Revista Strider 8ª edição

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Edição Especial Saiba como tecnologia e inovação estão fazendo a diferença na agricultra.

As perspectivas do novo governo para o setor agrícola.

E mais: AS MULHERES QUE FAZEM A DIFERENÇA NO AGRONEGÓCIO.

Ed 8 2019

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E X P E D I E N T E DIRETORIA

DIREÇÃO GERAL

Carlos Neto Gabriela Mendes Luiz Tângari

Damiany Coelho

PROJETO GRÁFICO E EDITORIAL

REDAÇÃO Damiany Coelho Jéssica Marques

Willian Tavares

C O L U N I S TA S CONVIDADOS

APOIO EDITORIAL

Bernardo Portugal Carlos Neto Paulo Viana

Beatriz Esteves Flora Viana Filipe Mota Gabriela Coelho Luciana Botelho Mariana Ribeiro Patrícia Sales

A REVISTA STRIDER Ano 3 - número 8 é uma publicação trimestral e de distribuição gratui-

ta. Seu conteúdo foi desenvolvido com o apoio e colaboração de colunistas e especialistas. Os artigos de opinião não refletem, necessariamente, a opinião da Strider, sendo de inteira responsabilidade de seus autores. A reprodução do conteúdo publicado só poderá ser feita mediante autorização, previamente solicitada, por escrito, à revista, citando créditos e fonte. É vedada a venda desta publicação. IMPRESSÃO E ACABAMENTO Gráfica e Editora O Lutador l Tiragem: 3.000 Exemplares

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@strideragro

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Í N D I C E

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C A RTA A O LEITOR A importância da cultura de inovação

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OPINIÃO Paulo Viana, Dir. de Desenvolvimento de Negócios da Strider, fala sobre o segredo do Sucesso do Cliente

EVENTOS Programe-se para o principais eventos agrícolas de 2019

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ECONOMIA As perspectivas do novo governo para a agricultura

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E S P E C I A L I S TA

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C O L U N I S TA

Carlos Neto, CTO da Strider, mostra porque escolher uma empresa com setor de pesquisa e desenvolvimento para acelerar o processo tecnológico da sua fazenda

Bernardo Portugal, especialista em direito societário, fala sobre a tecnologia nos processos de governança

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Confira as principais novidades das nossas redes sociais!

HERÓIS DO AGRO

Conheça os heróis do campo desta edição!

COMMODITIES Como inovar cuidando de toda a cadeia produtiva, com Montesanto Tavares

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E N T R E V I S TA O pesquisador Nivio Ziviani fala sobre machine learning, mercado e agronegócio

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Desbravando a Inteligência Artificial

Aprenda mais sobre gestão com conteúdos leves

#POR DENTRO DO AGRO

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Modelos preditivos na agricultura: o futuro nunca esteve tão próximo

C A PA

INDICA

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TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

N A P R ÁT I C A O investimento em inovação da Raízen

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V O C Ê S A B I A? Desafios que o agro brasileiro precisa enfrentar

ESPECIAL Agora é a vez delas: as mulheres do agronegócio

S U S T E N TA B I L I D A D E Inovar é ser sustentável Ed 8 2019

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ao leitor

C a r t a

CFO da Strider Gustavo Schaper

Caros Leitores, Quando falamos em tecnologia e inovação, logo pensamos em um mundo novo, ultra conectado e cheio de possibilidades. Mas, na essência, nem tudo são flores. Uma empresa que quer ser inovadora tem a necessidade de entregar resultados rápidos para acompanhar as mudanças do mercado. Isso pode refletir em alterações de processos antes rotineiros. É aí que mora o desafio. O profissional precisa estar por dentro do que há de mais novo no mercado e pesquisar bastante para, assim, obter o melhor processo para uma empresa que quer inovar, sem perder a essência de sua gestão. Aqui na Strider, nós respiramos inovação. Nossa cultura, focada em entregar valor e conquistar o sucesso do nosso cliente, conta com processos estabelecidos que promovem a adaptabilidade nesse ambiente de grandes mudanças. Ter a cultura de inovação como pilar garante a continuidade do aprendizado rápido e a aplicação de soluções cada vez melhores para nossos colaboradores e também para os nossos clientes. Criando, divulgando e mantendo esse ambiente de inovação em conjunto com o ecossistema digital, conquistaremos as reduções de custo, o melhor retorno sobre os investimentos, as melhorias na gestão e tomadas de decisão ágeis e assertivas.

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O p i ni ã o

Qual o segredo do sucesso do cliente? Não foi uma mera mudança de nome a revolução nos setores de pós-vendas das empresas, levando à aparição do Customer Success.

por Paulo Vianna

O

mercado passou a enxergar que o processo de pós-venda é muito mais complexo. Envolve, principalmente, o cuidado para que o cliente tenha sucesso no uso do produto adquirido, mantendo a sua fidelização com a empresa. Esse contato mais próximo ajuda na obtenção de dados de satisfação do cliente - um dos principais diferenciais dos chamados CS.

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Essa mudança não é benéfica apenas para o consumidor. O efeito é refletido na diminuição abrupta do churn e aumento das possibilidades de cross-sellings e upsellings.” Mercadologicamente, nada poderia ser melhor. As empresas precisam, agora, além de oferecer seus produtos e serviços, cuidar para que o consumidor tenha sucesso com essas soluções. Tecnologias sem sentido, produtos ruins e serviços precários são dispensados com facilidade. Até a maneira de fechar contratos mudou - desde o crescimento do CS, os contratos tendem a ter prazos menores, forçando as empresas a otimizarem o serviço, dia após dia, para reter o cliente.

Essa mudança não é benéfica apenas para o consumidor. O efeito é refletido na diminuição abrupta do churn (perda/rotatividade de clientes) e aumento das possibilidades de cross-sellings e upsellings (vender mais de um mesmo produto ou produtos diferentes ao mesmo cliente). Além disso, um aumento de 5% na retenção de consumidores pode acarretar um aumento ainda maior na receita da empresa (que pode chegar até a 95%!), segundo estudo publicado pela Bain & Co. De verdade, o que o Customer Success pretende trazer são experiências memoráveis e resultados otimizados. Criar uma estrutura de conhecimento baseada em softwares e análises profundas de comportamentos e dados brutos gera aumento de engajamento, monetização, retenção e, claro, o sucesso do cliente.

Dir. de Desenvolvimento de Negócios da Strider Paulo Vianna

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E v e n t o s

O ano promete diversos eventos voltados para o universo do agronegócio.

Semana da Citricultura e Expocitros Cordeirópolis (SP) 03 a 06 de junho de 2019 http://ccsm.com.br/eventos/semana-da-citricultura-e-expocitros

15º Insectshow

Anote na agenda!

Ribeirão Preto (SP) 17 e 18 de julho de 2019 http://www.ideaonline.com.br/conteudo/15-insectshow-.html

Show Safra

Congresso Brasileiro de Algodão

Lucas do Rio Verde (MT) 26 a 29 de março de 2019 http://www.fundacaorioverde.com.br/

Goiânia (GO) 27 a 29 de agosto de 2019 http://www.congressodoalgodao.com.br/ Luiz Tângari, CEO da Strider, na Insectshow

Agrishow Riberão Preto (SP) 29 de abril a 3 de maio de 2019 http://www.agrishow.com.br/

Henrique Prado, Designer de Software da Strider, na 25ª edição do Agrishow

Expocafé Três Pontas (MG) 15 a 17 de maio de 2019 http://www.expocafe.com.br/

Eventos de tecnologia Strider Day

Bahia Farmshow Luís Eduardo Magalhães (BA) 28 de maio a 01 de junho de 2019 http://www.bahiafarmshow.com.br/

São Paulo (SP) 1 e 2 de agosto de 2019 striderday.com

Semana Internacional do Café Belo Horizonte (MG) 20 a 22 de novembro de 2019 http://semanainternacionaldocafe.com.br/br/

Futurecom São Paulo (SP) 28 a 31 de outubro de 2019 futurecom.com.br/pt

Big Data Week São Paulo (SP) Será divulgado em breve sao-paulo.bigdataweek.com

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E c o n o m i a

O que esperar do

NOVO GOVERNO A

pós a posse de Jair Bolsonaro na Presidência da República, foram feitas mudanças e propostas importantes a respeito do setor agropecuário. Trata-se do investimento no setor sucroenergético, que será impulsionado pelo RenovaBiO - política que propõe o aumento da produção de combustíveis renováveis.

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liderança”, garantiu. “Essa indústria é muito importante. Ela reduz as emissões de carbono e, explorando algo que é nosso, fornece energia para o Brasil. Vocês podem contar conosco, nós somos parceiros neste assunto”, conclui o presidente.

E c o n o m i a

Após a eleição do novo presidente, muito tem se falado sobre as mudanças previstas para o Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA). Saiba quais são as principais!

Em um vídeo apresentado na Conferência Nacional da Datagro, em São Paulo, Bolsonaro falou sobre o RenovaBio: “No passado, nós éramos líderes neste setor e certamente iremos retomar a posição de

Temos que explorar mais o mercado asiático.” Tereza Cristina Corrêa da Costa Min. da Agricultura

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E c o n o m i a

O que esperar do novo governo

Porém, a proposta conta com entraves relacionados às próprias medidas de Jair Bolsonaro, como a defesa da transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Isso poderia prejudicar o comércio com países fortes no agronegócio, como Indonésia e Malásia, de maioria muçulmana. Segundo a ministra, o diálogo com o presidente vem sendo constante para que a medida não afete as propostas comerciais do agro brasileiro. Ministra promete que agricultura familiar terá "integral apoio" da pasta

Foco na exportação

A ministra garantiu ainda que a pasta dará “total apoio” à agricultura familiar. Mas sua principal proposta é manter os atuais mercados e abrir novos, o que deixa os produtores animados pelas novas perspectivas. Agora, é esperar para ver como essas mudanças funcionarão neste primeiro período de governo.

A ministra responsável pela pasta da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou em entrevista à Bloomberg que o foco do novo governo no setor será o aumento das exportações. As expectativas são grandes. “O agronegócio deverá ser beneficiado pelo novo governo, uma vez que ao reduzir o tamanho da participação do Estado, será reduzido também o custo Brasil, facilitando a produção, o beneficiamento, e a exportação dos produtos do agronegócio”, afirma Paulo Vicente, professor de Estratégia da Fundação Dom Cabral (FDC). Para a ministra, é preciso expandir as exportações para além do mercado chinês. “Temos que ter uma política mais macro, diversificar países. O Brasil vende menos para a Índia, é um país que temos que olhar, assim como a Indonésia, Malásia. Temos que explorar mais o mercado asiático”, propõe.

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2ª Geração

Bioqav

Etanol Biodiesel Biogás Biomassa

RenovaBio deve ser prioridade do governo

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I n d i c a

APRENDENDO SOBRE GESTÃO COM CONTEÚDOSL E V E S A Gestão de Pessoas vem sendo cada vez mais uma preocupação de empresas agrícolas. Entenda mais sobre o tema com essas três dicas:

P O D C A S T : Like a Boss O Like a Boss se apresenta como um podcast em formato de série. O conteúdo serve de inspiração para quem quer empreender e gerir melhor seus negócios. A cada temporada, seis empreendedores contam suas história de sucesso num bate-papo com os apresentadores Paulo Silveira e Rodrigo Dantas. Já passaram por lá nomes como Andries Oudshoorn, CEO da OLX, e David Vélez, co-fundador e CEO do Nubank.

F I L M E : A Sociedade Dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, EUA, 1989)

O clássico filme protagonizado por Robin Williams se passa em 1959, em um tradicional colégio para meninos. Através de aulas inspiradoras e fora da caixa, os alunos aprendem lições importantes, como o incentivo ao pensamento autônomo. O filme passa a lição de que um bom líder é capaz de ouvir a opinião dos colaboradores - que se sentem importantes ao participarem de decisões - e inspira uma gestão mais humanizada, que incentiva a proatividade.

Y O U T U B E : Endeavour A Endeavour já tem experiência no mercado voltado para a produção de conteúdo para empreendedores. O canal da empresa no YouTube funciona como uma extensão desses conteúdos. Nele, é possível conferir entrevistas com empreendedores dos mais diversos setores, além de palestras inspiradoras sobre gestão e liderança.

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A tecnologia da Strider é número 1 de mercado no agronegócio. Com a nossa plataforma, o trabalho no campo se torna mais ágil, econômico, seguro e efetivo. Do monitoramento de pragas à gestão do maquinário e do estoque da fazenda - tudo isso pode ser otimizado com a ajuda das nossas tecnologias. Nossa equipe vai até a sua fazenda para treinar os trabalhadores de campo a usarem a nossa plataforma de maneira efetiva. Vamos juntos?

Aumente a produtividade da sua frota! Melhore a produtividade da equipe Softwares criados para aguentarem a rotina do campo: resistentes, ágeis e funcionam offline

Evite desperdícios Reduza as perdas na colheita

Reduza custos Saiba o que está por vir na colheita e evite imprevistos Saiba o que está acontecendo no campo, direto do escritório

Aplique de forma assertiva Saiba se os prazos para plantio e colheita estão sendo cumpridos

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Neste capítulo da série Jornada de Sucesso, a equipe da Strider acompanhou o dia a dia da Agrex do Brasil. Atualmente, a empresa mantém mais de 40 mil hectares plantados de soja e milho. Veja como o uso da tecnologia no campo contribui para o aumento da produtividade e qualidade da gestão!

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algodão de

comer?

Na série #PorDentrodoAgro falamos sobre agricultura, inovação, curiosidades e muito mais.

Neste capítulo da série #PorDentrodoAgro, falamos sobre uma inovação que em breve vai estar no mercado: algodão de comer. E não é algodão doce! Entenda tudo no vídeo em nosso canal do YouTube!

“Colheita de aveia” Clique da @rogeriosulzbachdalq 20

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“Momentos do agro” Clique da @aaw_97

“Irrigação em Bonópolis/GO” Clique da @dalisson.o.s Ed 8 2019

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Café

C o m m o d i t i e s

C o m m o d i t i e s

deQuali dade Foto: Divulgação

A

safra de café fechou com números recordes em 2018, indo além das expectativas já positivas para a temporada. A produção no país chegou a 61,7 milhões de sacas beneficiadas, o que representa um crescimento de 37% em relação a 2018. Os dados são da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Estamos falando da maior colheita registrada na série histórica do grão - 10 milhões de sacas a mais do que 2016, ano que até então detinha o melhor desempenho do período. A exportação também não fica para trás. Pelo contrário: atingiu índices de 7% em novembro na comparação anual, para 20,55 milhões de sacas de 60 kg.

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A Conab atribui alguns motivos para esse resultado positivo, como o investimento em pesquisa e tecnologia. Isso proporcionou variedades mais produtivas de café, como as plantas clonais no Mato Grosso e em Rondônia. O Diretor do Grupo Montesanto Tavares, Leonardo Montesanto, aponta mais motivos para essa boa safra: “A gente roda bastante algumas regiões de lavouras do Brasil, e especialmente no Cerrado e no Sul de Minas, percebemos que as introduções de poda nos plantios está acontecendo com mais frequência. Na Zona da Mata, os produtores estão trabalhando mais com renovação da lavoura, o que também ajuda bastante para um bom resultado de produção”, avalia.

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C o m m o d i t i e s

Café de qualidade

Além disso, as condições climáticas foram bastante favoráveis. “2018 foi um ano maravilhoso em relação às chuvas, o que contribuiu bastante também”, completa Leonardo. Isso porque a chuva veio na hora certa - choveu quando era necessário nas regiões produtoras e não houve precipitações durante a maior parte da colheita.

Foto: Divulgação

Equipe da Montesanto Tavares garantindo a qualidade dos grãos de café

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Para o diretor, o saldo positivo dessa safra em relação às anteriores foi a produção de grãos mais graúdos. “Quanto maiores os grãos, menos você precisa para encher uma saca. Além de ganharmos com quantidade de frutos por planta, que foi maior, ganhamos também na qualidade dos grãos”, explica. Pelo visto, estamos diante de uma safra que ficará por muito tempo na memória do produtor.

O Grupo Montesanto é conhecido pela expertise em todas as etapas produtivas do café, atuando desde a originação até a venda dos blends no exterior. Suas tradings possibilitam ao grupo negociar e vender o café brasileiro para todo o mundo. Para o diretor do Grupo, tão importante quanto exportar o café brasileiro é valorizar o produtor local, já que estamos tratando de uma cultura familiar, em que o produtor é expert na qualidade do grão. “Nossas empresas que originam cafés brasileiros, como a Atlantica e a Cafebras, são responsáveis por contactar aproximadamente 2.000 produtores, que originam os melhores grãos para fornecer aos melhores torrefadores mundo afora”, explica. Agora, o foco da empresa é aumentar a produtividade nas áreas que já possui. “Já existem tecnologias que possibilitam esse aumento de produtividade”, comenta Leonardo. Para ele, o investimento em recursos tecnológicos traz ainda mais vantagens. “Acreditamos que essa medida favorece, inclusive, uma produção mais sustentável”, finaliza.

A inovação deve vir aliada à credibilidade.

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Especial Tecnologia

E n t r e v i s t a

MACHINE LEARNING e mercado N

ivio Ziviani é Professor Emérito do Departamento de Ciências da Computação da UFMG e uma das grandes referências no país quando o assunto é pesquisa e tecnologia. Ele acompanhou de perto as mudanças de mercado influenciadas pelos avanços da tecnologia nos últimos vinte anos e já geriu quatro startups: a primeira delas, Miner, foi vendida em 1999. Parte da venda foi doada para a UFMG, como forma de retribuir a instituição e mostrar que o investimento em pesquisa é frutífero para o mercado. Já a segunda startup, Akwan, foi comprada pela Google em 2005. Graças a essa parceria, Belo Horizonte acabou se tornando um dos principais polos de tecnologia e inovação do país, com a construção do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Google na América Latina, na capital mineira Hoje à frente da Kunumi - startup fundada em 2016 - Ziviani falou à Revista Strider sobre essa nova era da revolução digital e seus impactos na agricultura.

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Nivio Ziviani Professor Emérito do Dep. de Ciências da UFMG, explica como a tecnologia vai afetar o trabalho agrícola

Para o Sr, nós estamos em uma nova era pautada pela tecnologia, diferente de anos atrás? Como essa mudança afeta o mercado? Os computadores transformaram o trabalho em quase todos os setores da economia ao longo das últimas décadas. Estamos agora no começo de uma transformação ainda maior e mais rápida devido aos recentes avanços da área de machine learning, que, por sua vez, também é capaz de acelerar o ritmo da automação. O machine learning é uma subárea da Inteligência Artificial, a qual visa dar aos computadores a capacidade de aprenderem sem serem explicitamente programados. Todas essas mudanças afetam o mercado. Tarefas tipicamente repetitivas já vêm sendo substituídas por robôs, tais como as linhas de montagem na indústria e utilização de drones para monitoramento, como no agronegócio. Embora os efeitos econômicos do machine learning sejam relativamente limitados (isto é, não estamos diante do iminente “fim do trabalho” como às vezes é proclamado), as implicações para a economia e a força de trabalho daqui para frente serão profundas.

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Especial Tecnologia

E n t r e v i s t a Machine learning e mercado

Como essas tecnologias podem ajudar o trabalhador a executar suas atividades? Existe uma tendência mundial em sistemas de análise preditiva e otimização a partir de grandes volumes de dados, o “Big Data”, que permite ao usuário interagir com dados para revelar padrões ou buscar ideias inovadoras. Assim, é possível conseguir “insights” relevantes a partir de grandes volumes de dados disponíveis. Outra tendência importante possibilitada pelo machine learning é a abordagem “humano no circuito”, na qual a máquina atua como um “aprendiz” para auxiliar o trabalhador humano. O treinamento de um aprendiz para “imitar” decisões geradas por humanos possibilita que máquinas aprendam com os dados gerados por várias pessoas que ele ajuda, levando a um desempenho superior de cada indivíduo da equipe que o treina. Assim, o trabalhador consegue se focar em questões mais complexas que a mera análise de dados. Resumindo: o ser humano, junto com sistemas de machine learning, tem desempenho muito melhor do que o homem ou a máquina trabalhando isoladamente.

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Na sua opinião, como a inteligência artificial, o machine learning e outras inovações podem ser aplicadas no agronegócio para aumentar a produtividade? Os algoritmos podem utilizar dados sobre como as safras se apresentaram em vários climas e herdaram certas características e usar esses dados para desenvolver um modelo de análise preditiva e otimização. O machine learning pode auxiliar até no melhoramento de plantas. O que costumava ser reservado para grandes instituições agora está ao alcance de equipes capazes e surpreendentemente pequenas. Startups que usam machine learning estão começando a reformular a indústria da agricultura. Os agricultores podem, por exemplo, utilizar imagens de campo feitas por satélites e usar o modelo criado para diagnosticar e desenvolver um plano de gerenciamento. Além disso ao rastrear qualquer praga ou doença na agricultura, a identificação precoce e precisa é essencial. O método tradicional de identificação de doenças de plantas é feito por exame visual. Esse processo é prejudicado por ineficiências e propenso a erros humanos. Para um sistema de machine learning, diagnosticar doenças de plantas é essencialmente um reconhecimento de padrões. Depois de aprender e classificar centenas de milhares de fotos de plantas doentes, um algoritmo pode identificar o tipo de doença, a gravidade e até mesmo recomendar práticas de manejo para limitar a perda a partir de uma doença.

Temos de reinventar nossas habilidades para acompanhar a aceleração tecnológica. Ed 8 2019

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E n t r e v i s t a

N a

Machine learning e mercado

Para o Sr., como empreendedorismo e Academia podem se unir nessa nova era tecnológica? As universidades norte-americanas criam cerca de 600 a 800 startups por ano. A Universidade de Stanford, por exemplo, é ainda mais forte na criação de startups. Saíram de lá a Google, Yahoo, Instagram, entre outras. É importante que a sociedade brasileira como um todo tenha consciência da relevância social e econômica de transformar conhecimento de qualidade gerado nas universidades em riqueza. Isso acontece por meio de empreendimentos inovadores e criação de startups. Importante notar que gerar tecnologia de ponta requer pesquisa e desenvolvimento (P&D) associados a grupos de pesquisa também de ponta.

Qual o impacto das tecnologias no mercado? O negócio que não se atualizar para o uso dessas tecnologias, pode ficar para trás? As tecnologias digitais vão continuar crescendo de forma acelerada e as nossas competências, organizações, instituições e métricas já estão atrasadas. Lidar com o business as usual não vai resolver esses problemas. Temos que reinventar nossas habilidades, organização, instituições e métricas para acompanhar a aceleração da tecnologia. Empresas que não se atualizarem, principalmente com relação ao machine learning, vão ficar muito prejudicadas e perder competitividade.

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Os países desenvolvidos, que estão mais preparados, vão sair na frente e talvez sejam menos impactados.”

em inovação A

liar conhecimento e prática é uma preocupação que vem crescendo no mercado agrícola. A Raízen, uma das empresas de energia mais competitivas do mercado, idealizou o Pulse Hub, programa que incentiva startups e apoia projetos inovadores. Inovação, inclusive, é o termo que faz a cultura da Raízen. Guilherme Lago, Coordenador de Inovação da empresa, mostra como incentivar novos projetos pode fazer a diferença no negócio.

Por que capacitar pessoas é fundamental para ver a tecnologia avançando ainda mais? A educação é muito importante nesse aspecto. Os países desenvolvidos, que estão mais preparados, vão sair na frente e talvez sejam menos impactados. Nossa situação é mais complicada porque, ao contrário de praticamente todos os países desenvolvidos, ainda não iniciamos a discussão sobre os impactos do machine learning na nossa sociedade. A fala de Jack Ma, criador do Alibaba na China, no Fórum Econômico Mundial em Davos, em fevereiro de 2018, ilustra bem o que vem ocorrendo: “O que ensinamos são coisas dos últimos 200 anos”. Nós temos que obter habilidades para que uma máquina nunca possa nos alcançar. Essas habilidades são soft skills: valores, crença, pensamento independente, trabalho em equipe, cuidado com os outros. O conhecimento não ensinará soft skills. E nem a máquina será capaz de aprender isso.

Especial Tecnologia

p r á t i c a

O que é o Pulse hub e como ele funciona?

Coord. de Inovação da Raízen Guilherme Lago

O Pulse é o hub (disseminador) de inovação da Raízen. Nosso plano é reunir a Academia e investidores, auxiliando startups a encontrarem um nicho de mercado. Essas startups têm a oportunidade de realizar um projeto-piloto na Raízen. A Aimirim, por exemplo, aplicou conceitos de Inteligência Artificial em um software para melhorar a eficiência das nossas caldeiras, e deu muito certo. O resultado é menos queima de matéria para atingir o mesmo nível de energia.

Por que investir em novos projetos? Como a Raízen já tem um histórico de inovação na produção da cana-de-açúcar e do etanol (como a produção integrada de etanol de segunda geração), a criação do Pulse foi quase um chamado. Por que não assumir o papel de líder de mercado, preservando o ecossistema e incentivando novos talentos? Aí, vimos que era possível dialogar a experiência dos nossos colaboradores com a ideias inovadoras vindas de novas startups.

Para você, o que é inovação? Inovar tem relação direta com proporcionar um lugar onde as pessoas possam executar as suas ideias. É tornar os benefícios da tecnologia palpáveis, além do discurso, focando em uma produção otimizada. Incentivamos projetos novos para dar suporte ao pessoal que não tem tempo adequado para inovar. Isso é cultura de inovação. Ed 8 2019

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T e c n o l o g i a

e

Especial Tecnologia

i n o v a ç ã o

MODELOS PREDITIVOS:

Como funciona: Para chegar a uma análise preditiva adequada, vários dados são analisados por algoritmos de machine learning. A partir dessa análise, são gerados diversos modelos preditivos. Os cientistas de dados usam, então, métodos científicos e estatísticos para escolher e refinar um desses modelos.

O FUTURO NUNCA ESTEVE

O modelo mais adequado é escolhido e passa a operar em cima de novos dados para realizar previsões que possam, futuramente, auxiliar na tomada de decisão.

TÃO PRÓXIMO Ciência de dados + Agricultura = Otimização da tomada de decisão

C

om a evolução do mercado agrícola, muitos produtores buscam otimizar a produção por meio da tecnologia. Atualmente, é possível antecipar padrões, prever o que pode dar errado no fim da safra e, a partir da análise de dados, tomar decisões assertivas e no tempo certo. Este é um conceito básico para a Análise Preditiva, que, graças aos avanços tecnológicos, está se tornando realidade no campo.

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A Ciência de Dados é um campo de estudo que combina estatística, computação e sistemas para extrair padrões de grandes quantidades de dados, muitas vezes, pouco estruturados. “A Análise Preditiva é uma das mais importantes técnicas de Ciência de Dados, e as aplicações na agricultura são praticamente ilimitadas”, explica Rafael Almeida, Arquiteto de Software da Strider.

“Além das previsões que já estão disponíveis no mercado em larga escala, como as de preço futuro de revenda e de eventos climáticos, é possível, por exemplo, criar um modelo preditivo para calcular a produtividade da safra”, explica Rafael. “Podemos avaliar, também, a incidência de pragas e outros eventos operacionais, como quebra de máquinas”, completa. Em tempos de revolução digital, é imprescindível usar todos os recursos disponíveis para identificar aquilo que poderá ser um problema lá na frente e, consequentemente, otimizar a produção. Prever o futuro nunca esteve tão próximo da nossa realidade.

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Desbravando a

Inteli ARTI

N

ão é de hoje que se fala em Inteligência Artificial (IA). O conceito, aliás, nasceu muito antes: em 1956, o pesquisador John McCarthy criou o termo já pensando nas “máquinas inteligentes” que viriam no futuro. Naquele momento, a grande novidade em pesquisas eram as redes neurais, que realizam o processamento de informações com funcionamento inspirado nas redes neurais do nosso cérebro.

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gência FICIAL Porém, esse conceito não foi comprado pela maioria da comunidade científica, e muitas pesquisas foram abandonadas até que o termo voltasse à tona nos anos 1970, quando os computadores já eram uma realidade em empresas. A partir desse momento, a Inteligência Artificial se desenvolveria rapidamente e logo entraria no nosso dia a dia.

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Especial Tecnologia

C a p a Desbravando a inteligência artificial A Inteligência Artificial, em si, é um conjunto de métodos que permitem aos softwares agirem com um grau de autonomia limitado, adaptando-se a situações complexas de maneira racional, indicando os caminhos mais adequados para a tomada de decisão. “O grande conceito da Inteligência Artificial como ciência é aprender a aprender”, explica Pablo Alves de Barros, Doutor em Cognição Robótica e pesquisador da Universidade de Hamburgo, na Alemanha. No dia a dia, a Inteligência Artificial aparece de forma mais simples que do se imagina: é a partir dela que a Netflix define qual série ou filme pode indicar que seja exatamente no seu gosto, por exemplo. Os antivírus mais avançados que usamos em nossos computadores também funcionam por meio de Inteligência Artificial. Se você faz uma compra pela internet com 100% de segurança, é graças à função desses programas que identificam e bloqueiam os malwares antes que nossos dados sejam roubados por terceiros. No mercado, a Inteligência Artificial está presente de forma ativa há algumas décadas. Bancos (nos caixas eletrônicos), aeroportos (no controle aéreo), hospitais (no acompanhamento médico a procedimentos cirúrgicos), empresas de comunicação (na análise do perfil do cliente) - praticamente todos os setores que apresentam serviços automatizados em larga escala contam com métodos e técnicas de Inteligência Artificial. “A (IA) é muito útil para o mercado. Sua principal função é retirar do operador a obrigação de entender profundamente sobre o problema para automatizá-lo”, resume Pablo. Nesse intuito, foram desenvolvidas técnicas ainda mais complexas, como o machine learning. Trata-se de uma área dentro da (IA) que estuda e desenvolve técnicas e métodos de aprendizagem da máquina. “Imagine que a Inteligência Artificial é como a matemática, e machine learning seria algo como trigonometria. Uma área dentro de uma ciência”, explica Pablo. O seu propósito é criar sistemas capazes de aprender sozinhos. Uma grande quantidade de dados é fornecido ao software para que ele possa processá-los, “memorizá-los” e, finalmente, interpretá-los, evitando erros frequentes. 36

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Input

Hidden

Output

Representação de redes neurais

Aprendizado constante Atualmente, estamos na era do deep learning, que é uma forma ainda mais avançada de (IA). “O deep learning é uma técnica de aprendizado de máquina que utiliza redes neurais com um maior número de camadas, as chamadas Redes Neurais Profundas, que permitem a representação de funções de aprendizado mais complexas”, conceitua Luiz Chaimowicz, Doutor em Ciência da Computação e professor da UFMG. O deep learning é o pilar de várias inovações que vemos hoje, como os softwares que mostram o momento certo de aplicar defensivos em cada talhão, ou em softwares que “preveem” a quebra de máquinas. “Com o aumento da capacidade de processamento dos computadores, somado ao avanço dos algoritmos e à grande disponibilidade de dados, o deep learning tem obtido resultados interessantes em diferentes áreas de aplicação”, aponta Luiz.

A Inteligência Artificial indica caminhos mais adequados para a tomada de decisão. Ed 8 2019

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Especial Tecnologia

C a p a Desbravando a inteligência artificial

E no agro, como funciona? A Inteligência Artificial é o tema mais quente do momento no agronegócio. Mas esse conceito já está presente no dia a dia do campo, promovendo soluções para uma tomada de decisão assertiva na produção.

No agro, a (IA) está nas soluções automatizadas para predição do tempo; nas informações do período ideal para plantio, na automatização da colheita, nos maquinários autônomos e até no controle financeiro e gerencial automatizado da fazenda, como aponta Pablo. Luiz acrescenta: “Outra área de aplicação é o uso da robótica inteligente em diversas atividades do agrícolas. Por exemplo, a utilização de drones para a agrimensura ou o uso de maquinário autônomo ou semi-autônomo nas etapas de preparação do solo, plantio e colheita”, finaliza

A inteligência de dados gerada pela era 4.0 aumenta a assertividade na tomada de decisão e agilidade na resolução de problemas para evitar perdas na colheita, por exemplo. Basta lembrarmos do processamento de dados relacionados ao monitoramento uma lavoura. Se antes colher os dados implicava tempo e muito papel, hoje esse processamento é feito muito rapidamente, via tablet, tornando o manejo das culturas mais preciso graças às tecnologias de monitoramento de pragas e doenças, por exemplo. Essa era ultra tecnológica possibilita o barateamento dos softwares, que vêm chegando cada vez mais ao campo. Tecnologias como sistemas de GPS, coleta de imagens de satélite que geram mapas de calor e o gerenciamento agrícola como um todo já estão presentes em cada vez mais fazendas.

de da conexão constante entre sistemas cada vez mais complexos que propiciarão meios integrados para a tomada de decisão, seja ela semi ou totalmente automatizada”, conceitua Marcelo Borghetti Soares, Doutor em Ciência da Computação e Cientista de Dados da Strider.

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Pesquisadores da área de tecnologia se dividem quando o assunto é possibilidade da Inteligência Artificial “roubar” empregos - como acontece nos filmes de ficção científica. Mas, mesmo os mais radicais, como Stephen Hawking (falecido neste ano) concordam que levaria muito tempo para que a máquina conseguisse executar funções humanas, e ainda assim, o fariam sem conseguir imitar toda a complexidade da nossa mente. Os pesquisadores Armen Ovanessoff e Eduardo Plastino, autores do relatório Como a Inteligência Artificial Acelera o Crescimento da América do Sul apontam um futuro otimista: os softwares cada vez mais vão ajudar a otimizar e a tornar mais produtivo o trabalho do ser humano. “A (IA) possibilita que as pessoas se foquem nas áreas de suas funções que agregam mais valor”, defendem. Ou seja, a máquina faz o trabalho de coleta e leitura de dados, por exemplo, e o ser humano entra com a parte estratégica, de tomada de decisão. A tecnologia, então, é integrada para melhorar a performance do nosso trabalho, e não roubar os nossos empregos.

Foto: Acervo Strider

Além disso, já estamos vivendo a era da Agricultura 4.0. “O aspecto fundamental de inovação da Agricultura 4.0 depen-

A Inteligência artificial vai roubar empregos?

E o futuro? De acordo com especialistas, no futuro, teremos uma lavoura 100% conectada e integrada com tecnologias de ponta. Marcelo Borghetti aposta na conexão entre vários softwares para otimizar ainda mais a produção. “A interconexão entre os sistemas complexos, com distintos níveis de automatização que possam conversar entre si, vai ajudar muito o produtor, mas isso vai exigir uma grande mudança na gestão”, explica. Tudo indica que essa mudança virá para tornar o trabalho ainda mais ágil, mas é preciso que o produtor se capacite para o uso dessas tecnologias para chegar pronto à agricultura do futuro. “Possivelmente o processo de decisão irá mudar, na medida que novos dados e observações puderem chegar nas mãos do gestor”, comenta Marcelo. Mas, para Borguetti, é preciso que as pessoas entendam o quanto essas novas tecnologias são essenciais: “O grande motivo para essa revolução digital é a preocupação com o que está lá no fim da cadeia: os seres humanos”, afirma. Para ele, com menos desperdício e maior eficiência no processo de produção, em um futuro próximo - onde a expectativa populacional está em torno de 11 bilhões - essas tecnologias vão representar um salto significativo na diminuição da pobreza. “Ainda que possivelmente as tecnologias não sejam a solução para o problema de distribuição eficiente de recursos, ao menos vão garantir recursos para as futuras gerações”, finaliza Marcelo.

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Especial Tecnologia

E s p e c i a l i s t a

Por que

ESCOLHER EMPRESAS

Cultura de inovação e agilidade Um setor de P&D não se baseia em, apenas, desenvolver novas soluções. Trata-se de um conceito mais amplo. A empresa precisa ter em sua cultura agilidade e capacidade de mudança. Uma empresa que acredita em uma realidade imutável e que tem muita confiança em suas próprias convicções tem pouca chance de criar um produto realmente útil. Logo depois das etapas de descoberta, pesquisa e prototipação, o valor do produto final criado a partir de um processo de P&D só pode ser comprovado com a realidade de mercado. Ao final desse processo, o consumidor dá a sua aprovação ao perceber, de forma clara, o valor gerado.

queINVESTEM emPESQUISA eDESENVOLVIMENTO? por Carlos Neto

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e softwares que otimizam a gestão da fazenda aos algoritmos de sites de busca que entregam resultados com o perfil do cliente, muitos dos projetos inovadores que existem no mercado têm origem nos setores de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) de empresas. Com uma equipe de especialistas e pesquisadores, esse setor busca criar novos produtos e otimizar aqueles que já existem.

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O amadurecimento do setor de P&D garante o crescimento das vendas, graças à patente e ao direito de exclusividade dos produtos, além da melhoria daqueles já ofertados. Com o P&D, a empresa garante mais que a comercialização de um produto eficiente: ela também se torna referência em pesquisa e inovação.

O P&D está intrinsecamente ligado às startups por causa de sua capacidade de manobra, isto é, a habilidade de mudar o rumo do desenvolvimento do seu produto ou estratégia para resolver problemas que sejam de grande valor para o cliente. Para isso, é crucial ter, além de uma estratégia matadora, as pessoas certas para a colocarem em prática.

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Especial Tecnologia

E s p e c i a l i s t a Por que escolher empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento?

Foco no cliente! É muito perigoso para uma startup ser puramente responsiva, ou seja, guiada apenas pelas tendências de mercado. Por isso, o P&D é um componente essencial, uma vez que os próprios clientes esperam novas soluções e o mercado não fica apenas te observando. Você precisa se mover para continuar competitivo e, se você está parado, é porque algo está errado. Além das constantes inovações que vão trazer mais sucesso para o seu negócio, o cliente tem que ter segurança que a empresa que escolheu irá conseguir sobreviver em um mercado competitivo. Ou seja, é preciso aliar inovação à credibilidade. É arriscado fazer uma mudança no seu processo produtivo e logo depois ser deixado na mão. Não basta ter a melhor equipe de P&D se não há um bom fortalecimento de marca no mercado. Portanto, adotar tecnologias de empresas que têm seu próprio setor de Pesquisa e Desenvolvimento é garantia de sucesso para o cliente e, consequentemente, dá ainda mais incentivo para que inovações ainda melhores estejam disponíveis no mercado.

A empresa precisa ter em sua cultura agilidade e capacidade de mudança.

Co-Fundador e CTO da Strider Carlos Neto

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Especial Tecnologia

C o l u n i s t a

Governança como

a transformação por Bernardo Portugal

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entre as diversas mudanças tecnológicas que já afetam o agronegócio brasileiro, há uma que pode estar passando despercebida por alguns produtores. E isto pode ser perigoso. Refiro-me ao processo irreversível de transformação digital. No Agro, podemos citar o monitoramento das lavouras através de drones, o envio de dados online para a gestão das fazendas e as tecnologias de rastreamento aplicadas às máquinas. Todas essas inovações visam ao aumento da produtividade, do plantio à colheita. É preciso que o produtor se adeque a essa nova realidade. Afinal, o mercado já sabe os perigos de se negar a evidente revolução que diversos setores passaram com o advento de tecnologias. Foi o que ocorreu no setor de transportes, com a disputa entre táxis e apps como o Uber; ou no turismo, na disputa entre hotéis e AirBnb - só pra citar alguns exemplos. É a prova de que um setor pode (e deve) se reinventar para não ficar para trás e comer poeira da concorrência.

ferramenta para

digital Portanto, seguem alguns passos para turbinar seu agronegócio na era da transformação digital:

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Estabelecer uma cultura de trabalho em rede envolvendo produtores, fornecedores, governo e consumidores para facilitar o compartilhamento de informações;

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Estabelecer processos de gestão que permitam uma interface maior entre os colaboradores da fazenda, envolvendo desde o monitor de campo ao proprietário;

Engajar clientes, fornecedores e parceiros para utilizarem tecnologias que usam da Inteligência Artificial e permitam conhecer cada vez mais a realidade do plantio. Assim, é possível prever o que irá acontecer na propriedade, permitindo desenvolver melhorias.

Como visto, inserir a empresa no mundo digital é o caminho para a longevidade dos negócios no futuro. E é preciso começar agora. Já dizia Nizan Guanaes: “O ideal é não esperar o momento ideal”.

Advogado, professor e sócio do escritório Portugal Vilela Almeida Behrens Direito de Negócios Bernardo Portugal

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O grande motivo para a revolução digital é a preocupação com o futuro dos seres humanos. 46

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Heleno Xavier Gerente de Produção da Veloso Coffee

Saulo Luciano Coordenador de Pesquisa da AgroSalgueiro Iniciação: “Comecei trabalhando em uma multinacional e lá entrei em um programa de bolsas de estudos. Foi assim que me interessei pelo agro. Estudei a fundo e me encantei. Hoje sou coordenador dos monitores de campo e líder da área de pesquisa e desenvolvimento do grupo.”

Motivação e sonhos: “O que mais me motiva é saber que ainda há muito a ser descoberto nesse universo que mistura biologia, física, química e matemática. Acho fascinante esse mundo de descobertas que o agro proporciona!”

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esta coluna, prestamos uma homenagem àquelas pessoas que fazem o agro brasileiro acontecer. Afinal, os trabalhadores que estão direto no campo, acompanhando o plantio desde o seu processo inicial até a colheita, são os grandes heróis do agro!

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O que espera para a agricultura do fulturo: “A tecnologia é muito importante, porque a gente alia conhecimento com praticidade. Não consigo ver a agricultura do futuro sem tecnologia.”

Iniciação: “Nasci em um pequeno sítio e, ainda novo, ajudava meus pais nos afazeres do campo. Quando terminei o ensino fundamental, procurei um curso técnico profissionalizante na área. Fiz curso de Agronomia e estou na Veloso Coffee assumindo a gestão da produção de cafés desde 2016.”

Motivação e sonhos: “A parte mais gratificante é no final da safra, quando vemos o resultado de todo o esforço da equipe. Além disso, é satisfatório contribuir para o bem da sociedade como um todo, produzindo alimentos de qualidade.”

O que espera para a agricultura do fulturo: “O gestor do negócio sempre está em busca de ferramentas que tornem as operações mais eficientes, gerando melhores resultados. Muito ainda precisa ser feito, mas com o que temos hoje, já dá pra vislumbrar um futuro ainda mais produtivo para a nossa atividade.”

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DESAFIOS QUE O AGRO BRASILEIRO

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PRECISA ENFRENTAR A agricultura é uma das principais atividades da nossa economia, mas ainda há desafios a serem vencidos para que o país continue potência de mercado. Fábio Silva, Zootecnista, Especialista em Gestão de Projetos e Gestor de Parcerias do AgriHub, aponta três desses entraves:

Acesso às tecnologias Já existem softwares voltados para facilitar o trabalho no campo e otimizar a produtividade. O desafio é incorporar essas tecnologias na rotina de cada vez mais fazendas. “O sucesso ou não dessas inovações depende da capacidade das novas tecnologias chegarem a quem realmente importa: o produtor rural”, explica Fábio.

Mão de obra qualificada É papel do proprietário da fazenda investir em capacitação da equipe para extrair o máximo de vantagens do uso dessas tecnologias. Escolher uma empresa que ofereça softwares aliados ao treinamento do time de campo é um bom começo. Investir em cursos de pós-graduação e EAD (Educação a Distância) para os treinadores e gestores também é indicado. “É preciso aproximar mais a Academia do campo”, afirma.

Conectividade Os grandes entraves para a falta de conectividade nas fazendas é a falta de licença ambiental para instalar torres de conexão, além da falta de investimento em pesquisas que forneçam uma solução efetiva para o problema. Porém, tudo indica que essa realidade vem mudando. “Em 2018 houve um despertar das empresas de telecomunicação para o setor agro, o que mostra que podemos estar perto de resolver esse impasse”, finaliza Fábio. 50

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AGORA É A VEZ DELAS

AS MULHERES DO AGRONEGÓCIO

A

s mulheres estão cada dia mais garantindo o seu espaço no mercado agrícola. Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que nos países em desenvolvimento com economia pautada no agronegócio, elas já ocupam 70% da mão de obra - além de serem responsáveis, em muitas vezes, por cuidarem sozinhas da casa e dos filhos.

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No Brasil, o destaque fica para os cargos de chefia, que são cada vez mais ocupados por elas. De 2013 a 2017, a presença feminina em cargos de decisão no setor saltou de 10% para 31%, segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA). A participação feminina também cresceu nas universidades. A Esalq-USP, uma das principais universidades de Agronomia do país, já conta com cerca de 30% de participação feminina em seus cursos - dado surpreendente se comparado com décadas passadas. Bruna foi uma dessas mulheres que viu sua carreira crescer com a nova guinada do mercado, cada vez mais aberto para a presença feminina. Começou trabalhando no campo, como técnica agrícola. A vontade de traçar um plano de carreira no agronegócio fez com que ela buscasse por especialização. Formou-se em Engenharia - uma das poucas mulheres da turma - e viu seu trabalho ser valorizado: recentemente, foi promovida a Assistente de PCAD (Planejamento de Controle da Agricultura Digital) da Planorte. Trabalhar no campo nunca foi um problema para Bruna. Ela comenta, inclusive, que não vê diferença de tratamento entre homens e mulheres. “Metade da nossa equipe de campo é composta por mulheres. Eu, particularmente, nunca senti dificuldades. É muito importante trabalhar numa empresa que te dá voz”, afirma.

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E s p e c i a l

Pesquisa da ABAG aponta que 44% das entrevistadas já sofreram preconceito por serem mulheres.”

Desafios Uma boa empresa valoriza o bom profissional independente de gênero, etnia ou classe social e entende que essas questões não deveriam ser um problema em pleno século XXI. Ainda assim, muitas mulheres que trabalham no agronegócio se sentem menos valorizadas que os homens. Uma pesquisa da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) aponta que 49% das entrevistadas sentem um preconceito de gênero evidente, especialmente aquelas que trabalham com funções consideradas mais “brutas”, como a pilotagem de maquinários.

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Diferente de setores como a indústria ou comércio, o sexo feminino demorou a ter uma representatividade no agronegócio. E essa participação, apesar de ter aumentado visivelmente, ainda caminha a passos lentos. Isso porque a atividade agrícola sempre foi associada ao universo masculino. “Até alguns anos atrás, dava-se preferência para a contratação de homens, especialmente para as atividades mais pesadas, como o trabalho no campo”, afirma Sônia De Stefano, Coordenadora do Curso de Engenharia Agronômica da ESALQ/USP. Essa não é uma perspectiva isolada. “Quando eu entrei no agro, vi que tinha estava em um universo onde a presença masculina era predominante”, explica Andrea Cordeiro, advogada e idealizadora do projeto Missão Mulheres do Agro, que visa incentivar a profissionalização da mulher no agronegócio.

Andrea sempre esteve envolvida com o setor - seus pais são donos de uma empresa na área de Consultoria e Comercialização Agrícola - e, quando começou a atuar na empresa, há 21 anos, notou que trabalhava com muito mais homens do que mulheres. Começou a se questionar sobre isso e teve a ideia de lançar o site. “Levei 3 anos pra organizar um conteúdo voltado pras mulheres. Esperei o tempo certo de lançar. Vi que não conhecia muitas mulheres do agro”, pontua. “Fui a empresas do setor, conversei com produtores, e me senti na missão de trazer a mulher que não estava no cargo de gerência para trazê-la, para que ela tivesse voz atuante e participativa”, explica.

Para Andrea, a mulher já chegou longe no mundo agrícola, mas precisa buscar crescer ainda mais. “A profissional ainda não chegou onde merece chegar. Os primeiros passos já foram dados”, explica, referindo-se ao crescimento da mulher no setor, muito proporcionado pela busca da própria mulher por mais capacitação. “A mulher está investindo na própria formação, está se profissionalizando, como profissional ou como pesquisadora da área. É isso que deve ser feito: devemos investir na nossa formação, e não ficar à mercê de uma estrutura familiar”, propõe. Para Andrea, os resultados das pesquisas sobre a presença da mulher no agronegócio tendem a melhorar com o passar dos anos. Sônia De Stefano concorda: “Atualmente há mulheres poderosas representando o agronegócio. É o caso das ministras Kátia Abreu, e Tereza Cristina da Costa Dias”.

A mulher está investindo na própria formação. É isso que deve ser feito.”

Andreia Cordeiro: a vontade de ver mais mulheres atuando no setor fez com que ela criasse o projeto Missão Mulher do Agro

Foto: Divulgação

Provavelmente, a presença de mais mulheres influentes no agronegócio, com visibilidade pública, podem influenciar meninas a quererem seguir o mesmo rumo. Afinal, como defende Andrea Cordeiro: “O lugar da mulher é onde ela quiser”.

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S u s t e n t a b i l i d a d e

INOVAR É SER SUSTEN TÁVEL

É importante considerar que a gestão sustentável só faz sentido se estiver alinhada à visão e aos valores da organização. Logo, a empresa precisa se preocupar não apenas com os impactos que gera internamente, mas com todos os agentes ao seu redor: fornecedores, comunidade onde está inserida, clientes, etc.

sustentável?

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Investir na gestão de pessoas e na otimização da equipe; Reduzir gastos, eliminando desperdícios; Estar junto às conformidades legais;

Ter um bom relacionamento com todos os stakeholders (clientes, fornecedores, etc) e influenciá-los a uma prática mais sustentável.

Muito se fala em sustentabilidade como sinônimo de preservação ambiental. Mas o conceito, na verdade, é muito mais amplo. Ele envolve outros dois pilares: econômico e social.

Econômico

Social

Ambiental

Rever processos;

Investir em pesquisa e tecnologia que auxiliem em uma produção otimizada, causando menos impacto ao ambiente, aos custos e às pessoas;

Como ser

G

randes empresas do agronegócio já têm embutidas em suas missões uma visão sustentável de crescimento, causando o menor impacto possível ao meio ambiente, à economia e à comunidade. Esses são os pilares de um modelo de gestão sustentável. “Esse modelo equilibra fatores como o crescimento econômico a curto, médio e a longo prazo, aliado à valorização de aspectos sociais e ambientais ligados, direta ou indiretamente, à atuação da empresa”, define Guillermo Carvajal, Head de Sustentabilidade LATAM da Syngenta.

Para ser sustentável, é preciso:

Tecnologia + sustentabilidade = sucesso de gestão Para especialistas, uma das soluções para aliar sustentabilidade e crescimento de mercado está no uso e no desenvolvimento de novas tecnologias. “Há softwares que ajudam os produtores a evoluir na gestão de suas lavouras, tornando processos mais eficientes e seguros”, explica Guilhermo. “É o que vemos nas tecnologias que mostram assertivamente onde aplicar insumos, evitando o desperdício e maiores gastos. Essa ação já é capaz de tornar uma produção mais sustentável”, exemplifica. Álvaro Dilli, Diretor de RH e Sustentabilidade da SLC Agrícola, completa: “Utilizamos boas práticas agrícolas de produção, que agridem menos. É o caso da utilização do sistema de Plantio Direto agregado a tecnologias de alta performance, como softwares de monitoramento de pragas”.

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S u s t e n t a b i l i d a d e Inovar é ser sustentável

A melhoria da eficiência traz resultados sustentáveis.” E como sustentabilidade também envolve pessoas, é preciso que o investimento em tecnologia esteja aliado à capacitação. A SLC, por exemplo, se preocupa em capacitar a equipe para usar as novas ferramentas digitais que estão presentes no dia a dia da lavoura. Além disso, a empresa tem um programa de formação intelectual e profissional, pautado no ensino EAD (Educação a Distância) e na EJA (Educação de Jovens e Adultos). Já a Syngenta tem o seu Plano de Agricultura Sustentável (The Good Growth Plan), que ajuda o agricultor a tornar sua produção mais sustentável, evitando desperdícios. Conservar os recursos naturais e o solo também é uma meta, mitigando ao máximo os impactos gerados pela atividade agrícola.

Em relação ao meio ambiente, o desafio das empresas agro é otimizar os recursos já disponíveis, ou seja, atender à alta demanda de mercado sem gerar impactos no que resta de áreas de preservação permanente. Estudos já comprovaram que a Terra cada vez mais está perdendo sua capacidade de regeneração, logo, empresas do agronegócio mais antenadas já estão agindo para cumprir essa missão.

“O que eu ganho com isso?” Investir em uma gestão sustentável garante resultados positivos para a empresa agrícola. “Adotando esse modelo, podemos atender a todos os mercados de commodities agrícolas, além de trabalharmos com taxas de financiamento mais atrativas por oferecer menor risco de operação”, explica Álvaro. “Melhoramos muito nossos processos. Além disso, construímos uma reputação íntegra e transparente como uma empresa moderna, tendo um propósito e modelo de negócio bem definidos”. Guillermo concorda: “A partir de uma gestão sustentável, podemos medir e otimizar os possíveis impactos ao ambiente externo, e isso nos diferencia no mercado”. Portanto, uma empresa pautada em crescimento sustentável otimizando a equipe, os custos e também as pessoas pode ir ainda mais longe. “A melhoria da eficiência traz resultados sustentáveis”, resume Álvaro.

Para Álvaro, é importante que a empresa agrícola atenda aos três pilares de sustentabilidade

“Como produtora agrícola, o plano de fundo da SLC é o meio ambiente. Mantemos as Reservas Legais das propriedades convictos de que elas são, sim, importantes”, comenta Álvaro Dilli.

Foto: Divulgação

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