Revista Strider Ed 4 - 2017

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07 OPINIÃO

EDITORIAL

Carlos Neto Co-founder Strider

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A chegada da terceira revolução verde

4 livros de empreendedorismo para você se inspirar

Certificação RTRS: vantagens e desafios de uma produção responsável

STRIDER ENTREVISTA

Felipe Santos, Portfolio Manager e Intelligent Solutions da John Deere

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QUER AUMENTAR SUA PRODUTIVIDADE?

EVENTOS

Agro em pauta: o que aconteceu nos principais eventos pelo país

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Especialistas e produtores ensinam como otimizar o tempo e produzir melhores resultados

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Cachaça foi exportada para mais de 54 países em 2016

COMUNIDADE

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ECONOMIA

Cooperativas e grupos de pesquisa: descubra os benefícios de cada um

Empresas e especialistas falam sobre inovação e expectativas para 2018

Do Instagram para as páginas da revista

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COLUNISTA CONVIDADO Dib Nunes: a praga da colheita mecanizada na cana-de-açúcar

CAFÉ

Nova era movimenta o mercado e instiga o paladar do consumidor

40 TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Análises de sensoriamento remoto: conheça as 4 principais

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ESPECIALISTA CONVIDADO

Adalberto Bião: como capacitar uma equipe para trabalhar com novas tecnologias?

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#PORDENTRODOAGRO

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MUNDO AFORA

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10 SOJA

STRIDER INDICA

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ÍNDICE

STRIDER NA ESTRADA

Rafael Souza conta os passos da instalação do Strider TRACKER

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SUSTENTABILIDADE

Conheça empresas que adotam modelos de gestão sustentável

ESPECIAL AGTECH

Defensivos biológicos: o ataque que salva a plantação

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CARTA AO LEITOR Carlos Neto Co-founder e Diretor de Tecnologia da Strider

Caros Leitores, Durante todos esses anos na Strider, tivemos a oportunidade de acompanhar de perto o desafio que é criar valor para o campo. A jornada em busca do sucesso de uma safra é, de fato, uma batalha para o produtor, repleta de fatores que são determinantes para o resultado da mesma. Enquanto uma empresa de inovação para a agricultura, a Strider está inserida em um cenário desafiador, que move toda a nossa equipe. Ela nos dá algo maior: propósito. Não há algo que traga mais satisfação para um profissional do que ver que seu trabalho está resolvendo problemas reais, em um setor que é a base de desenvolvimento da humanidade. Felizmente, temos recebido vários feedbacks positivos, o que nos faz acreditar que estamos no caminho certo. Toda a equipe Strider compreende que a tecnologia é um meio pelo qual se cria valor, e não o fim. Não somos, e nem queremos ser, apenas fornecedores de tecnologia: somos parceiros de sucesso. Nosso trabalho só faz sentido quando gera valor para o seu negócio. Temos uma equipe valente e estamos juntos nessa, avançando em direção ao futuro!

Abraços.

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E XPE D I E NT E DIRETORIA

DIREÇÃO GERAL

Luiz Tângari Gabriela Mendes Carlos Neto Ana Attie

PROJETO GRÁFICO E EDITORIAL

Willian Tavares

COLUNISTAS CONVIDADOS

Dib Nunes Jr. Luiz Tângari Carlos Neto Adalberto Bião Rafael Souza Felipe Santos

REDAÇÃO APOIO EDITORIAL

REVISÃO

Alice Dutra Rafael Malacco Flora Viana Mariana Morais Patrícia Sales Débora Gomes

A REVISTA STRIDER Ano 1 - número 4. É uma publicação trimestral e de distribuição gratuita. Seu conteúdo foi desenvolvido com o apoio e colaboração de colunistas e especialistas. Os artigos de opinião não refletem, necessariamente, a opinião da Strider, sendo de inteira responsabilidade de seus autores. A reprodução do conteúdo publicado só poderá ser feita mediante autorização, previamente solicitada por escrito à revista, citando créditos e fonte. É vedada a venda desta publicação. IMPRESSÃO E ACABAMENTO GRÁFICA EDITORA CEDABLIO LTDA. l Tiragem: 3.000 Exemplares

ANUNCIE revista@strider.ag Rua Inconfidentes, 1190, 7º andar - Belo Horizonte - MG Cep: 30140-120. Telefone: 0800 940 0020 @strideragro

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OPINIÃO

Lançando as bases para a

3ª REVOLUÇÃO VERDE por

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m um agronegócio que cultiva 1.000 hectares, são tomadas milhares de decisões durante a safra. A grande diferença entre o sucesso e o fracasso do negócio, está nessas escolhas. Nas últimas décadas, essas decisões estão sendo tomadas por gerentes comprometidos, que vivem o dia a dia das fazendas com todas as variáveis na cabeça e comandam o time de operadores e técnicos. Mas esse quadro vem mudando. Os produtores começam a ter opções de ferramentas que nunca tiveram antes. E, para usá-las de forma eficaz, torna-se necessária a adoção da Tecnologia da Informação (TI).

Luiz Tângari

As tomadas de decisão passam, então, a se apoiar também em análises de geo-estatística e Big Data, imagens de satélites e de drones. Esta é a terceira revolução verde. Ela tem um potencial real para oferecer uma produção agrícola mais eficiente e sustentável, com base em uma abordagem mais precisa e eficaz dos recursos. Do ponto de vista do agricultor, a TI deve lhe proporcionar um valor agregado sob a forma de uma melhor tomada de decisão ou operações de exploração, além de um gerenciamento mais eficiente.

Nesse sentido, a agricultura inteligente é fortemente relacionada à três campos de tecnologia interligados:

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Sistemas de controle operacional: são sistemas planejados para coletar, processar, armazenar e divulgar dados na forma necessária para realizar operações e funções em uma fazenda.

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Agricultura de Precisão: é o gerenciamento da variabilidade espacial e temporal para melhorar os retornos econômicos e reduzir o impacto ambiental após o uso de insumos. Ela permite a criação de mapas de variabilidade espacial de diversas formas.

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Automação e robótica agrícola: é o processo de aplicação de técnicas de robótica, controle automático e inteligência artificial em todos os níveis de produção agrícola, incluindo Farmbots e Farmdrones. Estas aplicações não visam apenas grandes operações agrícolas convencionais, mas também podem ser novas alavancas para suportar a agricultura familiar, a agricultura orgânica e a agricultura in-door.

Desta forma, o uso de TI também pode proporcionar grandes benefícios em questões ambientais, por exemplo, através do uso mais eficiente da água, da otimização de tratamentos de rejeitos ou da racionalização no uso de insumos com impacto ambiental.

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4 LIVROS DE EMPREENDEDORISMO

#1 O lado difícil das situações difíceis: como construir um negócio quando não existem respostas prontas Autor: Ben Horowitz Um dos empreendedores mais respeitados e experientes do Vale do Silício conta a história de como ele mesmo fundou e dirigiu empresas de tecnologia! Ben Horowitz (cofundador da Andreessen Horowitz) oferece dicas práticas para ajudar os empreendedores a resolver os problemas mais difíceis - e ainda ilustra as lições empresariais com letras de seus raps favoritos.

#3 Novos caminhos, novas escolhas Autor: Abílio Diniz Abílio Diniz, é dono de uma das maiores redes varejistas brasileira, o Grupo Pão de Açúcar. Na obra, ele compartilha sua trajetória de superação e a constante busca por inovação e aperfeiçoamento. O livro aborda, ainda, a rotina de Abílio, o 14º homem mais rico do Brasil e, segundo a Forbes, a 477ª pessoa mais rica de todo o mundo.

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PARA VOCÊ SE INSPIRAR

#2 Gestão de Riscos no Agronegócio Autores: Félix Schouchana, Hsta Hua Sheng e Carlos Alberto Decotelli

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A agilidade das negociações tem adquirido uma dimensão cada vez maior no agronegócio, e a gestão de risco passou a ter um papel importante na vida das empresas desse setor. O livro, da editora FGV, aborda os principais mecanismos para gestão de riscos no agronegócio, com exemplos práticos para quem está iniciando no mercado ou quer atuar com mais segurança.

#4 Checklist: como fazer as coisas benfeitas Autor: Atul Gawande Atul Gawande é escritor e cirurgião. No livro, ele faz relatos de cirurgias de risco para mostrar como o checklist (ou lista de tarefas) ajuda a diminuir desperdícios, riscos e erros graves. As lições de Atul podem ser aplicadas para empreendedores e o livro, inclusive, foi distribuído pelo cofundador da rede social Twitter para todos seus funcionários.

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#GAF18

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SOJA

SOJA CERTIFICADA, UMA ESCOLHA PARA O FUTURO Colaborou

Danielle Gláucia

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os próximos 30 anos, a produção agrícola global vai precisar dobrar. A previsão é da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que estima uma população mundial de 9 bilhões de pessoas. Mas como produzir em dobro, sem abrir mão da preservação ambiental? Para movimentar essas discussões, surgiram as roundtables. Essas “mesas redondas” são iniciativas formadas por vários países, facilitando um diálogo global entre diferentes interesses sobre uma produção economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente coerente.

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RECONHECIMENTO A certificação garante benefícios administrativos, econômicos, sociais e ambientais aos produtores. “O selo RTRS, exigido na maioria dos países compradores, garante que a soja foi produzida com técnicas que respeitam o meio ambiente, em áreas sem desmatamentos, sem utilização de mão de obra escrava e de forma economicamente viável,” explica Odair Machado, consultor de gerenciamento de risco da Genesis Group. “A certificação pode ser feita de diversas maneiras: em grupo ou multi-sites, passo-a-passo, somente na produção ou em toda a cadeia de custódia”, conclui Machado. A certificação de cadeia de custódia permite ao produtor demonstrar a qualidade que todo grão de soja tem, desde a produção que sai das plantações até sua chegada ao consumidor final.

Uma dessas reuniões deu origem, na Suíça, em 2006, à Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS). A associação se baseia em cinco princípios para certificação: cumprimento legal e boas práticas empresariais; condições de trabalho responsáveis; relações comunitárias responsáveis; responsabilidade ambiental e práticas agrícolas adequadas. A proposta apresenta desafios, principalmente para o Brasil, hoje um dos principais exportadores de soja do mundo. Mas segundo dados da Genesis Group, empresa credenciada pelo RTRS como certificadora, o Brasil é o país com o maior volume de certificações: mais de 1,5 milhões de toneladas ou 60% da produção mundial.

Buscar uma certificadora credenciada é um dos primeiros passos para um produtor, uma cooperativa ou uma empresa que deseja obter o selo. Para ser reconhecido como certificado, o produtor de soja precisa cumprir cerca de 100 indicadores durante as auditorias. Alguns requerem cumprimento imediato, outros devem ser cumpridos depois de um, dois ou três anos. “O Brasil está mais à frente na certificação porque tem uma legislação mais complexa em matéria trabalhista, fiscal”, afirma o consultor da RTRS no Brasil, Cid Sanches. Mas as vantagens não estão só na entrega física do grão: estão também nos créditos que a produção gera. Uma tonelada de soja certificada é equivalente a um crédito de produção de soja responsável, podendo ser trocado através da Plataforma de Comercialização de Créditos da RTRS. Ao adquirir os créditos do produtor, empresas ou organizações podem declarar seu apoio à produção responsável. Nos últimos anos, cada crédito valia para o produtor rural cerca de US$ 4. Ed 4

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Soja certificada, uma escolha para o futuro PASSO 1

PASSO 2

PASSO 3

PASSO 4

PASSO 5

O produtor envia uma solicitação ao Organismo de Certificação (OCI)

É possível realizar uma pré-auditoria (não é obrigatória)

Duas semanas antes da auditoria, as partes interessadas são informadas sobre a sua realização por meio de uma consulta pública

Auditoria de certificação

Orgão certificado prepara um relatório de avaliação

RESULTADO DO PROCESSO Emissão do certificado de cumprimento, válido por 5 anos

Percebendo a necessidade de empresas brasileiras em suprir sua demanda por soja responsável, surgiu o programa Produzindo Certo, uma parceria da Unilever Brasil com a plataforma Aliança da Terra. “A companhia precisava de um parceiro que tivesse expertise e credibilidade para abordar e orientar os produtores rurais. O passo seguinte foi buscar o apoio de outras empresas que atuam com o agronegócio em diferentes frentes – desde o financiamento agrícola até a orientação técnica e insumos, – fechando um círculo virtuoso para o agricultor”, conta Aline Maldonado Locks, Gerente Geral da Aliança da Terra.

O município de Sorriso-MT, é considerado o maior produtor de soja do mundo, e tem agora nove fazendas certificadas. O número foi obtido graças ao programa Gente que Produz e Preserva, do Clube Amigos da Terra (CAT). Através do CAT Sorriso, a certificação em seu primeiro ano tem um custo de 18 mil reais por propriedade. Nos anos seguintes, o valor cai para R$9.600 por propriedade. Mas o CAT explica que cada localidade e instituição tem um custo para certificar. Além disso, o valor pode sofrer alterações se a certificação for individual, em grupo ou via tradings.

O programa permite aos produtores o acesso a uma ferramenta para gestão integrada e monitoramento dinâmico e evolutivo da propriedade, além da assistência técnica personalizada para adequação da propriedade às leis ambientais e sociais aplicáveis ao seu negócio. As empresas participantes do Produzindo Certo conseguem também uma melhoria contínua da área plantada e acesso a mercados diferenciados.

Na visão de Luiz Nery Ribas, presidente do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB), a certificação é um futuro interessante, desde que seja viável para o produtor. Nery reforça que ela aumenta o valor da produção, portanto, é preciso que o produtor tenha uma remuneração diferenciada, que gere rentabilidade. Para ele, a primeira iniciativa do produtor que deseja conseguir a certificação é estar com sua área pronta para produção e com uma gestão estruturada. A segunda é buscar uma certificação reconhecida internacionalmente e com custo benefício viável ao seu retorno.

DESAFIO O Brasil está caminhando para se tornar não só um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas também para ser exemplo de cadeia produtiva sustentável, transparente e responsável. Mas na visão de Aline Locks, ainda falta uma demanda que consiga absorver os custos de uma produção responsável. “Para ter uma ideia, as 38 propriedades rurais que fazem parte do Programa, tiveram mais de 3,5 milhões de reais investidos em adequação socioambiental”, afirma. 12

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Mesmo com custo elevado, o produtor brasileiro está em busca da produção responsável. Segundo dados do CAT, nosso país termina o ano de 2017 com cerca de 790 mil hectares de lavouras com selo RTRS, um aumento de 350 mil ha em relação a 2015. Em número de propriedades rurais, significa um crescimento de 73 para 180 fazendas de um ano para outro.


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STRIDER ENTREVISTA

John Deere

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magine um cenário em que objetos do dia a dia possuem sensores e fazem leitura de informações dos seus usuários. Essas informações são transformadas em dados que podem ser usados para tomar decisões mais inteligentes e assertivas. A Internet das Coisas - ou Internet of Things (IoT) existe e já chegou no agronegócio, deixando equipamentos cada vez mais inteligentes e gerando eficiência nas etapas do processo produtivo. Felipe Santos, Portfolio Manager e Intelligent Solutions da John Deere, uma das companhias mais admiradas do mundo, contou para a Strider sobre o uso dessa tecnologia na companhia. Buscando conhecer e entender as necessidades dos negócios e dos clientes, a John Deere investe cerca de US$ 4 milhões por dia em pesquisa e desenvolvimento.

A John Deere trabalha com IoT em duas grandes áreas: embarcada e digital. Qual a principal diferença entre elas e onde cada uma pode ser encontrada dentro da gama de produtos da empresa? Quando falamos de tecnologia embarcada, temos como referência as soluções que estão nas máquinas, sejam elas coletando dados, processando ou mesmo informando o operador que está executando o trabalho. As nossas tecnologias embarcadas também são responsáveis por transmitir as informações (das máquinas ou agronômicas) coletadas por meio da solução de agricultura de precisão. Já as tecnologias digitais são soluções de plataformas de dados e aplicações, que chamamos de off-board. Elas são as responsáveis por processar e construir significado para os dados que são gerados. 14

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Como essas tecnologias são desenvolvidas dentro da empresa? Existe a integração com outros parceiros tecnológicos? As tecnologias são desenvolvidas (grande parte delas) nos centros de inovação que temos pelo mundo, sendo que um deles se encontra aqui no Brasil, em Campinas (SP). O trabalho desenvolvido, consiste em adaptar os equipamentos para as peculiaridades da agricultura tropical, mas também existem casos em que a solução completa é desenvolvida no Brasil. Um exemplo é a nossa colheitadeira S400, totalmente idealizada aqui. Para subsidiar as inovações, investimos cerca de US$ 4 milhões, por dia, em pesquisa e desenvolvimento. Muitas vezes, para complementar seu portfólio, a companhia faz parcerias com fornecedores reconhecidos pelo mercado. O próximo passo que a John Deere vai dar é disponibilizar a integração do fluxo de informação entre parceiros de confiança do produtor e a empresa, tudo digitalmente.

A Internet das Coisas atende apenas aos grandes produtores do agronegócio? Não. A Internet das Coisas pode estar presente em máquinas para todos os perfis de agricultores, uma vez que os equipamentos, independentemente do tamanho da máquina, podem ter em sua tecnologia embarcada a capacidade de coletar e transmitir dados.

No Brasil, a IoT ainda é um campo de pioneirismo? Sim. A Internet das Coisas, no Brasil, ainda é um campo de pioneirismo aberto a experimentações e enfrenta desafios, como produtores com diferentes tamanhos de negócios que encontram dificuldades na aplicação por desconhecer o uso da tecnologia. Outro aspecto, não menos importante, é um certo descompasso entre o avanço tecnológico e a aplicação da técnica agronômica, seja pela difusão da pesquisa científica, pela dificuldade de aplicação ou, eventualmente, por porções do ciclo que não estão completas.

Como será o futuro do agronegócio? Não haverá abertura de novas áreas para plantio e já temos um bom Código Florestal regulando o setor. Este é um ponto inicial que o agronegócio já sabe e, por isso mesmo, entende que o papel da ciência e tecnologia no campo é fundamental. A ciência está nas sementes resistentes à pragas ou nas plantas resistentes ao stress hídrico, por exemplo, enquanto a tecnologia está nas máquinas que são cada vez mais precisas, entregam maior produtividade por hectare e buscam ter um custo de produção cada vez menor. O futuro caminha, então, para uma produtividade sustentável, tanto no sentido ambiental quanto administrativo. A tendência é que o homem do campo se torne um grande gestor. Ed 4

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COMUNIDADE

UNIÃO É FORÇA

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tuar coletivamente para compra de insumos, pesquisas e venda de produção. Reduzir custos com armazenamento e transporte. Aumentar as oportunidades de trabalho e melhorar a qualidade de vida da população local. Estes são apenas alguns dos benefícios encontrados pelos produtores que se unem em iniciativas rurais. Segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE, 48% de tudo que é produzido no campo brasileiro passa, de alguma forma, por uma cooperativa. São 1.597 instituições e mais de 180 mil produtores cooperados. No Carmo do Paranaíba (MG), a CARPEC já reúne 1.537 produtores, e os cooperados atuam com pecuária de leite e corte, e com o plantio de café, milho soja e feijão.

COMO FUNCIONA As cooperativas agropecuárias prestam serviços aos associados relacionados à comercialização, logística e industrialização dos produtos, assistência técnica, e promoção social; Para ingressar, o interessado deve estar inserido em atividades agrícolas, pecuárias, ou extrativistas, além de preencher uma proposta fornecida pela cooperativa; As divisões de custo variam de acordo com a cultura explorada por cada produtor. OBRIGAÇÕES Após aceito, é importante cumprir com os compromissos estabelecidos pela cooperativa; O associado deve contribuir com as taxas de serviços e encargos operacionais que forem estabelecidos pelo estatuto da cooperativa.

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PRINCIPAIS VANTAGENS Auxílio para comercialização de produtos; Assistência técnica; Consultorias para certificações; Logística: recebimento, classificação, armazenamento, transporte dos produtos dos locais de produção para os locais de armazenamento ou de comercialização; Parcerias estratégicas: as cooperativas conseguem fazer grandes negócios, inclusive na área de exportação; Promoção social: ações de aprimoramento técnico-profissional dos associados e colaboradores. Fonte: Tarcisio Daniel da Silva – Diretor Presidente CARPEC.


CARPEC / Divulgação

COMO FUNCIONA São instituições de caráter técnico, científico e social, sem fins lucrativos, voltadas para grandes produtores. O objetivo é promover pesquisas técnicas agropecuárias, buscando novas tecnologias e novos processos de produção; É um grupo fechado. Quando existe a possibilidade de expansão, é montada uma comissão e o perfil do novo candidato é avaliado. OBRIGAÇÕES Colaborar com pesquisas em parte de sua área de produção; Contribuir financeiramente com os gastos em insumos de produção. PRINCIPAIS VANTAGENS

COMPARTILHANDO CONHECIMENTO

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união dos produtores também pode ter caráter científico. Em Goiás, um grupo se juntou para, além de aumentar o poder de compra, desenvolver pesquisas nas áreas de nutrição e fertilidade do solo, controle de pragas e outras ferramentas agrícolas. O Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano - GAPES - reúne 36 produtores, a grande maioria dona de áreas com mais de 3 mil hectares.

Acesso à informação pautada em pesquisa, facilitando a tomada de decisão; Área comercial não vinculada ao grupo. Isenta de conflitos de interesse. Fonte: Tulio Porto - Gerente de pesquisa GAPES

CARPEC / Divulgação

ÁREAS DE PESQUISA Inseticidas; Variedades de soja; Híbridos de milho; Fertilidade de solo; Nutrição; Controle biológico de pragas. Ed 4

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EVENTOS Ethanol Conference Nos dias 25 e 26 de setembro, São Paulo recebeu mais uma edição do NovaCana Ethanol Conference. Na ocasião, o CEO da Strider, Luiz Tângari, falou sobre os resultados alcançados em usinas com o uso da plataforma Strider. Com participação de líderes, estrategistas e dos principais executivos do mercado, o evento apresentou importantes dados para aqueles que buscam uma visão mais precisa sobre o futuro do mercado de etanol e açúcar no Brasil.

Innovators Summit Palestrantes do Vale do Silício e referências mundiais em inovação, se reuniram em São Paulo nos dias 26 e 27 de setembro para o Innovators Summit. A Strider foi representada na conferência pelo CEO Luiz Tângari, que falou para o público presente sobre os desafios em ser uma Agtech líder de mercado e como é transformar a realidade dos produtores rurais.

Digital Agro Os benefícios gerados pelo monitoramento integrado de pragas foram tema da palestra Strider na feira Digital Agro, nos dias 21 e 22 de Setembro. O evento, realizado em Carambeí/PR, trouxe as soluções mais avançadas para o agronegócio. A Digital Agro é um espaço onde produtores podem discutir, conhecer e se inspirar em novas tecnologias digitais para o setor.

Fórum Regional da Máxima Produtividade CESB Neste último trimestre a Strider patrocinou os Fóruns Regionais da Máxima Produtividade, realizados pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB). Os encontros tiveram o objetivo de mostrar ao produtor rural como superar sua produtividade com a mesma área de plantio.

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ECONOMIA

A FORÇA

DO AGRO Setor que mais cresce no país é alavanca para inovação

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ecnologia e agricultura sempre caminharam juntas. Por volta do ano 1.500 a.c surgia o primeiro arado. A invenção aumentou a produtividade e é considerada hoje um marco da Revolução Agrícola. O termômetro para a inovação despontar é o momento histórico em que vive o mundo e seus povos. “A agricultura sempre usou as melhores e mais modernas tecnologias para o momento que está vivendo”, afirma Abimael Cereda Junior, líder de Ciência e Pesquisa na empresa Imagem.

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DECISÃO NA PALMA DA MÃO Gustavo Lunardi, diretor de Produção e Suprimentos da SLC, explica que hoje a agricultura de precisão já é aplicada em 60% dos 400 mil ha de plantio de commodities. A tecnologia envolve uso de equipamentos e maquinários com GPS e satélite, e a meta da empresa é ter a safra de 2021 cem por cento digitalizada. “A agricultura digital é a agricultura do futuro. A agricultura em que poderemos tomar decisão em qualquer lugar do mundo, apenas com um tablet na mão,” afirma.

Para o especialista, produtores e empresas que não se apropriarem dos recursos que a tecnologia oferece, e que não pensarem em plataformas de integração, ficarão para trás. A consequência será perda em produtividade, rentabilidade e até mesmo nas certificações da produção. Mas este não é o caso da SLC Agrícola. Fundada em 1977 pelo Grupo SLC, a empresa é produtora de commodities agrícolas, e nos últimos anos, está passando por um processo de migração para agricultura digital.

O uso das tecnologias traz economia para as empresas que as adotam quase que imediatamente. Para o diretor, a digitalização trará benefícios para gestão e reflexo no faturamento. “O processo vai nos trazer redução dos custos de produção e aumento de produtividade, uma vez que faremos correções de rota e tomaremos decisões mais rápidas, gerando resultados mais assertivos”, comenta. Na visão do especialista Abimael Cereda, em qualquer momento que exista implementação de tecnologias, ou melhoria de procedimentos, o resultado é a otimização. “Se temos uma série de variáveis e dados, e integramos em uma plataforma digital, isso trará, no mínimo, economia no processo”, sugere.

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A força do agro: setor que mais cresce no país é alavanca para inovação

O Brasil encerra 2017 com 240 milhões de toneladas de grãos produzidos. Sem tecnologia, nada disso seria possível”.

INTELIGÊNCIA COLABORATIVA Em tempos de economia instável, empresas buscam soluções cada vez mais vantajosas para aumentar sua produtividade, e a inovação parece ser o primeiro caminho para crescer. “O Brasil encerra 2017 com 240 milhões de toneladas de grãos produzidos. São números espetaculares, que projetam o nosso país no cenário internacional. Sem tecnologia, nada disso seria possível.” diz Jorge Espanha, presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA). O agronegócio vive um momento positivo, agregador e plural. A 7ª Pesquisa Hábitos do Produtor Rural, iniciativa da ABMRA, mostra que os mais jovens estão ficando nas fazendas para ajudar na gestão e a mulher já representa 31% no comando das empresas rurais. São novas vozes, que querem mostrar a sua maneira de ver a produção. O conhecimento passa também a ser compartilhado com toda equipe, por meio de plataformas de integração, aumentando a capacidade produtiva.

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SEM BARREIRAS É certo que o agronegócio está impulsionando o desenvolvimento e a inovação, mas ainda existe muito a ser adaptado para que toda inteligência digital seja bem utilizada. Por outro lado, diariamente novas ferramentas tecnológicas despontam no mercado. “As startups fazem um trabalho fantástico para agilizar e simplificar operações no agronegócio até bem pouco tempo atrás complexas. O céu literalmente é o limite”, confirma Jorge Espanha.


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COLUNISTA CONVIDADO

A PRAGA DA COLHEITA MECANIZADA NA CANA-DE-AÇÚCAR

por Dib Nunes Jr. Engº Agrº Grupo IDEA I dib@ideaonline.com.br

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cigarrinha das raízes da cana-de-açúcar, Mahanarva fimbriolata, era considerada uma praga secundária no período em que o fogo era utilizado intensivamente para despalha da cana na colheita manual, pois destruía as formas biológicas da praga, especialmente ovos em diapausa. Com a promulgação da Lei Estadual nº 11.241 de 19 de setembro de 2002 - que previa a adoção da colheita mecanizada de cana sem a queima prévia - inúmeros benefícios agronômicos e ambientais foram proporcionados ao setor sucroenergético, atingindo cerca de 95,7% da área na safra 2016/17 no Estado de São Paulo. Isso não trouxe somente ganhos ambientais, mas também obrigou os técnicos a re-estudarem algumas pragas da cultura, que encontraram sob a palha que permanecia nos talhões, o habitat ideal para a multiplicação da sua população, como aconteceu com a cigarrinha das raízes da cana- de-açúcar. A quantidade de palha remanescente da colheita trouxe as seguintes alterações no ambiente de produção: um aumento significativo das raízes superficiais nos locais de alimentação das ninfas, manutenção de temperaturas mais estáveis no solo, elevação da umidade do solo e proporcionou uma maior proteção das formas imaturas (ninfas das cigarrinhas) contra o ressecamento. As ninfas da cigarrinha das raízes, produzem uma espuma na base dos colmos, na base da cana e na região das raízes mais superficiais, que as mantêm protegidas até atingirem a fase adulta.

O ataque desta praga, segundo pesquisadores, pode resultar em perdas na produtividade agrícola que variam entre 15% e 80%, e na qualidade da matéria-prima, com reduções de até 30% no teor de sacarose. Os prejuízos atribuídos à cigarrinha-das-raízes são decorrentes da extração de seiva das folhas e raízes da cana por adultos e principalmente pelas ninfas, respectivamente, e da injeção de toxinas pelos adultos durante o processo de sucção.

10 métodos de controle

da cigarrinha das raízes #1 #2

Antecipar a colheita e a reforma da cana-de-açúcar;

#3

Alterar a palha a cada três linhas ou afastar a palha da linha nas áreas com menor infestação;

#4 #5 #6

Evitar cana bisada;

#7

Nas aplicações aéreas, aumentar a dose de 15% a 20%, fazendo o mesmo para populações iniciais muito acima do Nível de Dano Econômico;

#8

Usar no controle biológico o fungo Metarhizium anisopliae, que é recomendado como forma auxiliar ou preventiva de controle;

#9

Aplicar antes da população aumentar, quando a média está entre 0,5 e 1,5 ninfas por metro. Retornar à área após a aplicação para verificar se houve bom controle, através de nova amostragem;

Controlar eficientemente as plantas daninhas hospedeiras nos canaviais mais afetados;

Não utilizar subdoses de inseticidas; Efetuar aplicações bem-feitas em jato dirigido no sistema 70/30;

#10 Escolher as dosagens dos produtos com auxílio de especialistas.

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CAPA

Quer sua produtividade? Especialistas e produtores ensinam como otimizar o tempo e produzir melhores resultados

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ocê sabe para onde quer levar sua empresa nos próximos 10 anos? E nos próximos 5 anos? Talvez você considere esta pergunta muito complicada, mas saberia responder como quer conduzir sua rotina nas próximas semanas ou mesmo nos próximos dias? Quando falta clareza e objetividade, o gestor costuma ter a sensação de que muito tempo está sendo gasto, mas nada está sendo produzido. Existe uma diferença muito grande entre “estar ocupado” e “estar produzindo”. Por diversas vezes, agendas e planilhas ficam abarrotadas com tarefas, mas nada está sendo realmente produzido. A grande diferença entre os dois conceitos está no planejamento do objetivo final pelo gestor. Mas como gerenciar o tempo para produzir ao invés de apenas se ocupar?

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TECNOLOGIA EM CAMPO Em Carmo do Paranaíba (MG), Heleno Xavier gerencia a produção de 7 fazendas da Veloso Coffee. Para o profissional, o grande segredo da produtividade está nas ferramentas que utiliza em seu dia a dia. “Hoje, todos nossos dados estão inseridos nos sistemas de controle de gastos, softwares de controle de irrigação e ferramentas de controle de pragas”, afirma.

Com auxílio de ferramentas, eu consigo quantificar o tempo que levo de uma lavoura para outra”.

Porém, mesmo com uma gestão de excelência, o gerente percebe que ainda perde muito com deslocamento de equipe. “Com auxílio de ferramentas, eu consigo quantificar o tempo que levo de uma lavoura para outra. Com estas informações, é possível entender que o tempo gasto em deslocamento, poderia ser usado para produzir. O próximo passo é adaptar minha estrutura”, comenta Xavier. Além do transporte entre lavouras, o profissional descreve o tempo gasto com oficina, saída de base e outras atividades diárias de sua equipe, como prejudiciais para a eficiência operacional da empresa.

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Quer aumentar sua produtividade? Especialistas e produtores ensinam como otimizar o tempo e produzir melhores resultados

Além das funções do dia a dia, o empresário rural lida atualmente com inúmeros instrumentos de alta tecnologia. A inovação pode ser uma grande aliada na gestão do tempo, mas precisa ser bem utilizada. “Tecnologia funciona como os superpoderes funcionam nos filmes: pode ser usada para o bem ou para destruir. O produtor pode usar as ferramentas para ocupar o seu tempo ou para produzir. Mas quem usa a tecnologia a seu favor ganha muito tempo”, afirma Geronimo Theml, coach e idealizador do programa Academia da Produtividade.

DIA A DIA NO CAMPO Assim como em qualquer outro negócio, o gestor rural enfrenta uma rotina acelerada e recebe uma grande quantidade de informações que precisam ser filtradas. Na visão de Alberto Portugal, professor da Fundação Dom Cabral e ex-presidente da Embrapa, a maior parte do tempo no agronegócio é gasta acompanhando o mercado e tomando decisões comerciais e financeiras. Alberto, que também é produtor, ressalta que o primeiro grande desafio de gerenciamento de tempo é ter acesso às informações de fontes confiáveis: “todos os dias leio as principais notícias nas newsletter que selecionei para receber”, comenta. Mas as fontes externas não são o único caminho para uma administração eficiente e produtiva no campo. Na visão do professor, o agronegócio é um pouco mais complexo que outros empreendimentos, uma vez que lida com as imprevisibilidades da natureza.

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Veloso Coffee / Divulgação

O produtor que visita a lavoura todos os dias no mesmo horário, acaba criando vícios e deixa de perceber erros, o que afeta a produtividade”.

Para quem está em busca de alta produtividade, o primeiro passo pode ser interagir com toda operação e conhecer de perto cada detalhe da sua cultura. Assim tem feito Guilherme Oliveira, em Boracéia (SP). “Busco variar minhas atividades para ver o que estamos produzindo sempre com um novo olhar. O produtor que visita a lavoura todos os dias no mesmo horário, acaba criando vícios e deixa de perceber erros, o que afeta a produtividade”, conta o engenheiro agrônomo e supervisor da Agrícola Agrodoce.

BENEFÍCIOS ECONÔMICOS E PESSOAIS Produzir com uma gestão organizada traz inúmeras vantagens para o líder e também para sua equipe. O processo ajuda na economia de recursos, beneficia a relação do empresário com seus colaboradores e, consequentemente, aumenta a capacidade de produção do negócio. “São os mesmos resultados, ou até mais positivos, mas com menos esforço” salienta o coach Geronimo Theml. O especialista sugere que a produtividade moderna não é ligada apenas à gestão de tempo, mas sim à própria gestão. Para o coach, o ideal é programar cinco atividades relevantes por dia e separar os três pontos que mais roubam tempo e atenção. “Todo ser humano tem 24 horas no dia e mais tarefas do que cabem nele. Programar cinco tarefas proporciona confiança para cumprir todas elas e ao final do dia, se ainda tiver tempo, executar outras atividades”, ensina.

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Quer aumentar sua produtividade? Especialistas e produtores ensinam como otimizar o tempo e produzir melhores resultados

Melhor 3 Gerenciar Seu Tempo Atitudes para

O coach Geronimo Theml dá dicas essenciais para quem quer começar agora:

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ORGANIZE HOJE O SEU DIA DE AMANHÃ

Defina no dia anterior as tarefas do dia seguinte. Caso contrário, você fará aquilo que surgir, e não o que planejou.

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TOME DECISÕES MAIS IMPORTANTES PELA PARTE DA MANHÃ E COMPARTILHE A TOMADA DE DECISÃO REÚNA AS PRINCIPAIS COM COLABORADORES ATIVIDADES POR TIPO Temos um banco máximo

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Deixe um dia reservado para reuniões, ou para pagamento de contas. Juntar atividades similares otimiza o tempo.

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de decisões. Quanto mais decidimos ao longo do dia, piores as decisões vão ficando.

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ENERGIZAMOS IDEIAS QUE MOLDAM O FUTURO UM HUB DE INOVAÇÃO PARA TRANSFORMAR O NOVO EM INDISPENSÁVEL

INTERSECÇÃO DE POTENCIAIS Um espaço que une criatividade empreendedora com a experiência de membros do mercado e investidores, aliados à profundidade das universidades.

EXPERIMENTAÇÃO A amplitude de atuação de Raízen e empresas do grupo Cosan fornece oportunidades reais de mercado e campo para teste de pilotos.

FORMATO MODULAR Hospedamos, aceleramos e investimos em startups, a depender de sua evolução e potencial e impacto.

CICLO DE CONHECIMENTO Uma agenda de palestras e eventos permite a circulação do conhecimento entre os membros do hub.

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EMPRESAS PARCEIRAS

PATROCINADORES

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MUNDO AFORA

ELA É BRASILEIRA! No ano passado, a cachaça foi exportada para mais de 54 países, gerando receita de 14 milhões de dólares

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ntre os anos de 1516 e 1532, antes mesmo do aparecimento da tequila, do rum e do pisco, a primeira bebida das Américas era destilada em solo brasileiro! A história sobre a criação da cachaça tem duas versões: a primeira conta que os portugueses, sentindo falta de consumir a bagaceira - destilado de casca de uva - inventaram a versão derivada, feita do caldo da cana-de-açúcar.

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Em uma segunda versão, a história relata que durante a fervura da garapa nos engenhos de açúcar, uma espuma se formava, era retirada e jogada nos cochos. Os animais que consumiam o líquido, apelidado de cagaça, ficavam revigorados! Percebendo os benefícios da bebida, os escravos passaram a consumi-la, e os portugueses, que já conheciam técnicas de destilação, deram início a produção da aguardente de cana brasileira. Fruto da cagaça ou uma versão da bagaceira, a cachaça está prestes a completar 500 anos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Cachaça (IBRAC), no ano passado, a pinga brasileira foi exportada para mais de 54 países, gerando receita de 14 milhões de dólares. Apesar do resultado representar um crescimento de 5% em comparação a 2015, o setor ainda encontra muitos desafios.

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Ela é brasileira! No ano passado a cachaça foi exportada para mais de 54 países, gerando receita de 14 milhões de dólares

PINGA DA BOA Em Pirapora, interior de Minas Gerais, a família Valladares Mourão é dona do alambique que tem capacidade de produção para 160 mil litros/ ano da cachaça que leva o mesmo nome do município. Criado na década de 80, o grupo produz para o grande público e também uma versão premium, com até 22 anos de envelhecimento. Mas o nicho que consome a versão com padrão mais alto ainda é muito restrito, o que encarece o processo de produção.

O Brasil precisa olhar com mais carinho para o seu produto típico e exclusivo”.

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“O Brasil precisa olhar com mais carinho para o seu produto típico e exclusivo”, afirma Carlos Lima, Diretor Executivo do IBRAC. O país possui menos de 2 mil produtores da bebida devidamente registrados, com 4 mil marcas. Na visão de Thomaz Valladares Mourão, sócio e sucessor do grupo Pirapora, a falta de acesso e de conhecimento são os principais fatores que ainda levam a cachaça a ser vista como uma bebida de segunda categoria dentro do Brasil. “O consumidor de whisky ou cerveja sabe o valor que produtos premium têm, e aceita pagar mais pela qualidade. No caso da cachaça, o conhecimento ainda é muito pequeno e o cliente acaba optando por um produto mais barato, com menor qualidade”, comenta. Além da busca pelo reconhecimento como um destilado de qualidade, os produtores de cachaça possuem grandes desafios para o futuro. Para o Diretor Executivo do IBRAC, é necessário ampliar a proteção da bebida no mercado internacional. Enquanto a vizinha, tequila, é protegida em mais de 46 países, a cachaça está protegida apenas nos Estados Unidos e na Colômbia.


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CAFÉ

ELES SÃO ESPECIAIS! NOVA ERA DO CAFÉ MOVIMENTA O MERCADO E INSTIGA O PALADAR DO CONSUMIDOR

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Brasil é o segundo maior mercado consumidor de café do mundo. De acordo com a ABIC – Associação Brasileira da Indústria de Café, o consumidor brasileiro busca praticidade, diversidade e qualidade em seu café. Seguindo a tendência do gosto do consumidor, o segmento de cafés finos e diferenciados apresenta taxas de crescimento de 15% a 20% ao ano.

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A primeira, serve como orientação para qualidade dos lotes. Em uma contagem de 0 à 100, os grãos devem estar acima de 80 pontos para serem selecionados. Nesta contagem, são avaliados quesitos como adstringência, torra e homogeneidade. Já o Q-Grader, é o profissional da prova, certificado pela Associação de Cafés. No caso das fazendas de Wagner Ferrero, o Q-Grader é também um funcionário de extrema confiança do produtor, que já possui a certificação.

CAFÉ ESPECIAL, CUIDADO ESPECIAL

Wagner Crivelenti Ferrero, sócio diretor do grupo Famiglia Ferrero, explica que produzir cafés especiais só tem virtudes. “Produzir café especial agrega valor ao café. A qualidade é melhor, não agride o paladar. Existe um nicho de consumidores específico para o que eu produzo e quem experimenta o grão especial não costuma voltar a tomar o café tradicional”, completa. O produtor, que possui fazendas de plantio em Minas Gerais e São Paulo, tem 250 variedades de grãos. Para que o produto chegue impecável ao consumidor, Wagner conta com duas ferramentas preciosas: a tabela da Associação de Cafés Especiais da América e um Q-Grader.

Para Wagner Ferrero, produzir cafés especiais não é muito diferente da produção do café tradicional, mas exige alguns cuidados extras. O produtor explica que a diferença da sua produção é o capricho com a colheita e com o pós-colheita. “O produtor não pode querer melhorar a qualidade do grão após ele ser colhido. É preciso investir em controle de pragas e na qualidade do solo.” Além dos cuidados com o plantio, Wagner faz análise das folhas de suas mudas 5 vezes ao ano. Buscando também os cuidados com o meio ambiente e sustentabilidade, o produtor tem todas suas fazendas certificadas. Em 2014, o grupo foi premiado pela Revista Globo Rural. A principal razão foi o uso mínimo de defensivos químicos. Porém, nem todos os produtores de cafés especiais têm as mesmas ferramentas e recursos disponíveis para crescer em um mercado cada vez mais competitivo.

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Eles são especiais! Nova era do café movimenta o mercado e instiga o paladar do consumido

EM BUSCA DOS PEQUENOS PRODUTORES Pensando em quem produz mas não tem as ferramentas certas para vender, Paulo Pacheco, Rodrigo Belizario e Paulo Nascimento criaram a plataforma UCoffee. A ferramenta, que funciona como um clube de cafés especiais, une o pequeno produtor aos consumidores. Em um ano de empresa, já são 960 variedades especiais cadastradas dentro do sistema, com grãos oriundos de Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Espírito Santo e Paraná.

Os consumidores de cafés especiais, querem sempre novidades. Estas pessoas estão em busca de novas propostas de valor”.

Para o consumidor, a vantagem está na customização do café: “A ferramenta vai aprender com você. Perguntas básicas como ‘qual café você toma’ já ajudam na orientação inicial do sistema. Após as perguntas, um equalizador permite que o consumidor altere índices como ‘acidez’ e ‘chocolate’. Aí indicamos um café com uma probabilidade maior daquela pessoa gostar”, explica Paulo Pacheco. Além do gosto, é possível personalizar embalagens para datas especiais. A UCoffee oferece ainda um serviço de consultoria em marketing digital. O produtor pode aprender como atrair clientes para seu site e como fazer postagens em mídias sociais. 38

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Variedade Catiguá Grupo Famiglia Ferrero / Arquivo


EXPERIMENTAÇÃO O clube para amantes de cafés especiais, que trabalha com formato de assinatura ou produtos avulsos, está investindo em consumidores com perfil de experimentação. “Os consumidores de cafés especiais, assim como de vinhos e cervejas, querem sempre novidades. Estas pessoas estão em busca de novas propostas de valor”, afirma Pacheco.

Espera-se que o mercado de cápsulas cresça 80% até 2019 Maior disponibilidade e preços acessíveis serão grandes impulsionadores Mercado de café em cápsulas no Brasil (Mil tn; BRL milhões)

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O perfil de experimentação e a busca por produtos cada vez mais distintos e sofisticados está tornando o mercado competitivo. E não é para menos. Para quem produz, o lucro é dobrado. A saca do café especial é, no mínimo, duas vezes mais cara do que a do café comum. 2014

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Fonte: Euromonitor Abril/2016

CRESCIMENTO ACELERADO Segundo Paulo, que também carrega o título de doutor em economia, o mercado de cafés especiais está em pleno crescimento: “todos os produtores estão indo para o mercado de cafés especiais. A qualidade da produção dos cafés brasileiros melhorou muito e o mundo está vindo ao Brasil comprar café”, completa. Para o especialista, o produtor brasileiro aprendeu que precisa melhorar sua produção para ter melhor preço no seu café, seja no mercado brasileiro, ou internacionalmente. Os produtores brasileiros que investem em cafés especiais têm uma vantagem única no mundo: clima favorável durante a colheita. Este fator permite escolher o sistema de processamento e as porcentagens de café (natural, cereja descascado ou despolpado) mais adequados às necessidades de seus clientes.

A qualidade da produção dos cafés brasileiros melhorou muito e o mundo está vindo ao Brasil comprar café”. Para Wagner Ferrero, o mercado internacional está em crescimento acelerado. Atualmente, ele trabalha com cerca de 10 compradores nacionais, mas seu café já está no Reino Unido e na Austrália, e o próximo destino deve ser os Estados Unidos. De acordo com o produtor, o café brasileiro já se igualou aos melhores do mundo, como os da Etiópia e Quênia, considerados os líderes de qualidade.

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TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

SENSORIAMENTO REMOTO

CONHEÇA AS 4 PRINCIPAIS ANÁLISES E SAIBA QUANDO USÁ-LAS

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istado como um dos avanços tecnológicos mais importantes para o estudo da superfície terrestre, o sensoriamento remoto é o conjunto de técnicas para realizar coleta de dados de uma superfície, sem a necessidade de um contato direto com ela. Através da captação da radiação solar refletida pela Terra, o sensoriamento consegue extrair informações, por exemplo, de vegetação, irrigação e pragas, que podem ser transformadas em mapas e funcionam como banco de dados para análises futuras. O sensoriamento começou a ser aperfeiçoado na época da Primeira Guerra Mundial (19141918), quando era usado como ferramenta para reconhecimento da área do inimigo. Mas os avanços mostraram que esta tecnologia é de grande importância para o setor agrícola e de meio ambiente, sendo essencial para tomada de decisão de cientistas e produtores. Com o desenvolvimento do sensoriamento, avançaram também os tipos de análises possíveis de serem obtidas. A seguir, listamos as principais e mais importantes para seu negócio:

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NDVI Medindo as condições de vegetação O NDVI - Normalized Difference Vegetation Index (que em português é chamado de Índice de Diferença de Vegetação Normalizada ) é gerado por meio de imagens obtidas por sensores remotos, como satélites e drones. Ele é o mais popular dos índices, já que é utilizado na agricultura para medir a condição da vegetação em uma área. Desta forma, se torna de grande importância para análises inteligentes na agricultura. O índice é obtido após o satélite captar a quantidade de energia refletida pela superfície terrestre em certos pontos do espectro eletromagnético (uma faixa de níveis de energia). A vegetação pode refletir mais ou menos energia, dependendo da sua saúde ou outras características, como o tamanho das folhas. O NDVI pode variar de -1 à 1 (bandas Infravermelho e Vermelho).

NDVI = INFRAVERMELHO - VERMELHO INFRAVERMELHO + VERMELHO

EVI Analisando regiões mais saturadas Enhanced Vegetation Index, mas por aqui ele é chamado de Índice de Vegetação Melhorado. O EVI tem sua função muito parecida com a do NDVI. A diferença entre estes índices é que o EVI é mais recomendado para áreas com alta vegetação, já que utiliza a banda do azul para descontar influências atmosféricas no índice.

EVI = G (INFRAVERMELHO - VERMELHO) (INFRAVERMELHO+C1)(VERMELHO - C2)(AZUL + L)

G, C1 e C2 são constantes de valor. L é uma constante, amplamente utilizada com o valor de 0.5 na literatura.

SAVI Verificando áreas de baixa vegetação Em locais onde há uma grande exposição do solo (baixa vegetação), é recomendado o uso do Soil Adjusted Vegetation Index, ou Índice de Vegetação Ajustada do Solo, junto ao NDVI. Nestas situações, o índice de NDVI é prejudicado pela reflexão das ondas eletromagnéticas pelo solo. O índice SAVI nada mais é que a análise de NDVI com fatores de ajuste no cálculo que buscam evitar este problema. É importante ressaltar, porém, que seu uso é complementar ao NDVI, já que a análise é considerada melhor apenas em certas ocasiões. Ed 4

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Análises de sensoriamento remoto: Conheça as 4 principais e saiba quando usá-las

SAVI = (1+L) ( INFRAVERMELHO - VERMELHO) (PRÓXIMOS AO INFRAVERMELHO + VERMELHO + L)

NDMI Determinando a umidade da vegetação A Normalized Difference Moisture Index ou Índice de Diferença de Umidade de Normalizada, informa sobre a umidade da região avaliada, como o próprio nome sugere. Ela é calculada graças aos efeitos que a umidade da vegetação provoca na relação entre o fluxo de radiação que incide e o fluxo de radiação que é refletido. Isso causa uma variação na informação que é captada pelos sensores dos satélites.

NDMI = PRÓXIMOS AO INFRAVERMELHO - ONDAS ABAIXO DE 1500 nm ONDAS ABAIXO DE 1500 nm + PRÓXIMOS AO INFRAVERMELHO

Vale ressaltar que não é possível calcular o índice de NDMI para imagens vindas de satélites Rapideye ou Planetscope, já que eles não possuem sensores que captam ondas menores de 1.500 nanômetros.

BUSCANDO RESULTADOS Os indicadores permitem um acompanhamento da evolução da safra e podem revelar problemas no crescimento da planta, na umidade e na temperatura, que precisam ser analisados e resolvidos para evitar perda no resultado final da safra. Uma das vantagens dos sistemas de sensoriamento remoto, é a possibilidade de analisar o terreno sem precisar ir a campo para perceber o problema. Os índices também são excelentes aliados à outros sistemas, como o monitoramento de pragas, de solo e de irrigação. As tecnologias combinadas permitem uma análise melhor e mais assertiva, mas são apenas indicativos das condições de cada área.

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É preciso que o produtor saiba como ler os resultados e encontre as melhores soluções para os problemas apresentados. Portanto, ele deve estar sempre atento, buscando se atualizar e transformando dados em informação e informação em ações de melhoria. É essencial, também, ter cuidado ao escolher um fornecedor tecnológico. Além de conhecer o produto, este aliado deve ser um parceiro de confiança, que vai ajudar na tomada de decisão. A escolha de empresas que prestam serviço de qualidade, possibilita um planejamento e gerenciamento completo, além de uma visão a longo prazo do negócio.


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STRIDER NA ESTRADA

Por dentro da instalação do Strider TRACKER por

Rafael Souza

Coordenador de Produto da Strider

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TRACKER é o sistema de rastreamento da Strider que, por meio de uma rede, mostra ao produtor rural onde estão as máquinas no campo e qual caminho e velocidades elas percorreram. Mas para que ele funcione perfeitamente, é necessário seguir alguns passos antes, durante e depois da instalação:

SOLICITAÇÃO DA REDE HORIZON Fazendas que não possuem sinal de celular também podem ter o TRACKER. Basta que o produtor solicite a Rede Horizon quando for marcar a instalação. A rede foi desenvolvida pela Strider e possui antenas retransmissoras com alcance de até 12km. Sua implantação e manutenção são simples, pensando na vida no campo.

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INSTALAÇÃO DA ESTAÇÃO CENTRAL Quando a equipe Strider está em campo, o primeiro passo é a instalação, na sede, da estação central. Ela é o servidor local do TRACKER e tem o papel de receber, empacotar e enviar via internet as informações das máquinas, através da rede, para os servidores Strider.

ANÁLISE DE SINAL Ao final da instalação da rede, a equipe Strider percorre a fazenda com seu próprio tracker, simulando os trajetos que serão percorridos pelas máquinas. O processo serve para certificar que não haverá ausência de sinal em nenhum local.

INSTALAÇÃO TRACKER Terminados os testes, inicia a instalação dos trackers nas máquinas selecionadas pelo clientes. Para isso, basta instalar duas antenas na parte de fora da máquina e fixar o tracker na parte de dentro da máquina, o que pode ser feito com ventosas ou com presilhas. Feita a instalação, acompanhamos por alguns dias o trajeto da máquina no mapa, observando se ela se encontra online. Desta forma, ficamos preparados para eventuais suportes. Além disso, sempre capacitamos a equipe local para utilizar o painel da melhor forma possível, obtendo os resultados que esperamos e sucesso com o manuseio.

FIXAÇÃO DA TORRE RETRÁTIL Em seguida, a comunicação dos repetidores com a Estação Central é avaliada para ver se a rede está sendo formada. Com essa confirmação, é fixada a torre retrátil. Ela é totalmente autônoma, não exigindo nenhum tipo de infraestrutura da fazenda. O processo de fixação da torre é fácil e rápido: não leva mais de 2 horas.

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ESPECIALISTA CONVIDADO DESAFIOS DA CAPACITAÇÃO PARA

ADOÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS NO CAMPO por

Adalberto Bião

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aumento da produtividade através da quebra de paradigmas, sempre foi uma marca do DNA da agricultura brasileira.

Sabemos que, atualmente, temos apenas cerca de 7% do território nacional sendo usado pela agricultura e esse panorama não irá aumentar na mesma proporção da demanda de alimentos no mundo. Na mesma área cultivada, o produtor rural deverá se reinventar a cada safra para aumentar a sua produtividade. Um dos caminhos é a redução das perdas e aumento da performance por talhão, através da adoção de novas tecnologias.

Adalberto Bião é Docente do Grupo Kroton, cofundador do Grupo AgroGente e proprietário da empresa de consultoria InteraGente.

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O relatório da Embrapa denominado “O futuro do Desenvolvimento Tecnológico da Agricultura Brasileira”, afirma que “na agricultura, as novas tecnologias vão estimular novas vertentes de agregação de valor e de fabricação, com grandes possibilidades de aumento de competitividade do setor agroindustrial”. Esse é um caminho sem volta pois, a utilização de tecnologia sustenta o aumento de produtividade. Diante deste cenário, os produtores precisam fazer uma importante reflexão: somente a aquisição de tecnologia não fará o trabalho sozinha. Um importante elemento precisa acompanhar essa evolução: o trabalhador. Surge então um novo paradigma para ser superado pelo agricultor: o da educação corporativa. O produtor precisa adequar e aplicar melhorias contínuas nos processos de integração da cadeia, que envolve a relação entre o trabalhador, tecnologia e a sua tarefa de produção. Para sustentar esse crescimento do agronegócio as "empresas rurais" precisam profissionalizar a sua gestão, viabilizando o seu crescimento organizacional e econômico.

Em pesquisa realizada em 2016, organizada pela Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD) com o apoio da Association for Talent Development (ATD), o valor investido em média por trabalhador pelas grandes empresas no Brasil é de US$ 164,00, enquanto uma empresa nos EUA investe US$ 1.208,00. Segundo dados da The Conference Board, órgão de pesquisa americano, em média a produtividade de um profissional americano equivale ao trabalho de 5 profissionais brasileiros. Deixo a seguinte reflexão: trabalhamos muito ou estamos trabalhando errado? Está na hora das empresas brasileiras do agronegócio planejarem cronogramas de treinamentos em períodos de entressafras e estimularem o colaborador a se qualificar, para além de formar e reter esse talento, também impactar na produtividade. Essa fórmula já é seguida por grandes grupos econômicos, que consequentemente são os líderes de mercado, pois eles já sabem que o maior patrimônio de uma empresa é o capital humano.

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SUSTENTABILIDADE

PRODUTIVIDADE

VERDE

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om origem no latim "sustentare", que significa apoiar, sustentar, o conceito de sustentabilidade está amplamente ligado à boas práticas, e tem sido muito utilizado para dar destaque a ações em prol do meio ambiente, da comunidade ou até mesmo da economia. Percebendo a mudança de comportamento de investidores e clientes, que estão em busca de empresas que se preocupam com a sociedade como um todo, os novos modelos empresariais de gestão sustentável incentivam processos que focam tanto nos retornos financeiros, quanto nos sociais. A empresa mineira Be Green, dos sócios Giuliano Bitencourt, 26, e Pedro Graziano, 29, tornou o conceito realidade em Belo Horizonte. Fundada em 2015, a Fazenda Urbana Be Green surgiu da vontade dos sócios em desvendar o processo de produção dos alimentos, além de reduzir o desperdício causado pela distância entre produtores e compradores. “Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostram que 70% dos vegetais produzidos no campo são desperdiçados entre a saída do local de plantio e o consumidor final”, conta Bitencourt.

Be Green / Divulgação

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No processo da Be Green, apenas 2% da produção é descartada. A perda fica restrita à sementes ou vegetais que não se desenvolvem. Para que a produção dos 21 tipos de folhosos e temperos seja feita assim, de forma sustentável, toda a tecnologia foi desenvolvida pela dupla. Na Fazenda Urbana é possível fazer controle de Ph, temperatura, entrada de luminosidade, entre outros vários fatores que impactam diretamente na produtividade e qualidade.


A Fazenda Be Green, primeira fazenda urbana da América Latina, é uma estufa de 1.500 m² que ocupa uma área externa de um shopping center da capital. Por lá, todo controle de pragas é feito com produtos biológicos ou vegetais, sem uso de agrotóxicos na produção. Além disso, o alimento para as plantas vem de um tanque com mais de 500 tilápias. Neste processo, chamado de aquaponia, a urina dos peixes é transformada em alimento para as verduras, depois de passar por um filtro biológico. Após a filtragem, a água com nutrientes é bombeada até a estufa de produção, e depois retorna por encanamento até o reservatório dos peixes. A aquaponia gera uma redução de 90% no consumo de água na comparação com as culturas tradicionais. CONHECIMENTO ORIENTAL Tecnologia aliada à produtividade e sustentabilidade são ideais que permeiam a família Tsuge desde 1974. Após saírem do Japão e comprarem terras em Minas Gerais, a família se especializou na produção de abacate, avocado, café e lichia. “A sustentabilidade é um dos valores da nossa empresa. Acreditamos que produzir desta forma é fundamental para a consolidação da empresa e da marca perante os consumidores. “ afirma Paulo Katsuo Tsuge. Na fazenda, eles possuem um sistema bem consolidado de manejo integrado de pragas e doenças, se preocupam com a preservação de toda área de Reserva Legal e com a proteção das nascentes de água, além de adotarem o emprego de manejos conservacionistas de solo. O Grupo Tsuge também conta com duas biofábricas em suas propriedades, com objetivo de produzir agentes de controle biológico para o controle da principal praga da cultura do abacateiro (broca-do-abacate). As boas práticas são garantidas ao consumidor por meio dos certificados de qualidade, entre eles a Rainforest, referência em certificação na área socioambiental, em que o grupo é certificado desde 2010.

Acreditamos que produzir desta forma é fundamental para a consolidação da empresa e da marca perante os consumidores”. PREOCUPAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL As iniciativas vão além do trato com o campo. Mais de 78.000 quilos de abacate Tsuge já foram doados para o projeto SESC Mesa Brasil, uma rede nacional de bancos de alimentos contra a fome e o desperdício. O grupo também atua no desenvolvimento sustentável da comunidade. “Mantemos parcerias com escolas da rede pública, trazendo jovens para a fazenda, onde demonstramos as boas práticas agrícolas utilizadas, explicando a importância da preservação ambiental e da valorização do trabalho no campo”, conta Paulo. Em Belo Horizonte, a motivação para uma gestão sustentável também não parou na produção. A Be Green tem na sua equipe 10 funcionários, e todos moram no entorno da empresa. Além de gerar emprego para quem vive nas comunidades locais, a iniciativa busca reduzir a emissão de carbono no deslocamento até o trabalho. “Nossos funcionários recebem um ‘vale bike’, para auxílio na compra de uma bicicleta”, explica Giuliano Bitencourt. Outros benefícios da empresa são uma cesta de produtos orgânicos por mês e a opção de fazerem aulas de yoga ou academia, como chamado “vale saúde”. Antes de iniciar a produção em Belo Horizonte, Giuliano e Pedro fizeram seus testes por quase dois anos em Betim (MG), em uma fazenda arrendada. “Hoje temos 28 vezes mais produtividade do que tínhamos em Betim”, conta Giuliano. Por mês, são produzidos de 40 a 60 mil pés de hortaliças na estufa, e o plano para 2018 é de inaugurar mais duas fazendas e disponibilizar a tecnologia para outros produtores. Ed 4

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DEFENSIVOS BIOLÓGICOS: O ATAQUE QUE SALVA A PLANTAÇÃO

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a Holanda da década de 60, um produtor de pepinos costumava controlar as pragas de sua plantação com produtos químicos, mas ele percebia que a eficiência do controle diminuía a cada ano. Para não abandonar o trabalho, o produtor encontrou uma alternativa: criar ácaros predadores. A solução foi tão eficiente, que os ácaros começaram a ser vendidos para outros colegas. Assim, nasceu a Koppert Biological Systems. A empresa, com sede holandesa, desde 2012 encontrou mercado e portas abertas no Brasil. Renan Venancio e Marcelino Borges, responsáveis pelo desenvolvimento agronômico da Koppert no Brasil, explicam que incluir um produto biológico e reduzir o número de pulverizações químicas, já permite que os agentes naturais da área sobrevivam e contribuam com parte do controle de pragas, sendo uma importante ferramenta no Manejo da Resistência. Como resultado, o setor para as indústrias de defensivos biológicos está cada dia mais aquecido. Hoje a Koppert já possui 7 produtos em seu portfólio, e só em 2017 cresceu 30% em relação ao ano anterior. Para 2018, projetam também um crescimento na adesão de biológicos.

TECNOLOGIA BRASILEIRA Voltando para o Brasil, especificamente para Piracicaba (SP), Diogo Carvalho e Rodrigo Nigri criaram, em 2001, a Bug Agentes Biológicos, focada na produção de macro biológicos para grandes culturas. Em uma lavoura, microvespas criadas nos laboratórios da Bug, parasitam o ovo da praga, colocado na planta para se reproduzir. Dias depois, no lugar da praga, nasce mais uma vespa e, com o passar do dia, deixam de nascer as pragas. Em 2013, a brasileira se tornou a primeira empresa da América Latina a integrar o seleto grupo Pioneiros da Tecnologia, do Fórum Econômico Mundial. 50

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ESPECIAL AGTECH

Mesmo com barreiras, como falta de informação e legislação específica, o setor de controle biológico tem crescido, em média, entre 16% e 20% ao ano, segundo dados do Fórum Brasileiro de Defensivos. “Cada vez mais o produtor está querendo diminuir o trabalho manual, e empresas como a nossa vem ao encontro disso. Não são fazendas, são empresas.”, ressalta Diego Carvalho.

PRODUZINDO RESULTADOS Com a crescente mudança de comportamento, o produtor rural que procura o sistema precisa de alguns cuidados para ter sucesso na mudança em sua propriedade. “A palavra-chave é conhecimento! Em primeiro lugar, o produtor deve entender quais produtos biológicos ele deseja inserir em seu sistema de manejo. Em seguida, é essencial que ele tenha conhecimento sobre a seletividade de produtos químicos, em outras palavras, quais moléculas podem ser utilizadas em conjunto com aqueles produtos biológicos”, afirmam os desenvolvedores da Koppert. Para ajudar no processo de decisão, a Koppert criou o “Aplicativo de Compatibilidade”. Por meio dele, é possível verificar as moléculas químicas que são compatíveis com os produtos biológicos da empresa. Com a consulta ao aplicativo, é possível fazer uma mudança no sistema de manejo, abrindo as portas para que os produtos biológicos apresentem melhor performance.


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