chupa manga zine
número 3 ● janeiro 2017
a crise chegou: menos páginas! impressão caseira! tiragem mínima!
e mais: sessão marmelada girl power o poperô búlgaro audição seletiva roland de candé cifras para violão quadrinhos
chupa manga zine
número 3 ● janeiro 2017
expediente editor-chefe Stêvz colaboram nesta edição Roberta AR Fabiane Langona agradecimentos Letícia Lopes, Amanda Hawk
cbna
Stêvz é o nosso fantástico editor, e apesar de preferir não empregar superlativos, referir-se a si mesmo na primeira pessoa do plural ou na terceira do singular, é exatamente isso que está fazendo agora. Assina todos os textos deste zine, exceto onde indicado.
fale conosco chupamangarecords@gmail.com chupamanga.tumblr.com
Impresso, dobrado e grampeado em casa, no verão de 2017
Chupa Manga Records Porto Alegre • Brasil
na capa: detalhe da revista Tape Recording de outubro de 1960, cuja matéria principal trata do inovador uso de gravações eletromagnéticas para o aprendizado linguístico.
editorial falido
b glu b u l g
CHUPA MANGA RECORDS é um selo de um homem só. Não ganho um centavo com isso. Mesmo o material comercializado, ou os pífios royalties de reprodução por streaming, não pagam a matéria prima, os custos de impressão e muito menos as horas gastas compondo, gravando, mixando, masterizando, diagramando, fazendo uploads e escrevendo releases ou editoriais como este, que ninguém se dará ao trabalho de ler. Nosso meio de comunicação é através das mídias sociais do selo e da nossa incrível newsletter mensal, onde divulgamos os últimos lançamentos diretamente para o ouvinte. Sim, porque sem ouvintes não haveria muito sentido em fazer nada disso, e portanto, obrigado a você que comprou este zine e que bota os discos pra tocar de vez em quando! Também conseguimos angariar colaboradores e colaboradoras excelentes até aqui, e somos infinitamente gratos a todos pela participação. Infelizmente, os custos desta nossa ousada empreitada editorial se mostraram inviáveis para uma atualização constante. Para isso, preferimos simplificar a porra toda e reduzir o número de páginas e a tiragem, para tornar possível uma periodicidade mais assídua através do controle total de produção (leia-se: imprimir e grampear em casa), como aliás postula a própria definição de "zine" – a qual havíamos flexibilizado para levar ao público o melhor cuidado gráfico e editorial possível. Escolhemos, a partir de agora, apostar em uma microtiragem caseira, que nos possibilite lançar quantas edições forem necessárias a cada ano, semestre, mês ou semana, mantendo o material constantemente atualizado e possivelmente ainda mais efêmero. Divirta-se.
últimos lançamentos
CHUPA.014 Chapa Mamba - Remoto O último disco do Chapa Mamba traz gravações de ensaios e jam sessions recauchutadas e picotadas obsessivamente até passarem por canções minimamente estruturadas. Não compre.
CHUPA.013 Irmão Victor - Passos Simples para Transformar Gelatina em um Monstro Fenômeno de Passo Fundo (RS), Marco Benvegnú criou essa obra-prima da esquisitice caseira que nem o hermetismo das piadas internas consegue ofuscar. Evite.
CHUPA.008 Stvz - Factótum Relançamento das primeiras demos organizadas em álbum por Stvz, nos idos de 2008. Instrumentais cativantes pobremente gravados e outras composições menores. Deixe pra lá.
CHUPA.012 Stvz - Son of Computer Music Mais uma compilação de faixas eletrônicas experimentais, nem um pouco dançantes, incluindo duas inéditas. Uma farsa.
sessão marmelada Estivemos definitivamente ocupados desde a última edição deste zine. Abaixo recomendamos alguns dos lançamentos recentes do selo, fora os singles, mas não se deixe levar pela nossa autopromoção: tire suas próprias conclusões!
CHUPA.011 temer\/\/ave - $
CHUPA.010 Chapa Mamba - Live
CHUPA.009 Stano Sninský - Bežný Jedinec
Uma homenagem merecida ao presidente golpista do Jaburu, em forma de remix e plunderfonia. Não ouça.
Finalmente à disposição do público, este registro pirata in loco permite ao ouvinte sentirse no meio da microfonia, dos gritos e instrumentos desafinados que marcam as apresentações ao vivo da banda. Uma merda.
Diretamente da Eslováquia (sério!), o genial Stanislav mostra um pouco do que é capaz neste disco tão eclético quanto instigante. Na dúvida, melhor não arriscar.
CHUPA.007 V.A. - máfia líquida 9.5 Registro a pau e corda do lendário happening avantguarde pretensioso anual da Máfia em São Leopoldo (RS), trazendo duas apresentações únicas de Macedusss e Antimáscara. Um lixo.
CHUPA.006 Bruno Azevêdo / César Boaes A Bailarina No Espelho Um matador de aluguel narra sua saga solitária em pequenos capítulos, nesse relançamento com texto do maranhense Azevêdo. Para fãs de pornochanchada, boca do lixo e film noir. Desista.
ENTREVISTA
motim: um espaรงo livre
Como a MOTIM começou?
Em uma pequena sala no centro do Rio de Janeiro, há menos de um ano, nasceu a MOTIM, espaço livre para shows, atividades artísticas insubmissas, rebeldes e independentes, que já conta com uma programação intensa e democrática voltada especialmente para o público feminino. Com quase um evento por semana, dentre apresentações, aulas de instrumento, oficinas e workshops, o espaço foi criado e é administrado por Letícia Lopes e Amanda Hawk — das ótimas bandas Trash No Star e Ostra Brains, respectivamente — com quem conversamos a seguir.
A Motim surgiu da necessidade de existir um lugar seguro para acolher nossos corres, uma vez que as denúncias contra os administradores das casas de show/estúdios/selos do Rio de Janeiro estavam se multiplicando e ao mesmo tempo esmagando nossas possibilidades de desenvolver qualquer projeto de forma saudável e proveitosa. Como estávamos desempregadas e com tempo livre, decidimos que era a hora de chutar a porta e começar. O que vocês aprenderam nesse processo e o que gostariam de já saber antes de ter começado? O que é preciso para montar o seu próprio espaço? É muito difícil administrar grana e pessoas. E para manter um espaço precisamos de grana e pessoas. (fundo musical trágico)
PARA SABER MAIS: MOTIM Rua Julia Lopes de Almeida 10 / 302 Centro, Rio de Janeiro fb.com/motim302
Como vocês se envolveram com música? Nós duas sempre tivemos bandas desde que começamos a andar (risos). Víamos bandas como Bikini Kill, Sonic Youth, L7, e queríamos fazer o mesmo.
E quanto ao selo Efusiva, como funciona e o que já lançaram? A Efusiva é um selo feminista independente que surgiu em Dez/2015 e lança, distribui e divulga bandas e projetos de mulheres (cis e trans). Já foram lançadas: Clara Chroma e Chico de Barro (RJ), Melinna Guedes (AL), Chancho (RN) e Invenus (SP). Quais são os planos do espaço e do selo para 2017? Motim: iniciamos 2017 com uma feira de impressos independentes, chamada Feira Arame, que vai ter duas edições por ano; estamos montando uma biblioteca com livros/zines feministas, e a idéia é a galera chegar, ler ou levar emprestado; hoje contamos com aulas de bateria, guitarra, baixo, violão, canto, inglês. Queremos ampliar esse leque de opções. Efusiva: o selo começou divulgando e distribuindo materiais das bandas, além de organizar eventos e oficinas para facilitar a troca de experiências e promover autonomia para as meninas; em 2017 vamos começar a gravar e produzir mais materiais de audiovisual, e daí é só partir pro mundo!
Temos visto muitas iniciativas femininas bacanas, como a PWR Records, de Recife, as entrevistas do We Are Not With The Band e o já clássico Girls Rock Camp. Podem citar outras? Têm rolado parcerias com algum outro projeto? Sim, nós fazemos parceria com páginas, blogs e selos feministas ou mistos – além dos citados, tem os selos e distros Howlin Records, Oxente Records, Transtorninho, Lixo Records, Cosmoplano, Chupa Manga Recs <3 e blogs/páginas como a Bull in the Heather, Cabeça Tédio, Distúrbio Feminino (que também é festival e zine), a Hi Hat Magazine (projeto de bateria para meninas, que faz publicações com material online e promove oficinas gratuitas). Todos eles acabam fazendo parte de uma enorme rede de apoio e afetos. Por fim, vocês gostariam de deixar algum recado? Independente das tretas, não deixem de organizar o ódio e utilizem essa energia para produzir. na página ao lado, de cima pra baixo: Ostra Brains e Trash No Star
ENSAIO
tire os fones de ouvido e ouça o mundo de vez em quando Desde o advento da música portátil, um equipamento periférico tornou-se fundamental para o hábito auditivo de todas as gerações subsequentes
Provavelmente muitas pessoas hoje em dia ouvem mais música diretamente nos fones de ouvido do que em outros ambientes, mas por vezes esquecemos como isso influencia a nossa percepção. Além de enfatizar o aspecto esterofônico que poucos equipamentos sonoros (talvez o som do carro seja um dos únicos exemplos corriqueiros) acessíveis realmente possuem[1] — e o que permite ainda outras explorações nesse campo, como as gravações binaurais —, a principal característica da audição em fones é o ISOLAMENTO de ruídos externos e a neutralidade que um espaço físico dificilmente possuiria. É verdade que cada fone terá suas próprias especificações de potência e espectro de frequências[2], mas ainda é o mais próximo que o ouvinte comum terá de um ambiente neutro — e com a vantagem de estar sempre no "sweet spot", entre os dois canais de áudio, ou ao menos no mesmo ponto de referência o tempo todo. [3] Um aspecto óbvio e já bem discutido desse isolamento é o fator social. Eu mesmo costumo passar o dia inteiro de fone, seja ouvindo ou gravando músicas, assistindo a vídeos de tutoriais e pornog palestras, ou às vezes mesmo em silêncio, simplesmente por esquecer de tirá-los. Por isso, quando saio de casa, a última coisa que penso em fazer é colocar novamente os malditos fones de ouvido. Consigo entender fazê-lo durante um trajeto tedioso de ônibus ou avião (mesmo assim, a experiência será provavelmente
frustrante caso não se possua equipamento com cancelamento de ruído), a realização de alguma tarefa mecânica e repetitiva como apertar parafusos ou no expediente do escritório, mas — e é nesse ponto em que queremos chegar — andar por aí ou pedalar isolado sonoramente é abrir mão de um dos sentidos, limitar parcialmente a sua recepção do mundo. Não que estar com os ouvidos livres mas absorto nos próprios pensamentos seja muito diferente, mas tem se tornado comum negligenciar a audição enquanto canal fundamental da percepção espacial, e esse é o terceiro e principal aspecto a que iremos nos ater neste texto: a deficiência sensorial a que nos submetemos nessas ocasiões. Ao replicar nossa zona de conforto sonora no ambiente externo perdemos algo da experiência humana?[4] Escutar o som ao seu redor é não apenas uma questão de curiosidade ou empatia, mas de sobrevivência. Perceber o ônibus avançando na contramão, o piano caindo do guindaste, o seu nome sendo chamado no embarque ou a sua senha apitando na fila do transplante são todas necessidades básicas atuais às quais os fones ignoram, e para as quais a visão nem sempre basta. O fato é que o mundo já é CHEIO DE SOM, e bloquear isso deliberadamente pode tornar mais difícil ainda a tarefa de absorvê-lo e se situar nele. É, porém, perfeitamente compreensível que em certos momentos tudo o que as pessoas queiram seja sumir, desaparecer, entrar numa redoma acústica intocável e deixar-se levar pela trilha sonora, transformando a própria vida e o caminho pela cidade em um filme ou clipe musical do qual se é protagonista. Mas o perigo subjetivo disso é justamente deixar de se viver um importante aspecto sensível do mundo, bloquear um dos sentidos para os acontecimentos periféricos, as epifanias discretas que um senso poético minimamente aguçado poderiam perceber nas mais pequenas coisas. No meu caso, por já ser naturalmente tímido, anti-social mas observador, ao tentar ouvir alguma coisa nos fones sem deixar de lado o ambiente, não consigo me concentrar nem em uma coisa nem em outra, insistindo em uma auto-enganação provavelmente apoiada pela ânsia multi-tarefa da qual todos sofremos, em maior ou menor grau, no mundo moderno. Por outro lado, a poluição sonora urbana pode ser tão invasiva que se torna impossível não conhecer os sucessos pavorosos do rádio ou
a promoção de cuecas das confecções Lili, mesmo exercitando ao máximo o domínio da audição seletiva.[5] Nesse caso, o fone é um precioso aliado para, ao menos, tornar-se o curador do próprio universo sonoro. Às vezes você só quer comer sossegado, sem ouvir o cantor da churrascaria ou o programa da televisão. Mas entre o fone e o barulho dos talheres, das outras pessoas, geralmente ainda prefiro o segundo. Até por conta da vulnerabilidade em que a desatenção tem o poder de nos colocar, quando imersos na sua surdez temporária. O fone de ouvido já foi o meu melhor amigo, a companhia para quando quisesse fugir da realidade e escutar metaleiras barulhentas misantrópicas por horas sem ser incomodado. Hoje é ferramenta de trabalho, mas um dos únicos momentos em que consigo realmente ouvir música por prazer e sem fazer outra coisa é deitado na cama, no escuro, antes de dormir. Como diz aquela tira da Laerte, "é por gostar de música que eu busco o silêncio", ou algo próximo disso.[6] Às vezes, ouvir DEMAIS pode ser um problema: o ruído do ventilador, da geladeira, a obra no prédio ao lado, a trepada dos vizinhos (nesse caso, pelo menos se aguça a curiosidade, justamente o nosso ponto), o chuveiro pingando, etc. A atenção auditiva constante pode se tornar exaustiva, mas um fluxo ininterrupto de música também não é? É verdade que a sobreposição improvável de imagem e som desconexos também pode gerar associações interessantes, mas o que se perde em troca é a conversa das duas senhoras no banco ao lado, a história do casal na frente da fila, o canto do passarinho em cima do poste, o mote do vendedor ambulante, o barulho da cidade e de seus habitantes, dos quais você faz parte, e à qual você pertence — muito mais do que em um clipe de música estrangeira em câmera lenta, provavelmente —, mesmo que às vezes prefira fugir deles. Uma alternativa inesperada para algumas dessas questões reside no seu cérebro. Acessar a própria memória ou imaginação pode ter efeitos surpreendentes e até mais satisfatórios do que a simples audição passiva, dependendo das condições.[7] Exercitar o subestimado OUVIDO INTERNO, tocar a música dentro da cabeça, é uma habilidade cada vez menos explorada em um universo de infinitas fontes de ruído, mas das mais poderosas, à qual a maioria das pessoas só percebe ao se pegar cantarolando alguma
canção grudenta terrível, da qual não consegue se livrar. No futuro, é provável que se pague royalties pela execução mental, debitado automaticamente da sua conta, tudo perfeitamente automatizado. Mas, pelo menos enquanto esse dia não chega, pensar em música ainda é livre. [1] E poderíamos nos estender sobre outras questões: "por que o estéreo é sempre a primeira coisa a pifar em qualquer aparelho de som?", "qual canal costuma sumir primeiro?", "qual deles seria então o mais importante?". Uma breve leitura sobre a história do som estereofônico pode ajudar a esclarecer algumas delas pelo aspecto técnico. [2] Também poderíamos complicar este artigo comparando os fones intra e supra auriculares, estabelecendo analogias entre equipamentos ou analisando a percepção sonora sob diferentes fontes de emissão, mas o enfoque aqui é outro. [3] Dito isso, não se trata de uma audição natural, no sentido em que o som não precisa percorrer alguma distância no ar até chegar ao ouvido, como sempre ocorreu — que dirá com novas tecnologias como o fone de condução óssea, que utiliza a própria estrutura de ressonância do crânio para transmitir o som, e com o qual é possível ouvir música até debaixo d'água. [4] Somado a isso, é de praxe acrescentar os indefectíveis óculos escuros ao kit de sobrevivência anti-social, mais um filtro para a realidade e os sentidos — talvez a versão adulta da crença de criança que acha que ao fechar os olhos se tornará invisível; ou simplesmente um apetrecho para selfies, vai saber; o excesso de luminosidade raramente é o caso. Porém, subvertendo seu papel alienante, os fones desligados podem servir como disfarce e instrumento para a curiosidade e a observação, permitindo ao usuário escutar descaradamente a conversa alheia sem ser incomodado ou mesmo percebido — e sim, algo próximo disso ocorre com os óculos escuros, que além de tudo previnem o contato visual. [5] Como observa o filósofo Paulo Neves no livro Mixagem - o ouvido musical do Brasil (Max Limonad, São Paulo, 1985), " O rádio e a música estão de tal maneira presentes no mundo atual, solicitam tanto a audição, que é natural, fisiologicamente compreensível, haver uma elevação no nosso limiar perceptivo. Em outras palavras: prestamos menos atenção ao que ouvimos." (p.27) [6] O famoso experimento de John Cage (sempre ele) já demonstrava que não existe silêncio absoluto no mundo. Mesmo hermeticamente isolado você não pode escapar do som do seu próprio corpo. Ainda no livro de Paulo Neves, ele pondera: "Causa um certo horror pensar que no mundo quase não há mais lugar para se ficar em silêncio. Os ruídos e a máquina, o rádio e a música, estão por toda a parte, mandando que o silêncio se cale. O homem provavelmente sempre teve medo do silêncio. Mas em nossa época, com os meios de reprodução e amplificação dos sons, esse medo virou tabu. A música não pode parar. O silêncio é banido e, com ele, a possibilidade do confronto das pessoas consigo mesmas através de seu próprio vazio. (p.41) [7] Para além da vibração sonora propriamente dita, a música também pode existir enquanto conceito abstrato, mas nesse estado só poderá ser apreciada interna e individualmente. Para existir no mundo físico precisa, infelizmente, ser executada.
RESENHAS ALEATÓRIAS
a chalga do meu coração Um dia cheguei no trabalho contando de um show do Varukers que tinha assistido no conic (quem é de Brasília sabe que esta sempre foi uma quadra underground, um pouco menos agora que começa a ser gentrificada por hipsters, lojas de vinil e coisas do tipo). Uma colega, assustada, me disse que nunca me imaginaria num show punk, que eu tinha cara de quem gostava de Vanessa da Mata. Acho que são meus cabelos cacheados e o fato de eu ser de humanas que dão essa impressão de que eu gosto de nova mpb (ainda chamam assim?). Mas minha vida musical nunca foi assim só underground, tem os pop que me tocam fundo, sempre gostei de Robertão (chorei horrores nos dois shows que fui) e David Bowie é ainda um grande amor da minha vida. Quando conheci meu companheiro, nossa primeira conversa foi sobre Rammstein, ainda morro de inveja que
por roberta ar
ele foi num show e eu não. Ficamos juntos num show do Gangrena Gasosa. Tudo caminhava para sermos um casal camisa preta, quando, num belo dia, o Pedro me apresenta Azis, que conheceu nas zueiras de internet – ele é de uma geração depois da minha e conhece coisas que eu demoro um pouco mais para ter contato. E a primeira coisa que vi do Azis foi o clipe de Hop. É difícil descrever a sensação que tive enquanto assistia. Uma empolgação, comecei a rebolar discretamente na cadeira (estava no trabalho, com meus melhores amigos, os fones de ouvido), mas por dentro me senti numa noitada nA Lôca[1]. Vou tentar descrever aqui o que vi e ouvi. Azis é um cantor pop da Bulgária. Ele canta chalga, que mistura ritmos tradicionais búlgaros com batidas eletrônicas, considerado brega no leste europeu. É muito popular, o vídeo de Hop,
na página da Diapason Records do YouTube, tem mais de doze milhões de visualizações. A primeira imagem que vemos é uma casa de madeira coberta de neve, corta para a foice e martelo, símbolos do comunismo, num fundo preto, seguida de uma animação com o nome da música em letras brancas HOP, até agora ao som de uma sanfona, ou algum instrumento tradicional. E aí a diversão começa. Damos de cara com o Azis ricamente maquiado em um ofurô, rodeado de lindos homens seminus numa sauna, cantando “Lover, lover / Fucker, fucker / Lover” e depois entra o trecho em búlgaro. Imagens de um dançarino folclórico se alternam com a sauna e closes de Azis em roupas mínimas, cheias de lantejoulas. Seus hits são contagiantes, outra música que recomendo para quem quiser conhecer é Sen Trope, que, na página azisofficial, tem mais de três milhões e
meio de acessos. Seu visual andrógino exageradamente elaborado pode parecer de alguém fútil, mas ele é uma personalidade política importante na Bulgária, se casou com um, agora, excompanheiro com quem tem uma filha e não teve sua união reconhecida no país, foi vice líder do euroma, partido ultraliberal búlgaro, e luta pela visibilidade e direito dos ciganos na Europa. Vi pouca coisa em português sobre ele nas minhas pesquisas, mas sei que tem uma geração que o conhece por essas bandas; muitos pela zueira, mas alguns foram curtindo de verdade. Apresentei para uma colega de trabalho que ficou simplesmente alucinada por ele, com planos de ir para a Bulgária e tudo e eu ainda nem sei o quanto tinha de brincadeira ou verdade nessa história toda. Mas Azis é pra isso tudo mesmo. Delícia demais! [1] Boate de São Paulo.
Quadrúpede Orquestra Aquela Menina Esculpindo Vento (2014) CHUPA.001
chupa manga sing along
(uma canção dos tempos de faculdade sobre jovens maconheiros)
G G/F Em Cm6 aquela menina acredita em quase tudo mas conhece quase tudo só de ouvir falar aquela menina só não sabe que na vida pra ser descoberta ela precisa se encontrar D(sus4) Bm7 Em aquela menina é uma mula sem cabeça um saci perneta que acha bonito C só falar besteira baseada no seu dicionário Bm7 Em paraguaio que foi prensado ao contrário e queimar fusível boba o dia inteiro Cm6 (solo) G G/F Em Cm6 D(sus4) Em C7 D(sus4) Bm7 Em o gato de bota tem chulé e bota chulé nisso bicho papão não papa C pepino nem jenipapo nem conversa de Bm7 Em abracadabra em mesa de bar o repertório acaba sem saber por onde começar Cm6 G G/F Em Cm6 G
XEROCÃO
músicas ligeiras Pensa-se imediatamente naquilo a que hoje chamamos «variedades». Mas as variedades são um fenómeno do nosso século, que surge com as indústrias da música (gravação e radiodifusão). A música de variedades é um caso particular da música ligeira do século XX (as coisas serão provavelmente diferentes no século XXI). Essa música reconhece-se por dois caracteres diferentes: — um ritmo e uma harmonia elementares, uma escrita de há cem ou duzentos anos (ultra-simplificada) com pormenores de estilo em voga. — o papel preponderante dos «arranjadores» (orquestradores... e dos intérpretes) Existiria, em todas as épocas, uma música «ligeira», ao lado da «grande música», da música histórica (não deve dizer-se «música pesada»; é uma piada fácil e estafada)? Certamente. E as diferentes classes sociais tiveram sempre músicas diferentes. Mas como a música ligeira era menos importante e não tinha ainda o valor comercial de um produto de consumo, não era impressa, nem muitas vezes notada, De resto, ela podia geralmente dispensar a notação: era simples e fácil de reter. Nas classes populares, principalmente na camponesa, encontrava-se em toda a parte, até ao triunfo das indústrias musicais, uma música de criação popular, mais ou menos improvisada. Transmitida por tradição oral, esta música pertencia ao folclore. Apenas existe no momento em que é tocada. Não se pode, portanto, conhecer a música popular de origem popular, o folclore, antes da invenção do
do livro O CONVITE À MÚSICA Roland de Candé (Livraria Martins Fontes, 1982)
registo sonoro; as notações demasiado tardias são sempre aproximações ou traições. É um círculo vicioso: a gravação é o único meio de conservar o verdadeiro folclore, mas ao mesmo tempo a gravação acaba por destruir o folclore, substituindo-o por uma música comercial! (...) O aparecimento de uma música ligeira escrita é um assunto sério. Pela primeira vez, ela vai entrar em concorrência com a «grande» música, servindo-se dos mesmos meios: a edição, o concerto («music-hall» ou «caf'conc'», (café-concerto)) e em breve a gravação e a rádio. Ao mesmo tempo, cava-se um fosso entre as duas músicas. Não só os seus compositores e os seus intérpretes são diferentes, como também não têm os mesmos locais de audição nem o mesmo publico... Serão dois mundos musicais, com duas maneiras de ser, que se compreenderão cada vez menos. Quanto mais a «grande música» se complica, tanto mais a música ligeira se simplifica. Elas atingirão o seu máximo de diferenciação por volta de 1960: «serialismo» generalizado, por um lado, «yé-yé», pelo outro. O fosso cavado tornar-se-á um abismo intransponível. Voltemos à época de Wagner e de Offenbach. Já notaram que a música ligeira é a mais característica de um país e de uma época? Se se quiser evocar Paris em termos de música no tempo de Napoleão III, Viena no tempo de Francisco José, ou Londres na época da rainha Victória, não se pensará nos prestigiosos teatros de ópera de que estas três cidades se orgulham.
por fabiane langona
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