chupa manga zine
número 11 ● novembro 2018
nesta edição: novo ep do BAGDÁ MIRIM e outros singles como se livrar do chato do violão (em quadrinhos) tocando pelas ruas de florianópolis entrevista exclusiva com o nosso editor aprenda mais uma música dos rabanadas
chupa manga zine
número 11 ● novembro 2018
expediente editor-chefe Stêvz colaboram nesta edição Marco Benvegnù Carlos Panhoca
cbna
Stêvz é o nosso fantástico editor, e apesar de preferir não empregar superlativos, referir-se a si mesmo na primeira pessoa do plural ou na terceira do singular, é exatamente isso que está fazendo agora. Assina todos os textos deste zine, exceto onde indicado.
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Impresso, dobrado e grampeado em casa na primavera de 2018
Chupa Manga Records São Paulo • Pós-Brazil
na capa: foto de Zbigniew Wielgosz (Polônia, 1953-2016) — da qual, infelizmente, não sabemos o local ou a data
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Desde a impressão da Coleção Chupa Manga Zine, reunindo as edições de 3 a 10 desta publicação, não lançávamos outro número. Nesse meio tempo, muita coisa mudou: nos mudamos de Porto Alegre para São Paulo, lançamos mais um punhado de música e o Brasil elegeu um exmilitar demente e fascista como presidente da república, em um processo eleitoral completamente anormal. O horizonte é tenebroso. Nossa democracia está indo pelo ralo, mas não é hora de desanimar. Em momentos obscuros e de repressão como os que virão, a cultura, a arte e a música têm papel fundamental em devolver para a sociedade um pouco da sua humanidade perdida, com visão crítica e construtiva — ou ao menos de entretê-la a ponto de esquecer das atrocidades cotidianas e aguentar mais um dia. Faremos o que pudermos, nesse sentido, como podem constatar os leitores, leitoras e ouvintes pelo teor das nossas últimas canções. Esperamos, realmente, não ter de chegar ao ponto da clandestinidade — embora sequer sejamos relevantes a esse ponto —, mas só o tempo dirá. Agora, sobre este número: explicamos brevemente o novo EP do Bagdá Mirim, banda punk de apartamento e música de protesto; reproduzimos uma crônica do "Irmão Victor" Marco Benvegnù sobre tocar pelas ruas de Florianópolis atrás de uns trocados; trazemos a íntegra de uma rara entrevista que nosso editor concedeu e não foi publicada; transcrevemos uma faixa do lado B dos Rabanadas; e compartilhamos o método infalível do quadrinista Carlos Panhoca para se livrar dos chatos do violão nas festinhas de humanas. Pra hoje, é isso.
SESSÃO MARMELADA
bangue-bangue Bagdá Mirim é um projeto de banda que acontece mais ou menos uma vez ao ano. Aproveitando outtakes dos intervalos das gravações de Presente (Chapa Mamba), metade de Bangue-Bangue já estava pronta há um bom tempo, esperando assunto para ter o que dizer; mas o resto das canções foi parido às pressas, sob pressão, para fechar o EP a tempo da feira MOTIM, em Brasília, onde a banda foi escalada para se apresentar na abertura e lançar o trabalho em mais um compacto riscado pela Lombra Records, com pouquíssimas cópias. Desta vez com Diego assumindo o baixo e Davi Kaus na guitarra, Helder nas baquetas, tocamos por aproximadamente 15 minutos em um ginásio vazio e com uma reverberação incontrolável — nem quem viu, ouviu, portanto —, seguidos por Quebraqueixo e Mechanics (relançando o obrigatório Música Para Antropomorfos em vinil). Mas a coisa não estaria completa sem um showzinho despretensioso de última hora em um lugar mais adequado ao humilde porte da banda: conseguimos marcar em um bar chamado Zepelim, dois dias depois, com direito a três cartazinhos feitos à mão por ninguém menos que Fabio Zimbres. A maior parte das letras de Bangue-Bangue foi escrita em incontáveis horas no transporte público de São Paulo, no deslocamento casa-trabalho-casa, durante o período eleitoral provavelmente mais tenebroso da nossa história. Prevendo o desastre iminente, é um disco pessimista, mas não resignado: feito para o aqui, agora, e metendo o dedo na ferida. Planejado inicialmente para um vinil de 10 polegadas, algumas faixas acabaram ficando de fora no formato final: duas delas estão disponíveis no Bandcamp, as outras devem virar outra coisa, ainda não sabemos. Ouça enquanto está quentinho.
abaixo, a capa do disco. nas pรกginas seguintes, cartazes dos shows
CHUPA.028 Bagdรก Mirim Bangue-Bangue
OUร A chupamanga.bandcamp.com/ album/bangue-bangue
ssssssingles
Lançamos um punhado de singles nos últimos meses! Procure saber.
chupa manga play along
fundo infinito
© Stêvz Rabanadas - EP (CHUPA.024, 2017)
crônica
por marco benvegnù
na rua, a música Hoje saí de casa com meu amplificador, meu saxofone e meu violão, junto do meu querido Murilo Mattei, que também grava suas músicas e que me deu um auxílio pra levar as coisas pra rua. Saindo do prédio, a vizinha: — Não me diz que vocês vão "pedir moeda"... — Não peço. Quem quer dar dinheiro, dá. — Hmmmmmm... em Paris tem muito disso... músico de rua, né... Paris... Um cara que toca no norte da ilha já tinha me alertado: — É bom tocar quando tá nublado: madame acha que tá na Europa. Fomos até a movimentada Felipe Schmidt, aqui no centro da cidade. Toquei nessa rua por uns dias até que o pessoal das lojas ao redor provavelmente se enojou dos meus barulhinhos e arrancou a tomada que eu usava. Faz parte. Antes de arrancarem, eles taparam a tomada com fita adesiva. Um violonista uruguaio convenientemente chamado Yamandu veio em meu socorro aquele dia: arrancou a fita e enfiou meu amplificador na tomada: — Toca. O pessoal do prédio aqui da frente que se foda. O dono da lojinha ali, um careca filho da puta que tá sempre de terno, faz de tudo pra boicotar a gente. Se faz de desentendido e mete pau. Obedeci, mesmo um tanto constrangido quando o dito aparecia na janela, me encarando. Baixei um pouco o volume, fiquei na bem equilibrada diplomacia. Mas agora não preciso mais de tomada nenhuma, com meu ampli-
ficadorzinho com bateria. Independência. Costurava todo o centro com meus instrumentos atrás de uma loja que me emprestasse uma mísera tomada. Sonho. Quando alguma cedia, eu voltava no dia seguinte e outros gerentes, com outras políticas, me barravam, com maior ou menor desprezo. Essa ciranda dos gerentes e das suas valiosas tomadinhas me deu nos nervos e mandaram minhas costas pras cucúias. De qualquer forma, hoje eu mal tinha deixado tudo preparadinho e antes mesmo de tocar me jogaram umas moedas na caixa do sax. Uma senhora, moradora de rua toda esfarrapada que jogou, me olhou duro e foi dormir na frente de uma livraria. Depois veio um homem magríssimo, simpático. Esperou eu acabar a música e elogiou. O elogio foi virando uma autobiografia com bastante rapidez. Isso sempre rola: a quantidade de gente que anda pra cima e pra baixo no centro, querendo bater um papo é assombrosa, e muitos veem no músico tocando ali na rua alguém apropriado para conversar. Fato que o cara dormia no terminal de ônibus, ia para São Paulo hoje, não sabia se voltava, não sabia pra onde ir depois. — Tu é de Passo Fundo? Vocês estão espalhados por tudo! Sempre gente interessante que nem você. — ele falou com um forte sotaque castelhano. "Gente interessante". Passo Fundo só tem maluco planejando êxodo: é notório. Depois me mandei pra outra rua, tocar perto de um McDonalds e uma Magazine Luiza — os famigerados gerentes na porta, me olhando torto. Subi no murinho do Palácio Cruz e Sousa e fiquei tocando. Meu público cativo era uma guria esperando sabese-lá-o-que na frente do banco, com sua filha, um bebê de laço cor de rosa. As crianças são o melhor público, disparado, não têm pressa nem medo de dar uma dançadinha. Te olham fundo no olho, fazem corpo duro e os pais têm que arrastar pela mãozinha, seguir o dia. Compromissos...
Depois fui tocar na frente da Catedral da praça XV. Algumas pessoas entregando panfletos para liberarem o Lula, outras pegavam e amassavam, se exaltavam, bem à moda Brasil 2018. Bate boca estourando cada 10 minutos. Quando eu ia começar apareceu um velhinho com um microfone estragado e uma caixa de sapatos, segurando umas florezinhas amarelas. Era o que se costuma chamar de um louco. Desses tipos se vê muito quando se toca na rua. Quando as horas passam e o dinheiro não vem, rola até uma espécie de identificação mútua. Afinal, aqui não é Paris. Depois de fazer um sinal da cruz fervoroso, o homem das flores amarelas começou a cantar, bastante bem até, "Não deixe o samba morrer". Berrava, dançava, completamente entregue. Acabou e bateu palmas orgulhosas para si mesmo. Da escadaria, um cara gritou: — Canta um Roberto Carlos! Ato contínuo ele canta aquela da namoradinha de um amigo meu. O pessoal dos panfletos se diverte, acha graça. Mais um pedido: — Manda um Tim Maia! — Você gosta de chocolate? — foi a resposta — Eu amo chocolate. Chocolate chocolate CHOCOLATE CHOCOLATE. Quem viu ficou meio assustado, foi seguir a vida. Ele veio até mim, preocupado que estava cantando muito alto e não me deixava tocar. Insistiu pra eu começar. Toquei minhas coisinhas. Minha performance não era nada comparada com a dele, digo isso com toda seriedade. Toquei mal. Ele adorou, dançou por toda a escadaria, parando às vezes para fazer o sinal da cruz. Quando acabei, veio aplaudindo e me disse: — Eu gosto de cantar. Tenho dinheiro pra comprar meu café, comer, comprar um perfuminho. E deu! Eu poderia ser um grande jogador de futebol se eu quisesse. Andar de carrão. Rico. Mas daí eu não ia estar cantando aqui na frente da igreja, não é verdade? E é.
ENTREVISTA
gaiato no navio Provavelmente confundido com outra pessoa, nosso recluso editor concedeu uma rara entrevista em agosto desse ano — via mensagens de Whatsapp — para a jornalista de um site cultural de Curitiba. Como o papo-furado desiludido sobre o selo rendeu apenas uma ou duas aspas para a pauta da matéria, reproduzimos a seguir a conversa na íntegra, pra você que chegou só agora e ainda não entendeu nada.
desculpa, mas como é o seu nome? (risos) "one-man-label" é tudo que sei sobre você. Oi, Estêvão. Assino como Stêvz. Dá pra saber um pouco mais sobre o selo no Chupa Manga Zine e no arquivo do mailing, tem tudo online. ok! estevão, há quanto tempo você tá no mercado da música? Oficialmente desde 2013, mas nem sei se estou de fato "no mercado". Como assim? Os discos estão na internet, um ou outro teve lançamento físico de tiragem limitada, mas o selo não está realmente articulado dentro de um mercado... Não faz parte de nenhuma cena no mundo real. Isso é algo que quero mudar em breve, fazendo mais shows, participando mais ativamente de eventos, etc. Enfim, só problematizando logo de cara, foi mal.
hahaha imagina! pelo que eu sei você tem uma banda também, né? A menos desconhecida chama Chapa Mamba. As outras são Rabanadas, Bagdá Mirim, Quadrúpede Orquestra e meu projeto solo Stvz. De vez em quando uns outros projetos avulsos. e o que veio primeiro? as bandas ou o selo? por que você decidiu fundar ele? O selo surgiu para poder juntar todos os projetos num lugar só, catalogar isso e ter alguma plataforma que unificasse tudo dentro de uma certa estética identificável (mesmo que sejam bem diversos). Eu coloco material solto na internet desde 2003 ou 4, às vezes até queimava uns CD-Rs para amigos (ou vítimas) incautos, mas era tudo espalhado, sem continuidade. O selo é uma questão de narrativa, um fio condutor, mesmo que não seja realmente planejado. Lanço o que der na telha. Depois até fui aprendendo um
pouco mais sobre como "funcionam as coisas", divulgando material de amigos, etc, mas é basicamente um projeto egocêntrico e sem fins lucrativos. Agora gostaria de abrir um pouco mais isso, interagir com os poucos doidos(as) que acompanham e escutam os sons, pois incrivelmente existem.
E no caso dos discos de outras pessoas, às vezes faço a curadoria, capa, masterização, outras vezes só a distribuição digital mesmo. Mas o foco realmente é o meu próprio trabalho. Uma ou duas vezes por ano uma das bandas faz uma apresentação em algum lugar obscuro.
hahahaha entendi, se eu cheguei até você eles existem e te acompanham, sim! :) e o que basicamente você faz? é tudo feito em casa?
e como você banca tudo isso? você vive de música atualmente?
Sim, basicamente eu componho, arranjo, gravo, mixo, masterizo, escrevo release, mailing, faço capa e projeto gráfico, cadastro obra e fonograma, divulgo teaser, post, tuite, boto no Spotify, Youtube, Bandcamp, Facebook, blog e sei lá mais onde em troca de um ou outro like e uns tapinhas nas costas. Não satisfeito, escrevo sobre isso num zine impresso, dobrado, grampeado e refilado em casa, coloco numa loja virtual, divulgo a loja, crio promoção, pago anúncio, envio pelo correio e depois boto tudo de graça no issuu. Coisa de doido mesmo. As bandas com outras pessoas geralmente envolvem uma bateria, então a gravação é feita na raça na casa de alguém ou num estúdio de ensaio barato com meu próprio equipamento.
Não, nem de longe. Só consigo fazer isso nas horas vagas, infelizmente. O processo pelo menos toma mais tempo que dinheiro, hoje em dia isso é possível. Mas aí o "faça você mesmo" também faz parte da estética, não dá pra ter preciosismo demais. Tudo que eu já fiz não passa do rascunho de coisa melhor :$ e desde que você começou muita coisa mudou? abrir o selo te proporcionou algo diferente de antes? Hm, mudaram as plataformas e os modelos... MySpace já foi a norma para todas as bandas, agora tem outros serviços no lugar, mas o ouvinte médio parece ter se acomodado com o Spotify. Acho que ele não dura mais 10 anos, é tudo muito nebuloso, a coisa toda é uma bolha que só dá lucro
para acionistas especuladores. Por um lado, artistas independentes recebem algumas migalhinhas e podem achar que está tudo bem, mas não tem como correr disso. O YouTube na verdade é a maior plataforma de streaming de música do mundo, embora não se defina assim. Parece que já lançaram um serviço exclusivamente de áudio lá fora, mas não sei como vai ser. O modelo de rede social agora impera, embora sites como Bandcamp sejam vistos como uma alternativa mais honesta, o público familiarizado é mais restrito. Fora isso há a questão dos formatos, que também vêm e vão. Eu sempre gravei idéias e ensaios em cassete porque era a forma mais prática e acessível para mim no momento, mas com o tempo foi ficando difícil achar fitas e os celulares começaram a gravar de forma aceitável. Agora, nem tanto tempo depois, o k7 está de volta como item de nostalgia, a Polysom voltou a fabricar e vende a 50 conto $$$, sendo que quase ninguém tem sequer onde ouvir isso. O CD, de formato padrão hoje serve mais como mídia de transporte e cartão de visita. O vinil voltou com mais consistência mas acho que realmente tem a vantagem de ser um formato completamente analógico. Sem entrar na questão do áudio, é um registro que
ao menos serve de backup para os arquivos e streaming, pode ser ouvido mesmo sem eletricidade, em um gramofone de manivela. (Tem mais, continuo?) Tem esse lance de se privilegiar o single sobre o disco, mas isso não é algo novo, remete aos compactos das antigas. O André Midani fala sobre isso no livro "Do vinil ao download", e tá aí um cara que participou de toda a história da MPB como a conhecemos. Fora a merda do Facebook, que espero que seja logo extinto. Quanto ao selo, com certeza, além da questão de organizar a porra toda para mim mesmo, proporcionou conhecer outras pessoas interessadas em coisas em comum, de outros países até! agora falando mais como artista e não tanto como dono de um selo, você acha que as gravadoras têm um peso grande no que se tornou e como é o mercado de música atualmente? Acho que sim. No cenário independente por agregar bandas diferentes sob uma certa curadoria. Isso pra quem acompanha é interessante, e para as bandas que ficam associadas às outras do selo também. Nas maiores o que conta é a grana, para
investir em estúdio, produção, publicidade, etc. Mas hoje acho que é até possível fazer o rolê (diga-se ganhar dinheiro) sem precisar de uma gravadora, tendo saco pra enfrentar a parte chata, conhecendo as pessoas certas e tal. Agora, não dá pra falar em mercado de música no Brasil sem falar em edital, né. Pra viver disso geral tem que depender de SESC, Natura, Converse, Red Bull ou sei lá mais o quê. Não que eu ache errado, mas parece ser o caminho.
que eu mesmo consiga realizar sem me fuder muito. Como disse, a Chupa Manga não está realmente "no mercado". Mas se tivesse alguma obra que precisasse de mais grana para realizar, certamente teria que correr atrás de edital.
e você já participou desses editais?
Não sei, existe toda uma cena firme e forte aí independente dos grandes espaços, mas mesmo dentro do "alternativo" existe um mainstream e um subterrâneo. E não é apenas uma questão de sucesso, mas são lógicas diferentes. Uma coisa que me parece clara é a dificuldade de pequenos espaços de show sobreviverem, é neles que se cria uma cena, que bandas novas podem se desenvolver, criar público. Mas costuma rolar uma certa perseguição por parte de prefeituras, vizinhança, com relação a barulho principalmente. É preciso que esses espaços existam, não se trata apenas de baderna, lazer, mas de fomento de cultura. E não, acho que nunca vão largar o osso. Mas há públicos e públicos, pode haver espaço para tudo.
De música não, participei de um edital de intercâmbio na área editorial/visual em 2007 que foi bem interessante e rende frutos (contatos, publicações, etc) até hoje. Me inscrevi em um para shows uns 5 anos atrás, mas os selecionados foram todos artistas com 20 anos de carreira ou mais, renomados, e tal. Talvez fosse melhor terem sido convidados diretamente do que dar a entender que bandas pequenas ou estreantes pudessem ser contempladas... Mas enfim, não corri mais atrás disso por não ter nenhum projeto que realmente precise de investimento alto no momento. Talvez já tenha até me acostumado a pensar nos termos do orçamento nulo, só planejar coisas
entendi, você acha que alguma coisa poderia melhorar nesse cenário? acha que em algum momento as grandes gravadoras vão deixar de existir?
e você teve que passar por alguma burocracia pra abrir o selo? Só a burocracia de me inscrever numa sociedade de distribuição de direitos, aprender sobre essas coisas. Mas o selo é informal, se você vai assinar com outras bandas, fazer contratos, etc. Vai precisar abrir uma empresa, mesmo que seja um MEI. Ai é outra história, vai exigir provavelmente uma atenção em tempo integral. as pessoas geralmente relacionam artistas independentes a uma coisa mais nichada ou menor, você tem algum exemplo de artista grande independente? ou até mesmo produtoras? Ah, todos os que você já ouviu falar, que estão em lista de melhores do ano e tal. Na real a regra hoje é ser independente, não? As grandes gravadoras investem só em um punhadinho de gente, mas investem pesado. quantas bandas seu selo "abraça" hoje? você sabe? Umas 9? Mas metade sou eu mesmo :P Na verdade evito lançar material dos outros pra não ter briga, a intenção do selo não é ganhar grana nem agenciar
ninguém. uhum... Até gostaria de lançar mais coisas, mais esquisitas, mas é o que dá pra fazer no momento e essas que não são suas mas que estão contigo, o que te levou a "aceitá-las" também? Na verdade eu cedo muito facilmente à pressão, hahaha. hahaha Mas são sons que têm a ver com a proposta, todos foram gravados em casa por uma pessoa só. Não que haja um critério assim tão específico, volta e meia até me mandam demos (naqueles e-mails com cópia pra centenas de selos, que eu também cansei de mandar), mas eu não tenho muito a oferecer pra ninguém. parece uma fala desesperançosa... Na verdade é mais motivacional: não mande pra mim, crie seu próprio selo! Melhor que ficar leiloando disco por aí. você disse que metade das bandas
são suas. elas envolvem outras pessoas? Sim, algumas: Chapa Mamba é um trio (os outros 2 integrantes estão no RJ), Rabanadas uma dupla, Quadrúpede outra dupla, Bagdá Mirim tem uma formação variável. saquei. é muita coisa, hahaha! cê deve se desdobrar em mil pra fazer todos esses rolês acontecerem. Sim! Se pudesse faria só isso... e com o que você trabalha "pra ganhar dinheiro"? hahaha Com design gráfico e ilustração, é a minha formação. ah sim, por coincidência o outro entrevistado também é designer! Hehe, chuta uma árvore que caem vinte. Quem foi? hahahaha, o Matheus Mantovani. Ah, legal! Conheci ele aí em Curitiba, ainda estava pensando em criar a Onça Discos. São propostas bem diferentes, os dois selos, acho. Tem também a Zoom Discos aí, mais voltada
pro punk, Meia Vida, muita coisa. ahh, queria ter mais tempo pra conseguir falar com toda essa galera! mas pelo pouco que conversei com alguns músicos, existem muuuitos selos né? Sim, tem algumas listas por aí. sempre foi assim? ou isso é uma característica da música contemporânea? Não sei, acho que a chegada da internet e o fato da mídia física não ser mais indispensável possibilita a qualquer um lançar o que quiser quando quiser. Não precisa de muita grana necessariamente pra começar. O lance de criar um selo já parte dessa vontade de aglutinar várias coisas debaixo dum mesmo guarda-chuva, só que nem todo mundo tem essa pilha. Mas se você tem um grupinho de amigos que curte o mesmo som já pode criar o seu selo, fazer uns eventos em casa e botar o som na internet. Tem espaço pra tudo. A Chupa Manga Records é um selo de cauda longa e grana curta nesse sentido de sequer ter um "estilo" único, tudo pode acontecer. 1 1. Menos ganhar dinheiro, obviamente. (N.d.E)
FIM
por panhoca QUADRINHOS
chupamanga.tumblr.com/zine