumas em pleno funcionamento há mais de um século, o retorno do capital investido é naturalmente muito elevado. Compreende-se que o peso das necessidades de financiamento do capital seja elevado e, consequentemente, a boa gestão dos ativos deva ser uma preocupação central dos responsáveis pelas Entidades Gestoras (EG), dos serviços de água. Embora com estas caraterísticas, a verdade é que, como afirmam no seu artigo desta revista, Ana Margarida Luís e Nuno Almeida, a existência de uma “Gestão de Ativos” (GA) autónoma tem pouco mais de meio século, nasce na década de 1960 e, em Portugal, é praticamente só neste século que se torna uma atividade reconhecida. É uma nova disciplina de gestão, mas que tem tido uma

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Mas os problemas não ficam por aqui. A pandemia que vivemos e que parece não ter um fim à vista foi uma espécie de “cisne negro” que aterrou no planeta e que nos obriga a mudar muitas das convicções que tínhamos sobre o seu devir e daquilo que consideramos como adquirido. Ela criou uma incerteza de tal ordem na gestão das economias, na atitude das pessoas e no comportamento das sociedades, que a resiliência se tornou um objetivo tão importante quanto a eficiência e em muitos momentos mesmo maior (o que se tem passado na saúde e na logística, são dois bons exemplos). Compreende-se que neste contexto a necessidade de gerir bem os ativos que estão disponíveis, garantindo uma maior capacidade de resistir à usura e ao desgaste

Diretor do Centro Climático da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho


# EDITORIAL natural do correr do tempo, seja ainda mais relevante para que as EG possam cumprir a sua missão. Mais uma exigência para a GA. Vivemos tempos difíceis e precisamos de que a atitude que a frase em epígrafe de Maarten van Aalst não se torne um “mantra” da nossa vida. Ora, a Gestão de Ativos, pode dar uma grande ajuda para que os inevitáveis sinistros, não podendo deixar de existir, se tornem marginais na nossa indústria e com um mínimo de consequências nefastas. Nada mais oportuno, portanto, do que dedicar um número da Revista APDA exclusivamente ao tema da Gestão de Ativos. A multiplicidade dos assuntos tratados, as abordagens diversificadas e a pluralidade de autores que participam neste número é significativa. Temos artigos sobre história da Gestão de Ativos, as práticas de várias EG, quer em termos de politicas adoptadas quer das experiencias de

Sérgio Hora Lopes Diretor da Revista APDA

certificação, de soluções técnicas que existem no mercado e que a consultadoria privada põe ao dispor das EG e ainda uma análise sobre as perspetivas futuras da GA. Uma nota para agradecer a todos os autores embora gostasse de salientar a colaboração da Eng.ª Helena Alegre, uma das pioneiras em Portugal e que tanto ajudou, nacional, mas também internacionalmente a que a GA tenha ganho a importância que tem hoje. Espero que este número responda às expetativas dos nossos leitores e reflita a variedade, complexidade e abrangência do tema. Por último deve-se realçar o papel essencial que a Comissão Especializada de Gestão de Ativos (CEGA) da APDA teve na montagem deste número. Sem a participação e o empenhamento da CEGA e, em particular, do seu coordenador, António Mamede, esta edição não existiria.


Dificuldades na Gestão da Água e a Emergência Climática: Mudanças Necessárias

TUDO O QUE PRECISA SABER SOBRE O SETOR DA ÁGUA E DO SANEAMENTO • MESAS REDONDAS

O confronto de opiniões

Organização:

• COMUNICAÇÕES

O intercâmbio de ideias e experiências sobre temas atuais

• VISITAS

Técnicas e culturais na região do Algarve

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS

• EXPOSIÇÃO DE EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS A maior mostra do setor

• PRÉMIOS TUBOS DE OURO

O reconhecimento dos melhores trabalhos no setor

• PIPE CONTEST

Uma saudável competição, em mais uma edição de Portugal

Patrocinadores:

Media Partner:

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CONSELHO DIRETIVO

ESPAÇO FREDERICO FERNANDES Vice-Presidente do Conselho Diretivo da APDA


Não é novidade que o mundo está em mudança. A novidade reside na velocidade com que as mudanças ocorrem, e o setor da água não foge a esse paradigma. Depois de um período de forte infraestruturação do País nas últimas décadas, os principais desafios das entidades gestoras de água são hoje muito diferentes. A continuidade do processo de redução da água não faturada, o controlo das afluências indevidas entre sistemas, a resposta a uma regulação cada vez mais escrupulosa, a capacidade de mitigação dos efeitos das alterações climáticas e o aumento da resiliência das infraestruturas constituem alguns dos maiores desafios que se colocam à gestão do ciclo urbano da água. Inevitavelmente, a gestão de ativos surge no centro destas preocupações como ferramenta indispensável à construção de uma sólida e sustentável perspetiva de longo prazo. Em primeiro lugar, porque tratando-se de um setor de capital intensivo, permite a tomada de decisão sobre avultados investimentos futuros e influi na equação financeira das entidades gestoras, simultaneamente nos seus orçamentos de despesa e na sua eficiência operacional. E depois, porque no atual contexto marcado pela imprevisibilidade e mudança constante, o conhecimento apurado das condições dos vários ativos constituirá um fator decisivo para a capacidade de resposta e adaptação. Apesar de ter sido uma temática que conheceu os primeiros passos no final do século passado, foi nos últimos anos que a gestão de ativos assumiu o papel central no planeamento do setor das águas. Aliás, é importante sublinhar que a APDA tem vindo a acompanhar a evolução deste tema, pelo menos, desde 2013, quando constituiu o Grupo de Trabalho de Gestão de Ativos, e, mais tarde, a Comissão Especializada de Gestão de Ativos (CEGA), que viria a ser responsável pela edição do Guia Prático de Gestão de Ativos, em 2017. Imprescindível para assegurar a fiabilidade e qualidade do serviço prestado a longo prazo, a gestão de ativos aporta uma vantagem competitiva às entidades gestoras que assumem uma cultura suportada em planos estratégicos e táticos de gestão patrimonial de infraestruturas. A operacionalização destes planos obriga à consolidação e sistematização dos dados de cadastro, exploração e custos, que, cruzada com uma análise georreferenciada de todas as anomalias registadas, constitui uma base de informação de valor incalculável. Mas se estes procedimentos constituem hoje já uma mais-valia para a gestão corrente das entidades gestoras, temas emergentes como a gestão dos sistemas pluviais e as afluências indevidas, a digitalização e sensorização das redes ou a soluções de economia circular, identificadas como prioritárias no próximo ciclo de financiamento comunitário, serão, igualmente, facilitadas pela existência de uma atenta gestão de ativos. A importância deste tema resulta ainda mais evidente numa altura em que se discute o novo PENSAARP 2030, incluindo as estimativas do investimento infraestrutural dos serviços de abastecimento de água e de drenagem e tratamento de águas residuais para os próximos dez anos. Numa altura em que os preços de mercado na construção civil conhecem uma tendência de inflação acentuada, é cada vez mais imperativo assegurar uma política cirúrgica e eficaz de REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# ESPAÇO DO CONSELHO DIRETIVO reabilitação de ativos, que assegure uma efetiva recuperação de recursos sem onerar demasiado as tarifas. No entanto, o ritmo de reabilitação e renovação das infraestruturas de água e saneamento no panorama nacional está claramente muito abaixo do desejável, não permitindo compensar o envelhecimento das redes, sendo este um dos principais problemas estruturais do setor unanimemente reconhecido por todos os seus atores. Os dados do RASARP 2020 não deixam margem para dúvidas: as taxas de reabilitação de condutas de abastecimento de água e de coletores residuais situam-se em 0,5%/ano e 0,3%/ano, respetivamente, quando os valores de referência da ERSAR, para uma boa qualidade de serviço, apontam para 1-4%/ano. Portanto, e tal como consta em todos os pareceres e pronúncias recentes da APDA, o reforço da reabilitação de ativos dos sistemas de abastecimento de água e de drenagem e tratamento de águas residuais, em estreita interligação com a sua melhoria operacional e o aumento da resiliência, terão obrigatoriamente de constar como uma das prioridades do PENSAARP 2030. Nessa perspetiva, torna-se imperativo aliar aos objetivos de reabilitação de infraestruturas, perdas e afluências indevidas, outros que os antecedem e que dizem respeito à atualização e consequente fiabilidade dos cadastros dos vários sistemas. Impõe-se, por isso, alterar profunda e rapidamente as políticas de reabilitação e os seus incentivos e penalizações, sob pena de se estar a avolumar um grave problema que irá comprometer a qualidade de serviço e a sustentabilidade financeira no médio e longo prazo. O subfinanciamento do setor, ampliado pela emergência climática e pela crise pandémica, exige claramente medidas robustas de gestão e de regulação. Como tal, a expetativa que o volume global de investimento para os serviços de águas, designadamente para a reabilitação de ativos, seja alvo de um pacote considerável de subvenções abrangidas no próximo ciclo, é por demais legítima. Mais, essa decisão configura-se como fundamental para que se alcancem a resiliência e a coesão, a nível nacional. Sendo uma temática complexa, os princípios de uma eficiente gestão de ativos são claros e simples: conhecer o passado, controlar o presente e antecipar o futuro. Conhecer o passado, na medida em que se torna obrigatório possuir a informação, com maior detalhe possível, sobre o conjunto de infraestruturas construídas ao longo dos tempos, com dados como o traçado, o material e a idade. Controlar o presente através da recolha permanente, fidedigna e em tempo real de informação sobre o estado de funcionamento e as ocorrências nos vários sistemas. Numa última etapa, com recurso a novos modelos de inteligência artificial, antecipar o futuro através de mecanismos preditivos que permitam prever as próximas falhas e, com isso, identificar as necessidades de investimento mais prementes. Criar condições para este caminho será essencial para a sustentação do setor e para uma estratégia de garantia da segurança hídrica do País.

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ATUALIDADE

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COMISSÃO especializada de gestão de ativos

Gestão de ativos - Uma abordagem transversal através da uniformização de procedimentos, impreterível para contrariar a persistente prossecução do dualismo do setor

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Ana Margarida Luís e Nuno Almeida

Gestão de ativos no setor da água em Portugal: passado, presente e futuro

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Entrevista José Vale E Eduardo BarboT

Experiências de algumas entidades gestoras - Balanço das políticas de gestão de ativos

António Eusébio

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A importância da resiliência dos ativos

Ana Curto e Luís Adão

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Experiência da certificação em gestão de ativos nos SMAS de Almada

Nuno Medeiros

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Desafios e experiências da certificação em gestão de ativos na EPAL

Esri | Aquasis | CTGA | IBM

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Soluções digitais ao serviço da gestão de ativos

Helena Alegre

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Que futuro para a gestão de ativos nos serviços de água?

# QUADRO LEGAL

LEGISLAÇÃO PORTUGUESA LEGISLAÇÃO COMUNITÁRIA

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# EVENTOS

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INFOGRAFIA



ATUALIDADE


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# atualidade

Gestão de Ativos - Uma abordagem transversal através da uniformização de procedimentos, impreterível para contrariar a persistente prossecução do dualismo do setor Comissão Especializada de Gestão de Ativos da APDA

“É importante trazer este assunto para a ordem do dia, considerando que grande parte das Entidades Gestoras (EG) de serviços de águas nem

internaliza na sua gestão esta componente.”

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Gestão de Ativos - Uma abordagem transversal

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e uma entidade gestora não gere devidamente os seus ativos, será uma questão de tempo até que esses ativos assumam a gestão do dia-a-dia, consubstanciada numa forma de gestão maioritariamente reativa com implicação no desempenho. É importante trazer este assunto para a ordem do dia, considerando que grande parte das Entidades Gestoras (EG) de serviços de águas nem internaliza na sua gestão esta componente.

O facto de atualmente existir uma grande diversidade de documentos na vertente de gestão de ativos que definem estratégias a curto, médio e longo prazo nas EG, em boa verdade, não inviabiliza o cenário de se continuar a verificar uma disparidade muito grande no que concerne a esta temática. Que não haja dúvidas! Com uma correta gestão dos ativos por parte das EG, cada qual adaptada à sua realidade, mas com procedimentos

uniformes, estará percorrido grande parte do “caminho das pedras” para a obtenção das melhores práticas no que concerne: • À obtenção de índices máximos de conhecimento cadastral, que permitam a delineação de estratégias de atuação operacional que visem a eficiência dos ativos; • À necessidade imprescindível de redução dos volumes de água não faturada. Se não se conhecerem ou não se caraterizarem os ativos, REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade

Estes problemas foram já objeto de exposição pela parte da APDA, numa missiva dirigida aos Altos Responsáveis pela conformação e governança do setor dos serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais, pelo que se reforçam aqui essas preocupações, mais vocacionadas na vertente da Gestão de Ativos, dada a importância que lhe está

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subjacente e que mais atrás se evidenciou.

Damos agora ênfase à questão do conhecimento cadastral.

Para se ultrapassarem as dificuldades que persistem no setor, com especial enfoque para o facto de termos um País com EG a serem conduzidas a velocidades diferentes, o tema da Gestão dos Ativos, será sempre parte da solução e nunca do problema. Esta gestão passa pela implementação de estratégias e abordagens que providenciem as melhores e inovadoras práticas, assim como o dever de cuidado na adaptação a cada entidade, tendo em conta a sua realidade.

Sem margem para dúvidas, é impreterível conhecer para poder tomar decisões fundamentadas.

Águas do Douro e Paiva, SA

não há forma de planear ou delinear uma estratégia de eficiência hídrica; • À definição de planeamentos técnicos, operacionais e financeiros para garantir a eficiência dos ativos ao longo da sua vida útil. Esta circunstância permite, consideravelmente, contribuir para as EG garantirem a recuperação de gastos. É fundamental que, qualquer que seja a estratégia relativa à estrutura de localizações que as entidades definam para alocar os seus ativos, todas as áreas se revejam nessa configuração, para garantir uma correta gestão de dados financeiros e operacionais. De nada servirá se comprarmos uma estante com prateleiras à medida e arrumarmos os livros nos locais errados.

Ter um conhecimento cadastral atualizado e fiável é essencial para o suporte à decisão, seja para implementação de um planeamento estratégico de gestão patrimonial, seja para materializar a reparação de uma simples avaria. Não se pode gerir o que não se conhece!


Gestão de Ativos - Uma abordagem transversal

Sobre esta matéria conhecimento cadastral ainda se verifica um atraso considerável de EG, que importa combater, não só através da disponibilização de recursos financeiros, sem restrições de elegibilidade (por forma a evitar o efeito de “pescadinha de rabo na boca”, que consubstancia um círculo vicioso de “para ter isto preciso aquilo, mas sem aquilo não consigo aceder a isto), mas também pela adoção de práticas mais económicas através da formação dos recursos humanos disponíveis e/ou a contratação de prestadores de serviços para este efeito. Mesmo em levantamentos cadastrais recentes é importante aferir a fiabilidade da informação levantada no terreno, que, muitas vezes, não tem o grau de pormenor pretendido, com lacunas de informação que impedem a correta abordagem infraestrutural. Mas as desigualdades não se restringem a este patamar. Pretende-se aqui dar enfoque aos seguintes temas: 1. Abordagem sobre Envelhecimento dos Ativos Horizontais/Lineares -

Necessidades de precaver as EG para o que aí vem (“boom” de remodelação); 2. Definição de CAPEX e/ ou OPEX para garantir a correta Gestão dos Ativos Verticais - Definição de princípios orientadores para as EG poderem efetuar planeamento a curto e longo prazo; 3. Contributos Pluviais Ilícitos nas redes de Saneamento - Prejuízos na vida Útil dos Ativos; 4. A necessidade impreterível de implementar uma gestão de pressões nas redes de distribuição, dado que a vida útil de um ativo depende em grande medida dela (tanto da pressão máxima de serviço, como da sua variação ao longo do dia). Breve reflexão sobre estes temas:

1. Abordagem sobre Envelhecimento dos Ativos Horizontais Na área do planeamento existem claras lacunas na definição de OPEX e CAPEX, sendo raros os casos onde os montantes de investimento estejam devidamente registados em sede de Modelo Financeiro que

sustenta a atividade das EG e refletidos nas tarifas. Esta circunstância impossibilita a implementação de uma correta gestão dos ativos. A Comissão Especializada de Gestão de Ativos tem vindo a abordar um tema que justifica uma reflexão profunda, mais concretamente a problemática sobre o envelhecimento de tubagens constituintes das redes de abastecimento de água ou de drenagem de águas residuais. A titulo exemplificativo, refere-se que nos EUA (https://safetymanagement. eku.edu/blog/our-nationsgrowing-water-crisiswhat-you-need-to-know/) antecipam investimentos avultados em remodelação de redes para esta década, decorrentes da conjugação de vários fatores, entre os quais o forte investimento de expansão de redes através da construção de condutas de ferro na última década do séc. XIX (120 anos de vida útil), de FFD no rescaldo da 1.ª Guerra Mundial (60 a 100 anos de vida útil) e de plástico ou FB (40 a 60 anos de vida útil) logo após a 2.ª Guerra Mundial.

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AC, Águas de Coimbra, EM

# atualidade

Resulta daqui que um significativo número de infraestruturas atingirá o fim da sua vida útil a curto prazo, com resultados refletidos no aumento exponencial da quantidade de roturas e sem base tarifária que assegure a capacidade de investimento, desequilibrando o grau de recuperação de custos dos serviços. Em Portugal, com o forte investimento realizado através de fundos comunitários, ocorrido desde 1990, a médio prazo, esta será também uma temática que estará presente na agenda do setor. A Comissão Especializada de Gestão de Ativos entende pertinente que sejam

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providenciadas as seguintes diligências: • Sugerir às EG que definam os investimentos de remodelação a curto prazo, em função da eficiência dos ativos; • Sugerir às EG que a longo prazo definam os planos de investimentos de remodelação em função da eficiência histórica dos ativos, com base em casos práticos ou casos globalmente conhecidos; • Sugerir ao regulador que o CAPEX de remodelação se caraterize como investimento obrigatório, para que as EG que não tenham índices de desempenho satisfatórios, sejam sensibilizadas a investir na remodelação

de ativos, ou na implementação de medidas de eficiência hídrica; • Sugerir que as EG reflitam nas tarifas a necessidade de investimento em remodelação dos ativos, por forma a estar assegurada a recuperação de custos, e essencialmente a eficiência dos ativos; • Sugerir à tutela e aos programas operacionais de gestão de fundos comunitários, a criação de Avisos que assegurem às EG a possibilidade de garantirem financiamento para promoverem a Eficiência Hídrica dos seus ativos, por forma a não se consubstanciarem aumentos significativos das tarifas. As entidades que promovam a eficiência de gestão, nomeadamente as que tenham índices aceitáveis no indicador grau de recuperação de custos devem ter majoração no acesso a esses financiamentos.


Águas do Algarve, SA

Gestão de Ativos - Uma abordagem transversal

2. Definição de CAPEX e/ou OPEX para garantir a correta Gestão dos Ativos Verticais

modelos financeiros das EG, por forma a que esteja consubstanciada base tarifária que assegure a capacidade de investimento.

Revela-se também imprescindível que as EG definam as despesas operacionais ou de capital para assegurar o desempenho eficiente dos ativos verticais que gerem.

Não obstante outras metodologias praticadas por algumas EG, verificase que a grande maioria, principalmente as de menor escala, não têm uma definição de OPEX e CAPEX a longo prazo, que lhes permita gerir os montantes de investimento a curto prazo, e garantir o princípio de eficiência que deve estar subjacente aos ativos verticais que dispõem.

É impreterível que os montantes em apreço (sejam custos operacionais ou necessidades de investimento) estejam também discriminados nos

É entendimento da Comissão Especializada de Gestão de Ativos que, por intermédio do Regulador, sejam enviados às EG princípios orientadores de definição de OPEX e CAPEX, a longo prazo, para que possam, de forma direta, simples, sustentada e equilibrada, garantir uma performance adequada dos ativos verticais, e evitar situações de riscos de interrupção imediata e não programada desses ativos, por falta de condições técnicas, de segurança estrutural, ou outro tipo de circunstância.

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3. Contributos Pluviais Ilícitos nas redes de Saneamento Entendemos ainda trazer outro tema para a discussão, designadamente o impacto na vida útil dos ativos constituintes de uma rede de drenagem de águas residuais, que os contributos prediais ilícitos efetivamente acarretam, quer em termos técnicos, económicos e ambientais. É convicção da Comissão Especializada de Gestão de Ativos que importa combater esta situação numa estratégia nacional conjunta, por forma a se salvaguardar: • A vida útil do ativo horizontal de transporte dos efluentes, evitando a sistemática entrada em carga, circunstância para a qual não estão dimensionados; • A vida útil dos ativos verticais a jusante dos contributos, como p.e. Estações Elevatórias e ETAR; E a impedir: • Os consumos energéticos avultados nos ativos verticais identificados no ponto anterior, garantindo eficiência energética;

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AC, Águas de Coimbra, EM

# atualidade

• A ocorrência de desequilíbrios económicos que não estão salvaguardados nas tarifas praticadas pelas EG, por necessidade de transporte e tratamento de AP que podem ser rejeitadas diretamente em domínio hídrico. Desta forma, sugere-se que, por forma a salvaguardar a vida útil dos ativos horizontais e verticais das redes de drenagem de águas residuais, e tendo em consideração que é indispensável que se canalizem estratégias que visem a deteção e consequente impedimento de ligação de contributos pluviais prediais à rede

predial de águas residuais, se promovam as seguintes recomendações: • Que a tutela e os programas operacionais de gestão de fundos comunitários, promovam avisos de possíveis candidaturas para a fase de diagnóstico e identificação de contributos pluviais na rede de águas residuais, direcionado para todas as EG; • Que a tutela e os programas operacionais de gestão de fundos comunitários promovam avisos de candidaturas direcionados para os Municípios, no sentido de serem criados fundos sociais, que apoiem os munícipes mais carenciados através de


Gestão de Ativos - Uma abordagem transversal

4. Gestão de Pressões nas redes de distribuição Agora sobre a questão da Gestão de Pressões nas redes de distribuição, deixamos aqui uma referência à sua importância e com repercussão direta na vida útil dos ativos constituintes da rede distribuidora (horizontais e verticais), sendo certo que pretendemos, neste tema, remeter para o excelente trabalho desenvolvido pela CESDA (Comissão Especializada de Sistemas de Distribuição de Água), designadamente para o documento CESDA_006, sobre gestão de perdas, e que pode ser consultado através do seguinte link: https://www.apda. pt/site/ficheiros_ eventos/201610280930fichaboaspraticascesdagestao_ de_pressoes.pdf

estratégia a seguir na área da Gestão de Ativos (como em todas as outras!), designadamente: • A Inovação; • A Emergência Climática. No que concerne à Inovação faz parte do caminho que as EG estejam atentas à evolução (ou revolução - Indústria 4.0) das ferramentas disponíveis para monitorizar os ativos, oferecendo-lhe – aos ativos e aos seus elementos – a possibilidade de “pronúncia” (linguagem inteligente), através de sensores que captam o comportamento de peças ou componentes de equipamentos que

constituem o ativo, e permitem antecipar falhas ou quebras de rendimento. Trata-se de um assunto que merecerá da parte do setor um acompanhamento regular, por forma a se poderem definir procedimentos e estratégias que, comprovadamente, assegurem o prolongamento da vida útil dos ativos, sem que daí resultem elevados custos de investimento. É também fundamental assegurar que os sistemas de informação existentes numa entidade gestora comuniquem entre si, para garantir que esses dados monitorizados sejam

Águas do Douro e Paiva, SA

garantias de financiamento para as intervenções prediais necessárias à separação de redes dentro das suas propriedades.

Pretende-se ainda deixar aqui uma reflexão sobre duas questões que, forçosamente, terão que estar na ordem do dia em toda e qualquer REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade alocados corretamente à estrutura definida de gestão de ativos. Só a criação de um EAM (enterprise asset management) eficaz permitirá ao gestor receber corretamente a informação e gerir eficazmente o seu parque de ativos. Respetivamente à Emergência Climática, é um tema que “patrocina” o ENEG a realizar no presente ano, o que atesta desde já a sua importância, e sobre o qual apenas se pretende deixar aqui algumas sugestões para reflexão, nomeadamente: • Necessidade de adaptar os Planos de Segurança da Água, tendo em consideração a Emergência Climática, designadamente na definição de medidas em função dos riscos associados aos ativos que podem ficar afetados; • Necessidade de avaliar de que forma a afetação dos ativos pode comprometer a eficiência hídrica e operacional de uma Entidade Gestora; • Necessidade de priorizar os investimentos para promover a modernização e resiliência dos ativos.

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É inadiável que se encontrem formas e estratégias que permitam responder a toda a problemática da Emergência Climática e das repercussões que pode acarretar para a Gestão de Ativos, sem que daí resulte um défice tarifário para as EG. Não obstante, o caminho e as obrigações terão que garantir os pressupostos de igualdade, de transversalidade e de rigor, para todas as EG. Ficar parado a observar não pode ser admissível para ninguém!


Gestão de Ativos - Uma abordagem transversal

ÁGUA, ONDE A VIDA SE MULTIPLICA

A VALORIZAR A ÁGUA E A VIDA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS

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# atualidade

GESTÃO DE ATIVOS NO SETOR DA ÁGUA EM PORTUGAL: PASSADO, PRESENTE E FUTURO

Ana Margarida Luís Membro Executivo do Conselho de Administração da Águas do Tejo Atlântico

Doutorada em Gestão do Risco (Universidade de Cranfield). Foi consultora de engenharia e ambiente durante 10 anos, tendo em 2006 integrado os quadros da EPAL, onde participou na génese da Gestão de Ativos e veio a desempenhar o cargo de Diretora de Gestão de Ativos, a par da coordenação do Grupo para as Alterações Climáticas. Foi ainda: colunista do jornal Ambiente Online tópico ‘Gestão de Ativos’; membro das Comissões Especializadas da APDA de Adaptação às Alterações Climáticas (fundadora) e de Gestão de Ativos; formadora na Academia das Águas Livres e na Universidade de Cranfield; consultora do Banco Mundial; autora de inúmeros artigos e comunicações.

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Nuno Marques de Almeida Professor Auxiliar no Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos do IST

As suas atividades profissionais e de investigação procuram contribuir para a integração e consolidação das abordagens da Gestão de Ativos e da gestão do risco nas profissões da Engenharia. Publicou mais de 80 artigos em revistas científicas e congressos internacionais e tem promovido a cooperação interdisciplinar visando a otimização do custo, risco e desempenho no ciclo de vida das infraestruturas e dos edifícios. É membro da International Society of Engineering Asset Management e Presidente da Comissão Técnica de Normalização CT 204 Gestão de Ativos.


GESTÃO DE ATIVOS NO SETOR DA ÁGUA EM PORTUGAL: PASSADO, PRESENTE E FUTURO

1. INTRODUÇÃO As pessoas e as organizações relacionam-se com diferentes tipos de ativos em diferentes contextos (Figura 1). Ao nível

das comunidades existem interações com recursos naturais que constituem o meio ambiente e com vários tipos de ativos construídos. Essas interações também se verificam com ativos não

físicos, como seja o caso de redes de cooperação, concessões para operação, licenças de software, marcas, reputação, dados, informação ou conhecimento, para mencionar alguns exemplos.

ATIVOS FÍSICOS

Naturais (e.g., terra, ar, água)

Construídos (e.g., infraestruturas, edifícios, instalações industriais, equipamentos)

NÃO FÍSICOS

Virtuais (e.g., redes, dados, software)

Conceptuais (e.g., sistemas de gestão, conhecimento

Figura 1 - Categorização simplificada dos vários tipos de ativos [adaptado de 1-3]

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# atualidade Ao longo dos anos, e especialmente com o advento da industrialização das sociedades e da crescente sofisticação e complexidade dos ativos, surgiram abordagens de gestão para assegurar que os ativos geram os benefícios previstos ao longo de todo o seu ciclo de vida, de forma otimizada em relação aos recursos consumidos. A Gestão de Ativos é uma abordagem transdisciplinar que surge precisamente neste contexto. Este artigo apresenta os desenvolvimentos do conceito da Gestão de Ativos e da experiência com a sua implementação prática, a nível internacional e em Portugal, em particular no setor da água. Destaca-se ainda a importância crescente da Gestão de Ativos para enfrentar desafios e oportunidades futuras relacionadas com os objetivos do desenvolvimento sustentável, a transformação digital e a necessidade de incorporar dimensões intangíveis nos processos de tomada de decisão das organizações.

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2. Evolução histórica da Gestão de Ativos Os primeiros registos de estudos científicos sobre o conceito e as técnicas da Gestão de Ativos surgiram na década de 1960. Esses primeiros estudos encaravam os ativos como entradas no imobilizado das organizações e focavam-se sobretudo em questões financeiras [4]. Foi também neste período que começaram a surgir estudos científicos no domínio da terotecnologia1. Este conceito combinava práticas de gestão aplicadas a ativos físicos, tipicamente no contexto da gestão e manutenção de instalações industriais e integrando aspetos financeiros e não financeiros. A consolidação do corpo de conhecimento científico sobre a Gestão de Ativos físicos, atingida com as primeiras experiências de aplicação prática na indústria, iniciou-se há cerca de 30-40 anos [7]. Na década de 1970, assistiu-se a um crescente número de publicações científicas sobre

O termo deriva do grego “terein”, que significa guardar, manter, preservar.

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Gestão de Ativos físicos. A partir da década de 1980 este termo prevaleceria em detrimento da designação de terotecnologia [4] para expressar as atividades coordenadas e o alinhamento das funções financeiras e não financeiras [5] em organizações de capital intensivo, cuja prestação dos serviços e a sustentabilidade do negócio estão fortemente correlacionadas com os ativos físicos da organização [7-8]. Na década de 1990 assistiu-se a um crescente interesse no tema da Gestão de Ativos “total” (incluindo ativos físicos e não físicos e abarcando todas as fases do ciclo de vida) e, a nível internacional, à formação de várias associações, à organização de conferências e ao surgimento de várias iniciativas de natureza comercial para promover o conceito na sua dimensão mais abrangente [5]. Nos últimos 20 anos, desenvolveram-se atividades de normalização significativas no domínio dos ativos de infraestruturas [9] e dos ativos


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físicos em geral [10], atividades essas que exerceram uma grande influência nas primeiras versões das normas internacionais da série ISO 55000 sobre Gestão de Ativos, publicadas pela primeira vez em 2014 [10-12]. Neste período assistiu-se também à publicação de guias técnicos de referência (e.g. [14-15]), que expandiram visões mais focadas em determinadas fases do ciclo de vida (e.g. reabilitação; manutenção) para uma perceção abrangente do conceito da Gestão de Ativos construídos e que, nas versões mais recentes, estão alinhados com as normas internacionais da série ISO 55000. Estes referenciais descrevem a Gestão de Ativos como uma abordagem transdisciplinar que envolve todas as funções ou departamentos nas organizações, mas sem substituir nem se restringir aos limites específicos dessas funções. Esta abordagem tem em vista a maximização do valor que é gerado a partir dos ativos, através do alinhamento das várias atividades que incidem sobre os ativos. Entre as organizações com certificação ISO 55001, a nível internacional, destacam-se as dos setores da energia,

água, gestão de instalações, transportes, governamentais e da indústria. Tendo em conta as estatísticas conhecidas, os países onde se verifica o maior número de certificados ISO 55001 emitidos são: Japão, Austrália, Holanda, Reino Unido, Emirados Árabes Unidos, China, Alemanha e Estados Unidos. Importa salientar que para a contabilização destas certificações emitidas não foram consideradas apenas as certificações acreditadas, ou seja, as certificações emitidas por entidades acreditadas segundo os requisitos de competência para auditoria e certificação de sistemas de gestão de ativos da especificação técnica ISO/ IEC TS 17021-5 [14]. Estes requisitos estabelecem que a equipa auditora e aqueles que tomam a decisão de certificação devem ter conhecimento e compreensão das práticas, atividades e metodologias relevantes da gestão de ativos, destacando a importância do equilíbrio entre aspetos técnicos, nãofinanceiros e financeiros e das seguintes temáticas: práticas de registo de ativos; processos de tomada de decisão e priorização; ferramentas e métodos

relacionados com a gestão de ativos; abordagem do Custo do Ciclo de Vida (CCV); abordagens da gestão do risco; planeamento e implementação de investimentos, operações e manutenção; e técnicas de amostragem estatística. No setor da água, a nível mundial, a adoção de políticas de Gestão de Ativos ocorreu de forma assíncrona e motivada por diferentes drivers. O Reino Unido teve como grande impulsionador a Regulação, enquanto na Austrália / Nova Zelândia a preocupação inicial derivou da otimização da Manutenção - embora rapidamente tenham evoluído para uma abordagem mais global. Já nos EUA e no Canadá, o tema surgiu da preocupação, por um lado, com o estado de envelhecimento e deterioração dos ativos, agravado por falta de financiamento para realização dos investimentos necessários; e, por outro lado, com a necessidade de recolha sistematizada de informação sobre os ativos. Na Holanda o foco foi o estabelecimento e garantia de níveis de serviço [19].

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# atualidade Relativamente ao setor da água português, o conceito de Gestão de Ativos começou a ser internalizado na primeira década do presente século [20], há cerca de 15-20 anos, tendo a EPAL sido pioneira ao definir um Modelo Integrado de Gestão de Ativos em 2006-2007, assente em seis vetores: Estruturas base de Informação, Sistemas de Informação, Indicadores, Processos, Organização e Estratégia. Da aplicação desse modelo, resultaram, entre outros aspetos, a criação de uma Direção de Gestão de Ativos em 2008, a alteração da estrutura organizativa da empresa, a implementação de métodos de seleção e priorização de investimentos com base no risco, e a implementação de uma estratégia de gestão de informação. Nos anos seguintes, a EPAL participou ativamente na disseminação do conceito da Gestão de Ativos, seja no seio do grupo Águas de Portugal, através da integração em grupos de trabalho - no âmbito dos quais foi elaborado um Guia de Implementação de Gestão de Ativos; seja através de diversas ações de formação ministradas na Academia das Águas Livres, incluindo um módulo nas várias edições

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do curso de pós-graduação em Gestão e Tecnologias da Água, da Universidade NOVA SBE e NOVA FCT; seja através de partilha do conhecimento em diversos congressos e conferências.

teve lugar a primeira de várias iniciativas do LNEC “iGPI”, envolvendo diversas empresas do setor da água, no sentido de incentivar a adoção, por parte destas, da metodologia GPI.

Nessa mesma altura (2007), e em paralelo, o LNEC desenvolveu uma metodologia intitulada “Gestão Patrimonial de Infraestruturas, GPI”, que, apesar de não abarcar a totalidade das dimensões da Gestão de Ativos, apresenta um foco muito grande na decisão dos investimentos, com base em indicadores de desempenho, enquadrada na filosofia de Gestão de Ativos. Em 2009 foi publicado o Decreto-Lei 94/2009, preconizando que todas as Entidades Gestoras cujo serviço abrangesse mais de 30 mil habitantes deveriam implementar a GPI. No ano seguinte, esta mesma metodologia foi espelhada no Guia Técnico n.º 16 da ERSAR, que, no âmbito do sistema de avaliação da qualidade de serviço das entidades gestoras, criou os índices IGPI – Índice de Gestão de Patrimonial de Infraestruturas e ICI Índice de Conhecimento Infraestrutural. Em 2012

Por outro lado, com a publicação em 2014 da norma ISO 55001 com requisitos para sistemas de gestão de ativos, várias empresas têm vindo a recorrer a consultoria com vista à implementação de sistemas de gestão de ativos e, em alguns casos, à obtenção voluntária da certificação desses sistemas de gestão, abrindo-se assim mais uma via para a sensibilização e informação sobre a Gestão de Ativos no setor da água em Portugal. Também a APDA acompanhou esta temática, tendo constituído, em 2013, um Grupo de Trabalho de Gestão de Ativos, o qual passou a Comissão Especializada em 2017, de cuja atividade se destaca a edição, em 2017, de um Guia Prático de Gestão de Ativos. Finalmente, refira-se o trabalho conjunto das Comissões Técnicas de Normalização CT94 Manutenção Industrial e da


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CT90 Sistemas Urbanos de Águas, do qual resultou a criação da CT 204 Gestão de Ativos, responsável pela publicação, em 2016, pelo IPQ, das versões portuguesas de todas as normas internacionais da série ISO 55000 existentes até à data. Desde 2017 que a CT204 Gestão de Ativos tem contribuído para a promoção e maior perceção da importância alargada da Gestão de Ativos e do seu futuro impacto nas organizações nacionais e na sociedade Portuguesa.

De referir que, no panorama nacional, outros setores de capital intensivo arrancaram para a Gestão de Ativos na mesma altura que o setor da água, destacando-se a EDP, que trilhou um caminho muito parecido e em paralelo com a EPAL, na primeira década, tendo o setor rodoferroviário tido o seu grande impulso na segunda década.

Face ao exposto, constatase que, do trabalho desenvolvido por Entidades Gestoras de serviços de águas, pelo LNEC, pelo Regulador, por associações como a APDA e pelas comissões técnicas de normalização, assistiu-se em Portugal, entre a primeira e a segunda década deste século, à disseminação e implementação (total ou parcial) da Gestão de Ativos no setor da água, seja em empresas como a EPAL (gestão delegada), empresas multimunicipais, empresas e serviços municipais, ou empresas privadas com concessões.

Não obstante o contexto descrito no ponto anterior, um recente inquérito levado a cabo pela Comissão Especializada de Gestão de Ativos da APDA evidencia que ainda há muito por fazer no setor da água em Portugal, em termos de uma adequada Gestão de Ativos [21]. Com efeito, algumas das conclusões referem que “muitas Entidades Gestoras não têm ainda identificados os seus ativos mais críticos”, “predominam os registos em papel”, “uma quantidade significativa de Entidades Gestoras ainda não realiza manutenção preventiva nem faz análise da condição”, etc. Por outro lado, os indicadores

3. Situação atual e desafios futuros para a Gestão de Ativos

de avaliação da qualidade do serviço da ERSAR ilustram, ano após ano, a falta de investimento em reabilitação, a não diminuição do nível de perdas de água apesar de todos os desígnios, etc. Tendo em conta o enorme e muito ativo envolvimento dos vários agentes do setor da água na temática da Gestão de Ativos, descrito no ponto anterior, estas “fotografias” do panorama atual não deixam de surpreender, pelo que seria importante refletir sobre as razões subjacentes às mesmas. Considerando que se trata de uma reflexão profunda e, até, estruturante para o futuro do setor da água, julgamos que a mesma não se insere no âmbito do presente artigo; contudo, não se pode deixar de apontar desde já para as diferentes realidades / dimensões das Entidades Gestoras, bem como para a falta generalizada de recursos humanos e financeiros, mas também para o facto de os resultados práticos da adoção de uma filosofia de Gestão de Ativos não se revelarem logo após o início dos programas de desenvolvimento da Gestão de Ativos nas organizações, i.e., o facto de estes programas envolverem REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade habitualmente alguns anos para uma implementação efetiva de uma cultura e prática da gestão de ativos até serem visíveis todos os benefícios materiais [22]. Em termos de desafios futuros, no panorama nacional e internacional, apontam-se três linhas que elevarão a Gestão de Ativos a novos patamares, de forma a dar resposta aos novos paradigmas: a Sustentabilidade Ambiental, nas vertentes da Economia Circular [7] e da Adaptação às Alterações Climáticas; a Digitalização, nas suas várias vertentes; e a consideração de Ativos Intangíveis, entendendo-se que cada vez mais estes são igualmente geradores de valor para as organizações. Os trabalhos de normalização na área da Gestão de Ativos têm ajudado as organizações a estabelecer os limiares de tolerância a diferentes tipos de risco que têm que ser geridos (e.g. financeiro, de segurança, ambiental ou de reputação). No caso das entidades gestoras de infraestruturas, a Gestão de Ativos reforça a atuação necessária para se alcançar os Objetivos do

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Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, designadamente os objetivos 6 (água limpa e saneamento), 7 (energias renováveis), 8 (empregos dignos e crescimento económico), 9 (inovação e infraestrutura), 11 (cidades e comunidades sustentáveis), 12 (consumo responsável) e 13 (combate às alterações climáticas). Com o advento das tecnologias emergentes da Indústria 4.0, a Gestão de Ativos tornou-se central para enquadrar de forma apropriada um maior grau de automação e interconectividade dos ativos em articulação com os recursos humanos das organizações. Esta abordagem da gestão é especialmente adequada para identificar e maximizar os benefícios que podem ser extraídos de ambientes em que predomina a digitalização de dados, informação e processos de gestão, assegurando que os custos do ciclo de vida e os riscos das transformações subjacentes à nova maneira de trabalho são sustentáveis no tempo. Organizações com uma cultura de Gestão de Ativos

bem consolidada estão em vantagem competitiva perante os desafios de inovação no domínio da digitalização. Entre estes desafios estão, por exemplo, a recolha automatizada de dados, o armazenamento e gestão desses dados em plataformas partilhadas, análises de dados que suportam o reconhecimento de defeitos e a modelação da deterioração dos ativos (e.g. para efeitos de otimização das decisões de manutenção, operação e investimento), a utilização de gémeos digitais ou técnicas de visualização assistida por computador que permitem simular o projeto, a construção e a operação de sistemas de ativos (e.g. para melhorar a formação de operadores) e as soluções robotizadas para automatizar atividades de inspeção, manutenção e operação em ambientes remotos, complexos ou com perigos para a segurança e saúde dos trabalhadores. Na sua essência, a Gestão de Ativos envolve a melhoria do modo como se tomam decisões nas organizações tendo em vista realizar o máximo de valor a partir dos ativos, físicos e não físicos (Figura 1), que estão


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sob gestão. Para isso, é necessário que o modelo de tomada de decisões e a perceção do conceito de valor não incorpore apenas métricas de desempenho financeiro ou outras relativas a ativos físicos. A Gestão de Ativos estabelece as bases para assegurar que dimensões como o capital natural, intelectual, humano, social, etc., possam ser tratadas e equacionadas à luz da filosofia global da Gestão de Ativos.

4. Considerações finais Os contributos das comunidades científica e técnica, ao longo das últimas quatro décadas, refletidos nos trabalhos de normalização, têm ajudado a consolidar o corpo de conhecimento integral da Gestão de Ativos e o caráter abrangente e transdisciplinar desta abordagem.

No caso específico do setor da água em Portugal, não obstante haver um grande envolvimento, entusiasmo e até pioneirismo a nível dos principais agentes, não são ainda visíveis, de forma uniformizada no panorama nacional, os resultados da disseminação e aplicação da Gestão de Ativos.

De qualquer modo, o papel da Gestão de Ativos é reconhecido como essencial no caminho que permitirá aumentar a competitividade das organizações e superar com sucesso um conjunto de desafios que se apresentam à gestão do ciclo de vida dos ativos e que são referidos neste artigo: sustentabilidade, digitalização e intangíveis.

“No caso específico do setor da água em Portugal, não obstante haver um grande envolvimento, entusiasmo e até pioneirismo a nível dos principais agentes, não são ainda visíveis, de forma uniformizada no panorama nacional, os resultados da disseminação e aplicação da Gestão de Ativos.”

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# atualidade Referências [1] Amadi-Echendu, J. Willett, R. Brown, K. Lee, J. Mathew, J. Vyas, N. Yang, B. (2007). “What is engineering asset management?”. Proceedings of 2nd World Congress on Engineering Asset Management. [2] Dieter, J. (2020). “Asset Taxonomy”. ALN proposal for ASTM E53. Asset Leadership Network. [3] Almeida, N. (2021) “Infrastructure and Building Asset Management: Fundamentals and overview of applications for asset-intensive organizations”. Course of Advanced Topics in Construction, PhD Program in Civil Engineering, Instituto Superior Técnico. [4] Wijnia, Y. (2016) Processing Risk in Asset Management: Exploring the Boundaries of Risk Based Optimization Under Uncertainty for an Energy Infrastructure Asset Manager. PhD thesis, Technische Universiteit Delft, Nederland [5] Almeida, N. Gestão de Ativos: Referenciais, Prioridades e Tendências. Encontro sobre Gestão de Ativos. ONS/APMI | CT 204 - Gestão de Activos, Instituto Português da Qualidade, Caparica, 25 de Maio de 2017 [6] Almeida NM, Vieira J, Silva JG, Castro C (2021) The Impact of Asset Management Development Programs in Infrastructure Organisations. In: Sustainability and Automation in Smart Constructions. Advances in Science, Technology & Innovation, Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-03035533-3_29 [7] Luís, A. (2019) “Gestão de Ativos no contexto da economia circular”. Dossier Água: Eficiência na Gestão e no Consumo. Indústria e Ambiente 118, Setembro/Outubro 2019 [8] ISO/TS 55010:2019 - Asset management - Guidance on the alignment of financial and nonfinancial functions in asset management. British Standards Institution, London, UK [9] PAS 55-1:2003 - Asset management. Specification for the optimised management of physical infrastructure assets. Publicly Available Specification 55. Institute of Asset Management, London, UK [10] PAS 55-1:2008 - Specification for the optimized management of physical assets. Publicly Available Specification 55. Institute of Asset Management, London, UK [11] ISO 55000:2014 - Asset management - Overview, principles and terminology. ISO/TC 251 Asset management

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[12] ISO 55001:2014 - Asset management - Management systems - Requirements. ISO/TC 251 Asset management [13] ISO 55002:2014 - Asset management - Management systems - Guidelines for the application of ISO 55001. ISO/TC 251 Asset management [14] ISO/IEC TS 17021-5:2014 - Conformity assessment - Requirements for bodies providing audit and certification of management systems - Part 5: Competence requirements for auditing and certification of asset management systems. [15] NAMS. (2015). International Infrastructure Management Manual (IIMM) (5th ed., i). Institute of Public Works Engineering Australia.; Association of Local Government Engineers of New Zealand. National Asset Management Steering Group. [16] The IAM. (2015). Asset Management - An Anatomy. Asset Management 2011, (3), 1–84. https:// doi.org/978-1-908891-00-6 [17] ISO/TC 251 (2018) Asset Management: Achieving the UN Sustainable Development Goals. Disponível em: https://committee.iso.org/files/live/sites/tc251/files/guidance/ISO%20TC251%20 SDG%20March%202018.pdf [18] Almeida, N. (2020) “Contributo da Gestão de Ativos para a Sustentabilidade: Criando valor e resiliência com a sustentabilidade.” Congresso LIDERA’20. 29 de janeiro de 2020. IST, Lisboa [19] Heck, V. (2008) “Asset Management Frameworks for (drinking water) infrastructures around the world”, Conference: Infrastructure Systems and Services: Building Networks for a Brighter Future (INFRA), Netherlands [20] Luís, A. (2020) “A importância da Liderança na Gestão de Ativos”, Curso Técnico+ sobre Gestão de Ativos, Instituto Superior Técnico, dez. 2020 [21] APDA (2019), Principais resultados do inquérito elaborado pela Comissão Especializada de Gestão de Ativos (CEGA), https://www.apda.pt/site/ficheiros_eventos/202104121030-inquerito_ cega_2019.pdf [22] Luís, A., Vinagre, V. e Silva, G. (2015), “Os processos de Gestão de Ativos e seu mapeamento”, Curso Sistema de Gestão de Ativos – Organização e metodologias avançadas, Academia das Águas Livres, dez. 2015

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# atualidade

EXPERIÊNCIAS DE ALGUMAS ENTIDADES GESTORAS BALANÇO DAS POLÍTICAS DE GESTÃO DE ATIVOS José Machado do Vale Presidente do Conselho de Administração da Águas do Norte

Presidente não executivo das empresas Águas do Douro e Paiva, SA e da SIMDOURO, SA desde junho de 2018. Licenciatura em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, de 1973 a 1978. Programa Avançado de Gestão para Executivos pela Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica de Lisboa, em 1998. Consultor internacional (fevereiro até junho de 2018); Vice-Presidente e CEO do Grupo CARPI TECH (janeiro de 2013 até janeiro de 2018); Presidente do Conselho de Administração do Grupo SOMAGUE (novembro de 2007 a Janeiro de 2013); Administrador da Edifer Construções (janeiro de 2006 a outubro de 2007); Administrador da Tecnasol (janeiro de 1991 a outubro de 2007); Diretor de obras da Tecnasol (junho de 1982 a janeiro de 1991); Professor Assistente de Hidrologia e Hidráulica Geral na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (outubro de 1981 a outubro de 1983); Direção Geral dos Recursos Naturais (janeiro de 1979 a junho de 1982).

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Eduardo Barbot Administrador de Operações da INDAQUA

Com mais de 15 anos de experiência na exploração de água e saneamento, exerceu funções técnicas e executivas em várias empresas do setor, entre as quais as Águas de Gondomar e Agere. Licenciado em Engenharia Biológica, a que se junta um MBA Executivo e Programa de Gestão Avançada pela Porto Business School, Eduardo Barbot destacase pela visão técnica na organização dos setores de abastecimento de água e saneamento de águas residuais e pela liderança das equipas de operação e manutenção de equipamentos e instalações, encarando a otimização energética como um dos seus maiores desafios. No Grupo INDAQUA desde 2017, foi Diretor Geral da INDAQUA Vila do Conde e, mais recentemente, da INDAQUA Matosinhos, uma das maiores concessões do universo INDAQUA. Assume, em 2020, a gestão global da área de operações do Grupo INDAQUA como membro da Comissão Executiva.


EXPERIÊNCIAS DE ALGUMAS ENTIDADES GESTORAS - BALANÇO DAS POLÍTICAS DE GESTÃO DE ATIVOS

ENTREVISTA Para uma melhor perceção do impacto na gestão de ativos a Comissão Especializada de Gestão de Ativos (CEGA) procurou recolher experiências de algumas Entidades Gestoras (EG), através da partilha do balanço das políticas implementadas, e quais os resultados que obtiveram, os que estão a ser verificados, e os que esperam que sejam obtidos, assim como as recomendações que podem ser aqui lançadas para o setor. Deste modo, foram elaboradas questões a Eduardo Medina Barbot, COO do Grupo INDAQUA, e a José Machado do Vale, Presidente do Conselho de Administração da Águas do Norte. Com os seus contributos pensamos que será pertinente a análise a um paralelo de opiniões, de uma EG que está mais vocacionada para a gestão de ativos da chamada rede “em baixa” (INDAQUA), e outra para a gestão da rede “em alta” (Águas do Norte). REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade CEGA: Na gestão de todos os ativos, antes da substituição vem a operação e manutenção. Esta observação é ainda mais relevante quando a operação e a manutenção têm um impacto relevante na vida útil e, por conseguinte, no ‘timing’ da substituição. Esta preocupação com a operação e manutenção está considerada na gestão de ativos da sua empresa? Se sim, que exemplos de boas práticas pode partilhar nessas áreas, particularmente nos ativos horizontais? José Vale: É uma opinião unânime e consensual que a correta operação e manutenção dos ativos tem um impacto muito relevante na vida útil dos mesmos, adiando consequentemente o “timing” da sua substituição. Nesse sentido, a Águas do Norte, com a criação da área de Gestão de Ativos, tem também apostado no desenvolvimento e no fortalecimento da sua área de Manutenção. Apesar das Áreas de Gestão de Ativos e de Manutenção estarem, por ora, em Direções distintas - fruto do normal crescimento deste tipo de empresas - destaca-se a aproximação cada vez mais efetiva entre ambas, bem com

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a área da Energia, sabendo-se que a componente de O&M é a que maior contributo tem, de longe, numa análise global dos ativos. Esta aproximação tem realçado as vantagens de se caminhar para uma Manutenção do tipo “CRMManutenção baseada/ centrada na fiabilidade”. Todavia, há ainda um longo caminho a percorrer, que conta com várias etapas intermédias a implementar, e por validações ainda por fazer. Fruto da importância da operação e da manutenção na avaliação dos ativos, mas também das especificidades atrás referidas, a Engenharia da Águas do Norte, responsável pelos investimentos da empresa, cedo percebeu as vantagens de chamar ao processo de “criação” de novos ativos os responsáveis daquelas áreas. Nesse sentido, está implementada a figura de uma Equipa de Avaliação Técnica, que acompanha todas as fases, da conceção à execução, passando pela operação e manutenção dos ativos, até à sua substituição/abate. Esta Equipa é constituída não só pelos engenheiros responsáveis pelo projeto e pela execução da obra, mas também por todos

os responsáveis das áreas envolvidas nos diferentes processos, em particular os colegas da área de Exploração, mas também da Sustentabilidade Empresarial, dos Sistemas de Informação, da Energia, dos Clientes no caso das obras da baixa, entre outros. No que respeita à manutenção propriamente dita, em especial das infraestruturas não lineares, a Águas do Norte tem adotado as práticas correntes, tendo a sua manutenção preventiva baseada no tempo ou na condição, a manutenção corretiva corrente, que poderá ser planeada ou não, fazendo inclusive manutenção preditiva associada a equipamentos mais críticos. Quanto aos ativos horizontais, por forma a responder diretamente à pergunta, a Águas do Norte tem abordagens distintas para as infraestruturas de águas residuais e as infraestruturas de abastecimento de água. No que respeita às Infraestruturas Lineares de Saneamento (intercetores e respetivas caixas de vista), a Águas do Norte tem optado pela Manutenção Preventiva Baseada na Condição:


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• Intercetores - foi desenvolvida uma ferramenta específica que, recorrendo ao SIG, e com a importação do ficheiro da inspeção dos coletores (CCTV), permite obter de imediato uma interpretação espacial da condição e risco de cada elemento de coletor, com a definição de uma escala de cinco cores, representativa da severidade desses atributos (essa condição e risco dos intercetores inspecionados é calculada em função das anomalias registadas segundo a norma EN 13508-2 e segundo o protocolo definido pelo WRc - Water Research Centre - UK). É ainda possível, através dessa ferramenta, a obtenção de estimativas de custos relativos à reabilitação desses intercetores, bem como a criação de diversos cenários de intervenção. É uma ferramenta central no estabelecimento de planos de intervenção prioritários. Paralelamente, a Águas do Norte tem também prestações de serviços a decorrer (de longa duração) de inspeção de coletores por CCTV e respetivas reparações/ manutenções necessárias

(encamisamento pontual, encamisamento contínuo e intervenção por vala aberta). • Caixas de Visita - a prática é em tudo semelhante à dos coletores acima referidos, apenas com a diferença de que o cálculo da condição e do risco são definidos segundo uma metodologia própria e as reparações/ manutenções necessárias nas Caixas de Visita, como a colocação de tampa/ aro novo, nivelamento da tampa, borracha de vedação, remate do pavimento, intervenções nas paredes e soleiras, escadas nova, reparações nas ligações das tubagens…, são realizadas, não pelo prestador de serviços, mas pela Área de Construção e Conservação de Infraestruturas da Águas do Norte. Quanto às Infraestruturas lineares de abastecimento de água, a Águas do Norte está a apostar na manutenção preditiva/ detetiva, tendo promovido várias contratações de serviços externos para se proceder à Modelação Hidráulica dos Subsistemas de Abastecimento de Água da empresa com vista à otimização do seu funcionamento, visando a

sua segurança operacional e estrutural, mas também a sua manutenção. O objetivo último passará por antecipar cenários de avarias, contribuindo para a longevidade das infraestruturas instaladas. Resumindo, as boas práticas que a Águas do Norte pode partilhar nesta Área da Gestão de Ativos, em especial no que está a ser efetuado nos seus ativos horizontais, é a grande aposta na Manutenção Preventiva Baseada na Condição, bem como, no desenvolvimento de ferramentas que a apoiem fortemente. É também e simultaneamente, a aposta na medição e monitorização em tempo real das suas redes (modelações e medições que permitam perceber e prever o seu funcionamento), tudo com vista ao estabelecimento de planos de manutenção e intervenção prioritários que prolonguem a vida útil dos seus Ativos, adiando consequentemente o “timing” da sua substituição. Estas apostas permitem definir também estratégias de investimento e financiamento mais sustentadas, por força do aumento da previsibilidade das intervenções a realizar. REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade Eduardo Barbot: A forte infraestruturação do País nas últimas quatro décadas faz com que as redes de água e saneamento estejam, na sua maioria, dentro da sua vida útil o que tem permitido manter o nível geral da qualidade do serviço apesar de níveis muito baixos de reabilitação. No entanto, grande parte delas entrará em breve no último ¼ dessa vida, no qual se observa uma degradação significativa de desempenho, manifestada por roturas, obstruções ou colapsos. Este é um dos maiores problemas que o setor enfrentará nas próximas décadas, dado que a sua resolução exigirá inevitáveis e extraordinárias necessidades de reabilitação, que as tarifas hoje praticadas na maioria das Entidades Gestoras não estão a acautelar.

prematuras. Esta é, aliás, uma evidência universal, a que as infraestruturas de água e saneamento não escapam.

Por outro lado, sabemos que a operação adequada e a manutenção eficaz de qualquer ativo são críticas para a sua preservação e longevidade. Uma gestão que não observe estes princípios básicos traduzse em perdas de qualidade de serviço, em prejuízos ambientais e em custos acrescidos com desperdícios, reparações e substituições

Para a INDAQUA este é, assim, um tema central, considerado em toda as etapas do ciclo de vida das infraestruturas que concebe, constrói e opera. Os exemplos de boas práticas são múltiplos e em muitos casos de fácil implementação, começando naturalmente na conceção dos ativos e no seu cadastro. Ao nível das redes de água,

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Assim, a profissionalização da operação e manutenção dos ativos parece-nos essencial, dado que permite ganhar tempo na contagem decrescente que os aproxima do fim da respetiva vida útil, ou até concretizar um incremento da vida útil dos ativos. Entretanto, esta circunstância assegura a redução das perdas de água, com os ganhos económicos que serão uma excelente fonte de financiamento das obras de reabilitação que, inevitavelmente, ocorrerão no futuro, contribuindo ainda para consubstanciar a famigerada recuperação de gastos que uma entidade gestora deve assegurar.

a redução e estabilização de pressões, a pesquisa ativa de fugas, a inspeção e manutenção de válvulas reguladoras e ventosas, ou a sensorização e monitorização permanente de desempenho, são apenas alguns que, parecendo evidentes, continuamos sem ver implementados em muitas entidades gestoras nacionais. Já nas redes de saneamento, a deteção e eliminação de afluências indevidas, a limpeza e reparação de pequenas avarias, a sensorização e monitorização, são também exemplos de ações que nos parecem essenciais. CEGA: Na gestão de ativos o planeamento é crucial tendo aqui uma inultrapassável perspetiva de muito longo prazo com reflexos tarifários importantes. Como é assegurado o alinhamento entre o planeamento de médio-longo prazo da gestão de ativos e os modelos financeiros que determinam as tarifas aplicáveis? José Vale: A tarifa do Sistema Multimunicipal de Abastecimento e Saneamento do Norte de Portugal reflete o plano de investimentos,


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do qual fazem parte não só os investimentos novos e de integração, como também os investimentos de substituição/renovação dos ativos existentes. Dito isto, e sabendo-se que foi na primeira década do presente milénio que se realizou a esmagadora maioria do plano de investimentos inicial, percebe-se que é chegada a hora dos investimentos de substituição/renovação, até por força da idade dos ativos construídos, mas sobretudo dos integrados. Razão pela qual a Águas do Norte elegeu a certificação da implementação do seu Sistema de Gestão de Ativos como um dos principais objetivos de gestão nos últimos anos, que visa, entre outros aspetos, dotar a empresa de critérios objetivos de seleção e priorização destes investimentos. Note-se que o Estudo de Viabilidade Económica e Financeira vigente prevê um total de 89,8 milhões de euros associados a investimentos de substituição/renovação de ativos, no período compreendido entre 2017 e 2045. Que o valor realizado no 1.º quinquénio de atividade da Águas do Norte

(que, recorde-se, resulta da agregação das ex-empresas Águas do Noroeste e Águas de Trás-os-Montes e Alto Douro) é praticamente coincidente com o planeado, ou seja, 10,5 M€ realizados versus 10,3 M€ planeados. Devido à idade média dos seus ativos, a concretização da métrica associada à eficiência do SMM “Gastos com manutenção e investimento de substituição em % do imobilizado bruto da Entidade Gestora” [(S+M)/ IMOB; 08%-1,0%] em 2020 revelou-se, como seria de esperar, inferior aos valores de referência. Com o avançar da idade dos ativos, apesar da adoção simultânea das melhores práticas na Gestão dos seus Ativos, é expectável uma tendência crescente dessa mesma percentagem. Aliás, a revisão do EVEF em curso prevê a inclusão de valor adicional nos gastos de manutenção (corretiva e preventiva) e investimento de substituição, pelo menos, até ao patamar mínimo do intervalo indicado (0,8% do imobilizado bruto). Eduardo Barbot: Mesmo que na prática tal não aconteça, na generalidade das Entidades Gestoras, os modelos de regulação

preveem que os custos de investimento, financiamento e operação sejam cobertos pelas tarifas cobradas aos consumidores. Quer isto dizer que as Entidades Gestoras poderão prever as necessidades de investimento em remodelação, com base no cadastro das suas infraestruturas, cuja importância de fiabilidade mais uma vez sublinhamos, e em previsões de vida útil mais ou menos conservadoras, ajustando as suas trajetórias tarifárias em função dessas necessidades. No entanto, em muitas das Entidades Gestoras esse alinhamento não existe. As tarifas não cobrem as necessidades de investimento, que acaba por ser executado quando a performance das infraestruturas é politicamente insustentável e não no momento certo, que ocorrerá previsivelmente no último ¼ da vida útil das infraestruturas, em que estas entram em fase de degradação acelerada, mas que deverá ser identificado através da monitorização permanente da sua performance. Ambas as situações promovem que em muitos casos paguemos (ou REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade venhamos no futuro a pagar), através de tarifas ou de impostos, custos com a substituição de ativos antes de esta ser efetivamente necessária ou, como será mais provável, ineficiências de operação resultantes de ativos que já esgotaram a sua vida útil. No modelo de gestão concessionada, sob o qual a Indaqua opera, as tarifas são definidas na contratação resultante de um concurso público, não podendo ser ajustadas pelo concessionário em função de necessidades de investimento que identifique. Na generalidade dos contratos em vigor em Portugal, é assim do concessionário o risco associado à reabilitação de ativos, que terá de ser previsto na formulação da sua proposta. Este vê-se assim obrigado a assegurar uma gestão muito cautelosa dos seus ativos, com a adoção de procedimentos que prolonguem a sua duração tanto quanto possível, mas que em simultâneo permitam identificar o momento ideal para a sua substituição. A falha no cumprimento desse princípio resulta em perda de valor que não pode ser repercutida nas tarifas.

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CEGA: Os fenómenos esperados das alterações climáticas (secas mais prolongadas e fenómenos de precipitação intensa) vão ter impacto na vida útil individual dos ativos atuais e nas necessidades de resiliência dos mesmos. Como se estão e incorporar estas tendências quer ao nível do planeamento da substituição dos ativos atuais quer numa perspetiva de visão global dos sistemas? José Vale: Infelizmente, os fenómenos resultantes das alterações climáticas são já uma realidade na Águas do Norte, em especial nos anos caracterizados pela seca, e que têm afetado sobretudo o nordeste do território. Razão pela qual alguns dos investimento realizados, ou em curso, têm por objetivo minimizar as consequências destes fenómenos, como seja a instalação de uma comporta no descarregador de cheias da Barragem de Pretarouca para aumento do volume total de armazenamento de cerca de 950.000 m3 (mais 30% do volume inicial), na adaptação de origens alternativas, por exemplo o reforço ao abastecimento das áreas cobertas pela

captação na albufeira de Vila Chã, em Alijó, a que acresce a ligação ao Subsistema do Pinhão, no qual se procedeu à beneficiação das ETA do Pinhão, do Sôrdo e do Alvão, cujos sistemas estão interligados, por forma a torná-los mais resilientes, e a ligação entre os subsistemas do Alto Rabagão e do Arcossó. Também os fenómenos de precipitações intensas, cada vez mais presentes, têm merecido a atenção da Águas do Norte, em especial nos subsistemas localizados no noroeste do seu território, com a Aquisição de Serviços de Modelação Hidráulica de Subsistemas de Águas Residuais críticos. Estes serviços têm por principais objetivos, não só a redução das afluências indevidas, mas também a otimização do seu funcionamento, baseada na monitorização em tempo real (modelações que nos permitam perceber e prever o funcionamento das redes). Todavia, os esforços da Águas do Norte não se limitam apenas à execução de obras/estudos pontuais, pretendendo-se, sobretudo, dar cobertura a uma visão estratégica que está já em curso, e que tem sido vertida nas últimas revisões do EVEF.


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Assim, e no âmbito da revisão do EVEF em curso, está previsto um conjunto de ações associadas às medidas de adaptação às alterações climáticas. Esse conjunto de intervenções tem associado um plano de investimentos de cerca de 53,2 M€, a realizar no período entre 2021 e 2025, e que contempla, em linha gerais, a interligação de Subsistemas de Abastecimento de Água, com vista à diversificação das origens de água, aumentando-se a segurança do abastecimento num cenário crescente de fenómenos climáticos extremos, e investimentos associados à Economia Circular, com vista à implementação do Plano de Ação Regional de ApR (Água para Reutilização) e a reutilização das lamas provenientes do tratamento das águas residuais (Plano Lamas). De referir, igualmente, o Programa ZERO – Neutralidade Energética, a implementar no Grupo Águas de Portugal. No que respeita à Águas do Norte, este representa um investimento de cerca de 58 M€, a realizar entre 2021 e 2030. A implementação do programa assentará em dois pilares essenciais: do

ponto de vista da Eficiência Energética, com a adoção das melhores políticas de gestão operacional (operação e manutenção), seja por via da atuação operacional, seja por via da melhoria de eficiência dos seus ativos; no que respeita à produção própria de Energia, assentando num primeiro objetivo de produção para autoconsumo, seja este direto ou por via de comunidades energéticas. Eduardo Barbot: Para enfrentar as consequências das alterações climáticas, designadamente a ocorrência mais frequente de fenómenos meteorológicos extremos, mantendo níveis de serviço semelhantes aos atuais, as entidades gestoras serão obrigadas a operar sistemas de abastecimento de água e de drenagem e tratamento de águas residuais menos sensíveis a fatores exógenos e mais resilientes. Ao nível do abastecimento, as Entidades Gestoras vão ter de adaptar-se a cenários de redução da disponibilidade de água nas origens que até aqui exploramos, tanto por ausência de precipitação por períodos alargados, como por consumos excessivos em momentos de calor extremo.

Essa adaptação pode ser feita através de novos investimentos para reativação e reforço de captações, reservas ou dessalinizações, o que implicará, mais uma vez, custos significativos de construção e operação que as tarifas hoje praticadas não pagam. Mas, antes disso, a adaptação tem de começar já, através da redução das perdas reais para valores adequados, ação que em muitos casos pode por si evitar futuros problemas de escassez, através da redução da pressão sobre os recursos hídricos. No fundo, antes de realizarmos investimentos extraordinários no aumento da oferta, devemos garantir a redução da procura, através de uma gestão eficiente de um recurso que sabemos que será ainda mais escasso. Já no que respeita à drenagem e tratamento de águas residuais, é necessário reduzir a exposição das redes a fenómenos de precipitação extrema. Tal apenas se conseguirá com um trabalho sistemático de deteção e eliminação de ligações indevidas de águas pluviais às redes de saneamento, que complementem a criação e monitorização de condições de estanquidade REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade das infraestruturas. O princípio será semelhante ao utilizado na gestão da rede de água, assegurando que, antes de executarmos investimentos no aumento da capacidade dos sistemas ou de tornarmos aceitável a sua frequente sobrecarga, é feita uma gestão eficiente da rede. No Grupo INDAQUA, atuamos de forma sistemática nas duas vertentes, o que nos permite assegurar performances de referência nas nossas operações e olhar com algum otimismo para a capacidade dos sistemas que operamos responderem a fenómenos meteorológicos extremos. Estamos, contudo, atentos à evolução dessa temática, designadamente nos mais recentes e inovadores contributos que possam vir a existir no que concerne à adaptação e oferta de resiliência aos ativos, com a finalidade de evitar ou atenuar as repercussões das alterações climáticas. CEGA: Para o referido planeamento a informação de base dos ativos e da sua condição é essencial. Como vê a qualidade atual desta informação de base, nomeadamente em termos caracterização, localização

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e estado dos ativos na sua organização? José Vale: As Bases de Dados dos Ativos são instrumentos estratégicos na gestão operacional, mas também contabilística, dos subsistemas de abastecimento de água e de águas residuais, que constituem o património das Águas do Norte. Só um cadastro coerente e harmonizado pode contribuir para uma correta e eficiente gestão do ciclo de vida dos Ativos da empresa. Nesse sentido, levou-se a cabo, ao longo dos três últimos anos, um trabalho de levantamento no terreno dos ativos em cerca de duas mil instalações, das quais resultou um inventário com mais de 70 mil ativos. Este universo de ativos resulta num processo complexo, estando atualmente cerca de 80% do universo dos ativos devidamente carregado no Sistema de gestão, tratandose de um trabalho contínuo que nos tem permitido aperfeiçoar a fiabilidade e qualidade da informação de base dos ativos, que já hoje podemos dizer ser bastante satisfatória, embora conscientes de termos um longo caminho a percorrer de

recolha, registo e atualização de informações relevantes para a base da gestão de ativos. Apesar dos esforços em curso, nomeadamente a elaboração de Instruções de Trabalho e Procedimentos internos dedicados, todas eles com referências à atualização e/ou inventariação de todo e qualquer ativo operacional existente nas infraestruturas da Águas do Norte, estamos cientes das fragilidades e lacunas destes processos tão complexos, pelo que cedo se percebeu que tínhamos de dotar os nossos colaboradores, em especial os que visitam regularmente as infraestruturas, de ferramentas que pudessem contribuir para a correção de falhas ou lacunas de informação por eles detetadas, sempre sujeitas a validação por parte da equipa do Sistema de Informação Geográfica (SIG), numa perspetiva de melhoria continua. Assim surgiu o projeto SIGAME. Tudo indica que a familiaridade com a ferramenta permitirá ganhos de competências, que poderão revelar-se muito interessantes para o Sistema de Gestão do Conhecimento, mas sobretudo para o


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Sistema de Gestão de Ativos em implementação. O conhecimento dinâmico e sempre atualizado dos nossos ativos é um pilar chave para uma gestão mais consciente dos mesmos. A aplicação SIGAME potencia este conhecimento e, acima de tudo, envolve e responsabiliza as pessoas/colaboradores pelo seu contributo em todo o processo. Está também em curso um trabalho de reconciliação financeira de todos os ativos físicos operacionais da empresa, que contempla o trabalho de cadastro técnico que está já a finalizar. Muito em breve, contamos ainda levar a cabo a avaliação da condição, quer das infraestruturas, quer dos ativos principais associados a essas infraestruturas, na perspetiva de se ter o máximo conhecimento no apoio à priorização dos investimentos disponíveis para o efeito. Falamos num conhecimento sistemático, que potencia a criação de valor, na medida em que se apresenta devidamente estruturado, i.e., que facilita a transformação dos dados gerados num conhecimento cada vez mais efetivo. Começam assim a ficar disponíveis as

fundações para abordagens diferenciadoras, cada vez mais disruptivas, onde a IA é apenas mais uma ferramenta ao serviço das pessoas que gerem os ativos. Eduardo Barbot: Nas empresas do Grupo INDAQUA o grau de conhecimento infraestrutural é muito elevado. Para além dos sistemas de informação geográfica, utilizados em todas as nossas operações há já muitos anos, dispomos de diversas outras ferramentas que nos permitem recolher informações detalhadas sobre as infraestruturas e monitorizar permanentemente o seu desempenho. Entre outras, incluem-se sensores diversos, sistemas de telegestão, sistemas avançados de monitorização de caudais, sistemas de gestão da manutenção e de ordens de serviço baseadas em mobilidade, ou registos CCTV. É, aliás, o conhecimento profundo das infraestruturas que operamos, complementado com a capacidade analítica e de correlação de dados inerente a um Grupo como o nosso, que suporta tecnicamente decisões céleres, que privilegiamos, e sempre

baseadas em critérios de razoabilidade técnica e económica, e de risco. Não obstando, parte do cadastro das infraestruturas horizontais operadas pelas nossas concessões, designadamente das que foram recebidas dos nossos concedentes, foi executada quando aquelas já se encontravam no subsolo. Assim, a fiabilidade dessa informação é condicionada pelos elementos visíveis das redes e pela memória das pessoas que acompanharam a fase de construção, mas continuamente melhorada pelas evidências recolhidas pelos nossos operadores nas suas múltiplas intervenções, bem como pelos trabalhos de modelação matemática, designadamente na fase da calibração dos modelos. CEGA: O que o mercado nos oferece de momento, do ponto de vista do software e equipamentos, é suficiente para as entidades garantirem uma correta gestão de ativos, ou ainda existe um caminho a percorrer? As próprias entidades gestoras poderão ter um papel determinante no desenvolvimento de soluções, internamente ou em parceira com empresas REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade externas, que possam trazer mais valor para a gestão de ativos? José Vale: É nosso entendimento que o mercado tem inúmeras soluções que permitem às entidades garantir uma gestão de ativos eficiente, mesmo sob os padrões de exigências mais elevados. Todavia, a implementação dessas soluções obriga a que, regra geral, as empresas adaptem os seus processos internos para que possam responder da melhor maneira aos requisitos impostos por soluções standard. Embora seja justo referir que existem soluções bastante flexíveis, com uma boa capacidade de adaptação às práticas de cada empresa. No caso da Águas do Norte, uma vez que já detinha um Software de Gestão da Manutenção em pleno funcionamento, com alguns anos de implementação, não existia uma pressão excessiva na implementação de um Software complementar de apoio à Gestão de Ativos, pelo que os primeiros passos deram-se com a implementação do Sistema de Gestão de Ativos propriamente dito, logo

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seguido da sua certificação, por forma a dar garantias de um começo adequado. Dado o histórico da empresa, que resulta da agregação de duas ex-empresas, sendo que uma delas era já resultado da agregação de três outras ex-empresas, optouse por uma abordagem centrada na evolução da situação existente. Nesse sentido, a primeira necessidade prendeu-se com a harmonização de práticas distintas, consoante a empresa de origem. Depois procurou-se democratizar a linguagem da Gestão de Ativos pelas diferentes áreas da empresa, no sentido da apreensão do conhecimento sem qualquer esforço. E esta linguagem assenta na árvore dos ativos e das suas localizações, que não era a mesma nem nas exempresas, nem nas diferentes áreas da então Águas do Norte. É fácil perceber a complexidade sentida na primeira abordagem à implementação do Sistema de Gestão de Ativos, e à sua certificação de acordo com a ISO 55001. Todavia, esta dificuldade cedo se transformou numa oportunidade, na medida em que cedo se percebeu

a necessidade de construir um modelo próprio, que sentisse as dificuldades de uma organização com as vicissitudes da Águas do Norte e do seu contexto regional. Também o facto de ter sido uma das primeiras empresas a aventurarse nesta disciplina, tenha ditado a originalidade da abordagem. Não queríamos estar reféns do que o mercado tinha para oferecer, nem de colagens às abordagens de outros, pelo menos antes de sabermos exatamente o caminho que queríamos traçar. Tentámos, isso sim, e desde a primeira hora, perceber o que de bom se ia fazendo nas empresas nacionais e internacionais, mas sempre focados na nossa dinâmica própria, pois as práticas instituídas já vinham de trás, com alguns anos de implementação, sendo que, apesar da área da Gestão de Ativos estar a dar os primeiros passos, a gestão dos ativos já ia acontecendo, se bem que numa base de conhecimento mais empírica. Se algum sucesso tivemos, deveu-se a este espírito de exigência, no sentido de procurarmos as soluções que verdadeiramente considerávamos como úteis, no sentido de acrescentar valor.


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Foi assim que surgiu o ÓTIMA - uma ferramenta de Gestão de Ativos nascida à medida. Sabemos bem que não é tão robusta como serão as soluções do mercado, mas tem seguramente a vantagem de ser simples, adaptável e, porventura o mais importante, de ser à nossa medida, criando sinergias imediatas, que nos ajudam a crescer, sendo, por hora, o corolário da nossa Estratégia de Reabilitação e Renovação de Ativos. Não escondemos a ambição por um EAM (Enterprise Asset Mangement), mas também entendemos que este caminho era absolutamente necessário, quanto mais não fosse para nos dar a capacidade crítica para ir ao mercado na busca da solução que melhor possa refletir a nossa estratégia de Gestão de Ativos. Eduardo Barbot: Antes de mais, importa perceber que uma gestão de ativos adequada não implica o recurso a ferramentas e softwares dispendiosos. Pode tornar-se tão complexa e dispendiosa quanto se pretenda, mas é perfeitamente possível fazê-la eficazmente com poucos recursos e o mercado disponibiliza já soluções.

Importa também referir que os melhores softwares e as melhores ferramentas podem tornar-se inúteis, se não forem corretamente (ou de todo) utilizadas. Assim sendo, mais do que investir em ferramentas dispendiosas, importa assegurar a capacitação técnica das entidades gestoras, o alinhamento das suas equipas e o foco consistente na melhoria de desempenho, designadamente dos seus ativos, condições essenciais para a efetiva utilização das ferramentas já disponibilizadas. Reconhece-se, de qualquer forma, que esta é uma área em que, face à abundância de dados disponibilizados pelos múltiplos sensores e pelos sistemas operacionais, caminharemos para o aperfeiçoamento de ferramentas capazes de criar modelos preditivos cada vez mais complexos, que auxiliarão a tomada de decisão sobre a gestão de ativos. As Entidades Gestoras, detentoras destes dados e tecnicamente mais apetrechadas, farão com certeza parte desse desenvolvimento tecnológico. Importa não esquecer que a eficácia de todos os modelos

preditivos depende, antes de mais, da qualidade dos dados de base, pelo que importa nunca esquecer que é essencial assegurar a qualidade dos registos associados a esses dados. Na verdade, já hoje, algumas Entidades Gestoras com melhores práticas na gestão de ativos desenvolvem e implementam ferramentas, internamente ou com apoio de software houses, que as apoiam na tomada de decisão. A título de exemplo, a INDAQUA desenvolveu nos últimos anos softwares como o i2WaterFlow, para gestão avançada de redes de água e saneamento, o i2WaterBoard, que suporta a implementação da estratégia de uma organização e monitoriza o seu desempenho, ou o i2WaterMeter, usado na otimização do parque de contadores. CEGA: Considera os ativos, apesar de essenciais para a prestação do serviço, como um “peso financeiro” necessário de suportar, ou uma oportunidade e um “veículo” para garantir a eficiência operacional? José Vale: As concessões dos Sistemas Multimunicipais de água e saneamento REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade integraram infraestruturas existentes e fizeram grandes investimentos para levar água de qualidade às populações servidas e para garantir o equilíbrio ambiental. São empresas de capital intensivo que geraram dívida que tem de ser recuperada nos prazos das concessões com tarifas equilibradas. A boa gestão dos ativos e a digitalização das operações permitem garantir a eficiência operacional. É a pensar neste binómio que a aposta na Gestão dos Ativos está pensada na Águas do Norte. Ao longo deste questionário já se abordaram os benefícios alcançados com o adiamento da substituição dos ativos, em especial dos ativos horizontais, conseguidos à custa da implementação das melhores práticas de operação e manutenção, mas também de otimização/beneficiação da sua conceção. Todavia, nem sempre deve ser esta a prática, quando equipamentos há que, pela sua especificidade, mas sobretudo pela inovação constante do mercado, obrigam a uma monitorização completa por forma a se perceber qual o exato momento para a sua “transformação”, seja esta

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uma mera substituição por outros mais eficientes, seja uma alteração da arquitetura do sistema em causa, ou seja o que tiver de ser. Posto isto, o dito “peso financeiro” poderá, quando muito, ser uma realidade nas empresas que descurem a Gestão dos seus Ativos, daí a importância da implementação de um Sistema de Gestão de Ativos coerente e adaptado, cuja revisão pela gestão tem de ser uma constante. Acresce referir que nas empresas que prestam serviços básicos, essenciais ao bem-estar das comunidades, como é o caso da Águas do Norte, a necessidade de ter um Ativo em perfeitas condições de funcionamento é imprescindível. O Ativo, se crítico, terá de cumprir a sua função em perfeitas condições, porque assegura um serviço essencial, que não pode faltar, nem pode falhar. E isto é uma certeza! Se no primeiro parágrafo vimos o desempenho e o custo dos ativos, agora falamos no risco desses ativos, razão pela qual a aposta da Águas do Norte na certificação na norma de gestão de ativos, ISO 55001, tendo já este ano sido bem-sucedida a auditoria

externa à manutenção desta certificação. O objetivo passa pela maximização do balanço entre os benefícios e os custos dos ativos durante o seu ciclo-de-vida promovendo a sua rentabilização e assegurando níveis de serviço adequados e sustentáveis no curto, médio e longo prazo. Mas também se deve realçar a aposta da Águas do Norte na eficiência energética dos seus ativos e das suas instalações, e a Certificação na norma ISO 50001 é disso um real exemplo. Eduardo Barbot: Na verdade, os ativos não deixam de ser um meio necessário para atingir um fim, que no nosso caso é o de abastecer água de excelente qualidade e o de proteger o ambiente, através do tratamento das águas residuais antes da sua devolução ao meio hídrico. No entanto, constituem também a forma mais eficaz que hoje conhecemos de cumprir esses objetivos, pelo que as sociedades não prosperam sem a sua existência. Assim sendo, vemos os ativos que concebemos, construímos e operamos,


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como a base da nossa atividade, sem a qual não teríamos um produto ou um serviço a entregar aos nossos clientes. Olhamos assim para eles não como um peso financeiro, mas como a máquina que temos de operar, manter e afinar, ou um “músculo” que com as orientações e gestão do “cérebro” dos nossos recursos, nos permite disponibilizar produtos e serviços dentro dos padrões de qualidade que definimos, garantindo a sua máxima eficiência. Importa, por fim, relevar que o nível de eficiência no setor apresenta ainda uma grande margem de melhoria, designadamente ao nível das perdas de água, que de acordo com os dados publicados no RASARP se mantêm há vários anos próximas dos 30%, nos sistemas em baixa. Nesse sentido, a margem de melhoria identificada constitui, por si, uma oportunidade para financiar os investimentos de reabilitação futuros e garantir a eficiência operacional dos sistemas, crucial para manter os ativos de “boa saúde”. CEGA: Que recomendações consideram importantes e/

ou impreteríveis para o setor, designadamente nas políticas de gestão de ativos? José Vale: A sustentabilidade do setor depende, mais do que nunca, das políticas de Gestão de Ativos. Não pode estar simplesmente dependente de balanços financeiros, se estes não assentam em regras transparentes muito bem definidas, que devem ter como principal pilar a avaliação credível dos seus ativos. Naturalmente que esta é uma avaliação muito complexa, que deve cruzar conhecimento técnico com informação financeira, mas cujo contexto é essencial na melhor ponderação dos diferentes fatores. Daí a necessidade pela implementação de Sistemas de Gestão de Ativos credíveis, que possam refletir as diferentes variáveis, e que sejam o garante de modelos fidedignos, que evidenciem vantagens e inconvenientes associados às diferentes opções que se possam equacionar. A complexidade de um Sistema de Gestão de Ativos obriga a que cada caso seja um caso, i.e., que cada sistema seja

implementado de acordo com o respetivo contexto e que seja avaliado per si. Neste sentido, a garantia da certificação parece-nos o caminho mais adequado, desde que valorizadas as diferenças necessárias, com aprendizados constantes e convergências vantajosas. O objetivo último deverá ser a constituição de bases comparáveis, que permitam a avaliação de soluções diferentes, conhecendo, à partida, condicionantes específicas, que possam estar associadas a modelos particulares. Hoje, os problemas já não estão tanto na capacidade de análise, fortemente suportada, mas antes na capacidade de obter informação que resulte em conhecimento. Eduardo Barbot: Como já referimos, a forte infraestruturação das últimas quatro décadas faz com que as redes de água e saneamento estejam, na sua maioria, dentro da sua vida útil. Assim sendo, aos dias de hoje, o nível de investimento em reabilitação de infraestruturas de água e saneamento em Portugal é baixo, mas adequado. No entanto, grande parte dessas infraestruturas aproxima-se REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade do fim da sua vida útil, o que antecipa inevitáveis e extraordinárias necessidades de reabilitação, que as tarifas hoje praticadas na maioria das Entidades Gestoras não pagarão. Reiteramos, assim que será urgente a profissionalização da operação e manutenção dos ativos do Setor, que permitirá ganhar tempo na contagem decrescente em curso. Deverá também ser permanentemente monitorizada a performance dos ativos, por forma a que a sua reabilitação seja feita cirurgicamente e apenas mediante um racional económico, e/ou uma avaliação de risco com base em matrizes elaboradas dentro dos objetivos estratégicos de cada Entidade Gestora.

Será por outro lado importante a avaliação cautelosa do financiamento “grátis” proveniente de fundos europeus, que poderá distorcer prioridades e ser contraproducente, privilegiando por exemplo soluções de remodelação de infraestruturas mal operadas, ou de reforço de capacidade de produção de água em detrimento de soluções de poupança das origens hoje disponíveis. Lembre-se que, mesmo o financiamento a fundo perdido tem sempre o custo de oportunidade. Por fim, será indispensável promover-se a redução das perdas de água, com os ganhos económicos que serão uma excelente fonte de financiamento para a obras de reabilitação que,

“A sustentabilidade do setor depende, mais do que nunca, das políticas de Gestão de Ativos. Não pode estar simplesmente dependente de balanços financeiros, se estes não assentam em regras transparentes muito bem definidas, que devem ter como principal pilar a avaliação credível dos seus ativos.” José Vale

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inevitavelmente, ocorrerão no futuro. A eficiência hídrica é um pressuposto que tem de estar, sempre, subjacente à atividade das entidades gestoras, porque consubstancia, efetivamente, “mais e melhor” aos ativos constituintes dos sistemas. Paralelamente, é imprescindível garantir que as entidades gestoras planeiam devidamente as suas necessidades de investimento em reabilitação, presentes e futuras, adequando os seus tarifários às expectáveis necessidades de financiamento. Só dessa forma será possível assegurar a disponibilidade de meios para agir no momento certo.

“Paralelamente, é imprescindível garantir que as entidades gestoras planeiam devidamente as suas

necessidades de investimento em reabilitação, presentes e futuras, adequando os seus tarifários às expectáveis necessidades de financiamento.” Eduardo Barbot


EXPERIÊNCIAS DE ALGUMAS ENTIDADES GESTORAS - BALANÇO DAS POLÍTICAS DE GESTÃO DE ATIVOS

ÁGUA, ONDE A VIDA SE MULTIPLICA

A VALORIZAR A ÁGUA E A VIDA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS

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# atualidade

A importância da Resiliência dos Ativos “Neste processo, a análise António Eusébio Presidente do Conselho de Administração da Águas do Algarve

Mestre em Construção pelo Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa. Licenciado em Engenharia Civil pela Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Algarve. Especialista em Direção e Gestão da Construção. Docente da Universidade do Algarve desde 1992. Presidente de Câmara Municipal de São Brás de Alportel de 2002 a 2013. Administrador não Executivo da Águas do Algarve, SA entre 2002 e 2003. Administrador não Executivo da Empresa ALGAR, SA entre 2006 e 2007 e entre 2010 e 2012. Secretário Executivo da Comunidade Intermunicipal do Algarve, CI-AMAL, entre 2013 e 2015. Deputado da Assembleia da República, XIII Legislatura, entre 2015 e 2018. Administrador Executivo da Águas do Algarve, SA entre 2018 e 2020.

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e

avaliação dos ativos são uma constante, no cumprimento das orientações dos instrumentos de planeamento estratégicos

de médio e longo prazo, para permitir ao decisor uma hierarquização de investimentos associados às intervenções previstas.”


A importância da Resiliência dos Ativos

J

á serão poucos aqueles que ainda se lembram das fragilidades do sistema de abastecimento de água que o Algarve tinha na década de noventa, onde, em época alta, os cortes eram habituais e a qualidade da água uma preocupação constante. Uma região com cerca de 470 mil habitantes que mais que triplica nos meses de verão, suportada numa

economia em que o turismo predomina, viveu várias décadas assente em sistemas de pequena dimensão, de escala municipal, com procedimentos e tecnologias muito díspares, e consequentemente, sem homogeneidade nos serviços e com diferenças muito significativas na qualidade. Na prática, os sistemas de abastecimento de água para consumo humano e de tratamento de águas residuais eram uma mistura

de 16 sistemas “desligados”, sem condições de segurança e robustez resultantes da ausência de interligação entre sistemas e pela falta de escala de cada um per si. Os decisores locais e nacionais, compreendendo o problema, iniciaram um caminho assente numa visão clara para o setor na região: garantir o abastecimento de água para consumo humano e o tratamento de águas residuais de acordo com os mais elevados padrões REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade de qualidade e fiabilidade, respeitando as normas mais exigentes. Esse caminho iniciou-se pelo abastecimento de água e pela transição de sistemas de base municipal para dois sistemas intermunicipais (Sotavento e Barlavento) que permitiram unir tutela e autarcas nessa missão, apostando sempre numa perspetiva de melhoria contínua dos padrões de qualidade inerentes aos seus processos, minimizar os consumos de recursos naturais e transformados, permitindo a aplicação de tarifas equilibradas, adequando recursos técnicos e humanos, numa lógica do estritamente necessário, promovendo o desenvolvimento da atividade dentro dos compromissos assumidos, por forma a contribuir para a melhoria da saúde pública e do ambiente da região. Num ápice, e sem obstáculos de maior, a região transitou rapidamente de sistemas municipais para um sistema regional, durante alguns anos assente em dois subsistemas. O sucesso na concretização da visão para o abastecimento de água para

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consumo humano abriu o caminho para um renovado e igualmente mobilizador desafio: a construção de um sistema multimunicipal de tratamento de águas residuais assente nos mesmos pressupostos e ao qual todos os parceiros se entregaram com a mesma energia do desafio anterior, reforçados na convicção, com a aprendizagem e o sucesso no caminho já percorrido na criação do sistema multimunicipal de abastecimento de água. Assim, desde o ano 2000 a Águas do Algarve, S.A. é uma concessionária em “alta” pertencente ao Grupo Águas de Portugal, SGPS, S.A. e detém a concessão de abastecimento de água para consumo humano e tratamento de águas residuais para a região do Algarve. A Concessão atribuída à Águas do Algarve teve e tem por objetivo a garantia da qualidade, a continuidade e a eficiência dos serviços públicos de águas e águas residuais, no sentido da proteção do ambiente e da sustentabilidade económico financeira do setor, da proteção do ambiente do bem-estar das populações

e acessibilidade ao serviço, num quadro de equidade e estabilidade tarifária. No decurso da sua atividade, concretizando a sua missão, contribuiu para alcançar metas previstas nos planos e programas nacionais, cumprindo as obrigações decorrentes do normativo comunitário. Pelo caminho foi necessário investir em ativos que respondessem a tal desígnio numa perspetiva de alinhamento com a estratégia global de desenvolvimento da região. O sistema multimunicipal de abastecimento de água e de saneamento é dos investimentos mais importantes dos últimos anos no Algarve, dos pontos de vista do desenvolvimento sustentável, da diversidade e complexidade técnica, bem como, da dimensão e extensão do investimento na Região, o qual ultrapassou os 630 milhões. de euros, até 2018. Do ponto de vista técnico, trata-se do desenvolvimento de um projeto com objetivos muito claros, visando aplicar a uma situação regional específica as mais recentes


A importância da Resiliência dos Ativos

conceções e práticas de tratamento e adução de água para consumo humano e tratamento e destino final de águas residuais. Por isto, dotámos a região do Algarve de um sistema seguro, do ponto de vista da saúde pública dos cidadãos, melhorámos os níveis de atendimento e promovemos a qualidade ambiental, designadamente a qualidade da água das praias, rios e lagoas do Algarve, que são fator essencial para o bem-estar da população e para o desenvolvimento económico e turístico da região.

O novo e atual sistema multimunicipal de abastecimento de água e saneamento do Algarve, que substitui os extintos sistemas multimunicipais, foi criado em 2019, na sequência da nova concessão do Estado Português, por um período de 30 anos, pelo do Ministério do Ambiente e Transição Energética. Os municípios abrangidos pelo sistema são os que constituem toda a região do Algarve, e foram peças chave no caminho percorrido, designadamente: Albufeira, Alcoutim, Aljezur, Castro Marim, Faro, Lagoa, Lagos,

Loulé, Olhão, Monchique, Portimão, São Brás de Alportel, Silves, Tavira, Vila do Bispo e Vila Real de Santo António. Atualmente a Empresa exerce duas atividades reguladas que constituem serviços de interesse económico geral, indispensáveis ao bem-estar das populações, ao desenvolvimento das atividades económicas e à proteção do meio ambiente: abastecimento público de água e saneamento de águas residuais, estando a preparar-se para exercer uma terceira atividade, prevista no DL n.º 119/2019, que estabelece

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# atualidade o regime jurídico de produção de água para reutilização obtida a partir do tratamento de águas residuais, bem como da sua utilização.

estruturante, sendo por isso essencial que o seu uso seja realizado por princípios de racionalidade e eficiência, por isso, o planeamento e a gestão da água são um dos mais importantes desafios que se colocam à sociedade contemporânea, que não poderá deixar de olhar para estas questões sem perder de vista a sua natureza complexa, estratégica e multidisciplinar.

apresentam, na sua maioria, o desgaste resultante de mais de 20 anos de utilização, com sistemáticas necessidades de manutenção corretiva, com reabilitações de órgãos e substituições de equipamentos e com a necessidade de construção de novos equipamentos para adequação à atual realidade da região, no cumprimento do referido contrato de concessão.

Por isso, a empresa encontra-se numa das fases mais importantes da sua existência, onde a Importância da Resiliência dos Ativos é encarada como um fator chave na estratégia futura, de facto, a qualidade e fiabilidade dos serviços estão hoje num patamar muito elevado, permitindo que abracemos um novo e aliciante desafio: o reforço da robustez e resiliência do sistema e dos seus ativos, preparando-o para garantir níveis de serviço em contexto de crescente escassez do recurso principal da nossa atividade.

O acesso a água de boa qualidade e em quantidade suficiente, é um pilar essencial para assegurar a qualidade de vida dos cidadãos e o funcionamento adequado dos diferentes setores socioeconómicos. A escassez de água e as secas têm, assim, um impacto significativo em múltiplas esferas da atividade humana (abastecimento público, agricultura, indústria, turismo, energia, transportes), mas também no âmbito mais vasto dos recursos naturais em geral, sobretudo devido aos efeitos negativos nos ecossistemas e na biodiversidade, no risco de incêndios florestais e na degradação dos solos.

Com a assinatura do contrato de concessão em 2019, a concessionária assumiu a responsabilidade sobre a conceção, projeto e construção das infraestruturas, assim como a aquisição dos equipamentos necessários à exploração do mesmo, ao longo de todo período de concessão.

A água é um recurso vital, escasso, estratégico e

As infraestruturas que integram os sistemas

Após 20 anos de existência da Águas do Algarve, todos reconhecem a importância da empresa na região, a qual transformou o setor do abastecimento de água e do saneamento básico, dandolhe resiliência e robustez, respondeu às necessidades da região, elevando o padrão de qualidade e garantindo a preservação do ambiente.

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Estamos obrigados a manter em bom estado de funcionamento, conservação e segurança os bens e meios afetos, efetuando as intervenções que se revelem necessárias ao bom desempenho do serviço público, conforme exigências técnicas e parâmetros exigíveis, alinhados com a visão inicial que conduziu à constituição da Empresa e do sistema.


A importância da Resiliência dos Ativos

Neste processo, a análise e avaliação dos ativos são uma constante, no cumprimento das orientações dos instrumentos de planeamento estratégicos de médio e longo prazo, para permitir ao decisor uma hierarquização de investimentos associados às intervenções previstas. Se por um lado, a análise de risco, tendo em conta as suas várias dimensões, riscos legais e institucionais, ambientais, continuidade de serviço, eficiência dos processos internos da empresa, segurança dos trabalhadores, imagem e reputação da empresa, é fundamental no desenvolvimento do plano de ação e hierarquização das intervenções. Por outro, a análise de custo-benefício das intervenções tem de seguir critérios rigorosos de avaliação do estado funcional das instalações. No entanto, com a intensificação das alterações climáticas, de acordo com o PGRH - Plano de Eficiência Hídrica do Algarve, “a seca é uma preocupação crescente na Europa, com particular relevância nas regiões desertificadas do interior

sudeste de Portugal, onde a sua duração, frequência e severidade são cada vez maiores e os seus efeitos mantém-se muito para além do seu término. Um dos impactos mais gravosos das alterações climáticas é precisamente o que respeita ao aumento da frequência e severidade de períodos de seca e escassez de água. Aliás, de acordo com Copernicus Climate Change Service, “o ano de 2019 na Europa foi o mais quente alguma vez registado, com uma anomalia de temperatura média do ar de 1.24 °C.” Ainda de acordo com o PGRH do Algarve, a experiência acumulada durante os períodos de secas ocorridos em 2012 e em 2017, assim como em situações anteriores, com particular destaque para a seca de 2004-2005, permitiram concluir que é essencial dotar o país de instrumentos e disposições que regulem a preparação para futuras ocorrências de um fenómeno que se está a verificar com maior frequência em Portugal, em resultado das mudanças climáticas. Efetivamente, as alterações climáticas terão provavelmente impactos significativos na distribuição

temporal e espacial dos recursos hídricos, na qualidade da água e na ocorrência mais frequente de secas significativas. Na região do Algarve a precipitação tem vindo a diminuir ao longo dos últimos anos, nomeadamente nas últimas duas décadas, observando-se uma irregular distribuição de precipitação ao longo dos meses do período considerado húmido (outubro a abril), ocorrendo por vezes concentrada em um ou dois meses e nem sempre nos que eram tipicamente mais chuvosos (dezembro e janeiro), sendo essa irregularidade prejudicial para a economia e obrigando a uma adaptação dos ecossistemas. Nos últimos cinco anos hidrológicos, e em termos de águas superficiais, o armazenamento total oscilou entre 60% a 80%. Considerando que tem havido um aumento dos consumos de água nos últimos anos e a precipitação verificada não tem sido suficiente para gerar afluências, de modo a permitir atingir o nível pleno de armazenamento das albufeiras existentes. Assim, é necessário realizar uma gestão inter-anual REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade das disponibilidades hídricas mais rigorosa e articulada entre os diferentes usos, sem colocar em causa o estado das massas de água. Ainda de acordo com o IPMA “os valores de percentagem de precipitação no ano hidrológico em curso variaram entre 32% em Vila Real de Santo António e 166 % na Guarda, relativamente aos valores médios da série histórica. As anomalias de precipitação nos anos hidrológicos desde 1960 para algumas estações meteorológicas do Algarve indicam anomalias de precipitação negativas de seis anos consecutivos em Vila Real de Santo António e de cinco anos consecutivos em Faro. O índice PDSI no final de fevereiro indica que aumentou a área e a intensidade da seca meteorológica nas regiões a sul do Tejo, sendo de realçar na região do Algarve as classes de seca extrema no sotavento e de seca severa no barlavento. Esta situação melhorou durante os meses de março e abril, continuando esta zona em seca extrema.” Face a esta caracterização meteorológica importa dar continuidade às ações, que desde julho de 2017

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têm vindo a ser tomadas e que permitem hoje um melhor acompanhamento da situação, uma maior resiliência do sistema na sua dimensão física mas também na melhoria da gestão das disponibilidades hídricas existentes, minimizando, de forma mais efetiva, as variações que vão ocorrendo nas disponibilidades hídricas e analisar as mesmas existentes nas albufeiras e nas águas subterrâneas, para avaliar se estas permitem a satisfação dos usos atuais, bem como o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos e deles dependentes. É nesta adversidade, que surge a necessidade de identificar e desenvolver um vasto conjunto de ações e investimentos, distribuídos pelas diferentes dimensões da gestão da procura e da gestão da oferta das disponibilidades hídricas. Numa primeira instância, identifica-se a necessidade de desenvolver um conjunto de medidas para aumento da eficiência no uso e gestão da água, nomeadamente “através da redução das perdas de água no setor urbano e da adoção de tecnologias mais eficientes para a irrigação e da

promoção da reutilização de água residual tratada.” Ao nível da oferta, as medidas complementam a adaptação necessária aos efeitos das alterações climáticas, promovem uma maior resiliência e otimização da exploração das infraestruturas existentes, a que se junta a necessidade de novas origens, para reforço complementar das reservas estratégicas. O desenvolvimento económico, social e ambiental da região do Algarve, sobretudo nas atuais condições de pandemia e escassez hídrica, pressupõe a


A importância da Resiliência dos Ativos

promoção da diversificação da atividade económica. É fundamental assegurar a implementação deste investimento visando a mitigação da escassez e a resiliência aos episódios de seca promovendo a manutenção da disponibilidade de água e a qualidade de serviço. Os investimentos identificados no PREH do Algarve visam o controlo e gestão integrada das disponibilidades hídricas e dos consumos, num equilíbrio entre as disponibilidades e as necessidades.

As medidas, por um lado, e numa primeira linha, privilegiam a adoção de medidas do lado da procura e da gestão do recurso: de governança que visam intensificar a monitorização, o licenciamento e a fiscalização de eficiência hídrica em todos os setores económicos (urbano, agrícola, turismo); o recurso à utilização de origens alternativas, como sejam as águas residuais tratadas; medidas de articulação/ comunicação e sensibilização e medidas de suporte ao ecossistema, de forma a mitigar os impactes da seca nos sistemas naturais; numa segunda linha, para superar os períodos de seca prolongada, promovem o aumento das disponibilidades hídricas da região, recorrendo à otimização da exploração das infraestruturas existentes (de adução em alta e de armazenamento) e ao reforço das origens de água.” A região do Algarve é muito dependente dos rendimentos da atividade turística, cuja quebra em 2020 decorrente da crise pandémica foi muito significativa - no mês de agosto, que regista habitualmente maior ocupação, registou-se uma

quebra nas dormidas de turistas estrangeiros de cerca de 70%. A nível nacional, as quebras acumuladas entre janeiro e agosto de 2020 foram de cerca de 62%. Em termos de emprego verificouse também um elevado impacto com o número de desempregados a subir mais de 150% até setembro quando comparado com o período homólogo do ano anterior. Acresce a este aspeto, o facto de a procura turística continuar a ser sazonal, concentrandose sobretudo na época estival, altura em que as disponibilidades hídricas são também menores. O PREH do Algarve prevê, por isso, a dinamização e maior previsibilidade de disponibilidade de água ao longo do ano para outras atividades dependentes do uso da água. As medidas são complementares e articuladas de modo a assegurar a resiliência necessária à resposta aos efeitos das alterações climáticas: cerca de 40% dos projetos visam aumentar a eficiência hídrica, 34% melhorar os processos de adaptação à REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade seca, 15% contribuir para objetivos ambientais e 11% para melhorar a articulação (incluindo divulgação de boas práticas). Estas medidas encontram-se priorizadas na Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, assim como no Programa de Ação para a Adaptação às Alterações Climáticas (P-3AC) e no PGRH das ribeiras do Algarve, nos planos de suporte ao Ciclo Urbano da Água (PENSAAR2020) e no Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água. Passados 20 anos de existência da empresa Águas do Algarve, o Reforço e a Resiliência dos Ativos, nos quais assenta a sua atividade, assumem um papel de capital importância. Por um lado, o contrato de concessão assinado em 2019 prevê cerca de mais 300 milhões de euros em investimento, com 50% desse valor destinado à substituição/reabilitação dos ativos, por outro, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) contempla novos investimentos de 134 milhões de euros, a executar até 2025.

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Estes novos desafios aumentam a importância dos instrumentos associados à monitorização e ao apoio à decisão sobre a gestão dos ativos que suportam e sustentam a nossa atividade. O aumento dos níveis de complexidade das nossas tarefas aprofundam as necessidades no que respeita a instrumentos e à relevância dos processos de modernização tecnológica, que permitam reconstruir, afinar e disponibilizar ferramentas de planeamento estratégico e de monitorização e gestão da atividade.


A importância da Resiliência dos Ativos

ÁGUA, ONDE A VIDA SE MULTIPLICA

A VALORIZAR A ÁGUA E A VIDA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS

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# atualidade

EXPERIÊNCIA DA CERTIFICAÇÃO EM GESTÃO DE ATIVOS NOS SMAS DE ALMADA “... mantemos como Sistemas de Gestão certificados, os da Qualidade, de Gestão Ambiental, de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho e de Gestão de Energia...”

Ana Curto Diretora do Departamento de Recursos Humanos* dos SMAS de Almada

Mestrado em Saúde e Desenvolvimento pela Universidade Nova de Lisboa/ Instituto de Higiene e Medicina Tropical. Licenciada em Ciências do Desenvolvimento e Cooperação, pela Universidade Moderna. * que inclui a Divisão de Inovação, Sistemas de Gestão e Desenvolvimento Organizacional

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Luís Adão Diretor do Departamento de Projetos e Obras dos SMAS de Almada

Bacharel em Engenharia Civil, pelo ISEL. Licenciado em Engenharia do Ambiente/ramo Sanitária, pela Universidade Nova de Lisboa/FCT. Coordenador do GPI dos SMAS de Almada.


EXPERIÊNCIA DA CERTIFICAÇÃO EM GESTÃO DE ATIVOS NOS SMAS DE ALMADA

SMAS DE ALMADA Serviço Público Municipal responsável pela gestão de todo o ciclo urbano da água no concelho de Almada. Servimos uma população de mais de 178 mil habitantes, cerca de 107 mil clientes e cobrimos um território com 71 km2, situado no extremo da Península de Setúbal, entre a frente ribeirinha do Tejo e a Costa Atlântica de praias.

No percurso e história dos Serviços (desde 1951) consumamos a garantia aos nossos munícipes do acesso a água e ao saneamento, direitos humanos fundamentais. Principais atribuições: Captação, adução, controlo da qualidade e distribuição de água potável; Recolha, drenagem e tratamento de águas residuais domésticas; Recolha e drenagem de águas pluviais; Construção, ampliação, exploração e

conservação das redes de água, estações elevatórias e reservatórios e das redes de águas residuais domésticas e pluviais, estações elevatórias e estações de tratamento de águas residuais. Para garantir a prestação dos serviços que nos estão atribuídos, construímos e gerimos três sistemas de infraestruturas: de abastecimento de água (797 km de rede de distribuição e 79,4 km de redes adutoras, nove REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade estações elevatórias e 25 reservatórios), de saneamento de águas residuais (611,3 km de rede, 22 estações elevatórias e quatro ETAR) e de drenagem de águas pluviais (507 km de rede e oito bacias de drenagem).

Sistema de Gestão Integrado A abordagem ao Sistema de Gestão Patrimonial de Infraestruturas dos SMAS de Almada é indissociável da implementação, em 2012, do Sistema de Gestão Integrado (SGI) na Organização e da Política aprovada em maio de 2014 (com atualizações até 2020). Tínhamos práticas técnicas e de gestão consolidadas nos domínios do planeamento, diagnóstico, avaliação de risco, definição de objetivos e metas, monitorização e avaliação, fruto das necessidades próprias de um serviço com as nossas atribuições e competências. Considerou-se assim, à data e contexto, que a certificação poderia traduzir-se em vantagem na comunicação, relação e reconhecimento destas capacidades no setor da água, outros

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municípios, nossos munícipes e clientes, aumentando a nossa exposição às partes interessadas e melhorando, em simultâneo, a integração entre as diferentes áreas de trabalho, objetivos e resultados de desempenho. Foi com este racional que assumimos o desenvolvimento do objetivo de certificação de um conjunto de sistemas, integrando todos os sistemas de gestão e processos. Fizemo-lo por referência ao Decreto-Lei n.º 194/2009, de 20 de agosto, que estabelece o regime jurídico dos serviços municipais de abastecimento público de água, de saneamento de águas residuais urbanas e de gestão de resíduos urbanos, definindo que as entidades gestoras que sirvam mais de 30 mil habitantes devem promover e manter sistemas de garantia de qualidade do serviço prestado aos utilizadores; de gestão patrimonial de infraestruturas; de gestão de segurança; de gestão ambiental e um sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho. Em 2016 os SMAS de Almada obtiveram a certificação

pela APCER - Associação Portuguesa de Certificação em cinco Sistemas de Gestão em simultâneo: ISO 9001:2015 - Sistema Gestão da Qualidade, ISO 14001:2015 - Sistema de Gestão Ambiental, NP 4397:2008 OSHAS 18001:2007 - Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho, NP 4469-1:2008 Sistema de Gestão de Responsabilidade Social, tendo sido a primeira entidade em Portugal a obter certificação na norma de Gestão de Ativos ISO 55001:2014. Em 2017 obtêm a certificação pela ISO 22000: 2005 - Sistema de Segurança Alimentar e em 2018 a certificação do Sistema de Gestão de Energia - EN ISO 50001:2011. Consolidados os aspetos visados com o processo de certificação, mantemos e desenvolvemos o SGI, assumido como ferramenta de controlo de resultados e melhoria do desempenho nas dimensões referidas. Neste sentido, nesta data, mantemos como Sistemas de Gestão certificados, os da Qualidade, de Gestão Ambiental, de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho e de Gestão de Energia (este último, em


EXPERIÊNCIA DA CERTIFICAÇÃO EM GESTÃO DE ATIVOS NOS SMAS DE ALMADA

processo de transição para o novo referencial), estando em ponderação a integração da área da Inovação, no SGI. A nossa experiência coloca assim a certificação como uma etapa de um percurso para atingir os resultados a que a Organização se propõe, em dado momento, em função dos objetivos estratégicos e necessidades identificadas.

SISTEMA DE GESTÃO PATRIMONIAL DE INFRAESTRUTURAS (GPI)

pessoas no concelho de Almada e 50 mil no concelho do Seixal. Percurso e desenvolvimento A natureza e âmbito de atividade dos SMAS, designadamente no que se refere aos sistemas de infraestruturas, condicionam a adoção, diríamos, natural, de abordagem e de ferramentas de longo prazo, antecipando necessidades e investimentos de valor elevado, com horizonte entre 15 a 25 anos (equipamentos), e entre 40 a 70 anos (construção civil).

ISO 55001:2014 Promover a continuidade da eficiência das infraestruturas que asseguram os serviços de abastecimento de água, saneamento de águas residuais e drenagem de águas pluviais, garantindo a sustentabilidade operacional e económica do seu funcionamento. Âmbito Fornecimento de água, saneamento de águas residuais e drenagem de pluviais, cobrindo assim o ciclo urbano da água completo, para uma área de 7 000 ha e uma população aproximada de 170 mil

Na linha de tempo, entre 1950 e 1970 decorreu o primeiro período de construção de infraestruturas, e o segundo período entre 1975 e 2005. A partir do ano 2000 abre-se um novo ciclo de manutenção e operacionalidade dos sistemas de infraestruturas, que tem de garantir a otimização dos investimentos efetuados e a efetuar, sem prejuízo da sustentabilidade económica e financeira dos serviços e da resposta às populações. Nos SMAS de Almada, a necessidade de enquadrar as condições referidas em

projetos e planos a médio e longo prazo, a par da possibilidade de experiências de parcerias institucionais e participação em projetos diversos - processo de Qualificação da Oficina e Laboratório de Contadores (2000); implementação do Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria/EMAS (2003); desenvolvimento do Plano de Segurança da Água (2008); Processo iGPI, parceria com LNEC em projetos participados para iniciar a implementação de um sistema de gestão patrimonial de infraestruturas (2011) - vieram sistematizar e consolidar a identificação da Organização e dos seus Técnicos com metodologias próprias dos processos e sistemas de gestão. Neste contexto, a publicação do Decreto-Lei n.º 194/2009, de 20 de agosto, veio conferir formato legal a processos e práticas de gestão internas e de parceria já com alguma expressão na Organização. Foi assim decidido aprofundar as componentes de planeamento, gestão por objetivos e análise de resultados, e criado um Grupo de Assessoria e Inovação, para suporte REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade dirigido a estes processos de desenvolvimento, mais tarde (2011) formalizado na estrutura como Equipa Multidisciplinar de Assessoria, Sistemas de Gestão e Inovação (AGI). Esta Equipa viria a coordenar o esforço de implementação do SGI nos SMAS, apoiado em equipas organizadas por Sistema de Gestão, com Coordenadores próprios, e com suporte de consultoria externa. Numa primeira fase de desenvolvimento deste trabalho participaram Dirigentes e Chefias de 1.º e 2.º níveis e Coordenadores e Equipas de cada Sistema de Gestão, e numa segunda fase o trabalho foi alargado a agentes-chave da Organização para efeito dos objetivos a alcançar.

Desafios para o desenvolvimento do GPI Para qualquer Sistema de Gestão, e designadamente para os de abrangência e âmbito como o do GPI, a perspetiva de longo e muito longo prazo é o principal desafio e condicionante. Para efeitos da garantia da manutenção e

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desenvolvimento continuado dos Sistemas, assim como para a tomada de decisões que os acompanhem e concretizem. Em sistemas/Organizações dependentes de variação na gestão de topo, em ciclos de curto-prazo, que podem implicar diferenças relevantes ao nível das políticas e estratégias de suporte e enquadramento, estes são aspetos críticos a garantir. Decidir sobre investimentos avultados em estruturas “invisíveis” para a maior parte dos cidadãos, sem retorno imediato, é um desafio para técnicos e decisores implicados na estratégias e políticas públicas, sobretudo em Países onde as culturas de prevenção e planeamento estão menos enraizadas. Por outro lado, no atual contexto, marcado pela celeridade, imprevisibilidade e eventos com impactos à escala global, é fundamental que as ferramentas de informação e suporte à decisão acompanhem estas características e condições, garantindo a acessibilidade efetiva e atempada a dados, indicadores e informação que permitam prever tendências, antecipar fatores e eventos

críticos e estimar cenários, que viabilizem as melhores políticas, estratégias e decisões. A disponibilidade de capacidade e conhecimento técnico qualificado e competente é outra área de foco a considerar no desenvolvimento destes sistemas. Será necessário assegurar condições de atração e retenção de profissionais habilitados para a gestão e desenvolvimento destes Sistemas, designadamente na administração pública local.


EXPERIÊNCIA DA CERTIFICAÇÃO EM GESTÃO DE ATIVOS NOS SMAS DE ALMADA

Bibliografia - Sítio dos SMAS Almada na internet: https://www.smasalmada.pt - Sítio da Câmara Municipal de Almada na Internet: http://www.m-almada.pt - Plano Estratégico de Gestão Patrimonial de Infraestruturas 2013/2033 SMAS Almada. Versão: 05.junho.2013; - Apresentação do GPI nas Jornadas de Manutenção 2016, Exponor, 24 e 25.nov.2016; - Apresentação do GPI na Sessão Pública de Certificação SGI, Almada/Fórum Romeu Correia/ Auditório Fernando Lopes Graça, 20.dez.2016; - Apresentação do GPI no Encontro Gestão de Ativos, Caparica/Auditório do Instituto Português da Qualidade, 25.mai.2017.

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# atualidade

Desafios e experiências da certificação em Gestão de Ativos na EPAL

“O

caminho da Gestão de Ativos na EPAL não se extingue Nuno Medeiros Diretor de Gestão de Ativos da EPAL

Formado em Gestão e Marketing - MBA na Lisbon School of Economics & Management - e especialização em Transformação Digital das Organizações pela Católica Lisbon School of Business & Economics. Iniciou a sua atividade na EPAL há 25 anos, assumindo atualmente a liderança da Direção de Gestão de Ativos. Recentemente assessorou o Conselho de Administração da EPAL em projetos de otimização organizacional, sendo que na última década assumiu responsabilidades nas áreas de I&D, Manutenção e Relação com os Clientes. Adicionalmente representa a EPAL como membro da Comissão Especializada de Inovação e é Coordenador na Comissão Especializada de Indicadores de Gestão da APDA.

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no facto de termos alcançado a

certificação do Sistema de Gestão de Ativos. Efetivamente, os fatores de mudança, externos e internos, são cada vez mais rápidos e acentuados, pelo que enquanto gestores do Sistema devemos estar atentos aos sinais dos mesmos, numa lógica de 360o.”


Desafios e experiências da certificação em Gestão de Ativos na EPAL

1. Enquadramento A Gestão de Ativos pode ser definida como um processo estratégico e sistemático, que abrange todo o ciclo de vida dos ativos, de planear, adquirir, operar, manter, reabilitar e /ou desativar de uma forma eficiente. Está focada em práticas de gestão e de engenharia com o objetivo de suportar

melhor as decisões de gestão, tendo por base informação de qualidade e o estabelecimento dos níveis de serviço a atingir, bem como o nível de risco aceitável.

empresa, constituindo, simultaneamente, a base do serviço que presta aos seus clientes.

Sendo a EPAL, por inerência da sua atividade, uma empresa de capital intensivo, os seus ativos operacionais representam um peso muito significativo na estrutura de custos da

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# atualidade

Figura 1 - Esquema do sistema de abastecimento da EPAL

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Desafios e experiências da certificação em Gestão de Ativos na EPAL

Recorda-se que a EPAL é responsável por um sistema de abastecimento de água para consumo humano, que integra a

captação, tratamento, adução, armazenamento e distribuição, abastecendo em Alta 35 municípios e em baixa mais de 357 mil clientes,

gerindo um conjunto de ativos que estão organizados em Grandes Naturezas de Ativos (GNA).

Grandes Naturezas de Ativos Captações Subterrâneas Captações Superficiais Estações de Tratamento de Água Postos de Cloragem OIT Reservatórios Estações Elevatórias Mercado Produção (km) Mercado Distribuição (km)

Total (2020) 11 2 2 23 3 42 42 697 1 447

Figura 2 - Grandes Naturezas de Ativos (GNA) do sistema de abastecimento da EPAL

A EPAL há mais de uma década que incorpora fortemente na organização a temática da Gestão de Ativos, tendo refletido essa prática na explicitação interna e externa, criando inicialmente em 2008 uma Direção de Gestão de Ativos, posteriormente integrando na sua Politica de Gestão o tema e, em 2020, na definição dos Pilares Estratégicos que sustentam os objetivos da organização. Se os primeiros três pilares estão inequivocamente relacionados com a Gestão de Ativos, o quarto evoca a necessidade da evolução futura para novas

metodologias e práticas na Gestão de Ativos, apostando no desenvolvimento futuro do conceito. Assim, manifestamente a EPAL considera a Gestão de Ativos uma das bases para a

sustentabilidade operacional, financeira e ambiental da organização, sendo que esta evidência resulta de um consolidar de estratégias e medidas de ação, que atualmente nos podemos orgulhar.

Figura 3 - Pilares Estratégicos da EPAL

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# atualidade 2. A Génese da certificação do Sistema de Gestão de Ativos na EPAL Com a concretização, em meados da década de 2000, dos investimentos de expansão do sistema de abastecimento, a atuação da EPAL passou a focalizar-se na melhoria da eficiência e na otimização operacional, situação que, naturalmente, se centraliza na rentabilização dos ativos da empresa, na fiabilidade e segurança do sistema e na garantia da qualidade da água.

A atualização dos planos mestres e estratégicos da EPAL, Plano Diretor (alta) e Plano Geral da Rede (baixa), sendo realizada na primeira metade da década de 2000-2010, respetivamente em 2004 e 2005/2006, já evidenciavam, no seu foco, a mudança da fase de expansão e infraestruturação para a fase de eficiência operacional, mas manifestavam uma fadiga contextual, necessitando de incorporação de novos conceitos e de uma visão mais integradora.

Figura 4 - Fatores de mudança nos serviços urbanos de água (2007)

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Complementarmente, na década 2000-2010, principalmente a partir do ano de 2005, diversos fatores - internos, externos e desafios de mudança impulsionaram uma nova forma de abordar as questões relacionadas com a gestão da água, com as matérias politicas e regulatórias a ganharem um maior peso, a gestão integrada a se tornar mais relevante e as alterações climáticas a se tornarem mais debatidas e, lamentavelmente contrariando os mais céticos, a serem mais reais e as suas consequências mais nefastas.


Desafios e experiências da certificação em Gestão de Ativos na EPAL

Estes fatores motivaram, por um lado, a resposta da EPAL no sentido de se adaptar às novas condições e, por outro lado, proporcionaram a oportunidade da empresa implementar novas metodologias de gestão, passando a abordar de forma integrada procedimentos e atividades já adotados em diferentes departamentos ainda que, em muitos casos, de forma

desarticulada. O cenário descrito conduziu à adoção de uma nova estratégia, dirigida para a excelência do serviço, assegurando, simultaneamente e de forma equilibrada, a eficiência e a sustentabilidade da atividade da empresa. A operacionalização desta nova visão foi materializada inicialmente, em 2008, através da adoção e

subsequente implementação de um Modelo Integrado de Gestão de Ativos (MIGA), visando a alteração da abordagem da EPAL, com o objetivo de aumentar a eficiência ao nível da gestão dos ativos que compõem as Grandes Naturezas de Ativos da empresa, definindo igualmente um roadmap de iniciativas necessárias à sua implementação.

Figura 5 - Modelo Integrado de Gestão de Ativos (MIGA)

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# atualidade A EPAL passou assim a observar e analisar o seu sistema de abastecimento de uma forma mais

integrada e transversal a toda a organização, o que, conjugado com a oportunidade de responder

à evolução dos fatores de mudança, propiciou a mudança do paradigma até então seguido.

Figura 6 - Génese da Gestão de Ativos na EPAL

Assim, consciente da importância da temática da Gestão de Ativos para a Missão e Sustentabilidade da EPAL, em 2008 nasce a Direção de Gestão de Ativos, apostando no desenvolvimento do conhecimento da informação e metodologias imprescindíveis para a análise, avaliação e tipificação da criticidade dos seus ativos, por forma a otimizar a relação entre o desempenho funcional pretendido para o sistema de abastecimento, o risco de falha e respetiva consequência, a utilização eficientes dos recursos

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humanos e financeiros e, o mais relevante, a criação de valor para a EPAL, para os seus clientes e colaboradores e para o setor dos serviços urbanos de água. Com efeito, a função Gestão de Ativos veio assumir um papel fundamental na otimização do retorno associado à utilização das infraestruturas e na garantia de níveis de serviço adequados. Esta realidade inequívoca, a qual desde 2006 foi e é uma das linhas vetoriais estratégicas da gestão de topo da EPAL, evoluiu

internamente em função da integração organizacional do conceito da Gestão de Ativos, complementada com uma mudança na cultura organizacional, quer da gestão como operacional, a qual acompanhou a mudança do paradigma do planeamento estratégico para a incorporação da componente da Gestão de Ativos. A adoção de uma estratégia de gestão de ativos, mais do que uma opção, configurouse como uma necessidade para a EPAL, pelo que a empresa decidiu implementar


Desafios e experiências da certificação em Gestão de Ativos na EPAL

uma abordagem integrada de Gestão de Ativos que procurou: • incorporar as melhores práticas internacionais; • assegurar a internalização do conhecimento no seio da empresa; • promover uma mudança de mentalidade e comportamental; • proporcionar algum alinhamento com as PAS 55, mas sem preocupações de “certificação”.

Figura 7 - Framework da PAS 55 (UK, 2004; 2008)

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# atualidade 3. A caminho da Certificação - uma via de sentido único Com a criação da Direção de Gestão de Ativos estratégia

de atuação da EPAL passou a focar-se essencialmente na melhoria da eficiência, mediante a adoção de uma abordagem holística, sistémica e sistemática ao nível dos seus ativos

operacionais ao longo da respetiva vida, contribuindo assim para a melhoria da fiabilidade e da resiliência do sistema de abastecimento.

Figura 8 - Nova Visão da Gestão de Ativos na EPAL

A atuação da empresa focou-se na implementação das iniciativas definidas no MIGA, procurando numa primeira fase, dar resposta às

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questões base de um Sistema de Gestão de Ativos, com a necessidade de estruturar os dados descritivos dos ativos de forma a estes poderem ser

traduzidos em informação válida, robusta, rigorosa e essencial para a realização de análises de condição, de valor e de criticidade.


Desafios e experiências da certificação em Gestão de Ativos na EPAL

Figura 9 - Questões base lançadas no âmbito da internalização da Gestão de Ativos (Fonte: Apresentação EPAL, IWA, Lisboa, 2014)

A capacitação dos recursos humanos da organização, para o tema da Gestão dos Ativos foi necessária e catalisadora para uma forte internalização dos conceitos e da filosofia inerentes ao paradigma do Sistema de Gestão de Ativos e um dos fatores críticos de sucesso na sua implementação.

Primeiro desafio: a cultura organizacional tem de internalizar os conceitos e a filosofia da Gestão de Ativos, sendo que é essencial que os líderes desta transformação organizacional devem ser o motor para uma melhor perceção das vantagens de implementação do modelo. Estando enquadrada as necessidades que decorrem das fragilidades e a importância direcionar a visão da empresa para a Gestão de Ativos, outros dos obstáculos com que a organização se deparou foi a multiplicidade de dados, da origem dos mesmos, da sua fiabilidade e robustez, da informação a

produzir, dos seus diferentes níveis - estratégico, tático e operacional - da sua arrumação e, por fim da forma e conteúdo do reporte. A necessidade do desenvolvimento de um “Portal de Gestão de Ativos” para a consolidação da informação foi mais um passo

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# atualidade essencial, sendo de realçar a sua natureza aberta à organização, para que todos os colaboradores o possam consultar e enriquecer o conhecimento que têm sobre os ativos da EPAL. Ao nível do reporte, a definição dos documento por nível organizacional foi igualmente um passo decisivo, sendo que a figura seguinte elucida de uma forma sintetizada a complexidade e transversalidade do modelo do Sistema de Gestão de Ativos da EPAL e os diferentes Planos desenvolvidos. Figura 10 - Modelo relacional e documental do Sistema de Gestão de Ativos da EPAL

Estratégico Master Plan do Sistema de Abastecimento da EPAL Plano de Adaptação às Alterações Climáticas Programa de Neutralidade Energética - Zero (AdP) Tático Plano de Investimentos Planos de Inspeções dos Ativos Plano de Manutenção (sistemática e condicionada) Plano de Controlo e Redução de Perdas Plano de Desativação Operacional Relatório de Gestão de Ativos Relatórios Operacionais e de Indicadores de Gestão Operacional

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Figura 11 Informação do Sistema de Gestão de Ativos da EPAL gerada por nível organizacional


Desafios e experiências da certificação em Gestão de Ativos na EPAL

Segundo desafio: tomar a decisão da certificação no momento mais adequado da organização e da maturidade do processo de Gestão de Ativos, internalizando o sinal de urgência desta necessidade - não há “o momento certo”, há somente o acreditar que é este o momento. Com o lançamento, em 2014, da ISO 55001, e estando a Gestão de Ativos consolidada internamente, a EPAL decidiu pela implementação de um Sistema de Gestão de Ativos (SGA) baseado no referencial normativo da ISO 55001:2014, evoluindo o estado da arte para uma nova fase. Considerando o estágio de desenvolvimento, à data, da empresa em termos

da Gestão de Ativos e as exigências da norma ISO 55001, afigurava-se necessário obter um conhecimento prévio do estado de implementação dos diversos requisitos da Norma, identificandose assim as fragilidades e respetivas áreas de melhoria, fase que se considerou determinante para o sucesso do processo de concessão da certificação.

Figura 12 - Medidas de ação com entidades externas desenvolvidas na précertificação (self assessment)

Para a realização do “self assessment” verificou-se ser essencial o complemento da consultoria externa especializada, pois esta permitiu tornar o processo mais focalizado, eficaz e assertivo. Como conclusão geral, os consultores afirmaram que “a EPAL já possui um grande número de elementos que comprovam a elegibilidade para esta certificação. (…) A Empresa tem e demonstra liderança neste projeto. Os seus colaboradores procuram garantir que a EPAL seja eficaz e competente. Os níveis de consistência dos seus processos e resultados ainda que incompletos estão atualmente ao nosso alcance. Ao considerar as recomendações feitas nesta avaliação, a EPAL pode reunir as condições necessárias para ser auditada com sucesso em relação aos requisitos da ISO 55001 num futuro próximo.” As recomendações resultaram na definição de um plano apontando as ações necessárias para o preenchimento das lacunas identificadas, em cada um dos capítulos da norma ISO55001. Estas ações foram essencialmente subdivididas em três categorias: (i)

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# atualidade preparação de documentos, ou “papelada”, descrevendo as funções e responsabilidades da equipa de Gestão de Ativos e a sua relação com as restantes Direções da empresa e a elaboração do documento do Plano de Gestão de Ativos Estratégicos; (ii) aprimoramento das práticas, ou “capacidades” e (iii) adequar o sistema de gestão corporativa para acomodar esta nova certificação.

É interessante realçar que a Norma refere, no capítulo da introdução, que se destina a ser utilizada por aqueles que desenvolvam atividades de gestão de ativos, sendo este um dos pontos que se consideram mais relevantes e que, usualmente, passamos sem a reflexão necessária. A norma destina-se a todos os colaboradores, pelo que o conhecimento sobre a mesma deve ser generalizado,

Terceiro desafio: encarar as nossas fragilidades na Gestão de Ativos como oportunidades para a organização melhorar de forma global, incorporando a totalidade dos processos da organização – visão integradora.

Figura 13 - Auditorias no âmbito da certificação do SGA

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o qual nos conduz a que o Sistema de Gestão de Ativos é efetivamente transversal à organização. A consolidação de mais de uma década de foco na Gestão de Ativos, com a implementação de uma abordagem integradora e que fosse ao encontro das necessidades da empresa, enquadrandose, simultaneamente, nos requisitos da Norma 55001:2014, resultou, em 2018, na concessão da certificação do Sistema de Gestão dos Ativos pela Norma 55001:


Desafios e experiências da certificação em Gestão de Ativos na EPAL

Quarto desafio: não desistir. Interpretar os sinais da organização, corrigir a rota, comunicar e valorizar as equipas. Efetivamente, na EPAL a função Gestão de Ativos é há muito reconhecida como uma função inestimável dentro da empresa. Na verdade, permite apoiar a tomada de decisão e alinhar as diferentes funções relacionadas com as fases do ciclo de vida dos ativos

de forma a gerar valor para o negócio - seja evitando riscos ou custos desnecessários; ou aproveitando as oportunidades. Em resumo, o processo de certificação não foi o objetivo final, mas mais uma etapa alcançada, representando

o culminar do esforço de mais de uma década, com o permanente e forte patrocínio da Administração da EPAL, com a extrema dedicação dos Diretores da Direção de Gestão de Ativos que iniciaram e deram sequência a esta missão e de uma Equipa de colaboradores focados, exigentes, dedicados e de elevado profissionalismo, aos quais em muito agradecemos os resultados alcançados.

Figura 14 - Evolução do Sistema de Gestão de Ativos na EPAL

Por último, refira-se que esta missão teria sido provavelmente impossível e certamente incompleta, sem o total apoio que as diferentes Direções da EPAL demonstraram ao longo dos últimos 15 anos na implementação da Gestão de

Ativos na empresa, pelo que o agradecimento transversal a estas é por demais merecido.

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# atualidade 4. O depois da certificação - novos desafios O caminho da Gestão de Ativos na EPAL não se extingue no facto de termos alcançado a certificação do Sistema de Gestão de Ativos. Efetivamente, os fatores de mudança, externos e internos, são cada vez mais rápidos e acentuados, pelo que enquanto gestores do Sistema devemos estar atentos aos sinais dos mesmos, numa lógica de 360O. No âmbito da transformação digital e inovação a evolução tecnológica, seja na componente da ciência dos dados, como do IOT, como no Blockchain e mais recentemente do Digital Twin, oferecem à gestão dos ativos uma quantidade de dados e de possibilidade de tratamento dos mesmos, que na década passada seriam pouco evidentes. A informação vai ser mais fiável, célere na obtenção e com menos recursos humanos afetos. A sensorização em massa dos ativos, associada a capacidade de análise dos dados e da elaboração de algoritmos de aprendizagem, através de metodologias

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de machine learning e de inteligência artificial, irão potenciar o surgimento de modelos previsionais que permitirão antecipar o conhecimento da condição dos ativos e a tomada de decisões quanto à gestão dos mesmos. A maior integração destes desenvolvimentos tecnológicos irá potenciar, ainda mais, a usabilidade de Sistemas de Gestão de Ativos, o que reforça que a estrutura base dos mesmos tem de estar robusta e integrada, pelo que a Certificação ainda se torna mais relevante.

Complementarmente, fatores externos como as políticas e a regulação, as alterações climáticas, a economia circular, a transição energética e descarbonização, a existência com maior frequência de fenómenos extremos, vão exigir um maior esforço às entidades do setor dos serviços urbanos de água, estando estas mais bem preparadas para a tomada de decisão, se sustentadas num Sistemas de Gestão de Ativos.


Desafios e experiências da certificação em Gestão de Ativos na EPAL

Opinião dos Diretores antecessores da DGA Quando demos inicio à implementação, na EPAL, da estratégia de Gestão de ativos, o principal enfoque consistia em fazer as coisas bem, tendo por base as melhores práticas nacionais e internacionais. Uma vez consolidado o processo, havia a convicção de que tínhamos seguido um caminho que, genericamente, havia sido correto e adequado. No entanto, faltávamos algo e o que faltava era relevante. Desde logo, não tínhamos o reconhecimento, por parte de uma entidade independente, relativamente à adequação do trajeto efetuado e, por outro lado, faltava-nos uma efetiva incorporação, de forma natural e integrada, dos princípios da Gestão de Ativos na atuação corrente das diferentes áreas da empresa, com o objetivo de possibilitar que os mesmos fossem refletidos, de forma transversal, nos instrumentos de planeamento corporativos. Assim, a certificação em Gestão de Ativos na EPAL pretendia, para além de visar a consolidação e otimização de todo o processo, contribuir para colmatar estas duas importantes lacunas associadas à implementação da Gestão de Ativos na empresa. Francisco Serranito, Diretor das Operações da EPAL e AdVT (Diretor da Gestão de Ativos da EPAL de 2008 a 2017)

Tipicamente, a certificação serve um de dois propósitos: ou orientar a empresa para a adoção das melhores práticas em termos de Gestão de Ativos; ou certificar um processo já de si maduro e que se baseia nas melhores práticas de Gestão de Ativos. O caminho da EPAL foi o segundo. Após 13 anos de aprendizagem, construção e consolidação de novas práticas abrangendo todo o sistema de abastecimento, a certificação veio confirmar a bondade do caminho trilhado. Ainda assim, o processo de certificação veio obrigar a colocar no papel (procedimentar) muitas dessas práticas, a compilar em “Planos-Chapéu” de médio e longo prazo muitos dos documentos de planeamento que se encontravam dispersos e, sendo um sistema de gestão associado a uma ISO, a rever e melhorar o alinhamento entre os sistemas de gestão da empresa. Em jeito de balanço, tudo isto constituiu, simultaneamente, o melhor (porque os ganhos foram notórios) e o pior (porque acarretou um grande dispêndio de tempo) do processo de certificação da EPAL – “the pains and the gains”, conforme título do artigo referente ao processo de certificação da EPAL editado numa publicação da IWA. Ana Margarida Luís, Administradora Executiva do Conselho de Administração da Águas do Tejo Atlântico (Diretora da Gestão de Ativos da EPAL de 2017 a 2020)

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# atualidade

SOLUÇÕES DIGITAIS AO SERVIÇO DA GESTÃO DE ATIVOS “... a CEGA elaborou um conjunto de questões, por forma a que todos os stakeholders do setor possam ter conhecimento das tendências do mercado naquilo que está relacionado com as soluções digitais que permitem uma melhoria efetiva da Gestão de Ativos das EG.”

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A

s experiências das últimas décadas demonstram que a evolução tecnológica avançou com uma velocidade estonteante, trazendo soluções que permitem introduzir melhorias efetivas nas empresas, principalmente no que concerne ao funcionamento operacional, pelo que é pertinente abordar este tema com algum detalhe.

Neste sentido, a Comissão Especializada de Gestão de Ativos da APDA (CEGA) endereçou um convite a várias empresas que oferecem serviços com soluções digitais para melhorar e facilitar o quotidiano das Entidades Gestoras (EG), tendo obtido a contribuição dos seguintes parceiros tecnológicos: • ESRI (https://www.esriportugal.pt/pt-pt/home);

• AQUASIS ( http://www. aquasis.pt/); • CTGA (https://www.ctga. pt/); • IBM Portugal (https://www. ibm.com/pt-en). A CEGA regista com agrado a participação destas entidades, sendo certo que o seu contributo nesta edição da revista ajudará no objetivo de colocar todas as EG num patamar de igualdade, REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade cabendo depois a cada uma adotar as melhores estratégias para dotar os seus serviços das melhores soluções, ou daquelas que melhor se adequam à sua realidade e ao objetivo de prestar um serviço eficiente e de qualidade. Foi com base nestes pressupostos que a CEGA elaborou um conjunto de questões, por forma a que todos os stakeholders do setor possam ter conhecimento das tendências do mercado naquilo que está relacionado com as soluções digitais que permitem uma melhoria efetiva da Gestão de Ativos das EG. Apresentam-se de seguida as perguntas formuladas, assim como uma compilação das respostas e opiniões das empresas tecnológicas consultadas (em itálico). CEGA: As soluções atuais existentes no mercado, designadamente soluções digitais para apoio à gestão de ativos, podem vir a ter um custo diferenciado por Entidade Gestora, tendo em consideração a sua realidade económica, a sua dimensão e a modalidade de gestão?

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Para a ESRI, o seu modelo de venda já “disponibiliza ao mercado programas que visam acomodar a diversidade de realidades das Entidades Gestoras, baseadas no sistema de informação geográfica da ESRI, que são flexíveis e personalizáveis a todas as situações de modo a atender às necessidades de todos os utilizadores e clientes”. A ESRI ressalva ainda que tem soluções que estão “orientadas para pequenas e médias empresas de Utilities, não se restringindo unicamente a infraestruturas de água, mas também de eletricidade, gás e telecomunicações” sendo que para as grandes empresas “existe a possibilidade de estabelecer um “Enterprise Agreement”, que tem por objetivo facultar software, manutenção, serviços e/ou formação, por um período pré-estabelecido com a entidade”. A empresa refere ainda que “para além da diversidade dos modelos de venda, por aquisição perpétua ou subscrição a termo, ou estabelecimento de acordos empresariais” as EG podem optar por “implementar soluções completamente na cloud ou “on premises”.

Na AQUASIS “as soluções digitais para apoio à gestão de ativos têm necessariamente custos diferenciados por Entidade Gestora de acordo com a sua dimensão. A dimensão da Entidade Gestora define, em grande medida, o número de utilizadores das soluções digitais e, consequentemente, o custo que lhes está associado. Acresce ainda que grande parte das soluções digitais disponíveis apresentam diferentes modalidades de implementação, quer no que se refere ao seu alojamento (“on premises”, SaaS), quer ao tipo de licenciamento (perpétuo, aluguer ou subscrição), o que permite diferenciar os custos de implementação, ajustandoos à realidade económica da Entidade Gestora”. Na opinião da CTGA, e tendo em consideração o “número muito significativo de Entidades Gestoras de sistemas de abastecimento e saneamento, com tipologias e escalas muito diversificadas”, em Portugal faz todo o sentido “que as aplicações digitais ofereçam soluções modulares, incrementais, que permitam uma otimização às necessidades específicas de cada entidade”.


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A IBM considera que o facto de não ser possível a obtenção de soluções “one size fits all”, dada a diversidade que se pode encontrar na realidade das EG, levou as empresas tecnológicas “a criar e adaptar a sua oferta tanto de software como de serviços a esta realidade, tendo no seu portefólio ofertas que permitem chegar tanto a empresas com menor capacidade de investimento como a gigantes corporativos”. Também é um facto importante que “se tem refletido esta necessidade nas ofertas de Cloud que as empresas têm disponibilizado nos últimos anos, permitindo a configuração de soluções baseadas em Clouds totalmente públicas, privadas, híbridas ou com componentes “on-premises”. Esta versatilidade permite ajustar à realidade de cada uma das EG tanto em modelo de gestão de IT como de gestão económica”. CEGA: Resiliência e Eficiência - Que tipo de soluções podem as EG dispor atualmente, e qual a tendência de evolução dessas soluções para acautelar, através de modelos preditivos, as repercussões das alterações climáticas?

A AQUASIS refere que “apresenta no seu portfolio soluções que permitem contribuir, direta e indiretamente, para a resiliência e eficiência das Entidades Gestoras, nas dimensões ambiental, económica e social”, ressalvando que “as soluções digitais estão hoje presentes na maioria das entidades gestoras a diferentes níveis, e podem ser agrupadas em OSS (Operations Support Systems) e BSS (Business Support Systmes)”, cujas ofertas passam por: • “Sistemas de informação Geográfica, com um nível de importância elevado na gestão do conhecimento das infraestruturas hidráulicas, de suporte às operações no terreno e como ferramenta de suporte à decisão de investimentos das redes; • Sistemas de Gestão da Manutenção e de Ativos, essencial para o agendamento das manutenções preventivas e monitorização da condição dos equipamentos evitando por esta via uma degradação ou falha dos equipamentos e infraestruturas; • Sistemas de Gestão da Operação, fundamental para uma gestão das

operações diárias das Entidades Gestoras, onde o planeamento é fundamental para a eficiência operacional; • Sistemas de Monitorização de Redes em tempo real, utilizando modelos preditivos para controlo das perdas reais; • Sistemas de Gestão das do parque de contadores, aplicando modelos preditivos para o controlo das perdas aparentes e necessidades de substituição de contadores”. Para a CTGA a robustez dos sistemas é um pressuposto importante nesta matéria, sendo que “depende muito da capacidade de antecipar problemas, recorrendo a modelos preditivos, a análise estatística do comportamento de equipamentos e instalações similares, gera-se informação relevante para definir os planeamentos de manutenção preventiva e programação de investimentos de beneficiação”. Considera ainda que os desafios das alterações climáticas “colocarão ainda mais ênfase e pressão na tal resiliência e eficiência que os sistemas de abastecimento e saneamento devem possuir”. REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade A IBM alerta para as novas circunstâncias e responsabilidade que advém das alterações climáticas, com legislação nova, cujo incumprimento pode consubstanciar penalidades para as EG, pelo que considera que “as EG deverão rapidamente adaptar-se de forma a conseguir cumprir os requisitos legais e gerir o impacto de imagem que existe para as empresas que não os cumpre”. Já no que concerne aos modelos preditivos, e apesar de “existirem hoje em dia diversas ofertas relacionadas com modelos preditivos relevantes para as EG no contexto da gestão das águas”, regista que esses modelos “poderão contribuir para melhorias significativas na gestão da operação de equipamentos de forma a aumentar a sua eficiência de utilização”. Regista também que “é possível montar modelos baseados em técnicas de aprendizagem automática para deteção de comportamentos anómalos de equipamentos e até para a antecipação da ocorrência de falhas”. Considera por fim que “a previsão destes comportamentos poderá contribuir de forma significativa para

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o desperdício de água relacionado com fugas e falhas de equipamentos”. Nesta questão, é ainda sublinhada a importância da utilização de ambientes na cloud, já que considera que “é também um fator que tem contribuído para uma gestão mais eficiente dos recursos computacionais nomeadamente permitindo a utilização de recursos partilhados, ajustando-os conforme as necessidades (muitas vezes em tempo real) e mantendo apenas on-line os recursos necessários”. Na opinião da ESRI, “as alterações climáticas, com eventos cada vez mais extremos, afetam os sistemas de água e saneamento, colocando em risco a saúde pública e causando danos infraestruturais e ambientais”. Para a ESRI, e para garantir que os sistemas públicos de água possam funcionar no futuro, “as Entidades Gestoras precisam estar cientes de como a variabilidade e as alterações climáticas podem afetar as operações e os seus ativos”. Considera que a “utilização de uma tecnologia baseada na localização é essencial”, e faz nota que “todos os ativos são espaciais, todos ocupam

uma localização” pelo que, também, os ativos “são afetados eles próprios por: relações com outros ativos, clientes e fatores externos; alterações ambientais como as mudanças climáticas; e a sua própria criticidade – um ativo danificado ou fora de serviço pode afetar a área envolvente”. Na opinião da ESRI a “utilização de um SIG permite cruzar dados de diversas fontes, efetuar análise espacial e implementar modelos de previsão”, sendo certo que atualmente “já existem diversos serviços de dados, fornecidos por agências ambientais (como IPMA, NOOA, entre outros) com informação de projeções para a precipitação, temperatura, água no solo, e outras variáveis ambientais para as décadas futuras, que podem ajudar as Entidades Gestoras a compreender os potenciais impactos destes fenómenos nas suas infraestruturas e a tomar decisões mais sustentadas”, e que “o mapeamento e caracterização dos ativos e o cruzamento e análise espacial dos ativos com informação ambiental permite criar cenários e fazer escolhas informadas que aumentem a resiliência dos sistemas e reduzam


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o risco futuro”. Alerta, contudo, que “a aplicação de modelos preditivos não se coloca apenas na ótica dos fenómenos climáticos, os mesmos podem ser aplicados para analisar os ativos e identificar quais os que devem ser renovados ou substituídos”. Sobre este assunto, a ESRI salienta a experiência efetiva junto de EG, designadamente no processo de seleção de ativos horizontais cuja remodelação deve ser prioritária, sendo que baseia os critérios de decisão em “fatores como idade da conduta, histórico de falhas, material, diâmetro, tipo de solo, clima”. Os processos de machine learning, disponíveis através da combinação de soluções da ESRI, mas que dependem da “qualidade e quantidade de dados que as Entidades dispõem”, permitem que “as Entidades obtenham uma visão do terreno, das infraestruturas e do risco por meio de ferramentas contextuais que ajudam a visualizar e analisar os dados, e desta forma direcionar com precisão os ativos que mais precisam de atenção, antes de provocarem danos infraestruturais, ambientais e sociais”.

CEGA: Admitem a criação de um grupo de trabalho para, em colaboração com técnicos designados pelas EG contribuírem para o desenvolvimento de novas funcionalidades nas soluções digitais de Gestão de Ativos? Para a IBM esta ideia já é uma constante no desenvolvimento das soluções que oferece ao mercado, referindo que “observa-se uma tendência para a incorporação em ambiente de projeto de técnicas para desenho e desenvolvimento colaborativo de soluções, como é o caso do Design Thinking ou até das metodologias de projeto Agile”, sendo certo que esta tendência está a aumentar, mais concretamente através da “cocriação de soluções baseadas em casos de uso relevantes para indústria que resultam em joint ventures com partilha de benefícios para a EG e para o parceiro tecnológico, permitindo a criação de um modelo económico de recuperação de investimento e de lucro de mútuo benefício”, exemplificando com o caso da “criação de Digital Twins, que requer um conhecimento muito concreto de indústria e de tecnologia que só uma forte

parceria entre organizações consegue levar para a frente”. A CTGA partilha a ideia de que “o desenvolvimento de novas funcionalidades das soluções digitais já está muito associado à assistência técnica que as empresas fornecedoras dessas soluções vão mantendo com os clientes”, ressalvando que este caminho permite que com a “perceção e compreensão das necessidades e expectativas, vão sendo incrementadas funcionalidades para dar respostas adequadas”. Também a ESRI considera que a colaboração e partilha de ideias é um caminho impreterível para se obterem soluções cada vez mais adequadas, considerando ainda que “o feedback dos utilizadores é muito importante, tudo o que é solicitado é analisado pelas equipas de produto de forma a criar software e serviços que melhor atendam às necessidades dos nossos clientes”. Na mesma linha de resposta a AQUASIS considera a participação ativa dos seus utilizadores “não só para a configuração e parametrização das soluções, REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade mas também para a definição de requisitos funcionais que melhor adequem a solução ao modelo de gestão da EG”, sublinhando que “a partilha de conhecimento entre EG é de especial relevância”, tendo já providenciado no passado esta partilha de “Experiências e Divulgação de Boas Práticas”, através de fóruns, com o objetivo de “promover a divulgação de temas de interesse e atualidade e partilha de experiências na utilização de soluções para a gestão de informação e para eficiência operacional dos sistemas de abastecimento de água e saneamento de águas residuais”. CEGA: Consideram que o mercado em Portugal acompanha a evolução internacional, do ponto de vista da oferta de soluções para as EG do setor da água? A CTGA não tem dúvidas quanto à qualidade das ofertas em Portugal, que “estão ao nível do que melhor se proporciona ao nível de soluções digitais em todo o mundo”, opinião que é partilhada pela ESRI, sendo que esta empresa considera que a questão se prende, essencialmente “com a maturidade e

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capacidade das entidades na sua implementação”, já que é sua opinião que “a gestão de ativos deve ser uma prática comum das Entidades Gestoras, de forma a maximizar o desempenho dos ativos, minimizando os riscos, otimizando os recursos existentes e observando as restrições de custo, o que se traduz num processo que visa obter uma infraestrutura sustentável”. Considera ainda que “as Entidades Gestoras devem ser responsáveis por garantir que os seus sistemas permaneçam em boas condições de funcionamento, independentemente da idade ou estado dos ativos e da disponibilidade de financiamentos”. Também a IBM partilha da opinião que “as empresas em Portugal conseguem sem dúvida acompanhar o trabalho realizado internacionalmente e incorporar as soluções desenvolvidas no seu portefólio de aplicações”, contribuindo para este facto, no caso da IBM “a existência de empresas multinacionais como a IBM que desenvolvem a base dos seus produtos trabalhando e investindo em I&D de

indústria e incorporando tecnologia cutting edge tal como Inteligência Artificial nos seus produtos, permite às EG em Portugal beneficiar destas soluções ao mesmo tempo que nos restantes países”, sendo que algo que também beneficia as EG é “o facto de estas empresas conseguirem aportar em contexto de projeto conhecimento intelectual baseado em PMEs de indústria espalhados pelo mundo e trazer esse mesmo conhecimento para Portugal e aplicar ao negócio”. A AQUASIS considera, tendo em consideração a existência de um “mercado cada vez mais global, as ofertas hoje disponíveis para as EG do setor da água são em tudo semelhantes às que se encontram no mercado internacional”, partilhando da opinião da ESRI, nomeadamente que a questão está em saber “se as EG nacionais estão preparadas para implementar essas soluções”, salientando que no País existem muitas EG que retiram das soluções digitais muitas vantagens operacionais, com impacto no resultado, mas que ainda existem “muitas EG não têm ainda condições


SOLUÇÕES DIGITAIS AO SERVIÇO DA GESTÃO DE ATIVOS

para utilizar essas soluções, não só por escassez de recursos (sobretudo recursos humanos), como, sobretudo, por estarem num processo inicial de digitalização dos seus ativos (ou não o terem sequer iniciado)”. CEGA: Na área da Gestão de Ativos, consideram que é tempo da “máquina” substituir o recurso humano, ou que esse tempo poderá chegar a breve trecho? A IBM considera que “a próxima geração de avanços tecnológicos emergentes, no que toca a tecnologias de automação e inteligência artificial, procura sobretudo dotar o ser humano de recursos e ferramentas que anteriormente não estavam disponíveis e que permitirão aumentar a eficiência e eficácia dos processos de negócio”, salientando que estas tecnologias “terão a capacidade de moldar a forma como entendemos o meio que nos rodeia, por exemplo através de soluções de realidade aumentada, permitindo uma imersão e uma sobreposição entre os ambientes que nos rodeiam e a realidade virtual”, exemplificando que cada vez mais se observa a utilização

de equipamentos “que nos permitem aceder, observar e manipular locais que até então se encontravam inalcançáveis, como por exemplo através da utilização de drones”. Chama ainda a atenção para os processos de automação, designadamente para o facto de que “não são soluções plug-andplay: as EG não se podem limitar a comprar tecnologia, carregar num interruptor e observar os robots a gerirem o negócio sem qualquer intervenção humana”, salientando a importância das EG prepararem e capacitarem as suas equipas para “trabalharem nestes ambientes em constante mudança, repletos de inovação e, como tal, cada vez mais desafiantes”. A AQUASIS concorda que a “máquina nunca irá substituir, em pleno, o recurso humano”, ressalvando que “a implementação de soluções digitais para a Gestão de Ativos nas EG irá, necessariamente, levar à reconversão de algumas das tarefas que hoje são executadas por recursos humanos, tornando os processos mais eficientes”. Chama ainda a atenção para o facto da “tendência

da implementação de IoT ou digital twin, vir aumentar significativamente a complexidade e o volume de dados a tratar, bem como a necessidade de uma análise continua desses dados, em tempo real ou quase real, algo que só estará ao alcance das máquinas”. Já na opinião da ESRI, considera que “esse tempo veio para ficar”, no que concerne ao cerne da questão ora sob resposta, mas sublinha que “o importante é aproveitar “a máquina” para realizar os trabalhos rotineiros e salvaguardar o recurso humano para as atividades estratégicas de interpretação, análise, e tomada de decisão, suportada em resultados obtidos por processos de machine learning ou inteligência artificial”, sendo que “a máquina só produz bons resultados se os dados introduzidos forem confiáveis”. A ESRI salienta o facto de que “tem ajudado as Entidades através da sua tecnologia baseada em localização em três pilares: gestão de dados de ativos, avaliação de desempenho e otimização do ciclo de vida”, sendo que a diversidade de dados é uma situação REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade que justifica “a utilização de um sistema de informação geográfico moderno suporta uma gestão de ativos eficaz na medida que conecta com essas fontes e reúne os diferentes tipos de informação, permitindo modelar o passado, o presente e o futuro, e revelar o que está por detrás dos dados, obtendo informações úteis e até desconhecidas”, e, mais importante, “torná-las disponíveis a todas as partes interessadas, através de uma imagem completa de todo o sistema, em qualquer dispositivo, momento ou lugar”. Relativamente à opinião da CTGA, de forma perentória, considera que a máquina não substitui o recurso humano, e que “ainda estamos muito longe dessa realidade” e sendo a área da Gestão de Ativos tão transversal e tão dependente de decisões humanas, “não faz sentido que assim seja”. Contudo, considera que “a “máquina” poderá evoluir significativamente como ferramenta de apoio à decisão e à monitorização e controlo da gestão”. CEGA: Considera que os ativos de uma EG do setor

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da água, designadamente os equipamentos mais significativos de uma instalação (Estação Elevatória; Reservatório; ETAR; ETA; etc.), podem vir a ter incorporados sensores que, através de ligação a software específico, poderá antecipar falhas de funcionamento, ou quebras de rendimento desses equipamentos? A AQUASIS ressalva que “esta prática já é uma realidade noutros setores de atividade”, sendo que atualmente as EG “já têm acesso a soluções de software capazes de o implementar, no entanto esta prática necessita de investimento por parte das EG, o que dificulta a sua implementação”. Considera ainda que no setor da água “esta é claramente uma tendência com a Internet das Coisas (IoT - Internet of Things), sendo que presentemente já existem equipamentos que incorporam sensores que podem antecipar falhas de funcionamento, nomeadamente os grupos eletrobomba, em que sensores de temperatura, vibração, energia, entre outros, mediante a integração dos sinais gerados num

SCADA, que constantemente coleta dados, permitindo a antecipação de alguns problemas no funcionamento/rendimento do equipamento”. No entanto, aponta para as limitações dos SCADA, pelo que, na sua opinião o futuro “futuro passa pela adoção de softwares específicos, capazes de gerir modelos previsionais, suportados em algoritmos de inteligência artificial (AI - Artificial Intelligence) e, em particular, em modelos de aprendizado de máquina (ML - Machine Learning), que aprendam, de forma automática, por via da correlação dos dados recolhidos através dos sensores, sem ser explicitamente programado ou auxiliado por especialistas”. Para a AQUASIS, com estes softwares específicos baseados em ML “é possível monitorizar os processos constantemente, mudando o foco da resolução de problemas para a avaliação de risco preditiva e otimização dinâmica dos sistemas”. Com ML, é possível ainda “usar os sensores e softwares já instalados e suas medições com mais eficiência e identificar os riscos com antecedência,


SOLUÇÕES DIGITAIS AO SERVIÇO DA GESTÃO DE ATIVOS

contribuindo também para a descoberta de novos fatores que permitam melhorar o desempenho das Entidades Gestoras”.

tenderá a que cada vez mais se recorra à tecnologia como uma ferramenta potente e crucial no apoio à gestão e à decisão”.

Já no que concerne à opinião da IBM, a tecnologia relacionada com IoT “tem conhecido avanços substanciais nos últimos anos, permitindo a aquisição de equipamentos a baixo custo, maior fiabilidade nas comunicações e interligação com sistemas corporativos e outras tecnologias cuttingedge tais como inteligência artificial”, sendo que neste contexto “as EG no setor da água poderão sem dúvida beneficiar da implementação de projetos de sensorização de equipamentos com vista a monitorizar remotamente os mesmos, adotar modelos preditivos de controlo de rendimento, previsão de comportamentos anómalos e falhas”.

Por fim, a ESRI concorda com esta solução de incorporação de sensores nos equipamentos, ressalvando que “já existem alguns casos práticos dessa utilização”. Salienta que a evolução tecnológica “tem permitido incorporar processos, técnicas, procedimentos mais sofisticados na forma como é aplicada a manutenção das máquinas e equipamentos”. A manutenção corretiva “é a mais antiga e provavelmente ainda a mais aplicada, realizada somente quando ocorrem falhas”, pelo que para garantir o objetivo de evitar avarias e o aparecimento de falhas nos equipamentos, “surge a manutenção preventiva, também já amplamente utilizada”, mas que “a mais evoluída e moderna” é a manutenção preditiva “efetuada por meio de softwares, que avaliam as condições de funcionamento e desempenho dos equipamentos em tempo real, e que por alteração dos parâmetros de controle emitem alertas”. A ESRI

Para a CTGA “em instalações críticas de elevada importância essa sensorização e automatização já é uma realidade”. Com a enorme difusão das tecnologias de sensorização a que temos vindo a assistir, a CTGA acredita “que o caminho

reforça que “através do conhecimento e análises dos fenómenos ocorridos nos equipamentos (p.e. vibração excessiva, ruido excessivo, temperatura acima do normal) torna-se possível indicar, com antecedência eventuais defeitos ou falhas nos equipamentos”, Contudo, este tipo de manutenção “exige um maior investimento por parte das Entidades Gestoras, quer na aquisição de sensores e software específico, bem como na formação dos operadores, para que possam acompanhar e monitorizar em contínuo o processo”, sendo que “a incorporação da análise espacial em modelos de machine learning permite ainda estabelecer relações e prever eventos futuros”.

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# atualidade

Que futuro para a gestão de ativos nos serviços de água?

Helena Alegre Investigadora no LNEC e Diretora do Departamento de Hidráulica e Ambiente

O Departamento de Hidráulica e Ambiente é uma unidade com cerca de 120 pessoas dedicada à investigação aplicada nos domínios de recursos hídricos, serviços de águas e infraestruturas hidráulicas e de tratamento. É membro do Conselho Nacional da Água, do Conselho de Administração da Parceria Portuguesa para a Água, do Conselho Consultivo do PENSAARP 2030 e do Digital Water Committee da International Water Association. Preside ao Conselho Consultivo da LIS-Water. É especialista em avaliação de desempenho, gestão de ativos e gestão de perdas de água e eficiência energética de serviços de águas, com vasta experiência de gestão de projetos de investigação e de normalização internacional. É (co)autora de 500+ publicações, incluindo 20+ livros.

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“ De um ponto de vista metodológico, a GA e a GPI atingiram um elevado nível de maturidade. Os princípios fundamentais irão certamente perdurar sem alterações significativas. Prevê-se, contudo, que a evolução metodológica e tecnológica em curso em muitas áreas do conhecimento venha a provocar alterações significativas

nos materiais e nos métodos adotados no contexto da GPI”.


Que futuro para a gestão de ativos nos serviços de água?

1. INTRODUÇÃO O principal objetivo deste artigo é provocar uma reflexão sobre como irá evoluir a gestão de ativos no futuro. Para isso, começa-se por discutir o que se entende por gestão de ativos e a que ativos nos estamos a referir. Faz-se uma breve análise sobre a evolução do reconhecimento atual da

importância da gestão de ativos no contexto industrial e empresarial, por um lado, e no mundo da investigação, por outro, com destaque para os programas europeus H2020 e Horizonte Europa. Centrando a atenção nas infraestruturas de abastecimento de água, de gestão de águas residuais e de gestão de águas pluviais, discutem-se oportunidades e

desafios futuros para a gestão de ativos/ gestão patrimonial de infraestruturas no contexto europeu e nacional. Reflete-se sobre a relação entre a GPI e tendências de mudança como resiliência, economia circular, e transição digital, entre outros. Embora o foco sejam os serviços de água, abordam se sumariamente oportunidades e desafios de outros tipos de infraestruturas hidráulicas.

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# atualidade 2. GESTÃO DE ATIVOS: DE QUE ESTAMOS A FALAR? A Gestão de Ativos está hoje bem enquadrada pelas normas internacionais da série ISO 55xxx. Gestão de ativos, tal como definido em ISO 55001: 2014, é a atividade coordenada de uma organização para percecionar e produzir valor a partir dos ativos. O valor de um ativo individual ou de um sistema de ativos não está na sua qualidade intrínseca ou no seu estado de conservação, mas sim na sua função e na forma como a desempenha para cumprir os desígnios da organização, numa perspetiva de longo prazo. No contexto das entidades gestoras de serviços de água (EG), é necessário avaliar o valor dos ativos ou sistemas de ativos em função do que aportam para a qualidade do serviço prestado aos utilizadores. Assim, dois ativos ou sistemas de ativos iguais podem ter valores e prioridades de intervenção muito diferentes para uma organização se as funções que desempenham tiverem relevância diversa.

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Os principais tipos de ativo de uma entidade gestora de serviços de água são a infraestrutura física que suporta a prestação de serviço (i.e. os sistemas de abastecimento de água e de drenagem e tratamento de águas residuais e pluviais), outros ativos físicos (e.g. edifícios, viaturas, equipamentos, infraestruturas e soluções tecnológicas), ativos humanos, “know-how” da organização, ativos financeiros, ativos de reputação e imagem, e parcerias. A gestão de ativos (GA) pode aplicar-se a qualquer destas famílias, cabendo a cada organização decidir o âmbito em que se pretende focar e até, eventualmente, se pretende certificar de acordo com a ISO 55001. Tipicamente, o foco das EG de serviços de água é nas infraestruturas físicas de transporte, distribuição ou drenagem, de elevação e de tratamento, ou seja, na gestão patrimonial de infraestruturas (GPI). A GPI tem, assim, um âmbito mais restrito do que a GA, mas explora com mais profundidade aspetos específicos das infraestruturas em rede de suporte a serviços públicos. Entre eles destaca-se o funcionamento

de sistema - não é viável avaliar a qualidade de serviço de condutas ou coletores individuais, por exemplo, apenas de (sub) sistemas funcionais – e do facto de uma infraestrutura de suporte a um serviço público não ter uma vida útil finita - apenas os seus componentes a têm. Nestas infraestruturas, coexistem ativos de idade, vida útil e estado de conservação muito diversos e as típicas fases do ciclo de vida dos ativos coexistem temporalmente e perduram indefinidamente. Estas infraestruturas não são substituídas de uma só vez, mas progressivamente, de modo a assegurar a estabilidade do valor global das infraestruturas, com vista à sustentabilidade da prestação de um serviço com adequada qualidade. Na reflexão que se segue o enfoque é colocado nas infraestruturas físicas que suportam diretamente a prestação do serviço. É normal que neste ponto o leitor assuma que se está a falar de ativos construídos, tais como condutas e coletores, reservatórios, instalações de tratamento e instalações elevatórias. É


Que futuro para a gestão de ativos nos serviços de água?

COMMISSION, 2013A, GREEN INFRASTRUCTURE (GI) - ENHANCING EUROPE’S NATURAL CAPITAL - COM(2013) Grey infrastructure refers to buildings, roads, and other urban constructions.

Blue infrastructure refers to water elements, like rivers, canals, ponds, wetlands, floodplains, water treatment facilities, etc.

Green infrastructure refers to trees, laws, hesgerows, parks, fields, forests, etc. These terms come from urban planning and land-use planning. verdade, mas é fundamental refletir de modo integrado nas infraestruturas de base natural, tais como bacias de retenção, estruturas de infiltração, áreas de proteção de captações, ou instalações de tratamento de base natural. Assim, a reflexão que se segue engloba as infraestruturas físicas “cinzentas”, “verdes” e “azuis”.

Dado o objeto da APDA e desta revista, o cerne da reflexão são as infraestruturas dos serviços de água, mas abordam-se também, ainda que sumariamente, desafios e oportunidades de outros tipos de infraestruturas hidráulicas.

3. PRINCIPAIS OBJETIVOS DOS SISTEMAS DE ÁGUA Como parte do seu objetivo básico de abastecer as populações de água e de gerir as águas residuais e pluviais, as entidades gestoras de serviços de água (EG) devem: fornecer um serviço de boa qualidade para todos, em todos os momentos; fornecer infraestruturas e serviços eficientes e seguros; tornar-se mais confiáveis, flexíveis e resilientes; proteger o ambiente natural e construído. Além disso, os sistemas de água enfrentam hoje desafios que impulsionam a mudança. Esses motores de mudança estão interrelacionados e sobrepõem-se parcialmente. As EG precisam abordá-los simultaneamente e de forma integrada. Em particular, necessitam: - enfrentar a emergência das alterações climáticas

e seu impacto esperado na qualidade e quantidade das águas urbanas, em situações normais e sob eventos extremos; - contribuir para cumprir os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas e respeitar os direitos humanos à água e ao saneamento; - compreender as interconexões entre os serviços de água e saúde pública, e colaborar com organizações relacionadas; - desempenhar um papel efetivo na economia circular, promovendo sistemas de ciclo fechado, minimizando o uso de recursos e a produção de resíduos, poluição e emissões de carbono; - reconhecer as ligações existentes no nexo águaenergia-alimentos e a necessidade de uma abordagem que permita garantir segurança hídrica e alimentar, agricultura sustentável e produção de energia, sob procura crescente (FAO, 2011). As EG estão progressivamente a assimilar esses motores de mudança, incorporando-os continuamente na sua visão e objetivos estratégicos. REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade 4. GESTÃO DE ATIVOS: QUE IMPORTÂNCIA LHE É ATRIBUÍDA NO MUNDO ATUAL? É notório o crescente interesse internacional por parte das entidades gestoras e da indústria da água pela gestão de ativos / gestão patrimonial de infraestruturas desde o início do século, registando-se uma notória aceleração desde a publicação das normas ISO 55xxx, em 2014. Estas normas estão no grupo das normas ISO que mais interesse despertam no mundo, por parte das mais diversas atividades económicas. Verifica-se que cerca de 20% das organizações certificadas pela norma ISO 55001 reportadas no portal da comissão técnica ISO/ TC251, https://committee. iso.org/home/tc251, são de abastecimento água e/ou de águas residuais, percentagem seguramente muito superior à proporção de serviços de água face ao universo potencial de organizações certificáveis por esta norma. Este facto ilustra bem o reconhecimento atual que as EG dão à gestão de ativos, e tudo leva a crer que a

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tendência se mantenha ou até se venha a acentuar. Em termos científicos a situação é um pouco diferente. Observemos criticamente alguns casos de agências financiadoras de investigação científica: Comissão Europeia (Programas Quadro V a VII, Horizonte 2020 e Horizonte Europa), UK-WIR (UK Water Industry Research), do Reino Unido, e AWWARF - American Water Works Association Research Foundation e Water and Environment Research Foundation Water Research Foundation, dos Estados Unidos da América. Em todos estes casos, a investigação em reabilitação e em gestão de ativos foi muito significativa nos últimos anos da década de 90 e na primeira década deste século. Surgiram muitas linhas de financiamento dedicadas inteiramente a estas matérias. Mais recentemente assistiuse a uma aparente regressão, sobretudo por parte da Comissão Europeia. Com exceção de financiamentos à investigação escolhidos e assegurados pelas entidades gestoras (caso, por exemplo, da UK-WIR), raramente o termo “asset management” aparece nos textos dos

termos de referência para os concursos de projetos de investigação. As temáticas mais tratadas incluem: - mitigação e adaptação às alterações climáticas (e.g. resiliência dos sistemas aos eventos extremos, controlo de emissões de gases com efeitos de estufa); - economia circular (incluindo temas tais como reutilização e uso de outras origens alternativas de água; recuperação de recursos); - água e saúde pública; - descentralização dos sistemas de água); - nexo água-energiaalimentação; - segurança, com destaque para a cibersegurança; - transformação digital; - ciência dos dados; - participação social. Pode parecer à primeira vista prevalecer um entendimento de que tudo de relevante que havia para investigar em GPI já é ciência dominada, que a investigação em GA “passou de moda”. É curioso registar que na investigação autofinanciada pelas EG continuam a surgir concursos e projetos de investigação dedicados diretamente a essas matérias, refletindo a importância que as EG lhes reconhecem (e.g.


Que futuro para a gestão de ativos nos serviços de água?

projetos promovidos pela UK-WIR, iniciativas nacionais promovidas pelo LNEC, projetos promovidos por grupos privados como a AGS ou a CETAQUA). A análise mais aprofundada, porém, mostra uma outra realidade: a GPI é essencial para o sucesso de qualquer dos temas prioritários dos programas de investigação europeia, já que todos requerem alterações de paradigma dos sistemas de água hoje existentes. Os serviços de água são suportados em sistemas de ativos de longa duração e em

investimentos de construção elevados. Não é financeira, social e ambientalmente razoável abandonar as infraestruturas existentes, ainda valiosas, substituindo-as de um dia para outro por outras baseadas em paradigmas diferentes. Assim, a GPI está inevitavelmente muito presente em todas estas linhas de investigação, de modo incontornável, permitindo a gestão da transição das soluções existentes para as desejáveis. Na realidade, só com recurso a uma boa GPI se poderá ser bem-sucedido na implementação sustentável

de novas soluções (ver 6.). É necessário inovar na forma de gerir as infraestruturas! Num mundo que tem tido uma evolução tecnológica muito rápida, não se pode esperar que os objetivos dos serviços de água permaneçam constantes ao longo das várias dezenas de anos de vida útil dos ativos que detêm. É necessário fazer evoluir as infraestruturas atuais de modo a que venham a assegurar os novos objetivos de médio e longo prazos. Dado o elevado grau de degradação de muitos ativos, REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade por insuficiente ou inadequado investimento em reabilitação, as intervenções de reabilitação são predominantemente motivadas por deficiências na condição física, dificuldades de operação e manutenção ou eficiência baixa (e.g. baixa eficiência energética; elevadas perdas de água; baixa eficiência de tratamento). Nestas circunstâncias, é frequente assistir à substituição dos ativos degradados pelos seus equivalentes modernos, sem repensar o funcionamento do sistema de modo mais global e prospetivo. Em vez disso, deve-se ter sempre presente que, nestas infraestruturas, as intervenções de reabilitação motivadas por degradação do estado de conservação são “a” oportunidade de ouro para repensar e transformar os sistemas atendendo aos desígnios e ambições atuais. As práticas generalizadas de substituição de igualpor-igual ou igual-porequivalente-moderno não são mais aceitáveis. Na secção seguinte analisam-se algumas das oportunidades e desafios da atualidade dos serviços de água, refletindo na forma como a GPI se relaciona e pode ajudar.

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5. OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA A GESTÃO PATRIMONIAL DE INFRAESTRUTURAS (GPI) DOS SERVIÇOS DE ÁGUA 5.1 Oportunidades decorrentes da ação climática da UE e do Pacto Ecológico Europeu A União Europeia assumiu o compromisso de lutar contra as alterações climáticas, tendo adotado um plano para atingir uma redução interna líquida de, pelo menos, 55 % das emissões de gases com efeito de estufa entre 2020 e 2030. O objetivo é a Europa ser o primeiro continente com impacto neutro no clima até 2050. Portugal assinou este compromisso. A ação climática está no centro do Pacto Ecológico Europeu, em curso, que Portugal subscreveu. O Plano de Recuperação e Resiliência está fortemente focado no cumprimento destes ambiciosos objetivos (https:// www.consilium.europa.eu/ pt/policies/green-deal/, consultado em 30 de agosto de 2021). As EG têm agora o dever e a oportunidade para intervir

nos sistemas que gerem de modo a ativamente contribuir para esse compromisso/ objetivo. Da informação recolhida nos projetos promovidos pelo LNEC iPERDAS, PASt21 e iEQTA, retira-se a conclusão de que os gastos com energia podem ser bastante significativos, com potencial para representar mais de 30% dos gastos operacionais (Loureiro et al., 2020), havendo uma variação sazonal bastante relevante (3 a 4 vezes superior na época húmida) no caso dos sistemas de drenagem (Jorge et al., 2021). Ademais, a água não faturada para os sistemas “em baixa” ainda representa, a nível nacional, cerca de 29% (RASARP 2020). De acordo com os cálculos feitos no projeto AVALER+, entre 2011 e 2017, o consumo médio de energia em sistemas de abastecimento de água foi de 1,05 kWh/m3 de consumo autorizado e em sistemas de águas residuais de 0,58 kWh/ m3 de água residual tratada (Silva et al., 2020), sendo bastante inferior no caso das entidades em baixa (cerca de 0,38 kWh/m3 de água residual recolhida, Jorge et al., 2021), conforme apurado no projeto iAFLUI. Para comparação, refere-se que o consumo


Que futuro para a gestão de ativos nos serviços de água?

associado à indústria de papel é de 0,6 kWh comprados / kg de papel. Neste mesmo estudo, as emissões de gases decorrentes da energia elétrica consumida pelas EG de sistemas de abastecimento de água do Continente Português ascendem a 200 kton CO2e/ ano. O encurtamento de circuitos entre a fonte e o ponto de utilização inerente a uma economia mais circular também tem todo o cabimento no Pacto Ecológico Europeu. Neste âmbito inserem-se ações tais como o recurso a origens alternativas de água, com destaque para a reutilização a partir de águas residuais tratadas, a descentralização de alguns processos e a adoção de soluções baseadas na natureza. Qualquer destas transformações implica alterações substanciais nas infraestruturas existentes, requerendo a adoção de uma adequada GPI. Incentiva também um reforço das energias renováveis, que nos serviços de água têm a sua maior expressão na instalação de painéis fotovoltaicos ou mini parques eólicas nas instalações das EG, o aproveitamento da energia de tratamentos biológicos (biogás proveniente da

digestão de lamas de ETAR) e o aproveitamento da energia de pressão de alguns escoamentos, com instalação de microturbinas. 5.2 Oportunidades decorrentes do PENSAARP 2030 Perspetiva-se a possibilidade de surgimento de novas e importantes oportunidades de fazer evoluir a GPI em Portugal com a publicação e implementação do PENSAARP 2030 (Plano Estratégico para o Abastecimento de Água e Gestão de Águas Residuais e Pluviais 2030). Com base nas versões de trabalho (ref. junho 2021) e nas discussões que têm decorrido no contexto do Conselho Consultivo do Grupo de Trabalho do PENSAARP 2030, identificam-se (Tabela 1) as principais medidas previstas, salvaguardando que a versão final poderá eventualmente vir a ter alterações de substância. As medidas previstas com relevância para a GPI são de três tipos diferentes: (i) Medidas que pretendem promover os diversos temas da atualidade

anteriormente identificados: Neste grupo estão a ser consideradas medidas tais como: adaptação dos serviços às alterações climáticas; promoção gradual de circularidade e valorização ambiental nas infraestruturas; promoção de economia circular e valorização ambiental nos serviços associados; uso eficiente da água pelos utilizadores e pelas entidades gestoras; utilização de origens alternativas de água; gestão e valorização de lamas urbanas e produtos resultantes do tratamento; seleção e destino adequado de materiais e componentes de construção; redução de perdas de água e melhoria da eficiência energética nos sistemas; reforço da produção própria de energia pelas entidades gestoras e descarbonização; redução de afluências indevidas nos sistemas de águas residuais e de águas pluviais; melhoria da qualidade da água para abastecimento, e das águas residuais pluviais rejeitadas; melhoria do controlo ambiental REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade das captações de água para abastecimento e das rejeições das águas residuais (urbanas e pluviais nos meios recetores e das águas residuais industriais nas redes; modernização e digitalização dos serviços; reforço da proteção e da participação dos consumidores; reforço da segurança e da resiliência dos sistemas; (ii) Medidas específicas para a gestão de águas pluviais em meio urbano: Pela primeira vez em planos estratégicos para o setor as águas pluviais são individualizadas e tratadas com destaque semelhante ao abastecimento de água e a gestão de águas residuais. Antevê-se que esta alteração venha a ter um impacto elevado na gestão patrimonial das infraestruturas respetivas. (iii) Medidas específicas para promoção e melhoria da GPI: O PENSAARP 2030 (versão de trabalho) “aponta a urgente adoção de uma cultura e prática de gestão patrimonial das infraestruturas e a correspondente melhoria do conhecimento

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cadastral e operacional das infraestruturas. Introduz incentivos diversos, nomeadamente instrumentos de apoio à gestão patrimonial de infraestruturas aplicáveis em grandes, médios e pequenos sistemas, mecanismos de avaliação da condição infraestrutural à escala nacional, percecionáveis por decisores e sociedade, sensibilização destinada a decisores, e definição de conteúdo mínimo do cadastro das infraestruturas, incluindo pontos de captação e rejeição georreferenciados.” Destacam-se medidas relativas a: reabilitação de infraestruturas; melhoria do planeamento estratégico dos serviços; melhoria do planeamento estratégico dos serviços; melhoria da tomada de decisão de investimento pelas entidades; melhoria da gestão patrimonial das infraestruturas.

6. COMO PODE A GPI CONTRIBUIR PARA RESPONDER AOS NOVOS DESAFIOS E OBJETIVOS DOS SERVIÇOS DE ÁGUA? Nesta secção reflete-se sumariamente sobre alguns dos temas atuais que podem ganhar com uma adequada implementação de um processo de GPI ou que mais podem afetar os métodos atuais de GPI, procurando responder às questões-chave: (iv) O está a mudar ou se pretende mudar? (v) Que oportunidades para a GPI? (vi) Como deve a GPI evoluir para melhor contribuir? A Tabela 1 sistema as oportunidades de utilização da GPI para melhor servir os objetivos das EG.


Que futuro para a gestão de ativos nos serviços de água?

Tabela 1 - Oportunidades para a GPI contribuir para os novos objetivos estratégicos das EG

Alterações climáticas: resiliência dos sistemas O que muda?

O aumento de frequência e de intensidade de eventos extremos requer que os sistemas de água sejam mais flexíveis e resilientes, preparados para responder a situações incertas e desafiantes. Que oportunidades A GPI permite ajudar a definir cenários e objetivos, diagnosticar o para a GPI? desempenho do sistema sob diferentes pontos de vista (e também em termos de risco e de custo), comparar estratégicas, táticas ou ações alternativas, conferir suporte e transparência às decisões e monitorizar o efeito da respetiva implementação. Objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) O que muda?

Que oportunidades para a GPI?

Os ODS constituem o quadro de referência mundial para o que as sociedades devem ambicionar cumprir para serem sustentáveis. Os serviços de água têm o dever de contribuir mais diretamente para o ODS 6 (garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos), mas também para os ODS 3 (saúde de qualidade), 9 (indústria, inovação e infraestruturas), 17 (parcerias para a implementação dos objetivos), 14 (proteger a vida marinha) e 15 (proteger a vida terrestre). A GPI permite avançar o cumprimento destes ODS ao proporcionar a maximização de valor dos ativos para as organizações. Contribui para a continuidade, cobertura e qualidade do serviço (ODS 6, 3 e 9). Ao atender às interações entre as infraestruturas de água, o meio envolvente, as várias entidades que gerem o território e as restantes partes interessadas, a GPI contribui para o estabelecimento e bom funcionamento de parcerias (ODS 17). A gestão de águas residuais pode ainda contribuir para o ODS 14 (proteger a vida marinha) e 15 (proteger a vida terrestre), podendo este contributo materializar-se em sistemas de avaliação de desempenho integradores.

Água e saúde O que muda?

Genericamente resolvido há várias décadas o problema das doenças de origem hídrica no mundo industrializado, a temática água e saúde pública voltou a estar na ordem do dia por via de contaminantes emergentes, e, mais recentemente, dos desafios da quantidade e da qualidade da água e do potencial aumento de descargas de águas não tratadas decorrentes das alterações climáticas, e do risco de pandemias. A COVID-19 veio trazer um alerta adicional para o risco de contaminação por via dos sistemas de água. Outra problemática mais recente prende-se com a gestão do risco associado ao uso de origens alternativas de água. Não sendo de hoje, são desafios de importância crescente e para os quais a sociedade está mais consciente. REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade Que oportunidades para a GPI?

Ao promover um processo de tomada de decisão orientado por objetivos da organização, abrangentes e diversificados, a GPI induz o repensar das infraestruturas existentes, incluindo as questões de saúde pública no estudo e escolha das soluções a adotar. A ciência e a tecnologia apresentam alternativas de solução que necessitam ser avaliadas no contexto específico de cada EG. A GPI disponibiliza um ambiente de análise e decisão apropriado.

Economia circular O que muda?

Ao procurar encurtar circuitos entre a origem dos recursos e o seu consumo, a economia circular tem como principais vias de atuação nos serviços de água: o uso de origens alternativas de água, com destaque para a reutilização, a adoção de soluções de base natural, a otimização dos balanços águaenergia-fósforo (melhorias de eficiência nos serviço e nos usos, recuperação de recursos, produção local de energia), o uso de materiais locais para construção ou operação dos sistemas e a reciclagem de materiais de construção. Analisam-se aqui os casos da reutilização de água em meio urbano e da descentralização ou semi descentralização dos sistemas. Economia circular: reutilização de água O que muda?

Se a reutilização de água em meio urbano ganhar expressão, como se prevê, o paradigma dos serviços de água vai alterar-se substancialmente: vão coexistir serviços de água potável e de água não potável, com infraestruturas diferentes, a utilização das atuais infraestruturas de água será diferente, pode haver mais entidades a gerir os serviços de água, existem mais oportunidades de operação, reduzindo a pressão nos recursos naturais e melhorando a resiliência do sistema. Que oportunidades A complexidade destes novos caminhos requer ser abordada de forma para a GPI? sistemática, que os princípios e os métodos de GA/GPI proporcionam. Economia circular: descentralização ou semi descentralização dos sistemas O que muda?

Que oportunidades para a GPI?

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Na atualidade, há uma tendência para fomentar de novo uso de soluções mais locais para a prestação dos serviços fatores, de modo a encurtar os circuitos de fornecimento. Este fator, associado a outros tais como o avanço dos autómatos locais, a facilidade de sensorização e monitorização remota, a disponibilidade de soluções de tratamento fiáveis para pequenas escalas, ou a possibilidade de aproveitamento local de águas cinzentas ou pluviais para fins compatíveis permitem caminhar no sentido de uma progressiva descentralização ou semi descentralização dos sistemas de água. A GPI proporciona o ambiente certo para comparar soluções alternativas atendendo a fatores técnicos, económicos e financeiros, ambientais, sociais e culturais, ou outros, sistematizando vantagens e inconvenientes, e decidir de forma transparente e bem sustentada.


Que futuro para a gestão de ativos nos serviços de água?

Nexo água-energia-alimentação O que muda?

Os serviços de água são grandes consumidores de energia, mas têm potencial de produção (e.g., digestão de lamas, instalação de microturbinas, instalação de equipamentos de energia fotovoltaica ou eólica nas instalações das EG). As EG são assim importantes atores na gestão do nexo água – energia (mais do que na ligação direta à alimentação). A gestão de perdas de água nas redes e dos consumos de processo e a gestão da eficiência energética devem assim ser feita conjuntamente. Idem para a gestão de afluências indevidas e a gestão da eficiência energética nos sistemas de águas residuais. As principais ligações com a alimentação relacionam-se com a eficiência hídrica e energética dos sistemas de rega (ver 8.1) e com o uso de água residual tratada (APR) para rega agrícola (ver tópico relativo a Economia circular: reutilização). Que oportunidades A abordagem integrada de GPI permite com facilidade potenciar soluções para a GPI? que contribuam simultaneamente para a eficiência hídrica e energética. Segurança (“safety” e “security”, incluindo cibersegurança) O que muda?

Que oportunidades para a GPI?

Pretende-se que os utilizadores tenham acesso a serviços de água seguros. Na terminologia inglesa os termos “safety” e “security” permitem mais facilmente diferenciar as perspetivas de segurança em causa, sendo a primeira mais focada nas eventuais falhas acidentais do serviço, e a segunda nas falhas causadas deliberadamente por terceiros. A cibersegurança é uma das vertentes da “security” e está a ganhar importância relativa, com legislação recente (DecretoLei n.º 65/2021) que requer alterações de gestão significativas por parte da EG. A GPI permite comparar as vantagens e desvantagens de soluções alternativas que tenham em vista melhorar a segurança dos sistemas, nas duas perspetivas acima referidas. Os sistemas de GA, por exemplo no que se refere a rastreabilidade e atribuição de competências, contribuem significativamente para a segurança de processos e instalações.

Transição digital O que muda?

As redes representam a maior parcela, em média, dos valores de substituição dos sistemas urbanos de água (e.g. cerca de 70% no caso do abastecimento de água). Os ativos das redes têm durações de várias décadas e o seu custo tem elevada expressão nos custos totais da atividade, sendo importante por razões económicas utilizar a totalidade das vidas úteis. Estas caraterísticas conflituam com a dinâmica das sociedades e com a evolução dos objetivos do serviço. A transição digital abre porta a uma maior flexibilização da operação dos sistemas, potenciando a desejável resposta dinâmica.

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# atualidade Que oportunidades para a GPI?

A GPI permite comparar táticas diferentes de transição digital, evidenciando as principais vantagens e desvantagens face aos objetivos das EG e permitindo melhores tomadas de decisão.

Participação pública O que muda?

Que oportunidades para a GPI?

Os processos participativos são cada vez mais importantes nos serviços de água, seja para incorporar as necessidades, expetativas e contribuições dos utilizadores nos processos de decisão, seja para potenciar nova forma de governança, requeridas pela complexidade acrescida da gestão e consequente aumento do número de partes interessadas. A disponibilidade e transparência de informação é fator chave neste contexto. A GA (e.g. tal como consagrada nas normas da série 55xxx) oferece princípios, procedimentos e estruturas de grande valia para suportar a participação pública, em particular no que diz respeito à transparência da informação e rastreabilidade dos processos de decisão.

7. OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA A EVOLUÇÃO DA GESTÃO PATRIMONIAL DE INFRAESTRUTURAS De um ponto de vista metodológico, a GA e a GPI

atingiram um elevado nível de maturidade. Os princípios fundamentais irão certamente perdurar sem alterações significativas. Prevê-se, contudo, que a evolução metodológica e tecnológica em curso em muitas áreas do conhecimento venha

a provocar alterações significativas nos materiais e nos métodos adotados no contexto da GPI. Apresentase seguidamente um conjunto selecionado de exemplos

Tabela 2 - Motores de mudança para a GA/GPI

Novos sensores O que muda?

Como vai evoluir a GPI?

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A produção de sensores de baixo custo e com capacidade para medir parâmetros muito diversificados, associada à facilidade de comunicação dos dados, permite monitorizar massivamente a condição física dos ativos, os modos de funcionamento e a qualidade de serviço. As evoluções tecnológicas recentes e que se perspetivam nos próximos anos são muito significativas. O “diagnóstico” e a “monitorização” são etapas nucleares da GA/GPI. A massificação do uso de sensores terá um impacto muito grande na forma de gerir os ativos / as infraestruturas. Há um imenso campo de investigação e inovação por explorar.


Que futuro para a gestão de ativos nos serviços de água?

Novos materiais O que muda?

A evolução nas ciências dos materiais põe à disposição das EG novas possibilidades de construção e de renovação que permitem alterar significativamente as vidas úteis dos ativos, as capacidades funcionais e o desempenho dos ativos e sistemas de ativos. Como vai evoluir a O surgimento frequente de novos materiais, cujo comportamento a longo GPI? prazo ainda é pouco conhecido, coloca desafios metodológicos ainda por explorar. Ciência dos dados e inteligência artificial O que muda?

A ciência dos dados e a inteligência artificial (IA) permitem mecanizar a análise de enormes volumes de dados, com origens e fiabilidades muito variadas, tirando partido da imensidão de dados já hoje gerados e produzindo informação. Sendo um domínio ainda em franca evolução, terá um impacto notório na gestão dos serviços de água nas próximas décadas. Como vai evoluir a A ciência dos dados e a IA, associadas às novas tecnologias de GPI? monitorização e inspeção, serão os pilares da flexibilização dos modos de operação dos sistemas de água e da resiliência que se pretende atingir, em contraponto à já referida natureza estática das infraestruturas construídas. A GA/GPI vai necessitar de evoluir de modo a tirar o devido partido deste potencial. Novas tecnologias de construção e de inspeção O que muda?

Como vai evoluir a GPI?

A evolução das tecnologias de construção e de inspeção, com destaque para a robótica e o recurso a drones, vai continuar a alterar substancialmente a forma de construir, inspecionar, reparar e renovar as infraestruturas, a duração das intervenções e o impacto dessas intervenções na sociedade. Em paralelo, está a permitir conceber soluções muito inovadoras, baseadas em paradigmas disruptivos. A evolução tecnologia vai continuar a ter grande impacto nas competências dos recursos humanos internos da EG e do controlo das atividades subcontratadas. A GA/GPI ainda se debruça de forma insipiente sobre a contribuição dos recursos humanos para a criação de valor dos ativos físicos. Por outro lado, a GA/GPI deverá continuamente incorporar a evolução tecnológica, assegurando a permanente procura das soluções que mais valorizam o serviço prestado pelos ativos, sempre assegurando o balanço desempenho – risco – custo quer de curto prazo (durante a obra) quer de longo prazo.

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# atualidade Processos avançados de tratamento O que muda?

Os desafios referidos na Tabela 2 em Água e Saúde e em Economia Circular estão a incentivar o desenvolvimento de novos processos e tecnologias de tratamento de água e de águas residuais. As aplicações podem ser em instalações novas, outras na reabilitação funcional de instalações existentes, outras ainda em sistemas descentralizados. Como vai evoluir a A GA/GPI promove o processo de repensar os sistemas, adequando-os às GPI? novas expetativas. Deste modo é de grande valia na escolha de opções de intervenção. Novos modelos de governança O que muda?

Como vai evoluir a GPI?

A complexidade da governança dos sistemas urbanos de água vai continuar a aumentar devido ao previsível aumento do uso de origens alternativas de água, da adoção de soluções baseadas na natureza, da crescente participação pública e da previsível tendência crescente de haver consumidores que são simultaneamente fornecedores locais (e.g. aproveitamento de águas pluviais ou de águas cinzentas de alojamentos, edifícios ou bairros). A GA/GPI necessita de evoluir para incorporar melhor os conhecimentos das ciências sociais e contribuir para a construção de novos modelos de governança, adequados a estes novos desafios.

8. OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA A GESTÃO DE ATIVOS DE OUTRAS INFRAESTRUTURAS HIDRÁULICAS 8.1 Infraestruturas de hidráulica fluvial e de rega para produção agrícola A gestão de ativos ainda está numa fase incipiente, pelo menos em Portugal, no que diz respeito às infraestruturas de hidráulica fluvial e de rega para produção agrícola.

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Procede-se à observação sistemática de barragens (LNEC), existem algumas organizações com práticas de manutenção bem sustentadas, desenvolveu-se e aplicou-se (LNEC e EDIA) um método de previsão das necessidades de investimento futuro para assegurar a sustentabilidade infraestrutural de estruturas hidráulicas de diferentes tipos. Grandes empresas (e.g. EdP) têm feito progressos assinaláveis na forma de gestão dos seus ativos. Contudo, ainda está

muito para fazer em termos de investigação, de inovação e de gestão. Desafios tais como as alterações climáticas, a necessidade de melhorar a eficiência hídrica e energética e o nexo água-energiaalimentação são motores de mudança decisivos para o desenvolvimento da GA de infraestruturas de hidráulica fluvial e de rega para produção agrícola. Será desejável e necessário desenvolver investigação


Que futuro para a gestão de ativos nos serviços de água?

aplicada que adapte a este tipo de infraestruturas os princípios gerais de GA/GPI, tirando partido do conhecimento já adquirido para os sistemas urbanos de água. Os ativos naturais e as soluções baseadas na natureza deverão ser englobados. 8.2 Infraestruturas de proteção costeira Existe um potencial significativo de desenvolvimento futuro da GA de infraestruturas de proteção costeira em

três vetores em particular: soluções tradicionais, soluções de base natural e monitorização/ previsão da evolução da linha de costa. As soluções tradicionais (e.g., esporões e obras longitudinais aderentes) carecem de manutenção e eventual adaptação à subida do nível médio do mar, sendo sobretudo fundamental assegurar a otimização do seu desempenho do ponto de vista da gestão dos fenómenos erosivos.

Em novas intervenções, atualmente assiste-se a uma clara preferência pela adoção de soluções de base natural, com destaque para a recarga artificial de praias e para a reposição do equilíbrio sedimentar nos trechos de litoral arenoso. A gestão conjunta das estruturas de defesa e dos sistemas praiaduna poderá ganhar muito com a adoção de processos de GA, que ainda não ocorre. A monitorização e a previsão da evolução da linha de costa são essenciais para a

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# atualidade adequada gestão dos ativos de proteção costeira. Esta é uma temática em grande mudança, pela informação que pode ser obtida a partir de tecnologias recentes (e.g. drones, satélites de observação da Terra). 8.3 Infraestruturas portuárias A situação da GA de infraestruturas portuárias tem algumas semelhanças com a relatada para as infraestruturas hidráulicas: está muito por fazer, sem desvalorização da atividade de manutenção desenvolvida pelas entidades gestoras dos portos portugueses. Regista-se o programa OSOM+ (Observação Sistemática de Obras Marítimas), realizado pelo LNEC, que permite dispor de registos históricos com a evolução da parte visível (i.e., acima da linha de água) dos principais portos do continente português (Fortes et al., 2019). Também neste caso será desejável e necessário desenvolver investigação aplicada que adapte a este tipo de estruturas os princípios gerais de GA/GPI. Também neste caso as soluções de base natural, que se antevê venham a ter mais

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expressão do que atualmente, sejam consideradas. Salienta-se a importância da adaptação e modernização dos laboratórios de ensaios em modelo físico relativamente ao estudo do impacto das alterações climáticas, de modo a assegurar que a gestão futura das infraestruturas portuárias e respetivas medidas de adaptação sejam eficazes (Mendonça et al., 2018).

9. CONCLUSÕES Antevê-se que a gestão de ativos nos serviços de água, e em particular a gestão patrimonial de infraestruturas, continue a ganhar importância, de modo expressivo, na próxima década. Em tempos de mudança de paradigmas, é necessário antecipar os desafios e ir “acomodando” as novas soluções no tempo de modo a não desperdiçar vida útil dos ativos existentes e a não perder oportunidades de introduzir alterações significativas nos sistemas sempre que surgem oportunidades de reabilitação. Os investimentos de reabilitação de sistemas de

água que são necessários em Portugal são elevados. Não é admissível serem feitos numa base “like-for-like”. A GPI permite fazer cenarizações associadas a avaliações quantitativas do cumprimento dos objetivos organizacionais, assegurando investimentos “sem arrependimento”, investimentos que conduzam a uma modernização efetiva dos sistemas de água. Em suma, existe necessidade premente da GA/GPI para ser possível dar respostas aos atuais desafios dos serviços de água Existem atualmente oportunidades únicas de desenvolvimento da GA / GPI, proporcionadas pelo pacto Ecológico Europeu, pelo Plano de Recuperação e Resiliência e pelo PENSAARP 2030. De um ponto de vista de métodos e abordagens, a GPI irá evoluir sob a influência do desenvolvimento tecnológico em domínios tais como a sensorização massificada, tratamentos avançados da água, ciência de dados, inteligência artificial, novos materiais. As ciências sociais e de comunicação irão também


Que futuro para a gestão de ativos nos serviços de água?

ser progressivamente mais inseridas no processo de GPI, relevando os processos participativos de decisão. A adoção de soluções baseadas na natureza, de origens alternativas de água e de sistemas descentralizados ou semi descentralizados vão complexificar a governança, requerendo soluções inovadoras.

AGRADECIMENTOS Agradeço a revisão e contribuições dos Chefes de Núcleo do Departamento de Hidráulica e Ambiente do LNEC, em especial no capítulo 8. Oportunidades e desafios para a gestão de ativos de outras infraestruturas hidráulicas. Agradeço também as valiosas contribuições das investigadoras do LNEC, Maria João Rosa e Rita Salgado Brito, na revisão das tabelas 2 e 3.

REFERÊNCIAS ERSAR (2020). Relatório anual dos serviços de águas e resíduos em Portugal (RASARP 2020), Volume 1 - Caracterização do setor, ERSAR, Lisboa, ISBN 978-989-8360-39-7. Fortes, C.E.J., Capitão, R., Henriques, M., Lemos, R., Neves, M.G., Reis, M.T. & Silva, L.G. (2019). Observação e monitorização de obras marítimas com a nova metodologia OSOM+. Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão (ISSN: 25254782). 4. 10.21575/25254782rmetg2019vol4n2761. European Commission, 2013a, Green Infrastructure (GI) Enhancing Europe’s Natural Capital - COM(2013) 149. FAO (2011). The state of the world’s land and water resources for food and agriculture (SOLAW) - Managing systems at risk. Food and Agriculture Organization of the United Nations, Rome and Earthscan, London. Jorge, C.; Almeida, M.d.C.; Covas, D. Performance Assessment System for Energy Efficiency in Wastewater Systems. Water 2021, 13, 1807. https://doi.org/10.3390/w13131807. ISO 55000: Gestão de ativos - Visão geral, princípios e terminologia. ISO 55001: Gestão de ativos - Sistemas de gestão - Requisitos. ISO 55002: Gestão de ativos - Sistemas de gestão - Linhas de orientação para a aplicação da ISO 55001. Loureiro D., Silva C., Cardoso M.A., Mamade A., Alegre H., Rosa M.J. (2020). The development of a framework for assessing the energy efficiency in urban water systems and its demonstration in the Portuguese water sector. Water 12, 134. doi:10.3390/ w12010134. Mendonça, A., Mclelland, S., Evers, K-U., Thom, M. and Santos, Paulo Rosa (2018). Foresight study: future developments in physical modeling of climate change impacts. Hydrolink, Issue 2/2018 - Leisure Hydraulics, pp. 52-55. Silva, C., Loureiro, D., Mamade, A., Marabuto, M., Rosa, M. J. (2020) Consumo de energia nos serviços urbanos de água em Portugal Continental. Resultados 2004-2017, Águas e resíduos, Série IV, n.º 9. DOI: 10.22181/aer.2020.0901.

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QUADRO LEGAL

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LEGISLAÇÃO PORTUGUESA 112

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LEGISLAÇÃO PORTUGUESA

Resolução do Conselho de Ministros n.º 37/2021, de 6 de abril Aprova a Estratégia Nacional Anticorrupção 2020-2024. Portaria n.º 79/2021, de 7 de abril Define os critérios a aplicar para efeitos da distribuição pelos municípios da participação na receita do IVA cobrado nos setores do alojamento, restauração, comunicações, eletricidade, água e gás. Lei n.º 18/2021, de 8 de abril Estende o regime jurídico aplicável à transmissão de empresa ou estabelecimento às situações de transmissão para adjudicação de fornecimento de serviços que se concretize por concurso público, ajuste direto ou qualquer outro meio, alterando o Código do Trabalho. Lei n.º 19/2021, de 8 de abril Define as condições para a acumulação das prestações por incapacidade permanente com a perda da remuneração auferida pelos trabalhadores em caso de incapacidade parcial resultante de acidente ou doença profissional, alterando o Decreto-Lei n.º

503/99, de 20 de novembro, que aprova o regime jurídico dos acidentes em serviço e das doenças profissionais no âmbito da Administração Pública. Lei n.º 20/2021, de 16 de abril* Alteração, por apreciação parlamentar, ao DecretoLei n.º 92/2020, de 23 de outubro, que altera o regime geral da gestão de resíduos, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de setembro. (*Retificada pela Declaração de Retificação n.º 14/2021, de 6 de maio). Decreto-Lei n.º 29-B/2021, de 4 de maio Estabelece o modelo de governação dos fundos europeus atribuídos a Portugal através do Plano de Recuperação e Resiliência. Resolução do Conselho de Ministros n.º 46-B/2021, de 4 de maio Cria a Estrutura de Missão «Recuperar Portugal». Resolução do Conselho de Ministros n.º 53/2021, de 14 de maio Designa, por um período de três anos, o Prof. Doutor João Manuel Machado Ferrão,

como membro do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável. Lei n.º 27/2021, de 17 de maio* Aprova a Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital. (*Retificada pela Declaração de Retificação n.º 18/2021, de 9 de junho). Lei n.º 28/2021, de 18 de maio Cessação de vigência de decretos-leis publicados entre os anos de 1986 e 1991. Lei n.º 30/2021, de 21 de maio Aprova medidas especiais de contratação pública e altera o Código dos Contratos Públicos, aprovado em anexo ao Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de janeiro, o Código de Processo nos Tribunais Administrativos, aprovado em anexo à Lei n.º 15/2002, de 22 de fevereiro, e o DecretoLei n.º 200/2008, de 9 de outubro. Decreto-Lei n.º 37/2021, de 21 de maio Cria uma medida excecional de compensação ao aumento do valor da retribuição mínima mensal garantida.

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# QUADRO LEGAL

LEGISLAÇÃO PORTUGUESA 114

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LEGISLAÇÃO PORTUGUESA

Portaria n.º 114-A/2021, de 27 de maio Aprova os Estatutos do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, IP. Portaria n.º 115/2021, de 28 de maio Procede à distribuição de vagas para estágios na Administração Pública no âmbito do Programa «EstágiAPXXI». Lei Orgânica n.º 1/2021, de 4 de junho Altera a Lei Eleitoral do Presidente da República, clarifica e simplifica a apresentação de candidaturas para grupos de cidadãos eleitores e assegura procedimentos adequados à realização das eleições para os órgãos das autarquias locais no contexto da pandemia da doença COVID-19, alterando diversas leis.

de procedimentos dos projetos aprovados no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência. Portaria n.º 135/2021, de 29 de junho Fixa em 4,77 euros, correspondente à duplicação do subsídio de refeição, a compensação pecuniária temporária a atribuir aos trabalhadores abrangidos pelo programa de incentivos à fixação de trabalhadores do Estado no interior. Portaria n.º 138-A/2021, de 30 de junho Procede à regulamentação da Lei-Quadro do Estatuto de Utilidade Pública, aprovada em anexo à Lei n.º 36/2021, de 14 de junho.

Lei n.º 36/2021, de 14 de junho Aprova a lei-quadro do estatuto de utilidade pública. Decreto-Lei n.º 53-B/2021, de 23 de junho Estabelece o regime excecional de execução orçamental e de simplificação REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# QUADRO LEGAL

LEGISLAÇÃO COMUNITÁRIA

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LEGISLAÇÃO comunitária

Decisão de Execução (UE) 2021/674, da Comissão, de 21 de abril Relativa ao pedido de registo da iniciativa de cidadania europeia intitulada «Programa de Intercâmbio de Funcionários Públicos (PIFP)» [notificada com o número C(2021) 2784] (JO, L141, de 2021/04/26). Regulamento (UE) 2021/692, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 28 de abril Cria o Programa Cidadãos, Igualdade, Direitos e Valores e revoga o Regulamento (CE) n.º 1381/2013, do Parlamento Europeu e do Conselho, e o Regulamento (UE) n.º 390/2014, do Conselho (JO, L156, de 2021/05/05). Regulamento (UE) 2021/783, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de abril Estabelece um Programa para o Ambiente e a Ação Climática (LIFE) e revoga o Regulamento (UE) n.º 1293/2013, do Parlamento Europeu e do Conselho (JO, L172, de 2021/05/17).

aceitação de certificados interoperáveis de vacinação, teste e recuperação da COVID-19 (Certificado Digital COVID da UE), a fim de facilitar a livre circulação durante a pandemia da COVID-19 (JO, L211, de 2021/06/15). Regulamento (UE) 2021/954, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de junho Relativo a um regime para a emissão, verificação e aceitação de certificados interoperáveis de vacinação, teste e recuperação da COVID-19 (Certificado Digital COVID da UE) no que respeita a nacionais de países terceiros que permaneçam ou residam no território dos Estados-Membros durante a pandemia da COVID-19 (JO, L211, de 2021/06/15).

Regulamento (UE) 2021/953, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 14 de junho Relativo a um regime para a emissão, verificação e REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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EVENTOS


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# EVENTOS Eventos APDA

eventos

ENEG 2021 - Encontro Nacional de Entidades Gestoras de Água e Saneamento APDA Local: Tivoli Marina Vilamoura - Centro de Congressos do Algarve Data: 23-26 novembro 2021

Para mais informações www.apda.pt

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APDA, NACIONAIS E INTERNACIONAIS

Eventos nacionais O Caminho da Inovação 2021 Águas do Tejo Atlântico Formato online Data: 28-29 setembro 2021 19.º Encontro de Engenharia Sanitária e Ambiental (ENASB) APESB | CM Viseu | IPV Local: Viseu Data: 21-23 outubro 2021

Eventos INTERnacionais 5th International Conference on Water Economics, Statistics and Finance and International Conference on Rethinking Treatment with Asset Management IWA Local: Porto, Portugal Data: 22-24 setembro 2021 COP 26 UN Climate Change Conference UN Local: Glasgow, Escócia Data: 31 outubro-12 novembro 2021

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GARANTIR A DISPONIBILIDADE E GESTÃO SUSTENTÁVEL DA ÁGUA E DO SANEAMENTO PARA TODOS

Um objetivo forte e integrado para a água e saneamento deve ter interconectividade e metas de reforço mútuo - que liguem a todas as outras áreas de desenvolvimento sustentável. A concretização bem-sucedida do ODS 6 vai sustentar o progresso em muitos dos outros objetivos e metas.

ON CO OC AD EA O NO NSU MO SS US TE

O SUST NTÁVEI ENTÁ SUSTE VEL [ 6.1, 16.8] PARCERIA GLOBA 12.2 1 [ ADES S A V D I I S ] L [17.6 C CLU N I S , 17.7 DE A , 17. D E I C 8] SO

NADOS: INFRAESTRUTURAS RESILIENTES [9 ELACIO .1, 9.4 ] ODS R S [11A, 11B, 11.5] CONSUM

ÁGUA E SANEAMENTO

A

IGUALDADE DE GÉNERO [ODS 5]

ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO [ODS 6]

PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEIS [ODS 12]

AÇÃO CLIMÁTICA [ODS 13]

PROTEGER A VIDA MARINHA [ODS 14]

PROTEGER A VIDA TERRESTRE [ODS 15]

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EDUCAÇÃO DE QUALIDADE [ODS 4]

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CIDADES E REDUZIR AS INDÚSTRIA, DESIGUALDADES COMUNIDADES INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURAS SUSTENTÁVEIS [ODS 10] [ODS 11] [ODS 9]

SAÚDE DE QUALIDADE [ODS 3]

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ERRADICAR A FOME [ODS 2]

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OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ERRADICAR [ODS] A POBREZA [ODS 1]

EF IC IÊN CIA NO USO DA Á GUA

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A CHAVE PARA UM FUTURO SUSTENTÁVEL

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ODS 6

4] ERRADICAR A FOME [2 A POBREZA [1. .2] VIDA S SAU ADICAR D S: ERR Á ALDADE DE GÉNERO [5.2] CR V EIS [3 NADO 4.1, 4.5] IGU ESCIME .2, 3 DE [4A, NTO S ACIO .3, REL ALIDA 3 U ALDADE [10.3] CIDADES SUSTEN .8] S T ENTÁ E QU A DESIGU TÁVEIS ODS VEL ÃO D ÇÃO D [11.1] (8.8 CAÇ REDU ) EDU

[11.5] ODS REL NTÁVEIS ACION SUSTE ADO ADES S: ER ] VIDAS S D 3 . I 3 1 [ C A C AUDÁ RAD I T .4] Á 9 M [ VEIS LI ICA S C I G U A L E ] D 9 . A 5 D A 1 E , T [3.2, 8 D RA Ç E GÉNE 5. 1 , N N 3 . 5 E A 1 I R , 3.3, O [5.4 D PO 5.1 IL U 1 [ S S 3.8 M I ] BR E REDU E ] V R 8 Á ] ED . EZ T S 2 ÇÃO 1 A EN , A[ T UC R 4 S . DA U U 1.4 2 S A T 1 S Ç D , U A ]E E 2 Ã . R S M O 2 I GU R TE [1 ST D S I E A L E Q RAD S LD A E S V R O AD IC F UA Á C T N E E ] LID AR N [ :S I 1 1 . E Os ecossistemas 1 em cada 10 pessoas 0 .3] A ST [14 CID D relacionados com a água da população global não tem SU VEIS AD Á - como pântanos e montanhas acesso a água potável. Isto quer NT - sustentam a maior parte dos dizer que morre uma criança de processos naturais da Terra. Mas o doença transmitida pela água a cada stress hídrico está a esgotar os 15 segundos. O fardo de procurar e aquíferos, a reduzir o caudal dos rios transportar água potável recai principalmente e a degradar os habitats da vida selvagem. sobre mulheres e meninas, que gastam A não ser que a situação seja abordada 200 milhões de horas por dia a recolhê-la. adequada e urgentemente, as consequências Este tempo poderia ser gasto na escola ou económicas, ecológicas e humanas vão ser em um emprego remunerado. devastadoras. Mais de 1/3 da população global ainda não tem acesso a instalações adequadas de saneamento. Mais de mil milhões 2/3 da população mundial pode defecam ao ar livre. Milhões não enfrentar stress hídrico até 2025 têm onde lavar as mãos com sabão o que pode potenciar as tensões nem condições para fazer higiene sociais, económicas e ambientais menstrual. A diarreia, provocada em dentro e entre os países. O grande parte por falta de água, impacto das alterações climáticas saneamento e higiene, é uma das - secas, inundações e degradação principais causas de desnutrição, dos ecossistemas - vai apenas distúrbios de crescimento e servir para exacerbar os conflitos mortalidade infantil. As instalações relacionados com os recursos inapropriadas também afetam a hídricos. educação e a produtividade da economia,impactando ainda a dignidade e a segurança A investigação sugere pessoal de mulheres Equilibrar com sucesso e crianças. que, atualmente, apenas 20% as exigências globais que interligam a água, energia e alimentação das águas residuais são devidamente tratadas. é essencial para alcançar o desenvolvimento O restante é despejado sem tratamento em origens sustentável. A agricultura usa atualmente 70% de água - rios, lagos e oceanos. Se as águas dos recursos de água doce - e a necessidade de residuais forem consumidas - como acontece em água vai ser cada vez maior, já que a exigência muitas cidades em stress hídrico - ou utilizadas por alimentos e energia deve aumentar diretamente na agricultura, os impactos para em 50% e 35%, respectivamente, até 2030. a saúde humana, ecossistemas, Inovações e práticas de eficiência hídrica biodiversidade e agricultura podem ser precisam ser aplicadas em todos consideráveis. OS os setores, de forma a a colmatar UR :E QU UT as necessidades emergentes RR VE TR AL AD S E sem degradar os TÁ ID IC A A ]C AD EN FR ÁV R T ON N ecossistemas. I S E[ AP ] NT SU 4.7 SU OB 3 .9 TE , O S MO ]A 3 R U M EZ A 3. CE SU IS [ SS SU [1 . 4 SSO ON ÁVE ST MA , 1. 5 ÀE EN A UD TE ] ER 6] C S . S 1 S N ER I TÁ A 1 RADI SS IS [ V EL GI A CAR A S: VID CO ÁVE F O M E [ 2.4 ] [7 .1, NA D O [12 ENT .1] E O D S R EL A CIO 7 .2] I .2] E [14 S U ST NFRA S S COS E I D E ST R U T VE C ID A SIS T U RA S NT Á EM A US TE S SUS NOS S TE N T Á V A E C O E I S [ 1 5 .1 ]

ENERGIAS RENOVÁVEIS E ACESSÍVEIS [ODS 7]

TRABALHO DIGNO E CRESCIMENTO ECONÓMICO [ODS 8]

PAZ, JUSTIÇA E PARCERIA PARA A INSTITUIÇÕES IMPLEMENTAÇÃO EFICAZES DOS OBJETIVOS [ODS 16] [ODS 17]


ÁGUA E SANEAMENTO O CAMINHO PARA UM FUTURO SUSTENTÁVEL

A negociação de um novo conjunto de objetivos de desenvolvimento global em 2015 oferece uma oportunidade única de mapear um caminho em direção a um futuro melhor para o planeta e humanidade. ODS 6 - GARANTIR A DISPONIBILIDADE E A GESTÃO SUSTENTÁVEL DA ÁGUA E DO SANEAMENTO PARA TODOS - É FUNDAMENTAL PARA CONCRETIZAR ESTA VISÃO

O CUMPRIMENTO DAS METAS INDIVIDUAIS DO ODS 6 VAI ESTIMULAR O PROGRESSO EM TODO O ESPECTRO DOS ODS SOCIAIS, AMBIENTAIS E ECONÓMICOS. 6.1 ÁGUA POTÁVEL SEGURA

6.4 EFICIÊNCIA NO USO DA ÁGUA

A cada 15 segundos morre uma criança de doença transmitida pela água, que podia ser prevenida

70% = quantidade total de consumo de água usada para agricultura

200 milhões de horas é o tempo que mulheres e crianças passam a buscar água todos os dias

85% = aumento na exigência de água devido ao crescimento da produção de energia até 2035

6.2 SANEAMENTO E HIGIENE

6.5 GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS HÍDRICOS

Mais de 1 em cada 3 pessoas não tem acesso a saneamento básico. 1 em cada 7 ainda pratica a defecação ao ar livre

2/3 da população mundial pode enfrentar stress hídrico até 2025

Alguns países perdem até 7% do PIB devido a saneamento inadequado

O acesso à água representa o maior risco social e económico nos próximos dez anos

6.3 QUALIDADE DA ÁGUA

6.6 ECOSSISTEMAS RELACIONADOS COM A ÁGUA

Mais de 80% das águas residuais em todo o mundo são despejadas, sem tratamento, em origens de água

A água subterrânea fornece água potável para, pelo menos, 50% da população global

2 milhões de toneladas = quantidade de dejetos humanos depostos em cursos de água todos os dias

Os efeitos da mudança climática e da urbanização impactarão o ciclo da água - incluindo reservas vitais de água subterrânea

Fonte: https://www.unwater.org/publications/sdg-6-2018-synthesis-report-water-sanitation-2030-agenda-planned-may-2018/


ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS


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