Revista APDA #23 - 4º trimestre 2021

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REVISTA

EDIçãO 23 4º TRIMESTRE

2021 ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS

Gestão da Água em Emergência Climática


Edição APDA

Projeto Gráfico OT Comunicação

Diretor Sérgio Hora Lopes

Diretora Criativa Sandra Souza

Conselho Editorial Paulo Nico Pedro Béraud Pedro Laginha

ONDE ESTAMOS SITE www.apda.pt SOCIAL facebook.com/apda.pt instagram.com/apda.pt linkedin.com/company/apda.pt twitter.com/APDA_PT

Coordenação Ana Antão

ÓRGÃOS SOCIAIS DA APDA ASSEMBLEIA GERAL Presidente: Francisco Silvestre de Oliveira Secretário: Francisco Marques Secretário: Gertrudes Rodrigues

EDITORIAL

# FICHA TÉCNICA

CONSELHO DIRETIVO Presidente: Rui Godinho Vice-Presidente: Frederico Fernandes Vice-Presidente: Joana Felício Vice-Presidente: J. Henrique Salgado Zenha Vice-Presidente: Nuno Campilho Vice-Presidente: Rui Marreiros Vice-Presidente: Susana Ferreira CONSELHO FISCAL Presidente: Carlos Pinto de Sá Secretário: Carlos Silva Secretário: Jorge Nemésio

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte pode ser reproduzida, no todo ou em parte, por qualquer meio, sem indicação da respetiva fonte. Revista APDA é uma publicação trimestral. Para mais informações sobre publicidade ou informações gerais, Tel.: (+351) 218 551 359 ou E-mail: geral@apda.pt APDA - Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas Av. de Berlim, 15 - 1800-031 Lisboa - Portugal • Tel.: (+351) 218 551 359 • E-mail: geral@apda.pt


Emergência Climática “Das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto”. Papa Francisco

Por motivos profissionais dediquei algum tempo durante os meses de verão a recolher notícias, publicadas essencialmente nos meios de comunicação dirigidos ao grande público, sobre eventos extremos ligados às alterações, ou emergência, como muitos especialistas preferem designar, climáticas. Confesso que o meu trabalho foi particularmente facilitado devido às inúmeras notícias, devidamente assentes em factos constatados e não em “factos plantados” nas redes sociais. Infelizmente, não havia dia em que um qualquer evento crítico não ocorria, mas selecionar os mais relevantes já foi um trabalho mais difícil pois a gravidade da maioria era de tal monta que a seleção revelou-se ser uma tarefa complicada. Durante este período foram abundantes (e consideradas como históricas) secas, por exemplo, na Síria, Iraque, Angola, Madagáscar; ondas de calor na Sibéria ou no Canadá; incêndios na Sibéria, Califórnia ou os países mediterrânicos, entre muitos outros locais referidos. Também as inundações foram frequentes e atingiram dimensão e gravidade que não são de todo em todo usuais. Talvez os casos de países europeus, Alemanha, Bélgica, Países Baixos, pela sua raridade e dimensão, tenham tido maior repercussão pública, mas por exemplo os de Zhengzhou na China, não lhes ficaram atrás em número de mortos, desalojados e prejuízos. Enfim, um pouco por todo o mundo e muitas vezes em regiões onde não seriam os mais expetáveis, tivemos

um verão cheio de eventos extremos, dizem os especialistas, em número e gravidade muito acima do “habitual”. Não parece restar dúvida que numa perspetiva de longa duração a crise ambiental assume uma amplitude e profundidade de efeitos que torna, por exemplo, a crise pandémica da COVID-19, se pensarmos em termos impactos inter-geracionais, como algo de ”menor”, perdoe-se o exagero. Em certo sentido, pode-se eventualmente dizer que a emergência climática é o problema a resolver. A não o ser, resolver todos os outros será provavelmente uma atividade vã. Nada mais oportuno portanto que para o ENEG 2021 se tenha escolhido como tema central “Dificuldades na Gestão da Água e a Emergência Climática: Mudanças Necessárias”, o que permitirá analisar as interações entre a gestão da água e a crise climática e ainda o seu impacto (direto e indireto) nas entidades gestoras. Os impactos serão enormes. Só a título de exemplo pode-se referir o que se poderia chamar de efeito tesoura sobre o saldo custo/proveito das EG, em que dois movimentos de financeiramente negativos ocorrem simultaneamente. A causa é simples de explicar: em resultado dos custos acrescidos associados à redução da oferta da principal matéria-prima e da necessidade de encontrar origens alternativas, reutilização, dessalinização, etc. os custos sobem, entretanto, os proveitos decrescem devido à diminuição da procura induzida pela poupança dos consumidores, principalmente empresariais, mas não só. As fontes de financiamento escasseiam, as despesas aumentam. Mas este é só um exemplo dos efeitos nocivos da emergência climática. Muitos outros serão analisados no encontro e


# EDITORIAL achamos que este número da Revista APDA, a ser distribuído no encontro, poderá dar um pequeno contributo para a discussão do tema. Tentando ser o mais abrangente possível, foram solicitadas contribuições a um conjunto de especialistas e responsáveis de diversas áreas para quem a emergência climática é uma variável essencial na sua reflexão ou atividade profissional. Assim solicitamos a colaboração de autores como o Secretário de Estado Adjunto e da Energia, Dr. João Galamba, os Professores do Instituto Superior de Agronomia João Rolim, José Luís Teixeira e Teresa Afonso do Paço, o Professor Luís Dias da Faculdade de Ciências da UL, a Eng.ª Sofia Reis Jorge Diretora de Sustentabilidade da Altri, SA e o Eng.º José Moura de Campos, Presidente da Comissão Organizadora do ENEG 2021. Temos, portanto, um grupo alargado de personalidades que possuem histórias, práticas e reflexões distintas e abrangentes, cobrindo o tema a partir de diferentes setores de atividade, com diversas formas de expressão e impacto e perspetivas profissionais diferentes. Garante-se, assim, uma pluralidade de abordagens que passa pela agricultura, energia, indústria, serviços de água, assim como pela investigação e pela gestão. A todos, muito obrigado.

Sérgio Hora Lopes Diretor da Revista APDA

Esperemos que este número da Revista APDA seja um instrumento de trabalho útil para os profissionais puderem alargar os seus conhecimentos sobre o que pode significar a emergência climática para o setor e que, embora modestamente, possa complementar o que será abordado no ENEG 2021.


Dificuldades na Gestão da Água e a Emergência Climática: Mudanças Necessárias

TUDO O QUE PRECISA SABER SOBRE O SETOR DA ÁGUA E DO SANEAMENTO • MESAS REDONDAS

O confronto de opiniões

• COMUNICAÇÕES

O intercâmbio de ideias e experiências sobre temas atuais

• VISITAS

Técnicas e culturais na região do Algarve

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS

• EXPOSIÇÃO DE EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS A maior mostra do setor

• PRÉMIOS TUBOS DE OURO

O reconhecimento dos melhores trabalhos no setor

• PIPE CONTEST

Uma saudável competição, em mais uma edição de Portugal

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CONSELHO DIRETIVO

ESPAÇO RUI GODINHO Presidente do Conselho Diretivo da APDA


Água e Alterações Climáticas: Como encarar as necessárias políticas públicas Mantendo uma coerência com as “Linhas Programáticas” de, pelo menos os dois últimos mandatos, incluindo o atual, a APDA estruturou o seu ENEG 2021 em torno do tema central “Dificuldades na Gestão da Água e a Emergência Climática: Mudanças Necessárias”1. Esta correlação, cada vez mais estreita, entre as disponibilidades de água e os efeitos das mudanças climáticas em curso, vem ganhando uma dimensão incontornável, expressa em, pelo menos, dois documentos fundamentais na preparação da Conferência do Clima de Glasgow (COP 26)2, a decorrer no momento em que escrevo este texto. Refiro-me ao “IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change Report 2021”3 e ao “GAR Special Report on Drought 2021”4, publicado pelo United Nations Office for Disaster Risk Reduction. Retenho, aqui, o que mencionei na mais recente APDA News sobre as impactantes referências extraídas do segundo: - A escassez de água e a ocorrência de secas mais frequentes e prolongadas podem vir a causar estragos numa escala que rivalizará com a pandemia de COVID-19, sendo que os riscos aumentam rapidamente à medida que as temperaturas globais se elevam. “A seca está prestes a tornar-se a próxima pandemia, e não existe vacina para curá-la”, segundo a Senhora Mami Mizutori, Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, para a Redução de Risco de Desastres (UNDRR). De acordo com o relatório referido, as secas já desencadearam perdas económicas de pelo menos 103 mil milhões de euros e atingiram mais de 1,5 mil milhões de pessoas entre 1998 e 2017. Acrescenta, entretanto, que o aquecimento global e as alterações climáticas associadas contribuem, de forma clara, para intensificar as secas no Sul da Europa e na África Ocidental, com previsão de o número de vítimas “crescer dramaticamente”, a menos que se atue de forma a travar esta tendência. Antevêem-se secas mais frequentes e severas na maior parte da África, nas Américas Central e do Sul, no centro da Ásia, no sul da Austrália, no México e nos Estados Unidos.

ENEG 2021 - Dificuldades na Gestão da Água e a Emergência Climática: Mudanças Necessárias, 23 a 26 novembro, Tivoli Marina Vilamoura, Centro de Congressos do Algarve 2 COP 26 - UN Climate Change Conference 2021 3 IPCC Report 2021 - UN Intergovernmental Panel on Climate Change 4 GAR Special Report on Drought 2021 - UN Office for Disaster Risk Reduction 1

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# ESPAÇO DO CONSELHO DIRETIVO Cerca de mais 130 países podem enfrentar um risco maior de seca neste século, segundo a projeção de emissões altas citada pela ONU. Outros 23 países sofrerão escassez de água por causa do crescimento populacional e 38 nações serão afetadas por ambos. Comparando com outros desastres naturais, as secas assumem uma maior perigosidade e danos mais profundos, por constituírem fenómenos mais prolongados. Podem durar décadas e afetar fortemente Bacias Hidrográficas, como as do Douro, Tejo e Guadiana, e outras Bacias importantes do Centro da Europa, como o Danúbio e o Reno. “Estes impactos relacionam-se com mudanças significativas e graves nos padrões de precipitação em consequência das mudanças climáticas” (O Público, 18 junho 2021). Outros efeitos relevantes verificam-se no uso ineficiente da água, na degradação dos solos devida a práticas agrícolas inapropriadas e intensivas, onde avultam as muito elevadas extrações de águas subterrâneas, que ultrapassam nitidamente, de uma forma continuada, a capacidade de recarga dos respetivos aquíferos. As previsões deste Relatório confirmam outras perspetivas negativas quanto à acelerada incidência no espaço e no tempo dos efeitos da ocorrência de secas e da escassez de água, as quais estão em vias de poderem afetar o Planeta de forma sistémica. A possibilidade de grande parte do Mundo poder vir a viver em situações de escassez de água nos próximos anos é real, com a procura a superar largamente as disponibilidades. Associada a situações de seca e escassez, emerge e progride também a desertificação dos territórios, com todas as consequências inerentes nas populações, nos ecossistemas e no sistema produtivo das regiões afetadas, provocando, inclusive, maciços fenómenos de migrações que importa ter em conta. O processo de desertificação, que já afeta uma parte do território nacional, é também provocado e suportado pelos fatores de risco que o Relatório das Nações Unidas nos apresenta. É, portanto, chegado o momento de o encararmos de frente, particularmente quando os sinais preocupantes de escassez e degradação da qualidade dos recursos hídricos são evidentes no Sul, no Alentejo e no Centro Interior do País. É, por isso, que invoco hoje os recentes eleitos municipais nas Eleições Autárquicas que se realizaram em 26 de setembro passado. As razões prendem-se com as responsabilidades que, política e legalmente, assumiram relativamente às diversas áreas da Administração Local (e também algumas Regionais), particularmente no que respeita à gestão dos Recursos Hídricos e dos Serviços de Água e

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Saneamento. O que se passa, e poderá vir a acontecer, nas Bacias Hidrográficas e territórios adjacentes aos inúmeros municípios que sobre eles detêm jurisdição política e administrativa será, decerto, muito relevante para o maior ou menor sucesso dos seus mandatos. Impõe-se garantir que as Bacias Hidrográficas, como “organizações naturais do território” possam ser planeadas e estruturadas como verdadeiros “corredores de desenvolvimento sustentável”, como inspiradamente as designou o Professor Augusto Mateus. Os sinais de alerta quanto às dificuldades que o Setor atravessa são, portanto, por demais evidentes em Portugal, na Península Ibérica e em todo o Planeta, não permitindo que sejam secundarizados ou se adormeça sobre eles. Convergindo com os Relatórios atrás citados, o Banco Mundial alertava (2016 e 2019)5, que são claras as evidências quanto às crescentes incertezas e natureza errática das disponibilidades de água em todo o Planeta: até 2050 as Cidades terão menos 2/3 das reservas de que dispunham em 2015, aumentará fortemente a competição pelo uso da água com a sua crescente utilização, muitas vezes de forma intensiva e super-intensiva em práticas agrícolas não-sustentáveis, bem como em modos de produção de energia ambientalmente agressivos. A escassez irá estender-se rápida e intensamente à África Subsaariana e à Bacia do Mediterrâneo e Sul da Europa (exatamente onde estamos!). As situações que vêm sendo verificadas em Portugal, no que toca à ocorrência mais frequente de secas, cada vez mais prolongadas e, consequentemente, um acentuar da escassez no Algarve, Sudoeste e Interior Alentejano, Centro Interior a progredir para as Bacias do Centro e Norte, associadas a frequentes captações em “volume morto” de várias albufeiras e captações descontroladas e intensivas em importantes aquíferos, tanto na Área Metropolitana de Lisboa, como nas áreas atrás mencionadas, coloca o País perante perigosos cenários quanto às nossas disponibilidades futuras. Estes factos, associados aos cenários, cada vez mais credíveis, de sermos confrontados com situações de escassez e carência extremas, devem suscitar, assim, uma preocupação crescente na sociedade portuguesa quanto à urgência na definição e aplicação de uma Estratégia Nacional de Garantia de Segurança Hídrica para o País. Associando a estes factos a uma claramente insuficiente taxa de reabilitação e renovação das infraestruturas de abastecimento de água e saneamento em largas zonas do território nacional

World Bank Group - Doing More with Less: Smarter Subsidies for Water Supply and Sanitation, Luis A. Andres and alt, August 2019

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# ESPAÇO DO CONSELHO DIRETIVO (a APDA vem propondo 1,5 - 2% ao ano), ligada com terem ficado de fora do PRR6 quaisquer intervenções e financiamentos no “Ciclo Urbano da Água” e na “Gestão do Recursos Hídricos” na maior parte do País, excluindo mais de 92% da população portuguesa deste PRR, não afasta, antes reforça, que Portugal possa vir a estar perante um cenário “Dia Zero nas Torneiras dos Consumidores”, como aconteceu na Cidade do Cabo, na África do Sul, e se perspetivam em várias outras áreas do Mundo. Com efeito, como referido na “Pronúncia APDA sobre o PRR”7, o Setor sofreu tensões decorrentes da crise da década passada, ainda não superadas, com redução de financiamento disponível e de investimento, estando sujeito a vetores que agravam as suas circunstâncias, como a emergência climática (quer pelos seus efeitos nas disponibilidades hídricas, quer pelo esforço que imporá aos serviços na racionalização da sua prestação), a necessária revisão da dimensão energética, para obter maior eficiência, e a pressão regulamentar europeia, sobretudo perante a instabilidade de algumas soluções nacionais, como a possível assunção de responsabilidades na gestão das águas pluviais e a manutenção das incertezas sobre o tratamento de lamas. Apesar da sua maturidade técnica e da resposta de recursos humanos face à pandemia, os Serviços da Água sofrerão também vivamente as consequências económicas da pandemia: - No plano, direto, do desequilíbrio contratual decorrente da impossibilidade de interrupção de fornecimento, que, obviamente, não se põe em causa, mas será agravado no curto prazo; - E no plano, indireto, das repercussões dos inevitáveis efeitos socioeconómicos da pandemia, previsíveis até ao médio prazo. Como temos reafirmado, sem água não há desenvolvimento. Serviços de abastecimento de água e saneamento de águas residuais que não cubram, com qualidade equilibrada e adequada, um Portugal inteiro, manterá um País a duas velocidades, com os défices estruturais do Setor a serem ampliados pela emergência climática e pela crise pandémica. Os serviços da água são também um elemento fundamental para a compensação da interioridade, já que estão presentes em todos os recantos do País. O mesmo se dirá para a gestão da água em todo o seu “ciclo terrestre”. O diagnóstico do Conselho Superior de Obras Públicas no Parecer sobre o Programa Nacional de Investimentos - PNI 20308 confirma-o. Portanto, os défices estruturais do Setor, a não serem atacados de forma sustentada ver-se-ão fortemente ampliados pela emergência climática e pela crise pandémica, comprometendo por mais um longo período a sua sustentabilidade.

PRR - Plano de Recuperação e Resiliência APDA - Pronúncia da APDA sobre o Plano de Recuperação e Resiliência em Consulta Pública, 01 de março de 2021 8 Parecer do Conselho Superior de Obras Públicas sobre o Programa Nacional de Investimentos 2030, junho de 2020 6 7

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Constata-se, assim, que as “Políticas Públicas” necessárias e adequadas tardam a ser tomadas e implementadas, nomeadamente a aprovação do documento estratégico que resultar dos trabalhos do PENSAARP 20309, cuja abertura da discussão pública se torna cada dia mais urgente, após ter recebido os contributos dos diversos “stakeholders” do Setor.

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PENSAARP 2030 - Plano Estratégico para o Setor de Abastecimento de Água e Gestão de Águas Residuais e Pluviais REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# DESTAQUE

JOÃO GALAMBA

# ATUALIDADE

João Rolim, José Teixeira, Teresa do Paço,

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Secretário de Estado Adjunto e da Energia

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As alterações climáticas numa perspetiva da gestão e projeto da rega

Sofia Reis Jorge

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Gerir para preservar

Luís Dias

42

Disponibilidades da água em cenários de alterações climáticas

José Moura de Campos

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Gestão da água em emergência climática - Que serviços de águas teremos no futuro?

#

EVENTOS

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# INFOGRAFIA

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DESTAQUE João Galamba Secretário de Estado Adjunto e da Energia


João Galamba Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. Concluiu a parte letiva do Doutoramento em Ciência Política na London School of Economics, tendo lecionado Filosofia Política no departamento de Government. Trabalhou no Banco Santander de Negócios, na consultora DiamondCluster International, na Presidência portuguesa do Conselho da União Europeia e na Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados. Chegou ao parlamento em 2009, sendo deputado na XI, XII e XIII Legislaturas. Foi coordenador dos deputados do Partido Socialista na Comissão de Orçamento e Finanças e Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista. Foi Secretário de Estado da Energia desde outubro de 2018.


# DESTAQUE

Consumo de água na produção de energia em cenários de emergência climática “O setor da água é um dos setores de

consumo intensivo de energia elétrica e tem, à partida, a oportunidade de otimizar os investimentos para a gestão eficiente e sustentabilidade energética das suas infraestruturas.”

João Galamba Secretário de Estado Adjunto e da Energia

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Consumo de água na produção de energia em cenários de emergência climática

O

Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 em que se adotou formalmente o objetivo de alcançar a neutralidade carbónica até 2050, posiciona Portugal entre os Estados que ocupam um lugar de liderança no combate às alterações climáticas, reafirmando o compromisso para com o Acordo de Paris. O Plano Nacional Energia e Clima 2021-2030 (PNEC 2030)

elaborado, pilar essencial da transição energética, assegurará políticas que promovam a descarbonização da economia e a transição energética enquanto oportunidade para o país, assente num modelo democrático e justo de coesão territorial que potencie a geração de riqueza e uso eficiente de recursos. A estratégia de Portugal para o horizonte 2030 assenta numa combinação de diversas opções de políticas

e medidas bem como de opções tecnológicas, procurando encontrar sinergias, numa lógica de integração de energia e clima. O caminho para uma economia neutra em carbono exige uma ação conjunta em diversas áreas estratégicas, com prioridade à eficiência energética, reforço da diversificação de fontes e vetores de energia, aumento da eletrificação, aposta nos gases renováveis com enfoque no hidrogénio, reforço e modernização REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# DESTAQUE das infraestruturas, desenvolvimento das interligações, estabilidade do mercado e investimento, reconfiguração e digitalização do mercado, incentivo à investigação e inovação, promoção de processos, produtos e serviços de baixo carbono e melhores serviços energéticos e uma escolha informada dos consumidores.

a uma sociedade resiliente e de baixo carbono. Aliás, conforme referido no PENSAAR 2020, os gastos diretos na gestão de sistemas apresentam a maior parcela na energia, tanto no serviço de abastecimento de água, como no saneamento de águas residuais, sendo um bom indicador para a procura de ganhos de eficiência.

O setor da água é um dos setores de consumo intensivo de energia elétrica e tem, à partida, a oportunidade de otimizar os investimentos para a gestão eficiente e sustentabilidade energética das suas infraestruturas. A descarbonização do setor envolve a gestão e a valorização eficiente dos recursos disponíveis, resultando como principais benefícios o aumento da eficiência energética nos processos de tratamento e recursos em energias renováveis, ou a diminuição da energia consumida nos serviços de água. O facto dos esforços de eficiência energética e aproveitamento dos recursos endógenos poderem ter um impacto positivo nas tarifas do serviço público é revelador da oportunidade que a transição energética representa, rumo

Desenvolver políticas públicas que garantam uma transição energética bemsucedida tornou-se uma preocupação central de todos os governos e o desafio que enfrentamos não tem precedentes. Mas também o são as oportunidades envolvidas, nomeadamente para as empresas. Destaco o impacto criado ao articular os objetivos de política energética com objetivos de política nacional da água, garantindo sinergias entre os mesmos, particularmente no que respeita à reutilização de águas residuais tratadas como fonte hídrica alternativa.

descarbonização, onde o hidrogénio, em particular, é simultaneamente apresentado como uma opção eficiente para promover, aprofundar e facilitar a transição energética e como uma oportunidade económica, industrial, científica e tecnológica. O aproveitamento das águas residuais tratadas como fonte hídrica alternativa para a produção de hidrogénio, constituirá ainda uma nova oportunidade de investimento e inovação para este setor, bem como uma oportunidade para dar valor económico a um recurso que deve ser mais aproveitado e que poderá ser transferido para os consumidores de água. Acresce que, a produção de hidrogénio pode ser efetuada através de várias tecnologias, em que assistimos, cada vez mais, a um mercado preparado para dar resposta às preocupações ambientais associadas aos processos produtivos e na circularidade dos recursos.

Os desafios que se impõem à sociedade exigem uma ação concertada entre políticas de energia e do clima e, neste âmbito, os gases renováveis assumem-se como elementos centrais nas estratégias de

Projetos para a produção de gases renováveis, nomeadamente biometano e hidrogénio verde têm uma importante contribuição no cumprimento das metas do PNEC 2030, bem como

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Consumo de água na produção de energia em cenários de emergência climática

tratar-se de um domínio prioritário no recentemente comunicado Pacto Ecológico Europeu. A produção de hidrogénio, na parte que exceda as metas de consumo interno, constitui uma oportunidade para Portugal continuar a crescer de forma gradual e tornar-se crescentemente num país exportador de energias renováveis, tirando partido da sua competitividade e grande potencial neste setor para inverter o seu papel tradicional de importador líquido de energia. O potencial de Portugal na produção de hidrogénio verde e matérias-primas associadas (amoníaco verde ou metanol) a preços competitivos, aliado às necessidades de elevados volumes de importação do norte da Europa, pode constituir a base para um reforço do mercado interno europeu de energia, com Portugal a assumir-se como produtor europeu de referência e com elevado potencial exportador de hidrogénio verde e matérias-primas associadas para os principais centros de consumo. Numa primeira fase, e dada a menor dimensão da produção de hidrogénio, prevê-se que seja totalmente

absorvido pelo mercado nacional, mas à medida que a capacidade de produção crescer, começará a ganhar relevância a exportação para o mercado europeu, nomeadamente por via marítima, sob a forma de amónia ou metanol verdes e outros combustíveis sintéticos, como jet fuel renovável. Os passos que têm sido dados visam criar o enquadramento necessário para que este mercado se desenvolva, o que inclui legislação e regulamentação, segurança, standards, inovação e desenvolvimento, financiamento, entre outros. Neste sentido, as medidas propostas têm como objetivo promover e dinamizar, tanto a produção, como o consumo nos vários setores da economia, criando as necessárias condições para uma verdadeira economia de hidrogénio em Portugal, em que esta evolução será feita de forma faseada, permitindo implementar as ações e adquirir os conhecimentos necessários para desenvolver e dar continuidade a esta estratégia. Para além dos tradicionais apoios ao investimento, importa criar mecanismos que permitam

compatibilizar dois objetivos: (i) viabilizar investimentos em produção na fase de arranque e promover o início da incorporação de hidrogénio no sistema energético, remunerando adequadamente a produção e, ao mesmo tempo (ii) evitar que esses objetivos representem um custo para o sistema energético, o que poderia comprometer a adesão dos consumidores à Estratégia. O setor da água pode desempenhar um papel muito relevante na implementação da Estratégia Nacional para o Hidrogénio, a qual está plenamente alinhada com a Estratégia Europeia. Uma importante componente da produção do hidrogénio é a água, e antes de mais importa garantir o uso sustentável dos recursos hídricos, permitindo diminuir os consumos de água para efeitos da produção de hidrogénio, procurando, nomeadamente, maximizar a reutilização de águas residuais tratadas, bem como o uso de água do mar para esse efeito. Atualmente, apenas 1,2% da água residual tratada é reutilizada, o que demonstra a existência de abundantes recursos que importa REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# DESTAQUE aproveitar e valorizar. As águas residuais provenientes de ETAR com tratamento terciário (i.e., remoção de nutrientes) podem ser utilizadas para eletrólise devendo passar por etapas adicionais de tratamento, o que aliás já acontece numa parte significativa das águas residuais domésticas tratadas em ETAR. A melhor estratégia passa pela produção local de hidrogénio, junto dos locais de recolha e tratamento de águas residuais, sejam domésticas ou industriais, para além de constituir uma nova oportunidade de investimento para este setor, constitui uma oportunidade para dar valor económico a um recurso que é quase na sua totalidade desaproveitado. Esta sinergia, entre os setores da energia e da água, constitui uma oportunidade para ambos, na prossecução dos seus objetivos e na concretização das metas, culminando num objetivo comum, alcançar a neutralidade carbónica. O recurso a água salgada para produção de hidrogénio, que já é tecnicamente viável, constituirá uma forma alternativa, mas está

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dependente da disponibilidade de tecnologia que permita o uso direto no processo de eletrólise, ou através do recurso a técnicas de dessalinização, as quais poderão, num futuro próximo, servir o duplo objetivo de servir a economia do hidrogénio e ao mesmo tempo disponibilizar água para consumo humano, mediante a evolução dos custos da tecnologia. Assegurando que o recurso água é alocado de uma forma adequada tendo em conta os usos, prioridades e garantias de abastecimento que lhe estão associadas, reconhecemos que é igualmente necessário investir em soluções que permitam melhorar a eficiência energética, promover a utilização de energias renováveis e aumentar o nível de autossuficiência energética das infraestruturas do setor da água, medidas que já estão no centro das atenções da maioria das Entidades Gestoras.


Consumo de água na produção de energia em cenários de emergência climática

ÁGUA, ONDE A VIDA SE MULTIPLICA

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS

A VALORIZAR A ÁGUA E A VIDA REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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ATUALIDADE


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# atualidade

As alterações climáticas numa perspetiva da gestão e projeto da rega João Rolim 1-2

José Luis Teixeira 1

Teresa Afonso do Paço 1-2

Doutor em Engenharia dos Biossistemas (ISA), Pósgraduado em Engenharia Geográfica e Geoinformática (FCUL) e Licenciado em Engenharia Agronómica (ISA). Professor Auxiliar no Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa. Investigador do Centro de Investigação LEAF e do Laboratório Associado Terra. Área de investigação: Engenharia da Rega e gestão da água na agricultura.

Doutor em Engenharia Agronómica (ISA), Mestre em Hidráulica e Recursos Hídricos (IST) e Licenciado em Engenharia Agronómica (ISA). Professor Associado Jubilado do Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, trabalhou sempre em áreas relacionadas com a Engenharia da Rega e em Recursos hídricos, tendo sido Presidente do Instituto de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente.

Licenciada e Doutorada em Engenharia Agronómica (ISA). Professora Auxiliar do Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa. Investigadora do Centro de Investigação LEAF e do Laboratório Associado Terra. Área de investigação: necessidades hídricas das plantas, rega.

1 Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal, 2 LEAF - Linking Landscape, Environment, Agriculture and Food, Laboratório Terra, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal

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As alterações climáticas numa perspetiva da gestão e projeto da rega

Enquadramento As alterações climáticas projetadas ao longo do século XXI apontam para que a região do mediterrâneo será uma das mais afetadas, com um aumento da temperatura média em Portugal até 2100 entre 1,85 oC e 4,29 oC, respetivamente para os cenários RCP4.5 e RCP8.5, e com uma redução da precipitação em cerca de 5 a 10% para o cenário RCP4.5 e entre 10 a 30% para o

RCP8.5, reforçados com o incremento da intensidade e frequência de fenómenos extremos, como as secas e ondas de calor (Pires et al., 2018). Estas alterações têm impactos na agricultura, em particular na gestão da água de rega, que já hoje se fazem sentir. É então incontornável a necessidade de incorporar a problemática das alterações climáticas na gestão e projeto da rega, de forma a permitir ajustar o esperado aumento das necessidades de rega a um ambiente com menores

disponibilidades de recursos hídricos.

Problemática das alterações climáticas na agricultura de regadio O aumento da temperatura do ar e a redução de precipitação projetados para o futuro levarão a um aumento da procura climática e a uma diminuição das disponibilidades hídricas. Os impactos das alterações

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# atualidade climáticas sobre a agricultura de regadio na região do mediterrâneo resultarão num aumento da procura de água para a rega e na alteração das áreas de regadio, quer pelo ajustamento a menores disponibilidades de água para a rega, quer pela conversão do sequeiro em regadio quando exista água disponível. Outros impactos esperados incluem a deslocalização das culturas para norte, para condições climáticas mais favoráveis, incluindo as necessidades de horas de frio, a alteração dos padrões culturais e das variedades utilizadas, etc. No entanto, uma análise mais fina mostra que os impactos futuros não serão assim tão claros, uma vez que a resposta das culturas de regadio às alterações climáticas depende de vários efeitos, alguns antagónicos, que poderão levar a que o impacto resultante seja muito variável, dependendo do tipo de cultura e das práticas culturais. O aumento da concentração de CO2 na atmosfera leva a um aumento da resistência estomática com a consequente diminuição da evapotranspiração das culturas, mas, por

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outro lado, o seu efeito fertilizante provoca um maior crescimento das plantas, o que tenderá a aumentar a evapotranspiração cultural (ETc). O aumento da temperatura também provoca uma mais rápida acumulação térmica, o que encurtará o ciclo das culturas, reduzindo desta forma a quantidade de água consumida. Assim sendo, o aumento ou redução dos consumos de água dependerá da conjugação destes diferentes efeitos, entre outros. Para além disso, o aumento da eficiência do uso da água na rega por parte dos regantes e a evolução do padrão cultural poderá alterar os impactos esperados. Portanto, a avaliação dos impactos das alterações climáticas e a definição de medidas de adaptação estão sujeitas a um elevado nível de incerteza da resposta dos sistemas agrícolas de regadio. A esta incerteza soma-se um nível também elevado de incerteza relativamente à evolução futura do clima e dos cenários de emissões de gases com efeito de estufa. Para incluir a questão das alterações climáticas (AC) na gestão da água de rega é necessário considerar

metodologias que permitam incorporar cenários de AC na estimação das necessidades de rega das culturas. Estas metodologias deverão ter por base a utilização de dados climáticos produzidos por modelos climáticos para diferentes cenários de AC, e que são disponibilizados através de projetos de investigação, tais como o projeto CORDEX (Jacob et al., 2013). Estes dados, combinados com modelos de simulação do balanço hídrico do solo, permitem estimar os impactos nas necessidades de rega das culturas para os cenários futuros de AC, tendo em conta diferentes medidas de adaptação ou cenários agronómicos. De uma forma resumida, apresenta-se na Figura 1 uma representação esquemática das metodologias a utilizar na avaliação dos impactos das alterações climáticas na rega.


As alterações climáticas numa perspetiva da gestão e projeto da rega

Dados metereológicos observados

Modelos climáticos

Período de referência [e.g. 1972-2000)

Cenários alteração climática [e.g. 2071-2100)

Sistema de informação - SIG; Bases de dados, etc.; - Dados de base (dados climáticos, culturas, solos, etc);

Modelos de simulação - Balanço hídrico do solo; - Crescimento de culturas; - Dimensionamento de sistemas de rega.

Impactos Resultados (ref.) - Resultados (cenários AC)

Medidas de adaptação Figura 1 - Esquema genérico da metodologia de avaliação dos impactos das alterações climáticas nas necessidades de rega das culturas

De um ponto de vista da engenharia da água na agricultura, os impactos das AC deverão ser analisados essencialmente segundo duas perspetivas: i) impactos nas necessidades de rega das culturas e gestão da rega e ii) impactos no

dimensionamento dos sistemas de rega.

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# atualidade Impactes nas necessidades de rega das culturas e medidas de adaptação Os impactos das alterações climáticas na agricultura de regadio que se projetam ao longo do século XXI levarão a alterações nos volumes de água disponíveis para rega, nas áreas ocupadas pelo regadio, no padrão cultural, nas práticas de gestão da rega, etc. Os impactos dependerão não apenas da mudança climática, mas em grande medida da resposta dos agricultores. Assim, quando se avaliam os impactos é necessário ter sempre por base uma dada medida de adaptação, que terá implicações nos impactos esperados. No caso do centro e sul de Portugal, têm sido desenvolvidos diversos estudos de avaliação dos impactos das AC nas necessidades de rega das culturas, dos quais se podem referir os desenvolvidos pelo Instituto Superior de Agronomia (Rolim et al., 2017; Leal et al., 2020; Soares et al., 2020; Branquinho et al., 2021). Nestes trabalhos, tem-se realizado a avaliação dos impactos, para diferentes casos de estudo, tendo em

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conta diversas medidas de adaptação. Foi considerado um conjunto alargado de culturas, com o objectivo de avaliar os impactos para as culturas mais representativas destas regiões, tendo-se considerado culturas anuais de outono-inverno (e.g. trigo e cevada), culturas anuais regadas de primavera-verão (e.g. milho e tomate), culturas pemanentes (olival e vinha) e forragens. Para as culturas anuais, as medidas de adaptação consideradas incluiram: a antecipação das datas de sementeira, como consequência da diminuição prevista da frequência de ocorrência de geadas tardias, que permite que as culturas de primavera-verão possam entrar mais cedo no terreno e a consideração de diferentes ciclos culturais com o objetivo de reduzir a exposição das culturas ao período mais desfavorável, que corresponde aos meses de verão. No caso do olival, por ser uma cultura permanente bem adaptada ao clima mediterrâneo, considerou-se a utilização de estratégias de rega deficitária controlada para reduzir as necessidades de rega. Foi ainda tido em conta o aumento da eficiência dos sistemas de rega,

como forma de reduzir os consumos de água para rega, e a utilização de rotações culturais, para realizar a gestão do armazenamaneto de água no solo, permitindo reduzir consumos de água de rega quando considerado todo o período da rotação. Na avaliação dos impactos é importante considerar as culturas de sequeiro de outono-inverno pois estas culturas são muito vulneráveis à redução esperada da precipitação, especialmente durante a primavera, e ao aumento da procura climática, que irão conduzir a um agravamento do défice hídrico a que estas culturas estão sujeitas, tornando as condições de produção ainda mais difíceis, o que levará a um aumento da procura de água para efecutar regas de complemento ou de socorro. No caso das culturas de regadio, verifica-se que, se se considerar a manutenção dos actuais períodos de desenvolvimento da cultura e a presente gestão da rega, se assistirá a um aumento das necessidades de rega, que globalmente irão variar entre 13 e 40% até 2100 (Rolim et al., 2017). No entanto, se se considerar a antecipação das datas de sementeira, ciclos


As alterações climáticas numa perspetiva da gestão e projeto da rega

culturais mais curtos e a utilização de sistemas de rega mais eficientes, será possivel anular os aumentos nas necessidades de rega e até obter-se uma ligeira redução das mesmas (Rolim et al., 2017; Leal et al., 2020; Soares et al., 2020). Na cultura do olival (Branquinho et al., 2021) verifica-se que a manutenção da gestão actual da rega resultará em aumentos das necessidades de rega até

2100 entre 16 a 31%, para os cenários RCP4.5 e RCP8.5 respectivamente, sendo que a utilização da rega deficitária controlada terá a capacidade de amenizar os aumentos das necessidades de rega projectados para o futuro, reduzindo as necessidades de rega entre -11% (RCP4.5) e -3% (RCP8.5). Através do desenvolvimento de medidas de adaptação,

especialmente quando aplicadas em conjunto, será possível para os cenários futuros de alterações climáticas manter as necessidades de rega próximas dos valores actuais, ou até mesmo reduzi-las, limitando-se as perdas de produção e ajustando uma procura crescente de água para a rega a disponibilidades hídricas que tenderão a diminuir. REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade Impactes no dimensionamento dos sistemas de rega As alterações climáticas, para além de conduzirem à necessidade de se aumentar os volumes de armazenamento de água para rega também terão impactos no funcionamento das infraestruturas de regadio, devido a uma maior duração da campanha de rega, a possíveis aumentos dos caudais utilizados no período de ponta e a um alargamento da sua duração. Até recentemente, os sistemas de rega eram dimensionados tendo por base séries meteorológicas observadas, tipicamente para períodos de 30 anos, em que as necessidades de rega anuais e os caudais de ponta eram determinados para uma dada probabilidade de não excedência, assumindo que os dados climáticos observados correspondiam a uma amostra de uma distribuição cujos parâmetros se mantêm constantes ao longo do tempo. Com as alterações climáticas, este pressuposto de um clima constante deixa de ser válido, pelo que no projeto de rega, para além

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dos dados meteorológicos observados, é necessário considerar também cenários de alteração climática, para incorporar a incerteza da evolução do clima. Esta questão é particularmente relevante no caso das infraestruturas de regadio que têm períodos de vida muito longos, e que se encontrarão em funcionamento nos períodos correspondentes aos cenários de AC, pelo que a utilização das metodologias referidas se torna incontornável para a definição de margens de segurança adequadas. No dimensionamento dos sistemas de rega o impacto das alterações climáticas far-se-á sentir sobretudo na dimensão das condutas e potência das bombas para conseguirem responder a um caudal de ponta que se projeta que seja mais elevado. No dimensionamento será recomendável considerar-se a situação mais desfavorável, que corresponde à manutenção dos atuais períodos de desenvolvimento das culturas de modo a se obter um caudal de ponta para o período mais exigente, que nas nossas condições ocorre normalmente em julho. Num estudo, efetuado para a região do Alentejo

(Rolim et al., 2017), sobre o dimensionamento de sistemas de rega com canhão com enrolador concluiuse que as necessidades de rega de ponta poderão aumentar entre 5 a 16% para o cenário SRES (special report on emissions scenarios) B2 e entre 11 a 24% para o cenário A2, o que se traduziu num aumento no caudal de projeto e na secção das condutas.

Medidas de mitigação Um impacto indireto das alterações climáticas na gestão da rega e no dimensionamento dos sistemas de rega será o desenvolvimento e adoção de medidas de mitigação, com o objetivo de reduzir as emissões dos gases com efeito de estufa. Estas medidas passarão pela redução dos consumos de energia quer por via da redução dos volumes de água bombeados através de um aumento da eficiência de rega, quer pela redução da pressão de funcionamento dos sistemas de rega, como por exemplo a troca dos métodos de rega por aspersão pela rega localizada. O objetivo da neutralidade


As alterações climáticas numa perspetiva da gestão e projeto da rega

carbónica levará, para além das poupanças referidas anteriormente, a um aumento da utilização de energias renováveis de que é exemplo a rega com energia produzida com painéis fotovoltaicos. Esta mudança poderá obrigar a recalcular os caudais de projeto e a dimensão dos reservatórios na parcela quando se considerem

sistemas de bombagem com energia fotovoltaica sem reservatórios elevados ou sistemas de armazenamento de energia elétrica com baterias, devido ao menor período de funcionamento diário, e eventualmente à utilização de caudais variáveis ao longo do dia quando se adote um sistema de rega com sectores assimétricos,

uma vez que a potência produzida é variável ao longo do dia. É ainda de salientar que estes sistemas de rega solar têm um elevado interesse uma vez que a maior potência produzida corresponde ao período de maior procura climática por parte das culturas.

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# atualidade Considerações finais

Referências

Em conclusão, verifica-se que os impactos das alterações climáticas projetados para o futuro na gestão da água na agricultura serão muito diferentes consoante as medidas de adaptação adotadas e os pressupostos utilizados na modelação dos impactos. Isto obriga a que a avaliação dos impactos e as respetivas medidas de adaptação tenham que ser desenvolvidas especificamente para cada local, uma vez que existe elevada flexibilidade na resposta dos sistemas de agricultura de regadio às alterações climáticas, em função dos cenários de disponibilidade hídrica e da capacidade de adaptação dos agricultores, nomeadamente o seu nível tecnológico.

Branquinho S., Rolim J, Teixeira JL. 2021. Climate Change Adaptation Measures in the Irrigation of a Super-Intensive Olive Orchard in the South of Portugal. Agronomy. 11(8): 1658. Leal S., Rolim J., Teixeira J.L., 2020. Definição de medidas de adaptação na gestão da rega para diferentes cenários de alterações climáticas (Poster). In: VIII Congresso Nacional de Rega e Drenagem, 25-27 de Novembro de 2020, COTR, Digital conference, Portugal. Pires V., Cota T.M., Silva A. 2018. Alterações observadas no clima atual e cenários climáticos em Portugal continental - Influência no Setor Agrícola. In: Cultivar. Cadernos de Análise e Prospectiva; Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral: Lisboa, Portugal, Volume 12, pp. 57–67. Rolim J., Teixeira J.L., Catalão J., Shahidian S. 2017. The Impacts of Climate Change on Irrigated Agriculture in Southern Portugal. Irrigation and Drainage. 66:3-18. Soares D., Rolim J., Fradinho M.J., Paço T.A., 2020. Climate Change Impacts on Irrigation Requirements of Preserved Forage for Horses under Mediterranean Conditions. Agronomy 10: 1758. Jacob D., Petersen J., Eggert B., Alias A., Christensen O.B., Bouwer L.M., Braun A., Colette A., Déqué M., Georgievski G., et al. 2013. EURO-CORDEX: New high-resolution climate change projections for European impact research. Reg. Environ. Chang. 14, 563–578

“...verifica-se que os impactos das alterações climáticas projetados para o futuro na gestão da água na agricultura serão muito diferentes consoante as medidas de adaptação adotadas e os pressupostos utilizados na modelação dos impactos.”

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As alterações climáticas numa perspetiva da gestão e projeto da rega

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# atualidade

GERIR PARA PRESERVAR

“Cerca de 83%

Sofia Reis Jorge Diretora Executiva de Sustentabilidade, Risco e Comunicação do Grupo Altri

Com cerca de 25 anos de carreira profissional ligada ao setor das fibras celulósicas, iniciou o seu percurso na Stora-Cell AB Skutskär, Grupo Stora Enso como engenheira do processo. Licenciada em Engenharia Química pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (1995), participou em vários programas para executivos. Em 1998 integrou o quadro da Celulose Beira Industrial (Celbi), S.A onde desempenhou várias funções desde Engenheira de Sistemas de Gestão até Diretora de Controlo Técnico e Sistemas de Gestão, sempre em estreita ligação aos temas da sustentabilidade empresarial e responsabilidade social. Sofia Reis Jorge é hoje responsável pela Sustentabilidade, Gestão de risco e Comunicação no Grupo Altri.

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da água captada nas fábricas é devolvida ao ambiente após ser devidamente tratada...“


GERIR PARA PRESERVAR

É

do conhecimento comum a ocorrência de subidas de temperaturas e a diminuição da precipitação que, associados a outros fatores, nos conduzem a um problema fraturante - a escassez de água. Temos testemunhado diariamente, um pouco por todo o mundo, a ocorrência de eventos

climáticos extremos, que afetam a disponibilidade e a distribuição das chuvas, neve, vazão dos rios e água subterrânea e ainda deterioram a qualidade das águas. Se é verdade que muito pode ser feito no sentido de minimizar as alterações climáticas e os seus efeitos, também o é apostar no aprimoramento da gestão da

água de forma estratégica e estruturante, como método fulcral para garantir um desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, o setor da pasta e do papel é um dos melhores exemplos de economia circular, e a água é um dos vários recursos geridos e utilizados de uma forma eficiente, responsável e em cascata por parte da Altri.

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# atualidade A importância da água na produção de pasta de papel Na Altri, a água tem uma função de elevado valor, quer enquanto recurso hídrico nas florestas, quer enquanto recurso de produção, nomeadamente no transporte das fibras de celulose, na sua lavagem, na formação da folha de pasta e em circuitos de aquecimento e arrefecimento. Sendo este um recurso tão importante, a Altri assume o compromisso de o preservar e de o utilizar segundo as melhores práticas aplicáveis. Além da Política de Gestão Eficiente da Água, lançámos ainda o Compromisso 2030, onde assumimos a responsabilidade de reduzir o uso específico da água utilizada para a produção de pasta - e reciclar, sempre que possível, as águas residuais tratadas nas unidades industriais. Desde 2018 que o uso específico de água se mantém praticamente constante, ou seja, a quantidade de água necessária para a produção de uma tonelada de pasta foi de 22 m3/tSA, bastante abaixo da referência das

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Melhores Tecnologias Disponíveis (MTD) do PCIP (Prevenção e Controlo Integrado de Poluição) e das diretrizes do IFP (International Financial Corporation), que estabelecem o intervalo de 25 m3/tSA a 50 m3/tSA como melhores práticas globais de gestão da água para esta atividade. Ainda assim, comprometemo-nos a reduzir esse valor para metade, sendo a meta para 2030 de 10 m3 de água por tonelada de pasta produzida. Atualmente, e graças aos circuitos de recuperação de água instalados nas diferentes etapas do processo, a água pode ser recirculada cerca de 10 vezes antes de ser enviada para tratamento nas Estações de Tratamento de Águas Residuais existentes nas fábricas. Adicionalmente, a Altri atingiu em 2021 o objetivo de reportar o seu desempenho na gestão da água no âmbito do “Water Disclosure Project” (WDP), como forma de gestão e medição da sua pegada hídrica. Cerca de 83% da água captada nas fábricas é devolvida ao ambiente após ser devidamente tratada, cumprindo todos

os requisitos definidos nos Títulos Únicos de Recursos Hídricos de cada uma das unidades industriais. Os restantes 17% acompanham o produto final, os resíduos ou evaporam-se para a atmosfera. A água devolvida ao ambiente pela Altri é tratada pelas fábricas nas suas respetivas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), as quais são altamente eficientes e asseguram que os efluentes descarregados para os meios recetores são ecologicamente seguros e cumprem todos os requisitos regulamentares.


GERIR PARA PRESERVAR

Interações com a água como um recurso partilhado A Altri, no âmbito da gestão responsável da água enquanto recurso natural, mapeou as suas operações em função do risco associado à utilização de água, através da ferramenta Aqueduct Water Tool, desenvolvida pelo WRI. De acordo com este mapeamento, 100% das operações da Altri estão localizadas em zonas em que o stress hídrico tem um nível de baixo a médio. A Celbi

efetua a captação de água no rio Mondego e em furos de águas subterrâneas para uso no processo de fabrico de pasta, ao longo do qual existem diversos fechos de circuitos de forma a reduzir ao máximo a água fresca captada. A Celtejo efetua a captação de água no rio Tejo, para uso no processo de fabrico de pasta e também fornece água tratada da ETA às fábricas da Navigator e Paper Prime. No processo de produção de pasta foram implementadas várias ações, nomeadamente fecho de circuitos, reciclagem de

efluente tratado da ETARi da Celtejo, dada a elevada qualidade que foi atingida, permitindo assim reduzir a captação de água. A Caima efetua a captação de água no rio Tejo, para uso no processo de fabrico de pasta, ao longo do qual, existem diversos fechos de circuitos de forma a reduzir ao máximo a água fresca captada. No final do processo, as águas são tratadas e devolvidas ao meio recetor respeitando os critérios definidos para a qualidade do efluente final.

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# atualidade

Produção florestal A gestão da água também se encontra aqui, na gestão florestal da Altri, que conta com um vasto conhecimento técnico proveniente de várias décadas de experiência e de um contacto sempre próximo da área de investigação e desenvolvimento. A atividade de planeamento está presente antes da execução de qualquer operação

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florestal, constituindo uma base transversal a toda a gestão. O planeamento das atividades de florestação e de manutenção é realizado a curto e a médio-prazo. Para além destes horizontes de planeamento, a exploração florestal é também planeada e analisada a longo-prazo, considerando períodos de 24 anos. São testados vários cenários estratégicos, de forma a tentar antever as possibilidades futuras

consideradas mais realistas. Os instrumentos de política nacionais, regionais e locais são sempre considerados, assim como outras recomendações de boas práticas para garantir a proteção do solo e da água. Este planeamento procura obter o melhor uso dos recursos naturais à disposição da empresa, considerando sempre um equilíbrio dos benefícios económicos, sociais e ambientais.


GERIR PARA PRESERVAR

Infraestruturas A Altri Florestal constitui e mantém uma rede viária própria, que permite a boa acessibilidade a vários locais no interior das propriedades, a partir da rede viária municipal ou nacional. Para uma melhor utilização, estas infraestruturas são internamente classificadas com base na facilidade de circulação dos tipos

de veículos ou máquinas florestais. Os caminhos são planeados de forma a minimizar a sua quantidade e a maximizar a acessibilidade da área florestal, bem como a manter o comportamento adequado e a qualidade da água a jusante. A instalação e manutenção da rede viária é realizada com base num planeamento que considera todos os aspetos técnicos relevantes (tipo de circulação, inclinações) e os aspetos

ambientais (drenagem, atravessamento de linhas de água, características do solo, áreas de conservação).

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# atualidade Investigação e desenvolvimento enquanto vetores de produtos sustentáveis As nossas unidades industriais devem ser vistas como biorefinarias de segunda geração, com potencial para produzir produtos de alto valor acrescentado de origem renovável para

além dos tradicionais como a pasta, o papel e as embalagens. Neste campo a Altri tem vindo a investir fortemente na investigação e desenvolvimento na procura de produtos sustentáveis de alto valor acrescentado. É o caso da fábrica da Caima que é a única em Portugal, e uma das poucas na Europa, a produzir pasta solúvel para aplicação na produção de fibras têxteis

de base celulósica o que garante vantagens ambientais quando comparadas com as fibras sintéticas de origem petroquímica e as fibras naturais como o algodão. As fibras têxteis de base celulósica são recicláveis, biodegradáveis e provenientes de florestas sustentáveis com consumos de água e nutrientes inferiores aos das plantações de algodão. ARROZ

USO ESPECÍFICO DE ÁGUA EM FÁBRICAS DE EUCALIPTO DE REFERÊNCIA EUCALIPTO

16

CELBI BIOTEK

22

Fábrica A

22

25

Fábrica B Fábrica C

26 27

Fábrica D Fábrica E

30 32

Fábrica F 0

10

m3 /tSA

40

MILHO

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20

30

40

1KG madeira

1KG milho

1KG arroz

350 litros de água

1750 litros de água

2497 litros de água


GERIR PARA PRESERVAR

Água que gera energia

subproduto que resulta da sua atividade industrial.

Voltando ao início do artigo, e tendo em conta que cerca de 83% da água captada nas fábricas é devolvida ao ambiente, importa referir que nesse processo e antes de chegar ao fim do ciclo, essa mesma água gera energia. A Altri é um dos maiores produtores nacionais de energia renovável a partir de biomassa florestal, um

Desta forma, o “Compromisso 2030” da Altri vai ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, num modelo global de governança com a finalidade de acabar com a pobreza, proteger o ambiente e promover a prosperidade e o bem-estar de todos até 2030. A ação climática, a

proteção da vida de terrestre, as energias renováveis e acessíveis, assim como a água potável e saneamento são algumas das linhas orientadoras que norteiam as metas ambiciosas que temos para o futuro. Porque o Futuro é agora!

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# atualidade

DISPONIBILIDADES DE ÁGUA EM CENÁRIOS DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS Luís Dias Investigador auxiliar convidado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Investigador auxiliar convidado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Doutorado em Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da mesma Universidade. Realiza investigação em alterações climáticas desde 2011, no centro de investigação de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) e dedica-se ao tema dos serviços climáticos, com foco nos recursos hídricos e secas, extremos de precipitação, avaliação de risco, urbanismo e resiliência sócio ecológica. Recentemente foi coordenador da elaboração do Plano de Adaptação às Alterações Climáticas do Algarve, sendo atualmente corresponsável pela execução do projeto Roteiro Nacional para a Adaptação 2100 (RNA2100), financiado pelo EEA Grants, Estado Português e Agência Portuguesa do Ambiente.

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“Apesar da variabilidade climática interanual, a precipitação média de Portugal continental nos últimos 50 anos tem vindo a diminuir, com valores médios de diminuição superiores aos 10 milímetros por ano.”


DISPONIBILIDADES DE ÁGUA EM CENÁRIOS DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

A

s alterações climáticas são um fator adicional de pressão para todos os sistemas hidrológicos, sendo a sua gestão particularmente desafiante em regiões onde a procura pelos recursos hídricos é elevada e a oferta depende da sazonalidade, interanualidade e diferenças espaciais de precipitação. Estes desafios caracterizam a zona do mediterrâneo, que é considerada um hotspot para

os impactos das alterações climáticas, e da qual faz parte praticamente todo o país. Recentemente, foi publicado parte do 6.O (sexto) relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, onde é novamente colocada em evidência a vulnerabilidade da zona do mediterrâneo, tanto como resultado das modificações no clima observado, como do

clima que se projeta até ao final do século, considerando diferentes trajetórias futuras de gases com efeito de estufa. A Figura 1 é adaptada do referido relatório, sendo exemplificativa dessa realidade, onde se apresentam as modificações nas secas agrícolas observadas em diferentes regiões do planeta. O IPCC, através da compilação de

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# atualidade diferentes estudos científicos, identifica doze zonas onde se observa, desde a década de 50, uma concordância no aumento das secas agrícolas. Destas, duas zonas são

identificadas com confiança média no contributo antropogénico para o aumento das secas, sendo uma delas o mediterrâneo. Convém referir que o nível

de confiança para outras variáveis nessa região é apontado como alto ou praticamente certo, sendo exemplo disso mesmo os extremos de calor.

Figura 1 - Síntese das avaliações às modificações observadas nas secas agrícolas e nível de confiança no contributo humano para essas modificações (adaptado de IPCC, 2021)1

As modificações relacionadas com o clima e em particular com a disponibilidade de água não são propriamente uma questão nova para Portugal, que dispõe de

documentos estratégicos de adaptação às alterações a nível nacional desde 2010, bem como de vários estudos que têm sido elaborados ao longo dos últimos anos sobre

tendências de precipitação, disponibilidades hídricas, projeções climáticas e medidas de adaptação, estas últimas tidas como necessárias para minimizar

NWN: Noroeste da América do Norte, NEN (Nordeste da América do Norte), WNA (Oeste da américa do norte), CNA (América do Norte Central), ENA (Leste da América do Norte), NCA (Norte da América Central), SCA (Sul da América Central), CAR (Caraíbas), NWS (Noroeste da América do Sul), NSA (Norte da América do Sul), NES (Nordeste da América do Sul), SAM (Monção da América do Sul), SWS (Sudoeste da América do Sul), SES (Sudeste da América do Sul), SSA (Sul da América do Sul), GIC (Gronelândia/Islândia), NEU (Norte da Europa), WCE (Europa Ocidental e Central), EEU (Leste Europeu), MED (Mediterrâneo), SAH (Saara), WAF (África Ocidental), CAF (África Central), NEAF (Nordeste Africano), SEAF (Sudeste Africano), WSAF (Oeste do Sul de África), ESAF (Este do Sul de África), MDG (Madagáscar), RAR (Ártico russo), WSB (Sibéria Ocidental), ESB (Sibéria Oriental), RFE (Extremo Oriente Russo), WCA (Ásia Centro-Ocidental), ECA (Ásia Cento-Oriental), TIB (Planalto Tibetano), EAS (Leste Asiático), ARP (Península Arábica), SAS (Sul da Ásia), SEA (Sudeste da Asiático), NAU (Norte da Austrália), CAU (Austrália Central), EAU (Austrália Oriental), SAU (Austrália Meridional), NZ (Neva Zelândia), CAR (Caraíbas), PAC (ilhas do pacífico) 1

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DISPONIBILIDADES DE ÁGUA EM CENÁRIOS DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

os impactos das alterações já observadas no clima presente, bem como das projetadas para o futuro. Apesar da variabilidade climática interanual, a precipitação média de Portugal continental nos últimos 50 anos tem vindo a diminuir, com valores médios de diminuição superiores aos 10 milímetros por ano (Portela et al. 2020). Os principais estudos elaborados para a região do mediterrâneo, que consideram projeções climáticas até ao final do século, apontam para a manutenção da diminuição da precipitação, aliada a uma menor disponibilidade dos recursos hídricos e à ampliação de contrastes entre as estações seca e húmida (e.g., Mourato et al. 2015; Serpa et al. 2015; Stefanova et al. 2015), o que provocará um aumento da procura de água para irrigação, acompanhada pela diminuição da água disponível (e.g., CarvalhoSantos et al. 2017; Nunes et al. 2017; Dias et al. 2020). Apesar dos diferentes esforços científicos para quantificar as disponibilidades de água em cenários de

alterações climáticas, falta uma visão de conjunto para todo o território nacional, algo que está em vias de ser ultrapassado através de projetos em execução ou praticamente terminados, que procuram, entre outros objetivos, o de quantificar as disponibilidades de água nas diferentes regiões do país. É disto exemplo o terceiro ciclo de planeamento dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica ou o Roteiro Nacional para a Adaptação 2100. Enquanto estes trabalhos não são publicados, tomemos como exemplo a Região do Algarve, por forma a ilustrar os impactos das alterações climáticas na disponibilidade de água e na procura deste recurso, uma vez que esta região já dispõe desta informação como resultado do Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Algarve (AMAL 2019). A Tabela 1 sintetiza as necessidades de água para os principais usos existentes, as suas origens, a água teoricamente disponível e a água captada. Esta informação é disponibilizada para o histórico observado e para três períodos futuros e resulta do ensemble de

9 modelos climáticos, que consideram duas trajetórias de forçamento radiativo: o RCP4.5 e o RCP8.5. Estes RCP representam trajetórias distintas de concentrações de gases de efeito de estufa, sendo que o RCP4.5 projeta um aumento da temperatura média global no final do século, comparativamente ao período pré-industrial, entre os 1,7 °C e os 3,2 °C (mais moderado) e o RCP8.5 projeta um aumento entre os 3,2 °C e 5,4 °C (mais gravoso). Todos os resultados foram obtidos através de modelação hidrológica e consideram que a realidade socioeconómica não sofre alterações, ou seja, as necessidades para o abastecimento público são constantes ao longo do século e as culturas agrícolas praticadas são as mesmas, avaliando-se apenas as modificações na evapotranspiração.

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# atualidade Parâmetro

Origem da água

Necessidades de água (hm3/ano)

Superfície

Subterrânea

Histórico

RCP4.5

RCP8.5

1970 2005

2006 2040

2041 2070

2071 2100

2006 2040

2041 2070

2071 2100

Agricultura

27,6

28,3

30,1

30,7

29,0

30,9

33,7

Campos de golfe

1,4

1,4

1,5

1,5

1,4

1,5

1,6

Irrigação total

29,0

29,7

31,6

32,2

30,4

32,4

35,4

Abastecimento público

68,9

68,9

68,9

68,9

68,9

68,9

68,9

Total

97,9

98,6

100,5

101,1

99,3

101,3

104,3

Agricultura

165,6

169,5

180,6

184,2

173,7

185,2

202,3

Campos de golfe

21,1

21,7

22,8

23,1

22,1

23,3

25,1

Irrigação total

186,7

191,2

203,4

207,3

195,8

208,5

227,3

Abastecimento público

8,0

8,0

8,0

8,0

8,0

8,0

8,0

Total

194,6

199,2

211,4

215,3

203,8

216,5

235,3

Agricultura

193,2

197,7

210,7

214,9

202,6

216,1

236,0

Campos de golfe

22,4

23,1

24,3

24,6

23,6

24,8

26,7

Irrigação total

215,6

220,8

235,0

239,5

226,2

240,9

262,7

Abastecimento público

76,9

76,9

76,9

76,9

76,9

76,9

76,9

Total

292,5

297,7

311,8

316,4

303,1

317,8

339,6

Superfície

Captado em barragem

262,5

262,3

250,3

245,6

234,7

214,0

168,7

Subterrânea

Reserva hídrica

418,3

392,3

382,5

378,9

354,1

331,6

264,9

Total

Total

680,8

654,6

632,8

624,5

588,8

545,6

433,6

Superfície (livre)

Teoricamente disponível

726,0

664,9

653,7

649,9

602,3

569,7

457,3

Total

Total

1.406,8

1.319,5

1.286,5

1.274,4

1 191,0

1 115,4

890,8

Total

Água disponível (hm3/ano)

Tipo de uso/ fonte

Tabela 1 - Estimativa de necessidades e disponibilidades atuais e futuras para a região do Algarve. Fonte: AMAL (2019)

A Tabela 1 evidencia as dificuldades projetadas para a região do Algarve, sendo de particular relevância a diminuição da água disponível associada ao aumento das necessidades

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no setor agrícola, como resultado das modificações na evapotranspiração. Neste contexto, foi definido como objetivo de adaptação para a região, manter a

relação entre procura e oferta dos recursos hídricos no nível atual, mesmo com as alterações projetadas ao longo do século XXI. Dito de outra forma, procurou-se definir medidas de adaptação


DISPONIBILIDADES DE ÁGUA EM CENÁRIOS DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

que, de forma cumulativa e ao longo do século, mantivessem o índice de exploração de água constante. Este índice foi

estimado em 43% no presente, podendo chegar a valores de 51% e de 78% no final do século, caso se considere o

cenário mais moderado, ou o cenário mais gravoso, respetivamente (Figura 2).

1 600 1 400 1 200 1 000 800

Água subterrânea

600

Necessidades totais

400

Necessidades de irrigação

200 0 1970-20052

006-2040

2041-2070

2071-2100

Figura 2 - Resultados globais de disponibilidades, necessidades e objetivo de adaptação, considerando as projeções do cenário RCP8.5 (mais gravoso). Fonte: adaptado de AMAL (2019) e Dias et al. (2020)

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# atualidade A Figura 3 apresenta de forma sintetizada as diferentes medidas equacionadas para responder aos desafios das alterações climáticas na região, bem como a eficiência em anos de uma

determinada medida para responder ao objetivo de adaptação (assinalado através da indicação de “ponto de rotura” da eficiência da medida), e os benefícios cumulativos da conjugação

de duas ou mais medidas para responder a esse mesmo objetivo, que consistiu em manter o índice de exploração de água igual ou inferior a 43%.

Construção de uma central de dessalinização Diminuir perdas na rede (urbana e agrícola) e diminuir necessidades de água em espaços verdes Construir uma nova barragem

Política atual

Criar paisagens de retençã retenção o de àgua (e.g. aç açudes, pontos de regarga de aquiferos, lagos artificiais) Reutilizar àguas residuais

Diminuir o uso de água para fins agrícolas RCP4.5 Histórico

2035 2080

2100

RCP8.5 Ponto de trasferência para uma nova medida

Histórico

2030

2040

2050

2060

2070

2080

2090

2100

“ponto de rotura” da eficácia da medida Caminho de adaptação Caminho de adaptação disponivel no RCP4.5

Figura 3 - Caminhos de Adaptação Dinâmicos, representando 6 medidas de adaptação e respetivos “pontos de rotura” das medidas em diferentes configurações, para os cenários RCP4.5 e RCP8.5. As linhas com transparência indicam medidas que, devido à sua complexidade, foram consideradas como de difícil implementação de imediato. Fonte: adaptado de Dias et al. (2020) e AMAL (2019)

O gráfico que compõe a Figura 3 é designado de Caminhos Adaptativos Dinâmicos e resulta da modelação dos benefícios trazidos com a implementação das medidas de adaptação, sendo a sua interpretação melhor explicada através de um exemplo concreto. Suponha-se que a primeira

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medida a implementar seria a relacionada com a diminuição de perdas na rede, assinalada a vermelho no gráfico. Esta medida irá, em termos médios, permitir manter o nível de exportação de água abaixo dos 43%, até ao ano de 2025. De seguida, poderá ser selecionada outra medida de entre aquelas que

não foram implementadas. Se essa medida consistir, por exemplo, na construção de uma barragem então o índice de exploração de água estará abaixo do valor pretendido até 2060. Em 2060 poderá ser escolhida outra medida não selecionada anteriormente, por forma a aumentar o


DISPONIBILIDADES DE ÁGUA EM CENÁRIOS DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

horizonte temporal em que o sistema se mantém dento dos objetivos de adaptação, e assim por diante até 2100. O Algarve serve, neste contexto, como exemplo da quantificação dos impactos que podem ser esperados para Portugal devido às alterações climáticos, sendo de referir que os níveis das modificações projetadas variam bastante entre regiões do país. Também serve como exemplo daquilo que pode ser feito para minimizar a crescente vulnerabilidade a que o país vai estando exposto. A crescente consciencialização dos impactos das alterações climáticas nos recursos hídricos, aliada às oportunidades crescentes de financiamento para a adaptação, são oportunidades fundamentais para promover soluções que permitam manter a qualidade de vida das populações, os diferentes sistemas produtivos e o uso racional dos recursos.

Para mais informações sobre a metodologia Caminhos de Adaptação Dinâmicos e interpretação da Figura 3, consultar Dias et al. (2020) e AMAL (2019).

2

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# atualidade AMAL (2019) Plano intermunicipal de adaptação às alterações climáticas do Algarve , CI-AMAL (PIAAC-AMAL). Faro, Portugal Carvalho-Santos C, Monteiro AT, Azevedo JC, et al (2017) Climate Change Impacts on Water Resources and Reservoir Management: Uncertainty and Adaptation for a Mountain Catchment in Northeast Portugal. Water Resour Manag 31:3355–3370. https://doi. org/10.1007/s11269-017-1672-z Dias LF, Aparício BA, Nunes JP, et al (2020) Integrating a hydrological model into regional water policies: Co-creation of climate change dynamic adaptive policy pathways for water resources in southern Portugal. Environ Sci Policy 114:519–532. https://doi.org/10.1016/j. envsci.2020.09.020 IPCC (2021) Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press. In Press. Mourato S, Moreira M, Corte-Real J (2015) Water Resources Impact Assessment Under Climate Change Scenarios in Mediterranean Watersheds. Water Resour Manag 29:2377–2391. https://doi.org/10.1007/s11269-015-0947-5 Nunes JP, Jacinto R, Keizer JJ (2017) Combined impacts of climate and socio-economic scenarios on irrigation water availability for a dry Mediterranean reservoir. Sci Total Environ 584–585:219–233. https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2017.01.131 Portela MM, Espinosa LA, Zelenakova M (2020) Long-Term Rainfall Trends and Their Variability in Mainland Portugal in the Last 106 Years. Climate 8:146. https://doi.org/10.3390/cli8120146 Serpa D, Nunes JP, Santos J, et al (2015) Impacts of climate and land use changes on the hydrological and erosion processes of two contrasting Mediterranean catchments. Sci Total Environ 538:64–77. https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2015.08.033 Stefanova A, Krysanova V, Hesse C, Lillebø AI (2015) Climate change impact assessment on water inflow to a coastal lagoon: the Ria de Aveiro watershed, Portugal. Hydrol Sci J 60:929– 948. https://doi.org/10.1080/02626667.2014.983518

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A importância da Resiliência dos Ativos

ÁGUA, ONDE A VIDA SE MULTIPLICA

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS

A VALORIZAR A ÁGUA E A VIDA REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade

GESTÃO DA ÁGUA EM EMERGÊNCIA CLIMÁTICA QUE SERVIÇOS DE ÁGUAS TEREMOS NO FUTURO? José Moura de Campos Diretor Geral da Águas do Ribatejo; Presidente da Comissão Organizadora do ENEG 2021

É Engenheiro Civil licenciado pelo Instituto Superior Técnico em 1977. É Diretor Geral da AR - Águas do Ribatejo, E.I.M., S.A. desde a entrada em funcionamento da entidade gestora em 2009. Foi vogal da Comissão Diretiva do Programa Operacional Regional de Lisboa (2014-2020) e Gestor do Eixo 1 do PORLVT (2007 e 2009). Exerceu as funções de Vice-Presidente da CCDR-LVT (2004-2007) e foi Gestor do PORLVT (1994- 1999). José Moura de Campos foi Diretor do Gabinete de Apoio Técnico (GAT) aos Municípios de Alenquer, Arruda dos Vinhos e Azambuja (1984-1994) após ter desenvolvido funções como Técnico Superior na CCDR-LVT (1982-1984). A experiência na área do saneamento começou em 1977, ainda recémlicenciado, como Técnico Superior na Direção-Geral do Saneamento Básico (1977-1982). Enquanto realizava a formação académica foi Técnico Superior na Direção Hidráulica do Tejo (1974 -1977).

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“A pressão sobre o recurso água, tal como sobre outros recursos, é crescente. Os nossos atuais padrões de vida e consumo muito dificilmente serão sustentáveis no futuro, é fundamental utilizar de forma mais responsável este recurso.”


GESTÃO DA ÁGUA EM EMERGÊNCIA CLIMÁTICA - QUE SERVIÇOS DE ÁGUAS TEREMOS NO FUTURO?

Vivemos num mundo em constante mudança. Essa mudança, em si mesma, não será uma novidade. Contudo, e devido a diversos fatores, a velocidade com que essa mudança está (e vai continuar) a acontecer não tem paralelo.

demasiadas) a ficar “deslumbrados” com as “grandes descobertas” do Homem, esquecendo-nos do quão precário é o equilíbrio do mundo em que vivemos. Com efeito, e apesar de toda essa evolução a que vimos assistindo ao longo das últimas décadas, nunca, como agora, o mundo esteve tão próximo do “precipício”.

A (r)evolução tecnológica é vertiginosa levando-nos, por vezes (porventura,

Em resultado da atividade do Homem, o equilíbrio dos sistemas naturais é

1. Enquadramento

cada vez mais ténue sendo que, nalguns casos, já foram ultrapassados (sem possibilidade de retorno) os limites. As alterações climáticas não são uma invenção dos cientistas. Estão aí, sentimolas na nossa vida e, neste momento, a questão já não é se as conseguimos evitar, mas sim de que forma conseguimos minimizá-las e mitigar os seus impactos.

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# atualidade A pressão sobre o recurso água, tal como sobre outros recursos, é crescente. Os nossos atuais padrões de vida e consumo muito dificilmente serão sustentáveis no futuro, é fundamental utilizar de forma mais responsável este recurso. Enquanto sociedade, temos de fazer escolhas: não é possível manter os mesmos padrões de vida e de consumo por muito mais tempo, sob pena de muitas das mudanças que o mundo está a sofrer se tornarem irreversíveis, com graves prejuízos para as gerações vindouras. Urge, por isso, encontrar e trilhar caminhos alternativos. Não será fácil, mas a verdade é que as decisões certas, na maior parte dos casos, não o são.

2. A gestão da água A gestão da água é uma matéria muito complexa. Desde logo porque se trata de um recurso de uma enorme importância, com diversas finalidades que, muitas vezes, “concorrem” entre si. Agricultura, indústria, consumo humano, são

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apenas algumas das utilizações possíveis para a água. Por outro lado, a distribuição geográfica deste recurso não é uniforme, provocando “focos de tensão” entre regiões ou mesmo entre países. Esta circunstância deveria levar a que os diversos utilizadores da água procurassem soluções partilhadas, equilibradas e responsáveis para assegurar uma utilização racional e sustentável do mesmo. Infelizmente, não é a isso que assistimos na maior parte dos casos, pelo menos no nosso país… Assim, uma das mudanças que teremos de assumir será, desde logo, uma mudança de mentalidades: passar de uma lógica de concorrência, para uma lógica de cooperação. Agricultores, associações de regantes, Serviços de Águas, indústria, Administração, todos deveriam sentar-se à mesa e trabalhar em conjunto, de forma articulada, para assegurar uma utilização sustentável do recurso água. É certo que este tipo de abordagem não é habitual em Portugal. Implicará, certamente, uma mudança de mentalidade. Mas se a

emergência climática não for suficiente para provocar essa mudança, então o futuro não será animador… Este foi, aliás, um dos fatores decisivos para que a Águas do Ribatejo integrasse, em conjunto com várias outras entidades, nacionais e estrangeiras, o projeto AQUIFER - Instrumentos inovadores para a gestão integrada das águas subterrâneas num contexto de crescente escassez de recursos hídricos. O principal objetivo deste projeto, financiado pelo programa INTERREG V-B SUDOE, passa por capitalizar, testar, disseminar e transferir práticas inovadoras para a preservação, monitorização e gestão integrada de aquíferos que ajudem na tomada de decisões sobre a gestão dos recursos hídricos subterrâneos, melhorando a transferência de tecnologia para agentes locais, criando novas sinergias e desenvolvendo ferramentas comuns, num contexto de recursos hídricos escassos e ameaças ambientais. Apesar da situação atual na região do Ribatejo, em matéria de disponibilidade de recursos hídricos, não


GESTÃO DA ÁGUA EM EMERGÊNCIA CLIMÁTICA - QUE SERVIÇOS DE ÁGUAS TEREMOS NO FUTURO?

ser muito crítica, a verdade é que, ao longo dos anos, a Águas do Ribatejo vem constatando, nas muitas captações subterrâneas que explora, um rebaixamento dos níveis freáticos. Por outro lado, e em resultado de práticas inadequadas que persistiram durante muitos anos, os níveis superiores dos aquíferos subterrâneos apresentam elevados níveis de concentração de nitratos, implicando a captação de água a maior profundidade, com custos mais elevados (quer de bombagem, quer de tratamento). Este é um exemplo simples de como as consequências dos atos e práticas que temos hoje têm implicações a médio e longo prazo. Por isso mesmo, temos de começar, já hoje, a mudar. É necessário inovar, encontrar novas formas, mais eficientes e eficazes, de gerir este recurso tão precioso para a nossa avida: a água.

3. O papel dos Serviços de Águas Os Serviços de Águas (devendo entender-se como tal, todos serviços referente

a abastecimento público de água, saneamento e águas pluviais) têm um papel fundamental na gestão do recurso água. Pese embora a maior percentagem da utilização deste recurso se destine à agricultura, os Serviços de Águas, enquanto serviços públicos essenciais, revestem-se de grande importância na gestão integrada deste precioso recurso. Os serviços prestados por estas entidades são vitais para uma sociedade (literalmente) saudável, levando a casa da esmagadora maioria dos portugueses água para consumo humano, com uma qualidade muito elevada, recolhendo, tratando e devolvendo ao meio hídrico as águas residuais tratadas, ou gerindo as águas pluviais. O (real) valor dos Serviços de Águas nem sempre (para ser simpático…) é adequadamente percecionado pela sociedade. Estes são serviços que se revestem de uma enorme exigência, em matéria de qualidade e de cumprimento de normativos legais e ambientais, com um grande peso infraestrutural, e que tiveram uma evolução notável

ao longo das últimas décadas. Apesar disso, na maior parte dos casos, as pessoas consideram caro o que pagam por estes serviços, mesmo quando comparado com a eletricidade, as comunicações ou os serviços de televisão pagos ou de streaming. É certo que uma parte importante da responsabilidade por esse facto tem origem nos próprios Serviços de Águas, em muitos casos estruturas “burocráticas” e “pesadas”, que têm também de encarar uma mudança de paradigma. Os desafios que se colocam atualmente a estes serviços são muitos, e variados, exigindo novas respostas e abordagens. Aumentar os níveis de eficiência não é uma opção, é uma obrigação! Num contexto de crescente escassez do recurso água, não é aceitável que continue a existir desperdício do mesmo por via das perdas. Existe muito trabalho a fazer, quer em matéria de gestão e planeamento, quer em matéria de renovação de infraestruturas. Sabemos que o esforço de investimento para “atacar” REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade este problema é gigantesco, sendo necessário assegurar o financiamento para o levar a cabo. As fontes poderão ser diversas, mas há algo que é incontornável: as entidades têm de gerar recursos suficientes para financiar, pelo menos em parte, esse investimento. E para o conseguir é preciso encarar, de forma séria, a questão da sustentabilidade económicofinanceira.

Na vertente técnica, há questões que são mais ou menos incontornáveis: a gestão conjunta das águas residuais e pluviais é exemplo disso. Atualmente, a opinião dos entendidos é praticamente unânime, faz todo o sentido que estes serviços sejam geridos de forma integrada, o nem sempre acontece.

Acresce que a pressão para aumentar a eficiência, não apenas no abastecimento, mas também no saneamento, virá não apenas dos cidadãos, mas também das entidades com competência nestes domínios.

Temos assistido, com cada vez mais frequência, à ocorrência de fenómenos extremos, entre eles os de elevados níveis de precipitação em espaços de tempo muito curtos provocando, especialmente em zonas urbanas, verdadeiros cenários de caos.

Veja-se, a título de exemplo, as crescentes exigências em matéria de tratamento de águas residuais, implicando a realização de investimentos que, muitas vezes, serão de duvidosa racionalidade. É óbvio que a preservação do meio ambiente exige um esforço adicional por parte de todos. Mas não pode faltar bom senso na tomada de decisões sobre esta matéria, sob pena de se desviarem recursos de áreas, em que claramente são mais necessários.

A resposta a este tipo de fenómenos não implica, muitas das vezes, nada de novo. Basta que utilizemos ferramentas e soluções que sempre existiram, planeando e gerindo o espaço urbano de forma mais “inteligente”. Um bom exemplo é a necessidade de haver mais zonas de “infiltração” que servem simultaneamente, para melhorar a qualidade de vida nas cidades e ter mais espaços para que os cidadãos possam usufruir desse espaço urbano.

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Uma outra medida que pode e deve se considerada para a mitigação dos impactos destes fenómenos extremos, poderá passar pela criação de lagos / bacias de retenção para o controle dos picos de precipitação e evitar as inundações a jusante nas redes pluviais existentes. Estas poderão ser alternativas a outras soluções, bem menos sustentáveis, que vimos adotando de há largos anos a esta parte, como sejam a construção em betão, a impermeabilização dos espaços, com a solução hidráulica baseada em entubamento de linhas de água, construção em leitos de cheia e construção de coletores para recolha e transporte de águas pluviais para fora das cidades, sem prever a recarga dos aquíferos… Um outro desafio fundamental passa pela “descarbonização” da economia e, necessariamente, dos Serviços de Águas. Estes Serviços são grandes consumidores de energia e, nessa medida, será forçoso fazer uma transição para fontes de energia mais limpas.


GESTÃO DA ÁGUA EM EMERGÊNCIA CLIMÁTICA - QUE SERVIÇOS DE ÁGUAS TEREMOS NO FUTURO?

Estamos neste momento a enfrentar uma subida contínua e muito acentuada nos preços dos combustíveis e da energia que, em parte, será conjuntural. Mas a verdade é que, com a necessidade de diminuir o consumo de combustíveis fósseis, esta situação repetirse-á certamente no futuro, porventura até de forma mais dramática.

Uma delas passará exatamente pela exploração do potencial das fontes de energia renováveis, através da produção própria. Existem já hoje diversos casos de sucesso de entidades que têm soluções próprias, quer com recurso a energia fotovoltaica, quer com recurso a outras fontes, como o biogás (no caso das ETAR).

Mas, como sempre sucede nos momentos mais complexos, existem também oportunidades que importa agarrar.

Aliás, a questão das ETAR, e do potencial de recuperação de recursos e nutrientes existentes nestas infraestruturas

é paradigmática. Será necessário olhar para esta área não como uma fase final de um processo, mas sim como a fase inicial de um outro processo, de aproveitamento, numa lógica de economia circular. Teremos, sem dúvida, de caminhar nesse sentido. Tal como teremos de ponderar, sem preconceitos, o recurso a soluções que permitam assegurar o tratamento de águas residuais de forma adequada a cada realidade. Significa isto, portanto, que o recurso a REVISTA APDA_ APDA _ 2021

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# atualidade soluções convencionais, em zonas rurais e de baixa densidade populacional, poderá nem sempre ser a melhor solução. A adoção de soluções individuais (como por exemplo as fossas séticas), ou de soluções que tirem partido do meio natural envolvente (como as chamadas nature based solutions) são essenciais para que possamos ter, por um lado, soluções tecnicamente adequadas e que contribuam para redução da poluição, mas que, por outro lado, sejam sustentáveis e não impliquem aumentos desproporcionados das tarifas. Um outro aspeto que é fundamental passa pela gestão de ativos. Os Serviços de Águas são responsáveis pela gestão de infraestruturas cujo custo de reposição é muito elevado, quer devido ao custo das infraestruturas propriamente ditas, quer em virtude do transtorno e impacto que as obras causam, particularmente quando têm lugar nas zonas urbanas. Por conseguinte, é absolutamente crítico que as organizações façam uma

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gestão adequada dos seus ativos, potenciando a sua eficiência e maximizando a sua vida útil.

conseguir renovar os quadros nestas áreas, sob pena de perdermos a capacidade operacional dos Serviços de Águas.

Para que tudo isto seja possível, há algo que é verdadeiramente essencial: as pessoas. As organizações são compostas por pessoas, são elas que tomam decisões, que executam, que pensam. Em virtude de uma cada vez maior especialização e complexidade dos Serviços de Águas, nas suas diversas vertentes, precisamos de encontrar formas de atrair e reter talento.

Ao longo deste artigo foram abordadas diversas matérias, sempre com um pano de fundo: a situação de emergência climática que vivemos, e de que forma podemos gerir melhor um recurso tão importante como a água.

Num mundo global, num mercado em que se compete com outros setores de atividade com (muito) maior capacidade financeira, temos de ser capazes de nos reinventar e, dessa forma, tornar atrativo o setor para jovens profissionais qualificados.

A importância deste tema tem tradição naquele que é o tema principal da edição de 2021 do ENEG. Não por acaso, muitas das temáticas e questões afloradas, de forma breve, no presente artigo, serão objeto de discussão e reflexão neste evento tão importante para o setor.

Mas só isso não é suficiente. Existe atualmente uma enorme carência de profissionais em áreas técnicas, como canalizadores, eletricistas, mecânicos. E, sem estes, nada funciona! Também nesta matéria será importante encontrar novas estratégias e ferramentas para

Ao longo dos vários dias deste evento terão lugar mesas redondas, debates, sessões técnicas subordinadas a diversas temáticas, num espaço de partilha e colaboração entre centenas de profissionais do setor e de outras áreas de atividade.

4. Considerações finais


GESTÃO DA ÁGUA EM EMERGÊNCIA CLIMÁTICA - QUE SERVIÇOS DE ÁGUAS TEREMOS NO FUTURO?

Pretende-se dar um contributo para que os Serviços de Águas, que desempenham um papel fundamental na gestão

deste recurso, possam tornar-se mais eficientes, mais sustentáveis e mais resilientes, sempre com um foco: a prestação de um

serviço de qualidade a todos os utilizadores dos sistemas geridos por estas entidades.

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EVENTOS


S

| 05


# EVENTOS Eventos APDA

eventos

ENEG 2021 - Encontro Nacional de Entidades Gestoras de Água e Saneamento APDA Local: Tivoli Marina Vilamoura - Centro de Congressos do Algarve Data: 23-26 novembro 2021

Para mais informações www.apda.pt

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APDA, NACIONAIS E INTERNACIONAIS

Eventos nacionais IX Fórum AQUASIS “PRR - Impacte no Setor da Água” AQUASIS Formato online Data: 9-10 novembro 2021 Seminário “Saneamento - Atividade Geradora de Recursos” Águas do Norte | UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Local: UTAD Data: 19 novembro 2021

Eventos INTERnacionais COP 26 UN Climate Change Conference UN Local: Glasgow, Escócia Data: 31 outubro-12 novembro 2021 X Congresso sobre Planeamento e Gestão das Zonas Costeiras dos Países de Expressão Portuguesa APRH | ABRH | ACRH | AMAIA | UERJ Local: Rio de Janeiro, Brasil Data: 6-10 dezembro 2021 9th World Water Forum WWC | Governo do Senegal Local: Dakar, Senegal Data: 21-26 março 2022

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ÁREAS MARINHAS PROTEGIDAS

A CONSTRUIR RESILIÊNCIA PARA OS IMPACTOS CLIMÁTICOS CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

CO2 CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

COMO É QUE AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ESTÃO A IMPACTAR O OCEANO? CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

CO2

DIÓXIDO DE CARBONO

CO2

O oceano absorveu mais de 93% do excesso de calor dos gases com efeito de estufa, mas a sua capacidade de amortecer os impactos das alterações climáticas ficou sobrecarregada.

AQUECIMENTO DOS OCEANOS A temperatura da superfície do mar aumentou quase desde 1900. Águas mais quentes podem O danificar ou matar recifes de coral, reter menos oxigénio para sustentar a vida marinha, mudar as correntes oceânicas e gerar tempestades mais intensas.

0,8 C As crescentes temperaturas das superfícies, atmosféricas e oceânicas são, desde meados do século 20, causadas principalmente por atividades humanas, especialmente as emissões de gases com efeito de estufa, como o dióxido de carbono, que é produzido, em grande parte, pela queima de combustíveis fósseis.

A temperatura média da Terra aumentou em mais de O

1 C

no século passado. Os cientistas preveem que as temperaturas continuarão a aumentar mais rapidamente no próximo século.

ACIDIFICAÇÃO DOS OCEANOS SUBIDA DO NÍVEL DO MAR A subida do nível do mar, provocada pelo aquecimento dos oceanos e pelo degelo, afeta os habitats costeiros, ameaçando também as comunidades costeiras, incluindo cidades.

O oceano tornou-se mais ácido nos últimos 200 anos devido ao aumento do dióxido de carbono, reduzindo a capacidade da vida marinha em formar conchas e recifes de coral, e prejudicando a cadeia alimentar dos oceanos.

30%

EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS Tempestades mais fortes prejudicam o ambiente e a humanidade. Ondas de calor (temperaturas extremamente altas durante longos períodos) podem causar mortalidade em massa de espécies marinhas.


COMO É QUE AS ÁREAS MARINHAS PROTEGIDAS (AMPs) AJUDAM A RESOLVER IMPACTOS CLIMÁTICOS? As AMPs podem desempenhar um papel fundamental na promoção da resiliência climática como parte de uma abordagem ecossistémica de gestão.

O QUE É UMA AMP? As Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) são zonas marinhas geograficamente delimitadas e geridas por uma legislação específica. São criadas para a proteção, conservação e gestão da biodiversidade, habitats e ecossistemas marinhos.

Protegem os habitats com “carbono azul”, através das plantas marinhas, mangais e pântanos salgados, que absorvem grandes quantidades de carbono.

Protegem os ecossistemas marinhos, reduzindo os impactos negativos dos fatores de stress não climáticos, de forma a que os recursos saudáveis possam suportar melhor os impactos do clima, sustentando a vida e os meios de subsistência.

Protegem o litoral e as comunidades costeiras dos impactos de tempestades (através dos pântanos, mangais e barreiras de recifes de coral, por exemplo). Protegem as espécies que migram devido aos impactos do clima, proporcionando “segurança” para as mesmas em outras áreas.

https://climate.nasa.gov/news/2671/long-term-warming-trend-continued-in-2017-nasa-noaa/; https://www.epa.gov/climate-indicators/climate-change-indicators-sea-surface-temperature; http://www.noaa.gov/resource-collections/ocean-acidification


ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE DISTRIBUIÇÃO E DRENAGEM DE ÁGUAS


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